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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este trabalho trata da confecção de uma treliça feita de palitos de picolé da madeira Pinus,
que foi apresentado na Primeira Competição de Treliças de Palito de Picolé, da
Universidade Estadual de Goiás. A competição se baseou na construção de uma estrutura
que apresentasse a maior razão possível entre a carga máxima suportada e o peso próprio
da estrutura. O projeto foi desenvolvido através do software FTOOL, no qual foi possível
analisar os esforços de tração e compressão, que auxiliaram no dimensionamento da
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estrutura. Dessa maneira, foi necessário seguir algumas restrições impostas pela
competição, no que se referia ao tamanho máximo, a magnitude, ao posicionamento dos
carregamentos e ao tipo de apoio. A partir das propriedades físicas e mecânicas do palito
de picolé, das propriedades químicas e mecânicas da cola utilizada para fazer as ligações
entre as barras, das propriedades mecânicas dos parafusos utilizados nos nós da estrutura,
e das propriedades físicas e mecânicas do alumínio, utilizado na confecção dos apoios e
aparatos de carga, dimensionou-se a estrutura, de modo a determinar a espessura mínima
das barras para suportar a carga de projeto.
ABSTRACT
This work deals with the making of a truss made of popsicle sticks from Pinus wood,
which was presented in the First Popsicle Stick Truss Competition, of the State University
of Goiás. The competition was based on the construction of a structure that presented the
highest possible ratio between the maximum load supported and the structure's self-
weight. The project was developed through the FTOOL software, in which it was possible
to analyze the tensile and compression forces, which helped in the structure's
dimensioning. Thus, it was necessary to follow some restrictions imposed by the
competition, regarding the maximum size, the magnitude, the positioning of the loads,
and the type of support. From the physical and mechanical properties of the popsicle stick,
the chemical and mechanical properties of the glue used to make the connections between
the bars, the mechanical properties of the screws used in the nodes of the structure, and
the physical and mechanical properties of the aluminum, used in the confection of the
supports and load-bearing apparatus, the structure was dimensioned, in order to determine
the minimum thickness of the bars to support the design load.
1 INTRODUÇÃO
A madeira é um material de construção empregado pelo homem desde épocas pré-
históricas. Até o século XIX, as mais importantes obras de engenharia eram construídas
com pedra ou madeira, combinando-se frequentemente os dois materiais. Isso aconteceu
por este ter sido o primeiro material empregado capaz de resistir tanto esforços de
compressão como de tração. Além disso, a madeira possui diversas propriedades que a
torna muito atraente frente a outros materiais, como baixo consumo de energia para ser
processada, alta resistência específica, eficiente isolamento térmico e elétrico, além de ser
um material muito fácil de ser trabalhado manualmente ou por máquinas (PFEIL, 2003).
De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo -
IPT (2016), a madeira de reflorestamento do tipo Pinus, cujo nome cientifico é Pinus
Elliottii Engelm, apresenta cor branco-amarelada, baixa densidade, é macia ao corte, além
de possuir textura fina. Estas características contribuem para sua boa trabalhabilidade, ou
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seja, este tipo de madeira possui facilidade de ser desdobrada, aplainada, desenrolada,
lixada, torneada, furada, fixada, colada, o que lhe permite a aplicação de um bom
acabamento. Entretanto, é importante ressaltar que, a madeira Pinus apresenta pouca
durabilidade (IPT, 1989).
Para o projeto e execução de estruturas, incluindo as de madeira, é necessário um
conhecimento prévio de alguns conceitos em resistência dos materiais, principalmente no
que diz respeito a critérios de ruptura do sistema como um todo. Nas construções, em
geral, todas as peças constituintes da estrutura devem ter suas dimensões especificadas
com o intuito de resistirem as ações (forças) atuantes sobre elas. Caso o material não
resista a essas forças e se rompa, conclui-se que ele atingiu um estado limite último, que
neste caso é por ruptura. No entanto se as peças ou a estrutura apresentarem
deslocamentos ou deformações excessivas, conclui-se que ela atingiu um estado limite de
utilização (MASCIA, 2006).
De acordo com Beer e Jonhston (1995), a resistência interna de um corpo qualquer
é definida como tensão, e basicamente consiste na aplicação de uma força externa por
unidade de área. A tensão normal uniforme em um corpo pode ser tanto de tração simples
quanto de compressão simples, diferenciando uma da outra apenas no sentido da força
normal que a originou, ou seja, tração é uma solicitação que tende a alongar a peça no
sentido da reta de ação da força aplicada, já a compressão é uma solicitação que tende a
encurtar a peça no sentido da reta da força aplicada. Tanto a compressão quanto a tração
podem gerar um estado de ruptura.
Já a tensão de cisalhamento acontece quando na estrutura há esforços na direção
longitudinal, em sentidos opostos, criando forças cortantes que tendem a separá-las em
duas partes, proporcionando assim um deslizamento de suas peças, provocando o
cisalhamento, como pode ser visto na Figura 1.
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Por outro lado, a estrutura pode atingir o estado limite por perda da estabilidade,
seja por flambagem ou esmagamento, devido as suas características geométricas. A
flambagem é um recorrente esforço de compressão em estruturas normalmente esbeltas,
onde sua seção transversal é considerada pequena em relação ao comprimento, tendendo
a produzir uma curvatura na barra (BEER; JONHSTON, 1995). Já o esmagamento é um
caso especial de ruptura por compressão e ocorre quando há um esforço axial em
estruturas robustas, as quais não se costumam romper por flambagem. Portanto, no caso
de compressão axial, torna-se importante determinar a relação entre o comprimento e a
dimensão mínima da largura da peça, pois caso esta relação seja inferior à 11:1,
caracteriza-se um estado de ruptura à compressão por flambagem, enquanto caso seja
superior a isso, tem-se um estado de ruptura à compressão por esmagamento (GRAÇA,
2007).
Com isso, quando deseja-se dimensionar qualquer tipo de estrutura na engenharia,
deve-se procurar atender alguns requisitos, visando-se ter uma obra segura e econômica.
Em síntese, a seleção dos materiais de uma estrutura se baseia na resistência, na rigidez e
na estabilidade da mesma.
Vale ressaltar também a importância do tipo de estrutura que deseja-se projetar e
executar. Para isso, sabe-se que existem vários tipos de estruturas. Treliças são um dos
principais tipos de estrutura de engenharia. Muito utilizadas em projetos de pontes,
edifícios, torres de transmissão e coberturas, consegue prover, por vezes, soluções tanto
eficazes quanto econômicas em diversas situações (BEER; JOHNSTON, 2012). Pelo fato
de serem bastante resistentes e terem um peso proporcionalmente pequeno, elas são
também usadas em longas distâncias.
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Uma treliça é formada por barras retas unidas em nós (geralmente dispostas em
triângulos interconectados), conectadas apenas em suas extremidades. Isto é, os
elementos que a formam não são contínuos através de um nó (PFEIL, 2003). Tem a
finalidade de desenvolver resistência a certos esforços aos quais é submetida. As barras
que formam a estrutura suportam estes esforços. As cargas, entretanto, devem ser
aplicadas nos nós da estrutura, e não nos elementos de barras que a compõe, como está
ilustrado na Figura 2.
As treliças simples e compostas são as mais usuais. Dos vários tipos de treliças
planas existentes, podem-se destacar a Howe, a Pratt e a Warren, as quais tem esses nomes
devido aos engenheiros que as popularizaram. Pode-se destacar ainda a treliça belga,
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Polonceau ou Fink e treliça tipo tesoura (PFEIL, 2003). A diferença potencial entre esses
modelos é pelo comportamento das barras quando são aplicadas as cargas (tração ou
compressão). Treliças tipo Howe apresentam diagonais comprimidas e montantes
tracionados; tipo Pratt têm diagonais tracionadas e montantes comprimidos; a Warren
possui parte das diagonais comprimidas e parte tracionadas (PFEIL, 2003).
Visando economia e redução de peso próprio, os sistemas treliçados planos
consistem em um conjunto de elementos lineares alongados, denominadas hastes ou
barras, onde as dimensões transversais são pequenas em relação ao comprimento. Estes
elementos, quando combinados, formam os sistemas lineares, onde as barras são
teoricamente solicitadas somente à tração e compressão axial (CAZELLA et al., 2020).
Analisando os vãos a serem vencidos, pode-se ainda obter economia modificando
o banzo superior da treliça, o qual pode ter forma curva (para grandes vãos, cujo efeito
do arco reduz as solicitações das peças da alma), ser inclinado ou reto (PFEIL, 2003).
Este trabalho tem como objetivo a construção de uma treliça de palitos de picolé
bi apoiada, usada para vencer um vão livre (distância entre os centros dos apoios) igual a
setecentos milímetros (700 mm) que, quando carregada, apresente o mais alto Coeficiente
de Eficiência Definitivo (CED) possível.
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2.2 PARAFUSO
2.2.1 Propriedades Mecânicas
O parafuso utilizado para fazer a ligação entre as barras da treliça é do tipo rosca
máquina, com a cabeça sextavada e possui diâmetro de 3/16’’ e comprimento de 1/2’’
(Figura 4). O parafuso é fabricado de aço CA 50, cuja resistência de tração é de 500 MPa.
2.3 COLA
A cola utilizada para a junção dos palitos de picolé é o adesivo instantâneo
multiuso TEK BOND® 793, (Figura 5) uma cola bastante utilizada por montadores e
marceneiros, pois é ideal para pequenas e grandes aplicações e funciona em quase 100%
dos trabalhos elaborados para marcenaria e madeira. Além de seu efetivo funcionamento
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vista que essas chapas são constituídas não somente de alumínio, mas sim de ligas de
outros metais acrescentados a sua composição, com o intuito de adequar suas
características às necessidades de utilização.
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3 PROCEDIMENTO
3.1. PROCEDIMENTO DE DIMENSIONAMENTO
Para dar início a confecção da estrutura, foi necessário a consulta de parâmetros e
recomendações importantes que direcionam a construção da treliça em questão, tais
como: a treliça deve ser biapoiada e vencer um vão livre (distância entre o centro dos
apoios) de 700 mm, apresentando quando carregada o mais alto CED. A treliça deve estar
sujeita a duas cargas concentradas (2P) de mesmo módulo, mesma direção e sentido,
aplicadas no banzo inferior, sendo cada carga (P) situada a 25 centímetros
respectivamente, do centro do apoio esquerdo e direito. A carga máxima total (2P) que
pode ser aplicada à treliça é de 2000N (200Kgf), já a carga mínima total (2P) que pode
ser aplicada à treliça é de 800N (80kgf) (ALVES, 2016).
Para a confecção da treliça de palitos de picolé, inicialmente definiu-se a estrutura
por meio do software Ftool, possuindo 70 cm de banzo superior, 45 cm de banzo inferior
e uma altura de 15 cm , conforme visto na Figura 6. Dessa maneira, a equipe de trabalho
definiu que a carga atuante na treliça seria de 1800 N, e utilizando o programa
computacional, calculou- se os esforços normais de tração e compressão em cada barra,
como pode ser evidenciado também na Figura 6.
O dimensionamento das barras da treliça, foi feito utilizando-se das maiores forças
de tração e compressão existentes na estrutura.
No caso da tração, utilizou-se da Equação (1) apresentada a seguir, em que P é a
força de tração atuante na barra, 𝜎 é a tensão normal máxima de tração que o palito suporta
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𝑃𝑡𝑟𝑎çã𝑜
𝜎= (1)
𝐴
𝐴 = 𝑏 × ℎ (2)
𝑃𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜
𝜎𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 = (3)
𝐴
Caso a estrutura se rompa por flambagem, calcula-se a carga crítica, que é a carga
axial máxima que uma barra pode suportar quando está na iminência de sofrer
flambagem. Ela é dada pela Equação (4) (BEER; JOHNSTON, 1995), em que E é o
módulo de elasticidade, I é o momento de inércia e L é o comprimento da barra.
𝜋2 × 𝐸× 𝐼
𝑃𝑐𝑟 = (4)
𝐿2
O momento de inércia de uma barra retangular é dado pela Equação (5), em que
b é a base e h é a altura da seção.
𝑏×ℎ 3
𝐼= (5)
12
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𝐹
𝑛 = 𝑇𝐶 × 𝑆 (6)
𝐹
𝑇𝐶 = (7)
𝑆
𝑃𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐶𝐸𝐷 = ≥ 100 (8)
𝑃𝑡𝑟𝑒𝑙𝑖ç𝑎 + 𝑃𝑎𝑝𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠+𝑃𝑎𝑝𝑜𝑖𝑜𝑠
4 MEMORIAL DE CÁLCULO
Como descrito anteriormente, a carga imposta sobre a treliça foi de 1800 N,
dividida igualmente entre dois pontos de aplicação.
Na análise da tração para o dimensionamento da base, o maior esforço de tração
devido a atuação das cargas foi de 1500 N, como pode ser evidenciado na Figura 6. De
acordo com Avila (2009), a resistência a tração máxima de um palito de picolé é de 52,55
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MPa. Sendo assim, calculou-se a área da seção mínima para resistir ao esforço através da
Equação (1).
𝑃𝑡𝑟𝑎çã𝑜
𝜎= (1)
𝐴
1500
52,55 × 106 = 𝐴
900
31,5 × 106 = (3)
𝐴
𝐴 = 𝑏 × ℎ (2)
28,57 = 𝑏 × 10
𝑏 = 2,86 𝑚𝑚
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𝜋2 × 𝐸× 𝐼
𝑃𝑐𝑟 = (4)
𝐿2
𝜋2 × 7350 × 106 × 𝐼
900 = 0,152
𝐼 = 279,15 𝑚𝑚4
𝑏×ℎ 3
𝐼= (5)
12
𝑏×103
279,15 =
12
𝑏 = 3,35 𝑚𝑚
O valor para a dimensão da base, deve ser o maior dentre os três casos calculados
acima (b=3,35 mm), portanto como cada palito possui 2mm de base, foi necessário a
utilização de no mínimo dois palitos unidos com cola.
Como a junta de ligação das barras foi feita através de parafusos, e estes estão
submetidos a esforço cortante, calculou-se o número de parafusos mínimo para resistir a
esta solicitação através da Equação (6).
𝐹
𝑛 = 𝑇𝐶 × 𝑆 (6)
1500
2
𝑛= 335 × 106 × 17,81 ×10−6
𝑛 = 0,126
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado permitiu uma melhor compreensão dos conceitos técnicos
na área da Engenharia Civil aplicados a projetos de estruturas de madeira, visando
principalmente o entendimento do comportamento mecânico de pontes treliçadas
fabricadas com este material, pois apesar desse tipo de estrutura já ser bastante empregada
durante séculos, os estudos sobre o comportamento de pontes de madeira são bem
recentes e por isso torna-se necessário um aprofundamento nos estudos sobre esse
assunto.
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REFERÊNCIAS
BEER, F. P.; JOHNSTON, E. R. Resistência dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Pearson
Makron Books, 1995.
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