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ação ergonômica volume 10, número 2

APRECIAÇÃO ERGONÔMICA EM UM CENTRO DE CONTROLE OPERACIONAL (CCO) DE UMA


INDÚSTRIA MINERADORA: O CASO DO SETOR DE TRAFEGO DE TRENS.

Raimundo Lopes Diniz, Dr.


Programa de Pós-Graduação em Design (UFMA)
Núcleo de Ergonomia em Processos e Produtos
rl.diniz@ufma.br

Osmar Lopes da Silva Filho


Graduando em Design (UFMA)
olfilho@hotmail.com

Ricardson Borges Vieira


Graduando em Desenho Industrial (UFMA)
ricardsonbv@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo trata-se de uma intervenção ergonomica em postos de trabalho no Centro de Controle Opercional
(CCO)-setor tráfego de uma industria mineradora multinacional por meio do metodo de Analise Macroergonomica do
Trabalho(AMT) (Guimaraes, 1999) utilizando suas duas primeiras fases (Lançamento e Apreciação). Aplicaram-se entrevista
estruturada aos supervisores do setor para o entendimento sobre o funcionamento do sistema-alvo, entrevistas abertas e
questionários fechados, além de observações a respeito das atividades das tarefas. Os resultados evidenciaram problemas de
ordem: Biomecânica/antropométrica, Empresa, Cognitivo, Organizacional e Ambiental.

Palavras Chave: Apreciação Ergonômica, Indústria mineradora, Centro de Controle Operacional.

Abstract This paper presents an ergonomic intervention at Operational Control Center (OCC) of a mining industry related to
train traffic sector. It was applied Macroergonomic Work Analysis (MWA) method proposed to Guimarães (1999) until
ergonomic appreciation stage to verify working conditions and ergonomic constraints. It was performed interviews,
questionnaires, and field observation to data collection. In general, results appointed some ergonomic constraints:
Biomechanics / anthropometric, Company, Cognitive, Organizational and Environmental.

Keywords: : ergonomic appraisal, mining industry, Operational Control Center (OCC)


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1. INTRODUÇÃO ergonômica, além de um parecer evidenciando o


atendimento à Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia
Segundo Nunes (2004) apud Hay (1961), controle
(Portaria no 3.751, de 23/11/1990, Ministério do Trabalho
operacional é o exercício de busca da utilização eficiente
e Emprego - MTE). Os postos avaliados foram: técnicos
dos equipamentos disponíveis para o tráfego de veículos.
em planejamento e programação da manutenção de um
Essa abordagem vem de encontro ao que está sendo
supervisor e de técnico especialista planejamento e
proposto nesta pesquisa. Pons (2004) faz um levantamento
programação,
em sua dissertação sobre projeto de arquitetura de interior
para sala de controle que cita, de acordo com Sanders e
2. Sala de Controle
McCormick (1993), que independente da natureza do
sistema, a função humana básica envolvida na atividade de
Para Resende (2011), as salas de controle são fenômenos
controle é a mesma. O homem recebe a informação,
recentes nas nossas indústrias, e vêm sendo firmando,
processa-a, seleciona a ação e a executa. A ação tomada,
principalmente, na indústria de processos contínuos ou em
serve como a entrada para o controle do sistema. Na
processos nos quais o risco de acidentes é muito alto. Essas
maioria dos casos, a forma de feedback é o aguardo do
salas de controle são fruto da evolução técnica dos
efeito da ação tomada. Pons (2004) cita Wickens et al.
dispositivos de comando que passaram a permitir que
(1998), quando retrata que o controle é o "fazendo". Ele
sistemas fossem comandados/controlados remotamente, ou
identifica esta ação num modelo de processamento de
seja, em espaços distantes da área de produção. Em tais
informação humana que se divide em três partes: o
salas, agrupa-se a maioria dos comandos e das variáveis do
conhecendo o estado da situação, identificando o que fazer
sistema, que oscilam de acordo com o processo (entrada e
e posteriormente fazendo. Para Sheridan (2002), segundo
saída, pressão, fluxo, vazão, velocidade etc.).
Pons (2004), o termo controle de processo se refere ao
controle de algum processo físico que é contínuo no tempo
Carvalho (2010) relata em sua pesquisa que as principais
e espaço, no qual o produto flui através do
características típicas da atividade dos operadores em salas
manufaturamento ou operação de transporte.
de controle de indústrias de processo contínuo são:
_ A intensa vigilância e a atividade cognitiva, devido à
Em Wickens et al. (1998), relação a controle, Pons (2004)
complexidade das informações e do processo como um
cita Wickens et al. (1998) para relatar que controle é o
todo;
“fazendo”. Ele identifica esta ação num modelo de
_ A grande variabilidade e dinamismo do processo
processamento de informação humana que se divide em
produtivo;
três partes: o conhecendo o estado da situação,
_ A execução constante de tarefas múltiplas: as com
identificando o que fazer e posteriormente fazendo.
ocorrência prevista, com possibilidade de antecipação e
Observa-se, portanto, que as salas de controle apresentam o
programação, e as com ocorrência imprevista, oriundas da
ser humano como o principal ator do processo, o mesmo é
variabilidade do sistema;
contextualizado pela Ergonomia.
_ A necessidade de intervenção rápida no sistema;
_ A constante sensação de perigo e;
O presente artigo refere-se aos resultados de uma
_ A interferência das condições ambientais e dos
intervenção que foi efetuada sob uma abordagem
equipamentos da sala de controle na capacidade de
macroergonômica, de acordo com o método de intervenção
realização das tarefas necessárias por parte dos operadores.
ergonômica AMT (Análise Macroergonômica do Trabalho)
proposto por Guimarães (1999), até a fase de apreciação
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Segundo Resende (2011), salas de controle, geralmente, de acomodar do percentil 5 ao percentil 95 da população de
devem estar preparadas para trabalhar em três condições usuários. Destaca que parâmetros propostos podem ser
distintas de operação: em normalidade, em anormalidade e checados de acordo com as características relevantes dos
em emergência – situação extrema. O gerenciamento das usuários. A ISO 11064-4 (2004, p.7) "ajustabilidade deve
situações de anormalidade é fundamental, pois, nessas ser considerada para aquelas dimensões relacionadas à
condições, as intervenções executadas podem impedir a estação de trabalho que não acomodam os usuários do
evolução da situação de anormalidade para a de percentil 5 ao 95". Estas dimensões incorporam altura da
emergência, e/ou permitir o retorno para a situação de mesa, espaços para os pés, distâncias visuais e a orientação
normalidade, condição desejada. Em ambientes de controle de displays. Indica que os mecanismos de ajuste devem ser
de processo dinâmico, a condição de anormalidade se fáceis de manusear. Pons (2004) apud Maia e Duarte
estende, desenvolve-se e muda todo tempo, e incrementa (2002) cita o uso de bordas arredondadas e superfície
significativamente a complexidade das intervenções. Para o foscas para evitar o reflexo indesejáveis. A ISO 11064-4
autor, há três características de grande relevância para a (2004) indica que o teclado fique à frente do monitor, e no
atividade em salas de controle: a variabilidade, a vigilância caso de dois monitores, que o mesmo fique centralizado.
do processo, e a dimensão coletiva. Essas características Ainda Pons (2004) usa a classificação de Santos e
são fortemente ligadas à eficiência e à segurança de Zamberlan (2002) que indica a utilização de mesas
processos contínuos que se consolidam como repercussões convencionais, utilizadas em escritório, ao invés da
importantes sobre a concepção de salas de controle. utilização de consoles fixos, para acomodação de teclados
e monitores. Os consoles fixos não favorecem a alternância
2.1. Recomendações ergonômicas para salas de postural, que Grandjean (1998) e Scherrer (1981) entre
controle. outros, citam como fundamental para beneficiar a
integridade física do ser humano. No caso da mesa ser fixa,
A ISO 11064-3 (1999) define que o layout seja priorizado é sugerida a utilização de apoio para pés. O mesmo não
em função da localização do painel ou da tela de deve ser fixo à mesa e deve permitir uma regulagem de 10
monitoramento. Quanto ao formato do ambiente, é alertado a 20 graus com o plano horizontal, enquanto o tronco faz
que os espaços longos e estreitos diminuem a integração do uma angulação de até 110 graus para trás e o braço e
trabalho coletivo, assim como, diminuem as possibilidades antebraço com angulação mínima de 90 graus. A ISO
do arranjo funcional dos postos de trabalho. O mesmo 11064-4 salienta que no caso da mesa ser fixa, deve ser
conceito é aplicado nas estações de trabalho, onde a forma dada especial atenção à posição vertical dos monitores. As
hexagonal ou arco aperfeiçoa as oportunidades do trabalho dimensões e características da cadeira a ser utilizada para o
coletivo (ISO 11064-3, 1999). Quanto aos desníveis do trabalho em escritório, recomendada por Grandjean (1998),
piso, a ISO 11064-3 (1999) cita que diferentes níveis são as mesmas utilizadas por Santos e Zamberlan (2002),
podem oferecer vantagens para visualização de áreas, para utilizada por Pons (2004) para o trabalho de controle. A
a supervisão e um significado de segregação do espaço altura deve permitir regulagem mínima de 36cm. A
"público”. Ressalta que para evitar acidentes deve ser profundidade do assento não deve ser superior a 40cm e a
levada em conta a movimentação do pessoal e largura mínima deve ser 45cm. O encosto deve permitir
equipamentos. A área destinada a cada estação de trabalho regulagens para trás de 90 a 110 graus com o assento, para
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deverá ser de 9 m a 15 m . permitir a projeção do tronco para trás. As autoras
Quanto ao mobiliário do posto de operações, a ISO 11064- destacam que o encosto deve fazer o apoio dorsal (tamanho
4 (2004), diz que a estação de trabalho deve ter a intenção médio) e ter apoio para cabeça.
4

rendimento da cor superior a 80, em torno de 4000k de


A norma ISO 11064-6 (2003) enumera alguns itens que temperatura de cor. Para minimização dos reflexos nas
deverão ser levados em conta no projeto luminotécnico telas dos monitores é proposto o uso de iluminação
com o objetivo de se obter conforto e segurança para os indireta, seja por reflexão do teto ou com o uso de
usuários. Dentre eles destacam-se: promover o contraste luminárias com difusor parabólico e aletas anti-reflexivas.
adequado entre os diversos componentes do sistema (posto ISO 11064-6 (2003) indica que, quando necessário, deve
de trabalho, entorno, monitores, etc.), evitar ofuscamentos ser requisitada a consultoria de um especialista em
indesejáveis, principalmente devido ao fato que a atividade acústica. Maia (2002) destaca o fato de que o entendimento
de controle é desenvolvida em meio de monitores, verbal é importante para o desenvolvimento das atividades.
possibilitar controle e entrada de luz natural, determinar o A norma internacional acima citada considera que o nível
nível de iluminação de acordo com as atividades de ruído mínimo deva ser de 30dB (A) e que não exceda
desenvolvidas e o layout do ambiente e ter cuidado com o 45dB (A). Para Santos e Zamberlan (2002), concordando
índice de reflexão dos materiais utilizados. Pons (2004) com a NR-17, o coeficiente máximo deve ser de 65dB (A).
cita Santos e Zamberlan (2002) e Maia e Duarte (2002) A ISO 11064-6 (2003) informa que os operadores devem
para classificar os valores entre 150 e 500 lux para os ter o controle e monitoramento da temperatura do ambiente
diversos planos de trabalho. Para o posto informatizado nos casos onde o sistema não adapta internamente as
sugerem de 150 a 400 lux e para a leitura de plantas 750 condições climáticas ambientais e indica os fatores que
lux; A ISO 11064-6 (2003) para as superfícies de trabalho, devem ser levados em conta na especificação térmica do
que incluem atividades com vídeos valores entre 200 e 500 ambiente, tais como: natureza e variabilidade das
lux. Cita que, 200 lux é o mínimo recomendável para a atividades, o vestuário típico dos operadores, incluindo os
superfície de trabalho na maior parte do tempo. Para áreas equipamentos de proteção, o número e variação dos
de leituras de plantas ou outros papéis indica 500 lux. operadores, a localização geográfica do edifício, a
Ainda, segundo Pons (2004), Menezes e Mello (1993) orientação solar da sala, a dissipação de calor da
indicam que para a leitura dos painéis analógicos a iluminação e equipamentos, a transferência térmica das
necessidade de iluminamento é alta, enquanto, que para os paredes externas, o número de janelas e portas, as
painéis de SDCD a necessidade é mais baixa. Destacam propriedades de proteção dos materiais de construção, e, a
que a situação é mais crítica quando utilizadas telas com pressurização do ambiente se for o caso. A norma
contraste negativo, em níveis de iluminamento alto (400 a internacional aponta que deve ser levado em conta o calor
500 lux). Aliando-se a necessidade de leitura de plantas e irradiado pelos equipamentos elétricos e eletrônicos, pela
documentos, níveis de iluminamento mais alto, a situação iluminação, pelas paredes, forros, dutos e pessoas.
torna-se conflitante. Indicam para os casos críticos a Acrescenta que devem ser consideradas a temperatura de
adoção de níveis de iluminação diferenciados. Para painéis bulbo seco, a temperatura de bulbo úmido e a velocidade
de comando analógicos, de acordo com as normas relativa do ar no cálculo do conforto térmico do ambiente.
internacionais, sugerem 750 lux. A ISO 11064-6 (2003) diz A ISO 11064-6 (2003), baseada na ISO 7730, sugere que
que a relação entre os equipamentos iluminados com o os valores fiquem entre 30% e 70%, para atividades
entorno imediato não deve exceder o valor de 10:1. sedentárias durante as condições de verão, condições deste
estudo de caso. Quanto à velocidade do ar, a ISO 11064-6
Da bibliografia pesquisada, a norma internacional é que (2003) sugere menos do que 0,15 m/s. De acordo com a
indica a utilização de reatores de alta frequência para evitar ISO 11064-6 (2003) a temperatura deverá ser entre 23°C e
a tremulação indesejável das lâmpadas fluorescentes e 26°C, com variação de 1,5°C. Referência que a diferença
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vertical de temperatura entre o nível da cabeça e o nível do 3. MÉTODOS E TÉCNICAS


tornozelo que deve ser menor que 3°C. Menciona o
incremento de 1°C a 2°C nas primeiras horas da manhã A presente pesquisa é do tipo descritiva. Segundo Moraes
para compensar o ritmo diurno, assim como a criação de & Mont’Alvão (2007) na pesquisa descritiva o pesquisador
zonas de temperatura intermediárias para evitar o choque procuras conhecer e interpretar a realidade, sem nela
térmico na movimentação de entrada e saída da sala. A interferir para modifica-la; interessa-se em descobrir e
norma também relata o cuidado a ser tomado com o observar fenômenos e procura descrevêlos, classifica-los e
direcionamento das saídas e entradas de ar, evitando que interpretá-los.
fiquem próximas ao operador. Pons (2004) cita Maia
(2002) para destacar que a diferença entre dois pontos no 3.1. O funcionamento do CCO
mesmo ambiente não exceda 4°C. A qualidade de ar só é
referida na ISO 11064-6 (2003), que menciona que o O CCO funciona desde 1983 na mineradora, e no prédio
ambiente de controle deve proporcionar a saída de ar em atual desde 1984. A última reforma ocorreu em 2002,
quantidade suficiente para diluir internamente os poluentes mantendo esta mesma configuração até o momento de
gerais. realização desta pesquisa. Segundo o supervisor a sua meta
é o Controle das Operações do Porto (máquinas remotas) e
2.3. Funcionamento da sala de controle define o caminho do minério, tendo duas metas específicas
a descarga e o embarque do minério. O CCO – Porto
Segundo Resende (2011), as salas de controle, geralmente, possui o quantitativo de 1 Supervisor, 1 Coordenador, 2
devem estar preparadas para trabalhar em três condições Operador de Embarque, 1 Operador de Desembarque, 3
distintas de operação: em normalidade, em anormalidade e Operador de Empilhadeira Recuperadora (ER) e 1
em emergência – situação extrema. O gerenciamento das Operador de Empilhadeira, eles são divididos em 5 equipes
situações de anormalidade é fundamental, pois, nessas que executam um rodízio de turnos, numa escala
condições, as intervenções executadas podem impedir a regressiva, que inicia às 18h, 12h, 6h e 0h, com 6h de
evolução da situação de anormalidade para a de trabalho por turno e12h de descanço entre turnos, findando
emergência, e/ou permitir o retorno para a situação de o ciclo com uma pausa de 36h. Os postos de trabalho são
normalidade, condição desejada. Em ambientes de controle dividos levando em consideração o embarque e
de processo dinâmico, a condição de anormalidade se desembarque de materiais no porto: em relação ao
estende, desenvolve-se e muda todo tempo, e incrementa embarque tem-se os operadores de embarque que realizam
significativamente a complexidade das intervenções. tarefas de supervisão e gerenciamento das rotas de
embarque via supervisório com input de dados no software
Resende (2011) cita Francisco Duarte, que em sua tese de
para gerenciamento de eventos do Porto, denomidado de
doutorado (1994): A análise ergônomica do trabalho e a
MES PORTO. Esse controle é feito através de rádio e
determinação de efetivos: estudo da modernização
telefone. Em relação ao desembarque tem-se os
tecnológica de uma refinaria de petróleo no Brasil. O autor
controladores de desembarque que realizam o controle de
destaca três características de grande relevância para a
rotas de descarga via supervisário com input de dados no
atividade em salas de controle: a variabilidade, a vigilância
MES PORTO, seu trabalho necessita que interajam com
do processo, e a dimensão coletiva. Essas características
rádio e telefone.
são fortemente ligadas à eficiência e à segurança de
Há ainda, os controladores de empilhadeira, responsáveis
processos contínuos que se consolidam como repercussões
pelo controle deste equipamento utilizado na formação das
importantes sobre a concepção de salas de controle.
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pilhas de armazenamento, os controladores em sua jornada contabilizando um total de 42 funcionários. Destes somente o
de trabalho realizam a operação remota de duas supervisor e os engenheiros trabalham em regime
empilhadeiras, para o desempenho de suas atividades administrativo, os demais em regime de turno, numa escala
precisam interagir com os operadores de viradores de regressiva, que inicia às 18h, 12h, 6h e 0h, com de 6h de
vagões via telefone. Os operadores de ER’s (Empilhadeira trabalho e12h de descanço entre turnos, findando o cilco com
Recuperadora) são responsáveis pelo controle remoto deste uma pausa de 36h. Nesta etapa os postos investigados foram
equipamento que além de realizar o empilhamento também os Engenheiros, os CATs, Inspetores e Controladores de
realiza a recuperação do minério nas pilhas de Tráfego. O trabalho destas três classes de funcionários é
armazenamento. Cada operador monitora apenas uma bastante distinto, porém complementar já que as funções se
máquina. relacionam. Por turno trabalham, 3 ou 4 controladores,
dependendo da demanda da empresa, 1 Inspetor e 1 CAT. Os
engenheiros são um quantitativo de 5, mas suas atividades são
Há também o coordenador responsável pela programação
realizadas durante o expediente administrativo. O posto de
das operações de desembarque e embarque do turno, em
trabalho dos Controladores é denominado de Consoles de
suas atribuições estão o monitoramento dos demais
Controle. Os funcionários possuem um manual que norteia
profissionais assessorando-os na solução de eventuais
todas as atividades e procedimentos da Ferrovia, nele é
problemas, quando necessário assumem a função dos
previsto que os controladores não podem sair sem deixar o
operadores. O controle do porto está distribuído nas três
posto aos cuidados de outro, em geral o inspetor. As
bancadas de trabalho que possuem layout Linear, com uma
atividades dos Distribuidores/CATs, não são diretamente
cadeira e os equipamentos de trabalho dispostos em cima
ligadas às atividades do CCO - Controle, mas sim ao PCO,
da bancada de trabalho (Figura 1).
que fica sob a responsabilidade de um dos supervisores. Sua
  atividade específica é programar as locomotivas ao longo da
ferrovia. Para isso ele se comunica com os funcionários do
pátio e utiliza o sistema de informação da mineradora, onde
contém todos os planos e metas diárias para as locomotivas e
da ferrovia. Durante a realização da atividade propriamente
dita, os funcionários dos postos resolvem problemas de
diversas naturezas interagindo com softwares de
monitoramento, através de ligações, ou chamadas de rádio,
isto provoca uma variedade de ações/decisões que podem ser
tomadas para resolver os problemas encaminhados. A figura 2
representa a modelagem sistêmica descrevendo a
caracterização do funcionamento do sistema-alvo (postos de
trabalho do CCO - Tráfego).

Figura 1 – Layout da sala do CCO

O CCO – Tráfego apresenta: o Inspetor (6), Controlador de


Tráfego Ferroviário – CTF (13), CAT – Centro de Apoio a
Trens ou Distribuidor (6), Planejadores (5), Aprendizes
Ferroviários (5), Engenheiros (5) e os Supervisores (2);
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porém a temperatura é baixa, para o melhor desempenho


dos equipamentos.

Figura 4 – Luminárias apagadas no CCO.

Observaram-se problemas com monitores de dimensões


diferentes e separados, ou juntos para uma mesma tela
gráfica; formas, tipos e marcas diferentes, a alturas
diferentes, e mal distribuídos, tendo como consequência a
Figura 2 - Caracterização e posição serial do Sistema adoção de posturas inadequadas (figura 5).

B) Entrevistas abertas aos funcionários para a geração de


IDEs

De maneira geral, IDEs apontados durante as entrevistas,


foram: Ruído, Temperatura, Sala de passagem inadequada,
Cadeira Inadequada, Painel Gráfico, Stress no trabalho
(Figura 3).
Figura 5 – Equipamentos para monitoramento em diversas
alturas e posições.
IDEs Soma % Constructo
Ruído
Temperatura
2,20
1,09
14,36%
7,13%
Físco-Ambiental
Físco-Ambiental Observou-se a não utilização do encosto da cadeira por
Sala da passagem inadequada
Unificação dos centros
1,09
1,00
7,12%
6,53%
Empresa
Organizacional
dois motivos identificados: 1) o apoio de braço esbarra na
Cadeira Inadequada
Posição do Painel Gráfico
0,78
0,73
5,07%
4,80%
Empresa
Biomecânica
bancada não permitindo a aproximação da cadeira; 2) o
Tensão/stress do trabalho
Altura do gráfico
0,61
0,50
3,97%
3,26%
Conteúdo do trabalho
Biomecânica
ritmo intenso de trabalho faz com que alguns funcionários
Manutenção do sistema
Layout
0,38
0,34
2,50%
2,23%
Organizacional
Biomecânica
utilizem as cadeiras reguladas por outros, em outos turnos.
Quantidade de informação monitorada
Desligar-se do trabalho
0,33
0,32
2,18%
2,10%
Cognitivo
Conteúdo do trabalho
Este ponto está em desacordo com a norma NR 17, item
Desconforto/dor
Manutenção de Postura de trabalho
0,32
0,27
2,09%
1,75%
Biomecânica
Biomecânica
17.3.2.3, alínea d, onde os encostos devem estar adaptados
Visão cansada 0,26 1,71% Biomecânica para a proteção da região lombar (figura 6).
Figura 3 – Parte dos resultados das entrevistas abertas
Iluminação
Altura da Bancada
0,26
0,25
1,71%
1,63%
Físco-Ambiental
Biomecânica
Poeira 0,25 1,63% Físco-Ambiental
Comunicaçao entre as pessoas 0,24 1,57% Empresa
Quantidade de Chamadas Telefônicas 0,22 1,41% Empresa
C) Observações Assistemáticas
Local de descanso 0,20 1,33% Empresa
Espaço entre as consoles 0,20 1,30% Biomecânica
Organização dos equipamentos 0,19 1,24% Biomecânica

O ruído percebido no setor não se apresenta como fator de


Integração entre colegas
Conversas
0,18
0,18
1,18%
1,16%
Organizacional
Físco-Ambiental

risco para a saúde dos funcionários, contudo o barulho


Nível de responsabilidade
Pressão da chefia
0,17
0,15
1,09%
0,96%
Conteúdo do trabalho
Organizacional
produzido pela voz humana e dos rádios, atrapalha a
Treinamento e capacitação
Entrada de pessoas estranhas ao CCO
0,13
0,13
0,87%
0,86%
Organizacional
Organizacional
concentração e a comunicação dos funcionários durante a
Medo de errar
Pausas e intervalos para refeições
0,13
0,13
0,82%
0,82%
Conteúdo do trabalho
Organizacional
realização das atividades, principalmente na passagem de
Pessoas Subutilizadas
Quantidade de pessoas
0,11
0,10
0,73%
0,65%
Organizacional
Organizacional
serviço; o projeto de Iluminação (tipo de luminárias,
Organização dos monitores
Espaço pequeno por quantidade de pessoas
0,09
0,09
0,59%
0,57%
Biomecânica
Biomecânica
disposição, quantidade) atual do CCO - tráfego é
Qualidade da refeição
Cardápio
0,09
0,08
0,56%
0,55%
Organizacional
Organizacional
inadequado (Maya, 2002; ISO 11064-6, 2003 ), pois a
Cores do painel 0,08 0,54% Cognitivo
Evolução Tecnológica 0,08 0,54% Organizacional Figura 6 – Uso inadequado do encosto.
maior parte das luzes se apresenta desligada, mantendo um
Sistema de turno 0,08 0,54% Organizacional
Lentidão de resposta do software 0,08 0,50% Organizacional
ambiente escuro iluminado mais pelas luzes dos
Refeição do turno noturno 0,07 0,47% Organizacional
Atraso da refeição do almoço 0,07 0,44% Organizacional Encontrou-se uma grande quantidade de equipamentos
computadores (figura 4); não há a exposição a elementos
Apoio para pés 0,06 0,38% Biomecânica
Insalubridade não recebem 0,06 0,38% Organizacional
vibratórios, nem a agentes químicos. A temperatura
Fardamento 0,06 0,36% Organizacional dispostos na bancada de trabalho que podem provocar confusão
Odores da copa 0,05 0,34% Empresa
ambiente é regulável por sistema de condicionador de ar,
Exaustão do banheiro 0,05 0,33% Empresa
Ausência de Bebedouro 0,05 0,31% Empresa visual, gerando desconforto e atrapalhando o desenvolvimento
Falhas no software 0,05 0,31% Organizacional
Proximidade banheiro/copa 0,05 0,31% Organizacional
Limpeza do banheiro 0,05 0,30% Organizacional
Quantidade de trabalhador noturno 0,04 0,28% Organizacional
Assistência Social 0,04 0,27% Empresa
Interação entre ccm e cco 0,04 0,26% Organizacional
Remuneração 0,04 0,26% Organizacional
Cobrança sobre o Visual 0,04 0,25% Organizacional
Interação com outras áreas 0,04 0,25% Organizacional
Material Didático para treinamento 0,04 0,25% Organizacional
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das atividades. Não há espaço adequado (equipamentos,


ferramentas, materiais de trabalho, fora do alcance) – envoltório
acional/manipulação (figura 7).

Figura 9 – Apoio de pés e excesso de equipamentos


embaixo da bancada.
.
Observou-se que a configuração dos teclados e mouses
provoca extensão e desvios de punho (figura 10).
Figura 7– Distribuição dos equipamentos na bancada.

Os funcionários adotam a postura sentado por tempo


prolongado e, em decorrência da inadequação do posto de
trabalho, buscam posições de descanço (figura 8).

Figura 10 – Posições assumidas pelo punho em algumas


atividades.

O Layout dos postos de trabalho é de forma linear, ou seja,


Figura 8 – Exemplo de posição de descanso durante as
há única bancada, para os postos de Distribuidor de
atividades.
Recursos (Centro de Apoio a Trens - CAT), Inspetor e
Segundo Moraes e Pequini (2000), é preciso que o apoio
Controlador. O posto linear atrapalha a realização das
para os pés seja ajustável, permitindo a acomodação dos
atividades, pois tem dimensões reduzidas para o
trabalhadores. Observou-se que os apoios para os pés
quantitativo de funcionários, o que faz com que os postos
existentes não são ajustáveis e apresentam dimensões
estejam muito próximos uns aos outros dificultando o
reduzidas, o que leva o operador a não ter liberdade de
espaço para circulação, o que leva os funcionários a
movimentos, e manter as pernas juntas e paralelas,
adotarem posturas inadequadas para visualização ou
assumindo assim uma postura estática por longos períodos.
alcançar alguns equipamentos (Figura 11).
Espaço para as pernas embaixo da bancada fica
comprometido devido ao excesso de equipamentos
presentes embaixo das bancadas com computadores e CPU
(figura 9).
9

Figura 13 – Pouco espaço para anotações e registros em


Figura 10 – Posto linear do CCO - Tráfego. papel.

Os Engenheiros desenvolvem suas atividades em dois


Notou-se, ainda, que os funcionários, principalmente os
postos distintos, um em formato de ilha (bancadas em “L”)
CATs, Inspetores e Controladores, apresentam dificuldades
na parte exterior à sala de controle, o outro em bancada
em atender todas as chamadas telefônicas e via rádio, pois
linear ao lado dos supervisores dentro da sala de controle.
há determinados momentos em que a demanda de
Cada um dos postos apresenta problemas específicos; em
chamadas é elevada, provocando erros e atrasos na
relação ao apoio de pés, as bancadas em “L” permitem o
resolução dos problemas relatados. Em algumas situações
uso dos mesmos, entretanto os apoios de pés utilizados têm
os funcionários do CCO – Tráfego recebem chamadas que
dimensões inadequadas, já nas bancadas dentro da sala em
destinam-se a atividades não especificas do CCO,
função do pouco espaço para as pernas e dos equipamentos
exercendo um papel, neste instante, de telefonistas. A
presentes não é possível o uso do apoio para os pés. Nos
interface gráfica (software) do monitor Sistema Gráfico da
dois postos de trabalho o espaço é reduzido para anotações
Ferrovia: possui contraste inadequado com fundo escuro e
e leitura dos projetos (Figura 12).
figuras em cores saturadas e insaturadas (verde, vermelho)
que pode causar fadiga visual aliado ao projeto de
iluminação inadequado. Os Caracteres das interfaces
gráficas: fonte de tamanhos variados, pictogramas,
simbolos, que podem causar confusão e erro na tomada de
decisões (Figura 14).

Figura 12 – Postos dos Engenheiros.

O espaço para a circulação é inapropriado para o


Figura 14 – A interface gráfica do sistema.
contingente de funcionários que há em cada turno,
agravado durante os turnos que acontecem
Percebeu-se que a carga mental exigida pelos trabalhadores
concomitantemente ao horário administrativo. Os
pode ser elevada, pois a atividade demanda alto grau de
monitores LCD não permitem a regulagem de inclinação e
concentração, com um grande contigente de informações a
altura, não atendendo aos distintos percentis dos
serem tratadas e monitoradas (monitores, telefones, rádio,
funcionários. Não há um local específico para anotações e
anotações, informações afixadas na bancada de trabalho,
nem suporte de papéis para digitação (Figura 13).
etc.). Organização: jornada de trabalho, ciclo de tarefas,
pessoal, programa de pausas e revezamento, relação
interpessoal, ritmo de trabalho, etc. Durante o turno diurno,
observou-se que há uma movimentação de pessoas de
outros setores no ambiente de trabalho, as quais conversam
em voz alta e atrapalham a comunicação e a concentração
que a tarefa exige. Este problema se agrava durante a
10

passagem de serviço, uma vez que os setores do pátio e da visualização do ambiente externo, caracterizando um
ferrovia entram ao mesmo tempo, e em seguida ocorre a trabalho isolado.
troca de turno dos funcionários do CCO – Porto. Este é um
parâmetro considerado na norma NR 17, no item 17.4 O trabalho de turno representa um agravo para o
(Equipamentos dos postos) e 17.5 (condições ambientais de preenchimento de todas as vagas do setor, pois os
trabalho). Uma pesquisa realizada por um funcionário do funcionários preferem trabalhar em outros setores que
CCO – Tráfego o que mostra uma alta demanda e um ritmo obedeçam ao horário administrativo (8h00 às 18h00), que
acelerado para a realização de atividades. O trabalho pode de acordo com eles permite a realização de tarefas pessoais
ser considerado repetitivo, pois as atividades variam pouco (estudo, curso, dedicação a família, etc.).
durante os turnos, os controladores focam suas atividades
no atendimento e envio de informações dos maquinistas, os Na atividade dos controladores, observou-se que os
Inspetores, no planejamento e acionamento dos mesmos mesmos utilizam o head phone durante as seis horas do
dispositivos. Já o os engenheiros possuem tarefas mais turno, isto em termos cumulativos pode provocar prejuízo a
diversificadas em função de suas atividades ligadas à audição dos funcionários (figura 15).
projetação, sendo assim a rotina de trabalho deles varia de
acordo com o projeto ou estudo desenvolvido. O Processo
de capacitação é problemático, pois os aprendizes são
capacitados por funcionários mais experientes em situação
real, sem passar por uma capacitação teórica e prévia
(tarefa prescrita) com carga horária relativa. O auxilio a um
aprendiz resulta em lentidão no atendimento das chamadas
e até erros por parte dos Experientes. Na atual situação o
processo de aprendizagem demanda cerca de 2 anos para
que o aprendiz possa está apto a desenvolver as funções
Figura 15 – Funcionário usando o Head phone.
com autonomia. Em função da dificuldade de formação de
novos profissionais o quantitativo de funcionários é baixo o
Há locais onde os equipamentos apresentam fios e cabos
que demanda maior carga de trabalho sobre os funcionários
expostos o que pode causar acidente, ou incidente, durante
do setor, em alguns casos os funcionários desempenham
a movimentação dos funcionários. A manutenção dos
duas funções. O banheiro possui o sistema de regulagem da
equipamentos é feita durante a realização das atividades
temperatura feito por ar condicionado central, o que resulta
nos dias de maior movimentação, isto pode oferecer risco
numa temperatura muito baixa, em função da não
aos funcionários que estão trabalhando no setor, além de
circulação de ar que também é agravante na exaustão dos
dificultar a realização das atividades de quem realiza a
odores. A limpeza do CCO – Tráfego é ineficaz, pois
manutenção quanto os funcionários do CCO – Tráfego.
observou-se muita poeira nos equipamentos e o sistema de
recolhimento de lixo em alguns momento não atende a
C) Questionários fechados
quantidade produzida, as lixeiras são pequenas, o que faz
com que o lixo caia no chão em alguns momentos, além de
No que se refere ao Construto Ambiente o resultado do
estarem mal posicionados. Esta situação agrava-se nos
questionário demonstra que o principal problema para os
finais de semana em que a empresa de limpeza contratada
trabalhadores do CCO – Tráfego avaliado é o Ruido,
não efetua seus serviços. O local de trabalho não permite a
percebe-se ainda que este item afeta mais os controladores
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e inspetores, que são as funções que necessitam de maior


concentração e que possuem maior interação com o rádio Figura 17 – Resultados para o constructo
(interferência) e telefones (campainha) além do ruído Biomecânica/antropometria.
decorrente da fala humana (figura 16).
O constructo Cognição(Figura 18) foi percebido entre os
respondentes (funcionários) como problema, sendo o item
Informações monitoradas como o de menor nível de
satisfação, principalmente para os inspetores e CTFs que
possuem uma maior demanda em função de suas
atividades. Os softwares apresentaram níveis de
insatisfação para os controladores de tráfego, pois são estes
que interagem por mais tempo com os softwares.
Figura 16 – Resultados para o constructo Ambiente.

No constructo Biomecânica percebe-se que os engenheiros


apresentaram os maiores níveis de satisfação para todos os
itens apresentados. Já os CTFs e inspetores apresentam os
menores níveis de satisfação principalmente nos que estão
ligados à cadeira (regulagem, encosto, apoio para braços e
assentos) em conjunto com os itens ligados as consoles
(profundidade e altura). Para os distribuidores de recurso
(CAT) os níveis de satisfação ficaram próximos a média. O
dimensionamento dos monitores foi o item de maior Figura 18-Constructo Cognição
satisfação. Em relação a postura ocupacional, os CTFs e
Inspetores apresentam os menores níveis de satisfação, o No constructo organizacional os itens a apresentar níveis
que está ligado a sua maior permanência nos postos de de insatisfação foram: cardápio, qualidade da refeição,
trabalho em função de suas atividades. Para a organização sistema de turno, pessoas de outros setores, e quantidade de
dos equipamentos apenas os engenheiros não apresentaram ligações, este último devido a demanda de informações
níveis de insatisfação (figura 17). monitoradas, estes dois últimos itens não foram motivos de
reclamação dos engenheiros, uma vez que os mesmos
desenvolvem suas atividades fora da sala de controle e tem
pouca demanda de chamadas telefônicas. Os inpetores
apresentaram outros niveis de insatisfação, para o plano de
carreira, capacitação e comunicação entre outros setores.
Para os Distribuidores/CATs, verificou-se os outros niveis
de insatisfação: comunicação CCO e outros setores,
Capacitação e Treinamentos, e Plano de carreira. Além dos
niveis supracitados, os controladores apontaram menores
índices de insatisfação para capacitação e treinamento,
plano de carreira, tempo para realizar as tarefas, pausa para
12

refeições, comunicação entre CCO e CCM, Comunicação valorizados. As atividades demandam muito esforço
entre o CCO e outros setores, sistema de comunicação, mental. Os Distribuidores de recursos (CAT) classificaram
equipamentos para monitorar e manutenção dos seu trabalho como: de baixa demanda física, em
computadores. contrapartida há uma elevada carga mental. É pouco
monótono, limitado e frustrante. O trabalho é descrito
Um fato curioso é que apesar de o quadro de funcionários ainda como muito criativo, dinâmico, estimulante,
não estar completo e de que nas observações se notou que autonomia e estressante. É descrito como muito arriscado,
eles ocupam duas funções em determinados turnos, os envolve muita responsabilidade e que sofre muita pressão
funcionários se apresentam felizes com o quantitativo de psicológica pela chefia, mas ainda assim sentem-se
funcionários. valorizados o que pode está ligado a autonomia que
Em relação ao constructo Empresa, os itens a apresentarem possuem. Para os Controladores de Tráfego da Ferróvia o
níveis de insatisfação foram: consoles, cadieras, apoio de trabalho é carcterizado como: de baixa demanda física e
pés, bancadas, a inexistência de ginática laboral, a falta de maior demanda mental. De pouca monotonia, há pouca
adaptação dos ônibus aos PNEs, a limpeza, a acessibilidade limitações, afirmam ter pouca autonomia nas decisões,
e ausência de uma sala para descanso. Para os inspetores entretanto sentem-se pouco frustrados mas muito
apresentam ainda níves de insatisfação os itens: bebedouro, valorizados o que está ligado ao elevado dinamismo,
painel gráfico, pedaleira, quantidade de telefones, os responsabilidade e criatividade o que torna o trabalho
telefones, as impressoras e mouses. Quanto aos estimulante. O trabalho envolve muita responsabilidade,
Distribuidores Recursos (CAT) são itens de insatisfação o aliado a muito risco e muita pressão psicológica da chefia.
sistema de ponto, painel gráfico e pedaleira. Já os CTFs,
ainda apresentaram nível de insatisfação os itens: limpeza Para o constructo desconforto/dor, percebe-se que ao final
do ambiente de trabalho, localização do bebedouro, do turno os Inspetores se sentem muito cansados com
quantitativo de telefones e os telefones em si, impressoras, elevado nível de desconforto/dor nos segmentos do
mouses e teclados. pescoço, cabeça, costas (coluna vertebral), pés, pernas,
mãos e braços o que está diretamente ligado a postura
Para o constructo conteúdo de trabalho, os inspetores ocupacional. Quanto aos engenheiros foi registrado níveis
descrevem seu trabalho como: apresentou pouco monóto, alto de desconforto/dor nos segmentos corporais do
frustrante, limitado e demanda pouco esforço físico. O pescoço, costas e cabeça o que está ligado a postura
trabalho é ainda caracterizado como muito estressante, ocupacional e organização dos equipamentos. Demonstram
arriscado, muita autonomia, estimulante, muita ainda cansaço ao final da jornada de trabalho. Os
responsabilidade, muito dinâmico, muito criativo, com distribuidores de recursos (CAT) registraram como os
elevada demanda mental e muita pressão pisicológica, segmentos corporais mais afetados pelas suas atividades os
entretanto há autonomia na realização de sua atividades, segmentos do pescoço e costas, ligados a demanda de sua
demonstram-se ainda valorizados com o desempenho de funções ligadas a altura dos monitores e postura
suas funções. Os Engenheiros descrevem o seu trabalho ocupacional. É registrado também que as atividades
como: pouco frustrante, pouco limitado e pouco monótono, desenvolvidas por estes profissionais resultam em elevado
envolve pouco risco, de pouca demanda de esforço físico. nível de cansaço ao final de trabalho (figura 19).
É ainda classificado como estressante, muito estimulante,
muito dinâmico e criativo. Envolve muita responsabilidade,
com pouca pressão psicológica da chefia e sente-se
13

Nota-se uma má distribuição (organização) de


equipamentos (Monitores, CPUs, Mouses, telefones,
rádios, etc.) alocada sobre uma bancada com layout linear,
para o posto CAT, Inspetor e Controlador, principalmente
por estes postos estarem muito próximos um dos outros,
provocando confusão visual, posturas inadequadas devido
ao excesso de equipamentos em cima da bancada de
trabalho. Estes por sua vez apresentam problemas de
mobiliário com “cantos vivos”, dimensões reduzidas para
realização de suas atividades e não possuem apoios parar
Figura 19- Constructo Desconforto/Dor pés.

De posse dos resultados das observações assistemáticas e Estima-se uma carga cognitiva excessiva devido à
dos questionários, pode-se elencar a hierarquia de apresentação de informações que devem ser processadas de
problemas mais evidentes no trabalho do CCO - Tráfego: maneira que não respeitam as condições de legibilidade e
acuidade visual, além do fato de serem informações
1) Constructo biomecânica (postura ocupacional e absorvidas simultâneamente e em excesso por mais de um
dimensionamento dos postos de trabalho); órgão do sentido (visão, audição e tato). O trabalho pode
2) Constructo Cognição (interfaces computacionais, ser caracterizado como repetitivo, sendo a sua organização
excesso de informações) e Organizacional (ritmo com exigência de ritmo de trabalho para os postos CAT,
de trabalho excessivo, acesso de pessoas de outros Inspetor e Controlador. Há risco pela exposição a cabos e
setores, repetitividade) fios, além do problema da manutenção dos equipamentos
3) Constructo Empresa (cadeiras, bancada, ser feitas durante a realização das atividades.
estacionamento, limpeza, teclados, mouses,
ginástica laboral); Mobiliário dos postos de trabalho
4) Constructo Organizacional (Sistema de turno,
Comunicação entre setores, Refeição, quantidade O posto de trabalho não está adequado para a posição
de ligações); sentado, pois a bancada de trabalho é alta (75cm para as
5) Ambiental (ruído interferindo na comunicação e a bancadas em “L”, e 72cm para as bancadas das consoles),
iluminação). sem regulagem e a zona de alcance (envoltório
acional/manipulação) está incompatível (a área de trabalho
4. Parecer ergonômico está de difícil alcance e visualização), este fato evidencia o
não uso do encosto dos assentos (cadeiras) o que pode
O trabalho é essencialmente realizado na posição sentada, resultar em lombalgias, em termos cumulativos. As
eventualmente de pé para os postos CAT, Inspetor e caracaterísticas dimensionais dos postos de trabalho
Controlador. O posto de trabalho do Engenheiro, está possibilitam o posicionamento e movimentação
sujeito a uma atividade dinâmica, que pode propriciar inadequados dos segmentos corporais, resultando em
variação de postura e, consequentemente, redução do risco posturas ocupacionais que podem levar ao desconforto/dor
de problemas musculo esqueléticos ocasionados pela e lesões ao sistema músculo esquelético. Os pedais a
atividade. presentam comandos de acionamento mecânico (por meio
14

de um botão de pressão), estão bem posicionados e são de


fácil alcance. Porém apresentam dimensionamento Organização do trabalho
inadequado em termos antropométricos e, ainda, são um
comando, fonte de informação, a mais o que pode Há exigência de tempo para o cumprimento das tarefas,
colaborar com a carga cognitiva (mental). Os assentos com ritmo de trabalho acelerado, as tarefas demanadam
utilizados no CCO - tráfego apresentam problemas em nível elevado de concentração. Há poucas pausas para
relação ao dimensonamento antropométrico uma vez que descanso no decorrer das atividades (apenas 15 minutos
não são adequados aos percentis extremos (homens mais para o almoço), sendo que o funcionários ficam seis horas
altos e mulheres mais baixas, por exemplo), o que pode sem interrupção nas suas atividades, salvo quando das
resultar em desconforto/dor. Os apoios de pés possuem necessidades fisiológicas.
dimensões inadequadas e são insuficiente para o
quantitativo de funcionários. A limpeza do CCO – Tráfego é ineficiente, pois observa-se
acúmulo de poeira nos equipamentos; as lixeiras são
Equipamentos dos postos de trabalho pequenas para a quantidade de lixo produzida por essa
razão o sistema de recolhimento de lixo em alguns
Não há suporte com ajuste para a leitura de documentos momentos não atende tal demanda. Esta situação agrava-se
para a inserção de dados. nos finais de semana em que a empresa de limpeza
Não é possível ajustar a tela (monitor) (contra reflexos e na contratada não efetua seus serviços. A manutenção dos
busca de melhores ângulos de visualização). A equipamentos é feita durante a realização das atividades, e
configuração dos teclados provoca desvios de punho durante os dias de maior movimentação, o que oferece
durante o uso, os quais aliados ao processo de digitação riscos aos funcionários que estão tanto realizando a
podem levar a LER/DORT. As interfaces gráficas, no manutenção como para os trabalhadores do setor. O
geral, apresentam problemas nos tamanhos das fontes quantitativo de funcionários é baixo isso implica em
(tipografia), constrate de cores e botões de acionamento. acúmulo de carga de trabalho sobre os funcionários do
Além de que a quantidade de informações repassadas pode setor, uma vez que há casos que assumem duas funções. O
dificultar o entendimento para funcionários novatos. Processo de capacitação apresenta deficiências para a
formação dos aprendizes uma vez que os mesmos precisam
Condições ambientais aprender através da observação da execução das tarefas dos
mais experientes, que funcionam como tutores, o que
Há niveis de ruído que podem atrapalhar o conforto acrescenta mais uma atividade a ser desenvolvida por estes,
acústico, em se tratando de atividade de elevado nível de o que resulta em prejuízo na atenção. Evidenciou-se
concentração. O projeto de iluminação é ineficiente, pois durante as observações que o grande fator de risco
não atende as necessidades de cada posto, uma vez que há apresentado é a carga mental a que os funcionários estão
funcionários que preferem desenvolver suas atividades com submetidos, tanto para os controladores, Inspetores e
menor nível de luminosidade enquanto que outros precisam CATs, pois necessitam se manter concentrados diante do
de um maior nível. O banheiro possui o sistema de computador e dos gráficos durante suas jornadas de
regulagem da temperatura feito por ar condicionado trabalho.
central, o que faz com que a temperatura seja muito baixa,
agravado pela falta de circulação de ar que ainda dificulta a
exaustão dos odores.
15

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MORAES, A. de e MONT´ALVÃO, C. Ergonomia:


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