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Arquitetura pré-histórica:

menires, dólmens
e cromleques
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Nomear construções com pedras.


 Identificar as características das construções com pedras.
 Reconhecer o período histórico em que o homem realizava constru-
ções com pedras.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as construções megalíticas, que foram
os símbolos do período Neolítico. Reconhecidas como os primórdios da
arquitetura, até hoje não se conhece precisamente como os monumentos
estruturados em pedras de dimensões gigantescas foram construídos
em um período em que não se contava com nenhum tipo de tecnologia
e os instrumentos eram muito primitivos.

Tipos de construções
A sociedade pré-histórica vivia basicamente com um comportamento nômade
em busca de alimentos. Por essa razão não havia a necessidade de desenvolver
construções sólidas para moradia, pois em breve se deslocariam. No período
Neolítico, os grupos passaram a desenvolver as formas iniciais de agricultura,
portanto, as comunidades passaram a se estabelecer por períodos maiores em
determinadas regiões. Ainda assim, os abrigos eram feitos de materiais mais
efêmeros, como fibras vegetais.
Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), as conquistas mais significativas
da arquitetura pré-histórica no oeste europeu foram as construções megalíticas,
2 Arquitetura pré-histórica: menires, dólmens e cromleques

compostas por grandes pedras ou matacões, muitas das quais foram edificadas
como observatórios astronômicos ou túmulos comunitários para as classes privi-
legiadas. Essas comunidades enfrentaram grandes desafios na execução dessas
construções, pois tratam-se de rochas de grandes dimensões e pesos elevados.
Podemos nomear algumas importantes construções com pedras de dife-
rentes tipos, conforme você verá a seguir.

Menires
O menir consiste em uma pedra, geralmente um monólito de grandes di-
mensões, movida e posicionada de forma vertical por seres humanos. Possui
função simbólica:

O menir é o monumento mais primitivo, mais simples e há mais tempo em


utilização ou elaboração. É a arquitetura como símbolo, como signo, como
significação; uma arquitetura não habitável, mas com capacidade comunicativa
intrínseca (PEREIRA, 2010, p. 21).

Pereira (2010) também interpreta a continuidade de utilização do menir


como simbologia nas sociedades mais contemporâneas, como em forma de
obelisco. Os obeliscos são encontrados desde as cidades do Império Romano,
como Roma, até as modernas capitais como Madri e Washington.
O maior menir do mundo localiza-se em Locmariaquer, na Bretanha, que,
somando seus quatro pedaços quebrados encontrados no solo, mede 23,5
metros de altura. Veja um exemplo na Figura 1.

Figura 1. Menir do Castelo de Vide, Portugal.


Fonte: StockPhotosArt/Shutterstock.com.
Arquitetura pré-histórica: menires, dólmens e cromleques 3

Dólmens
Os dólmens são monumentos que consistem em duas ou mais pedras grandes
dispostas em forma circular ou poligonal, cravadas verticalmente no solo,
além de uma grande pedra sobre elas na horizontal, como se fosse um teto.
Segundo Aguiar (2018), existem diversas atribuições dos arqueólogos para
as funções dos dólmens, entre elas o uso como túmulo sepulcral, local para
rituais místicos, culto aos deuses e locais para sacrifícios. Essas inferências
se baseiam em objetos encontrados dentro desses dólmens, como esqueletos,
cerâmicas e armas. Eles podem ser classificados de três formas, conforme
detalhado a seguir.

1. Dólmens simples fechados: com a parte superior fechada, que precisa


ser removida para acesso ao interior.
2. Dólmens simples abertos: geralmente possuem aberturas laterais.
3. Dólmens de corredor: possuem um corredor para acesso.

As construções megalíticas são encontradas ao redor de todo o mundo,


tendo uma especial importância em regiões como País de Gales, Escócia e
Inglaterra. Você pode observar exemplos de dólmens nas Figuras 2 e 3.

Figura 2. Dólmen de corredor em Almendralejo, Espanha.


Fonte: Juan Aunion/Shutterstock.com.
4 Arquitetura pré-histórica: menires, dólmens e cromleques

Figura 3. Dólmen na Irlanda.


Fonte: Patryk Kosmider/Shutterstock.com.

Cromleques
Cromleque, ou cromlech, é o conjunto de diversos menires dispostos em círculos,
semicírculos ou conjuntos circulares. Segundo Pádua (2016), os cromleques acen-
tuam a ideia de recinto sagrado, de culto e podem estar relacionados à astronomia,
pois os construtores deixavam um espaço vago no centro, o que remete a um local
para celebrações especiais. O posicionamento de círculos e pedras em relação ao
sol, muitas vezes enquadrando os solstícios, demonstram que essas sociedades
pré-históricas possuíam conhecimentos sobre astronomia. O cromleque mais
conhecido é o de Stonehenge, na Inglaterra. O maior deles, porém, é o de Avebury,
no mesmo país, que abrange mais de cem mil metros e soma 650 pedras erguidas.
As Figuras 4 e 5 apresentam alguns exemplos de cromleque.

Figura 4. Cromleques nas montanhas dos Pirineus, França.


Fonte: poliki/Shutterstock.com.
Arquitetura pré-histórica: menires, dólmens e cromleques 5

Figura 5. Cromleques em Alentejo, Portugal.


Fonte: inacio pires/Shutterstock.com.

Características das construções


Não é difícil imaginar a complexidade para executar os monumentos mo-
nolíticos em uma época em que não se possuía nenhuma das tecnologias ou
equipamentos que dispomos atualmente. Pádua (2016) fez uma análise de como
seria a execução de um monólito com aproximadamente 9,5 metros de altura:

Imaginando que a parte enterrada seja pelo menos 1/3 de sua altura para
manter o equilíbrio teremos algo em torno de 3m, aceitável visto que não seria
fácil escavar muito usando ferramentas feitas com pedras, seria praticamente
uma escavação manual. Então temos a altura total de 12,50 metros. Isto tudo
resulta em um volume aproximado de 80m3 e, considerando o peso específico
do granito equivalente a 2.6 tons/m3 chegaremos a incríveis 200 tons. Ora
considerando um feito realizado a seis ou sete mil anos atrás podemos imaginar
as dificuldades para executá-la (PÁDUA, 2016, p. 08).

Seriam necessários muitos homens para carregar cada uma dessas pedras,
além de, possivelmente, eles terem de utilizar o auxílio de toras para mover
as rochas. Acredita-se que esses construtores possuíam conhecimento dos
sistemas de alavanca, para poderem erguer as pedras.
Sobre a sustentação dos monólitos, de maneira geral, era feita diretamente
pela perfuração do solo para apoio das pedras. Em algumas situações, como
nos monólitos encontrados no Brasil, as pedras encontram-se apoiadas em
montículos de rochas menores para garantir sua sustentação.
6 Arquitetura pré-histórica: menires, dólmens e cromleques

Ao contrário do que pode ser observado em construções com pedras mais


contemporâneas, as quais são estruturadas com o auxílio de argamassas,
estruturas metálicas e madeiras, as construções pré-históricas eram execu-
tadas basicamente sem o uso de outros materiais, contando unicamente com
escavações, apoios e encaixes entre as pedras.
Além do que foi apresentado anteriormente sobre os dólmens, eles ainda
podem ser classificados em alguns subtipos, conforme descrito a seguir.

 Dólmen simples: uma só câmara composta por suportes verticais com


a cobertura de uma laje.
 Dólmen de corredor: além da câmara verificada no dólmen simples,
apresenta um corredor de acesso à câmara, composta por duas fileiras
de suportes paralelos que têm pedras planas em sua parte superior,
fazendo as vezes de teto.
 Dólmen de falsa cúpula: trata-se de um corredor longo que conduz a
uma câmara fechada com uma grande laje, que está apoiada em uma
abóboda em formato de cone. Este subtipo é surpreendente quanto ao
seu tamanho e sua perfeição construtiva. Um dos mais famosos dólmens
de falsa cúpula, o de Romeral, em Antequera (Málaga), apresenta 25
metros de comprimento, em uma câmara com 5,2 metros de diâmetro.
Seu maior bloco pesa surpreendentes 170 toneladas. Um fato intrigante
é a semelhança desses dólmens com edificações de outras culturas,
como a Sala do Tesouro de Atreu, em Micenas.

Indo além dessa classificação, é possível identificar detalhes que tor-


nam diversos outros dólmens únicos, como os que são cobertos por terra,
denominandos tumulus ou mamoas. Quando o monte formado é de pedras,
em vez de terra, é chamado de cairn. A maioria dos dólmens encontrados
atualmente não apresenta esta cobertura, no entanto, supõe-se que todos
eram originalmente cobertos.
Já os cromleques podem estar alinhados. Alinhamento é a denominação
dada às fileiras de menires, que podem ser paralelas ou não. Alguns desses
alinhamentos conduzem a cromleques ou dólmens. O alinhamento de Carnac,
na Bretanha, é composto por mais de 3 mil menires, divididos em três grupos
de alinhamentos que percorrem 4 quilômetros de extensão. Esses alinhamen-
tos, geralmente, preenchem uma linha da trajetória do sol, em um eixo que
percorre de leste a oeste e do menor para o maior.
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Período Neolítico: características


A arquitetura de pedras surgiu no início do período Neolítico, por volta de 8
mil a.C., que reflete um momento histórico em que o homem começa a querer
deixar de morar na caverna e começar a buscar uma moradia. Trata-se de
um momento único na história, em que tudo foi criado do zero, sem seguir
referências anteriores — o que ocorreu com tudo o mais que veio depois.
Como explica Burns,

[...] a nova idade da pedra foi a era mais importante na história do mundo até
então. O nível do progresso material atingiu novas alturas. O homem neolítico
exercia maior domínio sobre o meio do que qualquer dos seus predecessores.
Tinha menos probabilidades de perecer devido a uma mudança de condições
climáticas ou porque viesse a falhar uma parte dos seus recursos alimentares
(BURNS, 1966, p. 29).

Essa vantagem resultou do desenvolvimento da agricultura e da domestica-


ção dos animais. Em contraponto a seus predecessores, que eram coletores, o
ser humano dessa época cultivava o próprio alimento. Segundo Pádua (2016),

As primeiras aldeias são criadas próximas a rios, de modo a usufruir da terra


fértil (onde eram colocadas sementes para plantio) e água para homens e
animais. Também neste período começa a domesticação de animais (cabra,
boi, cão, dromedário, etc.). O trabalho passa a ser dividido entre homens e
mulheres, os homens cuidam da segurança, caça e pesca, enquanto as mulheres
plantam, colhem e educam os filhos. A disponibilidade de alimento permite
também às populações um aumento do tempo de lazer e a necessidade de
armazenar os alimentos e as sementes para cultivo leva à criação de peças de
cerâmica, que vão gradualmente ganhando fins decorativos.

Segundo recorda o autor, a arte passa a ser tridimensional, ou seja, é


“construída” do lado externo das cavernas. Trata-se da primeira manifestação
artística desde as pinturas nas cavernas, as chamadas pinturas rupestres.
Analisando os exemplares restantes atualmente, é possível entender tanto os
processos que levaram a sua execução como a sua função.
Durante o Neolítico, a humanidade começa a dominar a pedra e, conse-
quentemente, surgem os primeiros monumentos. Surge, também nessa época,
o dinheiro — tangibilizado em sementes —, que permitia a troca de materiais.
Por isso, passa a ser necessário armazenar o excedente da produção, surgindo,
então, as primeiras edificações voltadas à estocagem e ao comércio.
8 Arquitetura pré-histórica: menires, dólmens e cromleques

A maior característica da cultura neolítica é justamente a utilização da


pedra natural como material de construção de forma trabalhada, e não rústica.
Dessa forma, facetada e aplainada, é possível se ter um bom assentamento.
Nessa época, ainda, não se registrava o uso de argamassa de ligação entre
os blocos de pedra — por isso a necessidade de aplainar as pedras. Como
podemos apenas supor como era o cotidiano nessa época, as explicações
de Pádua (2016) nos ajudam a ter uma ideia de como era uma residência
desse período.

Nas casas redondas, a família sentava-se em bancos de pedra, encostados


às paredes. Os lugares eram ocupados segundo a idade e posição social.
Os materiais de construção eram sólidos, como a argila seca ou madeira,
os alicerces eram em pedra ou pilares de madeira, e cobertos por terraços
ou telhados feitos de colmo. As camas normalmente eram feitas do mesmo
material que as parede. As casas tinham apenas uma divisão com uma
lareira para aquecer.

Seja como primórdios da moradia, para uso sepulcral ou rituais religiosos,


construídos por gigantes, extraterrestres ou muitas pessoas, o fato é que o
período Neolítico foi de grandes mudanças sociais em relação à arquitetura,
com conquistas que fizeram deslanchar os futuros desenvolvimentos dos povos.

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