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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AO JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE RIBEIRÃO DAS NEVES - MG

Autos nº 0231.10.006128-3

REGINALDO FERREIRA DA SILVA, já devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, no exercício
de sua autonomia preconizada no § 2º do art. 134 da Constituição da República Federativa do
Brasil e no uso de sua competência legal prevista no art. 4º da Lei Complementar Federal 80/94 e
nos arts. 4º e 5º da Lei Complementar Estadual 65/03, pela Defensora Pública abaixo assinada,
vêm perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 593, I, do CPP, interpor recurso de
APELAÇÃO contra a r. sentença de fls. 176/178, desde já apresentando as razões do apelo.

Termos em que pede deferimento.

Ribeirão das Neves, 30 de junho de 2021.

Assinado de forma digital por GIULIA GONZALEZ PRIETO


GIULIA GONZALEZ PRIETO TORRES:0953 TORRES:0953
Dados: 2021.06.30 17:54:30 -03'00'

GIULIA GONZALEZ PRIETO TORRES


DEFENSORA PÚBLICA
MADEP 953

1ª Defensoria Criminal
Rua Onofre de Oliveira, 252 - Centro, Ribeirão das Neves/MG. Telefones: 31 3624-2239
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

RAZÕES DE APELAÇÃO

Recorrentes: REGINALDO FERREIRA DA SILVA


Recorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Autos n. 0231.10.006128-3
Origem: 1ª Vara Criminal da Comarca de Ribeirão das Neves/MG

Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara,
Ínclitos Desembargadores,
Douta Procuradoria de Justiça,
Douta Defensoria Pública em atuação junto ao E.TJMG,

1. DA SÍNTESE PROCESSUAL

O Ministério Público ofereceu denúncia em face do acusado pela prática, em


tese, do delito previsto no art. 213, caput, c/c art. 14, II e artigo 61, II, “h”, todos do Código Penal,
tudo em razão de fatos que teriam ocorrido, em tese, em 10 de março de 2010.

A denúncia foi recebida em 30 de agosto de 2019, conforme decisão de fl. 85.


Pessoalmente citado (fls. 124/125), o réu apresentou sua resposta à acusação à fl. 128.

Aberta a fase instrutória, foram ouvidas as testemunhas arroladas pelas partes


e decretada a revelia do acusado dando-se por encerrada a etapa processual tudo conforme se
afere de fl. 153 e fl. 165.

Em sede de alegações finais por memoriais (fls. 166/170), o Ministério Público


pugnou pela condenação do acusado nos termos da denúncia. A Defensoria Pública apresentou
suas alegações finais em ff. 171/175.

Foi proferida sentença condenatória em fls. 176/178, nos termos da denúncia,


razão pela qual se interpõe o presente recurso, sobretudo ante o advento de lei penal mais
benéfica, responsável por tipificar a conduta prevista no art. 215-A do CP.

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2. DO MÉRITO

2.1. DA DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA DO RÉU PARA A INFRAÇÃO PENAL DO ART. 61, DA LEI DE
CONTRAVENÇÕES PENAIS: PARCIALIDADE DOS RELATOS ISOLADOS DO IRMÃO DA VÍTIMA.

Quanto ao crime de tentativa de estupro atribuído ao réu, verifica-se dos autos


que o juízo de certeza, indispensável para que se profira um decreto condenatório quanto ao crime
sexual narrado na exordial, não se encontra presente nos autos. A versão trazida pela denúncia,
no sentido de que o acusado teria tentado manter relação sexual com Maria das Dores Pinto,
valendo-se de violência e grave ameaça para tanto, não foi devidamente demonstrada de maneira
clara e induvidosa na instrução processual.

Na realidade, todos os dados probatórios colhidos indicam ter havido


apenas importunação ofensiva ao pudor. Veja-se que a própria vítima, ao longo de sua
oitiva em fase administrativa, afirma que o acusado desceu a bermuda e tentou tirar a
roupa da ofendida, mas não há afirmativa segura de que o acusado pretendesse, com isso,
praticar atos libidinosos de conjunção carnal, nem há informação de que ele tenha tentado
introduzir o pênis em sua vagina (fl. 08).

Diante deste quadro de extrema fragilidade probatória, não se pode conceber


uma condenação nos moldes como pugnado pelo Parquet. A grave constrição da liberdade
ambulatória do denunciado, consistente na sanção penal por tentativa de estupro, não
pode se fundar unicamente na palavra da vítima e de seu irmão, em contradição com toda
a prova oral judicializada, já que inexiste testemunhas isentas a respeito do fato.
Ademais, como já sedimentado na doutrina e jurisprudência pátrias, as
declarações prestadas pela vítima, não se prestam para, com exclusividade, sustentar um
decreto condenatório, haja vista a presumida parcialidade da pessoa ofendida, valendo,
nesse sentido, a transcrição da lição do nobre professor Guilherme de Souza Nucci , verbis:

(...) por certo que a vítima não pode ser considerada testemunha. As razões são
várias: a) a vítima está situada, propositadamente, em capítulo destacado
daquele que é destinado às testemunhas; b) ela não presta compromisso
de dizer a verdade, como se nota pela simples leitura do caput do art. 201;

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c) o texto legal menciona que a vítima é ouvida em ‘declarações’, não


prestando, pois, depoimento (testemunho); d) o ofendido é perguntado
sobre quem seja o autor do crime ou quem ‘presuma ser’ (uma suposição e não
uma certeza), o que é incompatível com um relato objetivo de pessoa que,
efetivamente, sabe dos fatos e de sua autoria, como ocorre com a testemunha
(art. 203, CPP); e) deve-se destacar que a vítima é perguntada sobre as
provas que possa indicar, isto é, toma postura de autêntica parte no
processo, auxiliando o juiz e a acusação a conseguir mais dados contra o
acusado; f) a vítima tem interesse na condenação do réu, na medida em
que pode, com isso, obter mais facilmente a reparação do dano na esfera
cível (art. 63, CPP). (NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal
comentado – 6ª ed. – São Paulo: RT, 2007 – p. 422).

Vale destacar, nesse sentido, o brocardo nullus idoneustestis in re sua intelligitur


(“ninguém é considerado testemunha idônea em causa própria”). Por mais que as palavras
da vítima assumam relevância em crimes cometidos em situação de violência, suas palavras
devem ser lidas com inúmeras ressalvas, porque se encontram imbuídas da emoção e
intenção subentendida de transferir a culpa para aquele com quem se desentendeu a ponto
de procurar autoridades policiais.

Ademais, é difícil crer que uma vítima (ou seu irmão), que estiveram
emocionalmente envolvidos no calor acontecimentos, possa se recordar com clareza do
desenvolvimento dos fatos sem desvirtuá-los, ainda mais quando a situação se deu quando
a ofendida possuía idade avançada, com memória evidentemente sugestionável. Seu desejo
de ver a concreção do jus puniendi estatal no caso acaba por afastar a isenção necessária à validade
de seu testemunho como elemento de condenação.

O próprio Código de Processo Penal faz a distinção entre testemunha e


vítima, deixando mesmo de exigir, em relação a esta, o compromisso de dizer a verdade, o
que evidencia que suas declarações não são tomadas como prova, dada a parcialidade da versão.
Neste sentido, eis o teor dos julgados, in verbis:

Nos crimes cometidos na clandestinidade, como é cediço, as palavras da


ofendida adquirem especial realce e, no mais das vezes, servem para alicerçar a

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condenação. Contudo, para que tenham tanto prestígio é necessário que


sejam seguras, estáveis, coerentes, plausíveis, uniforme. Se isoladas, não
há como aceitá-las. Versões divergentes de pessoas inseguras e
sugestionáveis não convencem. Seria muito arriscado, com base nelas,
condenar alguém. (TJSP – AP – Rel. Silva Pinto – RT 730/512 ).

É indispensável à prolação de um decreto condenatório a existência de certeza


quanto à autoria da conduta criminosa. Assim, mostrando-se a vítima
incoerente ao imputar o delito ao réu, à falta de outro elemento de prova,
impõe-se a absolvição acusado. (TACRIM – SP – AP – Rel. Roberto Martins –
JUTACRIM-SP)

Por conseguinte, afere-se que, neste feito, o conjunto probatório é


extremamente débil e, diante da dúvida fundada, não pode redundar em condenação por
tentativa de estupro, tendo em vista que vigora no nosso sistema processual penal
constitucional o princípio da presunção de inocência (“não-culpabilidade”), previsto no art.
5º, LVII, da CF/88, bem como o postulado do in dubio pro reo (art. 386, VII, do CPP), os quais são
incompatíveis com qualquer presunção a nublar a verdade dos fatos.

Sobre o aludido princípio, ensina Renato Brasileiro Lima (LIMA, Renato


Brasileiro. Manual de Processo Penal – vol. II. Niterói: Ed. Impetus, 2012, p. 647):

Não havendo certeza, mas dúvida sobre os fatos em discussão em Juízo,


inegavelmente é preferível a absolvição de um culpado à condenação de
um inocente, pois, em um juízo de ponderação, o primeiro erro acaba
sendo menos grave que o segundo. O in dúbio pro réu não é, portanto, uma
simples regra de apreciação de provas. Na verdade, deve ser utilizado no
momento da valoração das provas: na dúvida, a decisão tem de favorecer o
imputado, pois ele não tem a obrigação de provar que não praticou o
delito. Antes, cabe à parte acusadora (Ministério Público ou querelante)
afastar a presunção de não culpabilidade que recai sobre o imputado,
provando, além de uma dúvida razoável, que o acusado praticou a conduta
delituosa cuja prática lhe é atribuída.

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Reconhecendo a aplicabilidade do aludido princípio em casos análogos ao


examinado, citem-se a jurisprudência:

APELAÇÃO CRIMINAL - ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR -


CONDENAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - CARÊNCIA PROBATÓRIA - PALAVRA
ISOLADA DA SUPOSTA VÍTIMA - PRINCÍPIO DO "IN DUBIO PRO REO" -
RECURSO NÃO PROVIDO. Nos crimes contra a liberdade sexual, onde é rara
a presença de testemunhas, a palavra da vítima tem forte valor probante.
Contudo não pode, exclusiva e isoladamente, servir de suporte à
condenação, notadamente quando o conjunto probatório é insuficiente.
Apelação conhecida e não provida. (TJ-PR - ACR: 2937135 PR Apelação Crime -
0293713-5, Relator: Jorge Wagih Massad, Data de Julgamento: 18/08/2005, 5ª
Câmara Criminal, Data de Publicação: 23/09/2005 DJ: 6960)

APELAÇÃO CRIMINAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PLEITO DE


ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. PALAVRA DA VÍTIMA ISOLADA
DO CONJUNTO PROBATÓRIO. COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO DA
VÍTIMA QUE VOLTA A RESIDIR COM O AGRESSOR APÓS OS SUPOSTOS ABUSOS
SEXUAIS. MATERIALIDADE E AUTORIA NÃO COMPROVADAS. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO "IN DUBIO PRO REO". APELO PROVIDO. DECISÃO POR
UNANIMIDADE DE VOTOS. I - A palavra da vítima não encontra ressonância
nos demais elementos dos autos, estando isolada no conjunto probatório.
II - Ademais, é contraditório o comportamento da vítima que, após ser abusada
sexualmente, volta a residir com o suposto agressor. III - Existência de fundada
dúvida acerca da materialidade e autoria do delito. Absolvição que se impõe.
Aplicação do princípio "in dubio pro reo". IV - Apelo provido. Decisão por
unanimidade de votos. (TJ-PE - APL: 2933731 PE , Relator: Alexandre Guedes
Alcoforado Assunção, Data de Julgamento: 13/11/2013, 4ª Câmara Criminal,
Data de Publicação: 27/11/2013)

Assim, o material probatório permite asseverar, apenas, que os fatos


narrados na denúncia melhor se adéquam ao tipo legal da contravenção de importunação
ofensiva ao pudor, prevista no artigo 61 da Lei de Contravenções Penais. Isto porque, o

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único fato que pode se ter como provado é que o acusado tocou o corpo da vítima e tentou
lhe tirar a saia.

A gravidade da conduta do acusado de tatear o corpo da vítima e tentar


tirar sua vestimenta (único fato provado no feito) é evidentemente reduzida, não podendo,
obviamente, ser equiparada ao comportamento de um estuprador.

Impingir a reprimenda do art. 213 do Código Penal, diante dos fatos ora
encarados, claramente menos graves do que o estupro, é postura desarrazoada, indo de
encontro aos ditames do princípio da proporcionalidade, extraído do princípio constitucional
do devido processo legal, sob a perspectiva material (art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal).
Neste sentido é o entendimento de diversos Tribunais, consoante se infere da análise dos
seguintes julgados:

CRIME CONTRA OS COSTUMES - TENTATIVA DE ATENTADO VIOLENTO AO


PUDOR - DESCLASSIFICAÇÃO PARA IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR
- POSSIBILIDADE - PENA IN CONCRETO - PRESCRIÇÃO - RECONHECIMENTO.
1. Na esteira da doutrina e jurisprudência dominantes, a tentativa de
beijo, facilmente esquivada pela vítima, não havendo suficientes quanto à
tentativa de violentar a mesma, não caracterizam o delito de atentado
violento ao pudor, mas sim a contravenção de importunação ofensiva ao
pudor, prevista no art. 61 da Lei de Contravencoes Penais. 2. Verificando-
se que entre a data do recebimento da denúncia e a data da publicação da
sentença penal condenatória recorrível transcorreu o lapso prescricional
superior ao determinado pela pena in concreto, é de rigor o reconhecimento da
extinção da punibilidade do agente pela ocorrência da prescrição da pretensão
punitiva do Estado, em sua modalidade retroativa. 3. Recurso parcialmente
provido, declarando extinta a punibilidade do agente pela prescrição da
pretensão punitiva, em sua modalidade retroativa. (TJ-MG
101160500281110011 MG 1.0116.05.002811-1/001(1), Relator: ANTÔNIO
ARMANDO DOS ANJOS, Julgamento: 15/12/2009, Data de Publicação:
26/02/2010)

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EMENTA. PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO. CONDENAÇÃO. FURTO


MEDIANTE FRAUDE E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. VIOLÊNCIA
PRESUMIDA. RECURSO QUE PRETENDE A ABSOLVIÇÃO COM BASE NA
PRECARIEDADE DA PROVA E O RECONHECIMENTO DA ATIPICIDADE EM
RELAÇÃO AO ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. (...). PROVA SATISFATÓRIA
DE QUE O APELANTE PRATICOU O ATO CONSISTENTE EM IMPORTUNAR A
ADOLESCENTE EM LUGAR ACESSÍVEL AO PÚBLICO, DE MODO OFENSIVO
AO PUDOR. RECONHECIMENTO DA PRÁTICA DO TIPO DE INJUSTO
CONTRAVENCIONAL QUE PONDERA, EXCEPCIONALMENTE, A ESCASSA
OFENSIVIDADE DO ATO ATRIBUÍDO AO APELANTE. (...). Vítima que
contava com treze anos de idade na época dos fatos. Crime de atentado
violento ao pudor não comprovado de forma inequívoca. Dúvida sobre a
real gravidade da conduta efetivamente praticada, sendo justificável dar
crédito parcial às palavras da vítima para reconhecer no comportamento
do agente o propósito de importunação ofensiva ao pudor. A pena
aplicada deve ser proporcional à gravidade do comportamento do agente,
que deve ser sempre comprovado. Desclassificação que se impõe. Aplicação
de pena de multa correspondente. Detração. Pena cumprida. Extinção da pena.
(...). Sentença parcialmente reformada. PARCIAL PROVIMENTO DO
RECURSO.(TJRJ – 2008.05.000121- APELACAO - 1ª Ementa DES. GERALDO
PRADO - SETIMA CAMARA CRIMINAL – frisou-se)

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR.


ARTIGO 61 DA LCP. DESCLASSIFICAÇÃO. PRESCRIÇÃO. RECONHECIMENTO DE
OFÍCIO. O simples toque ou uma passada de mãos sobre os seios da
mulher, e por sobre as vestes, constitui a importunação ofensiva ao pudor
de que trata o artigo 61 da LCP.Pode a segunda instância valer-se das
disposições do artigo 617 do CPP quando se tratar de recurso exclusivo da
defesa e a desclassificação favorece o réu.Declara-se de ofício a prescrição da
pretensão punitiva estatal se o prazo é superado com a sua redução pela metade
em razão da menoridade do acusado. (TJRJ – 2006.05.004279 - APELACAO - 1ª
Ementa DES. RICARDO BUSTAMANTE - Julgamento: 20/03/2007 - TERCEIRA
CAMARA CRIMINAL – Grifou-se)

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Pelo exposto, requer a defesa, na hipótese de condenação, que seja a conduta


imputada ao defendente desclassificada para a contravenção prevista no artigo 61 da LCP,
em homenagem ao princípio da proporcionalidade.

2.2. DA DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA DO RÉU PARA A INFRAÇÃO PENAL DO ART. 215-A DO CP. LEI
PENAL MAIS BENÉFICA. APLICAÇÃO RETROATIVA.

Em que pese os fatos tenham ocorrido em 2010, deve ser reconhecida a


incidência do art. 215-A do CP ao caso, por ser norma penal mais benéfica, o que demanda a
aplicação retroativa da L. 13.718/2018.

Frise-se que o tipo penal veio justamente para suprir a lacuna entre os arts. 61
e 65 da Lei de Contravenções Penais e o art. 213 do CP, em razão da necessidade de existência de
um tipo penal intermediário.

Sobre o tema, a lei não cumpre o papel de diferenciar as diferentes modalidades


de atos libidinosos, o que faz com que o julgador, no caso concreto, considerando, ainda, a
existência ou não de violência ou grave ameaça, deva realizar o enquadramento jurídico
adequado. Isto é, em cada caso concreto deve ser aferida a resposta penal mais justa e compatível
com as circunstâncias.

Pontue-se que, no caso, a gravidade da conduta do acusado de tatear o corpo da


vítima e tentar tirar sua vestimenta (único fato provado no feito) é evidentemente reduzida, não
podendo, obviamente, ser equiparada ao comportamento de um estuprador.

No caso em tela, vê-se que a tipificação mais adequada é pelo reconhecimento


do delito de importunação sexual, em detrimento da modalidade tentada de estupro, razão pela
qual requer a reforma da sentença, ante a superveniência de lei penal mais benéfica, já vigente
quando da prolação do decreto condenatório.

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3. DOS PEDIDOS

Isto posto, requer a defesa a reforma da i. sentença para determinar:

a) a desclassificação para a infração prevista no artigo 61, da Lei de


Contravenções Penais, em apreço ao princípio da proporcionalidade, uma
vez que as provas não noticiam ter havido efetiva relação sexual entre o réu
e a conjeturada vítima, mas apenas importunação de seu pudor, diante do
fato de o acusado ter tentado tirar a roupa da ofendida e tocado seu corpo;

b) a desclassificação para o crime previsto no art. 215-A do CP, em apreço ao


princípio da proporcionalidade e da retroatividade da lei penal mais
benéfica, uma vez que as provas não noticiam ter havido efetiva relação
sexual entre o réu e a conjeturada vítima, mas apenas importunação sexual,
diante do fato de o acusado ter tentado tirar a roupa da ofendida e tocado
seu corpo.

Requer, também, a concessão ao acusado dos benefícios da assistência


judiciária gratuita, nos termos do art. 10, da Lei Estadual 14.939/03, vez que está sendo assistido
pela Defensoria e não pode arcar com as despesas processuais, sem prejuízo próprio.

Destaca, ainda, a necessidade de observância às prerrogativas legais do


defensor público: intimação pessoal de todos os atos processuais, com vista dos autos, e prazo em
dobro, nos termos do art. 128, I, da LCF 80/94 e art. 74, I, da lei complementar estadual 65/03.

Ribeirão das Neves, 30 de junho de 2021


Assinado de forma digital por GIULIA GONZALEZ PRIETO
GIULIA GONZALEZ PRIETO TORRES:0953 TORRES:0953
Dados: 2021.06.30 17:54:48 -03'00'

GIULIA GONZALEZ PRIETO TORRES


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