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EM DEFESA DO SERVIÇO
PÚBLICO – Contra a Reforma
Administrativa (PEC 32)
Por Celi Nelza Zulke Taffarel e Matheus Lima de Santana,
Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física,
Esporte e Lazer (LEPEL/FACED/UFBA) e Grupo de Estudo
e Pesquisa em Educação do Campo
(GEPEC/FACED/UFBA).
PROPONENTE
ORGANIZAÇÃO
Profª Drª Celi Nelza Zülke Taffarel
APOIO TÉCNICO
Matheus Lima de Santana, graduado em Educação Física pela Universidade Federal da Bahia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Celi Taffarel e Matheus Santana
CARTILHA – DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA NÃO À PEC 32/2020
AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA
JORNAL DA APUB
Nº 75 - ABRIL DE 2021
EXEMPLO DE LUTA
APG – UFBA
INTRODUÇÃO
O presente dossiê “EM DEFESA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS – Contra a Reforma Administrativa (PEC 32)”,
tem o objetivo de reunir um material básico que nos explique o que é a proposta de contra reforma Administrativa,
quem a propõe, por que a propõe, quem se beneficia com esta contra reforma, quais seus elementos constitutivos,
como ela atinge direitos da classe trabalhadora e o que fazer perante a destrutiva política de retirada de direitos do
Governo de Jair Messias Bolsonaro e seus generais.
Para enfrentar estas questões apresentamos as deliberações do Movimento Nacional de Trabalhadores e
Trabalhadoras dos Serviços Públicos, os dados que explicam detalhes da proposta, a tramitação no Parlamento e,
conteúdos advindos de Cartilhas e Boletins dos organismos de luta da classe trabalhadora, em especial Sindicatos que
estão combatendo estas medidas destruidoras dos serviços públicos.
O Objetivo é que este Dossiê chegue nas mãos dos estudantes, dos coordenadores de movimentos de luta
social, de direções sindicais e partidárias enquanto arma da crítica para combater a política de guerra, de destruição
ora em curso no Brasil e, que configura o avanço da barbárie.
Cabe a classe trabalhadora organizada, em seus organismos de luta social, especialmente as entidades
representativas dos servidões públicos, neste momento gravíssimo da história do Brasil, envidar esforços no sentido
de esclarecer os reais motivos da reforma, chamando a atenção para os prejuízos que essa, se aprovada nos termos
propostos, representará para o Serviço Público, para os servidores públicos e principalmente para o povo,
especialmente as pessoas mais pobres que dependem da prestação do Estado, como nos explica o documento do
DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
Apresentamos o material do DIAP sobre a PEC 32/20: desregulamentação de direitos; regulamentação de
restrições. Ver mais in: https://www.diap.org.br/index.php/governo-bolsonaro/90092-reforma-administrativa-
desregulamentacao-de-direitos-e-regulamentacao-de-restricoes. Encontraremos aqui com a contribuição do DIAP,
assuntos referentes a, Administrativa; Servidores; PEC 32/20; Reforma do Estado; Tamanho e papel do Estado;
Precarização e Privatização.
Segundo o DIAP em linhas gerais, a PEC da Reforma Administrativa, dentre outros pontos, pretende:
1) desconstitucionalizar direitos, remetendo-os para leis complementares e ordinárias;
2) extinguir o Regime Jurídico Único, com a instituição de novas modalidades de contratação e as formas de ingresso;
3) extinguir a estabilidade como regra e instituir uma estabilidade mitigada para os cargos típicos de Estado;
4) extinguir as promoções automáticas por tempo de serviço;
5) transversalidade/mobilidade com redução de salário de ingresso no serviço público;
6) extinguir vantagens;
7) transferir a execução de serviços públicos da União para estados e municípios e entidades privadas;
8) transferir competências do Congresso para o presidente para extinguir cargos e órgãos da Administração Pública;
9) atacar os direitos dos atuais servidores.
Temos acordo com aqueles que dizem que a consequência da Reforma Administrativa será, segundo o DIAP,
o aumento da negligência governamental no combate às desigualdades regionais e de renda, e a redução da presença
dos pobres no Orçamento Público. Isso ocorre invariavelmente com a diminuição ou retirada do Estado no provimento
de bens e serviços aos cidadãos, às populações, aos territórios vulneráveis e aos desassistidos.
Esta criminosa Reforma Administrativa é um ataque mortal contra a humanidade, e o processo civilizatório e,
aumentará os lucros dos ricos, a super exploração da classe trabalhadora e, a destruição da natureza agravando crise
climática.
Por isto dissemos BASTA. Ninguém aguenta mais Bolsonaro e seus generais. Dizemos isto porque existem
evidencias empíricas na CPI do Parlamento (https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?codcol=2441). Seguindo
orientação do Movimento Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras dos Serviço Público, dia 18 de agosto é o
dia Nacional de Luta contra a Reforma ADMINISTRATIVA, (PEC 32) rumo A Greve geral dos trabalhadores e
trabalhadoras do Brasil, rumo a uma nova constituinte soberana, emanada do povo e para o povo, emanada da classe
trabalhadora, gerado das riquezas de uma nação. Nação que querem soberana e com seu povo feliz.
Celi Taffarel
Matheus Santana
29 e 30 de julho de 2021
ENCONTRO NACIONAL
DOS TRABALHADORES
E TRABALHADORAS DO
SERVIÇO PÚBLICO
.......................................................................................................................................................................................................................
ENCAMINHAMENTOS
1) Mobilização em Brasília dia 03/08 5) Campanhas nos meios de
a) Entidades enviam representações; comunicação
b) Mobilizar os trabalhadores e a) Participação em programas de rádio e
trabalhadoras das cidades da região. TV.
1) Introdução
Esse conjunto de propostas, além disto, faz parte da operação desmonte dos
direitos e do Estado de bem-estar social, iniciado no governo Temer com a
chamada “Ponte para o Futuro”, cuja legado foi a aprovação da Reforma
Trabalhista, a Terceirização generalizada e o Teto de Gasto, e que teve
continuidade no governo Bolsonaro, com a Reforma da Previdência, que
suprimiu direitos previdenciários, e com a Lei Complementar 173/19, que além
de suspender reajustes e outros benefícios dos servidores até 31 de dezembro
de 2021, modificou dispositivos permanentes da Lei de Responsabilidade
Fiscal em desfavor do servidor público.
2) Princípios da reforma
Trata-se de narrativa que busca apresentar a reforma como algo positivo para
os servidores e para os usuários de serviços públicos, tal como também fez o
chamado Plano Diretor da Reforma do Estado, apresentado no governo
Fernando Henrique Cardoso, para justificar a Reforma Administrativa da época.
Ou seja, faz parte do marketing destinado a persuadir os incautos a respeito da
importância e necessidade da reforma.
O segundo eixo, por sua vez, consistiria na elaboração de medidas com vistas
à aproximação do serviço público brasileiro à realidade do país, tendo como
inspiração os estudos do Banco Mundial (Um ajuste Juros: Análise da
eficiência e equidade do gasto público no Brasil, publicado em 2017, e “Gestão
de Pessoas e Folha de Pagamento do Setor Público Brasileiro: o que os dados
dizem”, que analisa dados sobre a folha de pagamento do Governo Federal e
de seis Governos Estaduais” publicado em outubro de 2019. O primeiro
estudo apresenta supostas evidências de que o gasto público é engessado em
categorias como folha de pagamento e previdência social, deixando pouca
margem para despesas discricionárias e investimento, porém sem mencionar
nada relativo aos juros e principal da dívida. O segundo apresenta supostas
distorções no gasto com pessoal.
4) Fases da reforma
6) extinguir vantagens;
1) para cargo típico de estado, que terá direito a estabilidade, ainda que
mitigada; e
• extingue o RJU;
6) Considerações finais
Setores como Educação e Saúde, que estarão no grupo de cargo por vínculo
indeterminado, porém sem direito a estabilidade, poderão dispensar a própria
contratação direta, resolvendo-se o problema mediante a criação de
Organização Social ou Serviço Social Autônomo ou, no futuro, mediante a
distribuição ou o fornecimento de voucher à população carente, para que
decida de quem comprar o serviço.
“Reforma” do “Reforma”
Estado Tributária
REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO
35
30,34
30
25
20 17,71
15
12,45
10
5,89
5
Fonte: OCDE. Panorama das Administrações Públicas 2019. Observação: Dados para o Brasil vêm de aproximação extraída dos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, feita pelo IBGE. Elaboração: DIEESE.
NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO DOS EMPREGOS SEGUNDO
NATUREZA JURÍDICA - BRASIL
De 4 a 10 SM 33,7%
Demais Servidores
Profissionais da Educação Básica Até 4 SM 53,1%
Profissionais da Saúde
• Em razão de decisão
transitada em julgado ou
proferida por órgão judicial
• Lei disporá
colegiado;
• Pode
PERDA • Mediante avaliação periódica
ocorrer Ato do chefe de
DO • Lei de desempenho, na forma da Término do
Lei disporá durante cada Poder ou
CARGO disporá lei, assegurada a ampla contrato
todo o ente
defesa
período de
• Mediante processo
atividade
administrativo em que lhe
seja assegurada ampla defesa
(CF)
ATENÇÃO! É VEDADO O DESLIGAMENTO DOS SERVIDORES POR MOTIVAÇÃO POLÍTICO-PARTIDÁRIA.
VÍNCULO DE EXPERIÊNCIA
Pulveriza a representação
• Num país com baixos salários que vivencia uma precarização maior
das relações de trabalho. O acesso a serviços públicos gratuitos,
universais e de qualidade ficará cada vez mais restrito, em caso de
aprovação desta PEC;
Introdução
A Constituição de 1988 consagra vários direitos que, para existirem na prática, precisam ser
efetivados por políticas públicas. Sem elas, tais direitos não poderiam ser acessados pelos(as)
brasileiros(as). Elas atuam em diversas etapas da vida de uma pessoa, do nascimento até a morte.
Dentre esses direitos, destacamos os chamados “direitos sociais”, que são a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância e a assistência aos(às) desamparados(as).
As políticas públicas relacionadas a esses direitos atingem todos(as) os(as) brasileiros(as), não
somente os(as) mais pobres. Aqueles(as) que usufruem de alguns desses direitos eventualmente por
meio de empresas privadas ainda assim são beneficiários(as) de políticas públicas.
Tomemos a educação como exemplo. Mesmo quem nunca estudou numa escola ou
universidade pública é alvo das políticas de educação. Isto porque as universidades públicas (federais
No caso da saúde, mesmo quem tem plano de saúde é usuário do Sistema Único de Saúde –
SUS – ainda que não saiba disso. É que as ações do SUS vão muito além do atendimento em postos
de saúde e hospitais. Ações de vigilância sanitária e epidemiológica, saneamento básico,
desenvolvimento científico e tecnológico na área de saúde e até mesmo fiscalização e inspeção de
alimentos e de alguns medicamentos são atribuições do SUS. Desta forma, quando compramos
comida no mercado, quando alguma refeição é feita em um bar ou restaurante ou mesmo quando
utilizamos algum medicamento, estamos fazendo uso do SUS.
Essas e tantas outras políticas públicas, para existirem concretamente, são operacionalizadas
pelo Estado por meio de seus(uas) servidores(as). A pretexto de “modernizar” o funcionamento do
Estado brasileiro, a PEC 32/2020 torna as contratações do setor público mais parecidas com as do
setor privado, desconsiderando as peculiaridades e até mesmo a importância do serviço público, o
que traz efeitos não somente para os(as) servidores(as), mas para todos(as) os(as) brasileiros(as), na
medida em que acessam – ou deixam de acessar – organizações públicas para a garantia de seus
direitos.
1
Research in Brazil. A report for CAPES by Clarivate Analytics – 2017. Disponível em
http://www.sibi.usp.br/wp-content/uploads/2018/01/Relat%C3%B3rio-Clarivate-Capes-InCites-Brasil-
2018.pdf
Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira
3
De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da
Economia, no ano de 2019, em 38% dos municípios brasileiros, a administração pública tinha
participação de 50% ou mais no total dos empregos formais (Tabela 1). Isso implica em que as
demandas geradas a partir das remunerações desses(as) servidores(as) e dos próprios órgãos e
instituições públicas locais são cruciais para a movimentação de recursos, sobretudo em setores como
o Comércio e os Serviços. Reduzir os patamares salariais e mesmo reduzir o contingente de pessoal
no serviço público, sem qualquer alternativa de política econômica, pode ser problemático para a
sustentação das economias locais, em especial nos municípios com atividade econômica menos
diversificada.
TABELA 1
Distribuição dos municípios brasileiros por participação dos empregos
na Administração Pública em relação ao total de empregos formais
Brasil, 2019
Participação dos nº
% do total
empregos na Adm. nº de acumulado
de % acum.
Pública em relação ao municípios de
municípios
total municípios
Menos de 10% 384 384 6,9% 6,9%
10% a 30% 1.887 2.271 33,9% 40,8%
30% a 50% 1.196 3.467 21,5% 62,2%
50% a 70% 911 4.378 16,4% 78,6%
Mais de 70% 1.192 5.570 21,4% 100,0%
Total 5.570 - 100% -
Diante das medidas contidas na PEC 32/20202 destacamos, a seguir, algumas daquelas que
podem afetar – para pior – o acesso dos(as) cidadãos(ãs) e a qualidade do serviço público e os motivos
para isso acontecer.
2
Para maior aprofundamento dos efeitos para os servidores públicos ver as Notas Técnicas do DIEESE nº
247 - Impactos da reforma administrativa sobre os atuais servidores públicos e nº 250 - Os novos vínculos de
contratação no serviço público propostos na PEC 32/2020, disponíveis nos endereços
https://www.dieese.org.br/notatecnica/2020/notaTEc247reformaAdministrativa.pdf e
https://www.dieese.org.br/notatecnica/2021/notaTec250reformaAdministrativa.pdf
Uma das novas formas de contratação de pessoal para a administração pública previstas na
PEC 32/2020 é o vínculo de experiência. Após classificação em concurso público, o(a) servidor(a)
passaria por mais uma etapa de avaliação, que seria esse contrato de trabalho de experiência (não
estável). A efetivação no posto de trabalho dependerá, caso aprovada a proposta, da “classificação
final dentro do quantitativo previsto no edital do concurso público, entre os mais bem avaliados ao
final do período do vínculo de experiência”.
3
Atualmente as chamadas Carreiras Típicas de Estado são aquelas que não têm correspondência no setor
privado. Não há uma definição explícita, mas de acordo com o Fórum Nacional Permanente de Carreiras
Típicas de Estado (FONACATE) enquadram-se as atividades de Fiscalização Agrária, Agropecuária,
Tributária e de Relação de Trabalho, Arrecadação, Finanças e Controle, Gestão Pública, Comércio Exterior,
Segurança Pública, Diplomacia, Advocacia Pública, Defensoria Pública, Regulação, Política Monetária,
Inteligência de Estado, Planejamento e Orçamento Federal, Magistratura e o Ministério Público. Não há
qualquer indicação na atual proposta de reforma administrativa sobre se os Cargos Típicos de Estado serão
correspondentes a essas atividades ou se haverá alterações. De acordo com a PEC 32/2020, os critérios para
definição de cargos típicos de Estado serão estabelecidos em lei complementar federal.
A principal forma de acesso a um cargo público atualmente é o concurso público. Essa regra,
todavia, tem algumas exceções, como é o caso dos cargos em comissão, chamados de livre nomeação
e livre exoneração4. São assim chamados porque são providos exclusivamente mediante indicação,
ou seja, qualquer pessoa – servidor(a) público(a) ou não – pode ser nomeada para exercer um cargo
em comissão. Ainda assim, existem regras específicas a serem observadas.
Além dos cargos em comissão, há ainda as funções de confiança que também são decorrentes
de indicação e exercidas pelo quadro de servidores(as) efetivos(as), sem alterar a estrutura da
Administração Pública, conforme o inciso V do art. 37 da Constituição.
O mesmo dispositivo constitucional determina que um percentual mínimo de cargos em
comissão seja ocupado por servidores(as) de carreira. Tanto as funções de confiança quanto os cargos
em comissão devem ser limitados às atribuições de direção, chefia e assessoramento.
A PEC 32 prevê o fim da distinção entre cargos em comissão e funções de confiança e a
substituição gradual desses vínculos pelos chamados cargos de liderança a assessoramento5.
Conforme a Exposição de Motivos da PEC, o “cargo de liderança e assessoramento
corresponderá não apenas aos atuais cargos em comissão e funções de confiança, mas também a
outras posições que justifiquem a criação de um posto de trabalho específico com atribuições
4
Outra exceção são os Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias, admitidos pelos
gestores locais do SUS por intermédio de processo seletivo público e não concurso público obrigatoriamente.
5
As gratificações de caráter não permanente também serão substituídas pelos cargos de liderança e
assessoramento, caso o texto seja aprovado na forma atual.
A PEC 32/2020 aprofunda a transferência de atividades públicas para o setor privado. Até o
presente momento é permitido à administração pública firmar contratos ou outros instrumentos para
o desempenho de atividades públicas de natureza social não exclusivas de Estado. Exemplos desses
contratos são aqueles firmados com Organizações Sociais - OS - e Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público – OSCIP. Todavia, de modo geral, essas organizações são instituições privadas
sem fins lucrativos.
Assim, a proposta dos instrumentos de cooperação avança na privatização de serviços
públicos, na medida em que a PEC excetua apenas as atividades privativas de cargos típicos de Estado
da adoção desse tipo de contrato e todos os outros serviços públicos poderão ser objeto desses
instrumentos. Abre-se o caminho para que organizações e empresas privadas – com fins lucrativos,
inclusive – disputem recursos públicos ao ofertarem esses serviços.
A PEC 32/2020 posterga a definição de regras dos instrumentos de cooperação para lei
federal a ser editada, mas autoriza que estados, o Distrito Federal e municípios estabeleçam regras
locais, que podem ser alteradas em caso de conflitos com a legislação federal. O texto não explicita,
por exemplo, se, em caso de instrumentos de cooperação com empresas, estas poderão cobrar tarifas
dos(as) usuários(as). Se este for o caso, é possível que o acesso a serviços públicos fique cada vez
mais restrito. Num país com baixos salários, que vivencia uma precarização maior das relações de
trabalho, faz-se cada vez mais necessário permitir serviços públicos gratuitos, universais e de
qualidade e não os restringir em razão das possibilidades financeiras de quem puder ou não pagar.
QUADRO 1
Efeitos da reforma administrativa conforme a PEC 32/2020 para o serviço público e o(a)
servidor(a) e possíveis rebatimentos para os(as) demais brasileiros(as)
EFEITOS DIRETOS
PARA O SERVIÇO EFEITOS PARA OS(AS) BRASILEIROS(AS)
PÚBLICO
Contratos menos
Economias locais podem ser prejudicadas. Em 37,8% dos municípios
estáveis, combinados
brasileiros, a administração pública tinha participação de 50% ou mais no total
com patamares
dos empregos formais, no ano de 2019. Impacto na renda de aposentados(as)
remuneratórios
e pensionistas dessas localidades.
reduzidos
Descontinuidade, perda da memória técnica, dificuldade de planejamento a
Flexibilização da
longo prazo, rompimento do fluxo de informações, estímulo a relações de
estabilidade
patrimonialismo (interesse particular acima do interesse público), redução da
qualidade do serviço público.
6
Atualmente, a CGU é um Ministério, conforme a Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019.
Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira
9
Aumento da rotatividade no serviço público, com consequente desperdício de
Criação do vínculo de recursos com treinamento e qualificação. Além disso, pode tornar a seleção de
experiência pessoas menos impessoal e criteriosa, privilegiando apadrinhados(as)
políticos(as).
Ampliação da livre
Uso político da máquina pública (aumento do patrimonialismo e coronelismo).
nomeação para os
Empregados(as) preocupados(as) em agradar o chefe e não com o cidadão alvo
cargos de liderança e
da política pública. Perda de capacidade técnica com seleções menos
assessoramento (fora
criteriosas.
da carreira, inclusive)
Uso privado dos recursos e da infraestrutura públicos. Além disso, não é garantia
automática de incremento na eficácia e eficiência dos serviços, ao contrário, uma
Instrumentos de vez que permite a celebração de instrumentos com organizações com fins
cooperação lucrativos, cujo objetivo não é a política em si, mas a obtenção de lucro. Falta de
transparência e dificuldade do controle social.
Conclusão
De forma resumida, pode-se dizer que boa parte da proposta de reforma da Administração
Pública contida na PEC 32/2020 consiste em retirar a primazia do concurso público como instrumento
de seleção de pessoal, enfraquecer e/ou eliminar a estabilidade dos(as) servidores(as) civis
estatutários(as) e reduzir os patamares salariais, além de transferir atividades públicas para a iniciativa
privada e dar amplos poderes ao presidente da República para reorganizar o funcionamento do Estado
de forma arbitrária e sem qualquer discussão com o Congresso Nacional e com a sociedade.
Isso pode ensejar maneiras de efetivação da corrupção e o fomento da arbitrariedade de
agentes privados no âmbito do Estado. Logo, a proposta de reforma administrativa não se restringe
aos(às) servidores(as) públicos(as), embora este seja praticamente o único aspecto tratado pela
imprensa. Se aprovada, tal reforma beneficiará interesses econômicos privados em detrimento do bem
da coletividade, desprotegendo ainda mais a população pobre e a classe média.
A proposta de reforma administrativa ataca conquistas democráticas e pactos sociais
construídos desde a redemocratização. Seus efeitos, portanto, estão relacionados ao aprofundamento
das desigualdades sociais e ao esgarçamento do tecido social. As consequências de uma eventual
aprovação da PEC 32/2020 serão sentidas não apenas pelos(as) servidores(as) públicos(as), mas por
todos(as) os(as) brasileiros(as), uma vez que todos(as) – sem exceção – se utilizam do serviço público.
Direção Técnica
Fausto Augusto Júnior – Diretor Técnico
José Silvestre Prado de Oliveira – Diretor Adjunto
Patrícia Pelatieri – Diretora Adjunta
Equipe técnica
Ana Paula Mondadore
Carolina Gagliano
José Álvaro Cardoso
Ricardo Tamashiro
Tamara Siemann Lopes
Thiago Rodarte
Revisão final
Carlindo Rodrigues de Oliveira
Relatório 401:
06 de agosto de 2021
1
Este relatório foi elaborado pela Subseção do DIEESE na CONDSEF/FENADSEF (Confederação dos Trabalhadores
no Serviço Público Federal) para subsidiar as discussões da Direção Executiva e suas entidades filiadas em relação
aos trâmites da PEC 32.
1 – Modificações em relação ao relatório anterior (relatório 39)
05/08/2021 - 15:38
2
Especialistas ouvidos nesta quinta-feira (5) pela comissão especial que analisa a reforma
administrativa (PEC 32/2020) afirmaram que a proposta mira a avaliação dos servidores de
maneira individual e não o desempenho do serviço público. Como a PEC também abre espaço para
que pessoas de fora do serviço público atuem como gestores públicos, os mesmos especialistas
acreditam que a situação é agravada, porque as metas poderão mudar de maneira aleatória.
Ele também acredita que ao incentivar a livre indicação para cargos públicos, a proposta
de reforma administrativa vai induzir à rotatividade no serviço público. “Ela vai de alguma forma
impulsionar também o amadorismo, o despreparo na prestação do serviço público. Isso na
contramão daquilo que se quer hoje, que são decisões pautadas em dados e evidências. Como eu
vou conseguir dados com agentes públicos sem qualificação alguma? Então, eu vou acabar
impulsionando decisões aleatórias”, avalia.
Ismar Viana argumentou ainda que a nova Lei de Licitações e a Lei do Governo Digital se
baseiam em ambientes íntegros e confiáveis no serviço público e em corpos técnicos permanentes,
tudo com o objetivo de evitar a corrupção.
Também o professor da Fundação Dom Cabral, Humberto Martins disse que é importante
ter líderes comprometidos com o serviço público para que a gestão funcione. “A PEC está muito
focada em gestão de pessoas e o faz também de uma maneira razoavelmente reducionista. É
preciso tratar a gestão de desempenho, que é mais ampla”, defendeu.
Resultados
Professora da Fundação Dom Cabral, Renata Vilhena afirmou, porém, que as avaliações
atuais não funcionam. “O que é feito hoje é um processo de avaliação de desempenho, um processo
burocrático no qual a maioria das pessoas recebe nota máxima. Um processo que não mede se as
pessoas realmente estão desempenhando bem as sua tarefas”, disse.
O deputado Rogerio Correia (PT-MG) lamentou que a proposta não fale em qualificação
do servidor. Ele também criticou a regulamentação da avaliação de desempenho por lei ordinária,
em vez de lei complementar. "O governo poderá editar uma medida provisória que vai permitir a
estados, municípios e União demissão em massa e a substituição por servidores que serão não
estáveis”, alertou.
O deputado Professor Israel Batista (PV-DF) informou que o Tribunal de Contas da União
deu 15 dias de prazo para que o governo divulgue os estudos que embasaram a reforma
3
administrativa. O deputado disse que o governo já divulgou cálculos de uma economia de R$ 300
bilhões em dez anos com a reforma e, em seguida, o número mudou para R$ 816 bilhões.
05/08/2021 - 15:21
Lira afirmou que o objetivo da PEC é redesenhar o Estado brasileiro para avaliar o serviço
público e não o servidor. “Sob a minha presidência, não vamos permitir que nenhum direito
adquirido seja prejudicado ou atingido, tenho dito isso em todas as entrevistas que dou. Quando se
fala que minha categoria vai sofrer, não vai. Não vamos comentar as versões”, afirmou.
O deputado Rogério Correia (PT-MG), que também integra a frente, afirmou que o objetivo
da reforma é privatizar o serviço público e cobrou o impacto das mudanças na saúde, educação e
segurança públicas.
“O centro do modelo é fazer cooperação com entidades privadas, tem que saber se esse
modelo funcionou em outros lugares. Queremos que o [ministro] Paulo Guedes nos desse
explicação”, cobrou Correia.
“Na pandemia, vimos a importância dos serviços públicos para se superar os momentos de
crise. Temos convicção que esse texto da PEC fragiliza as carreiras e a prestação de serviço”, disse.
Eduardo Maia, da Nova Central, também afirmou que a reforma administrativa precariza
os servidores e vai gerar uma fragilização da prestação do serviço. “Queremos mais participação.
Os servidores não foram ouvidos no texto”, criticou Maia.
4
Na comissão especial
A reforma administrativa está sendo discutida por uma comissão especial na Câmara e Lira
já afirmou que quer votar a proposta no Plenário ainda neste mês.
O Plenário da Câmara dos Deputados iniciou a Ordem do Dia da sessão desta quinta-feira
(5) com a discussão do Projeto de Lei 591/21, do Poder Executivo, que permite à iniciativa privada
explorar serviços postais. O relatório do deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA) recomenda a
aprovação de substitutivo, que prevê, entre outros pontos:
- proíbe o fechamento de agências que garantem serviço postal universal em áreas remotas;
- mantém a empresa unificada, evitando a desestatização dos serviços postais por regiões.
Já o relator defende que a desestatização dos Correios é urgente para permitir investimentos
na modernização e digitalização do setor postal. "Apesar da estrutura organizacional existente, do
ponto de vista da qualidade dos serviços postais, a ECT não tem tido uma boa performance, e vem
perdendo a aprovação do povo brasileiro. Na verdade, a empresa carece de agilidade, de eficiência,
de investimentos e de um planejamento de futuro", analisou Gil Cutrim.
5
Os Correios contam com uma força de trabalho de 99.443 empregados e uma frota com 10
aeronaves terceirizadas, 781 veículos terceirizados e 23.422 veículos próprios, entre caminhões,
furgões e motocicletas.
Pauta
A pauta do Plenário ainda inclui as Medidas Provisórias 1040/21, que elimina exigências
e simplifica a abertura e o funcionamento de empresas; e 1042/21, que reformula a estrutura de
cargos em comissão e funções de confiança no âmbito do Executivo, autarquias e fundações.
Tempo real:
Presidente da Câmara voltou a dizer que a proposta não vai atacar direitos
adquiridos
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta terça-feira (3)
que espera votar a reforma administrativa (PEC 32/20) no Plenário da Casa até o final de agosto.
Segundo ele, o texto vem sendo debatido de forma transparente com todos os parlamentares.
Lira lembrou que, no mês passado, a Câmara aprovou a proposta que limita os chamados
supersalários como um pré-requisito para dar prosseguimento à aprovação da reforma
administrativa.
O presidente da Câmara voltou a dizer que a proposta não vai atacar direitos adquiridos.
“A reforma visa dar uma melhor condição de serviços do Estado e torná-lo mais leve e previsível,
e que os investidores nacionais e internacionais saibam que os gastos serão contidos e vamos
analisar os serviços, não o servidor. Não vamos atacar qualquer direito adquirido", garantiu o
presidente, afirmando que as mudanças trarão "um Estado mais ágil com regras mais modernas”.
6
Lira destacou ainda que, apesar de o calendário da reforma ser curto, em razão das eleições
no ano que vem, a proposta pode ser aprovada até novembro pelas duas Casas do Legislativo.
Segundo ele, depois de novembro, o Congresso vai discutir o Orçamento e entrar em recesso no
fim do ano e, quando retornar, vai encontrar um País polarizado em razão da disputa eleitoral.
Judiciário
Para o relator, Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), negar a necessidade da reforma é negar
que tenha havido mudanças tecnológicas na administração pública e desconhecer que a população
não aprova os serviços públicos prestados a ela. Ele ressaltou que a estabilidade dos atuais
servidores vai ser tratada de forma responsável pela comissão.
“Não queremos punir ninguém, mas podemos fazer uma equiparação entre o trabalho do
serviço público e do serviço privado. Não há por que alguns terem direito de viver no mundo da
fantasia e outros em outro mundo”, disse.
“Precisamos adequar o Brasil às condições de outros países membros da OCDE, que são
países que têm um sistema administrativo muito bem estruturado, com custos adequados e o
retorno dos serviços para população”, disse Andrade.
“Hoje, cada servidor representa um compromisso financeiro para o contribuinte que dura
59 anos (serviço, aposentadoria e pensão). Passou no concurso público, 59 anos estável. Isso faz
sentido?”, questionou Andrade.
7
Informação 05 – Comissão da Reforma Administrativa discute regras
para contratações temporárias
04/08/2021 - 08:37
Assista no YouTube.
Foram convidados para discutir o assunto com os deputados, entre outros: a diretora da
Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP), Vera Monteiro; o diretor da Fundação Lemann,
Weber Sutti; e a subsecretária de Gestão de Pessoas da Secretaria de Planejamento, Governança e
Gestão do Estado do Rio Grande do Sul, Iracema Keila Castelo Branco.
O debate foi proposto pelos deputados Gervásio Maia (PSB-PB), Alice Portugal (PCdoB-
BA), Rogério Correia (PT-MG), Tiago Mitraud (Novo-MG), Sâmia Bomfim (Psol-SP), Ivan
Valente (Psol-SP), Milton Coelho (PSB-PE) e Lincoln Portela (PL-MG).
A comissão
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já disse que espera votar a
proposta no Plenário da Casa até o final de agosto.
Da Redação - ND
8
Informação 06 – Estabilidade e carreiras de Estado são tema de 18
emendas à reforma administrativa
Relator argumenta que reforma irá premiar bons servidores; oposição teme
precarização do trabalho com o fim da estabilidade
Impessoal
O relator lembrou que o Estado investe recursos para contratar um servidor por meio de
concurso e deve recuperá-lo caso o desempenho não seja satisfatório. "A avaliação deve ser muito
mais no sentido de premiar o funcionário que tenha um bom desempenho do que punir o mau
desempenho", analisa.
Preocupação
O deputado Rogério Correia (PT-MG) disse estar preocupado com a concepção do relator
sobre o que seriam as carreiras de Estado. "Carreira exclusiva não tem nada a ver com estabilidade.
Para o relator, professores e agentes de saúde não precisam de estabilidade. Isso me assusta. Trocar
um professor não vai resolver o problema", criticou. "Assim, 80% dos servidores não vão ter
9
estabilidade. Desmanchar a estabilidade terminaria com o serviço público, com a substituição pela
iniciativa privada e precarização do trabalho."
Rogério Correia ainda nota que, mesmo para as carreiras típicas de Estado, a demissão não
será mais por decisão judicial transitada em julgado, mas por ordem judicial colegiada. "Acaba
com a presunção de inocência do servidor público", lamentou. Ele ainda observa que, segundo o
texto da PEC, a avaliação de desempenho poderia ser feita "na forma da lei", e não por lei
complementar.
"O governo poderia baixar uma medida provisória de demissão em massa, para fazer as
contratações temporárias ou convênios com a iniciativa privada", teme.
O deputado Tiago Mitraud (Novo-MG) nota que, desde o envio da PEC, a estabilidade tem
sido o ponto mais discutido e polêmico. "Não podemos tratar a estabilidade como a bala de prata
que vai resolver todos os problemas do serviço público no Brasil, mas cabe a nós aprimorar este
instrumento" ponderou.
Tiago Mitraud considera que as previsões atuais para perda de cargo são insuficientes,
especialmente porque a avaliação de desempenho não foi regulamentada. Segundo ele, também
seria necessário criar regras para extinguir cargos e carreiras que não são mais necessários porque
se tornaram obsoletos.
Pressões políticas
Luis Miranda ainda defendeu que os cargos de chefia fossem limitados a funcionários de
carreira. "Quem tem poder, manda, desmanda, humilha e coloca em xeque a vida da pessoa e de
seus familiares e filhos. Que servidor público, sabendo que poderia perder o emprego, vai cumprir
com suas obrigações?", questionou.
Argumentos
10
público, esses servidores gastam 13,4% do PIB. "A estabilidade se equipara a um contrato
vitalício", comparou.
Quase 87% dos servidores são estáveis e a administração pública federal já dispõe de mais
inativos do que ativos em seus quadros (52,9% são inativos). O secretário informou que o Brasil
gasta R$ 8,2 bilhões por ano com 69 mil servidores ativos em cargos extintos.
Correção: A versão inicial deste texto informava que havia 62 emendas à proposta de reforma
administrativa. Realmente foram apresentadas 62 emendas, mas apenas 45 atingiram o número
mínimo exigido de assinaturas, que é 171.
03/08/2021 - 22:13
11
administrativa e a sugestão de alternativas para modernizar o serviço público por outros projetos
de lei.
A PEC 32/20 divide o serviço público entre carreiras típicas de Estado e servidores
contratados por prazo indeterminado. No entanto, a estabilidade é limitada apenas à primeira
categoria, que ainda será definida por lei complementar.
Disputas
Precarização
A professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cibele Franzese observou que estados e
municípios já usam outros regimes jurídicos para serviços de saúde e educação, especialmente em
creches. Ela citou dados do Conselho Nacional de Secretarias Estaduais de Saúde (Conass)
observando que apenas 54,9% dos trabalhadores estaduais de saúde são estatutários. "O cargo por
tempo indeterminado existe em vários países, mas não se sabe se vai precarizar o trabalhador. Não
é o remédio para o baixo desempenho e não fortaleceria as áreas sociais que prestam serviço à
população."
12
Alternativas
Outras alternativas seriam manter o sistema atual, com a revisão do número de faltas
permitidas sem justificativa, e a ampliação do alcance do Portal da Transparência, que poderia
incluir informações sobre jornada, presença, produtividade e até avaliações de desempenho de
servidores.
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2009387
Fonte: https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2262083
13
4 – Tramitação detalhada
05/08/2021
Andamento:
COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER À PROPOSTA DE EMENDA À
CONSTITUIÇÃO Nº 32-A, DE 2020, DO PODER EXECUTIVO, QUE "ALTERA DISPOSIÇÕES SOBRE
SERVIDORES, EMPREGADOS PÚBLICOS E ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA" (PEC03220 )
Aprovado requerimento n. 114/2021 da Sra. Alice Portugal que requer a realização a inclusão de debatedor
nas audiências públicas para a oitiva dos representantes dos servidores públicos, a ser realizada na Comissão
Especial destinada a apreciar a PEC 32/2020. Convidado: Dr. Vicente Martins Prata Braga, representante da
Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal – ANAPE.
Apresentação do Requerimento de Audiência Pública n. 116/2021, pelo Deputado Rogério Correia (PT/MG),
que "Requer a realização de audiência pública no âmbito da Comissão da Comissão Especial destinada a
debater a PEC nº 32, de 2020 (Reforma Administrativa), com o intuito de ouvir a senhora Denise Motta Dau
- Assistente social, mestra em saúde coletiva, secretária sub-regional da Internacional de Serviços Públicos
(ISP)". Inteiro teor
Apresentação do Requerimento de Audiência Pública n. 117/2021, pelo Deputado Rogério Correia (PT/MG),
que "Requer a realização de audiência pública no âmbito da Comissão da Comissão Especial destinada a
debater a PEC nº 32, de 2020 (Reforma Administrativa), com o intuito de ouvir o senhor José Rivaldo da
Silva, Secretário-Geral da Federação Nacional dos Trabalhadores Em Empresas de Correios, Telégrafos e
Similares - FENTECT”". Inteiro teor
5 – Enquete da PEC 32
https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2262083
14
6 – Enquete da PEC 32 (Resultado atualizado) - 03 de agosto
FONTE: https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2262083/resultado
15
7 – Acesso às reuniões ocorridas na CCJ e na COMISSÃO ESPECIAL
REUNIÕES ANTERIORES
ACESSE:https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/ccjc
TRANSMISSÕES
ACESSE:https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/webcamara/arquivos/pesquisa-
avancada/resultadoSinais?assunto=&comissao=538928&tipo=&local=&orador=&periodo=1&da
taIni=01/01/2021&dataFin=31/12/2021&form.submitted=1&form.button.pesquisar=Pesquisar
16
8 – Acesso aos documentos e apresentações ocorridas nas reuniões
da Comissão Especial da PEC 32
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
17
José Celso Pereira Cardoso Junior, Presidente do Sindicato Nacional dos
Servidores do Ipea - AFIPEA.
o Artigo: PEC 32/2020 e a volta do Estado liberal-patrimonial-oligárquico no
Brasil
Artigo: Concursos Públicos, Profissionalização Burocrática e Desempenho
Institucional: Reforma administrativa CF/1988 versus PEC 32/2020
Artigo: A Estabilidade Funcional dos Servidores nos Cargos Públicos
18
Segundo o Plano de Trabalho da Comissão, as atividades já foram reiniciadas a
partir de 03 de agosto.
PLANO DE TRABALHO
07.07.2021 - Regime jurídico dos militares das Forças Armadas e dos militares dos
Estados e do Distrito Federal
19
Saiba como atuais e novos servidores e
empregados públicos serão atingidos
1
2
Os Perigos da Reforma
Administrativa
Boa leitura!
4
REFORMA
ADMINISTRATIVA
(PEC 32/2020)
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O governo Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional a PEC 032/20, a
chamada “Reforma Administrativa”. Essa “reforma” vem na linha do des-
monte dos serviços públicos, contido na EC 95, Plano Mais Brasil, PECs
186, 187 e 188.
A luta apenas começou e serão necessárias ações efetivas para derrotar
essa “reforma” que ataca brutalmente os direitos dos servidores federais,
estaduais e municipais (atuais e futuros) e pretende sucatear e desmontar
os serviços públicos que são do interesse de todo o povo trabalhador.
Além de forjar a unidade de todos os servidores, é preciso dialogar e
ganhar os setores da população que dependem dos serviços públicos para a
luta contra a reforma que une Guedes e Rodrigo Maia na linha do “estado
mínimo”.
O conjunto do movimento sindical a começar pelas entidades dos ser-
vidores das três esferas, em particular a CUT, deve engajar suas forças na
luta pelo Não à reforma administrativa, agindo em defesa própria, pois são
os trabalhadores de suas bases que precisam de mais e melhores serviços
públicos, como a própria pandemia demonstrou.
Apresentamos essa cartilha como forma de ajudar neste combate!
5
ACESSE: cu ndependentedeluta.wordpress.com • facebook.com/cu ndependentedeluta
O governo diz Não. O que o governo propõe, na PEC
32/2020, é a desorganização do serviço pú-
blico, tirando do Estado atribuições fun-
que a reforma damentais no atendimento à população
e abrindo espaço a privatizações de áreas
administrativa é essenciais, entrega da saúde e da educação
para Organizações Sociais, fim dos concur-
necessária para sos públicos para grande parte dos cargos,
apadrinhamento no preenchimento das va-
o Brasil voltar gas e quebra da estabilidade facilitando a
perseguição política e a pressão das chefias
a crescer e que para cumprimento de ordens indevidas ou
ilegais.
ela vai corrigir A reforma é mais uma disputa pelo
orçamento público, a exemplo da Emenda
injustiças. Isso é Constitucional 95/2016 que congelou o or-
çamento para os serviços públicos por 20
verdade? anos. Entre atender à população – com um
projeto de ampliação e melhoria da edu-
cação, pesquisa e saúde – e destinar uma
parcela maior do dinheiro público para em-
presários e bancos, o governo escolheu a se-
gunda opção.
Com o golpe de 2016, o governo de Mi-
chel Temer (MDB) e depois Jair Bolsonaro
(sem partido) aprovaram medidas que, se-
gundo eles, fariam o Brasil voltar a crescer:
teto de gastos (EC 95/2016), terceirização
geral; reforma trabalhista; reforma da Pre-
Com a PEC, vidência. Nenhuma delas resolveu; pelo
serviços públicos contrário, aumentaram os ganhos dos mais
ricos e empobreceram a grande maioria da
como Saúde e população.
É certo que várias distorções foram *
Educação seguem criadas para acomodar os interesses das cú-
pulas dos poderes, não são poucos os casos
sendo obrigação de remunerações que ultrapassam em mui-
do Estado e to o teto do funcionalismo, mas essa refor-
ma não mexe em nada disso. Ao contrário,
direito da tende a aumentar ainda mais a diferença
entre os menores e maiores salários.
população?
Não. A PEC 32/2020, de Bolsonaro e Guedes, introduz entre os princípios da administração
direta e indireta descritos no Art. 37 da Constituição Federal o da subsidiariedade. Ou seja, o estado
passa a ser complementar ao que o setor privado não pode ou não quer atender.
Mesmo que seja apenas um princípio constitucional, nos planos do governo para a reforma já
constam mais duas etapas para sua implementação onde esta mudança pode ser realmente aplica-
da. Portanto, esse princípio antecipa o objetivo de substituição de escolas, universidades, hospitais
e postos de saúde públicos pela entrega de vouchers(vale-mensalidade, vale-educação, vale-creche,
vale-saúde) ou mesmo a entrega da administração, contratações e compras para organizações so-
ciais lucrarem em cima do que deveria ser direito do povo.
A população precisa de mais e melhores serviços públicos, e não menos. 6
Não. A reforma se aplica a todo o serviço público do
A reforma país: à “administração pública direta e indireta de quaisquer
se aplica dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios” (art. 37 da PEC 32/2020). Todos os servidores
apenas aos serão atingidos. O Brasil possui cerca de 10,7 milhões de ser-
servidores vidores públicos civis ativos e sua maior parte é constituída
de servidores municipais, quase 6 milhões (62,4%), seguida
federais? de 3 milhões de servidores estaduais (30,8%) (IBGE, 2016).
VÍNCULO DE EXPERIÊNCIA
i) parte do processo seletivo do concurso público;
ii) para Cargo Típico de Estado a duração será de 2 anos; APOS
iii) para cargo de prazo indeterminado será de no mínimo 1 ano;
iv) por fazer parte do concurso público, os melhores avaliados 1 A 2
nos critérios estabelecidos, serão efetivados no serviço público; e
v) ainda não goza dos direitos e garantias dos servidores. ANOS
9
Não. O funcionalismo (federal, estadual e
municipal) no Brasil corresponde a 12,5% da po-
pulação empregada. Esse número fica abaixo da
média de países tidos como liberais, como Esta-
dos Unidos (15,89%), e América Latina e Caribe,
cuja média é de 17,88%.
A imprensa repete Saúde e educação concentram o maior nú-
todo o dia que “há mero de servidores e servidoras. Cerca de 35%
do funcionalismo no país está empregado nessas
muitos servidores duas áreas.
no Brasil”, e que Quanto ao rendimento dos trabalhadores,
em média, servidores e servidoras ganham 8%
eles ganham mais que trabalhadores e trabalhadoras do setor
privado exercendo funções similares.
muito mais que a Metade dos servidores e servidoras públicos
iniciativa privada. no Brasil ganha até de R$ 2,9 mil por mês (isso
sem contar os descontos).
Isso é verdade? Segundo dados de 2018, a maior parte dos
funcionários públicos (57%) tem rendimentos
concentrados na faixa de até 4 salários mínimos,
ou seja, de R$ 3.816,00. Nos municípios, que con-
centram 56% de todo o funcionalismo no país,
73% estão nessa faixa salarial.
Cabe lembrar que é exigido do servidor pú-
blico por conta do concurso, escolaridade, co-
nhecimentos gerais e específicos de sua área de
atuação e capacitação permanente para atuar no
serviço público.
Quais os riscos de
tirar da Constituição
artigos relativos aos
serviços públicos e ao
funcionalismo?
Para mudar a Constituição, são necessárias votações em dois turnos no Senado e na Câmara,
com garantia de três quintos dos votos em cada uma delas. Se as obrigações do Estado em garantir
a prestação de serviços e o atendimento de necessidades da população em áreas fundamentais como
saúde, educação e saneamento não estiverem na Carta Magna, fica muito mais fácil para os governos
de plantão simplesmente não destinarem verbas.
Diminuir a presença do Estado no fornecimento de bens e na prestação de serviços e progra-
mas sociais e reduzir o número de servidores, atribuindo à iniciativa privada que atenda a essas
necessidades desregula a prestação dos serviços, diminui a possibilidade de fiscalização e, futura-
mente, pode fazer com que um direito fundamental não seja mais reconhecido enquanto tal.
10
Magistratura, promotores
e procuradores serão
atingidos?
Não. A reforma não atinge magistratura, procuradores e promotores, cujas “vantagens” são
mais recorrentes, maiores e servem para assegurar pagamentos acima do teto do funcionalismo.
Guedes já anunciou seus planos para a cúpula dos poderes. Sob o argumento de que “temos
que ser mais meritocráticos”, Paulo Guedes afirmou, referindo-se a casos como o da Presidência da
República e do Supremo Tribunal Federal (STF), que “é evidente que eles têm que receber muito
mais do que recebem hoje”. Atualmente, os ministros do STF recebem o teto de R$ 39,2 mil por mês,
mais penduricalhos.
Em sua fala, Guedes disse que é preciso existir uma “enorme” diferença entre os salários dos
ministros e dos demais servidores. Ele citou como exemplo o ministro do Tribunal de Contas da
União (TCU), Bruno Dantas: “O Bruno Dantas, em qualquer banco, vai ganhar 4 milhões de dólares
por ano. É difícil convencer o Bruno a ficar no TCU porque ele vai receber várias propostas do setor
privado”, declarou.
E os militares?
Também não. Enquanto determina várias vedações e perdas de direitos para
o pessoal civil, a reforma amplia, por exemplo, a possibilidade de acumulação de
cargos civis por militares (aí incluídos policiais militares e bombeiros militares),
notadamente no magistério. Os militares já foram poupados na reforma da
previdência e não param de acumular vantagens no governo Bolsonaro.
11
O que mais a
reforma proíbe?
* Aumento de remuneração ou de parcelas indenizatórias com efeitos retroativos;
* Adicionais referentes a tempo de serviço ou indenização por substituição,
* Progressão ou promoção baseada exclusivamente em tempo de serviço;
* Parcelas indenizatórias sem previsão de requisitos e valores em lei;
* Incorporação da remuneração de cargo em comissão, função de confiança ou cargo
de liderança e assessoramento ao cargo efetivo ou emprego permanente.;
* Recebimento de retribuição de posto comissionado, gratificações de exercício,
bônus, honorários, parcelas indenizatórias, entre outras, para quem se licenciar para
estudar, acompanhar parente doente ou exercer mandato sindical e político;
12
A reforma diminui os
cargos em comissão
e a possibilidade de
indicações políticas
para exercer funções
nos serviços públicos?
Mentira! As funções de confiança, os cargos em comissão e as
gratificações de caráter não permanente, que atualmente podem ser
exercidas apenas por servidoras e servidores efetivos, serão gradualmente
substituídos pelos “cargos de liderança e assessoramento”. Esses cargos,
cujos critérios de acesso serão determinados pelo chefe de cada Poder
(ou seja, abre-se totalmente espaço para concepções pessoais, política,
religiosas, etc. em vez de critérios técnicos), poderão ser destinados a
“atribuições estratégicas” ou “técnicas”, ou seja, essas funções deixam de
ser exercidas exclusivamente pelo pessoal concursado.
13
OS PERIGOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA
(PEC 32/2020)
VERDADES E MENTIRAS
Edição nº 01
23/10/2020
14
Diretoria do Sindsep-DF
Triênio 2018/2021
SECRETARIA-GERAL SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO E
COORDENADOR: Oton Pereira Neves - M. Saúde IMPRENSA
ADJUNTO: Carlos Henrique Bessa Ferreira – COORDENADOR: Gediel Ribeiro de Araújo Junior
Funasa – MCidadania (ex-MDS)
ADJUNTO: Antonio Clarete de Azevedo - MJSP ADJUNTO: Fernando Martins Machado - Funasa
ADJUNTO: Joaquim Rodrigues dos Santos Filho
SECRETARIA DE ORGANIZAÇÃO E - Incra
PATRIMÔNIO
COORDENADOR: Pedro de Alcântara Costa - SECRETARIA DE ESTUDOS
Ibama SOCIOECONÔMICO E EMPRESAS PÚBLICAS
ADJUNTO: Márcio da Costa Baptista - COORDENADOR: Joalita Queiroz de Lima - Conab
M.Economia (ex-M.Planejamento) ADJUNTO: Aristides Neves da Silva - M. Saúde
/auditoriacidada.pagina
/auditoriacidadabr
/AuditoriaCidada
/auditoriadidada
Não à Contrarreforma Administrativa!
auditoriacidada.org.br/
Auditoria Cidadã no Spotify Privilegiados são os banqueiros!
ÍNDICE
EXPEDIENTE
Introdução Pág. 3 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA NÃO À PEC 32/2020
Origem das Contrarreformas Pág. 5 NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA!
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!
Origem dos direitos trabalhistas e sociais Pág. 6
é uma publicação da Auditoria Cidadã da Dívida – ACD, do Núcleo Capixaba
Desrespeito e desmonte da Constituição: não querem deixar da ACD e do Instituto Genildo Batista – IGB.
pedra sobre pedra! Pág. 7 Pesquisa e Redação: Lujan Maria Bacelar de Miranda
Contribuições ao Conteúdo: Maria Lucia Fattorelli
Veja como o governo está agindo e o que vai acontecer se
Revisão: Rodrigo Ávila e Rafael Muller
conseguirem aprovar a PEC 32 que trata da contrarreforma
administrativa! Pág. 8 Fonte: Carta Aberta sobre a PEC 32 de iniciativa da Auditoria Cidadã da Dívida
(ACD), disponível em https://auditoriacidada.org.br/conteudo/carta-aberta-
O governo esconde os documentos, as etapas do seu projeto questiona-reforma-administrativa-pec-32-2020-deputados-membros-da-ccj/
e a maior parcela dos gastos financeiros do governo! Pág. 9
Diagramação: CR Comunicação e Eventos (27) 98128 8297
Crise fabricada Pág. 13 Ilustrações: Auditoria Cidadã da Dívida - ACD e Marlon Ludovico
Impressão: Gráfica Positiva
Dívida pública e sangria do dinheiro da população Pág. 16 Edição: Maio de 2021
INTRODUÇÃO
A Constituição Federal é a Lei maior do país. Quando se
altera a Constituição se mexe em coisas muito importantes.
Alterações para melhorar são sempre bem vindas. Mas,
não vamos nos iludir. O objetivo do governo, com diversas
propostas de alteração da Constituição, não é reformar para
melhorar. O objetivo é acabar com os serviços públicos e
transformar profundamente o papel e as obrigações do Es-
tado. Por isso chamamos a Proposta de Emenda Constitu-
cional – PEC 32, de 2020, de Contrarreforma Administrativa.
Nos últimos anos o Governo Federal encaminhou mui-
tas propostas de emenda constitucional para o Congresso,
como a EC-95, que estabeleceu rebaixado teto de gastos
sociais, mas, deixou sem teto ou limite algum os gastos com
a chamada dívida pública. Enviou também a contrarreforma
da previdência (Emenda Constitucional 103), aprovada na
base do toma lá dá cá e quem perdeu foi a população bra-
sileira, com a extinção, redução ou adiamento de direitos
previdenciários e benefícios assistenciais.
Em plena pandemia foi aprovada a PEC 186/2019,
transformada na Emenda Constitucional - EC 109/2021, que
antecipou medidas da “reforma administrativa”, dificultando
a contratação de médicos, médicas, professores, professoras,
dentre outros servidores e servidoras públicas essenciais à
vida da população, e impedindo reajustes dos seus salários
e outros direitos básicos. Com a EC 109 a política recessiva
do ajuste fiscal foi parar na Constituição e exige contínuos
cortes em gastos e investimentos públicos para que sobrem
4 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020
Não criou!
Documentos sigilosos
A PEC 32 transforma profundamente a administração pú-
blica para atender os interesses do setor privado e não da
população brasileira.
E o governo quer fazer isso escondendo informações fun-
damentais! Ele decretou que os documentos técnicos e le-
gais que servem de fundamento para sua proposta fiquem
em sigilo e só sejam conhecidos depois da votação da PEC
32 no Congresso, como foi noticiado pela imprensa (veja
matéria aqui: https://bit.ly/3iiVryK). Isso é ilegal e fere o prin-
cípio constitucional da publicidade.
Por que os deputados, deputadas, senadores, senadoras
e a população não podem ter conhecimento integral dos
documentos utilizados pelo governo para elaborar as mu-
danças que ele quer fazer na Constituição e na administra-
ção pública do Brasil?
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 9
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!
O POVO
NÃO PODE
SABER!
10 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020
Crise fabricada
A responsabilidade pela crise que enfrentamos no Bra-
sil desde 2015 é do Banco Central, que assim como o go-
verno está a serviço dos banqueiros e não do Brasil e de
sua população.
As medidas que o Banco Central adota para controlar a
quantidade de moeda em circulação na economia, isto é, a
sua liquidez, provoca prejuízos enormes para a população
brasileira. E ganhos absurdos para os banqueiros, especial-
14 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020
Fonte: Elaboração própria com dados do Painel do Orçamento Federal (SIOP/ME), disponível
em: https://bit.ly/3idY3h4. Acesso em 17 set 2020.
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 19
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!
Princípio da subsidiariedade:
o diabo mora nos detalhes!
O artigo 37 da PEC 32 altera profundamente os princí-
pios que devem ser obedecidos na Administração Pública. E
estabelece o princípio da subsidiariedade. O que isso signi-
fica? Que a prioridade para construir e manter escolas, pos-
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 23
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!
APOIOS
/auditoriacidada.pagina
@auditoriacidadabr
@AuditoriaCidada
/auditoriadidada
Não à Contrarreforma Administrativa!
auditoriacidada.org.br/
Auditoria Cidadã no Spotify Privilegiados são os banqueiros!
21. Educação Superior
Pública sob Ameaça
Brasília, Maio de 2021
Expediente
Realização:
Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de
Estado (Fonacate) (Maio, 2021)
Autor:
Ana Luíza Matos de Oliveira
Arthur Welle
Israel Matos Batista
As opiniões aqui emitidas são de responsabilidade
dos autores e colaboradores.
Diagramação:
Diego Feitosa
Apoio:
Reforma Administrativa • 2021
Educação Superior
Pública sob Ameaça
da austeridade fiscal no Brasil - e dos cor- 2017), que propõe cortes no financiamen-
tes à educação, em especial à educação to da educação superior que alcançariam
superior - as promessas da austeridade fis- 0,5% do PIB (Banco Mundial, 2017:14). O
cal, de pujança do crescimento e do desen- documento retoma argumentos sempre
volvimento, ainda estão por ser cumpridas. presentes na história brasileira, como o da
Para a educação superior há um enfren- defesa da cobrança de mensalidades em
tamento a mais a ser equacionado, relacio- instituições públicas.
nado à ascensão do autoritarismo. Nesse “O Governo Federal gasta aproximada-
sentido, este texto visa contribuir com res- mente 0,7% do PIB com universidades fe-
postas a duas questões: como defender a derais. A análise de eficiência indica que
educação superior pública das acusações aproximadamente um quarto desse dinhei-
de que ela é cara e não cumpre sua fun- ro é desperdiçado. Isso também se reflete
ção social? E como defender o papel das no fato de que os níveis de gastos por alu-
instituições públicas de educação superior no nas universidades públicas são de duas
enquanto espaços fundamentais da produ- a cinco vezes maior que o gasto por aluno
ção e difusão do conhecimento e do pen- em universidade privadas. A limitação do
samento crítico? financiamento em cada universidade com
Em outras palavras, esta nota técnica visa base no número de estudantes geraria
discutir como as instituições de educação uma economia de aproximadamente 0,3%
superior públicas se consolidaram no país, do PIB. Além disso, embora os estudantes
não só como polos de excelência da produ- de universidades federais não paguem por
ção de conhecimento, mas também como sua educação, mais de 65% deles perten-
importantes instrumentos de inclusão so- cem aos 40% mais ricos da população.
cial, mesmo sob forte ataque nos últimos Portanto, as despesas com universidades
anos. federais equivalem a um subsídio regressi-
vo à parcela mais rica da população brasi-
A próxima seção discutirá a importância leira. Uma vez que diplomas universitários
da educação superior pública na produção geram altos retornos pessoais (em termos
de conhecimento e na inclusão, em termos de salários mais altos no futuro), a maioria
de gênero, raça e renda. A seção seguinte dos países cobra pelo ensino fornecido em
discutirá as ameaças à educação superior universidades públicas e oferece emprés-
pública na atualidade, incluindo o impacto timos públicos que podem ser pagos com
da PEC 32/2020 (a reforma administrativa), os salários futuros dos estudantes. O Brasil
caso esta seja aprovada em seus termos já fornece esse tipo de financiamento para
originais. Por fim, tecemos considerações que estudantes possam frequentar univer-
à guisa de conclusão. sidades particulares no âmbito do progra-
ma FIES. Não existe um motivo claro que
2. A importância da educação su- impeça a adoção do mesmo modelo para
perior pública no Brasil: produ- as universidades públicas. A extensão do
ção científica e inclusão FIES às universidades federais poderia ser
combinada ao fornecimento de bolsas de
Como discutido em Oliveira (2019), há estudo gratuitas a estudantes dos 40%
diversos documentos que apontam que a mais pobres da população (atualmente,
educação superior pública seria cara ou 20% de todos os estudantes das univer-
ineficiente em comparação ao setor priva- sidades federais e 16% de todos os estu-
do. Um deles é o documento “Um Ajuste dantes universitários no país), por meio
Justo: análise da eficiência e equidade do da expansão do programa PROUNI. Todas
gasto público no Brasil” (Banco Mundial,
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Reforma Administrativa • 2021
4 Os dados mostram que as instituições públicas de educação superior são o locus da produção de pesquisa
no Brasil. Relatório da Clarivate Analytics (2018) confirma que 15 universidades públicas produzem 60% da ciência
brasileira, medido pelo volume de artigos publicados na base Web of Science. Também segundo este relatório, a
produção de trabalhos acadêmicos em colaboração com a indústria vem crescendo de forma exponencial no Brasil
desde a virada do século, sendo a esmagadora maioria dessas colaborações feita com universidades públicas. E,
mesmo com os cortes de financiamento à educação e à pesquisa, a produção científica do Brasil cresceu 30% entre
2013 e 2018, o equivalente ao dobro da média mundial, de 15%.
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Para finalizar a análise sobre renda, a Fi- quadro é de maior desigualdade que entre
gura 3 divide os graduandos na educação as mulheres, mas para ambos os grupos há
superior pública por sexo, outra variável im- uma redução das desigualdades no acesso
portante para entender as desigualdades à educação superior ao longo dos anos.
da sociedade brasileira. Entre homens, o
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75% 60%
70%
55%
65%
60% 50%
55%
45%
50%
45% 40%
40%
35%
35%
30% 30%
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A Figura 5 mostra a proporção de ma- Por fim a Figura 6 mostra como mulhe-
triculados em graduação em instituições res brancas e homens brancos foram per-
públicas por sexo. Como é sabido, as mu- dendo espaço em termos relativos nas
lheres são maioria neste quesito, porém os instituições públicas de educação supe-
homens ganharam espaço na educação rior (enquanto estudantes de graduação) e
superior durante o início do século XXI. No mulheres e homens negros conquistaram
entanto, é fato notório que faltam mulheres espaço. Entre os negros, as mulheres são
em cargos de professoras universitárias e maioria. E, mais recentemente, as mulhe-
em cargos de liderança dentro das univer- res negras são o grupo mais expressivo na
sidades (Fares e Oliveira, 2020), bem como educação superior pública.
persiste uma “divisão sexual” de cursos e
áreas dentro da educação superior. Isto se-
ria visível caso desagregássemos os dados
por cursos.
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Reforma Administrativa • 2021
que: “o aluno tem que sair do segundo grau Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil,
pronto para o mercado de trabalho. Nem de que seria necessário “dar um basta nas
todo mundo quer fazer uma universidade. ideias socialistas e comunistas que, por 30
É bobagem pensar na democratização da anos, nos levaram a esse caos” (Oliveira,
universidade, nem todo mundo gosta. (...) O 2019), dentre outras defesas da ditadura
segundo grau teria como finalidade mostrar militar que tem ficado cada vez mais fre-
ao aluno que ele pode colocar em prática quentes.
os conhecimentos e ganhar dinheiro com Abrucio (2016) aponta que, além de en-
isso. Como os youtubers, ganham dinheiro frentar baixos salários e condições adver-
sem enfrentar uma universidade (Revista sas de trabalho, os professores e professo-
Fórum, 2018:1, grifo nosso). ras brasileiros agora enfrentam mais uma
O direito à educação, estabelecido na CF fonte de desvalorização: o ESP, que os trata
88 no Artigo 205 como um direito de todos, como inimigos. Abrucio (2016) acredita que
é de todos ou somente dos privilegiados? E será difícil recrutar docentes capazes de
então, novamente, em janeiro de 2019 de- exercer seu ofício com criatividade e pai-
clarou que “a universidade para todos não xão, elementos essenciais nessa profissão
existe” (Valor Econômico, 2019). Vélez de- (Abrucio, 2016:61).
pois seria substituído por Abraham Wein- Tais ataques levaram a que associações
traub e pelo Pastor Milton Ribeiro, atual de docentes se organizassem para prote-
ministro. ger a liberdade de cátedra e os próprios
É importante também citar o movimento professores. O Sindicato dos Professores
“escola sem partido” (ESP) neste contexto, das Instituições Federais de Ensino Supe-
que se coloca contra a “ideologização” da rior da Bahia (APUB), por exemplo, montou
educação básica e superior no Brasil. Se- uma cartilha de orientação para proteger
gundo Penna (2017), o movimento surgiu os docentes vítimas de ameaças e/ou in-
em 2004 e cresceu nas redes sociais atra- timidações na sua atividade profissional
vés de seu diálogo com o senso comum por (APUB, 2018).
meio de frases simplórias. Catelli Jr. (2016) Por fim, cabe lembrar que durante o pro-
e Brait (2016) também relembram os links cesso eleitoral de 2018, diversas institui-
de muitos políticos defensores do ESP com ções públicas de educação superior sofre-
grandes empresas da área da educação. ram intervenções policiais para impedir a
Penna (2017) assinala que, com frequ- realização de discussões políticas ou ma-
ência, o ESP refere-se aos últimos 30 nifestações, o que levou a que a Ministra
anos para marcar o avanço da “estratégia Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Fede-
gramsciana” do “marxismo cultural”, que ral, suspendesse, na véspera do segundo
coincidentemente é o mesmo tempo de turno das eleições, decisões que determi-
vigência da CF 88 e da democracia no navam ações policiais nas instituições de
Brasil. Segundo Frigotto (2017), o ESP emi- educação superior (Ferreira, 2018).
te uma mensagem de certeza e proposição Assim, para além das ameaças da auste-
de ideias supostamente neutras, mas que ridade – defendida pelas equipes econô-
escondem, na verdade, um teor fortemen- micas desde 2015, agora com ainda mais
te “persecutório, repressor e violento”. Por veemência –, enfrenta-se ameaças à ideia
isso, o autor se refere ao movimento como de inclusão social e ao livre pensar na edu-
escola “sem” partido. Neste sentido, o ESP cação superior.
converge com a fala de Paulo Guedes con-
tra a social democracia, com o ataque à CF Porém, a associação entre austeridade
88; e com outra fala emblemática de Onyx e autoritarismo não é algo específico do
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Reforma Administrativa • 2021
Brasil atual: Moraes (2002) já atentava para versidades federais (Carta Capital, 2019) e
a questão de que, ao interpretar a crise do fez diversos outros ataques à educação su-
mundo capitalista já na década de 1970, o perior pública.
mainstream se aproximou do conservado- Há outras ameaças, ainda em curso na
rismo. Segundo Moraes (2002), é um gran- educação superior pública. Para além da
de “mérito” da nova direita ter conectado desvalorização, tem ocorrido um cresci-
vários elementos ideológicos, indo além da mento dos casos de denúncia contra pro-
denúncia “econômica” ou “fiscal” das polí- fessores universitários, culminando por
ticas sociais, o que arriscaria preservá-las exemplo na censura prévia a dois profes-
como “coisas boas, mas impossíveis de sores da Universidade Federal de Pelotas
sustentar”. Segundo o autor, com o enfoque que haviam feito críticas ao governo fede-
da Nova Direita, as políticas sociais apare- ral (Frente Servir Brasil, 2021). Na mesma
cem como sintomas de decadência civili- linha, as universidades federais brasileiras
zacional e, simultânea e paradoxalmente, receberam, em fevereiro de 2021, ofício
como indutoras da decadência. Como algo do Ministério da Educação que alerta que
intrinsecamente mau e que não se deve manifestações políticas nas instituições
sustentar, mesmo se possível fazê-lo (Mo- podem configurar “imoralidade adminis-
raes, 2002:18). trativa” com consequente punições disci-
plinares. Os casos dialogam bastante com
4. Ameaças mais recentes à edu- o quadro apresentado da ESP e mostram
cação superior pública: onde a que o crescente autoritarismo no país tem
austeridade, o autoritarismo e a minado também a autonomia universitária,
reforma administrativa se encon- ainda garantida pela Constituição. Neste
tram quesito, é importante mencionar a grande
quantidade de instituições superiores de
Segundo Fares e Matos de Oliveira (2020), educação superior hoje sob intervenção,
os docentes da educação superior brasi- em que o Presidente Jair Bolsonaro não
leira têm sido fortemente impactados pe- aceitou o resultado de consultas internas
las abruptas mudanças realizadas no país da comunidade e nomeou, como reitores,
desde 2015. As reformas (e ameaças de pessoas não eleitas pela comunidade uni-
reformas) se somam à ampliação da carga versitária. O Andes contabiliza 24 institui-
horária, pressão psicológica e assédio ins- ções federais sob intervenção entre 2019 e
titucional. Fares e Matos de Oliveira (2020) fevereiro de 2021 (Andes, 2021).
analisam especificamente como a reforma
trabalhista de 2017 no Brasil afetou as do- Todas estas questões, somadas aos cor-
centes da educação superior. tes de financiamento e à crise do mercado
de trabalho, culminam para impactar a in-
Sobre ameaças de reforma e assédio ins- clusão na educação superior. No entanto,
titucional, é importante relembrar alguns a educação superior pública segue reali-
episódios protagonizados por Paulo Gue- zando papel fundamental na produção de
des, ministro da Economia: em uma oca- conhecimento e na inclusão social.
sião, comparou os servidores a parasitas
(Conjur, 2020); em outra, chamou-os de Mas os ataques aos servidores e em es-
inimigos, em cujos bolsos havia colocado pecial às instituições públicas de educação
uma granada (G1, 2020). Há também im- superior seguem e tomam novos formatos,
portantes episódios do ex-ministro da edu- agora com a Proposta de Emenda Consti-
cação Abraham Weintraub, que afirmou tucional (PEC) 32/2020, que propõe uma
que haveria plantação de maconha em uni- reforma administrativa. O texto inicial da
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PEC 32/2020 apresenta pontos bastante sível que as instituições públicas de edu-
problemáticos para o serviço público como cação superior sejam fortemente afetadas.
um todo, entre eles: Um segundo ponto é que a PEC amplia
os casos de contratação de trabalhadores
i. a inclusão do princípio da subsidiarie- temporários, retirando a restrição de que
dade no Art. 37 da CF 88, tornando o isso só ocorra em casos de excepcional in-
poder público complementar ao setor teresse público. Então haverá mais espaço
privado e prevê que seja possível fir- para contratações temporárias de servido-
mar instrumentos de cooperação com res, sobrecarregando os professores efeti-
órgãos e entidades, públicos e priva- vos com funções exclusivas destes, como
dos, para a execução de serviços pú- já ocorre hoje. Esta será uma estratégia
blicos, inclusive com o compartilha- para burlar o concurso público.
mento de estrutura física e a utilização Um terceiro ponto é que, com a reforma,
de recursos humanos de particulares, o Presidente da República passa a ter “su-
com ou sem contrapartida financeira; perpoderes” (devido às alterações propos-
ii. o desmembramento do Regime Jurí- tas no Art. 84 da CF88) e a poder trans-
dico Único em cinco novos tipos de formar e extinguir por decreto até mesmo
contratos, com a criação do vínculo fundações e autarquias, que é justamente
por experiência e a diferenciação en- como as instituições públicas de educação
tre cargo com prazo indeterminado e superior se constituem.
cargo típico de Estado, somente este Um quarto ponto é que cargos de lide-
último contando com estabilidade; rança e assessoramento passam a poder
iii. a ampliação dos casos para a contra- ser 100% ocupados por pessoas de fora do
tação temporária, arriscando a pro- serviço público. Abre-se um espaço muito
fissionalização da burocracia pública grande para o apadrinhamento no serviço
e a previsibilidade e continuidade da público, com cargos de liderança e asses-
prestação de serviços públicos; soramento podendo ser ocupados exclusi-
iv. concede “superpoderes” ao Presiden- vamente por pessoas de fora do serviço pú-
te da República na reestruturação do blico, ou seja, o servidor perde este espaço.
Estado brasileiro, com as mudanças Com isso, a reforma administrativa permite
realizadas no Art. 84. que a coordenação de curso e a chefia de
departamento nas instituições públicas,
A PEC 32/2020 também afeta fortemen- por exemplo, sejam assumidas por pessoas
te as instituições de educação superior no alheias ao magistério e ao serviço público.
Brasil. Um primeiro ponto é que a PEC co- Em meio a ataques ao livre pensar, aos cor-
loca o princípio da subsidiariedade como tes de recursos para as instituições, entre
um princípio da administração pública. outras questões, este mecanismo trazido
Com isso, o setor público se torna comple- pela reforma pode ampliar a intervenção
mentar ao privado, e não o contrário. E a político-partidária em instituições federais.
PEC também constitucionaliza uma série
de acordos do setor público com o privado, Assim, sob diversas óticas, a educação
inclusive com o compartilhamento de es- superior pública encontra-se sob ataque.
truturas do setor público. Com isso, é pos-
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Nº 75 - ABRIL DE 2021
JORNAL DA
APUB
SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES
FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA
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FEDE
Página 3
E D I Ç Ã O
Descontrole da pandemia dificulta DI G I TA L
retorno às aulas presenciais e
desafia docentes
Página 8
►► EDITORIAL
►► RETIRADA DE DIREITOS
Esse discurso antiestado tem raízes históricas. De acordo com o professor Val-
demar de Araújo Filho, do departamento de Ciência Política da Faculdade de Fi-
losofia e Ciências Humanas da UFBA, existe um processo social e político que
procura criminalizar o Estado e reduzir o seu papel na sociedade e no desenvolvi-
mento nacional, ligado à financeirização da economia brasileira e do próprio setor
produtivo: “Não só surgiu uma rede muito poderosa integrada por instituições
financeiras, agências de risco, bancos de investimentos e corretoras, como tam-
bém as grandes corporações bancárias tradicionais absorveram ou se associa-
ram a grandes grupos industriais, e parte dos lucros destes grupos passou a ter
origem em rendimentos especulativos financeiros, vinculados principalmente à
rolagem da dívida pública, lucros não operacionais. Essa mudança na morfologia
social do empresariado convergiu com a onda do neoliberalismo que ganhou for-
ça a partir dos anos 90”, explica.
Quem também aponta os problemas dessa narrativa é Ana Luíza Matos de Oli-
veira, Coordenadora-geral da Secretaria Executiva da Frente Parlamentar Mista
em Defesa do Serviço Público (Frente Servir Brasil) e uma das organizadoras do
livro Economia pós-pandemia: Desmontando os mitos da austeridade
fiscal e construindo um novo paradigma econômico”. “O debate econômico
brasileiro tem sido dominado por dogmas e por um “terrorismo fiscal”, que é ini-
bidor da discussão de alternativas. O Brasil não está quebrado e essa narrativa
de que é preciso cortar mais e mais, porém sempre dos mais pobres, ela serve a
interesses definidos, afirmou.
“
légios é, também, uma narrativa. “Se- as mulheres e a
gundo o IBGE, até 2016, ano do golpe população negra são
institucional contra um governo que fortemente impactadas
valorizava um pouco o servidor públi- pela redução das
co, apenas 12% dos trabalhadores bra- políticas públicas,
sileiros eram servidores públicos, alo- justamente por delas
cados em todos os níveis de governo. mais dependerem.
Essa é a média da América Latina, uma
Todos os setores
região com muitos problemas sociais.
mais vulneráveis -
Mas em países mais desenvolvidos, o
indígenas, quilombolas,
percentual passa a ser 21% em média,
a população LGBTQI+,
e em países organizados sob a lógica
moradores de vilas
política de Estado de Bem-Estar Social,
e favelas, da região
como Dinamarca, Noruega e Suécia,
rural, nordestinos e
mais de 30% da população economi-
nortistas etc – são os
camente ativa está no serviço público.
grandes perdedores
Na verdade, a criminalização contra o
da austeridade fiscal”.
servidor público tem o objetivo de re-
duzir os custos estatais com serviços
essenciais à população e reservar grande parte do fundo público para o serviço
da dívida pública, tranquilizando os poderosos setores rentistas que controlam
parte da máquina estatal brasileira. E toda a grande imprensa está envolvida nes-
sa cruzada, porque a mídia é parte fundamental na construção desse discurso.
Criminalizam principalmente os funcionários comuns de carreiras do Executivo
enquanto deixam fora da crítica, militares, juízes e a alta burocracia política do
sistema de gestão econômica”, aponta Valdemar Filho.
“
economia que o governo estabiliza-
A inclusão de
rá as contas públicas”. Uma evidência
quadros provisórios
disso é que a PEC deixa de fora, juí-
zes, desembargadores militares e pro- e terceirizados
curadores. Também dá autonomia ao nas universidades
Presidente para extinguir ministérios, irá contribuir para
autarquias e fundações, sem a neces- desorganizar a vida
sidade de aprovação pelo Legislativo acadêmica e debilitar
em casos em que não gere despesas. as instituições de
Ainda, permite que cargos de lideran- pesquisa, e a longo
ça e assessoramento possam a poder prazo se tornará a
ser 100% ocupados por pessoas de forma predominante de
fora do serviço público, abrindo espa-
seleção de docentes
ço para compadrios e corrupção.
porque o projeto
Ana Luíza e Valdemar concordam que do governo tem o
as Universidades serão umas das prin- principal objetivo de
cipais prejudicadas com a aprovação reduzir custos.”
da Reforma. “Ela [a PEC] fornece uma
excessiva autonomia para medidas
discricionárias por parte do Titular do Poder Executivo, com possibilidade de mu-
dar muito o perfil organizacional e funcional das entidades autárquicas e funda-
ções que integram a universidade pública no Brasil. Esse será um dos principais
aspectos que atingirá as universidades, com o potencial desmonte de ordena-
mentos organizacionais já consolidados e a extinção de instituições de pesquisa.
Outro aspecto a se considerar serão os efeitos das contratações provisórias e
terceirizações sobre o perfil acadêmico das universidades. A inclusão de quadros
provisórios e terceirizados nas universidades irá contribuir para desorganizar a
vida acadêmica e debilitar as instituições de pesquisa, e a longo prazo se tornará
a forma predominante de seleção de docentes porque o projeto do governo tem
o principal objetivo de reduzir custos.”, afirma o professor. “A reforma adminis-
trativa permite que coordenação de curso e chefia de departamento nas insti-
tuições públicas, por exemplo, seja assumida por pessoas alheias ao magistério
e ao serviço público. É possível imaginar a situação de um “interventor” nestes
cargos nas instituições federais. Com isso, em meio a ataques ao livre pensar,
aos cortes de recursos para as instituições, ameaças do tipo “Escola sem par-
tido” etc, este mecanismo trazido pela reforma pode ampliar a intervenção em
instituições federais. É bom lembrar que já são 20 as instituições federais no país
com “interventores”, que tem como reitores pessoas que não foram eleitas pela
comunidade universitária”, alerta Ana.
8 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
►► RETORNO ÀS AULAS
Panorama internacional
Embora o Brasil seja o caso mais crítico, as polêmicas em torno do ensino
remoto e retorno ao presencial aconteceram no mundo todo. Quem explica é
Fátima Silva, secretária geral da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalha-
dores em Educação) e vice-presidenta da IEAL (Internacional da Educación
América Latina): “A suspensão das aulas se deu praticamente no mundo in-
teiro. Nos países da Europa foram mantidas escolas para [filhos dos trabalha-
dores] dos serviços essenciais: filhos de médicos, bombeiros, profissionais de
limpeza e manutenção de estradas, por exemplo. Mesmo nas fases agudas
da pandemia a educação infantil e creches foram mantidas para esses pro-
fissionais”. Nos países nórdicos, somente a Suécia não suspendeu as aulas
em nenhum momento – fato bastante criticado interna e internacionalmente
– e é o país nórdico que tem o maior
número de vítimas. Ainda na Europa,
“
vale destacar o caso de Portugal que Não tem falta de
não fechou as escolas durante a pri- protocolo de segurança.
meira onda, no ano passado. A me- O que tem é falta
dida foi revisada agora, após estudo de efetivação e de
apresentado pela FENPROF (Fede-
diálogo social com
ração Nacional dos Professores)
mostrando que 40% das infeções
o setor através de
no país teriam se dado em ambiente seus sindicatos de
escolar, incluindo os deslocamentos representação.
necessários para chegar às escolas.
Ainda segundo Fátima, na América Latina todos os países suspenderam as
aulas, com exceção da Nicarágua. Quem fechou por menos tempo foi o Uru-
guai, único caso em que o retorno foi combinado com os sindicatos docen-
tes: “. Foi feita uma Comissão e os sindicatos eram fiscalizadores dos locais
de trabalho. E onde tivesse um caso de contágio a escola era fechada”. O
caso do uruguaio é outra exceção. “O que nós vemos no conjunto dos países
da América Latina foi uma ausência de diálogo com os sindicatos e de escu-
tar a voz os professores e do pessoal não docente na questão educacional.
As medidas foram tomadas por parte de governo, muitas vezes unilateral e
impositivas para os professores. Não tem falta de protocolo de segurança. O
10 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
que tem é falta de efetivação e de diálogo social com o setor através de seus
sindicatos de representação. A gente também tem toda uma análise que o
sistema virtual não chegou onde deveria chegar. Não só porque nada substi-
tui o presencial, mas por causa das condições socioeconômicas que vão de
acesso à internet e de equipamentos”, disse Fátima.
Ela avalia que, o cenário na América Latina – dessa vez, sem exceções – é de
conflito, com muitas pressões dos setores econômicos e da educação pri-
vada para um retorno além de “uma ausência total de discussão, no pedagó-
gico, sobre como a gente vai trabalhar, quando for possível a presencialidade,
com esses alunos que não conseguiram conectar à internet e simplesmente
desertaram do processo educacional”. Outro ponto ressaltado por ela é que
apenas Argentina e Chile colocaram os professores no grupo prioritário para
a vacinação.
Na Educação Básica
No Brasil, o quadro é agravado pela postura negacionista do governo federal
que, durante a pandemia se comportou como mais um incentivador da pro-
pagação do vírus do que um agente para a sua contenção, como seria sua
responsabilidade. Mesmo que Estados tenham adotado, em maior ou menor
grau, algumas medidas de restrição, após um ano, a pressão para a reaber-
tura das escolas é mais forte do que nunca. Segundo o presidente da CNTE
Heleno Araújo Filho, são as redes estudais quem mais forçam o retorno: “A
maioria dos municípios tem a consciência de que as escolas não estão pre-
paradas para garantir a segurança sanitária para o retorno das atividades
presenciais”, disse. A Confederação tem pautado a necessidade de avançar
na vacinação, nas testagens e na participação da comunidade escolar na
elaboração de protocolos de segurança para “que minimamente, no diálogo
social e político com a representação dos segmentos da comunidade escolar
possamos pensar a perspectiva de retorno após passar essa grande crise
que estamos vivendo”.
Aqui na Bahia, o governo do Estado determinou o início do ano letivo em 15
de março, inicialmente ainda de maneira 100% remota. O Fórum Estadual de
Educação da Bahia – FEEBA, órgão responsável pelo acompanhamento das
políticas estaduais de educação, e do qual a Apub faz parte, elaborou um do-
cumento com recomendações e diretrizes para a retomada, dividida em três
fases: ensino remoto; ensino híbrido, com a inserção gradual de atividades
presenciais; e aulas totalmente presenciais condicionadas a orientação das
autoridades sanitárias e critérios científicos estabelecidos. “No documento
do FEEBA, discutimos a importância de constituir comitês, no nível estadual,
municipal e, principalmente, em cada escola para que seja possível a defi-
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
11
Imagem: www.correiodoscampos.com.br/
nição de diretrizes para o planejamento do retorno e a elaboração de plano
de ação da escola, contextualizado e com a participação dos professores,
estudantes e famílias, monitorado localmente, ajustado sempre que for ne-
cessário”, explicou a coordenadora do Fórum, professora Alessandra Assis
(Faced/UFBA) em entrevista ao jornal Brasil de Fato Bahia, publicada no início
de março.
Nas Universidades
A maior parte das Universidades públicas adotou, emergencialmente, o en-
sino remoto. Nelas, assim como na educação básica, as dificuldades de
infraestrutura e disparidade socioeconômica se impõem. Ainda, as especi-
ficidades de cada curso ou área de conhecimento não permitem soluções
padronizadas para todo uma comunidade. Em dezembro do ano passado
o governo Bolsonaro emitiu uma portaria marcando o retorno presencial
das universidades federais e particulares a partir de 4 de janeiro. Após re-
ações, a portaria, que violava a autonomia universitária, foi suspensa. Com
as atividades remotas mantidas e sem previsão de mudanças, pelo menos,
durante o primeiro semestre, se mantém necessário aprofundar o debate
sobre quais as condições de trabalho atuais e os critérios para um retorno
presencial seguro.
Condições de trabalho
O ineditismo da situação imposta pela pandemia ao mundo do trabalho e,
especialmente, ao setor da educação levou a transformações das pautas
12 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
►► PESQUISA
Primeira pesquisa
da Apub sobre perfil
docente aponta
mudanças geracionais
e principais pautas da
categoria
A compreensão dos interesses e demandas da categoria é imprescindí-
vel para uma atuação mais precisa e qualificada de qualquer sindicato e
foi com esse intuito que a Apub realizou a Pesquisa Perfil Docen-
tes das Universidades Federais Baianas, entre junho e setembro de
2020, abrangendo aspectos socioeconômicos, da carreira, condições de
trabalho e participação política. A elaboração do relatório final com análi-
se e cruzamentos dos dados contou com o trabalho do professor Gilberto
Pereira Sassi, do Instituto de Matemática e Estatística da UFBA, junto ao
grupo de Extensão “Consultoria Estatística”.
14 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
Raça e classe
Em relação à raça e etnia, a pesquisa, em termos amostrais, confirma a
dessincronização da distribuição racial de docentes nas universidades
federais baianas em relação à população do estado. A Bahia tem qua-
se 80% de sua população autodeclarada preta ou parda, e aproximada-
mente 20% da população branca, no entanto, cerca de 50% dos docen-
tes declararam-se brancos contra
36% de pardos e 11,7% de pretos.
“
A Bahia tem quase
Esses números não surpreendem,
80% de sua população considerando a histórica exclusão
autodeclarada da população empobrecida, negra
preta ou parda, e (preta e parda) e indígena do aces-
aproximadamente 20% so ao ensino superior, impossibili-
da população branca, tando a formação para docência.
no entanto, cerca de Não por acaso, 60% dos pais e
50% dos docentes mães dos respondentes do ques-
tionário, têm, pelo menos, ensino
declararam-se brancos
médio completo, e 38% dos parti-
contra 36% de pardos cipantes são oriundos exclusiva-
e 11,7% de pretos.” mente de escolas privadas e 26%
estudaram nestas instituições em
algum momento da vida escolar.
Apesar disso, não é possível ignorar os avanços promovidos pelas políti-
cas afirmativas, principalmente a partir da implementação da Lei 12.711
de 2012 que fixou a política de cotas nas universidades federais para a
graduação e, mais timidamente, a aprovação de cotas nos programas de
pós-graduação das instituições. Segundo o Censo da Educação Supe-
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
15
►► ECONOMIA
ORÇAMENTO DO CONHECIMENTO
SOFRE CORTES DESDE 2015
34,1
Perdas acumuladas
32,9
chegam a R$ 80 bilhões.
26,5
23
21,5 21,4
18,5
6,4
7,9
206.770.479,67
195.173.788 195.167.018
200.000.000
177.068.954 173.864.104
167.126.366 171.871.056
163.303.544
150.000.000 167.079.012
158.730.405 161.360.647 136.493.676
158.007.419 156.615.957 156.874.022
143.172.986
131.107.306
100.000.000
►► AÇÕES DA APUB
Sindicato mantém
atividades de mobilização
A nova gestão da Apub inicia sua atuação
participando de eventos e articulações
importantes para discussões de interesse
nacional, mas também no sentido da
mobilização necessária para o enfrentamento
político neste período de agravamento da
crise social, econômica e sanitária no Brasil.
Confira algumas das ações realizadas pelo
sindicato nos três primeiros meses de 2020.
www.sindipetroba.org.br
Em 10 de fevereiro, o Sindicato dos Petroleiros da Bahia e a Federação Única
dos Petroleiros realizaram manifestação na via de acesso à Refinaria Lan-
dulpho Alves-Mataripe, contra a venda da estatal. Participaram da mobiliza-
ção, os/as trabalhadores/as próprios e terceirizados da refinaria; também
foram convidados moradores, comerciantes e parlamentares das cidades
de São Francisco do Conde, Candeias, Madre de Deus e São Sebastião do
Passé, que terão a sua economia duramente afetadas com o desmonte e
privatização do Sistema Petrobrás pelo governo Bolsonaro, que tem como
fruto, os aumentos absurdos dos preços dos alimentos, do gás de cozinha e
dos combustíveis. A Apub apoiou a mobilização, junto com CUT, CTB, UNE-
GRO, UEB e outras organizações. No dia 17, o sindicato participou também
da plenária sindical e dos movimentos sociais para debate e articulação de
apoio à greve dos petroleiros e contra as privatizações. A diretora Luciene
Fernandes denunciou as graves consequências do desmonte de setores
estratégicos para o desenvolvimento nacional e destacou a importância
econômica e social de manter a Petrobras como empresa pública, que con-
tribuiu, inclusive, com o financiamento da educação e da ciência.
lançado pela Frente Brasil Popular - “Mulheres na Luta pela Vida! Vacina
para toda a população, auxílio emergencial, já! Fora Bolsonaro”, na sede do
sindicato. Na manhã do dia 08, a professora Fernanda Almeida, diretora
da Apub, representou o sindicato no ato simbólico com pratos vazios em
frente à Câmara dos Vereadores e Vereadoras de Salvador, organizado pelo
coletivo 8M em Salvador e a Frente Brasil Popular-Bahia.
Nas redes sociais, a Apub divulgou, durante todo o dia, vídeos com mensa-
gens das professoras para o dia de luta das mulheres. Participaram as do-
centes Meire Boaventura (Creche/UFBA), Luciene Fernandes (diretora da
Apub), Andrea Hack (diretora da Apub), Silvia Lúcia Ferreira (Enfermagem/
UFBA) e Leopoldina Menezes (Matemática/UFBA) e Fernanda Almeida (di-
retora da Apub). Para assistir e acompanhar esses e outros vídeos da Apub,
acesse e se inscreva no canal do sindicato no Youtube.
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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►► ELEIÇÃO UNILAB
Debate realizado pela Apub dia 09 de março, com mediação dos professores Carlos Guerola e Márcio André dos Santos,
ambos do campus dos Malês da Unilab
Organização da consulta
No dia 25 janeiro, a Apub esteve reunida com docentes do campus dos Ma-
lês dando início ao debate sobre o processo de consulta à comunidade; o
presidente da Apub, Emanuel Lins conduziu a reunião explicando como se
dão as consultas informais - de caráter facultativo e indicativo, organiza-
das pelas entidades representativas dos setores - e as consultas formais,
organizadas pelo CONSUNI, que formalizam a lista tríplice indicada ao MEC.
O professor enfatizou a importância de garantir o peso paritário dos votos
de docentes, técnicos-administrativos e estudantes, como forma de forta-
lecimento da democracia interna.
Já no dia 28 de janeiro, a Apub e ADUFC realizaram uma assembleia onli-
ne para discutir e deliberar sobre a consulta. “Esse momento é histórico, a
comunidade da Unilab poderá escolher sua reitoria a partir do exercício da
democracia interna, com paridade entre os setores. É, sem dúvida, um divi-
sor de águas. Não sou professor desta Universidade, mas como presidente
da Apub me sinto honrado de contribuir com esse processo, ladeado com
a ADUFC”, afirmou o professor Emanuel Lins durante a reunião. Na ocasião,
ainda foi eleita a representação docente dos Malês no Consuni - o profes-
sor Basilele Malomalo como Conselheiro Titular e Ruth Cardoso Andrade
como suplente. Ainda, em 09 de março, a Apub promoveu um debate entre
os candidatos a reitor e candidatas à vice-reitora.
APUB SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES
FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA
Endereço: Rua Professor Aristides Novis, 44,
CEP 40210-630, Federação - Salvador – Bahia.
DIRETORIA
PRESIDENTE: Emanuel Lins (UFBA/Direito)
VICE-PRESIDENTA: Ana Lúcia Góes (UFBA/ICS)
DIRETORA ADMINISTRATIVA: Andrea Beatriz Hack de Góes(UFBA/LETRAS)
DIRETORA FINANCEIRA: Fernanda Almeida Pereira (UFBA/CRECHE)
DIRETORA ACADÊMICA: Jucélia Bispo dos Santos (UNILAB/IHL - Campus Malês)
DIRETORA DE COMUNICAÇÃO E CULTURA: Luciene da Cruz Fernandes (UFBA/ICS)
DIRETOR SOCIAL E DE APOSENTADOS: Joviniano Soares de Carvalho Neto (UFBA/FFCH/Apos.)
EXPEDIENTE
Redação: Anaíra Lôbo e Carolina Guimarães
Diagramação: Carlos Vilmar
E-mail: ascom@apub.org.br - Fechamento da edição: 06/4/2021.
Camilla Cândido
Coordenadora da área de servidor público
LBS Advogados
Reforma Administrativa
A lógica da reforma administrativa
A lógica da reforma administrativa
Quebrar o vínculo permanente do servidor com o Estado e reduzir
remuneração:
• O que está ruim pode piorar: “metas”, flexibilização das atividades, arrocho salarial,
retrocesso nas carreiras, pressão social e menor orçamento