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1.

INTRODUÇÃO

Analisar questões relacionadas à educação e/ou escolarização dos surdos implica


compreender, historicamente, os conceitos e práticas aplicados. Isso remete aos
acontecimentos de desde os primórdios, quando, ainda na Antiguidade, a pessoa surda
já sofria com comportamentos de exclusão por parte da comunidade ouvinte, que a
julgava incapaz de ser ensinada: “Acreditava-se que o pensamento não podia se
desenvolver sem a linguagem e que a fala não se desenvolvia sem a audição: quem não
ouvia, portanto não falava e não pensava” ( STREIECHEN, 2012, p. 13 ). Foram,
então, a essas pessoas, negados diversos direitos básicos, como descreveram as autoras
Rosa e Araújo:
“No passado os surdos eram considerados incapazes de
serem ensinados, por isso eles não frequentavam escola. As
pessoas surdas, principalmente as que não falavam, eram
excluídas das sociedades, sendo proibidas de casar, possuir ou
herdar bens e viver com as demais pessoas. Assim, privadas de
seus direitos básicos, ficavam com a própria sobrevivência
comprometida” ( ROSA; ARAÚJO, 2012, p. 9 ).

Além dos direitos básicos negados e rejeições sofridas, nas civilizações antigas
( Grécia e Roma ) algumas vezes os surdos eram sacrificados seja pelo ideal grego de
beleza e perfeição, pois associava-se a sua deficiência como um castigo dos deuses
para justificar a sua morte ou então, no caso de Roma, no século XII “a infortunada
criança era prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era lançada de um
precipício para dentro das ondas. Era uma traição poupar uma criatura de quem a
nação nada poderia esperar” ( LANE; PHILIP, 1984, p. 165 ).
Não obstante uma vida material miserável ostentada no mundo, na Idade Média a
igreja católica julgava a alma dos surdos como não sendo imortais, porque não podiam
falar os sacramentos, condenando, assim, a sua vida espiritual.
A partir do século XVI, já na Idade Moderna, pecebeu-se que o surdo poderia se
desenvolver e alguns educadores começaram a trabalhar no desenvolvimento
intelectual dos surdos. Infelizmente, neste primeiro momento, apenas os surdos de
famílias nobres é que tiveram acesso aos estudos, pois para que tivessem acesso a
títulos ou herança era necessário que aprendessem a língua oral e se desenvolvessem
como um ouvinte, ficando assim, o ensino realizado de maneira individual e sem
muitas informações dos métodos utilizados pelo professor, que trabalhava
autonomamente e não havia troca de experiências com outros professores.
Percebe-se que, a história da educação dos surdos já começava com uma certa
restrição, ficando a classe social mais pobre sem acesso à educação, desenvolvimento
pessoal e integração à sociedade. O professor Pedro Ponce de León foi reconhecido
como o primeiro professor de surdos. Como o professor utilizava uma proposta de
língua oral ( oralismo ), posterior a ele foram surgindo novas propostas de ensino,
desta vez, com uma abordagem gestualista. Charles-Michel de L’Epée foi o primeiro
professor a reconhecer o valor linguistico da língua de sinais utilizadas por surdos
( ainda em gestos ) e rompeu com as tradições das práticas secretas de ensino,
fundando em 1775 a primeira escola com aulas coletivas, nas quais os professores e
alunos de todas as classes sociais utilizavam sinais.
Percebe-se que durante anos, a luta pela educação da pessoa surda tem sido árdua e
constante, uma história de conflitos e fracassos sociais e educacionais, mas que
começa a mudar a partir do momento em que a língua de sinais é reconhecida como
meio de expressão dos surdos. Por este motivo, ocorre esta pesquisa, estimulada pelo
interesse de saber como se desenvolve o ensino da Lingua Portuguesa para alunos
surdos dentro da proposta de Educação Biilíngue?

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