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Brazilian Journal of Development 44277

ISSN: 2525-8761

Treliça de palitos de picolé: projeto, fabricação e ensaio

Popsicle stick lattice: design, fabrication and testing


DOI:10.34117/bjdv7n5-041

Recebimento dos originais: 07/04/2021


Aceitação para publicação: 03/05/2021

Isabela Larissa Alves Silva


isabelarissa027@hotmail.com
Mestranda em Irrigação no Cerrado - Instituto Federal Goiano
Rodovia Go-154, Km 03, s/n Ceres - GO

Jaqueline Costa de Souza


Jaquelinecosta.eng@hotmail.com
Mestre em Geotecnia - Universidade Federal de Goiás
Av. Universitária, 1488, St. Universitário Goiânia - GO 74605-220

Leanndro Gonçalves Corrêa


correa_eng.civil@hotmail.com
Graduado em Engenharia Civil - Universidade Estadual de Goiás
Br 153, No 3105, Fazenda Barreiro do Meio, Campus Henrique Santillo 75132-400 -
Anápolis - GO

Pedro Henrique Rocha


pedro.h070@gmail.com
Graduado em Engenharia Civil - Universidade Estadual de Goiás
Br 153, No 3105, Fazenda Barreiro do Meio, Campus Henrique Santillo 75132-400 -
Anápolis - GO

Rafael Henrique Gomes Silva


rafaelhgsilva@gmail.com
Pós-Graduado em Gestão Empresarial – Fundação Getúlio Vargas
Br 153, No 3105, Fazenda Barreiro do Meio, Campus Henrique Santillo 75132-400 -
Anápolis - GO

Rui Vieira da Silva Júnior


rui.vieirajunior@gmail.com
Pós-Graduado em Gestão Ambiental - Universidade Estadual de Goiás
Br 153, No 3105, Fazenda Barreiro do Meio, Campus Henrique Santillo 75132-400 -
Anápolis - GO

RESUMO
Este trabalho trata da confecção de uma treliça feita de palitos de picolé da madeira Pinus,
que foi apresentado na Primeira Competição de Treliças de Palito de Picolé, da
Universidade Estadual de Goiás. A competição se baseou na construção de uma estrutura
que apresentasse a maior razão possível entre a carga máxima suportada e o peso próprio
da estrutura. O projeto foi desenvolvido através do software FTOOL, no qual foi possível
analisar os esforços de tração e compressão, que auxiliaram no dimensionamento da

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estrutura. Dessa maneira, foi necessário seguir algumas restrições impostas pela
competição, no que se referia ao tamanho máximo, a magnitude, ao posicionamento dos
carregamentos e ao tipo de apoio. A partir das propriedades físicas e mecânicas do palito
de picolé, das propriedades químicas e mecânicas da cola utilizada para fazer as ligações
entre as barras, das propriedades mecânicas dos parafusos utilizados nos nós da estrutura,
e das propriedades físicas e mecânicas do alumínio, utilizado na confecção dos apoios e
aparatos de carga, dimensionou-se a estrutura, de modo a determinar a espessura mínima
das barras para suportar a carga de projeto.

Palavras-chave: Competição, Treliça de Palitos de Picolé, Dimensionamento, Estrutura.

ABSTRACT
This work deals with the making of a truss made of popsicle sticks from Pinus wood,
which was presented in the First Popsicle Stick Truss Competition, of the State University
of Goiás. The competition was based on the construction of a structure that presented the
highest possible ratio between the maximum load supported and the structure's self-
weight. The project was developed through the FTOOL software, in which it was possible
to analyze the tensile and compression forces, which helped in the structure's
dimensioning. Thus, it was necessary to follow some restrictions imposed by the
competition, regarding the maximum size, the magnitude, the positioning of the loads,
and the type of support. From the physical and mechanical properties of the popsicle stick,
the chemical and mechanical properties of the glue used to make the connections between
the bars, the mechanical properties of the screws used in the nodes of the structure, and
the physical and mechanical properties of the aluminum, used in the confection of the
supports and load-bearing apparatus, the structure was dimensioned, in order to determine
the minimum thickness of the bars to support the design load.

Keywords: Competition, Popsicle Stick Truss, Sizing, Structure.

1 INTRODUÇÃO
A madeira é um material de construção empregado pelo homem desde épocas pré-
históricas. Até o século XIX, as mais importantes obras de engenharia eram construídas
com pedra ou madeira, combinando-se frequentemente os dois materiais. Isso aconteceu
por este ter sido o primeiro material empregado capaz de resistir tanto esforços de
compressão como de tração. Além disso, a madeira possui diversas propriedades que a
torna muito atraente frente a outros materiais, como baixo consumo de energia para ser
processada, alta resistência específica, eficiente isolamento térmico e elétrico, além de ser
um material muito fácil de ser trabalhado manualmente ou por máquinas (PFEIL, 2003).
De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo -
IPT (2016), a madeira de reflorestamento do tipo Pinus, cujo nome cientifico é Pinus
Elliottii Engelm, apresenta cor branco-amarelada, baixa densidade, é macia ao corte, além
de possuir textura fina. Estas características contribuem para sua boa trabalhabilidade, ou

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seja, este tipo de madeira possui facilidade de ser desdobrada, aplainada, desenrolada,
lixada, torneada, furada, fixada, colada, o que lhe permite a aplicação de um bom
acabamento. Entretanto, é importante ressaltar que, a madeira Pinus apresenta pouca
durabilidade (IPT, 1989).
Para o projeto e execução de estruturas, incluindo as de madeira, é necessário um
conhecimento prévio de alguns conceitos em resistência dos materiais, principalmente no
que diz respeito a critérios de ruptura do sistema como um todo. Nas construções, em
geral, todas as peças constituintes da estrutura devem ter suas dimensões especificadas
com o intuito de resistirem as ações (forças) atuantes sobre elas. Caso o material não
resista a essas forças e se rompa, conclui-se que ele atingiu um estado limite último, que
neste caso é por ruptura. No entanto se as peças ou a estrutura apresentarem
deslocamentos ou deformações excessivas, conclui-se que ela atingiu um estado limite de
utilização (MASCIA, 2006).
De acordo com Beer e Jonhston (1995), a resistência interna de um corpo qualquer
é definida como tensão, e basicamente consiste na aplicação de uma força externa por
unidade de área. A tensão normal uniforme em um corpo pode ser tanto de tração simples
quanto de compressão simples, diferenciando uma da outra apenas no sentido da força
normal que a originou, ou seja, tração é uma solicitação que tende a alongar a peça no
sentido da reta de ação da força aplicada, já a compressão é uma solicitação que tende a
encurtar a peça no sentido da reta da força aplicada. Tanto a compressão quanto a tração
podem gerar um estado de ruptura.
Já a tensão de cisalhamento acontece quando na estrutura há esforços na direção
longitudinal, em sentidos opostos, criando forças cortantes que tendem a separá-las em
duas partes, proporcionando assim um deslizamento de suas peças, provocando o
cisalhamento, como pode ser visto na Figura 1.

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Figura 1 - Representação da tensão de cisalhamento em um corpo qualquer.

Fonte: Adaptado de ARAGÃO FILHO (2014).

Por outro lado, a estrutura pode atingir o estado limite por perda da estabilidade,
seja por flambagem ou esmagamento, devido as suas características geométricas. A
flambagem é um recorrente esforço de compressão em estruturas normalmente esbeltas,
onde sua seção transversal é considerada pequena em relação ao comprimento, tendendo
a produzir uma curvatura na barra (BEER; JONHSTON, 1995). Já o esmagamento é um
caso especial de ruptura por compressão e ocorre quando há um esforço axial em
estruturas robustas, as quais não se costumam romper por flambagem. Portanto, no caso
de compressão axial, torna-se importante determinar a relação entre o comprimento e a
dimensão mínima da largura da peça, pois caso esta relação seja inferior à 11:1,
caracteriza-se um estado de ruptura à compressão por flambagem, enquanto caso seja
superior a isso, tem-se um estado de ruptura à compressão por esmagamento (GRAÇA,
2007).
Com isso, quando deseja-se dimensionar qualquer tipo de estrutura na engenharia,
deve-se procurar atender alguns requisitos, visando-se ter uma obra segura e econômica.
Em síntese, a seleção dos materiais de uma estrutura se baseia na resistência, na rigidez e
na estabilidade da mesma.
Vale ressaltar também a importância do tipo de estrutura que deseja-se projetar e
executar. Para isso, sabe-se que existem vários tipos de estruturas. Treliças são um dos
principais tipos de estrutura de engenharia. Muito utilizadas em projetos de pontes,
edifícios, torres de transmissão e coberturas, consegue prover, por vezes, soluções tanto
eficazes quanto econômicas em diversas situações (BEER; JOHNSTON, 2012). Pelo fato
de serem bastante resistentes e terem um peso proporcionalmente pequeno, elas são
também usadas em longas distâncias.

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Uma treliça é formada por barras retas unidas em nós (geralmente dispostas em
triângulos interconectados), conectadas apenas em suas extremidades. Isto é, os
elementos que a formam não são contínuos através de um nó (PFEIL, 2003). Tem a
finalidade de desenvolver resistência a certos esforços aos quais é submetida. As barras
que formam a estrutura suportam estes esforços. As cargas, entretanto, devem ser
aplicadas nos nós da estrutura, e não nos elementos de barras que a compõe, como está
ilustrado na Figura 2.

Figura 2 - Representação de treliça isostática

Fonte: Adaptado de LEET et al. (2009).

Treliças também são denominadas estruturas reticuladas de nós rotulados. Embora


as barras da treliça sejam unidas através de conexões aparafusadas, rebitadas ou soldadas,
considera-se que são unidas por meio de pinos; dessa forma, não há momento nos nós.
Portanto, em um elemento de treliça, as únicas forças consideradas são reduzidas a uma
única força em cada extremidade (esforço normal, de tração ou compressão) (SORIANO,
2013).
Quanto à formação, as treliças são classificadas em:

• Simples: formadas por três barras ligadas em triângulo, acrescentadas de


duas novas barras para cada novo nó rotulado;
• Compostas: união de duas treliças simples;
• Complexas: treliças isostáticas que não sejam simples nem compostas.

As treliças simples e compostas são as mais usuais. Dos vários tipos de treliças
planas existentes, podem-se destacar a Howe, a Pratt e a Warren, as quais tem esses nomes
devido aos engenheiros que as popularizaram. Pode-se destacar ainda a treliça belga,

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Polonceau ou Fink e treliça tipo tesoura (PFEIL, 2003). A diferença potencial entre esses
modelos é pelo comportamento das barras quando são aplicadas as cargas (tração ou
compressão). Treliças tipo Howe apresentam diagonais comprimidas e montantes
tracionados; tipo Pratt têm diagonais tracionadas e montantes comprimidos; a Warren
possui parte das diagonais comprimidas e parte tracionadas (PFEIL, 2003).
Visando economia e redução de peso próprio, os sistemas treliçados planos
consistem em um conjunto de elementos lineares alongados, denominadas hastes ou
barras, onde as dimensões transversais são pequenas em relação ao comprimento. Estes
elementos, quando combinados, formam os sistemas lineares, onde as barras são
teoricamente solicitadas somente à tração e compressão axial (CAZELLA et al., 2020).
Analisando os vãos a serem vencidos, pode-se ainda obter economia modificando
o banzo superior da treliça, o qual pode ter forma curva (para grandes vãos, cujo efeito
do arco reduz as solicitações das peças da alma), ser inclinado ou reto (PFEIL, 2003).
Este trabalho tem como objetivo a construção de uma treliça de palitos de picolé
bi apoiada, usada para vencer um vão livre (distância entre os centros dos apoios) igual a
setecentos milímetros (700 mm) que, quando carregada, apresente o mais alto Coeficiente
de Eficiência Definitivo (CED) possível.

2 MATERIAIS UTILIZADOS NA CONFECÇÃO DA TRELIÇA


Os materiais utilizados para a confecção da treliça, bem como suas especificações
técnicas, destacando características físicas e mecânicas, são apresentados a seguir.

2.1 PALITO DE PICOLÉ


2.1.1 Propriedades Físicas
De acordo com o fabricante dos palitos de picolé (Figura 3), o palito apresenta
dimensões de 115 mm de comprimento, por 10 mm de largura, por 2 mm de espessura e
a madeira utilizada para a confecção dos mesmos é do tipo Pinus. Dessa maneira, de
acordo com o IPT (2016), esse material apresenta densidade de massa (r) aparente a 15%
de umidade (rap, 15) de 480 kg/m3 e densidade de massa básica (rbásica) de 400 kg/m3.
O Pinus possui três tipos de contração: radial que é de 3,4%, tangencial que é de
6,3% e volumétrica que é de 10,5% (IPT, 2016).

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Figura 3 – Modelo dos palitos de picolé utilizados

Fonte: Os Autores (2016).

2.1.2 Propriedades Mecânicas


Resistência a tração de 90 kgf ou 882,9 N (média extraída de 8 palitos testados),
resultando numa tensão normal de ruptura média na tração de: 52,55 MPa (AVILA,
2009). Já a resistência a compressão da madeira Pinus a 15% de umidade, quando a
ruptura se dá por esmagamento é de 31,5 MPa (IPT, 2016). Quando a ruptura se dá por
flambagem a carga máxima de compressão é obtida calculando-se a carga crítica. O
módulo de elasticidade dos palitos é da ordem de 7350 MPa (AVILA, 2009).

2.2 PARAFUSO
2.2.1 Propriedades Mecânicas
O parafuso utilizado para fazer a ligação entre as barras da treliça é do tipo rosca
máquina, com a cabeça sextavada e possui diâmetro de 3/16’’ e comprimento de 1/2’’
(Figura 4). O parafuso é fabricado de aço CA 50, cuja resistência de tração é de 500 MPa.

Figura 4 - Parafuso tipo rosca máquina com cabeça sextavada

Fonte: Os Autores (2016).

2.3 COLA
A cola utilizada para a junção dos palitos de picolé é o adesivo instantâneo

multiuso TEK BOND® 793, (Figura 5) uma cola bastante utilizada por montadores e
marceneiros, pois é ideal para pequenas e grandes aplicações e funciona em quase 100%
dos trabalhos elaborados para marcenaria e madeira. Além de seu efetivo funcionamento

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em madeiras, a cola utilizada é ideal para a adesão de metais, papéis, porcelanas,


borrachas, plásticos, cortiças e outros.

Figura 5 - Cola TEK BOND® 793

Fonte: Os Autores (2016).

Esta linha de colas é recomendadas para superfícies porosas, como no caso em


estudo. Instrui-se que para utilizá-la deve-se eliminar óleo ou sujeira das peças, as quais
deseja-se colar, aplicando a cola em uma das partes e logo em seguida fazer a união das
peças, mantendo sob pressão durante alguns segundos.

2.3.1 Propriedades Químicas e Mecânicas


A cola TEK BOND® 793 é um produto monocomponente, ou seja, não requer
mistura, sendo composto por Etil Cianoacrilato. O processo de cura inicia-se quando uma
fina camada de adesivo é aplicada entre as superfícies entrando em contato com a
umidade do ar atmosférico.
Apresenta viscosidade média de 80 a 120 CPS, temperatura de trabalho de -55 a
80ºC e preenchimento de folgas de até 0,10 mm.
No que se refere as propriedades mecânicas relacionadas à cola e relevantes para
sua utilização na construção da treliça, destaca-se a sua resistência ao cisalhamento, que

possui um valor maior que 100 Kgf/cm2.

2.4 APARATOS DE CARGA E APOIOS


O material escolhido para confecção dos aparatos de ligação das barras da treliça,
assim como os apoios e o aparato de carga foi o alumínio (chapa), tendo como principal
fator de escolha, o seu peso especifico, que é em torno de 1/3 do peso especifico do aço.
Outro fator importante levado em consideração para a escolha da chapa de alumínio na
fabricação das peças da treliça, é que ele se encontra disponível no mercado em chapas
de diversas espessuras com propriedades físicas e mecânicas diversificadas, tendo em

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vista que essas chapas são constituídas não somente de alumínio, mas sim de ligas de
outros metais acrescentados a sua composição, com o intuito de adequar suas
características às necessidades de utilização.

2.4.1 Propriedades Físicas


Segundo a Associação Brasileira do Alumínio – ABAL (2007), a leveza é uma
das principais características do alumínio. Seu peso específico é de cerca de 2,70 g/cm3,
aproximadamente 35% do peso do aço e 30% do peso do cobre (ABAL, 2007). Essa
característica, aliada ao aumento da resistência mecânica por adição de elementos de
liga/tratamentos térmicos, torna o alumínio o metal ideal para a fabricação dos aparatos
da treliça.
Outra característica importante do alumínio é sua resistência a corrosão. Quando
o alumínio líquido é exposto à atmosfera, forma-se imediatamente uma fina e invisível
camada de óxido, a qual protege o metal de oxidações posteriores. Essa característica de
autoproteção dá ao alumínio uma elevada resistência à corrosão (ABAL, 2007).

2.4.2 Propriedades Mecânicas


A observação das propriedades mecânicas do alumínio é de fundamental
importância para fabricação dos aparatos da treliça. Isso se deve ao fato de que o principal
objetivo do trabalho, é a construção de uma estrutura leve, mas com capacidade de
suportar em suas peças e todos os esforços solicitados pela a carga.
O alumínio comercialmente puro tem uma resistência à tração de
aproximadamente 90 MPa. Sua utilização como material estrutural nesta condição é um
tanto limitada, mas através do trabalho a frio, sua resistência mecânica pode ser
praticamente dobrada. Aumentos maiores na sua resistência podem ser obtidos com
pequenas adições de outros metais como elementos de liga, tais como: silício, cobre,
manganês, magnésio, cromo, zinco, ferro etc.
Com o alumínio puro, as “ligas não tratáveis” podem também ter sua resistência
aumentada pelo trabalho a frio. E as “ligas tratáveis” podem ainda apresentar aumento de
resistência através de tratamento térmico, por isso atualmente algumas ligas podem ter
resistência à tração de aproximadamente 700 MPa (ABAL,2007).

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3 PROCEDIMENTO
3.1. PROCEDIMENTO DE DIMENSIONAMENTO
Para dar início a confecção da estrutura, foi necessário a consulta de parâmetros e
recomendações importantes que direcionam a construção da treliça em questão, tais
como: a treliça deve ser biapoiada e vencer um vão livre (distância entre o centro dos
apoios) de 700 mm, apresentando quando carregada o mais alto CED. A treliça deve estar
sujeita a duas cargas concentradas (2P) de mesmo módulo, mesma direção e sentido,
aplicadas no banzo inferior, sendo cada carga (P) situada a 25 centímetros
respectivamente, do centro do apoio esquerdo e direito. A carga máxima total (2P) que
pode ser aplicada à treliça é de 2000N (200Kgf), já a carga mínima total (2P) que pode
ser aplicada à treliça é de 800N (80kgf) (ALVES, 2016).
Para a confecção da treliça de palitos de picolé, inicialmente definiu-se a estrutura
por meio do software Ftool, possuindo 70 cm de banzo superior, 45 cm de banzo inferior
e uma altura de 15 cm , conforme visto na Figura 6. Dessa maneira, a equipe de trabalho
definiu que a carga atuante na treliça seria de 1800 N, e utilizando o programa
computacional, calculou- se os esforços normais de tração e compressão em cada barra,
como pode ser evidenciado também na Figura 6.

Figura 6 - Modelo de treliça construída através do software Ftool

Fonte: Os Autores (2016).

O dimensionamento das barras da treliça, foi feito utilizando-se das maiores forças
de tração e compressão existentes na estrutura.
No caso da tração, utilizou-se da Equação (1) apresentada a seguir, em que P é a
força de tração atuante na barra, 𝜎 é a tensão normal máxima de tração que o palito suporta

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e A é a área da seção transversal. Esta formula matemática calcula a tensão normal em


uma barra, sob a ação de força axial (BEER; JOHNSTON, 1995).

𝑃𝑡𝑟𝑎çã𝑜
𝜎= (1)
𝐴

A partir dessa equação encontrou-se a área da seção transversal da barra. Como a


seção do palito é retangular, sua área é dada pela Equação (2), em que b é a base do
retângulo e h é a altura. Sendo assim, como a altura é fixa (10mm), encontra-se o valor
da dimensão da base.

𝐴 = 𝑏 × ℎ (2)

No caso da compressão, verifica-se se a estrutura rompe por flambagem, ou por


esmagamento. Caso a estrutura se rompa por esmagamento, calcula-se a dimensão
mínima da base para resistir ao esforço atuante através da Equação (3), em que P é a força
de compressão atuante na barra, 𝜎 é a tensão normal máxima de compressão que o palito
suporta e A é a área da seção transversal.

𝑃𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜
𝜎𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 = (3)
𝐴

Caso a estrutura se rompa por flambagem, calcula-se a carga crítica, que é a carga
axial máxima que uma barra pode suportar quando está na iminência de sofrer
flambagem. Ela é dada pela Equação (4) (BEER; JOHNSTON, 1995), em que E é o
módulo de elasticidade, I é o momento de inércia e L é o comprimento da barra.

𝜋2 × 𝐸× 𝐼
𝑃𝑐𝑟 = (4)
𝐿2

O momento de inércia de uma barra retangular é dado pela Equação (5), em que
b é a base e h é a altura da seção.

𝑏×ℎ 3
𝐼= (5)
12

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O valor da carga crítica será o maior valor de compressão observado no diagrama,


e através da expressão (Pcr) encontra-se o valor do momento de inércia, e a partir desse
valor, como a altura é fixa (10mm), determina-se o valor da dimensão da base.
Dessa forma, adotou-se para o dimensionamento da estrutura, o maior valor para
a dimensão da base, porque assim nenhuma barra se configura como subdimensionada.
Para determinar a quantidade de parafusos na ligação das barras utilizou-se a
Equação (6), onde n é o número de parafusos, F é a força atuante na barra, TC é a
resistência ao cisalhamento e S é a área da seção do parafuso.

𝐹
𝑛 = 𝑇𝐶 × 𝑆 (6)

Sabe-se que experimentalmente a resistência ao cisalhamento do aço é 75% da


sua resistência à tração. No caso do aço CA50, por exemplo, a resistência ao cisalhamento
será 0,75x500 = 375MPa.
A tensão de cisalhamento (TC) é determinada pela Equação (7), onde F é a força
cortante e S é a seção transversal do corpo:

𝐹
𝑇𝐶 = (7)
𝑆

Sendo assim, o objetivo final após todo o dimensionamento da treliça, é a


obtenção de um CED elevado. Este é calculado levando-se em conta a carga máxima
obtida no dia do ensaio definitivo, o peso total da treliça, o peso dos aparatos de carga e
dos apoios da estrutura, através da Equação (8).

𝑃𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑠𝑎𝑖𝑜
𝐶𝐸𝐷 = ≥ 100 (8)
𝑃𝑡𝑟𝑒𝑙𝑖ç𝑎 + 𝑃𝑎𝑝𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠+𝑃𝑎𝑝𝑜𝑖𝑜𝑠

4 MEMORIAL DE CÁLCULO
Como descrito anteriormente, a carga imposta sobre a treliça foi de 1800 N,
dividida igualmente entre dois pontos de aplicação.
Na análise da tração para o dimensionamento da base, o maior esforço de tração
devido a atuação das cargas foi de 1500 N, como pode ser evidenciado na Figura 6. De
acordo com Avila (2009), a resistência a tração máxima de um palito de picolé é de 52,55

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MPa. Sendo assim, calculou-se a área da seção mínima para resistir ao esforço através da
Equação (1).

𝑃𝑡𝑟𝑎çã𝑜
𝜎= (1)
𝐴
1500
52,55 × 106 = 𝐴

𝐴 = 28,54 × 10−6 𝑚2 = 28,54 𝑚𝑚2

Como a altura “h” do palito é fixa em 10mm, encontrou-se a dimensão da base


utilizando a Equação (2).
𝐴 = 𝑏 × ℎ (2)
28,54 = 𝑏 × 10
𝑏 = 2,85 𝑚𝑚

Na análise da compressão por esmagamento, o maior esforço de compressão


devido a atuação das cargas foi de 900 N, como pode ser evidenciado na Figura 6. De
acordo com o IPT (2016), a resistência a compressão por esmagamento paralelo as fibras
da madeira Pinus é de 31,5MPa. Sendo assim, calculou-se a área da seção mínima para
resistir ao esforço através da Equação (3).

900
31,5 × 106 = (3)
𝐴

𝐴 = 28,57 × 10−6 𝑚2 = 28,57 𝑚𝑚2

Como a altura “h” do palito é fixa em 10mm, encontrou-se a dimensão da base


por meio da Equação (2) novamente.

𝐴 = 𝑏 × ℎ (2)
28,57 = 𝑏 × 10
𝑏 = 2,86 𝑚𝑚

Na análise da compressão por flambagem, o maior esforço de compressão devido


a atuação das cargas foi de 900 N, como pode ser evidenciado na figura 6. Sendo assim,
calculou- se a área da seção mínima para resistir ao esforço, através do cálculo da carga
crítica evidenciado nas Equações (4) e (5).

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𝜋2 × 𝐸× 𝐼
𝑃𝑐𝑟 = (4)
𝐿2
𝜋2 × 7350 × 106 × 𝐼
900 = 0,152

𝐼 = 279,15 𝑚𝑚4

𝑏×ℎ 3
𝐼= (5)
12
𝑏×103
279,15 =
12

𝑏 = 3,35 𝑚𝑚

O valor para a dimensão da base, deve ser o maior dentre os três casos calculados
acima (b=3,35 mm), portanto como cada palito possui 2mm de base, foi necessário a
utilização de no mínimo dois palitos unidos com cola.
Como a junta de ligação das barras foi feita através de parafusos, e estes estão
submetidos a esforço cortante, calculou-se o número de parafusos mínimo para resistir a
esta solicitação através da Equação (6).

𝐹
𝑛 = 𝑇𝐶 × 𝑆 (6)
1500
2
𝑛= 335 × 106 × 17,81 ×10−6

𝑛 = 0,126

Assim, como a resistência de um parafuso é maior do que a força atuante, um


único parafuso é suficiente para fazer a ligação entre as barras.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado permitiu uma melhor compreensão dos conceitos técnicos
na área da Engenharia Civil aplicados a projetos de estruturas de madeira, visando
principalmente o entendimento do comportamento mecânico de pontes treliçadas
fabricadas com este material, pois apesar desse tipo de estrutura já ser bastante empregada
durante séculos, os estudos sobre o comportamento de pontes de madeira são bem
recentes e por isso torna-se necessário um aprofundamento nos estudos sobre esse
assunto.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 44277-44292 may 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 44291
ISSN: 2525-8761

Além disso, ainda que o dimensionamento e a construção de uma ponte treliçada


confeccionada com palitos de picolé pareça ser bastante simples, rústica e apenas
experimental, o projeto desta estrutura requer conhecimentos avançados de física,
mecânica e resistência dos materiais, para que possam ser determinadas as principais
propriedades do material e a melhor forma de empregá-lo.
Portanto, o projeto se baseia em estudos feitos na área de engenharia, onde
inicialmente se constroem protótipos em escala menor para a verificação da estabilidade
de estruturas semelhantes em maior escala.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 44277-44292 may 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 44292
ISSN: 2525-8761

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43 may. 2021

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