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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”


Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

ANÁLISE ERGONÔMICA: UMA


AVALIAÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO
NIOSH EM UMA EMPRESA DO RAMO
ALIMENTÍCIO EM MOSSORÓ-RN
Geobervagner Albano da Silva
geoberwagner@yahoo.com.br
Adrilene Gonçalves de Lima
adrileneg@hotmail.com
José Eric da Silva Queiroz
j.ericqueiroz@gmail.com
Libanio Magno de Paiva Silva
libanio_magno@hotmail.com

Atualmente, verifica-se o aumento de problemas de saúde relacionadas


ao esforço excessivo em levantamento de cargas. Nesse sentido, a
pesquisa tem como objetivo analisar as práticas ergonômicas adotadas
em uma indústria do ramo alimentício e confrontar os resultados com os
conceitos encontrados nos temas que partem dos desenvolvedores e
analisadores do método NIOSH. Para desenvolver o estudo, foi utilizado
uma metodologia de pesquisa descritiva, obtendo como instrumento a
percepção referente a postura de um funcionário em todos os passos
para execução do empilhamento de caixas. O resultado constatou que a
indústria preocupa-se e possui um amplo controle relacionado a
ergonomia de seus funcionários.

Palavras-chave: ergonomia, NIOSH, Levantamento de Carga


XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
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1 Introdução

Desde os primórdios a ergonomia é aplicada, visto que um simples movimento para se alcançar
uma fruta em uma árvore até a confecção de uma lança utilizava-se a ergonomia. Com o passar
das décadas foi sendo estudada e transformada em ciência, ou seja, a mesma é aplicada para
facilitar o trabalho executado e adaptar o trabalho ao homem, desta forma evitando o surgimento
de lesões e acidentes no ambiente de trabalho.

Iida (2005) cita que ergonomia é a moldagem do trabalho ao homem, Wisner (1972) acrescenta
que a ergonomia é a junção de vários fundamentos científicos atrelados ao homem e
imprescindíveis a utilização de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser operados
com grande conforto e eficácia.

A ferramenta a ser utilizada para análise de movimento e levantamento de carga tem por nome
equação de levantamento revisado do NIOSH (National Institute for Occupational Safety and
Hearth), com o intuito de reduzir riscos que possam causar lombalgia.

O estudo voltado a utilização de métodos ergonômicos no dia a dia das grandes indústrias que
trabalham com processo produtivo em massa tem por objetivo buscar os postos de trabalho de
uma linha de produção. Este trabalho foi desenvolvido em uma empresa do ramo alimentício
localizada na cidade Mossoró, RN, afim de examinar as posturas adotadas pelos colaboradores
no exercício de seu trabalho, bem como estudar o levantamento de cargas. Para atingir este
objetivo, foi empregada a metodologia de análise ergonômica, sendo NIOSH o único método
utilizado.

.2 Referencial Teórico

2.1 Ergonomia

Silva e Paschoarelli (2010) citam que o possivelmente que o primeiro estudo relacionado a
ergonomia foram elaborados por Xenofonte, 427 a 355 A.C e funcionaram como auxílio para o
detalhamento das funções, onde cada empregado realiza somente uma ação. Então, entende-se
que o estudo da ergonomia é o conhecimento desenvolvido para facilitar as atividades
executadas pelo homem e, com o intuito de que isto seja possível, várias outras ciências são
utilizadas pela ergonomia, objetivando que o profissional responsável por criar os projetos

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ergonômicos possa obter as habilidades necessárias e satisfatórias que solucionem uma porção de
falhas identificadas em atividades trabalhistas, ou a maneira como o serviço é elaborado e
efetuado.

A ergonomia trouxe vários benefícios para as atividades industriais, tornando-as eficientes e


confiáveis, assim como aperfeiçoou a qualidade do serviço, acarretando o melhoramento do
processo homem máquina, organização das atividades e aperfeiçoamento do ambiente do
trabalho. Iida (2005), entende que “A ergonomia tem como objetivo a melhoria do desempenho
do sistema produtivo, focando na redução da fadiga, estresse, erros e acidente, proporcionando
uma maior sensação de segurança, satisfação e saúde em sua atividade de trabalho.”

2.2 Método NIOSH

Este método se tornou conhecido nos anos 80 por causa do alto nível de tensão que o governo
dos Estados Unidos estava em relação às lesões músculo-esquelético, então muitos estudiosos
agruparam-se com intuito de elaborar uma técnica que seja eficaz no objetivo proposto, desta
forma, Iida (2005) retrata que criaram um manual que contém a finalidade de prevenir ou
diminuir o acontecimento de lesões provocadas pela elevação de cargas braçais e para esse fim
desenvolveu-se uma fórmula matemática com intuito de calcular o peso máximo aconselhável
em atividades recorrentes de elevação de pesos.

De acordo com o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002):

“O National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH desenvolveu em


1981 (NIOSH, 1981) uma equação para avaliar a manipulação de cargas no trabalho.
Sua intenção era criar uma ferramenta para poder identificar os riscos de lombalgia
associados à carga física a que estava submetido o trabalhador e recomendar um limite
de peso adequado para cada tarefa em questão, de maneira que uma determinada
percentagem da população – a ser fixada pelo usuário da equação – pudesse realizar a
tarefa sem risco elevado de desenvolver lombalgia.”

Na Figura 1, observa-se a descrição do método e as limitações de sua aplicação. Através desta


última revisão, a equação para o levantamento de cargas busca o peso máximo recomendado
(LPR), a partir do quociente dos sete fatores a seguir: (WATERS, T. PUTZANDERSON, V.;
GARG, A.; FINE, L. 1993 e 1994)

Figura 1 - Equação NIOSH Revisada

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Fonte: Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002)

3 Metodologia

A pesquisa é descritiva, pois segundo Gil (2010), descreve as características de determinadas


populações ou fenômenos. Uma de suas peculiaridades está na utilização de técnicas padronizadas
de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática.

Quanto aos procedimentos é um estudo de caso, que Gil (2010) conceitua no estudo profundo e
exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento,
tarefas praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados. Caracteriza-se
também como uma pesquisa bibliográfica, que de acordo o mesmo autor, é elaborada com base
em material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material
impresso, como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anuais de eventos científicos.

A pesquisa foi aplicada em uma indústria do ramo alimentício, localizada no município de


Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, que atende a várias regiões do Brasil e também o
mercado externo. Sendo assim, o sujeito que colaborou com a análise do método de NIOSH faz
parte do quadro atual de funcionários da empresa citada. Os dados foram tratados calculando-se
através da fórmula anteriormente citada na Figura 1.

No decorrer do desenvolvimento desse estudo realizou-se visitas técnicas a empresa, para que
fosse possível a coleta de dados, e em seguida através de cálculos matemáticos que estão descritos
na NR 17 identificar o índice de levantamento e a zona de risco.

4 Resultados e Discussões

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Durante a visita técnica fez-se mensurações das distâncias existentes durante a execução da
atividade laboral de um operador em um dia comum de trabalho. Junto à supervisão da indústria,
foi analisado a atividade e coletados os dados conforme a figura a seguir:

Figura 2 - Medições das atividades executadas

Fonte: Os autores (2017)

4.1 Critérios para Limites de Cargas

De acordo com o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002) existem três


critérios para a implementação do método NIOSH, são estes: biomecânicos, fisiológicos e
psicofísicos.

O Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002), determina que para o critério


biomecânico, uma força de compressão de 3,4KN como limite para o ser humano. Acima desta
força, inicia-se os riscos de lombalgias. Já para o critério psicofísico, o estudo alicerça-se nas
diferentes frequências e durações de determinada carga manuseada por um trabalhador,
analisando tanto a resistência como a capacidade do mesmo. Por último, e não menos
importante, o critério fisiológico, estabelece os limites abaixo para a atividade humana no
trabalho:

a) A capacidade aeróbica máxima de levantamento, isso em levantamento repetitivos, não


ultrapassem 9,5Kcal/min.
b) Em levantamentos que exijam erguer os braços acima de 75cm, não se supere a 70% da
capacidade aeróbia máxima.

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c) Em casos de atividades de duração de uma hora, entre uma e duas horas e entre duas e
oito horas, não serão permitidos a capacidade aeróbica máxima de 50%, 40% e 30%
respectivamente.

4.2 Constante de Carga e Coeficiente da Equação

Segundo a NR 17, a constante de carga é de 23Kg, pois este peso pode ser manuseado pela
grande maioria dos homens e mulheres. E com relação aos coeficientes, cada um possui suas
peculiaridades para sua definição, a seguir será mensurado o valor de cada coeficiente exigido
para o cálculo do índice de Levantamento de Peso Recomendado (LPR):

a) HM = 25/H, como a distância entre o trabalhador e o objeto é de 30cm, conforme


imagem 2, logo temos 25/30, que é igual a 0,833.
b) VM = 1-[-0,003 x (v-75)], como a altura das mãos do trabalhador é de 60cm, figura 2,
temos que o VM será de 0,955.
c) DM = 0,82 + 4,5/D, em que D, é distância vertical percorrida entre o levantamento até o
ponto final. Baseado na figura 2, temos que D é 32 cm, correspondente a diferença entre
92 cm e 60 cm. Logo temos que o DM será igual a 0,960.
d) AM = 1-(0,0032A), em que A é o ângulo de giro. Sabendo que o ângulo de giro na
origem do movimento é igual a 0°, o AM terá valor igual a 1.
e) FM = 0,27, para obtenção deste dado se faz necessário a utilização da Figura 3. Para a
mensuração desse valor foi atribuído que trabalhador executa a atividade seis vezes por
minuto, em uma duração entre duas e oito horas, e que o deslocamento do objeto é
inferior a 75 cm.
Figura 3 - Cálculo do Fator Frequência (FM)

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Fonte: Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002)

f) CM = 0,95, para tal utilizou-se as Figuras 3 e 4, em que foi definido a pega do objeto
como regular.

Figura 4 - Classificação da pega de uma carga

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Fonte: Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002)

Figura 5 - Determinação do Fator de Pega (CM)

Fonte: Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 (2002)

4.3 Índice de Levantamento e a Zona de Risco

Com a constante e os coeficientes de carga definidos, foi utilizado a fórmula NIOSH do Limite
de Peso Recomendado (1994 apud VIEIRA, 2011):

LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM

LPR = 23 x 0,833 x 0,955 x 0,960 x 1,00 x 0,27 x 0,95

LPR = 4,505KG

De acordo com Vieira (2011), para mensurar o Índice de Levantamento, é necessário apenas
efetuar a razão entre a carga levantada pelo trabalhador, que foi de 2,40KG, conforme a figura 2,
e Limite de Peso Recomendado.

IL = CL / LPR

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IL = 2,40 / 4,505

IL = 0,532.

Também, visto que o Índice de Levantamento (IL) foi inferior a um, significa dizer que, o
trabalhador não terá riscos relevantes na execução de sua atividade.

5 Conclusão

Com a inserção da ergonomia nas indústrias, espera-se uma redução significativa do índice de
absenteísmo do trabalho pelos mais variados motivos. Os problemas relacionados a lombar é um
dos complicadores neste sentido, principalmente quando não há um estudo ergonômico nas
atividades laborais executadas.

Baseado na importância das pesquisas relacionadas a ergonomia, este artigo desenvolveu um


estudo de caso em uma indústria no ramo alimentício, mensurando o Índice de Levantamento e
sua respectiva zona de risco de acordo as atividades cotidianas de um operador em sua jornada
de trabalho.

Após fotografar os movimentos, medir as distâncias necessárias, aplicar o método NIOSH e


desenvolver os cálculos necessários, foi possível mensurar o Índice de Levantamento, que foi
0,532, o que traduz para o responsável de produção que a atividade executada por aquele
trabalhador, especificamente, não possui um risco significativo.

Apesar do resultado satisfatório, foi possível perceber no Fator de Frequência (FM), que deve ser
tomada uma medida corretiva, a fim de tentar elevar o valor deste fator, tal que atingiu 0,27, seja
pela redução da sua repetitividade ou da sua duração. Uma alternativa viável para tal problema,
seria promover uma série de ciclos dessa atividade a fim de reduzir a sua duração efetiva,
partilhando esta demanda para as demais forças de trabalho.

O estudo da ergonomia é algo bastante importante para um gestor, tendo em vista que
diferentemente dos tempos medievais onde a produção era a única coisa que importava, hoje em
dia existem conceitos diferentes, que é tornar o trabalho o mais agradável do ponto de vista da
ergonomia, afim de atingir os objetivos corporativos de forma segura e eficiente, pondo não só
como prioridade a lucratividade empresarial, como também a segurança e qualidade de vida no
trabalho.

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REFERÊNCIAS

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

IIDA, Itirio. Ergonomia: projeto e produção. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2005.

Manual de aplicação da Norma Regulamentadora nº 17. Disponível em <


http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR17.pdf> 2 ed. – Brasília : MTE, SIT, 2002.

SILVA, José Carlos Plácido da; PASCHOARELLI, Luiz Carlos. Evolução Histórica da Ergonomia no Mundo e
seus Pioneiros. 1 Ed. São Paulo: Cultura acadêmica, 2010.

VIEIRA, Jair Lot. Manual de ergonomia: manual de aplicação da norma regulamentadora nº 17. 2ª ed. São
Paulo: EDIPRO, 2011.

W ATERS, T.; PUTZANDERSON, V.; GARG, A.; FINE, L. Revised NIOSH equation for the design and
evaluation of manual lifting tasks. Ergonomics 36 nº7, 749776, 1993.

WISNER A., 1972, « Diagnosis in Ergonomics or the Choice of Operating Models in Field Research »,
Ergonomics, 15, 6 : 601-620, édition française (1995), « Le diagnostic en ergonomie ou le choix des modèles
opérant en situation réelle de travail », in Wisner Alain, Réflexions sur l’ergonomie, Toulouse, Octarès, pp. 79-102.

Work practices guide for manual handling. Technical report nº 81.122. US Department of Health and Human
Services. National Institute for Occupational Health, Cincinnati, Ohio, 1981.

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