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2046-Texto Do Artigo-3525-1-10-20091119
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Identidades Culturais
e Globalização
Karina Kuschnir
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e não mais algo de que se participa (p. 20). A participação ficaria restrita, cada vez
mais, a uma elite tecnológico-econômica, detentora dos espaços decisórios e, por
isso mesmo, apta a consumir e a produzir produtos culturais mais sofisticados,
enquanto a massa se conforma em ser apenas "cliente" (p. 28).
Para o autor, porém, o ato de consumir não se resume à aquisição de
produtos. Longe da visão de que o consumo seria apenas a realização irracional
de desejos fúteis, Canclini demonstra como o ato de consumir envolve processos
socioculturais mais amplos, onde se dá sentido e ordem à vida social e, principal
mente, onde se constroem as identidades neste mundo pós-moderno. O autor
lembra que os gastos suntuosos estão quase sempre associados a' rituais e cele
brações, como, por exemplo, aniversários e festas, muitas vezes de caráter re
ligioso. Consumir seria, nesse contexto, um "investimento afetivo" e não um
simples gasto monetário; os bens, por sua vez, seriam "acessórios rituais", dando
sentido ao "fluxo simbólico" da vida social. O autor conclui: "consumir é tomar
mais inteligível um mundo onde o sólido se evapora" (p. 58-59).
Isso explicaria por que as classes subalternas agem freqüentemente
"contra seus próprios interesses". Canclini pergunta: "por que as maiorias votam
em governantes que as prejudicam?" (p. 192). A resposta está justamente nessa
transformação das fronteiras entre público e privado. Ao votar, as pessoas
estariam apenas "consumindo" mais um produto da indústria cultural, que lhes
chega através dos aparelhos de Tv. Políticos como Menen, Fujimori e Collor
seriam exemplos paradigmáticos desse fenômeno. O candidato-governante se
expõe na mídia não como um homem público, mas como um apelo ligado ao
virruosismo do "corpo e do consumo", mais adequado às narrativas intirnistas
com as quais o novo espectador "global" está habituado. Assim, o presidente é
como um herói de seriado de TV, que voa em aviões supersônicos, luta caratê,
anda de moto, passeia a cavalo, e é "consumido" como tal.
Diante dessa subordinação da política à mídia, os espaços tradicionais
de negociação, como partidos, sindicatos, greves, manifestações públicas,
estariam fadados ao enfraquecimento. Mas não é só a política que perde com a
participação cada vez menor das massas. A produção culrural das localidades
específicas também se toma menos imponante diante da indúsrria cultural
global, preponderantemente none-americana. O cinema é um dos meios mais
atingidos. Não se consegue mais recuperar o investimento de filmes apenas com
o produto das bilheterias, pois as pessoas, como vimos, vão cada vez menos aos
cinemas. No contexto da globalização, a viabilidade das produções cinema
tográficas está condicionada tanto ao sucesso em platéias de diversos países,
quanto ao sucesso de seus subprodutos, como fitas de vídeo, produtos de
papelaria, brinquedos, CDs etc. O alto investimento necessário faz com que
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