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http://geaciprianobarata.blogspot.com/2014/07/blues-breve-historia-de-1910-1930.html
1 INTRODUÇÃO
As décadas de 1910 até 1930, são colocadas como a época “áurea” do blues
nos Estados Unidos. Isto porque é neste período que entram em cena dois
fatores que contribuem para a divulgação deste estilo musical: os folcloristas e
os discos de vinil. Os folcloristas passam a viajar pelo interior dos E.U.A
pesquisando sobre os mais variados temas. Desta forma contribuem para que
o blues seja divulgado e se torne popular.
Desta forma, o blues não passa apenas por um simples ritmo musical, é
também um importante movimento cultural e social. Isto porque engloba não só
canções de temas tristes mas a possibilidade de fuga, que pode ser entendida
como uma insubmissão ao que a realidade brutal e as condições de vida
impõem aos sujeitos que fazem, que cantam, o blues. Assim, o blues marca em
uma esfera cultural, pois é essencialmente um estilo musical. Segundo o
historiador inglês Eric J. Hobsbawm, “o ponto importante a respeito do blues é
que marca uma evolução não apenas musical, mas também social: o
aparecimento de uma forma particular de canção individual, comentando a vida
cotidiana (1990, p.56)”.
Este trabalho não buscou ser um estudo definitivo, nem mesmo tem a
pretensão de esgotar o assunto, pois há muito material que pode ser analisado
e servir para as mais diversas interpretações. Além do que, um estudo mais
aprofundado do blues merece um trabalho de maior folego. Sendo assim, este
artigo apenas elenca as origens, temas específicos, músicos e contextos
sociais para a compreensão daquela realidade que proporcionou o
desenvolvimento do blues estadunidense.
O blues e o Jazz tem uma raiz musical em comum que são os work songs e os
spirituals.
Os work songs são os cantigos dos negros escravizados que trabalhavam nos
latifúndios do sul dos Estados Unidos. São musicas que falam do trabalho que
era realizado (worksignifica trabalho em inglês). Suas origens se estendem
desde antes da guerra civil de 1861-1865.Enquanto os escravizados
trabalhavam, eles entoavam sozinhos, ou em conjunto, canções sobre sua
difícil vida, sobre o trabalho e o local onde ele se realizava. Estas canções
entoadas pelos trabalhadores escravizados se disseminavam facilmente. Eram
passadas de geração para geração de forma oral. A oralidade, deste modo, é
um importante difusor de cultura, sabedoria e tradição.
Os spirituals são canções que tinham algo de religioso, mas não chegavam a
ser exatamente uma oração. O spiritual tinha origens remotas, que chegam na
Europa do século XVIII. Provavelmente, alguns colonos chegaram na América
com estas canções e logo se disseminaram. Os spirituals são uma espécie de
lamento cantado – um lamento que vem do âmago do indivíduo, portanto, do
espirito. Seus temas dizem respeito a fuga para um lugar melhor, uma terra
prometida de liberdade. Alguns spirituals tinham uma linguagem própria, que só
os negros escravizados entendiam. Desta forma, muitas vezes serviam como
uma espécie de código para uma possível fuga.
Assim, houve uma “releitura” dos antigos work song se spirituals com um
sentido de dar uma identidade a esta parte excluída da população; uma
identidade que não fosse veiculada culturalmente a dos brancos. Desta forma,
os work songs e os spirituals se fundiram e deram origem ao blues e o jazz. A
diferença básica entre estes dois estilos musicais é que o blues é geralmente
tocado com um tema bem definido, mas que cabe uma boa dose de
improvisação; o jazz é muito mais improviso instrumental e muitas vezes não
tem um tema vocal nesta improvisação.
3 OS TEMAS DO BLUES
Os temas das músicas de blues são dos mais variados. Entretanto, todos tem
algo em comum: relatam a vida dos seus cantores, os blues-singers. Situações
difíceis na vidas de homens e mulheres que ganham a vida em meio a um
contexto racista dos final dos século XIX e início do XX. Segundo Paul Oliver,
“Alguns blues descrevem desastres ou incidentes pessoais; crimes,
prostituição, jogatina, álcool e aprisionamento têm sido sempre temas
destacados. Alguns blues são mais suaves mas poucos revelam uma réplica à
natureza; longe disso, expressam um desejo de mudar-se ou escapar por trem
ou pela estrada para uma imaginada terra melhor” (1989, p.51-52).
Dentre as cidades que se destacam neste cenário do blues nos anos de 1920 e
1930 estão: New Orleans, Chicago, New York e Detroit. Os blues-singers em
evidência nesta época são provenientes dos estados do sul dos E.U.A e desde
cedo já entoavam as canções de seus ancestrais. Conforme estes músicos iam
viajando pela região, novas ideias surgiam para eles colocarem sob o cantar
triste do blues.
Embora estas cantoras tenham dado um impulso considerável para que o blues
se popularizasse, outros blues-singer itinerantes como Leadbelly, “Blind
Lemon” Jefferson e Robert Johnson também se tornaram personagens
intrigantes e influentes do blues.
Lead Belly
A figura mais instigante e mítica do blues desta época é sem dúvida Robert
Johnson (1912-1939). Johnson é considerado um “inovador”. Ele faz uma
ponte entre as tradições rurais do blues, muito forte em seus predecessores de
“Ma” Rainey até “Blind” L. Jefferson, com uma nova tradição urbana que surge
neste instante e que ainda não possuía um terreno fértil. Muitos diziam que
Robert Johnson tinha um pacto com o demônio e se apresentava de costas
para a plateia, pois as notas que ele fazia em seu violão eram guiadas pelo
demônio e ninguém podia vê-lo de frente, porque estaria possuído. Lendas e
mitos à parte, Johnson teve uma considerável influência nos músicos de blues
que iriam se destacar nas décadas seguintes. Mais do que isso, a música de
Johnson tem uma forte influência não só nos E.U.A mas também na Inglaterra,
onde o som dele será redescoberto em diversas releituras por músicos dos
anos de 1960 e 1970, entre os quais Eric Clapton e os Rolling Stones.
Portanto, não seria apenas por causa dos folcloristas como Alan Lomax que
estas músicas se tornariam conhecidas, mas também a seriam devido a seus
próprios interpretes e criadores.
5 AS MÚSICAS
Por tanto, temos um período em que esta música é disseminada por cantores
itinerantes e por folcloristas; ao mesmo tempo em que as gravações constituem
um importante registro não só da produção da época, mas também de antigas
canções que ganham vida através de seus interpretes.
A cantora “Ma” Rainey também teve suas canções de sucesso. Counting the
Blues, Jelly Beans Bluese Leve e Camp Moan são seus maiores sucessos já
na década de 1910-1920.
É, contudo, em meados dos anos 1920 que Bessie Smith começa a ascender
no cenário musical. As canções You´ve Been a Good Ole Wagone A Good Man
is Hard to Find, deram a Bessie uma repercussão que ultrapassou as barreiras
dos E.U.A mas sua canção mais famosa, Careless Love, não é uma canção de
sua autoria. É mais uma destas canções de origem remota e cujo verdadeiro
autor pode ter sido uma ou várias pessoas, pois vem de uma tradição oral.
Bessie Smith
Leadbelly inspirou “Blind Lemon” Jefferson, como já foi dito, portanto não é de
se admirar que muitas das canções deste tenham uma forte influência daquele.
O própria canção de Leadbelly Blind Lemon Blues foi regravada por Jefferson.
“Blind Lemon” gravou no final dos anos 1920 em Chicago, músicas como Black
Snake Moan, com um forte apelo sexual na letra, Folk Bluese Riverside125;
que constituem um importante registro deste final de década.
Com efeito, mesmo que estas músicas tenham sido gravadas, e de fato foram,
muito se questiona se foram ou não estes artistas que as compuseram
realmente.
Como foi dito acima, o blues e o jazz tem suas raízes em comum, o work-songs
e os spirituals. Também foi ressaltado que a diferença básica entre os dois
estilos é que o blues possui um tema fixo que tem suas variações durante as
músicas, já o jazz não tem um tema fixo e as variações instrumentais tomam
conta de toda a canção.
Com efeito, é somente após os anos 1920 que o jazz se torna de fato um estilo
consolidado, capaz de “andar com suas próprias pernas”. Embora a influência
do blues sempre esteja presente, os artistas do jazz acabam por dar ao estilo
novos contornos, o que afasta o jazz de sua principal raiz musical que é o
blues.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com efeito, o blues se torna popular já no início do século XX. Desde então,
suas influências na música moderna são quase intrínsecas. Muitos cantores
estadunidenses, e de todas as partes do mundo, volta e meia, fazem suas
releituras do blues. Nos anos de 1920 em diante, o próprio jazz, com suas Big-
Band se seu som frenético é influenciados pelo blues e suas raízes antigas, o
work-Songse o spirituals. Entretanto, o próprio jazz é considerado uma espécie
de evolução do blues.
REFERÊNCIAS
KARNAL, Leandro [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI.
São
Paulo: Contexto, 2007.
OLIVER, Paul; et al. Gospel, Blues e Jazz. Porto Alegre: L&PM, 1989.
Sobre o Autor:
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos
Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e
Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e
radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos
escritos sobre educação, cultura e política.