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DOSSIÊ

EM DEFESA DO SERVIÇO
PÚBLICO – Contra a Reforma
Administrativa (PEC 32)
Por Celi Nelza Zulke Taffarel e Matheus Lima de Santana,
Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física,
Esporte e Lazer (LEPEL/FACED/UFBA) e Grupo de Estudo
e Pesquisa em Educação do Campo
(GEPEC/FACED/UFBA).

SALVADOR/BAHIA, 16 DE AGOSTO DE 2021


Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Faculdade de Educação (FACED)

PROPONENTE

ORGANIZAÇÃO
Profª Drª Celi Nelza Zülke Taffarel

APOIO TÉCNICO
Matheus Lima de Santana, graduado em Educação Física pela Universidade Federal da Bahia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Celi Taffarel e Matheus Santana

MANIFESTO DO ENCONTRO NACIONAL DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO


SERVIÇO PÚBLICO
Encontro nacional dos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público – 29 e 30 de julho de 2020

ORIENTAÇÕES E CALENDÁRIO DE MOBILIZAÇÕES


Encontro nacional dos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público – 29 e 30 de julho de 2020

PEC 32/20: DESREGULAMENTAÇÃO DE DIREITOS; REGULAMENTAÇÃO DE RESTRIÇÕES


DIAP

A PROPOSTA DE REFORMA ADMINISTRATIVA DO GOVERNO DE JAIR BOLSONARO


DIEESE

NOTA TÉCNICA – OS EFEITOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA PARA A SOCIEDADE


BRASILEIRA
DIEESE

RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO DA PEC 32


DIEESE

CARTILHA – OS PERIGOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA (PEC 32/2020) VERDADES E


MENTIRAS
SINDSEP-DF

CARTILHA – DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA NÃO À PEC 32/2020
AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA

CADERNOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA


Forúm Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado – FONACATE

JORNAL DA APUB
Nº 75 - ABRIL DE 2021

SEMINÁRIO REFORMA ADMINISTRATIVA


LBS Advogados – Seminário da CUT

EXEMPLO DE LUTA
APG – UFBA
INTRODUÇÃO
O presente dossiê “EM DEFESA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS – Contra a Reforma Administrativa (PEC 32)”,
tem o objetivo de reunir um material básico que nos explique o que é a proposta de contra reforma Administrativa,
quem a propõe, por que a propõe, quem se beneficia com esta contra reforma, quais seus elementos constitutivos,
como ela atinge direitos da classe trabalhadora e o que fazer perante a destrutiva política de retirada de direitos do
Governo de Jair Messias Bolsonaro e seus generais.
Para enfrentar estas questões apresentamos as deliberações do Movimento Nacional de Trabalhadores e
Trabalhadoras dos Serviços Públicos, os dados que explicam detalhes da proposta, a tramitação no Parlamento e,
conteúdos advindos de Cartilhas e Boletins dos organismos de luta da classe trabalhadora, em especial Sindicatos que
estão combatendo estas medidas destruidoras dos serviços públicos.
O Objetivo é que este Dossiê chegue nas mãos dos estudantes, dos coordenadores de movimentos de luta
social, de direções sindicais e partidárias enquanto arma da crítica para combater a política de guerra, de destruição
ora em curso no Brasil e, que configura o avanço da barbárie.
Cabe a classe trabalhadora organizada, em seus organismos de luta social, especialmente as entidades
representativas dos servidões públicos, neste momento gravíssimo da história do Brasil, envidar esforços no sentido
de esclarecer os reais motivos da reforma, chamando a atenção para os prejuízos que essa, se aprovada nos termos
propostos, representará para o Serviço Público, para os servidores públicos e principalmente para o povo,
especialmente as pessoas mais pobres que dependem da prestação do Estado, como nos explica o documento do
DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
Apresentamos o material do DIAP sobre a PEC 32/20: desregulamentação de direitos; regulamentação de
restrições. Ver mais in: https://www.diap.org.br/index.php/governo-bolsonaro/90092-reforma-administrativa-
desregulamentacao-de-direitos-e-regulamentacao-de-restricoes. Encontraremos aqui com a contribuição do DIAP,
assuntos referentes a, Administrativa; Servidores; PEC 32/20; Reforma do Estado; Tamanho e papel do Estado;
Precarização e Privatização.
Segundo o DIAP em linhas gerais, a PEC da Reforma Administrativa, dentre outros pontos, pretende:
1) desconstitucionalizar direitos, remetendo-os para leis complementares e ordinárias;
2) extinguir o Regime Jurídico Único, com a instituição de novas modalidades de contratação e as formas de ingresso;
3) extinguir a estabilidade como regra e instituir uma estabilidade mitigada para os cargos típicos de Estado;
4) extinguir as promoções automáticas por tempo de serviço;
5) transversalidade/mobilidade com redução de salário de ingresso no serviço público;
6) extinguir vantagens;
7) transferir a execução de serviços públicos da União para estados e municípios e entidades privadas;
8) transferir competências do Congresso para o presidente para extinguir cargos e órgãos da Administração Pública;
9) atacar os direitos dos atuais servidores.
Temos acordo com aqueles que dizem que a consequência da Reforma Administrativa será, segundo o DIAP,
o aumento da negligência governamental no combate às desigualdades regionais e de renda, e a redução da presença
dos pobres no Orçamento Público. Isso ocorre invariavelmente com a diminuição ou retirada do Estado no provimento
de bens e serviços aos cidadãos, às populações, aos territórios vulneráveis e aos desassistidos.
Esta criminosa Reforma Administrativa é um ataque mortal contra a humanidade, e o processo civilizatório e,
aumentará os lucros dos ricos, a super exploração da classe trabalhadora e, a destruição da natureza agravando crise
climática.
Por isto dissemos BASTA. Ninguém aguenta mais Bolsonaro e seus generais. Dizemos isto porque existem
evidencias empíricas na CPI do Parlamento (https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?codcol=2441). Seguindo
orientação do Movimento Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras dos Serviço Público, dia 18 de agosto é o
dia Nacional de Luta contra a Reforma ADMINISTRATIVA, (PEC 32) rumo A Greve geral dos trabalhadores e
trabalhadoras do Brasil, rumo a uma nova constituinte soberana, emanada do povo e para o povo, emanada da classe
trabalhadora, gerado das riquezas de uma nação. Nação que querem soberana e com seu povo feliz.

Salvador 16 de agosto de 2021

Celi Taffarel
Matheus Santana
29 e 30 de julho de 2021
ENCONTRO NACIONAL
DOS TRABALHADORES
E TRABALHADORAS DO
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MANIFESTO DO ENCONTRO NACIONAL


DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS
DO SERVIÇO PÚBLICO
O presente Encontro Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor
Público é fruto do esforço de construção e de um amplo processo de unidade
das centrais sindicais CUT, CSP-CONLUTAS, CTB, PÚBLICA, CGTB, UGT, Força
Sindical, Intersindical Central da classe trabalhadora, NCST – Nova central,
CSB, Intersindical - Instrumento de luta e organização da classe trabalhadora,
além de outras entidades representativas do movimento de trabalhadores e
trabalhadoras como FONASEFE, Movimento BASTA, UPB – União dos Policiais
do Brasil, e também da Frente Parlamentar Mista do Serviço Público.

Os resultados desse evento, estampados neste documento, apontam o


caminho para o combate à política criminosa e destruidora dos serviços e dos
servidores públicos estabelecida na Proposta de Emenda Constitucional 32,
que impõe um duro golpe às políticas sociais de saúde, educação, segurança,
dentre várias outras, e a extinção dos regimes jurídicos únicos nas esferas dos
municípios, estados e União, vilipendiando de forma perversa os preceitos
constitucionais da Carta Magna de 1988.

Esse encontro aponta o caminho da luta e da resistência e chama o povo


brasileiro a somar-se nessa cruzada para evitar um duro golpe nas conquistas
e direitos sociais de nosso povo consignados nessa terrível reforma
administrativa.

A derrota da PEC-32 é a vitória do povo trabalhador brasileiro. Esse é o nosso


propósito e essas são nossas tarefas!
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O QUE ESTÁ EM JOGO COM A REFORMA


ADMINISTRATIVA DO GOVERNO BOLSONARO?
Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, têm sido implantadas no país
várias ações que que diminuem o papel do Estado brasileiro. São medidas para
privatizar as empresas e os serviços públicos, reduzir investimentos, a oferta
de serviços públicos, mesmo os essenciais, as políticas que combatem as
desigualdades (entre homens/mulheres; negros/não negros; campo/cidade;
LGBTQIA+; pessoas com deficiência (PcD); geracional etc.), retirar direitos dos
servidores(as) e dos trabalhadores(as) do setor privado e enfraquecer a
representação dos trabalhadores.

Nessa perspectiva, o governo apresentou uma proposta de Reforma


Administrativa (PEC 32/2020) que irá destruir os serviços públicos. O debate
público, diante do desempenho pífio da economia do país, tem sido pautado
pelo interesse do mercado e da grande mídia, que condenam os gastos
públicos e depreciam a atuação dos servidores, propondo uma agenda de
Estado Mínimo como solução para os problemas brasileiros. Na prática, isso
significa que os recursos públicos estão sendo transferidos do Estado para o
mercado, em detrimento dos interesses da sociedade. Ou seja, favorecendo
apenas os grandes empresários e banqueiros, que saqueiam os cofres
públicos.

O governo utiliza a premissa de que é preciso realizar a reforma


administrativa para solucionar a questão fiscal e assim retomar o crescimento
da economia. A alegação foi a mesma com a Emenda Constitucional 95
(emenda do teto), com as reformas trabalhista e da previdência. Como é visto
e sentido pelo povo brasileiro, nenhuma dessas medidas teve qualquer força
para gerar empregos, impulsionar o crescimento e o desenvolvimento do país.

Bem diferente do discurso da mídia e do governo, o número de servidores


públicos em relação à população brasileira está abaixo do verificado em
muitos países desenvolvidos. E em relação aos rendimentos, a maior parte dos
funcionários públicos (53%) tem rendimentos concentrados na faixa de até 4
salários mínimos, ou seja, de R$ 3.816,00 (RAIS 2018). No serviço público
municipal, 75% dos servidores auferem até R$ 3.381,00 (RAIS 2018).
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IMPACTOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA


SOBRE OS SERVIDORES PÚBLICOS
Ao contrário do que tem sido afirmado pelo governo Bolsonaro e seus
apoiadores, a reforma administrativa altera e retira direitos e garantias já
consagrados para os servidores públicos, ao mesmo tempo que protege as
forças armadas, a cúpula do judiciário, do parlamento e do executivo.

De maneira sintética, pode-se dizer que ocorrerão impactos diretos e


indiretos para o conjunto de trabalhadores, para a atuação sindical e para a
sociedade brasileira como um todo, caso essa reforma seja aprovada.

Talvez, a mais importante alteração que consta da PEC 32 é a que se pode


chamar de relativização da estabilidade. A estabilidade é regra constitucional
e é a maior garantia para a sociedade de que o servidor poderá desempenhar
seu trabalho de forma impessoal, sem se preocupar com qualquer tipo de
represália, tendo o mínimo de influências de ordem político-partidária e sem
comprometer a missão final de bem atender ao cidadão.

Atualmente, a Constituição prevê, no artigo 41, as seguintes condições para


que o servidor público estável venha a perder o cargo: I - em virtude de
sentença judicial transitada em julgado (quando não há mais possibilidade de
recurso); II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada
ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.

A proposta em análise prevê que o atual servidor público estável e o futuro


servidor ocupante de cargo típico de Estado possam perder seus cargos a
partir de uma decisão proferida por órgão judicial colegiado. Essa alteração
representa um gravíssimo retrocesso, visto que atualmente a perda do cargo
só pode ocorrer após o processo transitar em julgado. Desde a Constituição de
1934, a hipótese de perda judicial do cargo público somente acontecia depois
do trânsito em julgado, o que foi mantido na redação originária da Carta de
1988. Caso a PEC32 seja aprovada, veremos um retrocesso sem precedentes.
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A perda de cargo mediante processo administrativo não sofre alterações na


PEC. Todavia, outro dispositivo do texto diz que a perda do cargo por esses
servidores pode se dar a partir de uma avaliação periódica de desempenho,
sendo que os critérios dessa avaliação deverão ser definidos em lei ordinária.

Apesar de a Constituição Federal já prever a avaliação de desempenho o fato


da PEC32 determinar a definição de critérios por meio de lei ordinária facilita a
aprovação e, posteriormente, possíveis alterações. Desta forma, o serviço
público pode facilmente ser submetido a conjunturas políticas momentâneas,
atendendo a intenções governamentais episódicas e a variações ideológicas
do governo de plantão. Adicionalmente, decisões monocráticas de chefias
poderão acentuar, ainda mais, as práticas já consagradas de assédio moral no
âmbito do setor público.

Infelizmente, apesar da estabilidade, a arbitrariedade já é uma realidade


que os trabalhadores e trabalhadoras do serviço público estão submetidos.
Pela força do movimento de luta e pelas legislações vigentes, muitas dessas
decisões arbitrárias são revertidas. Porém, com a Reforma Administrativa,
esta situação de instabilidade e arbitrariedade passará a ser regra.

Assim, uma coisa é aperfeiçoar instrumentos existentes de avaliação, o que


é e sempre será bem-vindo quando aliado à melhora da prestação do serviço
público; outra é, sob a justificativa de aumentar a produtividade e se
intensificar o ajuste fiscal a qualquer preço, sujeitar o servidor à perda do
cargo, por subjetividade das chefias e/ou arbítrio dos governantes em
avaliações pseudo-meritocráticas. Esta relação entra em conflito com o
próprio princípio da continuidade dos serviços públicos, uma vez que toda a
população fica vulnerável com a falta de trabalhadores e trabalhadoras.

Importante destacar que as áreas técnicas, administrativas ou


especializadas da administração pública serão preenchidas na forma de
cargos por prazo indeterminado, o que significa na prática que a maior parte
dos servidores não terá estabilidade durante todo o seu período laboral.
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Adicionalmente, outra questão importante é que haverá alterações


também na ocupação de cargos de chefia e direção pelos atuais servidores. A
regra atual prevê que as funções de confiança sejam destinadas
exclusivamente aos servidores efetivos e que os cargos em comissão sejam em
parte preenchidos pelos servidores estáveis e em parte por servidores não
estáveis. A proposta prevê que os cargos em comissão e as funções de
confiança serão progressivamente substituídos pelos cargos de liderança e
assessoramento, de livre nomeação e exoneração. Serão destinados às
atribuições estratégicas, gerenciais ou técnicas, sem fazer distinção entre
aqueles cargos que poderão ser ocupados apenas por funcionários públicos,
selecionados via concurso. Dessa forma, a ocupação de funções técnicas na
administração pública por indicação pode levar ao aumento da ineficiência e à
politização de decisões que deveriam ser de ordem estritamente técnica. Será
a ampliação do apadrinhamento político e a prática inescrupulosa dos
famosos “cabides de emprego”.

Diretamente relacionadas às alterações de ocupação dos cargos estão as


mudanças propostas para o Art. 84 da Constituição, que aumentam
demasiadamente os poderes do presidente da República. De acordo com a
proposta, caso não implique em aumento de despesa, o presidente, por meio
de decreto, poderá, entre outras medidas, extinguir cargos em comissão, de
liderança e assessoramento, funções de confiança e gratificações de caráter
não permanente, estando esses cargos ocupados ou não. Também estando
vagos ou não, o presidente poderá transformar cargos em comissão, cargos de
liderança e assessoramento, funções de confiança e gratificações de caráter
não permanente. Nota-se, que há uma relação desproporcional que garante
poderes que ultrapassam as características do chefe do executivo, em uma
nítida medida de autoritarismo.
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Além das questões abordadas anteriormente, a partir da análise da PEC


32, estão previstos também impactos indiretos, dentre eles: 1) Redução do
financiamento dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) e
consequente aumento dos déficits atuariais e financeiros das previdências dos
servidores; 2) Instrumentos de Cooperação e vínculos por Prazo Determinado,
o que pode implicar em fragilização da carreira e das lutas e reivindicações por
direitos e garantias. Estes instrumentos constitucionalizam a terceirização e a
privatização do Estado brasileiro. Isto sem contar que além de prejudicar de
maneira direta os trabalhadores e trabalhadoras atuais, ataca ainda os que já
se aposentaram, completamente diferente do discurso do governo de que só
novos trabalhadores serão afetados.

Assim, a reforma administrativa afeta não somente os futuros, mas


também, os atuais servidores públicos e mesmo aqueles que já se
aposentaram. E, ainda pior que isso, afeta o conjunto da sociedade com a
destruição dos serviços públicos, especialmente as populações mais
vulneráveis.

O desafio para o movimento sindical - que também será impactado com


essa reforma - é desmistificar o discurso oficial de que a reforma não afetará
os atuais servidores públicos, dialogando e informando os trabalhadores
sobre os efeitos nefastos para servidores e serviços públicos e atuando no
Congresso Nacional durante a tramitação e votação da PEC. Mais do que isso,
construir fortes mobilizações para levar esse debate a toda a sociedade, na
medida em que a precarização dos vínculos de trabalho no serviço público
deverá levar a uma série de comprometimentos no atendimento aos
trabalhadores e trabalhadoras em suas demandas sociais.
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IMPACTOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA


PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA
A Constituição de 1988 consagra vários direitos que, para existirem na
prática, precisam ser efetivados por políticas públicas. Sem elas, tais direitos
não poderiam ser acessados pelos(as) brasileiros(as).

Dentre esses direitos, destacamos os chamados direitos sociais, que são a


educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a
assistência aos(às) desamparados(as). As políticas públicas relacionadas a
esses direitos atingem todos(as) os(as) brasileiros(as), não somente os(as)
mais pobres. Aqueles(as) que usufruem de alguns desses direitos
eventualmente por meio de empresas privadas ainda assim são
beneficiários(as) de políticas públicas.

A PEC 32 propõe retirar a primazia do concurso público como instrumento


de seleção de pessoal, enfraquecer e/ou eliminar a estabilidade dos(as)
servidores(as) estatutários(as) e reduzir os patamares salariais, além de
transferir atividades públicas para a iniciativa privada e dar amplos poderes
ao presidente da República para reorganizar o funcionamento do Estado de
forma arbitrária e sem qualquer discussão com o Congresso Nacional e com a
sociedade.

Isso pode ensejar maneiras de efetivação da corrupção e o fomento da


arbitrariedade de agentes privados no âmbito do Estado. Logo, a proposta de
reforma administrativa não se restringe aos(às) servidores(as) públicos(as),
embora este seja praticamente o único aspecto tratado pela imprensa. Se
aprovada, tal reforma beneficiará interesses econômicos privados em
detrimento do bem da coletividade, desprotegendo ainda mais a população
pobre e a classe média.
A proposta de reforma administrativa ataca conquistas democráticas e
pactos sociais construídos desde a redemocratização. As consequências de
uma eventual aprovação dessa reforma serão sentidas não apenas pelos(as)
servidores(as) públicos(as), mas por todos(as) os(as) brasileiros(as), uma vez
que todos(as) – sem exceção – utilizam o serviço público. Situação que deixa a
classe trabalhadora e aqueles que vivem em situação mais vulneráveis de
maneira extremamente desprotegidos e desamparados.

As reformas propostas por esse governo representam a disputa pelos


recursos públicos e tem o objetivo de diminuir ainda mais o papel social do
Estado, não para que ele seja mais ágil, mas para que o setor privado lucre com
as atividades que antes eram públicas. O resultado desse modelo voltado para
o mercado é a ampliação da fome, da pobreza, da concentração de renda e da
barbárie.
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ENCAMINHAMENTOS
1) Mobilização em Brasília dia 03/08 5) Campanhas nos meios de
a) Entidades enviam representações; comunicação
b) Mobilizar os trabalhadores e a) Participação em programas de rádio e
trabalhadoras das cidades da região. TV.

2) Greve do setor público / dia nacional 6) Campanhas nas mídias sociais e


de mobilização – 18/08 conteúdos online
a) Realizar assembleias para construção da a) Difusão dos materiais da campanha
greve em cada local de trabalho; nacional;
b) Construção de comandos de mobilização; b) Curtir, compartilhar e seguir as redes
c) Organização de atos unificados nas sociais da campanha nacional;
cidades ou regiões. c) Difusão dos materiais das entidades,
sindicatos e centrais sindicais;
3) Ações para mobilizar vereadores e d) Elaboração de conteúdos nas bases,
deputados estaduais adaptação de conteúdos, criação de redes e
a) Audiências Públicas nas Câmaras canais de comunicação.
Municipais e deliberação de moções
contrarias à PEC 32; 7) Deputados Federais
b) Audiências Públicas nas Assembleias a) Pressão sobre os parlamentares;
Legislativas e deliberação de moções b) Utilização das redes sociais e dos sites
contrarias à PEC 32. como Na Pressão;
c) Campanhas denunciando nos estados e
4) Governadores e Prefeitos municípios os deputados que votam contra
a) Visitas e demanda de posicionamento. os serviços públicos.
DIAP - PEC 32/20: desregulamentação de direitos; regulamentação de
restrições
https://www.diap.org.br/index.php/governo-bolsonaro/90092-reforma-
administrativa-desregulamentacao-de-direitos-e-regulamentacao-de-
restricoes

Categoria: Governo Bolsonaro


Publicado: 22 Novembro 2020

• Antonio Augusto de Queiroz


• Reforma Administrativa
• Servidores Públicos
• PEC 32/20
• Reforma do Estado
• Tamanho e papel do Estado
• Precarização
• Privatização

A consequência será o aumento da negligência governamental no


combate às desigualdades regionais e de renda, e a redução da presença
dos pobres no Orçamento Público. Isso ocorre invariavelmente com a
diminuição ou retirada do Estado no provimento de bens e serviços aos
cidadãos, às populações, aos territórios vulneráveis e aos desassistidos.
Não se cogita de aumentar receita, apenas de reduzir despesas.

Antônio Augusto de Queiroz*

1) Introdução

O governo do presidente Jair Bolsonaro, no último dia 3 de setembro de 2020,


encaminhou ao Congresso Nacional a sua proposta de Reforma Administrativa,
aprofundando o ajuste fiscal praticado no governo Michel Temer. A PEC
(Proposta de Emenda à Constituição) 32/20, que “Altera disposições sobre
servidores, empregados públicos e organização administrativa”, iniciou sua
tramitação pela Câmara dos Deputados, e fecha o ciclo do chamado Plano
Mais Brasil, que inclui 2 outras PEC, a 186/19 (Emergencial) e 198/20 (Pacto
Federativo), ambas em tramitação no Senado Federal.

O chamado Plano Mais Brasil, composto por um conjunto de reformas em nível


constitucional e infraconstitucional, tem como fundamento teórico o equilíbrio
fiscal intergeracional, segundo o qual os governos só podem contrair dívidas
para pagar despesas de custeio até o limite do volume de investimentos, sob
pena de punir as futuras gerações, que teriam que pagar a conta sem terem
chance de se beneficiar do endividamento. É por isso que estão previstos
gatilhos que suspendem o aumento de despesas não-financeiras sempre que o
endividamento ultrapassar o teto de gasto, a regra de ouro ou o limite da
despesa com pessoal.

Esse conjunto de propostas, além disto, faz parte da operação desmonte dos
direitos e do Estado de bem-estar social, iniciado no governo Temer com a
chamada “Ponte para o Futuro”, cuja legado foi a aprovação da Reforma
Trabalhista, a Terceirização generalizada e o Teto de Gasto, e que teve
continuidade no governo Bolsonaro, com a Reforma da Previdência, que
suprimiu direitos previdenciários, e com a Lei Complementar 173/19, que além
de suspender reajustes e outros benefícios dos servidores até 31 de dezembro
de 2021, modificou dispositivos permanentes da Lei de Responsabilidade
Fiscal em desfavor do servidor público.

A Exposição de Motivos 47/20, que encaminha a PEC ao Congresso Nacional,


ratifica e reforça essa ideia de mudança do papel do Estado. Sob o fundamento
de que o Estado custa muito e entrega pouco e com base no falso argumento
de que pretende evitar duplo colapso: na prestação de serviços para a
população e no orçamento público, a equipe econômica afirma na referida
exposição de motivos que a reforma administra “se insere em um escopo maior
de transformação do Estado, que pretende trazer mais agilidade e eficiência
aos serviços oferecidos pelo governo, sendo o primeiro passo uma alteração
maior do arcabouço legal brasileiro.

A lógica da reforma, com efeito, consiste na revisão do papel do Estado na


economia e na área social, bem como na redução do gasto e da máquina
pública. A consequência será o aumento da negligência governamental no
combate às desigualdades regionais e de renda, e a redução da presença dos
pobres no Orçamento Público. Isso ocorre invariavelmente com a diminuição
ou retirada do Estado no provimento de bens e serviços aos cidadãos, às
populações, aos territórios vulneráveis e aos desassistidos. Não se cogita
aumentar receita, apenas de reduzir despesas.

Nessa perspectiva, a proposta possui duplo objetivo:

1) de natureza liberal-fiscal, que busca satisfazer o mercado e atender à visão


ideológica neoliberal da equipe econômica; e

2) de caráter persecutório e de preconceito para com o servidor.


O primeiro teria por base a suposição de que o Estado é perdulário, faz má
alocação e desperdiça recursos, além de ser acusado de patrocinar privilégios
e ser ineficiente. O segundo se expressa na narrativa de ataque à honra dos
servidores, que têm sido associados por autoridades governamentais à
parasitas, à assaltantes e à inimigos do povo.

O texto da Reforma Administrativa, entretanto, é coerente com que pensa o


governo sobre os servidores e os serviços públicos e está em plena sintonia
com o PPA (Plano Plurianual) enviado ao Congresso para os anos de 2020 a
2023, que propõe a redução da estrutura administrativa do Estado, a ampliação
da digitalização e da automação dos serviços públicos, além de
descentralização e privatização mediante a celebração de contratos ou
convênio com entidades públicas e privadas que envolvam tanto a compra de
bens e serviços quanto a transferência de recursos e responsabilidade pela
execução de serviços.

Assim, embora apresentada sob o fundamento de conferir maior eficiência,


eficácia e efetividade à atuação do Estado e até de ampliação da transparência
e do controle social, a reforma, na verdade, parte do pressuposto de
superioridade da gestão privada e busca trazer para a Administração Pública a
lógica de mercado, de relação cliente-consumidor, que se pauta pela demanda,
numa transação de natureza mercado ou comercial de troca. Em todos os
países em que esse desenho foi implementado falhou, porque no Serviço
Público a lógica de prestação de serviço deve ser orientada pela necessidade
dos cidadãos, considerando princípios como equidade e justiça, e não de
mercado, que busca apenas a maximização do lucro.

Além disso, a Reforma Administrativa, que parte da desconfiança dos


servidores de carreira, vem num contexto de desmonte dos serviços públicos e
não guarda qualquer relação com a melhoria da qualidade do serviço público,
nem com a meritocracia. Pelo contrário, foi concebida para desorganizar o
Serviço Público, punir os atuais servidores e submeter os futuros à regras
draconianas de gestão. A prova disto é que está autorizando a contratação,
para exercer cargos de liderança em área estratégicas, técnicas e gerenciais —
postos antes reservados a servidores de carreiras —, uma espécie de capataz,
gente indicada por políticos para vigiar e punir os servidores que agirem em
desacordo com a orientação oficial, seja essa legal ou não.

A proposta, que visa à desconstitucionalização de direitos — remetendo


praticamente tudo para as leis ordinárias e complementares, tal como ocorreu
com a Reforma da Previdência —, está estrutura em 4 princípios, 3 grandes
orientações ou eixos, 3 fases e 9 mudanças constitucionais, que serão
analisados neste texto.

2) Princípios da reforma

Segundo a exposição de motivo, os 4 princípio norteadores da reforma são:

1) foco em servir: consciência de que a razão de existir do governo é servir


aos brasileiros;

2) valorização das pessoas: reconhecimento justo dos servidores, com foco


no seu desenvolvimento efetivo;

3) agilidade e inovação: gestão de pessoas adaptável e conectada com as


melhores práticas mundiais; e
4) eficiência e racionalidade: alcance de melhores resultados, em menos
tempo e com menores custos.

Nessa perspectiva, além dos princípios da legalidade, impessoalidade,


moralidade, publicidade e eficiência, a PEC propõe constitucionalizar mais
outros 8 princípios, que teriam que ser observados pela Administração Pública:

1) imparcialidade; 2) transparência; 3) inovação; 4) responsabilidade; 5)


unidade; 6) coordenação; 7) subsidiariedade; e 8) boa governança.

Trata-se de narrativa que busca apresentar a reforma como algo positivo para
os servidores e para os usuários de serviços públicos, tal como também fez o
chamado Plano Diretor da Reforma do Estado, apresentado no governo
Fernando Henrique Cardoso, para justificar a Reforma Administrativa da época.
Ou seja, faz parte do marketing destinado a persuadir os incautos a respeito da
importância e necessidade da reforma.

3) Eixos orientadores da reforma

Ainda segundo a Exposição de Motivos, são as seguintes as 3 grandes


orientações ou eixos da reforma:

1) modernizar o Estado, conferindo maior dinamicidade, racionalidade e


eficiência à sua atuação;

2) aproximar o Serviço Público brasileiro da realidade do país; e

3) garantir condições orçamentárias e financeiras para a existência do Estado e


para a prestação de serviços públicos de qualidade.

O primeiro eixo, de acordo com a opinião governamental, busca a adoção de


uma política de gestão de pessoas ágil, adaptável e conectada com as
melhores práticas internacionais, bem como viabilizar dinâmica de
relacionamento com órgãos e entidades públicos e com a iniciativa privada de
forma a contribuir com mais efetividade para o atendimento da demanda por
serviços públicos.

O segundo eixo, por sua vez, consistiria na elaboração de medidas com vistas
à aproximação do serviço público brasileiro à realidade do país, tendo como
inspiração os estudos do Banco Mundial (Um ajuste Juros: Análise da
eficiência e equidade do gasto público no Brasil, publicado em 2017, e “Gestão
de Pessoas e Folha de Pagamento do Setor Público Brasileiro: o que os dados
dizem”, que analisa dados sobre a folha de pagamento do Governo Federal e
de seis Governos Estaduais” publicado em outubro de 2019. O primeiro
estudo apresenta supostas evidências de que o gasto público é engessado em
categorias como folha de pagamento e previdência social, deixando pouca
margem para despesas discricionárias e investimento, porém sem mencionar
nada relativo aos juros e principal da dívida. O segundo apresenta supostas
distorções no gasto com pessoal.

O terceiro eixo se destinaria a garantir condições orçamentária e financeira


para a existência do Estado e para a prestação de serviços públicos de
qualidade, segundo a mensagem, de modo a contar com mecanismo de melhor
gestão do gasto público com pessoal, considerando que esse gasto representa
a segunda maior despesa da União, depois da Previdência. Nenhuma palavra
sobre a dívida, que, de longe, é o maior gasto governamental.

As diretrizes ou eixos orientadores, igualmente, têm muito de retórica e pouco


de real compromisso com esses postulados. São o verniz para justificar o
ajuste fiscal.

4) Fases da reforma

De acordo com a apresentação feita pela equipe econômica, a reforma será


implementada em 3 fases:

1) PEC do Novo Regime de Vínculo e Modernização organizacional da


Administração Público;

2) PLP e PL de Gestão de Desempenho, PL de Consolidação de Cargos,


Funções e Gratificações, PL de Diretrizes de Carreiras, PL de modernização
das formas de trabalho, PL de Arranjos Institucionais, PL de Ajuste no Estatuto
do Servidor, e

3) PL e PLP do novo Serviço Público: novo marco regulatório das careiras,


Governança remuneratória e Dizeres e deveres do novo serviço público.

Assim, dependeriam de lei ordinária: avaliação de desempenho; remuneração


em período de licença; consolidação de cargos; funções de gratificações;
cooperação de atividade entre Estado e iniciativa privada; e de lei
complementar: gestão de pessoas, política remuneratória e de benefícios,
ocupação de caros de liderança e assessoramento, organização da força de
trabalho no Serviço Público, progresso e promoção, desenvolvimento e
capacitação de servidores, duração máxima da jornada para fins de
acumulação de atividades, definição dos cargos típico de Estado, e autorização
da migração do servidor de vinculo indeterminado para o RGPS.

Além da PEC, diversos temas da reforma serão objeto de regulamentação em


leis ordinárias e complementares, as quais só deverão ser enviadas ao
Congresso após a aprovação e promulgação da reforma. Como a Lei
Complementar 173/20 congelou os gastos com pessoal até 31 de dezembro de
2021, faz sentido que os projetos sejam examinados no próximo ano, para
produzir efeitos práticos a partir de janeiro de 2022.
5) Principais mudanças

Em linhas gerais, a PEC da Reforma Administrativa, dentre outros pontos,


pretende:

1) desconstitucionalizar direitos, remetendo-os para leis complementares e


ordinárias;

2) extinguir o Regime Jurídico Único, com a instituição de novas modalidades


de contratação e as formas de ingresso;

3) extinguir a estabilidade como regra e instituir uma estabilidade mitigada para


os cargos típicos de Estado;

4) extinguir as promoções automáticas por tempo de serviço;

5) transversalidade/mobilidade com redução de salário de ingresso no serviço


público;

6) extinguir vantagens;

7) transferir a execução de serviços públicos da União para estados e


municípios e entidades privadas;

8) transfererir competências do Congresso para o presidente para extinguir


cargos e órgãos da Administração Pública; e

9) atacar os direitos dos atuais servidores.

5.1) Desconstitucionalização - tudo depende de lei

A Reforma Administrativa, assim como ocorreu na Reforma da Previdência,


poderá ser aprofundada por intermédio de leis ordinárias e complementares, já
que se manteve na Constituição apenas alguns princípios. A lógica de
desregulamentar direitos e regulamentar restrições, deixando na Constituição
apenas os princípios gerais e regras de restrições de direitos, e remetendo
para a legislação infraconstitucional todos os direitos.

Nessa perspectiva, a PEC reserva para lei complementar, de iniciativa do


presidente da República, de caráter nacional, que obriga estados e municípios,
as diretrizes gerais sobre pessoal, cabendo aos outros poderes, órgãos e entes
subnacionais, a regulamentação, em lei ordinária, desses princípios gerais, que
vincula, limita e obriga a todos.

A lei complementar, de iniciativa do chefe do Poder Executivo federal, tratará


dos seguintes pontos:
1) Gestão de pessoas;

2) Política remuneratória e de benefícios;

3) Ocupação de cargo de liderança e assessoramento;

4) Organização da força de trabalho no Serviço Público;

5) Progressão e promoção funcionais;

6) Desenvolvimento e capacitação de servidores; e

7) Duração máxima da jornada para fins de acumulação de atividades


remuneradas.

Em lei ordinária, os entes subnacionais e os outros poderes e órgãos,


respeitando os limites da lei complementar, poderão dispor sobre os 5 tipos de
vinculo:

1) experiência; 2) prazo indeterminado; 3) cargos típicos; 4) prazo determinado;


e 5) liderança e assessoramento, além dos critérios para definição dos cargos
típicos.

5.2) Fim do RJU e os novos vínculos e formas de ingresso no Serviço


Público

A PEC extingue o RJU (Regime Jurídico Único), elimina a previsão de “planos


de carreiras” para servidores e institui 3 regimes estatutários:

1) por prazo indeterminado; 2) por prazo determinado; e 3) para cargo de


“liderança e assessoramento”. Destes, apenas a primeira modalidade se dará
por concurso público de provas ou de provas e título.

5.2.1) Novos regimes estatutários

A contratação por prazo indeterminado se dará em 2 modalidades:

1) para cargo típico de estado, que terá direito a estabilidade, ainda que
mitigada; e

2) demais cargos, que constituirão a maioria dos cargos da Administração


Pública, porém sem direito a estabilidade.

As contratações por prazo determinado ou contratação temporária terão seu


escopo ampliado, ficando autorizada a contratação nessa modalidade:

1) por necessidade temporária decorrente de calamidade, de emergência, de


paralisação de atividades essenciais ou de acúmulo transitório de serviço;

2) atividades, projetos ou necessidades de caráter temporário ou sazonal, com


indicação expressa da duração dos contratos; e

3) atividades ou procedimentos sob demanda.

Os cargos de liderança e assessoramento substituem as funções de confiança


e cargos de livre provimento de chefia, direção e assessoramento, porém com
ampliação de seu escopo, passando a incluir novas atribuições, antes
reservadas a servidores de carreira, como atividades com responsabilidades
estratégicas, gerencias ou técnicas. Com isto põe-se fim à reserva
constitucional de cargos em comissão e funções de confiança privativa de
servidores de carreira, abrindo para a indicação política inclusive áreas com
poder de polícia, como as áreas de fiscalizações tributária, trabalhista,
ambiental, entre outras.

Além da ampla possibilidade de contratação por prazo determinado e a


ampliação exagerada das atribuições dos cargos de livre
provimento — liderança e assessoramento — a PEC também amplia a
possibilidade de contratos de gestão, eliminando amarras anteriores quanto à
transferência para o setor privado sem fins lucrativos — como as organizações
sociais e os serviços sociais autônomos — de uma série de serviços e
atividades atualmente a cargo de servidores da Administração direta,
autárquica e fundacional, especialmente nas áreas de Saúde Educação, Meio
Ambiente, Comunicações, Previdência, entre outras.

Com tanta possibilidade de contratação, dificilmente os governos irão realizar


concurso público para cargos com prazo indeterminado, já que podem suprir
suas necessidades de pessoal com contrato temporário, com cargos de livre
provimento e com a ampliação dos contratos de gestão. Além disto, de acordo
com o art. 37-A e na forma da lei, a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios ficam autorizados a firmar instrumentos de cooperação com órgãos
ou entidades, públicos ou privados, para a execução de serviços públicos,
inclusive com o compartilhamento de estrutura física e a utilização de recursos
humanos de particulares, com ou sem contrapartida financeira.

5.2.2) Novas formas de ingresso ou de recrutamento no serviço público

Os concursos públicos ficarão limitados aos cargos a serem contratados por


prazo indeterminado, que inclui os servidores ocupantes de cargo típico de
estado e os servidores contratados por prazo indeterminado, porém as
garantias e prerrogativas dos ocupantes de cargo típico de Estado. Os
contratados por prazo determinado serão submetidos a processo seletivo
abreviado e os cargos de liderança e assessoramento nem isto será exigido,
basta a indicação política.
Como se depreende da leitura do tópico anterior, a reforma cria 4 categorias de
vínculos funcionais com a administração pública:

1) ocupantes de cargo típico de estado;

2) ocupantes de cargos com vínculo indeterminado;

3) ocupantes de empregos público por prazo determinado; e

4) ocupantes de cargo de liderança e assessoramento.

Os 2 primeiros, após passarem no concurso, assumem como “trainee” por


período de experiência para efeito de avaliação mais abrangente e tomada de
decisão quanto à admissão do servidor em cargo que compõe o quadro de
pessoal de caráter permanente, a depender de classificação, dentro do
quantitativo previsto no edital do concurso público, entre os mais bem avaliados
ao final do período.

Entende-se como ocupante de cargo típico de Estado aquele servidor que


exerce atividades inerentes ao Estado como Poder Público sem
correspondência no setor privado, como Diplomacia, Moeda, Ordem Interna,
Sistema de Justiça, Arrecadação e Fiscalização, Formulação e Administração
de Políticas Públicas, Sistema de Controle e Orçamento, Advocacia Pública,
etc. Os ocupantes desses cargos correspondem a algo em torno de 15% do
quadro de pessoal da Administração Pública federal. Já os ocupantes de
cargos com vínculo indeterminado são aqueles servidores que exercem
atividades contínuas e que não sejam típicas de Estado, como as atividades
técnico-administrativas ou especializadas e que envolvam maior contingente de
pessoas, também, se submetem a concurso público. Reúne algo como 85% do
quadro de pessoal da União.

A investidura em cargo típico de Estado, correspondente ao atual cargo efetivo,


depende de 3 etapas:

1) aprovação em concurso de provas e títulos;

2) desempenho satisfatório durante o prazo de 2 anos de experiência; e

3) classificação entre os mais bem avaliados.

Ou seja, o futuro ocupante de cargo típico de Estado precisa passar por 3


etapas.

A primeira etapa é a aprovação no concurso de provas e títulos.

A segunda etapa corresponde ao período de experiência, ou fase como


“trainee”, que dura 2 anos. Se obtiver desempenho satisfatório e estiver
classificação final dentro do quantitativo de vagas do edital do concurso, entre
os mais bem avaliados ao final do período como “trainee”, passa para a terceira
fase, a do estágio probatório de 1 ano.

E a terceira etapa é o estágio probatório de 1 ano, durante o qual também


será avaliado para efeito de efetivação.

A investidura em cargo por vínculo indeterminado, uma espécie de cargo


efetivo de segunda categoria, que representará a maioria do quadro de pessoal
da Administração Pública, algo como 85%, também depende de concurso
público, que será feito em 2 etapas. A primeira é o concurso de provas e
títulos e a segundo será o período de experiência ou como “trainee”, com
duração de 1 ano, sendo também aproveitados ou efetivados aqueles com
desempenho satisfatório durante o período como “trainee”.

A suposição, nas 2 hipóteses, é dde que serão chamados mais “trainees” do


que o número de vagas do edital, sendo dispensados aqueles que não forem
classificados ou tiverem desempeno insuficiente no período como “trainee” nos
2 casos e também no estágio probatório, no caso do aspirante a cargo típico de
Estado.

O servidor enquadrado como ocupante de cargo típico de Estado não pode


exercer nenhuma outra atividade remunerada, exceto a de professor. Já o
ocupante de cargo efetivo sem estabilidade poderá acumular, mas,
diferentemente do servidor ocupante de cargo típico de Estado, estará sujeito à
redução de jornada, com redução de salário.

5.3) Fim da estabilidade como regra e estabilidade mitigada para os


cargos típicos de Estado

A estabilidade de emprego no serviço público, e mesmo assim de forma


mitigada, ficará limitada aos servidores que ingressaram antes da reforma e
aos futuros ocupantes de cargos típicos de Estado, ficando os demais
servidores contratados por prazo indeterminando sem essa garantia contra
perseguição ou assédio de governantes contrários ao interesse público e de
seus prepostos, que ocuparão cargos de liderança e assessoramento.

A dispensa de ocupante de cargo típico de Estado, o que inclui os atuais


servidores, ocorrerá mediante:

1) decisão judicial transitado em julgado ou proferida por órgão judicial


colegiado, ainda que caiba recurso;

2) processo administrativo, com ampla defesa, como já é previsto; e

3) avaliação periódica de desempenho, mas disciplinada em lei ordinária, e não


mais em lei complementar.
De acordo com a proposta, a maioria dos servidores, tanto os concursados
para cargo indeterminado que seja cargo típico de Estado, quanto os
contratados por prazo determinado, mediante processo seletivo simplificado,
não terão proteção da estabilidade, podendo ser dispensado por excesso de
gasto ou por decisão política do poder ou órgão a que pertença. Nos casos dos
ocupantes dos cargos de liderança e assessoramento, o critério é meramente
de conveniência política, possibilitando até mesmo a destituição por motivação
político-partidária.

5.4) Fim das promoções e progressões por tempo de serviço

A progressões, como regra, têm o tempo de serviço como fator determinante,


ainda que exija algum tipo de desempenho para promoção por merecimento.
Com a proposta, a progressão e promoção ficam condicionadas a fatores como
participação em curso de aperfeiçoamento, titulação, ocupação de cargos em
comissão, nota alta em avaliação de desempenho, tanto institucional quanto
individual. Será, na prática, a adoção do Sidec, o Sistema de Avaliação que
seria adotada para as carreiras remuneradas sob a forma de subsídio, segundo
o qual apenas os servidores com maior pontuação teria direito a promoção,
desta vez restringindo ou limitando as promoções e progressões, a número
determinado de vagas para crescimento na carreira fato que forçaria uma
prática danosa e geradoras de ineficiência, que é a competição entre os
servidores por vagas limitadas, vencendo os de maior pontuação.

5.5) Transversalidade e redução do salário de ingresso

A adoção da transversalidade, com a possibilidade de transferir servidor de um


outro para outro sem qualquer restrição, bem como a redução do salário de
ingresso, a menos da metade do atual, são objetivos da reforma. A ideia do
governo é extinguir cargos e carreiras e criar o novo carreirão, em que os
novos servidores serão coordenados por um órgão central de pessoal e
distribuído de acordo com as necessidades e a conveniência da Administração,
sem vinculação com o órgão de origem, como é atualmente.

O governo fez sua, a proposta do Banco Mundial, que considera o “prêmio”


salarial do servidor brasileiro muito elevado. O governo, em sintonia com essa
recomendação, pretende reduzir o salário de ingresso a algo como 50% do
atual e autorizar a possibilidade de redução de jornada, com redução de
salário, além de determinar que fica proibida a redução de jornada, sem a
respectiva redução salarial.

5.6) Extinção de vantagens que o governo chama de distorções

O governo anuncia que a PEC irá extinguir distorções, especialmente a licença-


prêmio; o reajuste retroativo; o adicional por tempo de serviço; parcelas
indenizatórias sem base legal; aposentadoria compulsória como punição; o
adicional de indenização por substituição não efetiva; a redução de jornada,
sem redução de salário; a progressão e promoção automática ou apenas por
tempo de serviço; a incorporação ao salário de valores referentes ao exercício
de cargos e funções; as férias superiores a 30 dias etc. Entretanto exclui do
alcance dessas regras os militares, os parlamentares,
os magistrados e membros do Ministério Público, exatamente aqueles que
seriam os principais beneficiários das vantagens mais estravagantes, como a
aposentadoria compulsória como punição, as férias superiores a 30 dias e a
progressão e promoção automática, entre outros. A maioria dessas vantagens
já foi extinta e não é mais praticada na União, a começar pela licença-prêmio e
o reajuste com caráter retroativo.

5.7) Transferência da execução de serviços públicos para entes


subnacionais e entidades privadas

Conforme já mencionado anteriormente, o art. 37-A autoriza que a União, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios possam, nos termos de lei ordinária,
firmar instrumentos de cooperação com órgãos e entidades, públicas e
privadas, para a execução de serviços públicos, inclusive com o
compartilhamento de estrutura física e a utilização de recursos humanos de
particulares, com ou sem contrapartida financeira. É a senha para transferir
para Estados e Municípios uma série de atividades atualmente executadas pela
União, para ampliar os contratos de gestão com Organizações Sociais e
Serviço Social Autônomo, assim como para privatizar os serviços públicos,
especialmente aqueles que no governo do PT, por intermédio do PLP 92/07,
que transferia para fundações publicas ou privadas a execução dos serviços de
I - saúde; II - assistência social; III - cultura; IV - desporto; V - ciência e
tecnologia; VI - meio ambiente; VII - previdência complementar do servidor
público; VIII - comunicação social; e IX - promoção do turismo nacional. A única
vedação diz respeito às atividades privativas de cargo típico de estado,
protegidos pela estabilidade.

5.8) Transferência de competências do Congresso para o presidente da


República

A PEC amplia os poderes do presidente da República para dispor, por decreto,


sobre a extinção de cargos, transformações, fusões e extinções de órgãos ou
entidades, inclusive autarquias, a criação de órgãos sem aumento de despesa,
além de alterações de carreiras e cargos, exceto cargos típicos de Estado. Ou
seja, amplia o espaço para perseguição política e extinção de cargos, carreiras
ou até órgãos cuja atuação desagrade ao governo de plantão, sem a
necessidade do aval do Legislativo. Isso representa um "cheque em branco"
para a reorganização da Administração Pública a partir de estudos do
Ministério da Economia, sem transparência e diálogo e com base nas
recomendações do Banco Mundial, com o objetivo de aumentar mobilidade e
transversalidade dos cargos e carreiras e a alteração de suas atribuições;
reduzir salário e retardar crescimento na carreira; eliminar ou fundir carreira ou
mesmo dar tratamento diferenciado a cargos de uma carreira com mais de um
cargo. Trata-se do retorno a um modelo altamente centralizador e autoritário de
gestão, já vivenciado no Estado Novo de Vargas, quando criou o Dasp, e na
ditadura militar, após a edição do Decreto-Lei 200/67.

5.9) Ataque aos direitos dos atuais servidores

Embora o governo diga o contrário, como aliás já fez na Reforma da


Previdência, a PEC da Reforma Administrativa atinge em várias dimensões os
atuais servidores públicos. Entre os pontos que os afetam de forma negativa,
pode-se mencionar:

• fim da estabilidade. O servidor passará a poder ser demitido, além de


por decisão por trânsito em julgamento, por decisão judicial colegiada e
por insuficiência de desempenho, cuja regulamentação será feita por lei
ordinária ou MP e não mais por lei complementar;

• proíbe a progressão e promoção com base apenas em tempo de


serviço, ficando condicionada, em caráter obrigatório, à avaliação de
desempenho;

• perde o direito de ocupar cargo de livre provimento, pois estão sendo


eliminadas as cotas de cargos que deveriam ser ocupados apenas por
servidor de carreira;

• permite a destituição de comissionados por motivação político-partidária,


mesmo que o servidor seja concursado;

• amplia o escopo de atuação dos cargos de livre provimento, agora


batizados de “liderança” e “assessoramento” para funções estratégicas,
técnicas e gerenciais;

• servidor enquadrado como cargo típico de Estado não poderá realizar


nenhuma outra atividade remunerada, nem mesmo acumular cargos
público, exceto de professor;

• extingue o RJU;

• atribui plenos poderes ao presidente para, por decreto, extinguir cargos,


planos de carreiras, colocar servidor em disponibilidade e extinguir
órgãos, inclusive autarquias;
• mesmo não havendo redução salarial, a referência remuneratória
passará a ser do novo servidor, cujo salário de ingresso será bem
menor, criando constrangimento ao antigo servidor e legitimando o
congelamento salarial em longo prazo; e

• quem se licenciar para exercer mandato sindical, político, estudar,


acompanhar parente doente perderá o direito de receber retribuição de
posto comissionado, gratificações de exercício, bônus, honorários,
parcelas indenizatórias, etc.

A proposta, como se vê, representa um verdadeiro desmonte dos serviços e


dos direitos dos servidores públicos. É a “granada” no bolso do servidor, que
Paulo Guedes mencionou na fatídica reunião de 22 de abril de 2020.

É preciso ficar de olho nas PEC do Senado e também na Reforma


Administrativa na Câmara, poisnpretendem promover uma grande reforma do
Estado. O objetivo é substituir a prestação de serviço por distribuição de
voucher à população carente para comprar bens ou serviços no setor privado,
convertendo direitos universais e a prestação do Serviço Público em favor dos
governantes, e o servidor, de agente do Estado, em refém do governo de turno.

6) Considerações finais

Como se pode depreender da análise da PEC, a Reforma Administrativa


atende a duplo objetivo do governo. De um lado, transferir a infraestrutura de
produção de bens e serviços do Estado, construído com recursos públicos,
para o setor privado explorar em bases lucrativas. E, de outro, retirar direitos e
reduzir o “prêmio” salarial do servidor, para usar a linguagem do Banco
Mundial, um dos defensores de reformas no Serviço Público.

O governo, em lugar de regulamentar os pontos da Constituição pendentes de


lei — como: 1) o teto remuneratório; 2) a avaliação de desempenho para fins
de aquisição da estabilidade (estágio probatório); 3) a avaliação de
desempenho para fins de demissão;4) as regras e diretrizes do sistema de
carreiras; 5) a negociação coletiva no serviço público, para implementar a
convenção 151 da OIT no Brasil; e 6) a regulamentação do direito de greve —
, prefere o desmonte do Serviço Público.

E o mais grave é que suas alegações para justificar a Reforma Administrativa


são falsas, tanto em relação à comparação da remuneração com o setor
privado, cuja média nacional é de R$ 3.800, e com carreiras semelhantes no
exterior, quanto em relação ao aumento do gasto com pessoal no Serviço
Público federal, seja tendo como parâmetro o PIB, que se manteve abaixo de
5% nos últimos 20 anos, seja tendo como referência a Receita Líquida
Corrente, que está muito abaixo dos 50%.
Uma reforma para reduzir gasto com pessoal não se justifica porque já existem
3 limites de controle, fixados na LRF:

1) limite total, que fixa em 50% o gasto com pessoal;

2) limite de alerta, que avisa sempre que chegar a 90% desse; e

3) limite prudencial, que começa a suspender direitos quando atingir 95%


desse.

O objetivo final do governo, longe de ser a melhoria dos serviços públicos ou a


adoção da meritocracia na Administração Pública, é contratar no setor privado
os serviços e produtos atualmente prestados ou produzidos por instituições
estatais, inicialmente por intermédio de organizações sociais e serviços sociais
autônomos, sem fins lucrativos, e posteriormente por empresas privadas, com
fins lucrativos.

Setores como Educação e Saúde, que estarão no grupo de cargo por vínculo
indeterminado, porém sem direito a estabilidade, poderão dispensar a própria
contratação direta, resolvendo-se o problema mediante a criação de
Organização Social ou Serviço Social Autônomo ou, no futuro, mediante a
distribuição ou o fornecimento de voucher à população carente, para que
decida de quem comprar o serviço.

A sociedade civil, especialmente as entidades representativas dos servidões


públicos, nesse ambiente, devem envidar esforços no sentido de esclarecer os
reais motivos da reforma, chamando a atenção para os prejuízos que essa, se
aprovada nos termos propostos, representará para o Serviço Público, para os
servidores públicos e principalmente para o povo, especialmente as pessoas
mais pobres que dependem da prestação do Estado.

(*) Jornalista, consultor e analista político, mestrando em Políticas Públicas e


Governo na FGV/DF, diretor de Documentação licenciado do Diap e sócio-
diretor das empresas “Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e
Governamentais” e “Diálogo Institucional Assessoria e Análise de Políticas
Públicas”.
A PROPOSTA DE REFORMA ADMINISTRATIVA
DO GOVERNO DE JAIR BOLSONARO
Histórico e Contexto
REFORMA ADMINISTRATIVA
• Mudanças na forma de organização/estrutura e de funcionamento da
administração pública, com vistas a melhorar seu desempenho/eficácia e a
qualidade na prestação dos serviços.

• Reformas administrativas já ocorreram outras vezes no Brasil


• Vargas e a criação da administração (burocracia) pública;
• Decreto-Lei 200/67 (período da ditadura militar);
• CF-88 e a legislação ordinária que seguiu;
• FHC e a EC19/98 (Reforma Bresser-Pereira);

• Mas de qual Estado estamos falando? Quais as suas funções/atribuições? Qual o


seu papel na vida dos cidadãos?
A PROPOSTA DE REFORMA ADMINISTRATIVA SE INSCREVE
NUM CONTEXTO COM PROJETO DE DESMONTE DO ESTADO
Emenda do Teto
Novo Regime fiscal que limita os
gastos públicos com políticas sociais
(EC 95/2016)

Mudança estrutural na base


econômica e tecnológica “Reforma”
“Reforma” da Trabalhista e Lei da Terceirização
Mercantilização de Retira restrições sobre
Previdência Sindical trabalho temporário e
Altera as regras da previdência direitos sociais Altera a CLT, precarizando as terceirização
pública relações de trabalho (Março de 2017)
(EC 103/2019) Desmonte do papel do (Novembro de 2017)
Estado

“Reforma” do “Reforma”
Estado Tributária
REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO

Extinção dos Reforma


Pacto Federativo Programa de
Fundos Administrativa
PEC 188/2019 privatizações
PEC 187/2019 PEC 32/2020
Liberdade de utilização dos - Desvincula recursos dos Conjunto de PEC´s
recursos dos Fundos orçamentos
MP Contratação no
e leis que facilitam Setor Público
Públicos não-constitucionais - Extingue municípios;
para abatimento na Dívida - Afasta a obrigatoriedade de a venda integral, Permite a contratação de
Pública revisão geral anual; em partes ou a trabalhadores temporários
- Possibilita redução dos abertura de capital (inclusive aposentados) para
vencimentos dos diminuir trabalho acumulado
das empresas
servidores; (MP 922/20)
- Corte de cargos em públicas e estatais
confiança • Petróleo Decreto
- Cria a possibilidade de • Energia Elétrica Terceirização no
redução de jornada e
• Infraestrutura
vencimentos Serviço Público
proporcionalmente; Amplia terceirização nas
- Fixação da base de cálculo administrações direta e indireta
do Bônus de Eficiência. (Setembro de 2018)
A JUSTIFICATIVA DO GOVERNO

• Gasto com Servidores, segundo o governo, levaria a:


• Perda da capacidade de investimento;
• Falta de recursos para manter a prestação de serviços
básicos;
• Comprometimento da folha de pagamento;
CONTRAPONTOS À JUSTIFICATIVA DO
GOVERNO

• A Emenda Constitucional 95 (teto dos gastos) – e não a remuneração dos


servidores – limita tanto o investimento quanto os recursos para a prestação dos
serviços básicos;

• Medidas de contenção dos salários dos servidores, como vedação de reajustes


para os próximos anos, bem como a EC 103 (reforma da previdência) já vem
sendo adotadas;

• Em boa parte dos municípios, a administração pública municipal é a maior


empregadora, logo, os rendimentos dos servidores são fundamentais para a
economia local.
EMPREGO NAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS EM
RELAÇÃO AO TOTAL DOS EMPREGOS, 2017 (EM %)

• O número de servidores brasileiros está abaixo da média dos países


desenvolvidos (OCDE, 2019)
%

35
30,34
30

25

20 17,71

15
12,45

10
5,89
5

Fonte: OCDE. Panorama das Administrações Públicas 2019. Observação: Dados para o Brasil vêm de aproximação extraída dos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, feita pelo IBGE. Elaboração: DIEESE.
NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO DOS EMPREGOS SEGUNDO
NATUREZA JURÍDICA - BRASIL

5.571.083 (53,1%) • Setor Público Municipal

3.050.949 (29,1%) • Setor Público Estadual

1.032.979 (9,8%) • Setor Público Federal

777.530 (7,4%) • Entidade Empresa Estatal


10,5 milhões
de
servidores • Setor Público Outros
64.066 (0,6%)

Fonte: RAIS 2018/Ministério da Economia. Elaboração: Dieese


DISTRIBUIÇÃO DOS VÍNCULOS DOS SERVIDORES POR FAIXAS DE
REMUNERAÇÃO E POR GRUPOS DE OCUPAÇÃO, BRASIL 2018.
Salário mínimo necessário: R$ 4.536,12
53,1% DOS
39,8% DOS VÍNCULOS EM
VÍNCULOS EM TODAS AS ESFERAS
TODAS AS SÃO
ESFERAS SÃO Acima de 20 SM 3,2%
REMUNERADOS
PROFISSIONAIS 12,3%
EM ATÉ 4
DA EDUCAÇÃO E SALÁRIOS
DA SAÚDE MÍNIMOS
27,4% De 10 a 20 SM 9,6%
60,2%

De 4 a 10 SM 33,7%

Demais Servidores
Profissionais da Educação Básica Até 4 SM 53,1%
Profissionais da Saúde

Fonte: RAIS/Ministério da Economia.


A PROPOSTA PRIVILEGIA O ALTO ESCALÃO EM DETRIMENTO
DOS DEMAIS SERVIDORES QUE ATUAM DIRETAMENTE NO
ATENDIMENTO AO CIDADÃO
AS MUDANÇAS
PROPOSTAS
REFORMA ADMINISTRATIVA (PEC 32/2020)
IMPLEMENTAÇÃO
A PROPOSTA AFETA OS ATUAIS, OS NOVOS
SERVIDORES E TODA A SOCIEDADE

Extingue o Regime Cria 5 vínculos Facilita o


Jurídico Único (RJU)
da União, Estados, distintos de desligamento
DF e municípios; contratação do servidor

Possibilita a Incentiva a Amplia poder do


retirada de Executivo para extinguir
transferência dos
e transformar cargos,
direitos e serviços público para órgãos, autarquias e
benefícios a iniciativa privada funções
NOVOS PRINCÍPIOS PARA A ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA

• O Artigo 37 da Constituição Federal prevê 5 princípios explícitos para a


administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência (LIMPE);

• A PEC 32 Institui novos princípios à administração pública: imparcialidade,


publicidade, transparência, inovação, responsabilidade, unidade, coordenação,
boa governança pública e subsidiariedade.

• Destaque para o princípio da subsidiariedade e a inclusão de um novo artigo


na CF que autoriza os entes a firmar instrumentos de cooperação com órgãos e
entidades, públicos e privados, para a execução de serviços
públicos.
PRIVATIZAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS POR
Instrumentos de Cooperação
MEIO DE INSTRUMENTOS DE COOPERAÇÃO

Lei federal disporá sobre as normas gerais

Até que seja editada: Estados, DF e Municípios exercerão a


competência legislativa plena
A superveniência da lei federal, suspenderá o que for contrário

Permite o compartilhamento de estrutura física e utilização de recursos


humanos de particulares, com ou sem contrapartida financeira
UNIÃO, ESTADOS, DF E MUNICÍPIOS INSTITUIRÃO NOVO
REGIME JURÍDICO DE PESSOAL, ESTABELECENDO NOVOS
VÍNCULOS COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CARGO DE LIDERANÇA
VÍNCULO DE PRAZO PRAZO
CARGO TÍPICO DE ESTADO OU
EXPERIÊNCIA INDETERMINADO DETERMINADO
ASSESSORAMENTO
• Concurso • Concurso
• Classificação final, entre os
mais bem avaliados ao • Classificação final,
FORMA DE Etapa do final do período do vínculo entre os mais bem Seleção Ato do chefe de
INGRESSO concurso de experiência avaliados ao final simplificada cada Poder ou ente
• Mínimo 2 anos de vínculo do período do
de experiência com vínculo de
desempenho satisfatório experiência
Instável, uma
Estabilidade após 3 anos de
parcela Sem
ESTABILIDADE aprovação no estágio Sem estabilidade Sem estabilidade
deverá ser estabilidade
probatório e efetivo exercício
dispensada
REGIME DE
RPPS/RGPS RPPS RPPS/RGPS RGPS RGPS
PREVIDÊNCIA
UNIÃO, ESTADOS, DF E MUNICÍPIOS INSTITUIRÃO NOVO
REGIME JURÍDICO DE PESSOAL, ESTABELECENDO NOVOS
VÍNCULOS COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CARGO TÍPICO DE ESTADO CARGO DE
PRAZO PRAZO
VÍNCULO DE LIDERANÇA OU
INDETERMI- DETERMI-
EXPERIÊNCIA Após 3 anos ASSESSORA-
Até 3 anos NADO NADO
(estabilidade) MENTO

• Em razão de decisão
transitada em julgado ou
proferida por órgão judicial
• Lei disporá
colegiado;
• Pode
PERDA • Mediante avaliação periódica
ocorrer Ato do chefe de
DO • Lei de desempenho, na forma da Término do
Lei disporá durante cada Poder ou
CARGO disporá lei, assegurada a ampla contrato
todo o ente
defesa
período de
• Mediante processo
atividade
administrativo em que lhe
seja assegurada ampla defesa
(CF)
ATENÇÃO! É VEDADO O DESLIGAMENTO DOS SERVIDORES POR MOTIVAÇÃO POLÍTICO-PARTIDÁRIA.
VÍNCULO DE EXPERIÊNCIA

AUMENTO DA ROTATIVIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO

SEM FGTS E SEM SEGURO DESEMPREGO


VÍNCULO DE
EXPERIÊNCIA FRAGILIZA A CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS, POIS SÓ OS
“MAIS BEM AVALIADOS” PERMANECERÃO.

IMPLICA EM MAIORES DESPESAS COM TREINAMENTO


PROFISSIONAL COM A TROCA DE PROFISSIONAIS
CARGO TÍPICO DE ESTADO

Atualmente são: atividades de Fiscalização Agrária, Agropecuária, Tributária e


de Relação de Trabalho, Arrecadação, Finanças e Controle, Gestão Pública,
Comércio Exterior, Segurança Pública, Diplomacia, Advocacia Pública,
Defensoria Pública, Regulação, Política Monetária, Inteligência de Estado,
Planejamento e Orçamento Federal, Magistratura e o Ministério Público.
(Fonte: FONACATE)
CARGO TÍPICO DE
ESTADO
Os critérios para definição de cargos típicos de Estado serão
estabelecidos em LC federal

Somente para estes fica vedada a redução de jornada e de


remuneração;
VÍNCULO POR PRAZO DETERMINADO

I - necessidade temporária decorrente de calamidade, de


emergência, de paralisação de atividades essenciais ou de acúmulo
transitório de serviço;
Vínculo por
Prazo II - atividades, projetos ou necessidades de caráter temporário ou
Determinado sazonal, com indicação expressa da duração dos contratos; e

III - atividades ou procedimentos sob demanda.


CARGOS DE LIDERANÇA E ASSESSORAMENTO

Serão Destinados às atribuições estratégicas, gerenciais ou


técnicas

Ato do Chefe de cada Poder disporá sobre os critérios mínimos de


acesso e sua exoneração
Cargos de
Liderança e
Assessoramento Depois da entrada em vigor da EC: função de confiança, cargo em
comissão e gratificações de caráter não permanente já existentes
serão progressivamente substituídas
Fim da distinção entre cargos em comissão e funções de confiança. A
PEC retira a preferência dos servidores de carreira para ocupação deste
tipo de cargo.
VEDAÇÕES DE DIREITOS E GARANTIAS
A PEC 32/20 veda a concessão de direitos e garantias para os servidores
públicos:
adicionais por efeitos licenças decorrentes de
férias superior a trinta tempo de serviço,
tempo de retroativos de ressalvada licença para
dias;
serviço; reajustes; fins de capacitação;

redução de jornada sem adicional ou evolução na carreira


aposentadoria indenização por
redução de remuneração, baseada
compulsória como substituição,
exceto se decorrente de ressalvada a efetiva exclusivamente em
modalidade de punição;
limitação de saúde; substituição; tempo de serviço;

incorporação, total ou parcial, da


parcelas indenizatórias sem
remuneração de cargos ocupados
previsão de requisitos e
ao cargo efetivo ou emprego
valores em lei,
permanente
• EXCEÇÃO! Para os empregados públicos (trabalhadores nas empresas estatais e administração indireta) contratados antes da
entrada em vigor da emenda constitucional, desde que a lei específica que conceda o benefício esteja vigente em 1º de setembro de
2020.
NORMAS GERAIS – GOVERNO FEDERAL
Regulamentação do princípio da eficiência
Lei complementar federal disporá sobre normas gerais, enquanto isso, estados, DF e municípios
exercem competência plena para suas especificidades, depois, competência suplementar e suspensão
do que for contrário à lei federal, nos seguintes pontos:

III - ocupação de IV - organização


II - política
I - gestão de cargos de da força de
remuneratória e
pessoas; liderança e trabalho no
de benefícios;
assessoramento; serviço público;

VI - VII - duração máxima


V - progressão e da jornada para fins
desenvolvimento
promoção de acumulação de
e capacitação de atividades
funcionais;
servidores; remuneradas.

ATENÇÃO! LEI DISPORÁ SOBRE A GESTÃO DE DESEMPENHO (NÃO É LEI COMPLEMENTAR).


GOVERNANDO POR DECRETO
Caso não implicar em aumento de despesa, caberá privativamente
ao presidente da república, por meio de decreto:
extinção de cargos de Ministro de Estado, cargos em comissão, cargos de liderança e
assessoramento, funções de confiança e gratificações de caráter não permanente, ocupados ou
vagos

criação, fusão, transformação ou extinção de Ministérios e de órgãos diretamente subordinados


ao Presidente da República

extinção, transformação e fusão de entidades da administração pública autárquica e fundacional


,entre outros
PREVIDÊNCIA / APOSENTADOS
Os entes também poderão, por meio de lei complementar no prazo de 2 anos da entrada
da EC, vincularem os servidores com vínculo por prazo indeterminado, que ao Regime
Geral de Previdência Social – RGPS;

Menos servidores ingressando no serviço público vinculados ao Regime Próprio


inevitavelmente causará e/ou aumentará o déficit financeiro e atuarial;

O déficit repercutirá nos estados e municípios na contribuição previdenciária dos inativos,


por meio de contribuição extraordinárias e/ou diminuição da base de contribuição isenta.

Novas formas de contratação vão quebrar a referência da paridade garantida na reforma


da previdência de 2003 e de 2019, para quem ingressou antes de 2003.
ACUMULAÇÃO DE CARGOS

• Autorização para a acumulação de cargos, além dos já


permitidos, para todos os servidores que não sejam
enquadrados nos chamados cargos típicos de Estado. No caso
desses, mantém-se a possibilidade de acumulação de cargos de
docência ou de atividade própria de profissional da saúde;

• EXCEÇÃO! No caso de Municípios com menos de cem mil


eleitores, se houver lei municipal, a acumulação de cargos
públicos é permitida, inclusive para os cargos típicos de
Estado.
AFASTAMENTOS E LICENÇAS

• Afastamentos e as licenças não poderão ser considerados para fins de


percepção de remuneração de cargos ocupados de gratificação de
exercício, bônus, honorários, parcelas indenizatórias ou qualquer parcela
que não tenha caráter permanente;
• Exceções:
• I - ao afastamento por incapacidade temporária para o trabalho;
• II - às hipóteses de cessões ou requisições; e
• III - ao afastamento de pessoal a serviço do Governo brasileiro no
exterior sujeito a situações adversas no país onde desenvolva as suas
atividades.
TRABALHADORES NAS EMPRESAS ESTATAIS

• Empregados serão contratados como cargos de vínculos por prazo


indeterminado;

• Regras de admissão serão modificadas (vínculo de experiência com


avaliação e classificação posterior entre os mais bem avaliados);

• Proíbe o Estado de adotar medidas de reserva de mercado que impeçam a


livre concorrência. Com isso o monopólio sobre a exploração de recursos
naturais e a execução de serviços estratégicos pode ser revista, além de
limitar a atuação do Estado na economia;

• Considera nula a estabilidade por meio de negociação coletiva, ou seja,


limita o poder de barganha das entidades sindicais.
A REFORMA
ADMINISTRATIVA E A
SOCIEDADE
NEGOCIAÇÃO COLETIVA E ORGANIZAÇÃO
SINDICAL
Fragmentação da base sindical
Terceirização + instrumentos de cooperação + contratos atípicos +
substituição de grevistas

Pulveriza a representação

reduz a capacidade de ação coletiva

A experiência mostra que tem predominância de contratos de curto


prazo
-Sem data base Sindicatos fracos (Maior dificuldade de criação de uma identidade
e com direito a comum pressuposto para uma ação coletiva)
greve restritiva
PONTOS PARA O DEBATE

• A definição de novas regras de ingresso no serviço público significa, com


exceção das Carreiras típicas de Estado, que haverá outras formas de
ingresso diferentes da atual, que se dá somente via concurso público.
Ao retirar o concurso público como forma predominante de ingresso no
setor público, há sérias ameaças ao princípio da “impessoalidade”;

• Serviços públicos mais sujeitos à discricionaridade do Executivo, que


pode lotear o poder público com seus apadrinhados e retirar aqueles
que o criticam, em detrimento da qualidade e da continuidade do
serviço público. Isso pode levar a atração de profissionais menos
qualificados e menos compromissados levando a uma piora dos
serviços prestados.
PONTOS PARA O DEBATE

• A estabilidade – longe de ser um privilégio dos servidores –


garante a continuidade dos serviços públicos independente das
mudanças político-partidárias de governo;

• A retirada ou flexibilização deste estatuto da Constituição dá


margem para a corrupção, com utilização da máquina pública
para fins particulares, e não para o atendimento das demandas
sociais;
PONTOS PARA O DEBATE

• O papel subsidiário do Estado pode levar a uma série de privatizações


dos serviços até então considerados públicos. Os instrumentos de
cooperação permitem que os trabalhadores sejam contratados por
empresas privada para prestar serviços públicos, utilizando da
infraestrutura governamental, rompendo assim com a divisão entre o
público e o privado;

• Em diversos estados, a experiência com as Organizações Sociais (OSs),


por exemplo, muitas das quais cercadas de irregularidades e vultosos
desvios financeiros já comprovados, tem se mostrado pouco eficientes
com elevado custo ao erário, pouca (ou nenhuma) transparência, e
oferecendo um serviço de baixa qualidade para a população.
PONTOS PARA O DEBATE

• A proposta cria uma série de relações de trabalho precarizadas


entre a administração pública e os servidores em um contexto de
fragilização da própria CLT. Vale lembrar que o direito à negociação
coletiva no setor público até hoje não está regulamentada;

• Num país com baixos salários que vivencia uma precarização maior
das relações de trabalho. O acesso a serviços públicos gratuitos,
universais e de qualidade ficará cada vez mais restrito, em caso de
aprovação desta PEC;

• A reforma está sendo pensada em etapas. Quais as próximas


etapas ou quais os próximos passos em termos de legislação o
governo pode querer impor à sociedade?
Nº 254
6 de abril de 2021

Os efeitos da reforma administrativa


para a sociedade brasileira
Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade
brasileira

Introdução

A Proposta de Emenda à Constituição nº 32 (PEC 32/2020), que trata da chamada “reforma


administrativa”, pretende modificar a forma de funcionamento do Estado brasileiro por meio de
medidas que vão muito além das alterações para a contratação e demissão de servidores(as)
públicos(as). Isso porque os serviços prestados pelos governos aos cidadãos – muitos deles
consagrados como direitos, especialmente na Constituição de 1988 – podem ser profundamente
alterados. Caso a proposta seja aprovada, o acesso a muitos desses serviços será restringido e a
qualidade do serviço ofertado pode se deteriorar. O objetivo desta Nota Técnica é mostrar que a
proposta impacta não apenas a vida dos(as) servidores(as) e empregados(as) públicos(as), mas a de
todos(as) os(as) brasileiros(as).

Como o serviço público está presente no dia a dia dos(as)


brasileiros(as)?

A Constituição de 1988 consagra vários direitos que, para existirem na prática, precisam ser
efetivados por políticas públicas. Sem elas, tais direitos não poderiam ser acessados pelos(as)
brasileiros(as). Elas atuam em diversas etapas da vida de uma pessoa, do nascimento até a morte.
Dentre esses direitos, destacamos os chamados “direitos sociais”, que são a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância e a assistência aos(às) desamparados(as).

As políticas públicas relacionadas a esses direitos atingem todos(as) os(as) brasileiros(as), não
somente os(as) mais pobres. Aqueles(as) que usufruem de alguns desses direitos eventualmente por
meio de empresas privadas ainda assim são beneficiários(as) de políticas públicas.

Tomemos a educação como exemplo. Mesmo quem nunca estudou numa escola ou
universidade pública é alvo das políticas de educação. Isto porque as universidades públicas (federais

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


2
ou estaduais) respondem por mais de 95% da produção científica no Brasil1. São pesquisas nas mais
diversas áreas do conhecimento como medicina, agricultura, física e ciências do espaço, engenharias,
ciências humanas e sociais, que buscam compreender e solucionar problemas cotidianos.

No caso da saúde, mesmo quem tem plano de saúde é usuário do Sistema Único de Saúde –
SUS – ainda que não saiba disso. É que as ações do SUS vão muito além do atendimento em postos
de saúde e hospitais. Ações de vigilância sanitária e epidemiológica, saneamento básico,
desenvolvimento científico e tecnológico na área de saúde e até mesmo fiscalização e inspeção de
alimentos e de alguns medicamentos são atribuições do SUS. Desta forma, quando compramos
comida no mercado, quando alguma refeição é feita em um bar ou restaurante ou mesmo quando
utilizamos algum medicamento, estamos fazendo uso do SUS.

Em relação ao trabalho, há políticas públicas bastante conhecidas como o seguro-desemprego,


a intermediação de mão de obra e as políticas de qualificação profissional. Além dessas, o Estado,
por meio do investimento público, atua como fomentador da atividade econômica, exercendo papel
crucial na geração de empregos.

Essas e tantas outras políticas públicas, para existirem concretamente, são operacionalizadas
pelo Estado por meio de seus(uas) servidores(as). A pretexto de “modernizar” o funcionamento do
Estado brasileiro, a PEC 32/2020 torna as contratações do setor público mais parecidas com as do
setor privado, desconsiderando as peculiaridades e até mesmo a importância do serviço público, o
que traz efeitos não somente para os(as) servidores(as), mas para todos(as) os(as) brasileiros(as), na
medida em que acessam – ou deixam de acessar – organizações públicas para a garantia de seus
direitos.

Servidores(as) públicos(as) e dinamismo das economias locais

Como dito anteriormente, a reforma administrativa proposta no governo Bolsonaro fragiliza


os vínculos dos(as) trabalhadores(as) com a administração pública. Isso implica em pelo menos duas
consequências: postos de trabalho menos estáveis e menores patamares salariais. Ainda pouco
discutida e relacionada a essas duas consequências, há ainda a questão da importância do serviço
público para as economias locais.

1
Research in Brazil. A report for CAPES by Clarivate Analytics – 2017. Disponível em
http://www.sibi.usp.br/wp-content/uploads/2018/01/Relat%C3%B3rio-Clarivate-Capes-InCites-Brasil-
2018.pdf
Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira
3
De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da
Economia, no ano de 2019, em 38% dos municípios brasileiros, a administração pública tinha
participação de 50% ou mais no total dos empregos formais (Tabela 1). Isso implica em que as
demandas geradas a partir das remunerações desses(as) servidores(as) e dos próprios órgãos e
instituições públicas locais são cruciais para a movimentação de recursos, sobretudo em setores como
o Comércio e os Serviços. Reduzir os patamares salariais e mesmo reduzir o contingente de pessoal
no serviço público, sem qualquer alternativa de política econômica, pode ser problemático para a
sustentação das economias locais, em especial nos municípios com atividade econômica menos
diversificada.

TABELA 1
Distribuição dos municípios brasileiros por participação dos empregos
na Administração Pública em relação ao total de empregos formais
Brasil, 2019

Participação dos nº
% do total
empregos na Adm. nº de acumulado
de % acum.
Pública em relação ao municípios de
municípios
total municípios
Menos de 10% 384 384 6,9% 6,9%
10% a 30% 1.887 2.271 33,9% 40,8%
30% a 50% 1.196 3.467 21,5% 62,2%
50% a 70% 911 4.378 16,4% 78,6%
Mais de 70% 1.192 5.570 21,4% 100,0%
Total 5.570 - 100% -

Fonte: Ministério da Economia. Rais 2019.


Elaboração: DIEESE.

Como os efeitos para o serviço público e para o(a) servidor(a) atingem


os demais cidadãos brasileiros?

Diante das medidas contidas na PEC 32/20202 destacamos, a seguir, algumas daquelas que
podem afetar – para pior – o acesso dos(as) cidadãos(ãs) e a qualidade do serviço público e os motivos
para isso acontecer.

2
Para maior aprofundamento dos efeitos para os servidores públicos ver as Notas Técnicas do DIEESE nº
247 - Impactos da reforma administrativa sobre os atuais servidores públicos e nº 250 - Os novos vínculos de
contratação no serviço público propostos na PEC 32/2020, disponíveis nos endereços
https://www.dieese.org.br/notatecnica/2020/notaTEc247reformaAdministrativa.pdf e
https://www.dieese.org.br/notatecnica/2021/notaTec250reformaAdministrativa.pdf

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


4
I. Flexibilização da estabilidade

A proposta de reforma administrativa em curso prevê que a estabilidade seja restrita a


alguns(mas) servidores(as) públicos(as) – os(as) ocupantes dos chamados cargos típicos de Estado3.
A proposta do governo prevê que “atividades contínuas, que não sejam típicas de Estado, abrangendo
atividades técnicas, administrativas ou especializadas e que envolvem maior contingente de pessoas”
sejam contratos por prazo indeterminado. Para os(as) contratados(as) por prazo indeterminado,
conforme a redação da PEC 32/2020, não haverá estabilidade em qualquer período da sua vida laboral
no serviço público.
Para Lopez e Silva (2020) “Aumentar a estabilidade no exercício do cargo dirigente reduz
as rupturas nas rotinas decisórias, as quais dissipam recursos públicos e reduzem a eficiência do ciclo
das políticas” (p.7).
Nesse sentido, reduzir a estabilidade pode implicar em descontinuidade da prestação do
serviço público, perda da memória técnica, dificuldade de planejamento a longo prazo, rompimento
do fluxo de informações e, não menos importante, estímulo à patronagem política, ou seja, o uso
indevido do poder político para fins particulares eleitoreiros e não para fins de interesse público
(Lopez e Silva, 2020).

II. Criação do vínculo de experiência

Uma das novas formas de contratação de pessoal para a administração pública previstas na
PEC 32/2020 é o vínculo de experiência. Após classificação em concurso público, o(a) servidor(a)
passaria por mais uma etapa de avaliação, que seria esse contrato de trabalho de experiência (não
estável). A efetivação no posto de trabalho dependerá, caso aprovada a proposta, da “classificação
final dentro do quantitativo previsto no edital do concurso público, entre os mais bem avaliados ao
final do período do vínculo de experiência”.

3
Atualmente as chamadas Carreiras Típicas de Estado são aquelas que não têm correspondência no setor
privado. Não há uma definição explícita, mas de acordo com o Fórum Nacional Permanente de Carreiras
Típicas de Estado (FONACATE) enquadram-se as atividades de Fiscalização Agrária, Agropecuária,
Tributária e de Relação de Trabalho, Arrecadação, Finanças e Controle, Gestão Pública, Comércio Exterior,
Segurança Pública, Diplomacia, Advocacia Pública, Defensoria Pública, Regulação, Política Monetária,
Inteligência de Estado, Planejamento e Orçamento Federal, Magistratura e o Ministério Público. Não há
qualquer indicação na atual proposta de reforma administrativa sobre se os Cargos Típicos de Estado serão
correspondentes a essas atividades ou se haverá alterações. De acordo com a PEC 32/2020, os critérios para
definição de cargos típicos de Estado serão estabelecidos em lei complementar federal.

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


5
A depender de como seja feita essa avaliação, pode-se criar um instrumento de seleção e
contratação no serviço público baseado na pessoalidade (ao contrário do que determina a
Constituição) e nas arbitrariedades de chefias e gestores(as). Trata-se de uma proposta que não
necessariamente contribui para melhoria na seleção de servidores(as), ignorando que o Estado
brasileiro já possui mecanismo para garantir a qualidade do seu quadro de recém-contratados(as): o
estágio probatório.
Além disso, essa medida aumenta a rotatividade de pessoal no serviço público o que, além
de implicar em perda de acúmulo ou memória institucional, pode resultar em desperdício de recursos
públicos com treinamento e formação de trabalhadores(as), que não continuarão no cargo em questão.

III. Cargos de liderança e assessoramento

A principal forma de acesso a um cargo público atualmente é o concurso público. Essa regra,
todavia, tem algumas exceções, como é o caso dos cargos em comissão, chamados de livre nomeação
e livre exoneração4. São assim chamados porque são providos exclusivamente mediante indicação,
ou seja, qualquer pessoa – servidor(a) público(a) ou não – pode ser nomeada para exercer um cargo
em comissão. Ainda assim, existem regras específicas a serem observadas.
Além dos cargos em comissão, há ainda as funções de confiança que também são decorrentes
de indicação e exercidas pelo quadro de servidores(as) efetivos(as), sem alterar a estrutura da
Administração Pública, conforme o inciso V do art. 37 da Constituição.
O mesmo dispositivo constitucional determina que um percentual mínimo de cargos em
comissão seja ocupado por servidores(as) de carreira. Tanto as funções de confiança quanto os cargos
em comissão devem ser limitados às atribuições de direção, chefia e assessoramento.
A PEC 32 prevê o fim da distinção entre cargos em comissão e funções de confiança e a
substituição gradual desses vínculos pelos chamados cargos de liderança a assessoramento5.
Conforme a Exposição de Motivos da PEC, o “cargo de liderança e assessoramento
corresponderá não apenas aos atuais cargos em comissão e funções de confiança, mas também a
outras posições que justifiquem a criação de um posto de trabalho específico com atribuições

4
Outra exceção são os Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias, admitidos pelos
gestores locais do SUS por intermédio de processo seletivo público e não concurso público obrigatoriamente.
5
As gratificações de caráter não permanente também serão substituídas pelos cargos de liderança e
assessoramento, caso o texto seja aprovado na forma atual.

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


6
estratégicas, gerenciais ou técnicas” (p. 13). Os percentuais máximos para esse tipo de cargo seriam
definidos em lei complementar a ser editada.
Ressalvamos que a inclusão de atribuições gerenciais ou técnicas para os cargos de livre
provimento abre um flanco para serviços públicos mais sujeitos à discricionariedade do governo de
plantão, que pode lotear o poder público com seus apadrinhados e retirar aqueles(as) que o criticam,
em detrimento da qualidade e da continuidade do serviço público. Isso pode levar à atração de
profissionais menos qualificados(as) e menos compromissados(as), levando a uma piora dos serviços
prestados aos(às) cidadãos(ãs).

IV. Instrumentos de cooperação - Permite contratos de cooperação entre o poder


público e a iniciativa privada, que estará autorizada a executar serviços públicos e
usufruir de estruturas, ainda que não exista contrapartida ao ente público.

A PEC 32/2020 aprofunda a transferência de atividades públicas para o setor privado. Até o
presente momento é permitido à administração pública firmar contratos ou outros instrumentos para
o desempenho de atividades públicas de natureza social não exclusivas de Estado. Exemplos desses
contratos são aqueles firmados com Organizações Sociais - OS - e Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público – OSCIP. Todavia, de modo geral, essas organizações são instituições privadas
sem fins lucrativos.
Assim, a proposta dos instrumentos de cooperação avança na privatização de serviços
públicos, na medida em que a PEC excetua apenas as atividades privativas de cargos típicos de Estado
da adoção desse tipo de contrato e todos os outros serviços públicos poderão ser objeto desses
instrumentos. Abre-se o caminho para que organizações e empresas privadas – com fins lucrativos,
inclusive – disputem recursos públicos ao ofertarem esses serviços.
A PEC 32/2020 posterga a definição de regras dos instrumentos de cooperação para lei
federal a ser editada, mas autoriza que estados, o Distrito Federal e municípios estabeleçam regras
locais, que podem ser alteradas em caso de conflitos com a legislação federal. O texto não explicita,
por exemplo, se, em caso de instrumentos de cooperação com empresas, estas poderão cobrar tarifas
dos(as) usuários(as). Se este for o caso, é possível que o acesso a serviços públicos fique cada vez
mais restrito. Num país com baixos salários, que vivencia uma precarização maior das relações de
trabalho, faz-se cada vez mais necessário permitir serviços públicos gratuitos, universais e de
qualidade e não os restringir em razão das possibilidades financeiras de quem puder ou não pagar.

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


7
Entretanto, mesmo sem regras claras e explícitas, a proposta ousa ao definir que qualquer
estrutura pertencente ao Estado poderá ser usufruída por agentes privados sem contrapartida
financeira, ou seja, gerando ônus ao órgão público. Dessa forma, é possível inserir trabalhadores(as)
contratados(as) por organizações privadas para prestar serviços públicos, utilizando-se a
infraestrutura governamental, rompendo, assim, com a divisão entre o público e o privado.
Não há qualquer garantia de que isso implique numa melhora dos serviços públicos, mesmo
porque a empresa privada tem como objetivo final a obtenção de lucro e não a política pública em si.
As experiências com as OSs, sobretudo na área de saúde nos estados e municípios, colocam dúvidas
quanto à eficiência desse tipo de delegação, muitas vezes com elevado custo ao erário, pouca ou
nenhuma transparência, e oferta de serviços de baixa qualidade à população. Aprofundar e ampliar
esse modelo de prestação de serviços, muitas das vezes envoltos em irregularidades e desvios
financeiros, parece um caminho que privilegia alguns poucos interesses particulares em detrimento
do interesse público.

V. Confere à Presidência da República o poder de criar, transformar e extinguir


cargos comissionados, de liderança e assessoramento; criar, fundir, transformar ou
extinguir ministérios, órgãos, autarquias e fundações por meio de decreto

Não menos importante é a proposta de concentração de poderes em torno do chefe do Poder


Executivo da União. A proposta prevê que, caso não implique em aumento de despesa, o Presidente
da República poderá - por meio de decreto - alterar a organização e atuação da Administração Pública
nos seguintes aspectos:
(a) extinguir cargos de Ministro de Estado, cargos comissionados, cargos de
liderança e assessoramento e funções, ocupados ou vagos;
(b) criar, fundir, transformar ou extinguir Ministérios e órgãos diretamente
subordinados ao Presidente da República;
(c) extinguir, transformar e fundir entidades da administração pública autárquica e
fundacional;
(d) transformar cargos efetivos vagos e cargos de Ministro de Estado, comissionados
e de liderança e assessoramento, funções de confiança e gratificações de caráter não
permanente vagos ou ocupados, desde que não acarrete aumento de despesas e seja
mantida a mesma natureza do vínculo; e
(e) alterar e reorganizar cargos públicos efetivos do Poder Executivo federal e suas
atribuições, desde que não implique alteração ou supressão da estrutura da carreira,
alteração da remuneração, modificação dos requisitos de ingresso no cargo ou da
Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira
8
natureza do vínculo, restrita, para os cargos típicos de Estado, transformação de
cargos vagos apenas no âmbito da mesma carreira.

A título de exemplo, poderiam ser extintos, transformados ou fundidos ministérios, como a


Controladoria-Geral da União (responsável por atividades de controle, auditoria e combate à
corrupção)6; autarquias, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e o Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a depender da conveniência presidencial
ou mesmo de eventuais indisposições e enfrentamentos de seus gestores com o chefe do Executivo
federal.
Parte dessas atribuições pertence hoje ao Poder Legislativo, ou seja, à Câmara de Deputados
e ao Senado Federal. Essa proposta implica numa concentração de poderes na figura do Presidente, o
que atenta contra a divisão entre os Poderes, além de abrir espaço para medidas pouco democráticas,
uma vez que não haverá necessidade de diálogo com as instâncias representativas ou mesmo com a
própria população, de forma mais direta.
O quadro a seguir sintetiza os efeitos possíveis para os(as) cidadãos(ãs) brasileiros(as) dessas
propostas de uma “nova administração pública”. Cumpre ressaltar que esta Nota não tem o objetivo
de ser exaustiva nesse assunto e que outras consequências relacionadas a outras propostas também
podem e devem ser discutidas pelo conjunto da sociedade brasileira.

QUADRO 1
Efeitos da reforma administrativa conforme a PEC 32/2020 para o serviço público e o(a)
servidor(a) e possíveis rebatimentos para os(as) demais brasileiros(as)

EFEITOS DIRETOS
PARA O SERVIÇO EFEITOS PARA OS(AS) BRASILEIROS(AS)
PÚBLICO
Contratos menos
Economias locais podem ser prejudicadas. Em 37,8% dos municípios
estáveis, combinados
brasileiros, a administração pública tinha participação de 50% ou mais no total
com patamares
dos empregos formais, no ano de 2019. Impacto na renda de aposentados(as)
remuneratórios
e pensionistas dessas localidades.
reduzidos
Descontinuidade, perda da memória técnica, dificuldade de planejamento a
Flexibilização da
longo prazo, rompimento do fluxo de informações, estímulo a relações de
estabilidade
patrimonialismo (interesse particular acima do interesse público), redução da
qualidade do serviço público.

6
Atualmente, a CGU é um Ministério, conforme a Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019.
Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira
9
Aumento da rotatividade no serviço público, com consequente desperdício de
Criação do vínculo de recursos com treinamento e qualificação. Além disso, pode tornar a seleção de
experiência pessoas menos impessoal e criteriosa, privilegiando apadrinhados(as)
políticos(as).
Ampliação da livre
Uso político da máquina pública (aumento do patrimonialismo e coronelismo).
nomeação para os
Empregados(as) preocupados(as) em agradar o chefe e não com o cidadão alvo
cargos de liderança e
da política pública. Perda de capacidade técnica com seleções menos
assessoramento (fora
criteriosas.
da carreira, inclusive)
Uso privado dos recursos e da infraestrutura públicos. Além disso, não é garantia
automática de incremento na eficácia e eficiência dos serviços, ao contrário, uma
Instrumentos de vez que permite a celebração de instrumentos com organizações com fins
cooperação lucrativos, cujo objetivo não é a política em si, mas a obtenção de lucro. Falta de
transparência e dificuldade do controle social.

Reorganização do serviço público pode confundir o(a) cidadão(ã). Concentração


“Super poderes”
do poder de decisão nas mãos do Poder Executivo pode levar a medidas
presidenciais
autoritárias.

Conclusão

De forma resumida, pode-se dizer que boa parte da proposta de reforma da Administração
Pública contida na PEC 32/2020 consiste em retirar a primazia do concurso público como instrumento
de seleção de pessoal, enfraquecer e/ou eliminar a estabilidade dos(as) servidores(as) civis
estatutários(as) e reduzir os patamares salariais, além de transferir atividades públicas para a iniciativa
privada e dar amplos poderes ao presidente da República para reorganizar o funcionamento do Estado
de forma arbitrária e sem qualquer discussão com o Congresso Nacional e com a sociedade.
Isso pode ensejar maneiras de efetivação da corrupção e o fomento da arbitrariedade de
agentes privados no âmbito do Estado. Logo, a proposta de reforma administrativa não se restringe
aos(às) servidores(as) públicos(as), embora este seja praticamente o único aspecto tratado pela
imprensa. Se aprovada, tal reforma beneficiará interesses econômicos privados em detrimento do bem
da coletividade, desprotegendo ainda mais a população pobre e a classe média.
A proposta de reforma administrativa ataca conquistas democráticas e pactos sociais
construídos desde a redemocratização. Seus efeitos, portanto, estão relacionados ao aprofundamento
das desigualdades sociais e ao esgarçamento do tecido social. As consequências de uma eventual
aprovação da PEC 32/2020 serão sentidas não apenas pelos(as) servidores(as) públicos(as), mas por
todos(as) os(as) brasileiros(as), uma vez que todos(as) – sem exceção – se utilizam do serviço público.

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


10
Referências bibliográficas

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outubro de 1988. Disponível em:
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civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Brasília, DF, 1990. Disponível em:
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SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre , n. 16, p.
20-45, dez. 2006.

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


11
Escritório Nacional: Rua Aurora, 957 – 1º andar
CEP 05001-900 São Paulo, SP
Telefone (11) 3874-5366 / fax (11) 3874-5394
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Presidente - Maria Aparecida Faria


Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo – SP
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Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Máquinas Mecânicas de Material Elétrico de Veículos e Peças
Automotivas da Grande Curitiba - PR
Diretor Executivo - Alex Sandro Ferreira da Silva
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de Osasco e Região - SP
Diretor Executivo - Antônio Francisco da Silva
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Materiais Elétricos de Guarulhos Arujá Mairiporã e Santa
Isabel - SP
Diretor Executivo - Bernardino Jesus de Brito
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de São Paulo – SP
Diretora Executiva - Elna Maria de Barros Melo
Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Estado de Pernambuco - PE
Diretora Executiva - Mara Luzia Feltes
Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramentos Perícias Informações Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande
do Sul - RS
Diretora Executiva - Maria Rosani Gregorutti Akiyama Hashizumi
Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de São Paulo Osasco e Região - SP
Diretor Executivo - Nelsi Rodrigues da Silva
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC - SP
Diretor Executivo - Paulo de Tarso Guedes de Brito Costa
Sindicato dos Eletricitários da Bahia - BA
Diretor Executivo - Sales José da Silva
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo Mogi das Cruzes e Região - SP
Diretora Executiva - Zenaide Honório
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – SP

Direção Técnica
Fausto Augusto Júnior – Diretor Técnico
José Silvestre Prado de Oliveira – Diretor Adjunto
Patrícia Pelatieri – Diretora Adjunta

Equipe técnica
Ana Paula Mondadore
Carolina Gagliano
José Álvaro Cardoso
Ricardo Tamashiro
Tamara Siemann Lopes
Thiago Rodarte

Revisão final
Carlindo Rodrigues de Oliveira

Os efeitos da reforma administrativa para a sociedade brasileira


12
SUBSEÇÃO DIEESE-
CONDSEF/FENADSEF
Setor Bancário Sul – Quadra 1 – Bloco K –
Salas 308/314. Edifício Seguradoras. Asa
Sul – Brasília/DF
CEP: 70.093-900
E-mail: sucondsef@dieese.org.br
Telefone / Fax (0xx61) 3031-4211

Relatório 401:

Relatório de acompanhamento da PEC 32

06 de agosto de 2021

1
Este relatório foi elaborado pela Subseção do DIEESE na CONDSEF/FENADSEF (Confederação dos Trabalhadores
no Serviço Público Federal) para subsidiar as discussões da Direção Executiva e suas entidades filiadas em relação
aos trâmites da PEC 32.
1 – Modificações em relação ao relatório anterior (relatório 39)

O relatório de hoje traz as seguintes informações adicionais em


relação ao relatório anterior:

 No “item 2 – Informações sobre a PEC 32” – o relatório traz 7


informações, com destaque para: - Informação 01 – Especialistas
afirmam que reforma administrativa não prioriza desempenho do
serviço público. Informação 02 – Entidades entregam manifesto a Lira
contra reforma administrativa.

 No “item 4 – tramitação detalhada” – são apresentadas as tramitações


relativas aos dias 03/08 e 04/08, com destaque para o fato de que já
foram apresentados 117 Requerimentos para realização de
Audiências Públicas e vários Requerimentos já foram aprovados.

 No “item 6 – Enquete da PEC 32”, pois são apresentados os dados


até 03 de agosto da enquete relativa à PEC.

 No “item 7 - Acesso às reuniões ocorridas na CCJ e na COMISSÃO


ESPECIAL, foi inserido o LINK que dá acesso às transmissões das
reuniões e Audiências Públicas ocorridas na Comissão Especial.

 Foi acrescido a esse Relatório da PEC 32, o item 8 – Acesso aos


documentos e apresentações ocorridas nas reuniões da Comissão
Especial, inclusive com as apresentações do dia 04 de agosto.

 No item 9 – Agenda do dia, previsão de audiência pública sobre o


tema: Avaliação de Desempenho e Qualificação de Servidores
Públicos. Segundo o Plano de Trabalho da Comissão, as
atividades foram reiniciadas a partir de 03 de agosto, com
previsões de atividades até o dia 19 de agosto.

2 – Informações sobre a PEC 32

Informação 01 – Especialistas afirmam que reforma administrativa não


prioriza desempenho do serviço público

Avaliações individuais de servidores não vão garantir melhoria do serviço público,


segundo especialistas ouvidos pela comissão

05/08/2021 - 15:38

2
Especialistas ouvidos nesta quinta-feira (5) pela comissão especial que analisa a reforma
administrativa (PEC 32/2020) afirmaram que a proposta mira a avaliação dos servidores de
maneira individual e não o desempenho do serviço público. Como a PEC também abre espaço para
que pessoas de fora do serviço público atuem como gestores públicos, os mesmos especialistas
acreditam que a situação é agravada, porque as metas poderão mudar de maneira aleatória.

O presidente da Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de


Contas do Brasil, Ismar Viana, disse que há o risco de o servidor ser culpado pela falta de condições
de trabalho caso a avaliação fique focada apenas no desempenho do indivíduo. Viana disse que é
fundamental que a gestão tenha objetivos claros para que metas possam ser cobradas.

Ele também acredita que ao incentivar a livre indicação para cargos públicos, a proposta
de reforma administrativa vai induzir à rotatividade no serviço público. “Ela vai de alguma forma
impulsionar também o amadorismo, o despreparo na prestação do serviço público. Isso na
contramão daquilo que se quer hoje, que são decisões pautadas em dados e evidências. Como eu
vou conseguir dados com agentes públicos sem qualificação alguma? Então, eu vou acabar
impulsionando decisões aleatórias”, avalia.

Ismar Viana argumentou ainda que a nova Lei de Licitações e a Lei do Governo Digital se
baseiam em ambientes íntegros e confiáveis no serviço público e em corpos técnicos permanentes,
tudo com o objetivo de evitar a corrupção.

Também o professor da Fundação Dom Cabral, Humberto Martins disse que é importante
ter líderes comprometidos com o serviço público para que a gestão funcione. “A PEC está muito
focada em gestão de pessoas e o faz também de uma maneira razoavelmente reducionista. É
preciso tratar a gestão de desempenho, que é mais ampla”, defendeu.

Resultados

Para o coordenador da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e


Ministério Público da União, Fernando Freitas, a reforma administrativa proposta pelo governo
tem foco no ajuste fiscal, na possibilidade de demitir servidores e reduzir salários; o que, segundo
ele, não deveria ser o objetivo principal. Ele lembrou que a Constituição já prevê lei complementar
para a avaliação dos servidores e que vários entes federativos já fazem essa avaliação.

Professora da Fundação Dom Cabral, Renata Vilhena afirmou, porém, que as avaliações
atuais não funcionam. “O que é feito hoje é um processo de avaliação de desempenho, um processo
burocrático no qual a maioria das pessoas recebe nota máxima. Um processo que não mede se as
pessoas realmente estão desempenhando bem as sua tarefas”, disse.

Renata defendeu a reforma no sentido de melhorar a cobrança de resultados pelos


servidores. Segundo ela, a remuneração deveria ser variável conforme estes resultados.

O deputado Rogerio Correia (PT-MG) lamentou que a proposta não fale em qualificação
do servidor. Ele também criticou a regulamentação da avaliação de desempenho por lei ordinária,
em vez de lei complementar. "O governo poderá editar uma medida provisória que vai permitir a
estados, municípios e União demissão em massa e a substituição por servidores que serão não
estáveis”, alertou.

O deputado Professor Israel Batista (PV-DF) informou que o Tribunal de Contas da União
deu 15 dias de prazo para que o governo divulgue os estudos que embasaram a reforma

3
administrativa. O deputado disse que o governo já divulgou cálculos de uma economia de R$ 300
bilhões em dez anos com a reforma e, em seguida, o número mudou para R$ 816 bilhões.

Reportagem - Sílvia Mugnatto - Edição - Geórgia Moraes

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/790205-especialistas-


afirmam-que-reforma-administrativa-nao-prioriza-desempenho-do-servico-publico/)

Informação 02 – Entidades entregam manifesto a Lira contra reforma


administrativa

O assunto está sendo discutido em comissão especial na Câmara dos Deputados

05/08/2021 - 15:21

A coordenadora da frente, Alice Portugal, diz que proposta ataca servidor

Entidades ligadas ao serviço público entregaram nesta quarta-feira (4) ao presidente da


Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), manifesto contrário à reforma administrativa (PEC
32/20). Eles defendem a retirada do texto para que uma nova proposta possa ser discutida com
mais participação dos servidores públicos.

Lira afirmou que o objetivo da PEC é redesenhar o Estado brasileiro para avaliar o serviço
público e não o servidor. “Sob a minha presidência, não vamos permitir que nenhum direito
adquirido seja prejudicado ou atingido, tenho dito isso em todas as entrevistas que dou. Quando se
fala que minha categoria vai sofrer, não vai. Não vamos comentar as versões”, afirmou.

Na opinião da coordenadora da Frente Parlamentar Mista do Serviço Público, deputada


Alice Portugal (PCdoB-BA), no entanto, a reforma ataca o servidor e prejudica os mais pobres que
precisam do serviço publico. "O ideal é que outro texto pudesse ser construído a muitas mãos, para
desenhar, de fato, o estado brasileiro”, afirmou a parlamentar.

O deputado Rogério Correia (PT-MG), que também integra a frente, afirmou que o objetivo
da reforma é privatizar o serviço público e cobrou o impacto das mudanças na saúde, educação e
segurança públicas.

“O centro do modelo é fazer cooperação com entidades privadas, tem que saber se esse
modelo funcionou em outros lugares. Queremos que o [ministro] Paulo Guedes nos desse
explicação”, cobrou Correia.

Representante da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) no encontro, Antonio


Augusto afirmou que o objetivo do documento entregue a Lira é mostrar a necessidade de um
amplo debate sobre a proposta.

“Na pandemia, vimos a importância dos serviços públicos para se superar os momentos de
crise. Temos convicção que esse texto da PEC fragiliza as carreiras e a prestação de serviço”, disse.

Eduardo Maia, da Nova Central, também afirmou que a reforma administrativa precariza
os servidores e vai gerar uma fragilização da prestação do serviço. “Queremos mais participação.
Os servidores não foram ouvidos no texto”, criticou Maia.

4
Na comissão especial

A reforma administrativa está sendo discutida por uma comissão especial na Câmara e Lira
já afirmou que quer votar a proposta no Plenário ainda neste mês.

 Entenda a proposta do governo para a reforma administrativa

Ontem, deputados da oposição pediram ao relator da proposta, deputado Arthur Oliveira


Maia (DEM-BA), que sejam retirados do texto os dispositivos que permitem a ampliação de
contratos temporários e cargos em comissão. E, na terça, representantes de servidores públicos de
diferentes carreiras ouvidos pela comissão afirmaram que temem demissões e pressão política
com os novos regimes de contratação definidos pela PEC.

 Saiba mais sobre a tramitação de propostas de emenda à Constituição

Reportagem – Luiz Gustavo Xavier - Edição - Natalia Doederlein

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/790210-


entidades-entregam-manifesto-a-lira-contra-reforma-administrativa/ )

Informação 03 – Plenário discute projeto que permite a desestatização


dos Correios; acompanhe
05/08/2021 - 11:37

O Plenário da Câmara dos Deputados iniciou a Ordem do Dia da sessão desta quinta-feira
(5) com a discussão do Projeto de Lei 591/21, do Poder Executivo, que permite à iniciativa privada
explorar serviços postais. O relatório do deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA) recomenda a
aprovação de substitutivo, que prevê, entre outros pontos:

- garante estabilidade de 18 meses para funcionários após a desestatização dos Correios;


- oferece exclusividade de cinco anos na operação de serviços postais para empresa que arrematar
a estatal;

- proíbe o fechamento de agências que garantem serviço postal universal em áreas remotas;

- mantém a empresa unificada, evitando a desestatização dos serviços postais por regiões.

Assista à sessão ao vivo

Antes do início da Ordem do Dia, vários deputados da oposição já manifestaram ser


contrários à votação da proposta. O deputado Rogério Correia (PT-MG) acusa o governo de
entregar os Correios para o capital financeiro internacional. "Os Correios são uma empresa
lucrativa. E por que o governo quer vender? Para que algum amigo do rei ganhe, e passe a ganhar
dinheiro, cobrando caro os serviços que são prestados por uma empresa estratégica", atacou.

Já o relator defende que a desestatização dos Correios é urgente para permitir investimentos
na modernização e digitalização do setor postal. "Apesar da estrutura organizacional existente, do
ponto de vista da qualidade dos serviços postais, a ECT não tem tido uma boa performance, e vem
perdendo a aprovação do povo brasileiro. Na verdade, a empresa carece de agilidade, de eficiência,
de investimentos e de um planejamento de futuro", analisou Gil Cutrim.

5
Os Correios contam com uma força de trabalho de 99.443 empregados e uma frota com 10
aeronaves terceirizadas, 781 veículos terceirizados e 23.422 veículos próprios, entre caminhões,
furgões e motocicletas.

Pauta

A pauta do Plenário ainda inclui as Medidas Provisórias 1040/21, que elimina exigências
e simplifica a abertura e o funcionamento de empresas; e 1042/21, que reformula a estrutura de
cargos em comissão e funções de confiança no âmbito do Executivo, autarquias e fundações.

Ainda há outros 23 requerimentos de urgência e projetos sobre temas diferentes.

Reportagem - Francisco Brandão - Edição - Wilson Silveira

Tempo real:

 18:38 - Plenário analisa MP que simplifica a abertura de empresas


 16:14 - Aprovado texto-base de projeto que autoriza setor privado a explorar serviços
postais
 14:28 - Eficiência dos Correios gera polêmica no debate sobre desestatização;
acompanhe
 13:00 - Relator defende desestatização dos Correios para aumentar investimentos;
acompanhe
 12:21 - Deputado questiona constitucionalidade de desestatização dos Correios;
acompanhe

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/790016-plenario-discute-


projeto-que-permite-a-desestatizacao-dos-correios-acompanhe/ )

Informação 04 – Lira espera votar reforma administrativa até o final de


agosto

Presidente da Câmara voltou a dizer que a proposta não vai atacar direitos
adquiridos

03/08/2021 - 10:39 • Atualizado em 03/08/2021 - 11:00

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta terça-feira (3)
que espera votar a reforma administrativa (PEC 32/20) no Plenário da Casa até o final de agosto.
Segundo ele, o texto vem sendo debatido de forma transparente com todos os parlamentares.

Lira lembrou que, no mês passado, a Câmara aprovou a proposta que limita os chamados
supersalários como um pré-requisito para dar prosseguimento à aprovação da reforma
administrativa.

O presidente da Câmara voltou a dizer que a proposta não vai atacar direitos adquiridos.
“A reforma visa dar uma melhor condição de serviços do Estado e torná-lo mais leve e previsível,
e que os investidores nacionais e internacionais saibam que os gastos serão contidos e vamos
analisar os serviços, não o servidor. Não vamos atacar qualquer direito adquirido", garantiu o
presidente, afirmando que as mudanças trarão "um Estado mais ágil com regras mais modernas”.

6
Lira destacou ainda que, apesar de o calendário da reforma ser curto, em razão das eleições
no ano que vem, a proposta pode ser aprovada até novembro pelas duas Casas do Legislativo.
Segundo ele, depois de novembro, o Congresso vai discutir o Orçamento e entrar em recesso no
fim do ano e, quando retornar, vai encontrar um País polarizado em razão da disputa eleitoral.

“Temos a obrigação de entregar as matérias estruturantes para o País até novembro, e


depois com Orçamento, recesso, eleição, fica complicado, pois os interesses políticos se
sobressairão”, ressaltou.

Judiciário

O presidente foi questionado ainda sobre a inclusão do Judiciário na reforma


administrativa. Segundo Lira, é preciso que o Poder Judiciário encaminhe sua proposta para não
correr o risco de extrapolar limites constitucionais. Arthur Lira disse ainda que, embora o lobby
das categorias do funcionalismo público seja forte, “não é mais forte do que os fatos”.

Para o relator, Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), negar a necessidade da reforma é negar
que tenha havido mudanças tecnológicas na administração pública e desconhecer que a população
não aprova os serviços públicos prestados a ela. Ele ressaltou que a estabilidade dos atuais
servidores vai ser tratada de forma responsável pela comissão.

“Não queremos punir ninguém, mas podemos fazer uma equiparação entre o trabalho do
serviço público e do serviço privado. Não há por que alguns terem direito de viver no mundo da
fantasia e outros em outro mundo”, disse.

O presidente da CNI, Robson Andrade, ressaltou a importância da reforma administrativa


para sinalizar para os investidores que o País vai avançar na eficiência dos serviços públicos e do
equilíbrio fiscal, sobretudo, com um Congresso reformista.

“Precisamos adequar o Brasil às condições de outros países membros da OCDE, que são
países que têm um sistema administrativo muito bem estruturado, com custos adequados e o
retorno dos serviços para população”, disse Andrade.

O representante do Ministério da Economia Caio Paes de Andrade disse que a


administração pública precisa da prerrogativa de avaliar os servidores e valorizar o bom
funcionário. Segundo ele, atualmente, o servidor público tem uma avaliação mal feita e superficial.

“Hoje, cada servidor representa um compromisso financeiro para o contribuinte que dura
59 anos (serviço, aposentadoria e pensão). Passou no concurso público, 59 anos estável. Isso faz
sentido?”, questionou Andrade.

Reportagem – Luiz Gustavo Xavier -Edição - Natalia Doederlein

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/788961-lira-


espera-votar-reforma-administrativa-ate-o-final-de-agosto/ )

7
Informação 05 – Comissão da Reforma Administrativa discute regras
para contratações temporárias
04/08/2021 - 08:37

A comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a proposta de reforma


administrativa (PEC 32/20) realiza nova audiência pública nesta quarta-feira (4) para discutir o
preenchimento de cargos em comissão e funções de confiança e a contratação temporária de
servidores.

Conheça a proposta do governo para a reforma administrativa

Chamada pelo governo de PEC da Nova Administração Pública, a proposta altera 27


trechos da Constituição e introduz 87 novos, sendo quatro artigos inteiros. As principais medidas
tratam da contratação, da remuneração e do desligamento de pessoal, válidas somente para quem
ingressar no setor público após a aprovação das mudanças.

Assista no YouTube.

Foram convidados para discutir o assunto com os deputados, entre outros: a diretora da
Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP), Vera Monteiro; o diretor da Fundação Lemann,
Weber Sutti; e a subsecretária de Gestão de Pessoas da Secretaria de Planejamento, Governança e
Gestão do Estado do Rio Grande do Sul, Iracema Keila Castelo Branco.

Confira a lista completa de convidados

O debate foi proposto pelos deputados Gervásio Maia (PSB-PB), Alice Portugal (PCdoB-
BA), Rogério Correia (PT-MG), Tiago Mitraud (Novo-MG), Sâmia Bomfim (Psol-SP), Ivan
Valente (Psol-SP), Milton Coelho (PSB-PE) e Lincoln Portela (PL-MG).

A audiência será realizada no plenário 2, a partir das 9h30.


Ontem representantes de servidores públicos de diferentes carreiras ouvidos pela comissão
afirmaram que temem demissões e pressão política com os novos regimes de contratação definidos
pela proposta.

A comissão

A Comissão da Reforma Administrativa foi instalada no dia 9 de junho. Ela é presidida


pelo deputado Fernando Monteiro (PP-PE) e tem como relator o deputado Arthur Oliveira Maia
(DEM-BA).

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já disse que espera votar a
proposta no Plenário da Casa até o final de agosto.

Saiba mais sobre a tramitação de propostas de emenda à Constituição

Da Redação - ND

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/789014-comissao-da-


reforma-administrativa-discutira-regras-para-contratacoes-temporarias/ )

8
Informação 06 – Estabilidade e carreiras de Estado são tema de 18
emendas à reforma administrativa

Relator argumenta que reforma irá premiar bons servidores; oposição teme
precarização do trabalho com o fim da estabilidade

03/08/2021 - 14:42 • Atualizado em 03/08/2021 - 21:30

A estabilidade de servidores públicos e a definição de carreiras típicas de Estado são o tema


de 18 das 45 emendas apresentadas na Comissão Especial da Reforma Administrativa (PEC
32/20). Os deputados também se preocupam com o vínculo de experiência (7), a jornada e
remuneração de servidores (assunto tratado em 6 emendas), aposentadoria e previdência (6),
concurso ou seleção (6), férias e licenças (5 emendas), cargos comissionados ou de liderança e
assessoramento (5).

Ainda há emendas sobre avaliação de desempenho, desligamento ou perda de cargo e


cooperação com empresas privadas, entre outros temas. Várias das emendas tratam de carreiras
específicas, incluindo profissionais de Segurança (6), da Justiça (5), da Saúde (2), professores (3
emendas) e militares (3).

Entenda a proposta do governo para a reforma administrativa

Atualmente, os servidores que passaram em concurso público ganham estabilidade depois


de três anos de exercício do cargo. Depois disso, eles só perdem a vaga se houver uma sentença
judicial transitada em julgado, um processo administrativo ou pelo procedimento de avaliação
periódica de desempenho. No entanto, a proposta do Executivo limita a estabilidade apenas a
carreiras típicas de Estado, que seriam definidas depois por lei complementar.

Impessoal

O relator da proposta de reforma administrativa, deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-


BA), avisou que a lei sobre estabilidade e demissão de servidores será impessoal. "Não será dado
a nenhum chefe de plantão o direito de demitir por seu gosto, por sua vontade exclusiva. Tem que
ter a avaliação do usuário do serviço público, o que é fácil por meio da internet e da tecnologia",
propôs.

O relator lembrou que o Estado investe recursos para contratar um servidor por meio de
concurso e deve recuperá-lo caso o desempenho não seja satisfatório. "A avaliação deve ser muito
mais no sentido de premiar o funcionário que tenha um bom desempenho do que punir o mau
desempenho", analisa.

Arthur Oliveira Maia ainda apontou para a necessidade de aprimorar os conceitos e


critérios de avaliação dos funcionários públicos. "Não é razoável que a gente veja índices de
analfabetismo funcional nas escolas brasileiras. Mas quando você fala em avaliar o professor,
parece que você está jogando pedra na cruz", afirmou.

Preocupação

O deputado Rogério Correia (PT-MG) disse estar preocupado com a concepção do relator
sobre o que seriam as carreiras de Estado. "Carreira exclusiva não tem nada a ver com estabilidade.
Para o relator, professores e agentes de saúde não precisam de estabilidade. Isso me assusta. Trocar
um professor não vai resolver o problema", criticou. "Assim, 80% dos servidores não vão ter

9
estabilidade. Desmanchar a estabilidade terminaria com o serviço público, com a substituição pela
iniciativa privada e precarização do trabalho."

Rogério Correia ainda nota que, mesmo para as carreiras típicas de Estado, a demissão não
será mais por decisão judicial transitada em julgado, mas por ordem judicial colegiada. "Acaba
com a presunção de inocência do servidor público", lamentou. Ele ainda observa que, segundo o
texto da PEC, a avaliação de desempenho poderia ser feita "na forma da lei", e não por lei
complementar.

"O governo poderia baixar uma medida provisória de demissão em massa, para fazer as
contratações temporárias ou convênios com a iniciativa privada", teme.

O deputado Tiago Mitraud (Novo-MG) nota que, desde o envio da PEC, a estabilidade tem
sido o ponto mais discutido e polêmico. "Não podemos tratar a estabilidade como a bala de prata
que vai resolver todos os problemas do serviço público no Brasil, mas cabe a nós aprimorar este
instrumento" ponderou.

Tiago Mitraud considera que as previsões atuais para perda de cargo são insuficientes,
especialmente porque a avaliação de desempenho não foi regulamentada. Segundo ele, também
seria necessário criar regras para extinguir cargos e carreiras que não são mais necessários porque
se tornaram obsoletos.

"Temos de dar a capacidade de o Estado se reorganizar. Estabilidade não é um privilégio,


mas um instrumento necessário para preservação do interesse público. Infelizmente, o cargo
público é almejado não pelo interesse público, mas porque a estabilidade dá a tranquilidade para
não apresentar resultados."

Pressões políticas

O deputado Luis Miranda (DEM-DF) defendeu a estabilidade como meio de proteger os


servidores de pressões políticas. Ele afirmou que seu irmão, o servidor concursado do Ministério
da Saúde Luis Ricardo Miranda, foi atacado e ameaçado por apresentar denúncias de
irregularidade na compra da vacina indiana Covaxin. "Se não fosse a estabilidade, certamente teria
sido demitido", argumentou.

Luis Miranda ainda defendeu que os cargos de chefia fossem limitados a funcionários de
carreira. "Quem tem poder, manda, desmanda, humilha e coloca em xeque a vida da pessoa e de
seus familiares e filhos. Que servidor público, sabendo que poderia perder o emprego, vai cumprir
com suas obrigações?", questionou.

Argumentos

Além da proteção contra perseguições políticas, entre os principais argumentos a favor da


estabilidade estão a continuidade para implementar políticas públicas, a atração de profissionais
qualificados, a manutenção da memória da organização e a igualdade no tratamento entre
servidores. Já os críticos dizem que a estabilidade leva à perda de motivação dos servidores,
impunidade para servidor com baixo desempenho, aumenta o poder burocrático, leva a tratamento
desigual com trabalhadores do setor privado e aumenta o gasto público com a folha de pagamento.

Os custos com o funcionalismo estão entre os principais argumentos do governo contra a


estabilidade. O secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia,
Leonardo José Mattos Sultani, afirmou que apesar de 12,5% dos trabalhadores atuarem no setor

10
público, esses servidores gastam 13,4% do PIB. "A estabilidade se equipara a um contrato
vitalício", comparou.

Quase 87% dos servidores são estáveis e a administração pública federal já dispõe de mais
inativos do que ativos em seus quadros (52,9% são inativos). O secretário informou que o Brasil
gasta R$ 8,2 bilhões por ano com 69 mil servidores ativos em cargos extintos.

Sultani lembrou que o Congresso deverá regulamentar as hipóteses de perda do cargo em


lei complementar. "Impossível o desligamento do servidor por motivação político partidária. A lei
vai eliminar as possibilidades de perseguição pessoal, pressões corporativas ou político
partidárias", disse.

Correção: A versão inicial deste texto informava que havia 62 emendas à proposta de reforma
administrativa. Realmente foram apresentadas 62 emendas, mas apenas 45 atingiram o número
mínimo exigido de assinaturas, que é 171.

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/789039-estabilidade-e-


carreiras-de-estado-sao-tema-de-18-emendas-a-reforma-administrativa/ )

Informação 07 – Servidores temem demissões e pressão política com


reforma administrativa

Proposta é analisada por uma comissão especial da Câmara dos Deputados

03/08/2021 - 22:13

Representantes de servidores públicos de diferentes carreiras afirmaram aos deputados da


comissão especial da reforma administrativa que temem demissões e pressão política com os novos
regimes de contratação definidos pela PEC 32/20, do Poder Executivo. Em audiência pública nesta
terça-feira (3), os debatedores se dividiram entre pedidos de rejeição total da reforma

11
administrativa e a sugestão de alternativas para modernizar o serviço público por outros projetos
de lei.

A PEC 32/20 divide o serviço público entre carreiras típicas de Estado e servidores
contratados por prazo indeterminado. No entanto, a estabilidade é limitada apenas à primeira
categoria, que ainda será definida por lei complementar.

O deputado Professor Israel Batista (PV-DF) considera o debate sobre a estabilidade


perigoso e infrutífero. "A estabilidade é essencial para toda a equipe. O auditor pode dar uma
multa, mas o servidor administrativo colocar a multa no fundo da gaveta a pedido do governador",
argumentou. Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) defendeu a manutenção da estabilidade para
os professores. "Quebrar a estabilidade será um desastre e vai destruir a educação", alertou.

Disputas

Secretária da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Rosilene


Corrêa Lima afirmou que a divisão das carreiras do serviço público pode gerar disputas entre os
servidores. "A PEC abre as portas para terceirização e contratação precária", criticou. Ela afirmou
que a mudança significa a volta do regime de contratação anterior à Constituição de 1988, que era
marcado pelo crivo político. "Fui contratada como professora em Goiás em 1982 ainda sem
concurso. Quando o governo mudou, houve demissão em massa. Ficamos reféns da vontade de
um governador", lembrou. Rosilene Corrêa Lima ainda afirmou que teme o clientelismo e o
assédio no trabalho. "Qual critério o gestor vai adotar para permanência no serviço público?",
indagou.

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir


Felix De Paiva, questionou os números apresentados pelo governo para defender a reforma
administrativa. Ele afirmou que a PEC 32/20 ameaça a autonomia da Polícia Federal ao permitir a
mudança de cargos por decreto. "Vai ser a destruição da Polícia Federal", alertou. "A estabilidade
não é privilégio. Custo a imaginar que o Parlamento vai dar um cheque em branco para o governo
agir por decreto."

Precarização

A professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cibele Franzese observou que estados e
municípios já usam outros regimes jurídicos para serviços de saúde e educação, especialmente em
creches. Ela citou dados do Conselho Nacional de Secretarias Estaduais de Saúde (Conass)
observando que apenas 54,9% dos trabalhadores estaduais de saúde são estatutários. "O cargo por
tempo indeterminado existe em vários países, mas não se sabe se vai precarizar o trabalhador. Não
é o remédio para o baixo desempenho e não fortaleceria as áreas sociais que prestam serviço à
população."

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate),


Rudinei Marques, teme que a PEC 32/20 incentive a corrupção por causa da precarização dos
vínculos. "É um vale-tudo na área pública que nós não podemos permitir." Rudinei Marques
apoiou emenda à proposta, apresentada pelo deputado Lincoln Portela (PL-MG), que preserva a
estabilidade de cargos que já são previstos na Constituição e permite que outros sejam
acrescentados por lei complementar.

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Alternativas

O presidente da Federação Brasileira de Sindicatos das Carreiras da Administração


Tributária da União, dos Estados e do Distrito Federal (Febrafisco), Unadir Gonçalves Junior,
também criticou a ausência de conceito da carreira típica de Estado, que ainda será definido por
lei complementar. "Com a proteção insuficiente para função pública nos demais vínculos haverá
aumento do personalismo. É uma ferramenta do patrimonialismo, clientelismo e autoritarismo",
criticou.

O consultor legislativo para Economia do Trabalho Pedro Fernando de Almeida Nery


Ferreira ponderou que o uso de regras típicas do setor privado não impede que seja oferecido
serviço público gratuito, universal e de qualidade. "No modelo atual há risco de ineficiência, mas
no novo modelo há risco de pessoalidade", observou. Ferreira sugeriu alternativas para PEC 32,
como a votação do PLP 92/07, que cria a figura das "fundações estatais" para apoio a ações sociais,
e do PLP 248/98, que permite a demissão de servidor público estável no caso de desempenho
insuficiente.

Outras alternativas seriam manter o sistema atual, com a revisão do número de faltas
permitidas sem justificativa, e a ampliação do alcance do Portal da Transparência, que poderia
incluir informações sobre jornada, presença, produtividade e até avaliações de desempenho de
servidores.

Reportagem - Francisco Brandão - Edição - Geórgia Moraes

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/789620-


comissao-debate-avaliacao-e-desempenho-de-servidores-publicos/ )

3 – Situação atual que se encontra (Comissão Especial da PEC 32)

Segue abaixo o link do relatório completo:

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2009387

Fonte: https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2262083

13
4 – Tramitação detalhada

05/08/2021
Andamento:
COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER À PROPOSTA DE EMENDA À
CONSTITUIÇÃO Nº 32-A, DE 2020, DO PODER EXECUTIVO, QUE "ALTERA DISPOSIÇÕES SOBRE
SERVIDORES, EMPREGADOS PÚBLICOS E ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA" (PEC03220 )

 Aprovado requerimento n. 114/2021 da Sra. Alice Portugal que requer a realização a inclusão de debatedor
nas audiências públicas para a oitiva dos representantes dos servidores públicos, a ser realizada na Comissão
Especial destinada a apreciar a PEC 32/2020. Convidado: Dr. Vicente Martins Prata Braga, representante da
Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal – ANAPE.
 Apresentação do Requerimento de Audiência Pública n. 116/2021, pelo Deputado Rogério Correia (PT/MG),
que "Requer a realização de audiência pública no âmbito da Comissão da Comissão Especial destinada a
debater a PEC nº 32, de 2020 (Reforma Administrativa), com o intuito de ouvir a senhora Denise Motta Dau
- Assistente social, mestra em saúde coletiva, secretária sub-regional da Internacional de Serviços Públicos
(ISP)". Inteiro teor
 Apresentação do Requerimento de Audiência Pública n. 117/2021, pelo Deputado Rogério Correia (PT/MG),
que "Requer a realização de audiência pública no âmbito da Comissão da Comissão Especial destinada a
debater a PEC nº 32, de 2020 (Reforma Administrativa), com o intuito de ouvir o senhor José Rivaldo da
Silva, Secretário-Geral da Federação Nacional dos Trabalhadores Em Empresas de Correios, Telégrafos e
Similares - FENTECT”". Inteiro teor

5 – Enquete da PEC 32

VOTE NA ENQUETE – COMO ACESSAR:

https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2262083

14
6 – Enquete da PEC 32 (Resultado atualizado) - 03 de agosto

FONTE: https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2262083/resultado

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7 – Acesso às reuniões ocorridas na CCJ e na COMISSÃO ESPECIAL
REUNIÕES ANTERIORES

É possível consultar vídeos, áudios, íntegras em texto e resultados das reuniões.

ACESSE:https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/ccjc

TRANSMISSÕES

ACESSE:https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/webcamara/arquivos/pesquisa-
avancada/resultadoSinais?assunto=&comissao=538928&tipo=&local=&orador=&periodo=1&da
taIni=01/01/2021&dataFin=31/12/2021&form.submitted=1&form.button.pesquisar=Pesquisar

16
8 – Acesso aos documentos e apresentações ocorridas nas reuniões
da Comissão Especial da PEC 32

AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

Audiência Pública de 05/08/2021: Avaliação de desempenho e qualificação de


servidores públicos

 Ismar Viana, Presidente da Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo


dos Tribunais de Contas do Brasil - ANTC

Audiência Pública de 04/08/2021: Contratação temporária, cargos em comissão e


funções de confiança

 Fabio Faiad Bottini, Presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco


Central - SINAL;
 Weber Sutti, Diretor da Fundação Lemann;
 Rodrigo Keidel Spada, Presidente da Federação Brasileira de Associações de
Fiscais de Tributos Estaduais - FEBRAFITE;
 Iracema Keila Castelo Branco, Subsecretária de Gestão de Pessoas da Secretaria
de Planejamento, Governança e Gestão do Estado do Rio Grande do Sul.

Audiência Pública de 03/08/2021: Carreiras típicas de Estado e servidores


contratados por prazo indeterminado

 Cibele Franzese, Professora da Fundação Getúlio Vargas - FGV;


 Unadir Gonçalves Junior, Presidente da Federação Brasileira de Sindicatos das
Carreiras da Administração Tributária da União, dos Estados e do Distrito Federal –
FEBRAFISCO.

Audiência Pública de 14/07/2021: Condições para Aquisição de Estabilidade no


Serviço Público

 Leonardo José Mattos Sultani, Secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do


Ministério da Economia;
 Leonardo Secchi, Presidente da Sociedade Brasileira de Administração Pública -
SBAP;
 Alketa Peci, Professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de
Empresas - EBAPE-FGV.

Audiência Pública de 13/07/2021: Concurso público e vínculo de experiência

 Felipe Drumond, Consultor da Frente Parlamentar Mista da Reforma


Administrativa;
 Lademir Gomes da Rocha, Presidente da Associação Nacional dos Advogados
Públicos Federais - ANAFE;

17
 José Celso Pereira Cardoso Junior, Presidente do Sindicato Nacional dos
Servidores do Ipea - AFIPEA.
o Artigo: PEC 32/2020 e a volta do Estado liberal-patrimonial-oligárquico no
Brasil
Artigo: Concursos Públicos, Profissionalização Burocrática e Desempenho
Institucional: Reforma administrativa CF/1988 versus PEC 32/2020
Artigo: A Estabilidade Funcional dos Servidores nos Cargos Públicos

Audiência Pública de 06/07/2021: Regime jurídico da magistratura, dos membros


do Ministério Público, dos membros dos Tribunais de Contas, dos advogados
públicos, dos defensores públicos e dos titulares de mandatos eletivos

 Renata Gil de Alcantara Videira, Presidente da Associação dos Magistrados


Brasileiros - AMB
 Clóvis dos Santos Andrade, Presidente da Associação Nacional dos Advogados da
União - ANAUNI
 Daniel Mitidieri Fernandes de Oliveira, Procurador Municipal e Advogado no Rio
de Janeiro

Audiência Pública de 30/06/2021: Intervenção do Estado no domínio econômico,


parcerias celebradas pela Administração Pública e celebração de contratos de
desempenho (acréscimo do § 6º ao art. 173 da Constituição, acréscimo do art. 37-A
à Constituição e redação atribuída pela PEC ao § 8º do art. 37 da Constituição)

 Bráulio Cerqueira, Presidente do Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos


Federais de Finanças e Controle - UNACON

Audiência Pública de 22/06/2021: Inovação na Administração Pública

 Caio Mario Paes de Andrade, Secretário Especial de Desburocratização, Gestão e


Governo Digital, do Ministério da Economia
 Pedro Pontual, Presidente da Associação Nacional dos Especialistas em Políticas
Públicas e Gestão Governamental - ANESP
 Diogo Costa, Presidente da Escola Nacional de Administração Pública - ENAP
 Élida Graziane Pinto, Procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de
São Paulo
 José Henrique Nascimento, Líder de Causas no Centro de Liderança Pública - CLP

9 – Agenda do dia de hoje da COMISSÃO ESPECIAL

Não há eventos programados para esta data (06/08/2021)

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Segundo o Plano de Trabalho da Comissão, as atividades já foram reiniciadas a
partir de 03 de agosto.

PLANO DE TRABALHO

Roteiro de audiências públicas para debater temas relacionados à Proposta de Emenda


à Constituição (PEC) 32/20:

22.06.2021 - Inovação na administração pública

29.06.2021 - Intervenção do Estado no domínio econômico, parcerias celebradas pela


administração pública e celebração de contratos de desempenho (acréscimo de § 6º ao
art. 173 da Constituição, acréscimo de art. 37-A à Constituição e redação atribuída pela
PEC ao § 8º do art. 37 da Constituição).

30.06.2021 – Presença do ministro Paulo Guedes (data sugerida)

06.07.2021 - Regime jurídico da magistratura, dos membros do Ministério Público, dos


membros dos Tribunais de Contas, dos advogados públicos, dos defensores públicos e
dos titulares de mandatos eletivos

07.07.2021 - Regime jurídico dos militares das Forças Armadas e dos militares dos
Estados e do Distrito Federal

13.07.2021 - Concurso público e vínculo de experiência

14.07.2021 - Condições para aquisição de estabilidade no serviço público

03.08.2021 - Carreiras típicas de Estado e servidores contratados por prazo


indeterminado

04.08.2021 - Contratação temporária, cargos em comissão e funções de confiança

11.08.2021 - Avaliação de desempenho e qualificação de servidores públicos

12.08.2021 - Regime próprio de previdência social

17.08.2021 - Situação dos empregados públicos na reforma

18.08.2021 - Efeitos da reforma sobre os atuais servidores federais, estaduais e


municipais

19.08.2021 - Regulamentação da reforma

Sala das Comissões, em 17 de junho de 2021

Deputado Arthur Oliveira Maia

19
Saiba como atuais e novos servidores e
empregados públicos serão atingidos

1
2
Os Perigos da Reforma
Administrativa

Por que a reforma administrativa prejudica todos os servidores, o servi-


ço público e o povo brasileiro? Responder a esta pergunta e ainda elucidar
verdades e mentiras sobre o texto da Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) 32/2020, em tramitação no Congresso Nacional, é o nosso objetivo
com esta cartilha, impressa por nós e elaborada pelo grupo "CUT
Independente e de Luta".
Enviada pelo governo no início de setembro, a PEC tem sido apontada
como um projeto importante e necessário para “salvar” o Estado brasileiro
do suposto “inchaço” no número de servidores públicos no país. Mas a verda-
de é que a proposta serve ao projeto de Bolsonaro, Mourão e Guedes de des-
truição dos serviços públicos e retirada dos direitos dos servidores, cuja prin-
cipal vítima é a população brasileira que será duramente atingida pelas
mudanças propostas na reforma, caso ela venha a ser aprovada pelo
Legislativo.
Por isso, é tão importante esclarecer que tanto os atuais servidores e
empregados públicos serão atingidos pela PEC 32/2020, como os futuros
trabalhadores do setor público, e ainda mais os brasileiros e brasileiras que
de alguma forma são usuários dos serviços públicos que o governo ataca
neste momento. É importante entendermos que quando o governo propõe
reduzir carga horária com redução de salário, isso é uma tragédia para o
trabalhador que terá o seu salário cortado no final do mês. Mas essa tragédia
é ainda maior para o cidadão, pois, essa redução significa menos atendimen-
tos à população em hospitais, escolas e outros serviços.
Vale aqui esclarecer também que é uma enorme mentira o argumento de
que o Brasil tem mais servidores públicos do que o necessário. Quando com-
3
paramos o número de servidores públicos do Brasil com a média de outros
países, como aqueles que pertencem à OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) –Portugal, Espanha, Alemanha
e Canadá, por exemplo – o Brasil tem 5.6% da sua população vinculada ao
serviço público. Enquanto que a média nesses países é de 10%, proporcional-
mente à sua população. Para nosso país atingir essa média seria necessário
aumentar o número de servidores dos atuais 11 milhões para 21 milhões.
Essas questões, aliadas aos pontos elencados nas demais páginas desta
cartilha, são mais do que um alerta, mas uma convocação à luta. Somente a
unidade de classes, dos trabalhadores do campo e da cidade, dos setores
público e privado, é capaz de barrar o desmonte do serviço público e os ata-
ques à população brasileira.
Contamos com você para divulgar esses esclarecimentos, bem como
participar das nossas atividades virtuais e presenciais!
Acesse nosso site e redes sociais para se manter informado sobre a PEC e
outras notícias de interesse da classe trabalhadora!

Boa leitura!

Oton Pereira Neves


Secretário-Geral do Sindsep-DF

4
REFORMA
ADMINISTRATIVA
(PEC 32/2020)
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O governo Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional a PEC 032/20, a
chamada “Reforma Administrativa”. Essa “reforma” vem na linha do des-
monte dos serviços públicos, contido na EC 95, Plano Mais Brasil, PECs
186, 187 e 188.
A luta apenas começou e serão necessárias ações efetivas para derrotar
essa “reforma” que ataca brutalmente os direitos dos servidores federais,
estaduais e municipais (atuais e futuros) e pretende sucatear e desmontar
os serviços públicos que são do interesse de todo o povo trabalhador.
Além de forjar a unidade de todos os servidores, é preciso dialogar e
ganhar os setores da população que dependem dos serviços públicos para a
luta contra a reforma que une Guedes e Rodrigo Maia na linha do “estado
mínimo”.
O conjunto do movimento sindical a começar pelas entidades dos ser-
vidores das três esferas, em particular a CUT, deve engajar suas forças na
luta pelo Não à reforma administrativa, agindo em defesa própria, pois são
os trabalhadores de suas bases que precisam de mais e melhores serviços
públicos, como a própria pandemia demonstrou.
Apresentamos essa cartilha como forma de ajudar neste combate!

ESTA CARTILHA ESTÁ À DISPOSIÇÃO PARA REPRODUÇÃO


NA TOTALIDADE OU EM PARTES PARA O COMBATE À
REFORMA DE BOLSONARO E PAULO GUEDES!

5
ACESSE: cu ndependentedeluta.wordpress.com • facebook.com/cu ndependentedeluta
O governo diz Não. O que o governo propõe, na PEC
32/2020, é a desorganização do serviço pú-
blico, tirando do Estado atribuições fun-
que a reforma damentais no atendimento à população
e abrindo espaço a privatizações de áreas
administrativa é essenciais, entrega da saúde e da educação
para Organizações Sociais, fim dos concur-
necessária para sos públicos para grande parte dos cargos,
apadrinhamento no preenchimento das va-
o Brasil voltar gas e quebra da estabilidade facilitando a
perseguição política e a pressão das chefias
a crescer e que para cumprimento de ordens indevidas ou
ilegais.
ela vai corrigir A reforma é mais uma disputa pelo
orçamento público, a exemplo da Emenda
injustiças. Isso é Constitucional 95/2016 que congelou o or-
çamento para os serviços públicos por 20
verdade? anos. Entre atender à população – com um
projeto de ampliação e melhoria da edu-
cação, pesquisa e saúde – e destinar uma
parcela maior do dinheiro público para em-
presários e bancos, o governo escolheu a se-
gunda opção.
Com o golpe de 2016, o governo de Mi-
chel Temer (MDB) e depois Jair Bolsonaro
(sem partido) aprovaram medidas que, se-
gundo eles, fariam o Brasil voltar a crescer:
teto de gastos (EC 95/2016), terceirização
geral; reforma trabalhista; reforma da Pre-
Com a PEC, vidência. Nenhuma delas resolveu; pelo
serviços públicos contrário, aumentaram os ganhos dos mais
ricos e empobreceram a grande maioria da
como Saúde e população.
É certo que várias distorções foram *
Educação seguem criadas para acomodar os interesses das cú-
pulas dos poderes, não são poucos os casos
sendo obrigação de remunerações que ultrapassam em mui-
do Estado e to o teto do funcionalismo, mas essa refor-
ma não mexe em nada disso. Ao contrário,
direito da tende a aumentar ainda mais a diferença
entre os menores e maiores salários.
população?
Não. A PEC 32/2020, de Bolsonaro e Guedes, introduz entre os princípios da administração
direta e indireta descritos no Art. 37 da Constituição Federal o da subsidiariedade. Ou seja, o estado
passa a ser complementar ao que o setor privado não pode ou não quer atender.
Mesmo que seja apenas um princípio constitucional, nos planos do governo para a reforma já
constam mais duas etapas para sua implementação onde esta mudança pode ser realmente aplica-
da. Portanto, esse princípio antecipa o objetivo de substituição de escolas, universidades, hospitais
e postos de saúde públicos pela entrega de vouchers(vale-mensalidade, vale-educação, vale-creche,
vale-saúde) ou mesmo a entrega da administração, contratações e compras para organizações so-
ciais lucrarem em cima do que deveria ser direito do povo.
A população precisa de mais e melhores serviços públicos, e não menos. 6
Não. A reforma se aplica a todo o serviço público do
A reforma país: à “administração pública direta e indireta de quaisquer
se aplica dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios” (art. 37 da PEC 32/2020). Todos os servidores
apenas aos serão atingidos. O Brasil possui cerca de 10,7 milhões de ser-
servidores vidores públicos civis ativos e sua maior parte é constituída
de servidores municipais, quase 6 milhões (62,4%), seguida
federais? de 3 milhões de servidores estaduais (30,8%) (IBGE, 2016).

O governo e a imprensa falam que


somente os novos servidores serão
atingidos. Isso é verdade? Como
ficam aposentados e pensionistas?
Não. A reforma atinge todos, novos e futuros. Ativos e aposentados. Mesmo que num primeiro
momento somente os novos não teriam direito a estabilidade, os atuais seriam submetidos a avalia-
ções de desempenho. Na medida em que os novos estariam submetidos a todo tipo de pressão pois
não teriam estabilidade, os atuais seriam submetidos a avaliações de desempenho com critérios
subjetivos que permitirão avaliação com cunho ideológico por parte da chefia de plantão e
certamente acarretará em perseguições, em especial a grevistas e políticas.
A atual legislação já prevê a demissão dos servidores estáveis, mas o que o governo busca na
verdade é um instrumento de pressão e ameaça permanente.
Aposentados e pensionistas também seriam atingidos pelo fim da paridade e integralidade (os
que têm direito), pois a paridade seria vinculada a carreiras em extinção. Da mesma forma, a remu-
neração ligada a premiação por produtividade, por definição, tira a possibilidade dos aposentados
receberem e aumentará a diferença salarial entre ativos e inativos.

* Facilita a quebra da estabilidade no emprego;


Os atuais * Proíbe a progressão e a promoção com base apenas em tempo de
serviço e torna obrigatória a vinculação com a avaliação de desempenho;
servidores e
* Proíbe licença-prêmio, licença-assiduidade ou por tempo de serviço;
servidoras ainda
* Elimina as cotas de cargos que deveriam ser ocupados apenas por
serão atingidos em servidor e servidora de carreira;
vários aspectos,
* Permite que, por motivação político-partidária, comissionadas e
uma vez que a comissionados sejam destituídos, mesmo que tenham ingressado via
reforma: concurso;
* Amplia a atuação dos cargos de livre provimento em funções
estratégicas, técnicas e gerenciais;
* Acaba com o Regime Jurídico Único;
* Dá ao presidente da República plenos poderes de extinguir, por decre-
to, cargos, planos de carreiras, colocar servidor em disponibilidade e
extinguir órgãos, inclusive autarquias;
* Coloca como referência o salário dos novos servidores e servidoras.
Como o salário de ingresso será reduzido, legitima o congelamento
salarial em longo prazo, sob alegação de disparidade salarial;
* Veda a redução de jornada sem a correspondente redução de
remuneração, exceto se decorrente de limitação de saúde.
7
SE A PEC FOR APROVADA,
QUAIS CARREIRAS TERIAM
DIREITO A ESTABILIDADE?
O que a PEC faz é instituir cinco modalidades de contratação, onde somente uma teria
direito a estabilidade. Todas as demais – a esmagadora maioria – perdem este direito. O texto da
reforma recria o entendimento de “cargo típico de Estado”, adotado na ditadura civil-militar, para
diferenciar servidores e servidoras que continuariam a ter estabilidade. Os critérios para deter-
minar o que são “cargos típicos de Estado” serão estabelecidos por lei complementar. Tal medida
pode significar o desmonte da estrutura de serviços públicos essenciais, como saúde e educação,
que não estarão protegidos.

CARGO TÍPICO DE ESTADO


I) terá direito à estabilidade somente após 3 anos;
APOS 3
II) Lei Complementar disciplinará quais as atividades e categorias serão
contempladas;
III) não poderão ser dispensados após alcançar a estabilidade, salvo em caso de
sentença judicial, infração disciplinar ou por insuficiência de desempenho; ANOS
IV) será admitido via concurso público; e
V) será vinculado ao RPPS.

VÍNCULO POR PRAZO INDETERMINADO


i) não terá estabilidade, podendo ser dispensado conforme SEM
necessidade da administração pública;
ii) será admitido via concurso público; ESTABI-
iii) deverão ocupar cargos administrativos; e
iv) será vinculado ao RPPS, mas Lei Complementar dos LIDADE
Estados, DF e Municípios pode vinculá-los ao RGPS (INSS).

VÍNCULO DE EXPERIÊNCIA
i) parte do processo seletivo do concurso público;
ii) para Cargo Típico de Estado a duração será de 2 anos; APOS
iii) para cargo de prazo indeterminado será de no mínimo 1 ano;
iv) por fazer parte do concurso público, os melhores avaliados 1 A 2
nos critérios estabelecidos, serão efetivados no serviço público; e
v) ainda não goza dos direitos e garantias dos servidores. ANOS

VÍNCULO POR PRAZO DETERMINADO SEM


i) não terá estabilidade, podendo ser dispensado conforme necessidade da
administração pública;
ESTABI-
ii) será admitido via seleção simplificada;
LIDADE
iii) deverão ocupar cargos para atividades específicas e em casos de urgência; e
iv) serão vinculados ao RGPS (INSS).

CARGO DE LIDERANÇA E ASSESSORAMENTO SEM


i) não terá estabilidade, podendo ser dispensado conforme
necessidade da administração pública;
ii) será admitido via seleção simplificada;
ESTABI-
LIDADE
iii) deverão ocupar cargos de natureza política e de comissão; e
iv) serão vinculados ao RGPS (INSS).
8
A ameaça de redução de
salários continua?
Ao vedar a redução de jornada sem a correspondente redução de remuneração “exceto se de-
corrente de limitação de saúde”, a PEC 32/2020 sugere que poderá haver redução de jornada com
redução de remuneração, de forma compulsória.
O texto também afirma que “É vedada a redução da jornada e da remuneração para os cargos
típicos de Estado”. No entanto, deixa sem essa garantia todos os demais; lembrando que as PECs
186 e 188 admitem a redução salarial a pretexto de “redução de despesas”.
Ainda, é bom lembrar que o salário de ingresso será reduzido. Portanto, ao colocar como re-
ferência o salário dos novos servidores e servidoras, a reforma legitima o congelamento salarial em
longo prazo, sob alegação de disparidade salarial.

9
Não. O funcionalismo (federal, estadual e
municipal) no Brasil corresponde a 12,5% da po-
pulação empregada. Esse número fica abaixo da
média de países tidos como liberais, como Esta-
dos Unidos (15,89%), e América Latina e Caribe,
cuja média é de 17,88%.
A imprensa repete Saúde e educação concentram o maior nú-
todo o dia que “há mero de servidores e servidoras. Cerca de 35%
do funcionalismo no país está empregado nessas
muitos servidores duas áreas.
no Brasil”, e que Quanto ao rendimento dos trabalhadores,
em média, servidores e servidoras ganham 8%
eles ganham mais que trabalhadores e trabalhadoras do setor
privado exercendo funções similares.
muito mais que a Metade dos servidores e servidoras públicos
iniciativa privada. no Brasil ganha até de R$ 2,9 mil por mês (isso
sem contar os descontos).
Isso é verdade? Segundo dados de 2018, a maior parte dos
funcionários públicos (57%) tem rendimentos
concentrados na faixa de até 4 salários mínimos,
ou seja, de R$ 3.816,00. Nos municípios, que con-
centram 56% de todo o funcionalismo no país,
73% estão nessa faixa salarial.
Cabe lembrar que é exigido do servidor pú-
blico por conta do concurso, escolaridade, co-
nhecimentos gerais e específicos de sua área de
atuação e capacitação permanente para atuar no
serviço público.

Quais os riscos de
tirar da Constituição
artigos relativos aos
serviços públicos e ao
funcionalismo?
Para mudar a Constituição, são necessárias votações em dois turnos no Senado e na Câmara,
com garantia de três quintos dos votos em cada uma delas. Se as obrigações do Estado em garantir
a prestação de serviços e o atendimento de necessidades da população em áreas fundamentais como
saúde, educação e saneamento não estiverem na Carta Magna, fica muito mais fácil para os governos
de plantão simplesmente não destinarem verbas.
Diminuir a presença do Estado no fornecimento de bens e na prestação de serviços e progra-
mas sociais e reduzir o número de servidores, atribuindo à iniciativa privada que atenda a essas
necessidades desregula a prestação dos serviços, diminui a possibilidade de fiscalização e, futura-
mente, pode fazer com que um direito fundamental não seja mais reconhecido enquanto tal.
10
Magistratura, promotores
e procuradores serão
atingidos?
Não. A reforma não atinge magistratura, procuradores e promotores, cujas “vantagens” são
mais recorrentes, maiores e servem para assegurar pagamentos acima do teto do funcionalismo.
Guedes já anunciou seus planos para a cúpula dos poderes. Sob o argumento de que “temos
que ser mais meritocráticos”, Paulo Guedes afirmou, referindo-se a casos como o da Presidência da
República e do Supremo Tribunal Federal (STF), que “é evidente que eles têm que receber muito
mais do que recebem hoje”. Atualmente, os ministros do STF recebem o teto de R$ 39,2 mil por mês,
mais penduricalhos.
Em sua fala, Guedes disse que é preciso existir uma “enorme” diferença entre os salários dos
ministros e dos demais servidores. Ele citou como exemplo o ministro do Tribunal de Contas da
União (TCU), Bruno Dantas: “O Bruno Dantas, em qualquer banco, vai ganhar 4 milhões de dólares
por ano. É difícil convencer o Bruno a ficar no TCU porque ele vai receber várias propostas do setor
privado”, declarou.

E os militares?
Também não. Enquanto determina várias vedações e perdas de direitos para
o pessoal civil, a reforma amplia, por exemplo, a possibilidade de acumulação de
cargos civis por militares (aí incluídos policiais militares e bombeiros militares),
notadamente no magistério. Os militares já foram poupados na reforma da
previdência e não param de acumular vantagens no governo Bolsonaro.

11
O que mais a
reforma proíbe?
* Aumento de remuneração ou de parcelas indenizatórias com efeitos retroativos;
* Adicionais referentes a tempo de serviço ou indenização por substituição,
* Progressão ou promoção baseada exclusivamente em tempo de serviço;
* Parcelas indenizatórias sem previsão de requisitos e valores em lei;
* Incorporação da remuneração de cargo em comissão, função de confiança ou cargo
de liderança e assessoramento ao cargo efetivo ou emprego permanente.;
* Recebimento de retribuição de posto comissionado, gratificações de exercício,
bônus, honorários, parcelas indenizatórias, entre outras, para quem se licenciar para
estudar, acompanhar parente doente ou exercer mandato sindical e político;

12
A reforma diminui os
cargos em comissão
e a possibilidade de
indicações políticas
para exercer funções
nos serviços públicos?
Mentira! As funções de confiança, os cargos em comissão e as
gratificações de caráter não permanente, que atualmente podem ser
exercidas apenas por servidoras e servidores efetivos, serão gradualmente
substituídos pelos “cargos de liderança e assessoramento”. Esses cargos,
cujos critérios de acesso serão determinados pelo chefe de cada Poder
(ou seja, abre-se totalmente espaço para concepções pessoais, política,
religiosas, etc. em vez de critérios técnicos), poderão ser destinados a
“atribuições estratégicas” ou “técnicas”, ou seja, essas funções deixam de
ser exercidas exclusivamente pelo pessoal concursado.

13
OS PERIGOS DA REFORMA ADMINISTRATIVA
(PEC 32/2020)
VERDADES E MENTIRAS
Edição nº 01
23/10/2020

14
Diretoria do Sindsep-DF
Triênio 2018/2021
SECRETARIA-GERAL SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO E
COORDENADOR: Oton Pereira Neves - M. Saúde IMPRENSA
ADJUNTO: Carlos Henrique Bessa Ferreira – COORDENADOR: Gediel Ribeiro de Araújo Junior
Funasa – MCidadania (ex-MDS)
ADJUNTO: Antonio Clarete de Azevedo - MJSP ADJUNTO: Fernando Martins Machado - Funasa
ADJUNTO: Joaquim Rodrigues dos Santos Filho
SECRETARIA DE ORGANIZAÇÃO E - Incra
PATRIMÔNIO
COORDENADOR: Pedro de Alcântara Costa - SECRETARIA DE ESTUDOS
Ibama SOCIOECONÔMICO E EMPRESAS PÚBLICAS
ADJUNTO: Márcio da Costa Baptista - COORDENADOR: Joalita Queiroz de Lima - Conab
M.Economia (ex-M.Planejamento) ADJUNTO: Aristides Neves da Silva - M. Saúde

SECRETARIA DE FINANÇAS SECRETARIA DE RELAÇÕES


COORDENADOR: Benedito da Silva Maia - INTERSINDICAIS E PARLAMENTARES
M.Economia (ex-M.Planejamento) COORDENADOR: João Luiz Batista - Abin
ADJUNTO: Zózimo Viana Rocha - IN ADJUNTO: José Francisco dos Santos - MJSP
ADJUNTO: Expedito Carneiro Mendonça -
SECRETARIA DE FORMAÇÃO Funasa
COORDENADORA: Mirian Vaz Parente - Ibama
ADJUNTO: Francisco Chagas Machado Filho - SECRETARIA DA MULHER TRABALHADORA
Ibama COORDENADORA: Adriana Maria da Conceição -
ADJUNTO: Maycon Firmino Chagas – INSS HFA
(licenciado)
SECRETARIA DA JUVENTUDE
SECRETARIA DE ASSUNTOS JURÍDICOS TRABALHADORA
COORDENADOR: João França Lopo - MEC COORDENADOR: Dimitri Assis Silveira - MEC
ADJUNTO: Reinaldo Felipe dos Santos - ADJUNTO: Gabriela Freitas de Almeida - INEP
M.Economia (ex-M.Fazenda) ADJUNTO: Otonio Araujo Lima Júnior - HFA
ADJUNTO: Antônio Carlos Noleto Gama - Mapa
SECRETARIA DE ORGANIZAÇÃO DAS
SECRETARIA DE FILIAÇÃO E POLÍTICA SEÇÕES SINDICAIS
SINDICAL COORDENADOR: Carlos Antônio de Abreu - MME
COORDENADORA: Valda Eustáquia C. de Souza - ADJUNTO: Júlio César da Conceição -
HFA M.Economia (ex-M.Fazenda)
ADJUNTO: César Henrique Melchiades Leite - ADJUNTO: José Antônio M. Gonçalves - MME
Funasa
ADJUNTO: Irisdeth Maria Assunção do Vale - CONSELHO FISCAL
M.Economia (ex-M.Planejamento) MEMBROS EFETIVOS
Enos Barbosa de Souza - Conab
SECRETARIA DE APOSENTADOS E SAÚDE Juvenal Gonçalves de Sousa Lima - ENAP
DO TRABALHADOR Julia Guedes Frazão - Funarte
COORDENADOR: Maria Lícia Moraes Braga -
M.Economia (ex-MPS) MEMBROS SUPLENTES
ADJUNTO: Ivaldelice Pereira da Silva -
Reginaldo Dias da Silva - Comaer
M.Economia (ex-MPS)
Moisés Alves da Consolação - Mapa
ADJUNTO: Maria Gilza Ribeiro Fardin - Comaex
Antônia Ferreira da Silva - Funasa
SECRETARIA DE MOVIMENTOS SOCIAIS,
CULTURA, RAÇA E ETNIA
COORDENADOR: João Araújo Neto - AGU
ADJUNTO: Francisco Carlos Rodrigues - FNDE
ADJUNTO: Eduardo José Mariano - Cindacta
15
Confira nossas redes e contatos:
.

sindsepdf tvsindsepdf 99812-8060

sindsep-df.com.br geral@sindsep-df.com.br 3212-1900


16
DIGA NÃO AO FIM DOS
SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA
NÃO À PEC 32/2020

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/AuditoriaCidada
/auditoriadidada
Não à Contrarreforma Administrativa!
auditoriacidada.org.br/
Auditoria Cidadã no Spotify Privilegiados são os banqueiros!
ÍNDICE
EXPEDIENTE
Introdução Pág. 3 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA NÃO À PEC 32/2020
Origem das Contrarreformas Pág. 5 NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA!
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!
Origem dos direitos trabalhistas e sociais Pág. 6
é uma publicação da Auditoria Cidadã da Dívida – ACD, do Núcleo Capixaba
Desrespeito e desmonte da Constituição: não querem deixar da ACD e do Instituto Genildo Batista – IGB.
pedra sobre pedra! Pág. 7 Pesquisa e Redação: Lujan Maria Bacelar de Miranda
Contribuições ao Conteúdo: Maria Lucia Fattorelli 
Veja como o governo está agindo e o que vai acontecer se
Revisão: Rodrigo Ávila e Rafael Muller
conseguirem aprovar a PEC 32 que trata da contrarreforma
administrativa! Pág. 8 Fonte: Carta Aberta sobre a PEC 32 de iniciativa da Auditoria Cidadã da Dívida
(ACD), disponível em https://auditoriacidada.org.br/conteudo/carta-aberta-
O governo esconde os documentos, as etapas do seu projeto questiona-reforma-administrativa-pec-32-2020-deputados-membros-da-ccj/ 
e a maior parcela dos gastos financeiros do governo! Pág. 9
Diagramação: CR Comunicação e Eventos (27) 98128 8297
Crise fabricada Pág. 13 Ilustrações: Auditoria Cidadã da Dívida - ACD e Marlon Ludovico
Impressão: Gráfica Positiva
Dívida pública e sangria do dinheiro da população Pág. 16 Edição: Maio de 2021

Redução dos Gastos Públicos ou extinção de serviços


públicos essenciais? Pág. 21
E quem ganha e quem perde com isso? Pág. 22
Princípio da subsidiariedade: o diabo mora nos detalhes! Pág. 22
Sistema da Dívida, a maior corrupção que existe! Pág. 24
Sucateamento e destruição do Estado para beneficiar
banqueiros e grandes empresários Pág. 25
Superpoderes para os presidentes de plantão extinguirem
órgãos públicos, sem nenhuma discussão! Pág. 26

Pressione deputados, deputadas e demais parlamentares, Núcleo Capixaba – NC-ACD


diga não à contrarreforma administrativa do governo! Pág. 27 nucleocapixaba.auditoriacidada@yahoo.com.br
nucleocapixaba.auditoriacidada@gmail.com
Telefone: (27) 98119-6320
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 3
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

INTRODUÇÃO
A Constituição Federal é a Lei maior do país. Quando se
altera a Constituição se mexe em coisas muito importantes.
Alterações para melhorar são sempre bem vindas. Mas,
não vamos nos iludir. O objetivo do governo, com diversas
propostas de alteração da Constituição, não é reformar para
melhorar. O objetivo é acabar com os serviços públicos e
transformar profundamente o papel e as obrigações do Es-
tado. Por isso chamamos a Proposta de Emenda Constitu-
cional – PEC 32, de 2020, de Contrarreforma Administrativa.
Nos últimos anos o Governo Federal encaminhou mui-
tas propostas de emenda constitucional para o Congresso,
como a EC-95, que estabeleceu rebaixado teto de gastos
sociais, mas, deixou sem teto ou limite algum os gastos com
a chamada dívida pública. Enviou também a contrarreforma
da previdência (Emenda Constitucional 103), aprovada na
base do toma lá dá cá e quem perdeu foi a população bra-
sileira, com a extinção, redução ou adiamento de direitos
previdenciários e benefícios assistenciais.
Em plena pandemia foi aprovada a PEC 186/2019,
transformada na Emenda Constitucional - EC 109/2021, que
antecipou medidas da “reforma administrativa”, dificultando
a contratação de médicos, médicas, professores, professoras,
dentre outros servidores e servidoras públicas essenciais à
vida da população, e impedindo reajustes dos seus salários
e outros direitos básicos. Com a EC 109 a política recessiva
do ajuste fiscal foi parar na Constituição e exige contínuos
cortes em gastos e investimentos públicos para que sobrem
4 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

cada vez mais recursos para a chamada dívida pública,


como pode ser visto no artigo: https://auditoriacidada.org.
br/conteudo/extra-classe-pec-186-concede-privilegios-ao-
mercado-e-esmolas-para-o-povo-por-maria-lucia-fattorelli/
A reforma trabalhista de 2017 foi para criar milhões de empregos!

Não criou!

Com a reforma da previdência de 2019 vai


sobrar mais dinheiro para investimentos!
O investimento é o menor em 53
anos! Dados da FGV.
A reforma administrativa vai cortar privilégios
e melhorar o serviço público!

Pega na Mentira! Isso vai cair nas nossas costas.

A Auditoria Cidadã da Dívida enviou uma interpelação


extrajudicial aos parlamentares, para que eles não possam
alegar que não tomaram conhecimento dos graves danos
de ordem econômica, financeira, jurídica e social embutidos
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 5
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

na PEC 186 e na PEC 32. Confira em: https://auditoriacidada.


org.br/conteudo/interpelacao-extrajudicial-a-deputadosas-
federais-pec-186-2019-e-pec-32-2020-08-03-2021/
Nesta Cartilha vamos tratar da PEC 32, para que você en-
tenda como essa proposta de alteração da Constituição é
grave e irá afetar a sua vida! Fique de olho! Lute!

Origem das Contrarreformas


As contrarreformas são impostas pelo banco privado
BIS (Banco de Regulações Internacionais), denominado
Banco Central dos Bancos Centrais. Esse banco foi criado
em 1930, mas ele fica escondido, pois quem representa os
seus interesses em todo o mundo são o Banco Mundial, o
Fundo Monetário Internacional - FMI, dentre outras insti-
tuições internacionais.
Esses bancos estrangeiros não têm como objetivo ajudar
a resolver os problemas da Administração Pública no Brasil.
O objetivo deles é favorecer ainda mais os interesses do
setor financeiro privado, em prejuízo da população.
A PEC 32 não é uma simples emenda à Constituição. É a
alteração total do papel do Estado e do funcionamento da
Administração Pública, previstos na Constituição brasileira,
que vem sendo duramente atacada desde que passou a va-
ler em 1988, quando foi chamada de Constituição cidadã.
Querem que ela passe a ser a Constituição ultraliberal, vol-
tada para os interesses das grandes corporações, ou seja,
das grandes empresas e bancos.
A PEC 32 não atinge apenas os servidores e servidoras pú-
6 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

blicas! Atinge em cheio os direitos da população aos serviços


públicos de saúde, educação, segurança, saneamento básico,
terra, trabalho e salário digno, esporte, cultura e lazer.

Origem dos direitos trabalhistas e sociais


Há apenas 133 anos, em 1888, foi legalmente abolida a
escravidão no Brasil.
Há apenas 87 anos, em 1934, foram assegurados na
Constituição Federal os direitos trabalhistas e os direitos
sociais para as classes populares.
Embora esses direitos fossem resultado das lutas e rei-
vindicações da classe trabalhadora, eram anunciados como
doação do governo, especialmente nas comemorações anu-
ais do dia primeiro de maio.
Com a Constituição Federal de 1988, graças à luta da
classe trabalhadora e dos movimentos sociais, se busca as-
segurar os direitos sociais não só na lei, mas na prática, as-
segurando as fontes de recursos financeiros para garantir
sua efetiva aplicação.
Essas conquistas são tão importantes que foram definidas
no artigo 60 da Constituição Federal de 1988 como cláusu-
las pétreas, ou seja, normas constitucionais que não podem
ser alteradas nem mesmo por emendas à Constituição.
Dentre as cláusulas pétreas estão os direitos e garantias
fundamentais, que incluem os direitos sociais: educação,
saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, se-
gurança, previdência social, proteção à maternidade e à in-
fância e a assistência aos desamparados.
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 7
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Desrespeito e desmonte da Constituição: não


querem deixar pedra sobre pedra!

O poder financeiro, que de fato manda no Brasil, não tem


compromisso com o nosso país; nunca aceitou essas con-
quistas da classe trabalhadora e da população em geral.
Tanto é assim que de 1988 para cá, ao invés da regula-
mentação e garantia dos direitos, o que se viu foi a crescen-
te retirada de direitos da Constituição por meio de várias
emendas constitucionais, leis complementares e ordinárias
que na prática buscam fazer com que os direitos contidos
nas cláusulas pétreas não tenham nenhuma validade.
Os direitos e serviços públicos essenciais ao desenvolvi-
mento da sociedade não têm sido vistos como investimen-
tos sociais, e sequer foram garantidos plenamente, embo-
ra o Brasil seja um país muito rico em todos os aspectos e
tenha muito dinheiro em caixa para garantir tais direitos à
população, que tem arcado com altos impostos. E, assim, é
crescente a indignação da população.
8 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Com a PEC 32 o governo quer aplicar o golpe derradeiro


e extinguir os serviços públicos como direito da população
e obrigação do Estado! Isso em plena pandemia, com mais
de 400 mil pessoas mortas até abril.

Veja como o governo está agindo e o que vai


acontecer se conseguirem aprovar a PEC 32 que
trata da contrarreforma administrativa!
O que o governo está escondendo? Desrespeito ao prin-
cípio constitucional da publicidade.

Documentos sigilosos
A PEC 32 transforma profundamente a administração pú-
blica para atender os interesses do setor privado e não da
população brasileira.
E o governo quer fazer isso escondendo informações fun-
damentais! Ele decretou que os documentos técnicos e le-
gais que servem de fundamento para sua proposta fiquem
em sigilo e só sejam conhecidos depois da votação da PEC
32 no Congresso, como foi noticiado pela imprensa (veja
matéria aqui: https://bit.ly/3iiVryK). Isso é ilegal e fere o prin-
cípio constitucional da publicidade.
Por que os deputados, deputadas, senadores, senadoras
e a população não podem ter conhecimento integral dos
documentos utilizados pelo governo para elaborar as mu-
danças que ele quer fazer na Constituição e na administra-
ção pública do Brasil?
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 9
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Maldades ainda maiores estão escondidas!


E não são só os documentos que o governo está escon-
dendo não! Ele está escondendo o seu projeto como um
todo! A PEC 32 é apenas a primeira etapa, como o próprio
governo afirma.
O governo quer fazer uma “profunda transformação do
Estado”, alterando o seu papel, de forma sigilosa e ilegal,
para que a população não reaja e fique acreditando nas
suas mentiras.

O governo esconde os documentos, as etapas


do seu projeto e a maior parcela dos gastos
financeiros do governo!
Na PEC 32 ele utiliza dados parciais do orçamento fede-
ral (estimativas de arrecadação e despesas) e deste modo
esconde a maior parte dos gastos públicos, que são os gas-
tos financeiros com a dívida pública. Para quê? Para não
mostrar quem é o verdadeiro responsável pelo rombo nas
contas públicas do Brasil, que é o Sistema da Dívida, e jogar
a culpa em servidores públicos.

O POVO
NÃO PODE
SABER!
10 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Mas, como diz o ditado popular,


a mentira tem perna curta!
O governo escondeu os documentos que utilizou para fazer
sua proposta, mas ele mesmo colocou na justificativa da PEC
32 entregue ao Congresso, que utilizou dois estudos do Banco
Mundial, que é um dos operadores do banco privado BIS.
O que diz o Banco Mundial? Que “...o gasto público é en-
gessado em categorias como folha de pagamento e previ-
dência social...”.
O governo sabe que essa afirmação é mentirosa, tendo
em vista que o maior gasto público é com juros e amortiza-
ções da chamada dívida pública, uma dívida que eles – ban-
queiros e governos – não permitem que seja analisada. Por
isso são contra a auditoria da dívida pública, ou seja, não
querem que se faça um pente fino para descobrir que dívi-
da é essa, que quanto mais se paga mais se deve, e quem
se beneficia com essa dívida. De acordo com a Constituição
Federal a auditoria deveria ter sido realizada desde 1989.
Os dados do Banco Mundial são estudos feitos por enco-
menda e contrariam objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil, como soberania, cidadania e a dignida-
de da pessoa humana.
O Banco Mundial defende a privatização e descarada-
mente prega o sucateamento da educação e da saúde pú-
blicas brasileiras.
E não é só o Banco Mundial que mente em relação aos
gastos públicos no Brasil. O governo mente, manipula e leva
a conclusões erradas.
No Projeto de Lei Orçamentária Anual - PLOA 2021 que o
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 11
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

governo encaminhou ao Congresso Nacional consta a previ-


são com os gastos da dívida pública.
De acordo com a previsão do governo, esses gastos cor-
respondem a quanto? Correspondem a 53,92 por cento do
orçamento. Isso mesmo! Mais da metade de tudo que o go-
verno pretende arrecadar em 2021 (com todas as receitas
tributárias, financeiras, patrimoniais e comerciais) será des-
tinada para o pagamento da chamada dívida pública.
Nas apresentações feitas pelo governo para conven-
cer a opinião pública da necessidade de se aprovar a PEC
32/2020 o governo esconde esses gastos. E assim, proposi-
tadamente distorce os dados financeiros que respaldariam
sua proposta de emenda constitucional.
A Auditoria Cidadã da Dívida analisou o PLOA 2021. Veja
aqui: https://bit.ly/2XHyA6n
PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL PARA 2021
PLOA 2021 – VALORES PREVISTOS

Fonte: Banco de Dados - Sistema de Consulta


a LOA 2021 - https://bit.ly/2N8j8y8
12 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

E mais, o governo tenta colocar nas costas dos servidores


e servidoras públicas a responsabilidade pelos gastos pú-
blicos excessivos que, na verdade, são de responsabilidade
do Banco Central e do Sistema da Dívida.
Sem nenhuma justificativa técnica o governo usa dados
nominais em série de 12 anos, como se a inflação tivesse
sido zero neste período. Com essa manobra afirma que os
gastos com os servidores e servidoras públicas federais
cresceu 145 por cento em 12 anos. Mas, quando se compa-
ra o gasto com pessoal em relação ao PIB (produto interno
bruto) nos mesmos 12 anos o que se comprova é que não
houve aumento, mas redução dos gastos. Uma queda de
4,54 para 4,34 por cento do PIB nos gastos com os servido-
res e servidoras públicas federais.
O PIB é a soma do valor de todos os bens e serviços pro-
duzidos no país em um ano, e sua variação mede o cresci-
mento da economia.
Essa manobra do governo é mais um desrespeito com
quem mantém o Estado e presta importantes serviços para
a população.
Governo mente, também, sobre gastos públicos e quanti-
dade de servidores e servidoras.
Nas apresentações feitas pelo governo para convencer a
opinião pública da necessidade de se aprovar a PEC 32 o
governo contradiz seus próprios órgãos de controle de in-
formações e os dados da OCDE (Organização para a Coope-
ração e Desenvolvimento Econômico). Ao contrário do que
alega, o Brasil não tem funcionários e funcionárias demais.
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 13
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Isso é uma mentira! Das pessoas que trabalham no Brasil,


apenas 12,1 por cento são do serviço público.
De 1991 a 2015 a população brasileira cresceu 35 por
cento, passou de 151,6 para 204,5 milhões de habitantes.
Neste mesmo período o número de servidores teve um au-
mento de apenas 8 por cento, passou de 661.996 mil para
716.521 mil. (https://bit.ly/3ifFXeU)
E de 2016 a 2020 a população cresceu 3 por cento, foi
de 206,2 milhões para 211,8 milhões de habitantes. E o nú-
mero de servidores reduziu 4 por cento. Foi de 627 mil para
601 mil. (https://bit.ly/3vHOoow)
O objetivo do governo é levar a maioria da população a
ficar contra os servidores e servidoras públicas, que são es-
senciais para o funcionamento do Estado e para a prestação
de serviços à própria população.
Veja quem são os verdadeiros responsáveis pela falta de
dinheiro para os serviços públicos e para socorrer a popula-
ção até em momentos de pandemia!

Crise fabricada
A responsabilidade pela crise que enfrentamos no Bra-
sil desde 2015 é do Banco Central, que assim como o go-
verno está a serviço dos banqueiros e não do Brasil e de
sua população.
As medidas que o Banco Central adota para controlar a
quantidade de moeda em circulação na economia, isto é, a
sua liquidez, provoca prejuízos enormes para a população
brasileira. E ganhos absurdos para os banqueiros, especial-
14 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

mente com a remuneração da sobra de caixa dos bancos,


uma operação ilegal, principal responsável pela crise fa-
bricada, como explicado em vídeo: https://auditoriacidada.
org.br/conteudo/a-pandemia-aprofundou-a-crise-fabricada-
-video-22-ehoradevirarojogo/

Para que se entenda melhor!


O dinheiro de toda a população (pessoas, empresas e ór-
gãos públicos) que está depositado nos bancos e que deve-
ria retornar à sociedade sob a forma de empréstimos a juros
baixos é a denominada sobra de caixa dos bancos. Em vez
disso, os bancos só emprestam a juros altíssimos e ainda
colocam muitas exigências para poder emprestar, pois pre-
ferem direcionar a sua sobra de caixa para depósitos junto
ao Banco Central, sem prazo determinado. O Banco Central
recebe esses depósitos dos bancos e entrega títulos da dí-
vida pública no valor correspondente e paga juros diaria-
mente aos bancos por isso. E de onde vem estes títulos que
o Banco Central entrega aos bancos? Do Tesouro Nacional.
O Tesouro Nacional doa títulos para o Banco Central dar
para os banqueiros e ainda paga juros por esses títulos. Em
outras palavras, a população brasileira paga aos banqueiros
por esses depósitos que na verdade são dinheiro da pró-
pria população. Com essa remuneração diária garantida os
bancos não têm interesse em baixar os juros e emprestar o
dinheiro para as pessoas e para as pequenas empresas.
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 15
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

E o que faz o governo federal diante disso?


Ao invés de punir os responsáveis pela fabricação da cri-
se e pelo rombo aos cofres públicos quer aprovar o Projeto
de Lei 3.877/2020 para legalizar e deixar sem limite essa
remuneração fraudulenta que tem sido paga diariamente
aos bancos.
A Auditoria Cidadã da Dívida fez vários folhetos, filmes
curtos e até uma “novela” - ASSALTO AOS COFRES PÚBLI-
COS – para denunciar essa roubalheira. Veja aqui: https://
bit.ly/3bDeL8j Fez também, uma INTERPELAÇÃO EXTRAJU-
DICIAL, que foi entregue via Cartório para os líderes dos
partidos na Câmara dos Deputados. Confira aqui: https://bit.
ly/3nKR1Bu
16 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Dívida pública e sangria do dinheiro da população

Os sucessivos governos afirmam o tempo todo que não


há dinheiro para nada, mas de 1995 a 2015, o governo fe-
deral gastou 1 trilhão de reais a menos do que o que ar-
recadou. Isso mesmo, fez uma economia forçada (chamam
de superávit primário), para deixar mais dinheiro para pa-
gamento da chamada dívida pública, ou seja, mais dinheiro
principalmente para os banqueiros e grandes investidores.
E o que aconteceu com a dívida pública federal neste pe-
ríodo de 20 anos? A dívida interna federal aumentou de 86
bilhões de reais para quase 4 trilhões. Veja dados do pró-
prio Banco Central em: https://bit.ly/3oLbLuk
E, achando pouco, em dez anos, o Tesouro Nacional gas-
tou quase 3 trilhões para sustentar o Banco Central. Veja
em: https://bit.ly/39z1ISH Até o Tribunal de Contas da União
já declarou que a dívida não serviu para investimento no
país, conforme trecho de vídeo do Senado disponível em:
https://bit.ly/2NTPlJo
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 17
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Para completar, o Banco Central foi o principal responsável


pela crise fabricada que derrubou o Produto Interno Bruto-
PIB em cerca de 7% em 2015-2016, levou milhares de
empresas à falência e milhões de pessoas ao desemprego
(https://auditoriacidada.org.br/conteudo/crise-fabricada-
expande-o-poder-do-mercado-financeiro-e-suprime-direitos-
sociais/), provocando o aumento brutal da dívida pública e a
paralisação nos investimentos públicos.
Por isso o governo esconde as verdadeiras causas da
queda do investimento público a partir de 2015, que não
tem nada a ver com os gastos com servidores e servidoras
públicas, que se mantém mais ou menos no mesmo nível.
E ataca cada vez mais os servidores e servidoras públicas.
A população não deve acreditar nas mentiras. O governo
nunca ataca as verdadeiras causas do rombo das contas pú-
blicas, que estão nos mecanismos que geram a chamada dí-
vida pública e transformam o Banco Central em uma correia
de transmissão de centenas de bilhões aos bancos todo ano.
De acordo com dados oficiais, a grande maioria dos ser-
vidores e servidoras públicas federais, 77 por cento recebe
salários de até 5 mil reais, valor inferior ao que deveria ser o
salário-mínimo, de acordo com a lei e com os cálculos feitos
pelo DIEESE, que é de 5.304,90 reais.
E a grande maioria dos servidores e servidoras públicas
estaduais e municipais recebe até 2.000 reais apenas e tem
grandes responsabilidades.
Além disso, servidores e servidoras públicas estão com
os salários congelados desde 2016, devido à Emenda
Constitucional 95.
18 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Há 20 anos os gastos com servidoras e servidores pú-


blicos aparecem em uma reta praticamente constante, en-
quanto o verdadeiro rombo das contas públicas, que está
nos gastos com a chamada dívida, aparece sempre acima
do trilhão, e dando saltos, como mostra o gráfico seguinte.
E o que propõe o governo federal? Mais arrocho nos in-
vestimentos públicos e redução de salário, para que sobre
mais para pagar a chamada dívida!

Fonte: Elaboração própria com dados do Painel do Orçamento Federal (SIOP/ME), disponível
em: https://bit.ly/3idY3h4. Acesso em 17 set 2020.
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 19
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

A PEC 186, de 2019, já aprovada e transformada em


Emenda Constitucional 109, coloca o ajuste fiscal no
texto constitucional, condenando o Brasil, em todas as
esferas (federal, estadual e municipal), à prática de política
econômica recessiva, isto é, que leva à queda da produção,
do emprego, da renda familiar. Essa EC 109 cria gatilhos
automáticos para cortar investimentos sociais, serviços
públicos e direitos de servidores e servidoras toda vez
que o gasto com a dívida pública exigir mais recursos. Veja
avaliação da Auditoria Cidadã da Dívida sobre esta PEC:
https://auditoriacidada.org.br/conteudo/extra-classe-pec-
186-concede-privilegios-ao-mercado-e-esmolas-para-o-
povo-por-maria-lucia-fattorelli/
O que precisamos é enfrentar os privilégios do Sistema
da Dívida e seus mecanismos, onde se encontra o verdadei-
ro rombo das contas públicas, principalmente porque essa
dívida não tem servido para investimentos no Brasil. Veja o
que diz a Auditoria Cidadã da Dívida sobre isso, em: https://
bit.ly/2Mv3lsZ
Em vez de acabar com o que resta dos serviços públicos,
o governo deveria acabar com os mecanismos que desviam
dinheiro público para bancos.
A pandemia aprofundou a crise fabricada, como se pode ver
em vídeo (https://auditoriacidada.org.br/conteudo/a-pandemia-
aprofundou-a-crise-fabricada-video-22-ehoradevirarojogo/
e escancarou a realidade cruel na qual vive boa parte da
população brasileira. Mais da metade da população, 125
milhões de pessoas, pediu o auxílio emergencial.
20 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Milhares de pessoas morreram e continuam morrendo


sem atendimento médico, sem remédios, leitos, respirado-
res, oxigênio, vacinas.
Enquanto isso, o governo, tenta aprovar no Congresso Nacio-
nal a PEC 32, que desmonta o que resta do Estado brasileiro.
Isso mesmo, ao invés de desmontar as medidas e os me-
canismos destruidores, que fazem parte da política mone-
tária (que visa controlar a quantidade de dinheiro em circula-
ção) operada pelo Banco Central, o governo prefere destruir
o que resta de serviços públicos de saúde, educação, mo-
radia, segurança, dentre outros, sacrificando ainda mais a
população brasileira.
A PEC 32 aprofunda a Ditadura do Capital, que já se ma-
nifesta em vários aspectos e se aprofunda em plena pande-
mia. Veja maiores informações aqui: https://bit.ly/38JLU0g
As servidoras e os servidores públicos, inclusive, os
aposentados e aposentadas são o principal alvo da PEC
32 e da recém aprovada EC 109, mas a principal prejudica-
da com essas medidas será a população que depende de
serviços públicos.
Todo o serviço público terá que ser reduzido drasticamen-
te para que se cumpra o ajuste fiscal imposto pela EC 109.
Por sua vez, se for aprovada a PEC 32 servidores públicos
perderão estabilidade, planos de carreira, Regime Jurídico
Único; terão que compartilhar atividades com terceirizados
e instituições privadas, e poderão ter seu ministério extin-
to por simples canetada presidencial, dentre outras perdas.
Veja aqui: https://bit.ly/2LQ7nf2
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 21
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Redução dos Gastos Públicos ou extinção


de serviços públicos essenciais?
O discurso do governo é de que com a aprovação da PEC
32/2020 haverá redução de gastos. Mentira! No caso de
chefias – que serão preenchidas pelos amigos e capachos
dos governantes de plantão, há risco de aumento incontro-
lável dos gastos.
Na verdade, se a proposta do governo for aprovada have-
rá redução é dos serviços públicos destinados à população;
ou seja, redução do número de escolas, hospitais, dentre
outros serviços públicos.
A ampla privatização dos serviços públicos forçará a socie-
dade a pagar caro por esses serviços, o que irá excluir a maior
parte da população brasileira que vive na pobreza, ferindo fron-
talmente os objetivos fundamentais da República e os direitos
sociais garantidos na Constituição Federal (artigos 3º e 6º).
22 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

E quem ganha e quem perde com isso?


O governo, como sabemos, defende os interesses da clas-
se dominante que está no poder, e não da população em
geral. Mas com a luta os trabalhadores, as trabalhadoras e
a população em geral conseguem garantir direitos. Quando
os direitos são assegurados na lei é mais fácil lutar por eles,
inclusive, na justiça.
Por isso é que o governo vem tentando tirar da Consti-
tuição Federal e da legislação em geral, os direitos da po-
pulação. Já fez isso com as contrarreformas da previdência
social, trabalhista, EC 95, EC 109, e agora quer desmontar a
estrutura do Estado com a PEC 32/2020, que é a contrarre-
forma administrativa. Essa proposta, se aprovada, vai preju-
dicar a prestação de serviços, deixando a população brasi-
leira desamparada.
E quem irá se beneficiar com isso são os grandes empresá-
rios que exploram de forma privada e visam altos lucros com
a saúde, a educação, a segurança pública. Ou seja, quem vai
ganhar com isso é o setor privado, que só visa o lucro.

Princípio da subsidiariedade:
o diabo mora nos detalhes!
O artigo 37 da PEC 32 altera profundamente os princí-
pios que devem ser obedecidos na Administração Pública. E
estabelece o princípio da subsidiariedade. O que isso signi-
fica? Que a prioridade para construir e manter escolas, pos-
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 23
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

tos de saúde, hospitais, universidades, centros de pesquisa,


delegacias e presídios, serviços de correio, de energia, ex-
ploração e refino de petróleo, serviços bancários, produção
e circulação do dinheiro, dentre outros serviços públicos,
será das grandes empresas privadas.
A União, os Estados e os municípios atuarão apenas “nas
sobras”, ou seja, naqueles setores e locais que os empresá-
rios não tiverem nenhum interesse porque não dão lucro.
Isso mesmo! O governo entregará de mão beijada para os
sanguessugas do Estado os serviços públicos e somente
onde eles não quiserem atuar, o Estado arca com o servi-
ço. E qualquer problema que eles tiverem o Estado socorre
e a população sofre as consequências, como vimos recen-
temente no apagão no Estado do Amapá. Pagaremos duas
vezes: para o Estado com o pagamento de impostos e taxas
e para os grandes empresários.
Vale lembrar que os grandes empresários, os banqueiros
e grandes latifundiários têm os mesmos interesses e geral-
mente os mesmos negócios associados direta ou indireta-
mente. E que se beneficiam da dívida pública, que foi trans-
formada em simples instrumento de desvio do dinheiro da
população para o setor privado.
24 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Sistema da Dívida, a maior corrupção que existe!

Há um verdadeiro Sistema da Dívida, como definiu Maria


Lucia Fattorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã
da Dívida. O instrumento de endividamento público está
funcionando às avessas: em vez de servir para aportar
recursos ao Estado, a dívida tem funcionado como um
instrumento que promove uma contínua e crescente
subtração de recursos públicos, que são direcionados
principalmente ao setor financeiro, como pode ser visto
em vídeo: https://auditoriacidada.org.br/conteudo/video-17-
ehoradevirarojogo/
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 25
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Aí está a maior corrupção que existe, funcionando com


base em um conjunto de medidas legais e ilegais, que fa-
zem com que boa parte do dinheiro da população, de tudo
que é arrecadado pelo governo federal seja destinado para
pagamento de juros e “amortizações” da dívida pública. De
cada 100 reais arrecadados pelo governo federal, aproxima-
damente 40 reais vão para os bancos e grandes investidores.
Para garantir essa sangria fraudaram a Constituição Federal
de 1988. Incluíram no artigo 166 um privilégio para a dívida
pública, ou seja, para ela não há limite de recursos e nem
exigência de que a fonte de pagamento seja determinada
no orçamento. Confira aqui: https://auditoriacidada.org.br/
conteudo/a-fraude-do-166/

Sucateamento e destruição do Estado para


beneficiar banqueiros e grandes empresários
Qual a justificativa técnica, legal, moral e ética para suca-
tear áreas tão essenciais à população como Saúde e Educa-
ção? Nenhuma!
A questão é política. É que as grandes empresas, mega
corporações, já não consideram suficiente sugar o dinheiro
da população através das benesses do Estado, como isen-
ções, desonerações, incentivos fiscais, empréstimos bilio-
nários a juros baixíssimos, privatizações, terceirizações, sal-
vamentos bancários dentre outros.
Não basta ter seus/suas representantes nos Governos, no
Legislativo, na Justiça! Não basta a impunidade diante de
seus crimes, como os de Mariana, Brumadinho, Macapá e
26 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

Manaus com a falta de oxigênio, dentre inúmeros outros! Na


fase atual do capitalismo elas querem assumir diretamente
a gestão do Estado, assumindo os serviços privatizados e se
apropriando de seus conhecimentos e demais riquezas.
É para isso que o governo está propondo através da PEC
32/2020 uma “profunda transformação do Estado”.
Por isso é que o governo esconde e manipula os dados
oficiais dele próprio e utiliza conclusões erradas do Banco
Mundial, que afirmam que os gastos com a estrutura do Es-
tado são excessivos, entre várias outras distorções. Mentira!
A pandemia desmascarou esse discurso mentiroso. Mes-
mo assim, o governo e os grandes meios de comunicação
propagam essa mentira o tempo todo.

Superpoderes para os presidentes de


plantão extinguirem órgãos públicos,
sem nenhuma discussão!
É para continuar alimentando o Sistema da Dívida e man-
tendo a sangria do dinheiro da população que o governo
quer aprovar a proposta de emenda constitucional - PEC
32/2020, que além de destruir os serviços públicos, dá po-
deres de imperador ao presidente de plantão e reduz o pa-
pel do Congresso Nacional.
Caso a proposta do governo seja aprovada, com um sim-
ples decreto presidencial, ou seja, com uma canetada e sem
nenhuma discussão, o presidente poderá extinguir universi-
dades, institutos e outros órgãos essenciais para a população.
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 27
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

Pressione deputados, deputadas e demais


parlamentares, diga não à contrarreforma
administrativa do governo!
Pressione, também, as lideranças sindicais, estudantis,
movimentos sociais, pois somente a mobilização popular
é capaz de derrotar a PEC 32, barrar os ataques e garantir
vitórias e conquistas!

Isso não Então


pode passar, vamos
senão a vida pressionar!
vai piorar!

A PEC 32 aumentará ainda mais a terrível desigualdade


social existente no Brasil. Os serviços sociais deixarão de
ser gratuitos, devido à privatização generalizada prevista
nessa proposta e, com isso, a maioria da população terá di-
ficuldades ainda maiores de acesso aos serviços essenciais.
O objetivo do governo não é reformar para melhorar os
serviços e a administração pública. É atender aos interesses
de banqueiros e grandes empresários. É fazer com que os
direitos sociais, os princípios constitucionais e os objetivos
28 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

fundamentais do Brasil, contidos na Constituição Federal,


não tenham nenhuma validade.
Pressione os parlamentares! A lista de contatos (e-mails
e redes sociais) dos parlamentares e outros materiais você
encontra na página www.auditoriacidada.org.br
PEC 32/2020 não é Reforma Administrativa! É o fim do
serviço público como direito da população!
REAJA! DIGA NÃO À PRIVATIZAÇÃO!

APOIOS

• ACD – Auditoria Cidadã da Dívida


• ADUA - Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas
• ADUFES - Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo
• ADUFPI - Associação dos Docentes da Universidade Federal do Piauí
• ANDES-SN - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
• AFIPEA - Associação dos Servidores do Ipea e Sindicato Nacional dos Servidores do Ipea
• AFRESP – Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo
• ANED - Associação Nacional dos Empregados da Dataprev
• ANFFA Sindical - Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários
• APRUMA - Seção Sindical do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior
• APUBH - Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte,
Montes Claros e Ouro Branco
• ASFOC SN - Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação
em Saúde Pública
• ASPAL - Associação dos Servidores Aposentados e Pensionistas da Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo
• ASSIBGE/SN – Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE - Núcleo Canabarro
• ASSINEP - Associação dos Servidores do INEP
• ASSOCIAÇÃO SINDICAL UNIDOS PRA LUTAR
NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA! 29
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!

• ATENS-SN - Sindicato Nacional dos Técnicos de Nível Superior das Instituições


Federais de Ensino
• ATENS/UFSM - Seção Sindical dos Técnicos de Nível Superior da UFSM
• CNASP - Coletivo Nacional de Advogados de Servidores Públicos
• CSB - Central dos Sindicatos Brasileiros
• CSPB – Confederação dos Servidores Públicos do Brasil
• CSP CONLUTAS - Central Sindical e Popular Conlutas
• FESSP-ESP – Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos no Estado de São
Paulo
• FEIPOLCON - Federação Interestadual dos Policiais Civis das Regiões Centro Oeste
e Norte
• FENAFISCO - Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital
• FENAMP - Federação Nacional dos Trabalhadores dos Ministérios Públicos
Estaduais e ANSEMP - Associação Nacional dos Servidores do Ministério Público
• FENAPRF - Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais
• FENASPS - Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde,
Trabalho, Previdência e Assistência Social
• FETEC/CUT- PR - Federação dos Bancários do Paraná
• NPCTS-UNB/CEAM - Núcleo de Políticas de Ciência, Tecnologia e Sociedade
• NC-ACD – Núcleo Capixaba da Auditoria Cidadã da Dívida
• SINASEFE - Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica
• SINASEFE IFES - Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica - Seção Sindical IFES
• SINASEMPU - Sindicato Nacional dos Servidores do MPU
• SINDICATO DOS BANCÁRIOS E FINANCIÁRIOS DE CURITIBA E REGIÃO
• SINDCEFET- MG - Seção Sindical dos Docentes do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais
• SINDCOP - Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária e demais Servidores
do Sistema Penitenciário Paulista
• SINDICONTAS/PR - Sindicato dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado do
Paraná
• SINDIFISCO/SE - Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe
• SINDILEGIS - Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal
de Contas da União
• SINDILEX - Sindicato dos Servidores da Câmara Municipal e do Tribunal de Contas
do Município de São Paulo
• SINDIPETRO LP - Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista
• SINDMPU SECCIONAL SÃO PAULO - Sindicato Nacional dos Servidores do MPU,
CNMP e ESMPU Seccional São Paulo
30 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!
DIGA NÃO À PEC 32/2020

• SINDPREV-ES - Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho e


Previdência Social no Estado do Espírito Santo
• SINDPREVS/PR - Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho,
Previdência Social e Ação Social do Estado do Paraná
• SINDPREVS/RN - Sindicato dos Trabalhadores Federais em Previdência, Saúde e
Trabalho do Estado do Rio Grande do Norte
• SINJUS MG - Sindicato dos Servidores da Justiça de 2ª Instância do Estado de
Minas Gerais
• SINTRAJUD - Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Estado de São
Paulo
• SINTERGS - Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo do
Estado do Rio Grande do Sul
• SINTSPREV MG - Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social, Saúde,
Previdência, Trabalho e Assistência Social em Minas Gerais
• SINTUFSC - Sindicato de Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de
Ensino Superior do Estado de Santa Catarina
• SISPESP – Sindicato dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo
ÍNDICE
EXPEDIENTE
Introdução Pág. 3 DIGA NÃO AO FIM DOS SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA NÃO À PEC 32/2020
Origem das Contrarreformas Pág. 5 NÃO À CONTRARREFORMA ADMINISTRATIVA!
PRIVILEGIADOS SÃO OS BANQUEIROS!
Origem dos direitos trabalhistas e sociais Pág. 6
é uma publicação da Auditoria Cidadã da Dívida – ACD, do Núcleo Capixaba
Desrespeito e desmonte da Constituição: não querem deixar da ACD e do Instituto Genildo Batista – IGB.
pedra sobre pedra! Pág. 7
Pesquisa e Redação: Lujan Maria Bacelar de Miranda
Veja como o governo está agindo e o que vai acontecer se Contribuições ao Conteúdo: Maria Lucia Fattorelli 
conseguirem aprovar a PEC 32 que trata da contrarreforma Revisão: Rodrigo Ávila e Rafael Muller
administrativa! Pág. 8 Fonte: Carta Aberta sobre a PEC 32 de iniciativa da Auditoria Cidadã da Dívida
O governo esconde os documentos, as etapas do seu projeto (ACD), disponível em https://auditoriacidada.org.br/conteudo/carta-aberta-
e a maior parcela dos gastos financeiros do governo! Pág. 9 questiona-reforma-administrativa-pec-32-2020-deputados-membros-da-ccj/
Diagramação: CR Comunicação
Crise fabricada Pág. 13 Ilustrações: Auditoria Cidadã da Dívida - ACD e Marlon Ludovico
Dívida pública e sangria do dinheiro da população Pág. 16 Edição: Maio de 2021

Redução dos Gastos Públicos ou extinção de serviços


públicos essenciais? Pág. 21
E quem ganha e quem perde com isso? Pág. 22
Princípio da subsidiariedade: o diabo mora nos detalhes! Pág. 22
Sistema da Dívida, a maior corrupção que existe! Pág. 24
Sucateamento e destruição do Estado para beneficiar
banqueiros e grandes empresários Pág. 25
Superpoderes para os presidentes de plantão extinguirem
órgãos públicos, sem nenhuma discussão! Pág. 26

Pressione deputados, deputadas e demais parlamentares, Núcleo Capixaba – NC-ACD


diga não à contrarreforma administrativa do governo! Pág. 27 nucleocapixaba.auditoriacidada@yahoo.com.br
nucleocapixaba.auditoriacidada@gmail.com
Telefone: (27) 98119-6320
DIGA NÃO AO FIM DOS
SERVIÇOS PÚBLICOS! DIGA
NÃO À PEC 32/2020

/auditoriacidada.pagina
@auditoriacidadabr
@AuditoriaCidada
/auditoriadidada
Não à Contrarreforma Administrativa!
auditoriacidada.org.br/
Auditoria Cidadã no Spotify Privilegiados são os banqueiros!
21. Educação Superior
Pública sob Ameaça
Brasília, Maio de 2021

Ana Luíza Matos de Oliveira


Professora visitante da FLACSO-Brasil e Coordenadora-Geral da Secretaria
Executiva da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público (Servir
Brasil). Mestra e doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp,
graduada em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Arthur Welle
Graduado em Ciências Sociais e em Economia pela Universidade Estadual de
Campinas, mestre em Relações Sociais pela mesma universidade (Programa
San Tiago Dantas) e doutorando em Teoria Econômica - IE/Unicamp.
Israel Matos Batista
Cientista político, leciona História e Atualidades em diversas instituições de
preparação para vestibulares e concursos. Entre 2010 e 2018, foi deputado
distrital. Atualmente é Deputado Federal pelo Distrito Federal e presidente da
Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público (Servir Brasil) e da
Frente Parlamentar Mista da Educação.

Expediente
Realização:
Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de
Estado (Fonacate) (Maio, 2021)
Autor:
Ana Luíza Matos de Oliveira
Arthur Welle
Israel Matos Batista
As opiniões aqui emitidas são de responsabilidade
dos autores e colaboradores.
Diagramação:
Diego Feitosa

Apoio:
Reforma Administrativa • 2021

Educação Superior
Pública sob Ameaça

a educação básica ser obrigatória no Bra-


Ana Luíza Matos de Oliveira1
Arthur Welle2
sil, o acesso aos níveis mais elevados do
Israel Matos Batista3
ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um, é tam-
1. Introdução bém um direito, ou seja, a CF 88 também
O Brasil tem um profundo histórico autori- garante a educação superior como direito.
tário. É por isso que a Constituição Federal No entanto, mais recentemente, por aqui
de 1988 (CF 88), em seu artigo 206, enume- se soma ao autoritarismo do país, também
ra os princípios guias para a educação, em a austeridade fiscal, paradigma até então
todos os níveis, garantindo a liberdade, o dominante na interpretação do Brasil con-
pluralismo, a gratuidade do ensino público temporâneo - pelo menos até os dias de
em estabelecimentos oficiais, a valorização hoje. Interpreta-se de acordo com este pa-
dos profissionais, a gestão democrática e a radigma que o Estado brasileiro - inchado,
qualidade. Já o artigo 207 da mesma CF 88 pesado, lento - seja a causa de todos os
trata da autonomia universitária e pretende males da nação. Nesse sentido, a propos-
se afastar do modelo de gestão adotado na ta de “cortar gastos” traria um crescimento
ditadura. Ou seja, a CF 88, em um país que econômico vigoroso, ao abrir espaço para
saía de uma ditadura militar, buscou garan- o setor privado. Esta narrativa, na literatura
tir que a educação fosse um espaço de ne- econômica, é chamada de “contração fiscal
gação do modelo anterior. expansionista”, ou seja, quando o Estado
Com a CF 88, pela primeira vez na história realiza corte de gastos, teoricamente ha-
do Brasil, a educação foi considerada um veria uma reação positiva e compensatória
direito social de caráter público, universal e do setor privado (Dweck, Rossi e Oliveira,
gratuito. Mais do que isso, no artigo 208 da 2020). Mas a pesquisa científica e a reali-
CF 88 percebe-se que, apesar de somente dade têm comprovado que esta narrativa é
um mito: seis anos após o início da adoção

1  Professora visitante da FLACSO-Brasil e Coordenadora-Geral da Secretaria Executiva da Frente Parlamentar


Mista em Defesa do Serviço Público (Servir Brasil). Mestra e doutora em Desenvolvimento Econômico pela Uni-
camp, graduada em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais.
2  Graduado em Ciências Sociais e em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Relações
Sociais pela mesma universidade (Programa San Tiago Dantas) e doutorando em Teoria Econômica - IE/Unicamp.
3  Cientista político, leciona História e Atualidades em diversas instituições de preparação para vestibulares e
concursos. Entre 2010 e 2018, foi deputado distrital. Atualmente é Deputado Federal pelo Distrito Federal e presi-
dente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público (Servir Brasil) e da Frente Parlamentar Mista da
Educação.
3
Reforma Administrativa • 2021

da austeridade fiscal no Brasil - e dos cor- 2017), que propõe cortes no financiamen-
tes à educação, em especial à educação to da educação superior que alcançariam
superior - as promessas da austeridade fis- 0,5% do PIB (Banco Mundial, 2017:14). O
cal, de pujança do crescimento e do desen- documento retoma argumentos sempre
volvimento, ainda estão por ser cumpridas. presentes na história brasileira, como o da
Para a educação superior há um enfren- defesa da cobrança de mensalidades em
tamento a mais a ser equacionado, relacio- instituições públicas.
nado à ascensão do autoritarismo. Nesse “O Governo Federal gasta aproximada-
sentido, este texto visa contribuir com res- mente 0,7% do PIB com universidades fe-
postas a duas questões: como defender a derais. A análise de eficiência indica que
educação superior pública das acusações aproximadamente um quarto desse dinhei-
de que ela é cara e não cumpre sua fun- ro é desperdiçado. Isso também se reflete
ção social? E como defender o papel das no fato de que os níveis de gastos por alu-
instituições públicas de educação superior no nas universidades públicas são de duas
enquanto espaços fundamentais da produ- a cinco vezes maior que o gasto por aluno
ção e difusão do conhecimento e do pen- em universidade privadas. A limitação do
samento crítico? financiamento em cada universidade com
Em outras palavras, esta nota técnica visa base no número de estudantes geraria
discutir como as instituições de educação uma economia de aproximadamente 0,3%
superior públicas se consolidaram no país, do PIB. Além disso, embora os estudantes
não só como polos de excelência da produ- de universidades federais não paguem por
ção de conhecimento, mas também como sua educação, mais de 65% deles perten-
importantes instrumentos de inclusão so- cem aos 40% mais ricos da população.
cial, mesmo sob forte ataque nos últimos Portanto, as despesas com universidades
anos. federais equivalem a um subsídio regressi-
vo à parcela mais rica da população brasi-
A próxima seção discutirá a importância leira. Uma vez que diplomas universitários
da educação superior pública na produção geram altos retornos pessoais (em termos
de conhecimento e na inclusão, em termos de salários mais altos no futuro), a maioria
de gênero, raça e renda. A seção seguinte dos países cobra pelo ensino fornecido em
discutirá as ameaças à educação superior universidades públicas e oferece emprés-
pública na atualidade, incluindo o impacto timos públicos que podem ser pagos com
da PEC 32/2020 (a reforma administrativa), os salários futuros dos estudantes. O Brasil
caso esta seja aprovada em seus termos já fornece esse tipo de financiamento para
originais. Por fim, tecemos considerações que estudantes possam frequentar univer-
à guisa de conclusão. sidades particulares no âmbito do progra-
ma FIES. Não existe um motivo claro que
2. A importância da educação su- impeça a adoção do mesmo modelo para
perior pública no Brasil: produ- as universidades públicas. A extensão do
ção científica e inclusão FIES às universidades federais poderia ser
combinada ao fornecimento de bolsas de
Como discutido em Oliveira (2019), há estudo gratuitas a estudantes dos 40%
diversos documentos que apontam que a mais pobres da população (atualmente,
educação superior pública seria cara ou 20% de todos os estudantes das univer-
ineficiente em comparação ao setor priva- sidades federais e 16% de todos os estu-
do. Um deles é o documento “Um Ajuste dantes universitários no país), por meio
Justo: análise da eficiência e equidade do da expansão do programa PROUNI. Todas
gasto público no Brasil” (Banco Mundial,
4
Reforma Administrativa • 2021

essas reformas, juntamente, melhorariam Segundo o documento, haveria um alto


a equidade e economizariam pelo menos nível de ineficiência nas instituições públi-
0,5% do PIB do orçamento federal.” (Banco cas de ensino superior, de tal forma que os
Mundial, 2017:13-14). mesmos resultados poderiam ser atingi-
O mesmo documento defende que parte dos com cerca de 17% menos de recursos.
dos gastos com as universidades federais Afirma-se que “universidades e institutos
seriam desperdiçados, pois os custos de um federais poderiam economizar aproximada-
estudante no setor privado são mais baixos mente R$ 10.5 bilhões por ano e ainda as-
(ignorando que as universidades públicas sim adicionar o mesmo valor que adicionam
são o locus da pesquisa4 e da extensão, atualmente” (Banco Mundial, 2017:134).
não só do ensino). Mais à frente, afirma-se Universidades estaduais poderiam econo-
que “apesar desse custo por estudante bem mizar cerca de R$ 2.7 bilhões por ano.
mais elevado, em média o valor agregado O Banco Mundial (2017:135) também re-
das universidades públicas é semelhante ao afirma a necessidade de cobrar algum tipo
valor agregado das universidades privadas” de taxa dos estudantes, pois eles seriam a
(Banco Mundial, 2017:123-124): elite: mais especificamente, apontam que
“A pontuação média do ENADE para uni- mais de 65% dos estudantes pertence aos
versidades públicas é maior do que para as 40% mais ricos da população (em 2014).
privadas. No entanto, estudantes que en- Porém, a metodologia do estudo confunde
tram nas universidades públicas tendem a Instituições Federais de Ensino (categoria
já terem atingido um maior nível de apren- mais ampla) com Universidades Federais
dizado antes mesmo de iniciar os estudos. (contida na primeira) e usa um recorte dos
Por isso, a métrica mais relevante para se 40%, demasiado amplo, pois os 40% mais
mensurar o valor adicionado é comparar ricos no Brasil, em 2015, representavam
a pontuação obtida com a pontuação es- indivíduos com renda domiciliar per capi-
perada pré-universidade. Para os cursos ta acima de 1 salário mínimo, o que clara-
de ciências exatas, universidades privadas mente não caracteriza uma elite. De fato, o
tendem a adicionar tanto valor quanto as panorama de baixíssima inclusão na edu-
universidades públicas (Figura 98). Para as cação superior pública poderia ser o caso
matérias de humanas, universidades priva- do Brasil no início do século XXI, mas não
das parecem adicionar mais valor, exceto hoje, como discutiremos a seguir.
pelos Institutos Federais. Para as ciências No início do século XXI, o Brasil passou
biológicas, Institutos, Federais e universi- por um momento de expansão e demo-
dades estaduais adicionam o maior valor; e cratização do acesso à educação superior,
universidades federais adicionam por vol- tanto na educação superior como um todo
ta do mesmo valor por estudante do que (Oliveira, 2019), quanto na educação supe-
universidades privadas sem fins lucrativos, rior pública. Neste sentido, nos aproxima-
no entanto, elas custam cerca de três vezes mos do conceito de Dubet (2015) de de-
mais.” (Banco Mundial, 2017:132-133). mocratização do acesso, que trata de uma
ampliação dos grupos sociais com acesso

4  Os dados mostram que as instituições públicas de educação superior são o locus da produção de pesquisa
no Brasil. Relatório da Clarivate Analytics (2018) confirma que 15 universidades públicas produzem 60% da ciência
brasileira, medido pelo volume de artigos publicados na base Web of Science. Também segundo este relatório, a
produção de trabalhos acadêmicos em colaboração com a indústria vem crescendo de forma exponencial no Brasil
desde a virada do século, sendo a esmagadora maioria dessas colaborações feita com universidades públicas. E,
mesmo com os cortes de financiamento à educação e à pesquisa, a produção científica do Brasil cresceu 30% entre
2013 e 2018, o equivalente ao dobro da média mundial, de 15%.
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Reforma Administrativa • 2021

à massificação; e menos do conceito do denada e dividida em nove decis, permitin-


mesmo autor de democratização interna, do separar a população em 10 décimos. O
que se refere às diferenças existentes den- primeiro décimo contém as pessoas entre
tro da educação superior; ou do conceito as 10% mais “pobres” (em termos de renda
de utilidades acadêmicas também do mes- per capita domiciliar de todas as fontes). O
mo autor, que se refere ao valor do título no último décimo contém as pessoas entre as
mercado de trabalho. 10% de maior rendimento. Nota-se ainda
Esta democratização só foi possível pela que, para compor as rendas domiciliares,
combinação de políticas públicas (como foram separadas as famílias de emprega-
o Reuni, as políticas de estímulo à perma- dos domésticos e seus familiares em um
nência dos estudantes e as cotas sociorra- novo conjunto familiar.
ciais), com planejamento e financiamento Assim, a Figura 1 nos mostra onde esta-
adequados, especificamente para este fim, vam, nos décimos de renda na sociedade
e com um quadro de crescimento do em- brasileira, os matriculados no ensino su-
prego, da formalização e da renda do tra- perior público (graduação). Note-se que
balho, que permitiu que as famílias pudes- uma distribuição completamente igualitá-
sem se organizar de forma a manter alguns ria ocorreria no caso de cada décimo de
de seus integrantes na educação superior. renda domiciliar per capita contribuir com
No entanto, desde 2015, este projeto de 10% dos estudantes da educação superior
inclusão na educação superior está sob pública. Apesar de ainda estarmos longe
ataque, basicamente por duas vertentes: de alcançar esta distribuição igualitária,
por um lado, com os cortes sofridos pelas pela figura percebe-se que há um grande
políticas públicas, devido à dominância da avanço neste início de século, com aqueles
austeridade fiscal desde 2015; por outro mais ricos perdendo espaço (de forma re-
com a forte crise no mercado de trabalho lativa, é bom que se diga, pois este proces-
também desde este ano, da qual o país so foi acompanhado de enorme expansão
ainda não se recuperou e que foi somente do número de vagas de graduação na edu-
agravada pela crise da Covid-19 (Oliveira, cação superior). Assim, se em 2001 os mais
2021). Estas questões já se refletem nos ricos (do último décimo de renda) repre-
dados que apresentaremos a seguir sobre sentavam 27% dos estudantes da educa-
o perfil dos estudantes por renda, raça/cor ção superior pública (chegando ao pico de
e gênero. 31% em 2004), em 2019 estes eram 15%. Ou
seja, o acesso à educação superior públi-
Os números e gráficos apresentados a ca se tornou muito mais democrático. Esta
seguir são baseados na PNAD e na PNAD- democratização se deve às políticas públi-
-Contínua Anual. Foi preciso agrupar, para cas e às melhorias na condição de renda
toda a série, pretos, pardos e indígenas na das famílias, porém se encontram em risco
categoria “negros”, bem como brancos e com a crise no mercado de trabalho, desde
amarelos na categoria “brancos”. A PNAD 2015; com a austeridade fiscal, que corta
não foi levada a campo nos anos de censo os recursos das políticas públicas; e com
(1991, 2000, 2010) e no ano de 1994. o autoritarismo/conservadorismo histórico,
Com a renda de todas as fontes criamos a que questiona a razão de ser das políticas.
renda per capita domiciliar. Esta renda é or-

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Reforma Administrativa • 2021

Figura 1 – Proporção de matriculados na educação superior pública (gradua-


ção) por décimo de renda na sociedade brasileira (2001 – 2019).

Fonte: Elaboração própria.

Já a figura 2 divide a população brasilei- a distribuição é mais homogênea desde


ra em raça/cor, dado que esta variável está o início da série (mas também há, neste
altamente relacionada a desigualdades di- grupo, uma tendência de queda das desi-
versas, devido ao passado de escravidão gualdades). Note-se que para o último ano
do país e ao presente de racismo estrutu- da série, 2019, a distribuição se aproxima
ral. Percebe-se que entre os brancos há bastante da comentada anteriormente, de
maior desigualdade no acesso à educação que um quadro totalmente igualitário cor-
superior (mas que também cai nos últimos responderia a cada casela com 10% (os nú-
anos) que entre os negros, grupo no qual meros variam entre 6 e 13).

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Reforma Administrativa • 2021

Figura 2 – Proporção de matriculados na educação superior pública (gradua-


ção) por décimo de renda na sociedade brasileira e cor/raça (2001 – 2019).

Fonte: Elaboração própria.

Para finalizar a análise sobre renda, a Fi- quadro é de maior desigualdade que entre
gura 3 divide os graduandos na educação as mulheres, mas para ambos os grupos há
superior pública por sexo, outra variável im- uma redução das desigualdades no acesso
portante para entender as desigualdades à educação superior ao longo dos anos.
da sociedade brasileira. Entre homens, o

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Reforma Administrativa • 2021

Figura 3 – Proporção de matriculados na educação superior pública (gradua-


ção) por décimo de renda na sociedade brasileira e sexo (2001 – 2019).

Fonte: Elaboração própria.

A Figura 4 mostra que se em 2001 os últimos anos da amostra nos mostram um


brancos ocupavam quase 70% das vagas quadro possivelmente preocupante: a que-
de graduação em instituições de educação da do percentual de negros como estudan-
superior públicas, os negros paulatinamen- tes de graduação em instituições públicas,
te ganharam mais espaço, reflexo também possivelmente como reflexo da crise no
das políticas públicas já citadas e das me- mercado de trabalho e dos cortes às po-
lhorias no mercado de trabalho durante o líticas de inclusão, apesar da manutenção
início do século XXI. No entanto, comple- das cotas sociorraciais.
mentando a análise de Oliveira (2019), os

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Reforma Administrativa • 2021

Figura 4 - Proporção de matriculados Figura 5 - Proporção de matriculados


no ensino superior público (gradua- no ensino superior público (gradua-
ção) por cor/raça (2001−2019). ção) por sexo (2001−2019).

75% 60%

70%
55%
65%

60% 50%

55%
45%
50%

45% 40%

40%
35%
35%

30% 30%
2001
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2001
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2018
2019

Brancos Negros Homens Mulheres

Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

A Figura 5 mostra a proporção de ma- Por fim a Figura 6 mostra como mulhe-
triculados em graduação em instituições res brancas e homens brancos foram per-
públicas por sexo. Como é sabido, as mu- dendo espaço em termos relativos nas
lheres são maioria neste quesito, porém os instituições públicas de educação supe-
homens ganharam espaço na educação rior (enquanto estudantes de graduação) e
superior durante o início do século XXI. No mulheres e homens negros conquistaram
entanto, é fato notório que faltam mulheres espaço. Entre os negros, as mulheres são
em cargos de professoras universitárias e maioria. E, mais recentemente, as mulhe-
em cargos de liderança dentro das univer- res negras são o grupo mais expressivo na
sidades (Fares e Oliveira, 2020), bem como educação superior pública.
persiste uma “divisão sexual” de cursos e
áreas dentro da educação superior. Isto se-
ria visível caso desagregássemos os dados
por cursos.

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Reforma Administrativa • 2021

Figura 6 - Proporção de matriculados seção anterior, é preciso falar de três mo-


no ensino superior público (gradua- mentos. Em um primeiro momento, a ado-
ção) por cor/raça e sexo (2001−2019). ção da austeridade ocorreu sem que hou-
vesse grandes modificações institucionais
nas políticas públicas em si. No entanto,
45% com a constitucionalização da austeridade
a partir da EC 95/2016 e mudanças mais
40% profundas na sociedade brasileira, passa
a haver, por parte do governo federal, um
35%
questionamento das políticas em si e dos
objetivos de inclusão social. Em outras pa-
30%
lavras, em um primeiro momento (2015) a
25% ameaça às políticas de inclusão nas ins-
tituições públicas de ensino superior veio
20% por cortes no orçamento de tais políticas;
em um segundo momento (2016 em dian-
15% te) as ameaças foram direcionadas às po-
líticas em si; e em um terceiro momento
10%
(desde 2018), aos objetivos de inclusão em
5%
si.
A partir de 2016, aumenta o espaço do se-
0%
tor privado dentro do governo, podendo in-
2001
2002
2003
2004
2005
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2007
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2015
2016
2017
2018
2019

fluenciar nas políticas públicas adotadas e


Homens brancos Homens negros podendo ampliar ainda mais a privatização
Mulheres brancas Mulheres negras em suas diversas formas (da oferta educa-
cional, do currículo e da gestão da educa-
ção). Segundo Adrião et al (2015) e Adrião
Fonte: Elaboração própria.
(2017), as corporações que atuam no setor
Assim, esta seção mostra a importância tem entrado na agenda pública educacio-
da educação superior pública, não só na nal brasileira por meio de “braços sociais”
produção de conhecimento científico, mas de empresas, tornando ainda mais frágil a
também como instrumento de inclusão so- principal conquista constitucional da edu-
cial em um país em que ter acesso à edu- cação como direito e como bem público
cação superior representa um enorme sal- (Araújo, 2017).
to na renda futura estimada (OCDE, 2018). Hoje, no governo Bolsonaro, para além da
No entanto, muitos dos avanços estão em defesa do discurso da austeridade, como já
risco na conjuntura atual. o faz o Ministro da Economia Paulo Gue-
des em todas as oportunidades possíveis,
3. Ameaças à educação superior como quando afirma que “o Brasil vai en-
pública: crise no mercado de tra- terrar o modelo social-democrata” (Istoé,
balho, austeridade, censura e re- 2018), há um ataque às políticas públicas
forma em si e aos objetivos de inclusão social. É
emblemática, nesse sentido, a fala do ex-
Quanto aos ataques às políticas públicas -Ministro da Educação, Ricardo Vélez Ro-
- em especial aqueles que impactam a edu- dríguez, em novembro de 2018, que afirmou
cação superior pública - mencionados na
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Reforma Administrativa • 2021

que: “o aluno tem que sair do segundo grau Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil,
pronto para o mercado de trabalho. Nem de que seria necessário “dar um basta nas
todo mundo quer fazer uma universidade. ideias socialistas e comunistas que, por 30
É bobagem pensar na democratização da anos, nos levaram a esse caos” (Oliveira,
universidade, nem todo mundo gosta. (...) O 2019), dentre outras defesas da ditadura
segundo grau teria como finalidade mostrar militar que tem ficado cada vez mais fre-
ao aluno que ele pode colocar em prática quentes.
os conhecimentos e ganhar dinheiro com Abrucio (2016) aponta que, além de en-
isso. Como os youtubers, ganham dinheiro frentar baixos salários e condições adver-
sem enfrentar uma universidade (Revista sas de trabalho, os professores e professo-
Fórum, 2018:1, grifo nosso). ras brasileiros agora enfrentam mais uma
O direito à educação, estabelecido na CF fonte de desvalorização: o ESP, que os trata
88 no Artigo 205 como um direito de todos, como inimigos. Abrucio (2016) acredita que
é de todos ou somente dos privilegiados? E será difícil recrutar docentes capazes de
então, novamente, em janeiro de 2019 de- exercer seu ofício com criatividade e pai-
clarou que “a universidade para todos não xão, elementos essenciais nessa profissão
existe” (Valor Econômico, 2019). Vélez de- (Abrucio, 2016:61).
pois seria substituído por Abraham Wein- Tais ataques levaram a que associações
traub e pelo Pastor Milton Ribeiro, atual de docentes se organizassem para prote-
ministro. ger a liberdade de cátedra e os próprios
É importante também citar o movimento professores. O Sindicato dos Professores
“escola sem partido” (ESP) neste contexto, das Instituições Federais de Ensino Supe-
que se coloca contra a “ideologização” da rior da Bahia (APUB), por exemplo, montou
educação básica e superior no Brasil. Se- uma cartilha de orientação para proteger
gundo Penna (2017), o movimento surgiu os docentes vítimas de ameaças e/ou in-
em 2004 e cresceu nas redes sociais atra- timidações na sua atividade profissional
vés de seu diálogo com o senso comum por (APUB, 2018).
meio de frases simplórias. Catelli Jr. (2016) Por fim, cabe lembrar que durante o pro-
e Brait (2016) também relembram os links cesso eleitoral de 2018, diversas institui-
de muitos políticos defensores do ESP com ções públicas de educação superior sofre-
grandes empresas da área da educação. ram intervenções policiais para impedir a
Penna (2017) assinala que, com frequ- realização de discussões políticas ou ma-
ência, o ESP refere-se aos últimos 30 nifestações, o que levou a que a Ministra
anos para marcar o avanço da “estratégia Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Fede-
gramsciana” do “marxismo cultural”, que ral, suspendesse, na véspera do segundo
coincidentemente é o mesmo tempo de turno das eleições, decisões que determi-
vigência da CF 88 e da democracia no navam ações policiais nas instituições de
Brasil. Segundo Frigotto (2017), o ESP emi- educação superior (Ferreira, 2018).
te uma mensagem de certeza e proposição Assim, para além das ameaças da auste-
de ideias supostamente neutras, mas que ridade – defendida pelas equipes econô-
escondem, na verdade, um teor fortemen- micas desde 2015, agora com ainda mais
te “persecutório, repressor e violento”. Por veemência –, enfrenta-se ameaças à ideia
isso, o autor se refere ao movimento como de inclusão social e ao livre pensar na edu-
escola “sem” partido. Neste sentido, o ESP cação superior.
converge com a fala de Paulo Guedes con-
tra a social democracia, com o ataque à CF Porém, a associação entre austeridade
88; e com outra fala emblemática de Onyx e autoritarismo não é algo específico do
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Reforma Administrativa • 2021

Brasil atual: Moraes (2002) já atentava para versidades federais (Carta Capital, 2019) e
a questão de que, ao interpretar a crise do fez diversos outros ataques à educação su-
mundo capitalista já na década de 1970, o perior pública.
mainstream se aproximou do conservado- Há outras ameaças, ainda em curso na
rismo. Segundo Moraes (2002), é um gran- educação superior pública. Para além da
de “mérito” da nova direita ter conectado desvalorização, tem ocorrido um cresci-
vários elementos ideológicos, indo além da mento dos casos de denúncia contra pro-
denúncia “econômica” ou “fiscal” das polí- fessores universitários, culminando por
ticas sociais, o que arriscaria preservá-las exemplo na censura prévia a dois profes-
como “coisas boas, mas impossíveis de sores da Universidade Federal de Pelotas
sustentar”. Segundo o autor, com o enfoque que haviam feito críticas ao governo fede-
da Nova Direita, as políticas sociais apare- ral (Frente Servir Brasil, 2021). Na mesma
cem como sintomas de decadência civili- linha, as universidades federais brasileiras
zacional e, simultânea e paradoxalmente, receberam, em fevereiro de 2021, ofício
como indutoras da decadência. Como algo do Ministério da Educação que alerta que
intrinsecamente mau e que não se deve manifestações políticas nas instituições
sustentar, mesmo se possível fazê-lo (Mo- podem configurar “imoralidade adminis-
raes, 2002:18). trativa” com consequente punições disci-
plinares. Os casos dialogam bastante com
4. Ameaças mais recentes à edu- o quadro apresentado da ESP e mostram
cação superior pública: onde a que o crescente autoritarismo no país tem
austeridade, o autoritarismo e a minado também a autonomia universitária,
reforma administrativa se encon- ainda garantida pela Constituição. Neste
tram quesito, é importante mencionar a grande
quantidade de instituições superiores de
Segundo Fares e Matos de Oliveira (2020), educação superior hoje sob intervenção,
os docentes da educação superior brasi- em que o Presidente Jair Bolsonaro não
leira têm sido fortemente impactados pe- aceitou o resultado de consultas internas
las abruptas mudanças realizadas no país da comunidade e nomeou, como reitores,
desde 2015. As reformas (e ameaças de pessoas não eleitas pela comunidade uni-
reformas) se somam à ampliação da carga versitária. O Andes contabiliza 24 institui-
horária, pressão psicológica e assédio ins- ções federais sob intervenção entre 2019 e
titucional. Fares e Matos de Oliveira (2020) fevereiro de 2021 (Andes, 2021).
analisam especificamente como a reforma
trabalhista de 2017 no Brasil afetou as do- Todas estas questões, somadas aos cor-
centes da educação superior. tes de financiamento e à crise do mercado
de trabalho, culminam para impactar a in-
Sobre ameaças de reforma e assédio ins- clusão na educação superior. No entanto,
titucional, é importante relembrar alguns a educação superior pública segue reali-
episódios protagonizados por Paulo Gue- zando papel fundamental na produção de
des, ministro da Economia: em uma oca- conhecimento e na inclusão social.
sião, comparou os servidores a parasitas
(Conjur, 2020); em outra, chamou-os de Mas os ataques aos servidores e em es-
inimigos, em cujos bolsos havia colocado pecial às instituições públicas de educação
uma granada (G1, 2020). Há também im- superior seguem e tomam novos formatos,
portantes episódios do ex-ministro da edu- agora com a Proposta de Emenda Consti-
cação Abraham Weintraub, que afirmou tucional (PEC) 32/2020, que propõe uma
que haveria plantação de maconha em uni- reforma administrativa. O texto inicial da

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Reforma Administrativa • 2021

PEC 32/2020 apresenta pontos bastante sível que as instituições públicas de edu-
problemáticos para o serviço público como cação superior sejam fortemente afetadas.
um todo, entre eles: Um segundo ponto é que a PEC amplia
os casos de contratação de trabalhadores
i. a inclusão do princípio da subsidiarie- temporários, retirando a restrição de que
dade no Art. 37 da CF 88, tornando o isso só ocorra em casos de excepcional in-
poder público complementar ao setor teresse público. Então haverá mais espaço
privado e prevê que seja possível fir- para contratações temporárias de servido-
mar instrumentos de cooperação com res, sobrecarregando os professores efeti-
órgãos e entidades, públicos e priva- vos com funções exclusivas destes, como
dos, para a execução de serviços pú- já ocorre hoje. Esta será uma estratégia
blicos, inclusive com o compartilha- para burlar o concurso público.
mento de estrutura física e a utilização Um terceiro ponto é que, com a reforma,
de recursos humanos de particulares, o Presidente da República passa a ter “su-
com ou sem contrapartida financeira; perpoderes” (devido às alterações propos-
ii. o desmembramento do Regime Jurí- tas no Art. 84 da CF88) e a poder trans-
dico Único em cinco novos tipos de formar e extinguir por decreto até mesmo
contratos, com a criação do vínculo fundações e autarquias, que é justamente
por experiência e a diferenciação en- como as instituições públicas de educação
tre cargo com prazo indeterminado e superior se constituem.
cargo típico de Estado, somente este Um quarto ponto é que cargos de lide-
último contando com estabilidade; rança e assessoramento passam a poder
iii. a ampliação dos casos para a contra- ser 100% ocupados por pessoas de fora do
tação temporária, arriscando a pro- serviço público. Abre-se um espaço muito
fissionalização da burocracia pública grande para o apadrinhamento no serviço
e a previsibilidade e continuidade da público, com cargos de liderança e asses-
prestação de serviços públicos; soramento podendo ser ocupados exclusi-
iv. concede “superpoderes” ao Presiden- vamente por pessoas de fora do serviço pú-
te da República na reestruturação do blico, ou seja, o servidor perde este espaço.
Estado brasileiro, com as mudanças Com isso, a reforma administrativa permite
realizadas no Art. 84. que a coordenação de curso e a chefia de
departamento nas instituições públicas,
A PEC 32/2020 também afeta fortemen- por exemplo, sejam assumidas por pessoas
te as instituições de educação superior no alheias ao magistério e ao serviço público.
Brasil. Um primeiro ponto é que a PEC co- Em meio a ataques ao livre pensar, aos cor-
loca o princípio da subsidiariedade como tes de recursos para as instituições, entre
um princípio da administração pública. outras questões, este mecanismo trazido
Com isso, o setor público se torna comple- pela reforma pode ampliar a intervenção
mentar ao privado, e não o contrário. E a político-partidária em instituições federais.
PEC também constitucionaliza uma série
de acordos do setor público com o privado, Assim, sob diversas óticas, a educação
inclusive com o compartilhamento de es- superior pública encontra-se sob ataque.
truturas do setor público. Com isso, é pos-

14
Reforma Administrativa • 2021

5. Considerações Finais de maior inclusão que na média histórica.


Assim, embora sob ameaça, a educação
A austeridade e o autoritarismo têm dado
superior ainda cumpre um papel social e
duros golpes à educação superior pública
educacional importante. No entanto, os
no Brasil. A reforma administrativa é mais
ataques sofridos pela educação superior
uma ameaça no horizonte, que se soma à
têm feito com que, mais recentemente, a
desvalorização estrutural e até mesmo à
ampliação da inclusão na educação supe-
perseguição.
rior caia.
Esta nota mostrou que a educação supe-
Estes ataques ocorrem por diversas ma-
rior cumpre uma função social fundamen-
neiras, como discutimos aqui: seja com a
tal, tanto por seu papel mais recente de
perda de poder aquisitivo das famílias, com
ampliação da inclusão de segmentos po-
a ampliação da informalidade e do desem-
pulacionais até então marginais no ensino
prego, que afeta a capacidade das famílias
público, quanto para a produção e difusão
de manterem alguns de seus membros na
do conhecimento e do pensamento crítico.
educação superior; seja com o corte das
Apesar de estar sob ameaças diversas, políticas de inclusão na educação supe-
a inclusão enquanto “estoque” na educa- rior no país desde 2015; seja ainda com as
ção superior ainda prossegue, pois o qua- ameaças constantes de reformas, assédio
dro nas Instituições de Educação Superior institucional e interferência na autonomia
Públicas ainda permanece como sendo o universitária das diversas instituições.

15
Reforma Administrativa • 2021

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17
www.fonacate.org.br
Nº 75 - ABRIL DE 2021

JORNAL DA
APUB
SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES
FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA

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Reforma
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Nº 74
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para o desmonte
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FEDE

Página 3
E D I Ç Ã O
Descontrole da pandemia dificulta DI G I TA L
retorno às aulas presenciais e
desafia docentes
Página 8

Primeira pesquisa da Apub sobre perfil docente aponta mudanças geracionais e


principais pautas da categoria - Página 13
2 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

►► EDITORIAL

Apesar dos perigos,


estamos na luta
Avançamos por 2021 com nosso cenário marcado por dois elementos
centrais: a pandemia de covid-19 e as decisões políticas do governo Bolsonaro
em relação a ela. Embora possamos concordar que não havia como prever
a eclosão da pandemia ou a gravidade do vírus, não há como dizer o mesmo
sobre a gestão que ela tem tido no Brasil. Aqui, o governo, ao contrário de
tentar conter, agiu para potencializar a transmissão da doença: escolheu,
conscientemente, a morte ao invés da vida, o negacionismo ao invés da ciência,
o desamparo ao invés da proteção social. Escolheu, e continua escolhendo,
abraçar o obscurantismo, desdenhar das medidas de isolamento social e uso
de máscara, negligenciar a compra de vacinas, retrair o auxílio emergencial
e sucatear a educação e os serviços públicos. Perdemos, até aqui, mais de
370 mil vidas. Quantas não poderiam ter sido salvas? Quantas mais iremos
perder?
Diante do horror, escolhemos nos manter em luta. Demos seguimento às
atividades iniciadas no ano passado, realizando ações de solidariedade junto
a movimentos sociais, acompanhando as condições de trabalho docente e
o debate sobre as aulas presenciais (pág. 08) e trazendo os resultados da
Pesquisa Perfil Docente (pág. 13). Ao mesmo tempo, incorporamos novas
demandas como a luta contra da Reforma Administrativa (pág. 03) e pelo
Orçamento das IFES (pág. 18); participamos do Fórum Social Mundial Online e
do Congresso Virtual da UFBA (págs. 21 e 22), apoiamos a greve dos petroleiros,
fomos à rua no 8 de março (pág. 23) e acompanhamos a organização da
primeira Consulta para reitoria da Unilab (pág. 25). Fizemos – e faremos ainda
muito mais, com a certeza de que é esse movimento que permite que, em
primeiro lugar, sobrevivamos, e, em seguida, possamos reconstruir nossa
esperança. Como sindicato docente, mantemos nosso compromisso com a
categoria, com a educação pública e com a Democracia. Homenageamos os/
as que se foram e deixamos aqui registrada nossa solidariedade com a dor
dos/as que ficaram. E, apesar de tudo – de toda a fadiga, de toda injustiça,
estamos na briga por muito mais do que sobreviver.
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
3

►► RETIRADA DE DIREITOS

Reforma Administrativa: mais


um passo para o desmonte
Desde a aprovação da Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto de gas-
tos públicos, uma das principais medidas alcançadas após o golpe de 2016, o
debate econômico é dominado pelo mote do corte de despesas. Da Reforma
Trabalhista, passando pela Reforma da Previdência até a PEC Emergencial (EC
109) e, agora, a Reforma Administrativa os discursos passam por dois pontos
principais: 1) que o Brasil estaria “quebrado” e, portanto, seria imperativo reduzir
drasticamente as despesas; 2) que existiria um excesso de direitos – ou privilé-
gios – especialmente no funcionalismo público – impedindo o investimento em
outras áreas, como saúde e educação. O que essas ideias procuram esconder,
no entanto, é a impossibilidade de fazer os investimentos sociais necessários
numa nação profundamente desigual como o Brasil caberem sob um “teto” ar-
tificial (criado há 5 anos e que se quer transformar em dogma) e que são servi-
dores e servidoras públicos os/as responsáveis por fazer funcionar as políticas
essenciais para a população.
4 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

Esse discurso antiestado tem raízes históricas. De acordo com o professor Val-
demar de Araújo Filho, do departamento de Ciência Política da Faculdade de Fi-
losofia e Ciências Humanas da UFBA, existe um processo social e político que
procura criminalizar o Estado e reduzir o seu papel na sociedade e no desenvolvi-
mento nacional, ligado à financeirização da economia brasileira e do próprio setor
produtivo: “Não só surgiu uma rede muito poderosa integrada por instituições
financeiras, agências de risco, bancos de investimentos e corretoras, como tam-
bém as grandes corporações bancárias tradicionais absorveram ou se associa-
ram a grandes grupos industriais, e parte dos lucros destes grupos passou a ter
origem em rendimentos especulativos financeiros, vinculados principalmente à
rolagem da dívida pública, lucros não operacionais. Essa mudança na morfologia
social do empresariado convergiu com a onda do neoliberalismo que ganhou for-
ça a partir dos anos 90”, explica.
Quem também aponta os problemas dessa narrativa é Ana Luíza Matos de Oli-
veira, Coordenadora-geral da Secretaria Executiva da Frente Parlamentar Mista
em Defesa do Serviço Público (Frente Servir Brasil) e uma das organizadoras do
livro Economia pós-pandemia: Desmontando os mitos da austeridade
fiscal e construindo um novo paradigma econômico”. “O debate econômico
brasileiro tem sido dominado por dogmas e por um “terrorismo fiscal”, que é ini-
bidor da discussão de alternativas. O Brasil não está quebrado e essa narrativa
de que é preciso cortar mais e mais, porém sempre dos mais pobres, ela serve a
interesses definidos, afirmou.

Servidores/as como alvo


O funcionalismo público – ou antes, parte dele – acaba sendo alvo preferencial
dos cortes, especialmente no governo atual, cujo projeto de desmonte e morte
se expressa, no Ministério da Economia, pelo ultraliberalismo de Paulo Guedes.
www.institutojoaogoulart.org.br
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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Mas o excesso de pessoal ou de privi-


légios é, também, uma narrativa. “Se- as mulheres e a
gundo o IBGE, até 2016, ano do golpe população negra são
institucional contra um governo que fortemente impactadas
valorizava um pouco o servidor públi- pela redução das
co, apenas 12% dos trabalhadores bra- políticas públicas,
sileiros eram servidores públicos, alo- justamente por delas
cados em todos os níveis de governo. mais dependerem.
Essa é a média da América Latina, uma
Todos os setores
região com muitos problemas sociais.
mais vulneráveis -
Mas em países mais desenvolvidos, o
indígenas, quilombolas,
percentual passa a ser 21% em média,
a população LGBTQI+,
e em países organizados sob a lógica
moradores de vilas
política de Estado de Bem-Estar Social,
e favelas, da região
como Dinamarca, Noruega e Suécia,
rural, nordestinos e
mais de 30% da população economi-
nortistas etc – são os
camente ativa está no serviço público.
grandes perdedores
Na verdade, a criminalização contra o
da austeridade fiscal”.
servidor público tem o objetivo de re-
duzir os custos estatais com serviços
essenciais à população e reservar grande parte do fundo público para o serviço
da dívida pública, tranquilizando os poderosos setores rentistas que controlam
parte da máquina estatal brasileira. E toda a grande imprensa está envolvida nes-
sa cruzada, porque a mídia é parte fundamental na construção desse discurso.
Criminalizam principalmente os funcionários comuns de carreiras do Executivo
enquanto deixam fora da crítica, militares, juízes e a alta burocracia política do
sistema de gestão econômica”, aponta Valdemar Filho.

Já Ana Luíza chama atenção para a necessidade de aprofundar o debate sobre


projeto de país: “a discussão sobre ‘excesso de servidores’ precisa ocorrer dentro
da reflexão de qual país queremos ter, queremos construir. Já atingimos o nosso
ideal de bem estar, de acesso aos direitos sociais, de redução das vulnerabili-
dades? Se sim, ok, não precisamos mais aumentar a quantidade de servidores.
Porém, se não chegamos – e para mim, pelo menos, este é o caso – é preciso ter
mais servidores. Políticas públicas e direitos sociais são feitas de/por servidores
públicos”. Ela também ressalta que “as mulheres e a população negra são for-
temente impactadas pela redução das políticas públicas, justamente por delas
mais dependerem. Todos os setores mais vulneráveis - indígenas, quilombolas, a
população LGBTQI+, moradores de vilas e favelas, da região rural, nordestinos e
nortistas etc – são os grandes perdedores da austeridade fiscal”.
6 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

PEC 32: quais as consequências


A Reforma Administrativa está materializada no texto da PEC 32 – embora al-
guns dispositivos já tenham sido inseridos nos gatilhos EC 109 como as pos-
sibilidades de congelamento de salários e suspensão de concursos. A PEC 32
ataca especialmente a forma de entrada no serviço público, a estabilidade do/a
servidor/a e cria divisões entre as carreiras típicas de Estado (a serem estabele-
cidas via lei complementar), que manterão a maioria dos direitos existentes hoje,
e as demais, que ficarão mais vulneráveis. “PEC 32/2020 altera dispositivos so-
bre servidores e empregados públicos e modifica a organização da administra-
ção pública direta e indireta, com alteração dos artigos 37; 39; 39-A; 40; 40-A
e 41-A, da Constituição Federal. Tais alterações extinguem o Regime Jurídico
Único do servidor público, e, consequentemente a estabilidade no serviço pú-
blico, criando novas formas de contratação pela administração pública. Assim,
criam os cargos típicos de estado e o cargo com vínculos de prazo determinado
e indeterminado, repassando para esses últimos cargos a mesma precariedade
e limitações impostas pela CLT”, explica o assessor jurídico da Apub, o advogado
Pedro Ferreira.
Outras consequências graves da Reforma são destacadas por Ana Luíza como
a previsão de que o/a servidor/a poderá perder o cargo “até mesmo por uma
decisão de órgão, deixando o servidor totalmente exposto a perseguições. Um
segundo ponto é que a PEC coloca o princípio da subsidiariedade como um prin-
cípio da administração pública. Com isso, o setor público se torna complementar
ao privado, e não o contrário. E a PEC também constitucionaliza uma série de
acordos do setor público com o privado, inclusive com o compartilhamento de
estruturas do setor público. Com isso, é possível que as instituições federais de
educação superior sejam fortemente afetadas.”
Para Valdemar Filho, “a PEC 32 não é, de fato, e em sentido rigoroso, uma re-
forma do Estado. Ela não trata nem de aspectos organizacionais do Estado e
nem das suas formas de atuação no contexto das demandas por serviços da
sociedade brasileira. Ela expressa, principalmente, as tendências hegemônicas
vigentes nos últimos trinta anos de criminalizar os funcionários e focar as medi-
das principalmente na redução do gasto público. Nesse sentido, tem o objetivo
www.sinjus.org.br
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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de sinalizar para o setor financeiro da


economia que o governo estabiliza-
A inclusão de
rá as contas públicas”. Uma evidência
quadros provisórios
disso é que a PEC deixa de fora, juí-
zes, desembargadores militares e pro- e terceirizados
curadores. Também dá autonomia ao nas universidades
Presidente para extinguir ministérios, irá contribuir para
autarquias e fundações, sem a neces- desorganizar a vida
sidade de aprovação pelo Legislativo acadêmica e debilitar
em casos em que não gere despesas. as instituições de
Ainda, permite que cargos de lideran- pesquisa, e a longo
ça e assessoramento possam a poder prazo se tornará a
ser 100% ocupados por pessoas de forma predominante de
fora do serviço público, abrindo espa-
seleção de docentes
ço para compadrios e corrupção.
porque o projeto
Ana Luíza e Valdemar concordam que do governo tem o
as Universidades serão umas das prin- principal objetivo de
cipais prejudicadas com a aprovação reduzir custos.”
da Reforma. “Ela [a PEC] fornece uma
excessiva autonomia para medidas
discricionárias por parte do Titular do Poder Executivo, com possibilidade de mu-
dar muito o perfil organizacional e funcional das entidades autárquicas e funda-
ções que integram a universidade pública no Brasil. Esse será um dos principais
aspectos que atingirá as universidades, com o potencial desmonte de ordena-
mentos organizacionais já consolidados e a extinção de instituições de pesquisa.
Outro aspecto a se considerar serão os efeitos das contratações provisórias e
terceirizações sobre o perfil acadêmico das universidades. A inclusão de quadros
provisórios e terceirizados nas universidades irá contribuir para desorganizar a
vida acadêmica e debilitar as instituições de pesquisa, e a longo prazo se tornará
a forma predominante de seleção de docentes porque o projeto do governo tem
o principal objetivo de reduzir custos.”, afirma o professor. “A reforma adminis-
trativa permite que coordenação de curso e chefia de departamento nas insti-
tuições públicas, por exemplo, seja assumida por pessoas alheias ao magistério
e ao serviço público. É possível imaginar a situação de um “interventor” nestes
cargos nas instituições federais. Com isso, em meio a ataques ao livre pensar,
aos cortes de recursos para as instituições, ameaças do tipo “Escola sem par-
tido” etc, este mecanismo trazido pela reforma pode ampliar a intervenção em
instituições federais. É bom lembrar que já são 20 as instituições federais no país
com “interventores”, que tem como reitores pessoas que não foram eleitas pela
comunidade universitária”, alerta Ana.
8 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

►► RETORNO ÀS AULAS

Descontrole da pandemia Imagem: www.onacional.com.br

dificulta retorno às aulas


presenciais e desafia
docentes
Desde março de 2020, docentes e estudantes, escolas e universidades, ór-
gãos governamentais e movimentos sociais ligados à educação têm sido de-
safiados a dar respostas a uma situação inédita e complexa: a necessidade
de manter o processo de ensino e aprendizagem e o imperativo do isolamento
social. Com alguma dose de atropelo, o ensino remoto emergencial foi adota-
do em diversas instituições, expondo o abismo social brasileiro que, mais do
que nunca, decide quem pode ou não ter acesso à educação. Ainda, mesmo
entre quem possui as condições materiais para acompanhar o ensino remo-
to, outras questões se impõem como a sobrecarga de trabalho o aumento
do tempo diante de telas, as dificuldades pedagógicas de trabalhar online
um conteúdo pensado para o offline, a as pressões psicológicas de viver no
país onde mais se morre por covid-19 no mundo. A chegada – ainda que len-
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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ta – da vacinação, levou muita gente a imaginar que o retorno às atividades


presenciais estaria próximo, com instituições de ensino propondo protocolos
sanitários e soluções híbridas como ensino semipresencial. À revelia dos/as
educadores, alguns Estados reabriram as escolas – só para fechá-las mais
adiante com o país atingindo a marca de 300 mil mortes. O que fazer?

Panorama internacional
Embora o Brasil seja o caso mais crítico, as polêmicas em torno do ensino
remoto e retorno ao presencial aconteceram no mundo todo. Quem explica é
Fátima Silva, secretária geral da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalha-
dores em Educação) e vice-presidenta da IEAL (Internacional da Educación
América Latina): “A suspensão das aulas se deu praticamente no mundo in-
teiro. Nos países da Europa foram mantidas escolas para [filhos dos trabalha-
dores] dos serviços essenciais: filhos de médicos, bombeiros, profissionais de
limpeza e manutenção de estradas, por exemplo. Mesmo nas fases agudas
da pandemia a educação infantil e creches foram mantidas para esses pro-
fissionais”. Nos países nórdicos, somente a Suécia não suspendeu as aulas
em nenhum momento – fato bastante criticado interna e internacionalmente
– e é o país nórdico que tem o maior
número de vítimas. Ainda na Europa,


vale destacar o caso de Portugal que Não tem falta de
não fechou as escolas durante a pri- protocolo de segurança.
meira onda, no ano passado. A me- O que tem é falta
dida foi revisada agora, após estudo de efetivação e de
apresentado pela FENPROF (Fede-
diálogo social com
ração Nacional dos Professores)
mostrando que 40% das infeções
o setor através de
no país teriam se dado em ambiente seus sindicatos de
escolar, incluindo os deslocamentos representação.
necessários para chegar às escolas.
Ainda segundo Fátima, na América Latina todos os países suspenderam as
aulas, com exceção da Nicarágua. Quem fechou por menos tempo foi o Uru-
guai, único caso em que o retorno foi combinado com os sindicatos docen-
tes: “. Foi feita uma Comissão e os sindicatos eram fiscalizadores dos locais
de trabalho. E onde tivesse um caso de contágio a escola era fechada”. O
caso do uruguaio é outra exceção. “O que nós vemos no conjunto dos países
da América Latina foi uma ausência de diálogo com os sindicatos e de escu-
tar a voz os professores e do pessoal não docente na questão educacional.
As medidas foram tomadas por parte de governo, muitas vezes unilateral e
impositivas para os professores. Não tem falta de protocolo de segurança. O
10 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

que tem é falta de efetivação e de diálogo social com o setor através de seus
sindicatos de representação. A gente também tem toda uma análise que o
sistema virtual não chegou onde deveria chegar. Não só porque nada substi-
tui o presencial, mas por causa das condições socioeconômicas que vão de
acesso à internet e de equipamentos”, disse Fátima.
Ela avalia que, o cenário na América Latina – dessa vez, sem exceções – é de
conflito, com muitas pressões dos setores econômicos e da educação pri-
vada para um retorno além de “uma ausência total de discussão, no pedagó-
gico, sobre como a gente vai trabalhar, quando for possível a presencialidade,
com esses alunos que não conseguiram conectar à internet e simplesmente
desertaram do processo educacional”. Outro ponto ressaltado por ela é que
apenas Argentina e Chile colocaram os professores no grupo prioritário para
a vacinação.

Na Educação Básica
No Brasil, o quadro é agravado pela postura negacionista do governo federal
que, durante a pandemia se comportou como mais um incentivador da pro-
pagação do vírus do que um agente para a sua contenção, como seria sua
responsabilidade. Mesmo que Estados tenham adotado, em maior ou menor
grau, algumas medidas de restrição, após um ano, a pressão para a reaber-
tura das escolas é mais forte do que nunca. Segundo o presidente da CNTE
Heleno Araújo Filho, são as redes estudais quem mais forçam o retorno: “A
maioria dos municípios tem a consciência de que as escolas não estão pre-
paradas para garantir a segurança sanitária para o retorno das atividades
presenciais”, disse. A Confederação tem pautado a necessidade de avançar
na vacinação, nas testagens e na participação da comunidade escolar na
elaboração de protocolos de segurança para “que minimamente, no diálogo
social e político com a representação dos segmentos da comunidade escolar
possamos pensar a perspectiva de retorno após passar essa grande crise
que estamos vivendo”.
Aqui na Bahia, o governo do Estado determinou o início do ano letivo em 15
de março, inicialmente ainda de maneira 100% remota. O Fórum Estadual de
Educação da Bahia – FEEBA, órgão responsável pelo acompanhamento das
políticas estaduais de educação, e do qual a Apub faz parte, elaborou um do-
cumento com recomendações e diretrizes para a retomada, dividida em três
fases: ensino remoto; ensino híbrido, com a inserção gradual de atividades
presenciais; e aulas totalmente presenciais condicionadas a orientação das
autoridades sanitárias e critérios científicos estabelecidos. “No documento
do FEEBA, discutimos a importância de constituir comitês, no nível estadual,
municipal e, principalmente, em cada escola para que seja possível a defi-
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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Imagem: www.correiodoscampos.com.br/
nição de diretrizes para o planejamento do retorno e a elaboração de plano
de ação da escola, contextualizado e com a participação dos professores,
estudantes e famílias, monitorado localmente, ajustado sempre que for ne-
cessário”, explicou a coordenadora do Fórum, professora Alessandra Assis
(Faced/UFBA) em entrevista ao jornal Brasil de Fato Bahia, publicada no início
de março.

Nas Universidades
A maior parte das Universidades públicas adotou, emergencialmente, o en-
sino remoto. Nelas, assim como na educação básica, as dificuldades de
infraestrutura e disparidade socioeconômica se impõem. Ainda, as especi-
ficidades de cada curso ou área de conhecimento não permitem soluções
padronizadas para todo uma comunidade. Em dezembro do ano passado
o governo Bolsonaro emitiu uma portaria marcando o retorno presencial
das universidades federais e particulares a partir de 4 de janeiro. Após re-
ações, a portaria, que violava a autonomia universitária, foi suspensa. Com
as atividades remotas mantidas e sem previsão de mudanças, pelo menos,
durante o primeiro semestre, se mantém necessário aprofundar o debate
sobre quais as condições de trabalho atuais e os critérios para um retorno
presencial seguro.

Condições de trabalho
O ineditismo da situação imposta pela pandemia ao mundo do trabalho e,
especialmente, ao setor da educação levou a transformações das pautas
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prioritárias dos sindicatos em geral. Durante o ano passado, a Apub buscou


ouvir as professoras e professores de modo a dimensionar os impactos da
realização do trabalho remoto e acolher essas novas demandas. O sindicato
realizou uma breve pesquisa, no contexto do Semestre Letivo Suplementar
da UFBA. Os docentes que responderam ao questionário apontaram dificul-
dades variadas como: necessidade de compra de equipamentos, ausência
de local exclusivo para realização das aulas, treinamento apressado ou in-
suficiente, horas excessivas de trabalho e pressões psicológicas. O debate
foi retomado na Assembleia Geral do dia 19 de fevereiro deste ano, na qual
foi encaminhada a organização de um fórum para o acompanhamento per-
manente das condições de trabalho docente, além de uma nova assembleia
para retirada do posicionamento da base sobre as condições mínimas de vol-
ta ao presencial.
Foram realizadas também, em formato online, passagens nas unidades e au-
diências com as reitorias da UFBA e UNILAB; e ainda, uma série de debates
buscando refletir e sistematizar propostas para o período, a exemplo da Carti-
lha “Orientações para o trabalho docente remoto” e dos documentos
“Docência na pandemia - por uma retomada com qualidade, segurança
e atenção às condições de trabalho e saúde docente”, voltado à realidade
da UFBA, e “Dossiê das demandas da categoria docente do campus
dos Malês da UNILAB”.
Paralelamente, o sindicato continuou buscando incidir politicamente, em ar-
ticulação com movimentos e organizações nacionais, sobre questões vitais
à Universidade pública e à ciência brasileira – cortes nos orçamentos, inter-
venções e desrespeito à autonomia nas IFES e enfrentamento aos ataques
diretos aos pesquisadores/as.
Neste início de ano, as projeções compartilhadas pela Apub a respeito da
política de morte implementada pelo governo Bolsonaro se confirmaram –
ultrapassamos 350 mil óbitos por covid-19 e temos apenas 11% da popula-
ção vacinada, com pelo menos uma dose (em 12/04) - e ainda não é possível
programar o retorno às atividades presenciais, diante da desastrosa gestão
das intercruzadas crises social, econômica e política.
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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►► PESQUISA

Primeira pesquisa
da Apub sobre perfil
docente aponta
mudanças geracionais
e principais pautas da
categoria
A compreensão dos interesses e demandas da categoria é imprescindí-
vel para uma atuação mais precisa e qualificada de qualquer sindicato e
foi com esse intuito que a Apub realizou a Pesquisa Perfil Docen-
tes das Universidades Federais Baianas, entre junho e setembro de
2020, abrangendo aspectos socioeconômicos, da carreira, condições de
trabalho e participação política. A elaboração do relatório final com análi-
se e cruzamentos dos dados contou com o trabalho do professor Gilberto
Pereira Sassi, do Instituto de Matemática e Estatística da UFBA, junto ao
grupo de Extensão “Consultoria Estatística”.
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O questionário online aplicou-se às professoras e professores – filiados


ou não, aposentados e ativos, efetivos e substitutos – da UFBA (ex-
ceto docentes do EBTT), UFOB, UFRB, UFSB, UNIVASF e UNILAB. Dos
1.074 docentes, a maioria (60%) são pessoas do gênero feminino, sendo
39% masculino e apenas duas pessoas declararam-se como não biná-
rios. Esses dados de participação dialogam com o maior engajamento
das mulheres nas atividades sindicais, percebido no cotidiano da Apub,
inclusive na própria gestão, mas também dizem respeito ao aumento de
mulheres na carreira docente do ensino superior. Elas são 51,8% do cor-
po docente nas universidades baianas e a média nacional é de 46,8%,
segundo dados da pesquisa “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais
das Mulheres no Brasil” de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).

Raça e classe
Em relação à raça e etnia, a pesquisa, em termos amostrais, confirma a
dessincronização da distribuição racial de docentes nas universidades
federais baianas em relação à população do estado. A Bahia tem qua-
se 80% de sua população autodeclarada preta ou parda, e aproximada-
mente 20% da população branca, no entanto, cerca de 50% dos docen-
tes declararam-se brancos contra
36% de pardos e 11,7% de pretos.


A Bahia tem quase
Esses números não surpreendem,
80% de sua população considerando a histórica exclusão
autodeclarada da população empobrecida, negra
preta ou parda, e (preta e parda) e indígena do aces-
aproximadamente 20% so ao ensino superior, impossibili-
da população branca, tando a formação para docência.
no entanto, cerca de Não por acaso, 60% dos pais e
50% dos docentes mães dos respondentes do ques-
tionário, têm, pelo menos, ensino
declararam-se brancos
médio completo, e 38% dos parti-
contra 36% de pardos cipantes são oriundos exclusiva-
e 11,7% de pretos.” mente de escolas privadas e 26%
estudaram nestas instituições em
algum momento da vida escolar.
Apesar disso, não é possível ignorar os avanços promovidos pelas políti-
cas afirmativas, principalmente a partir da implementação da Lei 12.711
de 2012 que fixou a política de cotas nas universidades federais para a
graduação e, mais timidamente, a aprovação de cotas nos programas de
pós-graduação das instituições. Segundo o Censo da Educação Supe-
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rior de 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a quantidade de estudantes negros
no ensino superior cresceu 75% entre 2014 e 2018, e a parcela de do-
centes pretos ou pardos apenas 8%. Ou seja, a luta pela Universidade
pública, gratuita e democrática passa, necessariamente, pelo aprofun-
damento das ações afirmativas em todas as instâncias – graduação,
pós-graduação e nos concursos públicos.

Figura 97: O gráfico de barras das variáveis campus e raça.

Outro aspecto que chama atenção no relatório é a relação entre a raça/


etnia e o campus de lotação – há indicação de que as variáveis raça
e campus estejam associadas, estando docentes negros lotados prin-
cipalmente nos campi das cidades do interior do estado da Bahia (ver
figura 97). Neste ponto, podemos considerar também de grande impor-
tância o processo de expansão e interiorização das IFES que garantiu a
entrada de uma geração de novos concursados em instituições oriun-
das de um movimento de inclusão e democratização no ensino superior.
Ainda, destaca-se no relatório que 60% dos respondentes nasceram
na região nordeste; a maioria entrou na Universidade a partir de 2010
e quase 30% entraram na Universidade depois de 2013. Tais resulta-
dos também podem estar relacionados à expansão das universidades,
possibilitando que muitas professoras e professores se mantenham ou
retornem aos seus estados de origem e deslocando a centralidade do
eixo sul-sudeste.
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Carreira e condições de trabalho


A distribuição entre os participantes da pesquisa, em relação ao regime de
trabalho, é de 88% em Dedicação Exclusiva, 8% em regime de trabalho de
40h e 3,6% em 20h. No entanto, mais de 65% relatam cumprir carga horá-
ria semanal superior ao regime; além disso, mais de 60% também afirmam
estarem insatisfeitos ou pouco satisfeitos com o trabalho na Universidade.
Questionados sobre as razões que motivam o alto índice de insatisfação, a
queixa mais comum (43,2%) diz respeito à infraestrutura inadequada - insta-
lações, equipamentos e acesso à internet - para o desenvolvimento do tra-
balho, seguida por “falta de incentivo à pesquisa científica”, com 16,4%.

Figura 24: Gráfico de barras para a variável atividades antes da pandemia.

Com esses dados, o relatório revela uma sobrecarga de atividades docentes


- distribuídas entre ensino, pesquisa, extensão e funções administrativas (ver
Figura 24), o que aponta para a urgência da ampliação das vagas e realização
de novos concursos de modo a garantir melhor distribuição de atividades,
mas também exige uma discussão da categoria aliada à luta política dos sin-
dicatos, dentro das instituições e frente aos governos, entorno das questões
próprias da carreira no esforço contínuo para garantir as melhorias nas con-
dições dessas trabalhadoras e trabalhadores e a qualificação da oferta da
educação superior.
Essa grave precarização do trabalho docente constatada pela pesquisa está
intimamente relacionada ao desinvestimento e à falta de interesse dos go-
vernos, especialmente a partir de 2015, em acolher as demandas das Uni-
versidades Públicas e da Ciência e Tecnologia. Esse cenário é agravado pelas
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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atuais medidas do governo Bolsonaro que atacam diretamente o funciona-


lismo público - cortes de recursos pela Lei Orçamentária 2021, reforma ad-
ministrativa e a recém aprovada EC 109.

Figura 101: Gráfico de barras para as variáveis Acompanhamento psicológico e psiquiátrico e


Estresse nas relações interpessoais.

Merece ainda destaque as questões relacionadas à saúde mental, pauta que


tem sido paulatinamente incorporada pelo sindicato. As respostas apontam
uma alta proporção (quase 40%) de docentes que procuraram acompanha-
mento psicológico ou psiquiátrico nos últimos três anos, e o relatório indica
que este índice pode estar relacionado a problemas no ambiente de traba-
lho, questão agravada no decorrer da pandemia, destacando a sobrecarga de
trabalho e o estresse nas relações interpessoais como possíveis fatores de
influência.

Participação política e relação com o sindicato


A maioria (71,6%) das professoras e professores que responderam ao ques-
tionário são filiados à Apub e afirmam que as principais razões para sindicali-
zação são o reconhecimento do papel do sindicato (73,3%), importância das
mobilizações de caráter público (54.65%), a conquista de acordos coletivos
e melhorias na carreira (51%) e a assistência jurídica (44,6%), confirmando
um grande interesse sobre as questões corporativas. Por outro lado, 95,3%
considera a defesa da Universidade pública como a pauta prioritária, segui-
da de conquistas salariais e da carreira (61,6%) e qualificação da assessoria
jurídica (31%), o que explicita a imbricação das questões corporativas na luta
pelo fortalecimento e desenvolvimento da Universidade pública, gratuita e
de qualidade.
*Equipe de coordenação da Pesquisa: Marta Lícia de Jesus, Leopoldina Menezes, Cláudio André de Souza e Victor Alcântara.
* *As análises foram realizadas pelo professor Gilberto Pereira Sassi por meio do projeto de extensão do Departamento de Estatística, “Consul-
toria em Estatística e Ciêcia de Dados” coordenado pela professora Carolina Costa Mota Paraíba.
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►► ECONOMIA

Orçamento 2021 coloca


educação pública em risco
Aprovada em março, com atraso devido à pandemia, a Lei Orçamentária
Anual de 2021 é o retrato do governo Jair Bolsonaro: achata os orça-
mentos da educação, saúde, pesquisa, ciência e tecnologia e privilegia
os militares com um orçamento de R$ 8,3 bilhões para o Ministério da
Defesa. Os militares também serão a única categoria a receber reajuste
salarial (a custos adicionais de R$ 7,8 bilhões), enquanto as três esfe-
ras do funcionalismo público podem ter seus salários congelados por
conta da aprovação da PEC Emergencial (hoje, Emenda Constitucional
109). Em comparação, o Ministério da Saúde, mesmo com a pandemia
em seu pior momento, receberá R$ 3,6 bilhões. Outros setores preju-
dicados foram a Previdência Social (- R$ 13 bilhões), abono salarial e
seguro-desemprego, além do IBGE que teve quase 90% de corte nos
recursos, impedindo a realização do Censo 2021. Devido ao patamar
artificialmente baixo das despesas obrigatórias – que dificilmente po-
derá ser cumprido sem paralisação da máquina pública, o texto apro-
vado foi chamado também de “orçamento fake”.

ORÇAMENTO DO CONHECIMENTO
SOFRE CORTES DESDE 2015

34,1
Perdas acumuladas
32,9
chegam a R$ 80 bilhões.
26,5

23
21,5 21,4
18,5

6,4

7,9

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Orçamento discricionário em bilhões de reais (Corrigido pelo IPCA)


Orçamento empenhado PLOA 2021 PLOA Sujeito à aprovação de créditos suplementares

Gráfico: Observatório do Conhecimento.


JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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Situação do orçamento da UFBA em 2021


Valores de custeio e de capital inscritos na Lei Orçamentária Anual - LOA, por ano,
UFBA, 2014 A 2021
250.000.000

206.770.479,67
195.173.788 195.167.018
200.000.000
177.068.954 173.864.104
167.126.366 171.871.056
163.303.544

150.000.000 167.079.012
158.730.405 161.360.647 136.493.676
158.007.419 156.615.957 156.874.022
143.172.986
131.107.306
100.000.000

50.000.000 33.895.968 36.443.383


28.088.006
15.856.685 10.510.409
10.510.409 6.434.522 5.386.370
0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

CUSTEIO CAPITAL TOTAL

Fonte: Tesouro Gerencial.


Valores nominais em R$ 1,00, da dotação inicial na LOA, sem alterações. Para 2021 os valores estão inscritos no Projeto de LOA (PLOA), em
tramitação no Congresso Nacional.
Preparado pela Coordenação de Iorçamento/PROPLAN/UFBA.

Gráfico: Pró-reitoria de Planejamento e Orçamento/UFBA

Para a educação, os cortes aprofundam um longo processo de arrocho


no setor. O Ministério da Educação terá investimento de apenas R$ 3
bilhões no ano corrente, um corte de 40%. Em cálculo feito pelo Ob-
servatório do Conhecimento, do qual a ApubDA
SITUAÇÃO DO OrÇAMENTO faz parte,
UFBA EM os2021
orçamentos
do MEC, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, CAPES e outros
centros de pesquisa acumulam, desde 2015, perdas de R$ 80 bilhões.
No dia 17 de março, a Andifes realizou uma coletiva de imprensa de-
nunciando uma redução de R$ 1.178 bilhões no orçamento das Univer-
sidades e Institutos Federais. Segundo dados divulgados pela UFBA,
o corte no orçamento de custeio da Universidade pode chegar a R$
26,8 milhões (menos 16,4%), representando uma volta a patamares
de 2010, de acordo com o pró-reitor de Planejamento e Orçamento
Eduardo Mota. A diminuição das verbas de custeio penaliza, especial-
mente os setores mais vulneráveis da comunidade universitária como
trabalhadores e trabalhadoras terceirizados/as e estudantes que de-
pendem das políticas de permanência. Pouco antes da aprovação da
LOA 2021, a pró-reitora de Assistência Estudantil e Ações Afirmativas,
Cássia Maciel afirmou que “Se confirmado, esse corte nos obrigará a
diminuir a oferta de auxílios, tanto para ingresso, quanto para perma-
nência, impactando estudantes em situação de vulnerabilidade, que
dependem desses recursos para estudar e, muitas vezes, para sobre-
viver”. No IFBA, o corte foi de R$ 14,3 milhões (- 22% do orçamento
de custeio). Segundo o Instituto, os cortes previstos implicarão na im-
possibilidade de inauguração das novas unidades em processo de im-
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plantação nos municípios de Campo Formoso e Jaguaquara. A UFOB


publicou nota detalhando as reduções feitas, entre elas, 17,5% na As-
sistência Estudantil e 16% em programas de bolsa.
Diante desse quadro, durante todo o mês de março houve atividades
de mobilização, das quais a Apub participou, junto ao Observatório do
Conhecimento. O “Enxame” pelo orçamento foi uma atividade de pres-
são sobre parlamentares através de e-mails e mensagens via redes
sociais e WhatsApp. Nos dias 23 e 24 de março aconteceram os tui-
taços #OrçamentoPelaVida. Parlamentares da oposição chegaram a
obstruir os trabalhos e atrasar a votação da matéria na Comissão Mis-
ta de Orçamento. A votação foi liberada após acordo que prevê o envio
de PLNs (Projeto de Lei do Congresso Nacional) para créditos extraor-
dinários, visando recompor parte do orçamento das áreas prioritárias
como saúde e educação. O risco é que, agora, as áreas “competem”
entre si fragmentando o esforço de mobilização.
** Com informações do Edgar Digital, Observatório do Conhecimento, CNN Brasil, Congresso em Foco e Correio Braziliense
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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►► AÇÕES DA APUB

Sindicato mantém
atividades de mobilização
A nova gestão da Apub inicia sua atuação
participando de eventos e articulações
importantes para discussões de interesse
nacional, mas também no sentido da
mobilização necessária para o enfrentamento
político neste período de agravamento da
crise social, econômica e sanitária no Brasil.
Confira algumas das ações realizadas pelo
sindicato nos três primeiros meses de 2020.

Fórum Social Mundial online


Organizações e movimentos sociais
de todo o mundo realizaram, entre
23 e 31 de janeiro, a 20ª edição do
Fórum Social Mundial, desta vez em
formato online em razão da pande-
mia de covid-19. A Apub participou
da programação com três mesas de
debate: “Pandemia: universidades e movimentos sociais e sindicais” e con-
tou com o professor Luis Eugênio Portela (ISC/UFBA), doutor em Saúde
Pública, Katarina Fernandes, militante da Campanha Periferia Viva; e media-
ção de Ana Lúcia Goés, vice-presidenta do sindicato ( assista); “Profes-
sores e a disputa sobre os rumos da educação pública em tempos inéditos”,
com as professoras Dejanira Rainha Melo, da Rede Municipal de Salvador,
Marta Lícia de Jesus (Faced/UFBA), doutora em educação e pesquisado-
ra na linha de Política e Gestão da Educação e a mediação da diretora da
Apub, Fernanda Almeida ( veja aqui); e “Caso Ford e o descaso da política
econômica e industrial”, com Allan Hayama do Sindicato dos Engenheiros
da Bahia, Juliane Furno do Instituto para a Reforma das Relações Estado
e Empresa e mediação do professor Ricardo Carvalho (Politécnica/UFBA),
membro do GT Ciência, Tecnologia e Inovação da Apub ( confira).
22 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

Comitê Baiano Vacina no SUS Já!


No dia 14 de janeiro, a Apub participou da Plenária Geral “Vacina para todos,
já!” para a discussão e defesa de um plano nacional de vacinação contra a
covid-19 integrado ao Sistema Único de Saúde, público, universal e gratuito.
A atividade contou com centenas de representações de trabalhadoras/es
do serviço público e privado, pesquisadoras/es, parlamentares e entidades
como ABRASCO, CUT, Conselhos Estadual e Nacional de Saúde e Cebes;
como encaminhamento da atividade, instalou-se o Comitê Baiano “Vacina
Já!”, com participação de cerca de 30 entidades e movimentos, entre eles
a Apub, representada pela vice-presidenta Ana Lúcia Goés. Desde então, o
Comitê tem se reunido especialistas, secretários de saúde da capital baiana
e do estado e outros membros dos poderes públicos para acompanhamen-
to e proposições entorno do combate à pandemia na Bahia. Acompanhe as
atividades através do Instagram @comitebaiano.

Congresso da UFBA 2021


A Apub participou do II Congresso Virtual UFBA, realizado entre 22 e 26
de fevereiro deste ano, como proponente de seis mesas e com ampla par-
ticipação da diretoria. Foram elas: “Organização Sindical na Luta Contra a
Precarização”, “Diálogos docentes: impactos da Reforma Administrativa
e outras contrarreformas estatais na carreira docente”, “Panorama da Ci-
ência, Tecnologia e Inovação no Brasil da COVID-19”, “Diálogos docentes:
COVID-19, ensino remoto e retomada das atividades presenciais”, “Educa-
ção e Pandemia – atravessando a tempestade” e “Combater o racismo e
promover o feminismo: pautas do movimento docente”. Acesse aqui a
playlist.
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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Apoio à greve dos petroleiros

www.sindipetroba.org.br
Em 10 de fevereiro, o Sindicato dos Petroleiros da Bahia e a Federação Única
dos Petroleiros realizaram manifestação na via de acesso à Refinaria Lan-
dulpho Alves-Mataripe, contra a venda da estatal. Participaram da mobiliza-
ção, os/as trabalhadores/as próprios e terceirizados da refinaria; também
foram convidados moradores, comerciantes e parlamentares das cidades
de São Francisco do Conde, Candeias, Madre de Deus e São Sebastião do
Passé, que terão a sua economia duramente afetadas com o desmonte e
privatização do Sistema Petrobrás pelo governo Bolsonaro, que tem como
fruto, os aumentos absurdos dos preços dos alimentos, do gás de cozinha e
dos combustíveis. A Apub apoiou a mobilização, junto com CUT, CTB, UNE-
GRO, UEB e outras organizações. No dia 17, o sindicato participou também
da plenária sindical e dos movimentos sociais para debate e articulação de
apoio à greve dos petroleiros e contra as privatizações. A diretora Luciene
Fernandes denunciou as graves consequências do desmonte de setores
estratégicos para o desenvolvimento nacional e destacou a importância
econômica e social de manter a Petrobras como empresa pública, que con-
tribuiu, inclusive, com o financiamento da educação e da ciência.

8M: dia de luta das mulheres tem atos


simbólicos e atividades online
Em momento crítico da pandemia, movimentos sociais e sindicais opta-
ram por marcar o 8 de março com atos simbólicos, evitando aglomerações,
e concentrando atividades em ambiente online. A Apub esteve presente
nas movimentações; fixou uma faixa na reitoria da UFBA – “Professoras
em defesa da educação e dos serviços públicos” e outra faixa com o lema
24 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

lançado pela Frente Brasil Popular - “Mulheres na Luta pela Vida! Vacina
para toda a população, auxílio emergencial, já! Fora Bolsonaro”, na sede do
sindicato. Na manhã do dia 08, a professora Fernanda Almeida, diretora
da Apub, representou o sindicato no ato simbólico com pratos vazios em
frente à Câmara dos Vereadores e Vereadoras de Salvador, organizado pelo
coletivo 8M em Salvador e a Frente Brasil Popular-Bahia.
Nas redes sociais, a Apub divulgou, durante todo o dia, vídeos com mensa-
gens das professoras para o dia de luta das mulheres. Participaram as do-
centes Meire Boaventura (Creche/UFBA), Luciene Fernandes (diretora da
Apub), Andrea Hack (diretora da Apub), Silvia Lúcia Ferreira (Enfermagem/
UFBA) e Leopoldina Menezes (Matemática/UFBA) e Fernanda Almeida (di-
retora da Apub). Para assistir e acompanhar esses e outros vídeos da Apub,
acesse e se inscreva no canal do sindicato no Youtube.
JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021
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►► ELEIÇÃO UNILAB

Unilab realiza primeira


consulta para escolha da
reitoria

Debate realizado pela Apub dia 09 de março, com mediação dos professores Carlos Guerola e Márcio André dos Santos,
ambos do campus dos Malês da Unilab

Pela primeira vez em seus dez anos de fundação, a comunidade universitá-


ria da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira
realizou o processo de consulta para escolha da reitoria da instituição, cuja
votação aconteceu entre os dias 15, e 17de março. Até então, a Unilab teve
cinco reitores e uma reitora pro tempore indicados pelos governos, incluin-
do o atual, professor Roque Albuquerque, o qual participou da consulta e
obteve 64% de votos válidos, juntamente com a candidata a vice-reitora,
professora Cláudia Ramos Carioca com 55%. A outra chapa concorrente foi
composta pelo professor Antônio Vieira da Silva Filho, 36% de votos váli-
dos, e a professora Carolina Maria Costa Bernardo, 45%.
O resultado do processo foi levado ao Consuni, que esteve reunido no dia 23
de março e definiu a lista tríplice a ser enviada ao MEC. O professor Márcio
André dos Santos, membro suplente do Conselho de Representantes da
Apub do campus dos malês, avaliou que a Comissão Organizadora da Con-
sulta exercitou “o respeito à democracia interna, no sentido de contemplar
os três segmentos”. Quanto às expectativas em relação à nomeação pelo
MEC, ele explicou que não é esperada a rejeição do reitor escolhido no plei-
to, o qual ocupa já o cargo como indicado por Bolsonaro em março do ano
passado.
26 JORNAL DA APUB SINDICATO | ABRIL 2021

A organização da consulta, com peso paritário entre os setores, foi resulta-


do de articulação das entidades representativas de docentes (Apub Sindi-
cato e ADUFC-Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Es-
tado do Ceará), dos técnicos-administrativos (Sindicato dos Trabalhadores
das Universidades Federais do Estado do Ceará – SINTUFCE e Sindicato
dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação das Universida-
des Públicas Federais no Estado da Bahia - ASSUFBA) e de discentes (Di-
retório Central dos Estudantes, com representação nos dois estados); e só
foi possível após intensas mobilizações internas para a aprovação do Esta-
tuto da Unilab pelo Conselho Superior, ocorrida no dia 04 de dezembro de
2020. O documento institucionaliza procedimentos e a autonomia interna
nas Instituições Federais de Ensino Superior, a exemplo da própria realiza-
ção de eleições para reitoria.

Organização da consulta
No dia 25 janeiro, a Apub esteve reunida com docentes do campus dos Ma-
lês dando início ao debate sobre o processo de consulta à comunidade; o
presidente da Apub, Emanuel Lins conduziu a reunião explicando como se
dão as consultas informais - de caráter facultativo e indicativo, organiza-
das pelas entidades representativas dos setores - e as consultas formais,
organizadas pelo CONSUNI, que formalizam a lista tríplice indicada ao MEC.
O professor enfatizou a importância de garantir o peso paritário dos votos
de docentes, técnicos-administrativos e estudantes, como forma de forta-
lecimento da democracia interna.
Já no dia 28 de janeiro, a Apub e ADUFC realizaram uma assembleia onli-
ne para discutir e deliberar sobre a consulta. “Esse momento é histórico, a
comunidade da Unilab poderá escolher sua reitoria a partir do exercício da
democracia interna, com paridade entre os setores. É, sem dúvida, um divi-
sor de águas. Não sou professor desta Universidade, mas como presidente
da Apub me sinto honrado de contribuir com esse processo, ladeado com
a ADUFC”, afirmou o professor Emanuel Lins durante a reunião. Na ocasião,
ainda foi eleita a representação docente dos Malês no Consuni - o profes-
sor Basilele Malomalo como Conselheiro Titular e Ruth Cardoso Andrade
como suplente. Ainda, em 09 de março, a Apub promoveu um debate entre
os candidatos a reitor e candidatas à vice-reitora.
APUB SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES
FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA
Endereço: Rua Professor Aristides Novis, 44,
CEP 40210-630, Federação - Salvador – Bahia.

DIRETORIA
PRESIDENTE: Emanuel Lins (UFBA/Direito)
VICE-PRESIDENTA: Ana Lúcia Góes (UFBA/ICS)
DIRETORA ADMINISTRATIVA: Andrea Beatriz Hack de Góes(UFBA/LETRAS)
DIRETORA FINANCEIRA: Fernanda Almeida Pereira (UFBA/CRECHE)
DIRETORA ACADÊMICA: Jucélia Bispo dos Santos (UNILAB/IHL - Campus Malês)
DIRETORA DE COMUNICAÇÃO E CULTURA: Luciene da Cruz Fernandes (UFBA/ICS)
DIRETOR SOCIAL E DE APOSENTADOS: Joviniano Soares de Carvalho Neto (UFBA/FFCH/Apos.)

TITULARES DO CONSELHO FISCAL


Uilma Matos (UFBA/FACED)
Leopoldina Menezes (UFBA/Matemática)
Silvia Lúcia Ferreira (UFBA/Enfermagem)

SUPLENTES DO CONSELHO FISCAL


Hebe Alves (UFBA/Teatro)
Carlos Alberto Soares (UFBA/FFCH)

CONSELHO DE REPRESENTANTES - UFBA


Manoel Marcos Freire D’Aguiar Neto (UFBA/Física/Apos.) Titular
Bárbara Coelho (UFBA/ICI) Titular
Daniel Tourinho Peres (UFBA /FFCH)) Suplente
Ricardo Carvalho (UFBA/Politécnica) Suplente

CONSELHO DE REPRESENTANTES - IMS/UFBA - VITÓRIA DA CONQUISTA


Leila Costa Cruz (IUFBA/MS) Titular
Vivian Carla Honorato dos Santos de Carvalho (IMS/CAT) Suplente

CONSELHO DE REPRESENTANTES - UFRB


Claudia Feio da Maia Lima (UFRB/CCS) Titular
Maria de Fátima da Silva Pinto Peixoto (UFRB/Aposentada) Suplente

CONSELHO DE REPRESENTANTES – IFBA


Eloisa Santos Pinto (IFBA) Titular
José Luís da Silva Moisés (IFBA) Suplente

CONSELHO DE REPRESENTANTES - UNILAB (CAMPUS DOS MALÊS)


Carlos Maroto Guerola (UNILAB/IHL) Titular
Márcio André dos Santos (UNILAB/IHL) Suplente

EXPEDIENTE
Redação: Anaíra Lôbo e Carolina Guimarães
Diagramação: Carlos Vilmar
E-mail: ascom@apub.org.br - Fechamento da edição: 06/4/2021.

71 3235-7433 71 9.9157-0037 www.apub.org.br apub@apub.org.br apubsindicat


Seminário Reforma Administrativa
CUT – 16/04/2021

Camilla Cândido
Coordenadora da área de servidor público
LBS Advogados
Reforma Administrativa
A lógica da reforma administrativa
A lógica da reforma administrativa
Quebrar o vínculo permanente do servidor com o Estado e reduzir
remuneração:

• Mitiga o concurso público


• Acaba com o estágio provatório e cria o vínculo de experiência
(desempenho satisfatório)
• Cria novos vínculos – Estado mínimo pra quem?
• Extingue o RJU- carreiras-
• Mitiga a estabilidade
• Reforma trabalhista para os empregados públicos
• Facilita a demissão – Lei ordinária disporá sobre gestão de
desempenho.
• Constitucionaliza a perseguição política (art. 41-A permite a demissão
por questão político-partidária dos cargos de liderança e
assessoramento)
• Permite a cumulação
• Retira direitos e permite a redução de salário
• Sufoca o RPPS
Últimos aspectos:

• Desconstitucionalização: normas gerais pendente de regulamentação (2ª e 3ª fase


da reforma administrativa). MP 1.042/2021

• O que está ruim pode piorar: “metas”, flexibilização das atividades, arrocho salarial,
retrocesso nas carreiras, pressão social e menor orçamento

• Liberdade sindical- poder de negociação, financiamento e fragmentação

• PEC da Rachadinha ( Gerencialista + patrimonialista)


Obrigada!

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