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e a cidade planejada
Belo Horizonte, 1918
Scientia
U F /I'\ G
A Influenza Espanhola e a cidade planejada
Belo Horizonte, 1918
Belo Horizonte
2020
S586i
Silveira, Anny Jackeline Torres, 1965-
A influenza espanhola e a cidade planejada : Belo Horizonte, 1918 / Anny Jackeline
Torres Silveira. – Belo Horizonte, MG : Argvmentvm : FAPEMIG : CAPES, 2008.
304 p. ; il. – (Scientia ; 9)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-98885-25-4
1. Gripe espanhola – Belo Horizonte (MG) – História. 2. Saúde pública – Belo Horizonte
(MG) - História. 3. Belo Horizonte (MG) – Condições sanitárias – História. 4. Belo Horizonte
(MG) – História. I. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais. II. Coorde-
nação de Amparo à Pesquisa de Nível Superior. III. Título. IV. Título: Belo Horizonte, 1918.
V. Série.
08-2126. CDD: 614.5180981511
CDU: 616.921.5(815.11)
28.05.08 30.05.08 006883
CONSELHO EDITORIAL:
Betânia Gonçalves Figueiredo | UFMG
Carlos Alberto Filgueiras | UFRJ
Bernardo Jefferson de Oliveira | UFMG
Gilberto Hochman | Fiocruz
Maria Amélia Dantes | USP
Maria de Fátima Nunes |Universidade de Évora - Portugal
Mauro Lúcio Leitão Condé | UFMG
Olival Freire | UFBA
Prefácio............................................................................... 13
Introdução ........................................................................... 17
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 4
Tabela 1
Mortalidade por Doenças Transmissíveis em
Belo Horizonte –1910-1920 ..................................................... 130
Tabela 2
Mortalidade em Belo Horizonte –1897-1912 ................................. 131
Tabela 3
Notificações e óbitos devidos à gripe em Belo Horizonte,
no último trimestre de 1918. .................................................... 162
IMAGENS
13
14
15
1
O texto aqui apresentado é, originalmente, fruto do trabalho de pesquisa para a
conclusão do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal Fluminense, no ano de 2004. Novos trabalhos vieram a
público no período que separa a finalização do texto e sua transformação em livro.
Optou-se, nessa publicação, pela não atualização das notas e referências bibliográ-
ficas à luz dessas novas contribuições.
2
As primeiras notícias divulgadas em março referiam-se à SARS como uma “pneu-
monia misteriosa”. Somente no mês seguinte, o termo SARS passaria a ser empre-
gado pela imprensa. Folha de São Paulo, 26 de março de 2003, p.A11.
17
3
Notícias divulgadas sobre a epidemia de SARS pelo jornal Folha de São Paulo, 7
de maio de 2003, p.A11; 6 de maio de 2003, p.A11; 9 de maio de 2003, p.A15;
21 de abril de 2003, p.A9; 28 de abril de 2003, p.A12; 26 de abril de 2003,
p.A6; 25 de abril de 2003, p.A10.
18
19
20
21
4
A primeira perspectiva é defendida por CROSBY,1999; para a segunda, cf.:
SLACK, 1991; ROSENBERG, 1985; DELUMEAU, 1996, entre outros.
22
5
Entre os autores brasileiros, cf.: COSTA, 1999; LUZ, 1982; MACHADO, 1978.
23
24
25
1
Diário de Minas, 2 e 3 de agosto de 1918, p. 1.
27
2
Diário de Minas, 24 de setembro de 1918, p. 1. Cf.: MARTINS, 2000:102.
3
Diário de Minas, 24 de setembro de 1918, p. 1.
4
O termo pandemia define o caráter amplamente disseminado alcançado por uma
determinada enfermidade. (HOUAISS, 2001:2116). Atualmente, a Virologia esta-
belece uma distinção mais precisa para o uso dos termos epidemia e pandemia,
relacionando-as com as variações antigênicas dos vírus, que afetam a capacidade
imunológica dos infectados. As novas epidemias seriam eventos decorrentes de
uma mutação nos genes das duas glicoproteínas que revestem o envelope viral
(genetic drift). Por seu turno, as pandemias decorreriam de uma recombinação
desses mesmos genes (genetic shift) (KILBOURNE, 1991). Karl David Patterson
define a pandemia como “uma eclosão generalizada com alta morbidade, que se
difunde rapidamente em um padrão preciso como se tivesse uma origem única, e
que aparece aos observadores contemporâneos como sendo uma epidemia nova e
imprevista (PATTERSON, 1986:3-4).
5
As informações sobre os primeiros casos de vítimas fatais variam. Segundo Pedro
Nava, os primeiros óbitos seriam de membros da missão médica brasileira a bordo
do La Plata, quando este chegou a Freetown, um protetorado britânico em Serra
Leoa (NAVA, 2001). Freetown é apontado como um dos três lugares onde uma
mutação do vírus fez explodir a pandemia de influenza de virulência sem prece-
dentes em toda a história da humanidade (CROSBY, 1999:37).
28
29
6
A onda letal da influenza teria surgido em agosto de 1918, e o armistício pondo fim
à guerra seria assinado em 11 de novembro do mesmo ano (Cf.: CROSBY, 1999).
30
31
7
Os termos utilizados na designação das duas ondas de influenza em 1918 tomam
por referência a ocorrência das estações do hemisfério norte.
8
Karl Patterson e Gerald Pyle afirmam a existência de teorias que propõem que a
onda da primavera tenha surgido na China, chegando aos Estados Unidos e França
através dos trabalhadores imigrantes chineses. No entanto, apontam não haver evi-
dências que sustentem essa interpretação, sendo sua origem provável a propaganda
de guerra alemã que, erroneamente, teria associado a influenza com a peste bubô-
nica, presente em algumas regiões daquele país (PATTERSON e PYLE, 1991:8).
32
33
34
9
Locais onde o Estado era não apenas ineficiente no atendimento à saúde, mas no
próprio conhecimento sobre sua população (Cf. PATTERSON e PYLE, 1991:13).
35
10
Nesse momento, já era de conhecimento público a situação sanitária da região de
Dakar, onde a moléstia, ainda indefinida, havia atacado a missão brasileira.
11
O País, 27 de setembro de 1918, citado in BRITO, 1997.
36
12
Essa carta foi publicada pelo jornal A Gazeta de Notícias, no dia 21 de outubro,
como resposta às notícias divulgadas pelo mesmo periódico afirmando ter o capitão
do Demerera entrado na cidade desacatando as ordens em contrário do inspetor de
saúde daquele porto (MEYER e TEIXEIRA, 1929:430-431).
37
13
“Thanatomorbia”, literalmente doença da morte, ou medo doentio da morte
(MEYER e TEIXEIRA, 1920:593).
38
14
Dados de Ofício dirigido pelo Dr. Teófilo Torres, diretor geral da saúde pública ao
Ministro da Justiça, reproduzindo os dados apresentados pelo Dr. Sampaio Vianna,
médico demografista da mesma Diretoria In: MEYER E TEIXEIRA, 1920:496. A
descrição sobre a pandemia no Rio de Janeiro pode ser acompanhada através do
Minas Gerais, que reproduzia diariamente as notícias divulgadas pela imprensa cari-
oca (Cf. também: MONCORVO FILHO, 1924; BRITO, 1997, e GOULART, 2003).
15
Bertolli Filho apresenta um total de 12.338 óbitos de espanholados para o perí-
odo integral da pandemia na cidade do Rio de Janeiro (BERTOLLI FILHO, 1986:97
e 103). Confrontando relatórios oficiais, cartas pessoais e notas jornalísticas compi-
ladas no relatório do Serviço Sanitário de São Paulo de 1920, Bertolli Filho aponta
a cifra total de 35.240 óbitos gripais em 12 estados brasileiros, dado, segundo ele,
também certamente subestimado.
39
16
Minas Gerais, 11 de outubro de 1918, p. 3.
17
Sobre o declínio no Rio de Janeiro e as novas áreas de expansão da doença ver
Minas Gerais, 25 de outubro de 1918, p. 6; 26 de outubro, p. 2; 3 de novembro,
p. 5 e 8 de novembro de 1918, p. 1-2.
40
18
Informações detalhadas sobre a pandemia em São Paulo são apresentadas em
MEYER e TEIXEIRA, 1920. Análises acadêmicas sobre a pandemia na capital
paulista foram realizadas por BERTOLLI FILHO, 1986 e BERTUCCI, 2002.
19
Sobre o primeiro caso da influenza em São Paulo ver BERTOLLI FILHO,
1986:196. Os dados diários sobre a expansão da epidemia em São Paulo estão em
MEYER e TEIXEIRA, 1920:48-57.
41
20
Os dados e as estimativas apresentados estão em BERTOLLI FILHO, 1986:106-
117.
42
21
Os dados relativos à Bahia estão em MEYER E TEIXEIRA, 1920:557-562. A
pandemia na cidade de Salvador é objeto da pesquisa de doutorado de Christiane
Maria Cruz de Souza, que está sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-
Graduação em História das Ciências da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz, do
Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
22
Jornal do Comércio, 13 de outubro de 1918, citado in: MEYER E TEIXEIRA,
1920:540.
43
23
Bertolli Filho também faz referência ao uso de alcatrão e enxofre entre os morado-
res de São Paulo, como substâncias supostamente anti-sépticas, enumerando ainda
o piche, o querosene, folhas de eucalipto e cal virgem como portadores das mesmas
qualidades (BERTOLLI FILHO, 1986:157-160). Jean Delumeau aponta que, até
por volta do século XIX, uma das precauções contra as pestes eram as fogueiras
purificadoras que se acendiam nas encruzilhadas de uma cidade contaminada, e
que, entre os desinfetantes usados em indivíduos, roupas e lugares, estava o enxofre
(DELUMEAU, 1996:110). Vale mencionar que a cultura popular associa o cheiro
do enxofre à presença do demônio, entidade que aflige aos pecadores, o que sugere
a possibilidade de um fundo religioso para tais práticas purificadoras.
24
Sobre Sergipe e Piauí, ver MEYER E TEIXEIRA, 1920, respectivamente p.
635-637 e 541-542.
44
25
Entre as medidas estavam o isolamento e proibição do desembarque de passa-
geiros em trânsito de embarcações que reportassem a existência da doença a bor-
do, a instalação de um desinfectório no porto e a vigilância dos passageiros desem-
barcados, especialmente os convalescentes, enviados a uma hospedaria que contava
com vigilância médica e assistência da polícia.
45
26
Para cidade do Rio Grande ver também: OLYNTO, 1995.
27
As conseqüências da influenza em Porto Alegre podem ser acompanhadas em
ABRÃO, 1998: 64-72.
28
Os dados sobre Paraná e Santa Catarina são encontrados em MEYER E
TEIXEIRA, 1920:579-582 e 616.
46
47
29
Ao examinarmos a rota da influenza pelo Brasil, devemos ter em mente os
problemas de credibilidade dos dados apresentados pelas autoridades de saúde
pública nos diversos estados. Como já ressaltado por Patterson e Pyle e por Bertolli
Filho, as informações oficiais apresentam diversas lacunas e as notícias veiculadas
pela imprensa muitas vezes confundem e embaralham qualquer tentativa de uma
perspectiva mais clara sobre o curso da pandemia. A própria natureza familiar ou
“ordinária” atribuída à doença, muito contribui para tais incertezas. Assim, os
levantamentos realizados e apresentados devem ser relativizados.
30
Os soldados, pelo seu movimento constante e presença disseminada em todo mun-
do, foram considerados os principais responsáveis pela propagação da doença. Segun-
do Alfred Crosby, os militares seriam um dos primeiros elos da longa cadeia que dis-
seminou a influenza espanhola de forma rápida e eficiente (CROSBY, 1999:56-63).
48
31
Autores como William McNeill e Alfred Corsby, argumentam que essa interação
teria influído de modo significativo na história das sociedades, determinando inclu-
sive o declínio de civilizações, como gregos e incas (McNEILL, 1976; CROSBY,
1973 e 1998).
49
50
32
Entre outros elementos que comporiam essa análise, Asa Briggs sugeria: os
dados demográficos, incluindo informações sobre gênero, raça, idade, ocupação;
elementos da estrutura e das relações sociais e econômicas, entre eles tipo e tama-
nho da sociedade em questão e as relações entre pobres e ricos, ‘autoridades’ e
‘súditos’; o contexto político em que ocorrem os eventos epidêmicos; as estruturas
administrativas do governo e as relações entre os esforços governamentais e volun-
tários, incluindo a caridade e a ajuda externa; a extensão do conhecimento médico
e as atitudes populares diante desse saber (Cf.: BRIGGS, 1961:76 e 89).
33
Especialmente o capítulo 13.
51
34
Além dos autores citados, Steel ainda menciona: Francesco Berni, John Wilson,
Alessandro Manzoni, Alexander Pushkin, Harrison Ainsworth, Antonin Artaud
entre outros.
52
35
Essa justificativa de Carlos Seidl será retomada no capítulo 4. Durante o século
XIX, os interesses econômicos e o temor dos distúrbios populares também foram
motivos para que vários governos europeus relaxassem ou suspendessem medidas
como a quarentena ou a hospitalização compulsória. Charles Rosenberg aponta o
mesmo receio como “pano de fundo” da resistência do Conselho de Saúde da
Cidade de Nova York em reconhecer a epidemia de cólera, no ano de 1832
(ROSENBERG, 1987:26-27). A mesma observação pode ser conferida em Jean
Delumeau em relação à peste (DELUMEAU, 1996:117-118). O comportamento
do governo chinês, no caso da SARS (sigla em inglês para síndrome respiratória
aguda grave) e da recente gripe aviária, surgem como novos exemplos desses temo-
res milenares.
53
36
Richard Evans sugere que, durante a epidemia de cólera de 1892, além dos
receios políticos e econômicos, discordâncias teórico-científicas e antipatias pesso-
ais também estiveram envolvidas no atraso do reconhecimento da epidemia (Cf.:
EVANS, 1987:285-286).
37
Cf. adiante o debate médico sobre a influenza no Brasil (Capitulo 4).
38
Os relatos sobre os reflexos da influenza espanhola na vida urbana são explora-
dos em CROSBY, 1999 (especialmente capítulos 5, 6 e 7); KOLATA, 2000 (cap.
1); GALISHOFF, 1969. Para as descrições sobre o cotidiano no tempo da pandemia
no Brasil, cf.: BERTOLLI FILHO, 1986; BERTUCCI, 2002; GOULART, 2003;
ABRÃO, 1998 e BRITO, 1997.
54
39
A Razão, 23 de outubro de 1918.
40
Segundo Susan Sontag, as doenças epidêmicas “eram comumente usadas em
sentido figurado como designativas de desordem social. De pestilência (peste bu-
bônica) veio ‘pestilento’, cujo sentido figurado (...) é ‘injurioso à religião, à moral ou
à tranqüilidade pública’ (...); e ‘pestilencial’, que significava ‘moralmente nocivo e
pernicioso’ (...) Os sentimentos relacionados com o mal são projetados numa doen-
ça. E a doença (assim enriquecida de significados) é projetada no mundo” (SONTAG,
2002:76).
55
41
John T. Cunningham (apud, GALISHOFF, 1969:250).
42
Lee Brown Foveary, funcionária da lavanderia do campo de treinamento militar
em Fort Riley, Kansas. In: The Manhatann Mercury, 1918.
43
Nelson Antônio Freire, entrevistado por GOULART (2003:50-51).
44
Segundo Pedro Nava, no Rio de Janeiro, quando os presos foram designados
para ajudar no serviço de enterramento, os boatos descreviam “os criminosos cor-
tando dedos aos cadáveres, rasgando-lhes as orelhas para roubar os brincos, os
anéis, as medalhas e os cordões que tinham sido esquecidos. Às moças mortas,
arrancavam as capelas e levantavam a mortalhas para ver as partes. Que curravam
as mais frescas antes de enterrá-las” (NAVA, 2001, p.212). Procedentes ou não,
os boatos revelam uma forma de percepção da experiência epidêmica que parece
56
partilhada por suas vítimas. Bertolli Filho afirma que, durante a influenza, não
importava a veracidade dos fatos, afinal a doença havia alterado os limites entre o
real e o imaginário, bastando um acontecimento trágico ser mencionado na im-
prensa ou nas conversas diárias para que sua existência concreta fosse assumida
pela população (BERTOLLI FILHO, 1986:294-295).
45
Identificar a epidemia é uma maneira de dar inteligibilidade ao fenômeno, en-
quadrando-o dentro das estruturas explicativas partilhadas por uma sociedade.
Mágica ou natural, a tentativa de explicação é uma forma de estabilizar a realidade,
de impor domínio sobre ela (HERZLICH e PIERRET, 1992).
57
46
No caso de Belo Horizonte, cf. adiante no capítulo 3.
47
Durante a espanhola de 1918, também houve quem justificasse a doença em
função de fenômenos celestes, como a passagem naquele ano de três cometas:
Faye, Encke e Biela (capítulo 3). Segundo a bibliografia sobre a doença, o próprio
nome “influenza” advinha da idéia de que a moléstia era fruto da influência dos
astros (capítulo 4).
48
Sobre a eleição de culpados em tempos de epidemia, ver também LONGRIGG,
1999:37; EVANS,1999:162-163.
58
49
Cf. adiante, capítulo 3.
50
Um exame mais detido sobre como a medicina daquele momento enfrentou a
moléstia e seus limites diante da ameaça da influenza serão tratadas no capítulo 4.
51
Sobre a mobilização social durante a espanhola cf.: CROSBY, 1999, capítulos 5,
6 e 7; BERTOLLI FILHO, 1986, capitulo 6; OLYNTO, 1995. Cf. também:
ROSENBERG, 1987:31; 89-92, e EVANS, 1987:75-77 e 478-487, para o movi-
mento filantrópico durante as epidemias de cólera nos Estados Unidos e em Ham-
burgo, respectivamente.
59
52
No prefácio de Morte em Hamburgo, Richard Evans enumera três níveis em sua
análise: 1- uma história política e social da cidade, através da abordagem dos
conflitos de classe e das relações entre estado e sociedade; 2- um estudo de caso da
história ecológica urbana e sua relação com a morte e doença; 3- uma narrativa
detalhada da epidemia de cólera de 1892 (EVANS, 1987, ix).
60
53
Entre outras transformações que teriam mudado a face do país, Rosenberg men-
ciona: a urbanização, a industrialização, as ferrovias e a imigração, que determina-
ram uma crescente complexidade econômica e social que, por sua vez, demandava
uma expansão correspondente na esfera de atuação pública; o materialismo triun-
fante em 1866, que havia erodido o fervor evangélico do período anterior; o empirismo
epidemiológico e as novas teorias sobre a natureza e a causação das doenças
(ROSENBERG, 1987).
61
54
George Rosen, por exemplo, defende a existência de uma relação direta entre as
epidemias de cólera e a nascente saúde pública na Inglaterra (ROSEN, 1994).
Outros autores, no entanto, afirmam que a higiene já era um assunto importante
antes mesmo da ocorrência da cólera, e que a doença apenas teria contribuído
para acelerar o processo de organização da saúde pública em diversos países euro-
peus (Cf: BOURDELAIS, 1984).
62
“Me parece notável, hoje, que eu não tenha me dado conta do fato que
uma terrível epidemia tinha varrido o globo em 1918, deixando morte e
devastação em seu caminho e tocando quase todas as famílias com sua
mão gélida. Mas aprendi que não estava sozinha em minha ignorância.
A epidemia de influenza de 1918 é um dos maiores enigmas da história,
apagada da memória dos historiadores, que tradicionalmente ignoram a
ciência e a tecnologia, mas não, na maioria das vezes, as pragas”.
(KOLATA, 2000, Prólogo:X)
63
55
Cf. ainda, p. 312-325. A edição utilizada nessa pesquisa foi publicada pela
Cambridge University Press, no ano 1999. Uma primeira edição havia sido publicada
pela Greenwood Press em 1976, sob o título Epidemic and peace, 1918.
64
65
56
As considerações sobre o esquecimento da pandemia são apresentadas na última
parte do livro (pp. 311-325). A morte “digna” faz referência à memória criada e
estimulada nos tempos de guerra de se atribuir aos soldados falecidos a distinção
de terem falecido em campo de guerra, honrando seu país (CROSBY, 1999:321).
57
Ao tratar o tema do esquecimento, Bertolli Filho enfatiza que, entre outras expli-
cações possíveis, estaria a pouca atenção dispensada pelos historiadores aos estu-
dos sobre a saúde e a doença (BERTOLLI FILHO, 1986:452).
58
Uma primeira edição foi publicada nos Estados Unidos, pela Farrar, Straus and
Giroux, em 1999.
66
67
59
Geoffrey Rice publicou ainda Black november: The 1918 epidemic in New Zealand,
1988.
68
60
Alfred Crosby afirma ser de Kilbourne a melhor publicação científica sobre a
doença: Influenza. New York: Plenum, 1987.
69
61
Cada um dos autores possui trabalhos individuais dedicados à doença de 1918
(Cf. PYLE, 1986 e PATTERSON, 1986). Patterson é autor de outros dois artigos
sobre a pandemia na África. (PATTERSON, 1983a e 1983b).
70
62
Nos anos seguintes à pandemia, três importantes obras sobre a influenza no
Brasil vieram a público: A propósito da Pandemia de gripe em 1918, de Carlos Pinto
Seidl (1919); O pandemônio de 1918, de Carlos Artur Moncorvo Filho (1924); A
gripe epidêmica no Brasil e especialmente em São Paulo, organizado por Carlos Luiz
Meyer e Joaquim Rabelo Teixeira (1920). O primeiro livro é uma defesa apresen-
tada pelo ex-diretor geral de saúde pública do Rio de Janeiro contra as acusações
que lhe foram imputadas durante a pandemia. Moncorvo Filho apresenta uma
descrição da pandemia na capital brasileira, com destaque para a mobilização em
torno de seu combate. Também traça um histórico sobre a influenza no país e as
opiniões sobre ela que circulavam entre a classe médica. Seu texto é um relato
vivo, um verdadeiro depoimento sobre a experiência da influenza no Rio de Janei-
ro. O trabalho de Carlos Meyer e Joaquim Rabelo privilegia os dados sobre a gripe
no estado de São Paulo, trazendo ainda uma compilação de relatórios divulgados
pelas autoridades sanitárias de todo o país, assim como notícias publicadas pela
imprensa e alguns documentos administrativos. Essas obras constituem fontes vali-
osas para os estudiosos da pandemia de espanhola no Brasil.
71
63
Um pequeno resumo das questões abordadas nessa pesquisa pode ser consulta-
do no artigo publicado pelo autor na revista Ciência Hoje (Cf. BERTOLLI FILHO,
1989).
72
73
64
Se Carlos Seidl foi culpado pelas mazelas promovidas pela gripe, Carlos Chagas,
nomeado para organizar o serviço hospitalar durante a pandemia e, posteriormen-
te, como diretor geral de saúde pública do Rio de Janeiro, seria aclamado como a
única pessoa capaz de responder de modo eficiente aos problemas impostos pela
situação epidêmica. A referência da autora aos sanitaristas privilegia aqueles liga-
dos ao Instituto de Manguinhos, e, portanto, à figura de Oswaldo Cruz, de quem
Chagas era considerado herdeiro científico (GOULART, 2003).
74
75
76
77
1
Diário de Minas, 8 de outubro de 1918, p. 1. A influenza espanhola chegou à
capital mineira no dia 7 de outubro, por intermédio de passageiros infectados
vindos do Rio de Janeiro. Apesar da publicidade dada ao caso por um periódico da
cidade, o diretor de higiene do Estado, Samuel Libânio, havia declarado que os
gripados apresentavam a forma “benigna” da moléstia. Somente uma semana mais
tarde, as autoridades sanitárias reconheceriam a presença da “influenza espanho-
la” na capital. A Nota, 10 de outubro de 1918, p. 1, e Minas Gerais, 18 de outubro
de 1918, p. 1. Esse tema será tratado mais detidamente no próximo capítulo.
79
2
Diário de Minas, 18 de outubro de 1918, p. 1.
3
Minas Gerais, 18 de outubro de 1918, p. 1.
80
81
4
Dados publicados no relatório da Diretoria de Higiene, do início de 1918, infor-
mavam que em 1917 foram registrados na cidade, com caráter epidêmico, nume-
rosos casos de difteria, “quase sempre benignos”. Quanto à varíola, há referência
a apenas um caso, importado do Rio de Janeiro. ESTADO DE MINAS GERAIS.
Relatório apresentado ao Secretário do Interior, 1918, p. 17. O Anuário de Estatís-
tica Demografo-Sanitária, publicado em 1921, aponta 7 óbitos atribuídos à difteria
em 1917 e 10 em 1918, não havendo registro de óbitos de varíola no mesmo
período. ESTADO DE MINAS GERAIS. Anuário de Estatística Demografo-Sanitá-
ria, 1921, p. 26. O número reduzido de eventos epidêmicos nesses primeiros anos
da capital mineira também é apontado por Carlos Maletta em estudo que traça a
evolução epidemiológica da cidade (MALETTA, 1997).
82
5
Minas Gerais, 26 de outubro de 1918, p. 2. As opiniões do saber médico sobre os
comportamentos condenáveis durante os episódios epidêmicos serão objeto de exame
no capítulo 4.
6
Cf.: Minas Gerais, 24 de outubro de 1918, p. 3, e 13 de novembro de 1918, p.
2; Diário de Minas, 18 de outubro de 1918, p. 2.
83
84
7
Especialmente o capítulo 2.
85
8
Sobre as rotas e as descrições das epidemias de cólera na Europa e nos Estados
Unidos, durante o século XIX, ver: BOURDELAIS e RAULOT, 1987; EVANS,
1987; e ROSENBERG, 1987.
9
Andrew Mearns (1883), citado In: PORTER, 1999:400. Sobre as condições de
existência da pobreza européia, cf.: BRESCIANI, 1984; MARX e ENGELS, s.d;
EVANS, 1987. Para os Estados Unidos, cf.: ROSENBERG, 1987.
86
10
Segundo Naomi Rogers, os laços metafóricos e a associação entre doença e
sujeira permanecem até os dias atuais como poderoso elemento da retórica da
saúde pública (ROGERS, 1996).
87
11
Sobre a tradição historiográfica estabelecida pela abordagem proposta por George
Rosen, cf.: PORTER, 1994. No Brasil, as influências da abordagem proposta por
Rosen são claramente percebidas em RIBEIRO, 1993.
12
Segundo a autora, as epidemias de cólera teriam mobilizado as atenções pelos
seguintes fatores, entre outros: o choque provocado por sua aparição ter sido abun-
dantemente registrado naquele momento; o seu surgimento ter coincidido com
outras forças de distúrbio, especialmente políticas e sociais; terem acontecido num
momento de inovações em estruturas institucionais e administrativas; existência de
uma comparativa superioridade dos registros de suas aparições, além da abundân-
cia da literatura sobre a doença.
88
13
Para uma panorâmica sobre autores e abordagens divergentes do modelo pro-
posto por Rosen, cf.: PORTER, 1994, “Introduction”:1-41. Cf. ainda: CAMPOS,
1997 e 2000:196.
14
Uma caracterização dos principais centros urbanos do país é dada no capítulo 1.
15
Sobre doenças e epidemias no Brasil do século XIX, cf. entre outros: SANTOS
FILHO, 1991 (vol.2); STEPAN, 1976; CHALHOUB, 1996.
89
16
Ver também, BENCHIMOL, 2003:238.
17
Massako Iyda (1994) sublinha que, até o período republicano, a saúde pública
no país teria sido marcada por um “caráter eventual” (Especialmente o capítulo 2).
18
Além do Código Sanitário (1894), a organização da saúde pública em São Paulo
90
91
19
Sobre as relações entre o movimento do saneamento rural e nacionalismo, cf.
também: HOCHMAN, 1998; LIMA, 1999 especialmente os capítulos 3 e 4; LIMA
e BRITTO, 1991; CAMPOS, 1986 especialmente o capítulo 1; SÁ, 1999.
20
Como aponta Carlos Roberto Andrade, ao lado do interesse de sanear a cidade
santista, Saturnino havia se preocupado em prever a expansão futura do tecido
urbano, o que implicava em um planejamento que resolvesse os problemas pre-
mentes e incorporasse soluções visando o longo prazo. Para o autor, essa visão da
cidade como uma totalidade e a “intervenção urbanística como meio de redefinição
do conjunto da estrutura urbana” e de “previsão do [seu] destino” destacariam o
trabalho de Saturnino de Brito como aplicação pioneira do nascente urbanismo
moderno (p. 55 e 61). No entanto, como veremos adiante, Aarão Reis faria o
mesmo, alguns anos antes, com a construção de Belo Horizonte.
92
21
Cf. ainda: ROCHA, 1995.
22
Discurso de posse de Rodrigues Alves, pronunciado em 15 de novembro de
1902. In: ROCHA, 1995:55.
93
23
Cf.: BENCHIMOL, 1990 e 2003
24
Segundo Jayme Benchimol, as representações ideológicas das obras de remode-
lação do Rio de Janeiro opunham dois grandes campos ou princípios: “o progres-
so, a civilização, a regeneração estética e sanitária da cidade; a cidade colonial,
atrasada, anti-estética, suja e doente” (BENCHIMOL, 1990:205). A nosso ver,
essa representação ideológica também informa outras intervenções urbanas ocorri-
das no mesmo período. Sobre a correspondência entre a reforma urbana e civiliza-
ção, cf. ainda ROCHA, 1995; CHALHOUB, 1996 e 1986; CAVALCANTE, 1985.
25
As trajetórias profissionais traçadas por esses engenheiros evidenciavam referên-
cias comuns que estavam indissociavelmente ligadas a seu espaço de origem
institucional. Certamente, este é um elemento que ajuda a entender a similitude de
diagnósticos e das soluções que compunham projetos de intervenções urbanas em
outras cidades do país, como, por exemplo, Santos e Belo Horizonte.
94
26
Essas observações confirmam as advertências de Dorothy Porter (1994) em
relação à aplicação do modelo interpretativo criado por George Rosen (1994).
27
Em abril de 1890, a pedido dos moradores daquela localidade, o então governa-
dor de Minas Gerais, João Pinheiro, assinava decreto mudando o nome do Curral
95
Del Rei para Belo Horizonte (BARRETO, 1996 vol.1). Em 1893, novo decreto
mudava o nome da cidade para Minas. Somente em meados de 1901 a cidade
retomaria a denominação de Belo Horizonte (BARRETO, 1996:723 vol.2).
28
A ocupação e o desenvolvimento urbano na região central do território brasileiro
foram estimulados pela atividade mineradora, influindo inclusive no deslocamento
da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, de forma a facilitar o
controle da metrópole sobre a nova riqueza. A capitania das Minas Gerais, criada
no início do século XVIII, foi fruto de uma reorganização administrativa que visava
ordenar os interesses e conflitos gerados em torno da mineração. A primeira sede
da nova capitania seria instalada na vila do Ribeirão do Carmo, atual Mariana.
Mas, com o desenvolvimento das atividades extrativas, os governadores acabaram
fixando-se na Vila Rica de Ouro Preto.
29
“Autos da Devassa da Inconfidência Mineira”. In: Revista do Arquivo Público
Mineiro, 1982, p. 18. Em 1891, um jornal da cidade de São João del Rei afirmava
que o desejo de mudança da capital já era manifesto desde a época da Revolta de
Felipe dos Santos, ainda na primeira metade do século XVIII. A Pátria Mineira, 23
de março de 1893, p. 2.
30
Abílio Barreto lista quatro propostas de transferência da capital mineira durante o
período imperial: em 1833, quando a sugestão foi apresentada à assembléia provin-
cial; em 1847, por iniciativa do próprio presidente da província, Francisco J. S.
Soares d’Andréa; em 1851, como sugestão do presidente José Ricardo de Sá Rego;
e em 1869, através do deputado provincial Padre Agostinho F de Souza Paraíso
(BARRETO, 1996 vol.1). Cf. também: Revista do Arquivo Público Mineiro, 1982.
96
31
ANDRÉA, Francisco J. S. Soares. In: Revista do Arquivo Público Mineiro, 1982,
p. 19. Sobre as representações construídas em torno da cidade capital, cf.: SAL-
GUEIRO, 1997:37.
32
Em 1851, o presidente José Ricardo de Sá Rego traduzia o estado de penúria
em que vivia a cidade de Ouro Preto recorrendo aos dados sobre a população
urbana de fins do século XVIII e meados do XIX, que indicavam um declínio
expressivo “de mais de vinte mil para menos de cinco mil almas”. Revista do
Arquivo Público Mineiro, 1982, p. 20-21.
97
33
A transferência da capital mineira era vista pelas elites emergentes da mata e do
sul como medida imperiosa para os “grandes destinos de civilização e prosperida-
de” da província, representando o “ponto de partida para a consecução de muitos
outros empreendimentos dela decorrentes” (BARRETO, 1996:287 vol.1).
34
A idéia da cidade como agente de polarização de uma região era, segundo
Heliana Salgueiro, um dos princípios da economia política que, a partir de meados
do século XIX, assumiria peso significativo nas justificativas e nas proposições de
racionalização do espaço urbano (SALGUEIRO, 1997:37).
98
35
Em 1898, o governo estadual recebia as representações da Câmara Municipal
São João del Rei e da população do Curral del Rei (BARRETO, 1996:297-301
vol.1). Novas representações seriam enviadas ao legislativo mineiro em 1891. Cf.:
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896 (Pium-í, p. 152; Itabira, pp.159-
160; São João del Rei, pp. 368-374).
36
Privilegiando a região do Rio das Velhas, na área central do estado, o relatório de
Herculano Pena sugeria a localidade do Curral del Rei, que, além de água abundan-
te, tinha clima temperado e uma “notória salubridade” (afirmada pelos habitantes
da terra e por outras pessoas habilitadas) (BARRETO, 1996: 307-312 vol.1).
37
Essa comissão seria composta pelos engenheiros José Domingos da Rocha, Fran-
cisco Wan Erven, Manuel Pereira Mesquita, G. Howyan, Joaquim Aureliano de
Sepúlveda e Antônio M de O’Connel Jersey (BARRETO, 1996: 322-325 vol.1).
99
38
Representante da ala conservadora, Affonso Penna foi membro do antigo Parti-
do Liberal e Conselheiro de Estado do Império em 1888, deputado provincial
(1874-1879), Deputado Geral (1878-1889), Ministro da Guerra (1882), Ministro
da Agricultura, Comércio e Obras Públicas (1883-1884) e Ministro da Justiça
(1885). Na República, foi eleito senador à Assembléia Constituinte Estadual de
1891. ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p. 61. Affonso Penna
também foi presidente da República (1906-1910), substituído por seu vice, Nilo
Peçanha, quando de seu falecimento em 1909.
39
Aarão Reis diplomou-se pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1874.
Teve atuação destacada em sua área profissional, participando das instituições de
referência de sua categoria, assim como de vários projetos de obras públicas na
passagem dos séculos XIX-XX. Sua atuação como engenheiro, publicista e educa-
dor revelam preocupações de ordem social e o engajamento na efetiva construção
de um país moderno. Seria um dos artífices do que Simone Kropf denomina o
processo de constituição de uma identidade específica dos engenheiros – a de
“portadores de uma determinada visão explicativa da sociedade brasileira e de um
projeto próprio no qual se auto-reconheciam como agentes diretos da moderniza-
ção” (KROPF, 1996:76-77). Sobre o pensamento de Aarão Reis cf.: SALGUEI-
RO, 1997 e REIS, 1918. Integravam a Comissão chefiada por Aarão Reis, cinco
engenheiros, encarregados de executar os estudos específicos de cada localidade –
José Carvalho de Almeida, Samuel Gomes Pereira, Manuel da Silva Couto, Eugê-
nio de Barros Raja Gabaglia e Luiz Martinho de Morais – e um médico higienista –
José Ricardo Pires de Almeida.
100
40
ESTADO DE MINAS GERAIS. Comissão d’Estudo das localidades..., 1893, p.
76. O texto somava cerca de 420 páginas, incluindo análises, mapas, tabelas e
projetos.
41
Segundo Maria Efigênia L. Resende, ao sinalizar que futuramente Belo Horizonte
assumiria a condição de centro de gravidade do estado, o relatório de Aarão Reis re-
sultava numa definição mais favorável àquela localidade, oferecendo argumento decisi-
vo para aqueles que se opunham à Várzea do Marçal (RESENDE, 1974:144 e 146).
42
Os defensores de Ouro Preto também se mobilizavam, pressionando a classe
política, organizando manifestações públicas ou, ainda, empreendendo melhora-
mentos na tentativa de calar as críticas que eram dirigidas à cidade (Cf. BARRETO,
1996:290-300 vol.1).
43
A vitória de Belo Horizonte contou com o apoio dos representantes do centro,
muitos dos quais, a princípio, contrários à transferência; do norte, que viam a
Várzea do Marçal como a continuidade dos desequilíbrios regionais; além de dois
representantes da mata e do sul, mas que estavam ligados à tradicional política do
centro minerador (RESENDE, 1974:147).
101
102
44
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p. 95.
45
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p170. Não foi encontrada
outra referência sobre essa “enfermidade”, cujo nome parece ser um deboche do
deputado.
46
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p. 169.
47
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, respectivamente p. 95 e 88.
48
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p. 99.
103
49
A Ordem, 11 de julho de 1891, p. 3.
50
“Parecer da Comissão de Estudos Chefiada por Domingos José da Rocha”,
apresentado na 20ª Sessão do Congresso Constituinte, em 16 de maio de 1891.
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p. 280-286.
51
“Instruções”. In: ESTADO DE MINAS GERAIS, Comissão d’Estudo das locali-
dades..., 1893.
52
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1896, p. 472.
53
O bócio é uma doença caracterizada pela hipertrofia da glândula tireóide, carac-
terizado pelo crescimento exagerado dos gânglios, originando um tumor no pesco-
ço ordinariamente chamado de papo.
104
54
Sobre as degenerações produzidas pela moléstia, em especial o cretinismo, Baeta
Viana, professor da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, dizia em artigo de
1930: “[os doentes] se revelam somática e intelectualmente como se os caracteres
distintivos da espécie humana, na ausência dos fatores evolutivos, obedecessem às
condições de uma equação reversível com o passado, representado nos seus ante-
cedentes filogenéticos. Efetivamente, no alcance intelectual e, sobretudo, no fácies
o cretino completo assemelha-se ao antropóide em muito das suas atitudes caracte-
rísticas” (VIANNA, 1930:1). Esse assunto foi analisado por MARQUES, 2002.
55
José Ricardo Pires de Almeida era reconhecido como um dos grandes especia-
listas em higiene do país, tendo publicado, em 1887, Higiene e habitações, um
estudo crítico sobre as habitações e as posturas cariocas (SALGUEIRO, 1997:157).
56
Entre a infinidade de causas, Pires de Almeida aponta: o regime dos ventos,
mudanças de temperatura, privação do sol, umidade, miasmas palustres, dieta, a
ausência de determinados elementos químicos no solo, na atmosfera, nas águas ou
nos alimentos – como iodo, bromo, sais calcáreos ou magnesianos. Das diversas
hipóteses levantadas, a que parecia melhor comprovada pela experiência era a que
105
ligava a doença à natureza das águas, especialmente sua composição química. Con-
cordando ser a água o meio pelo qual se transmitia a doença, o relatório do médico
da comissão consignava a noção de que o bócio era provocado por um microorganismo
em suspensão na água e que, para evitá-lo, era necessário decantá-las e filtrá-las, em
reservatórios duplos e sobrepostos. ALMEIDA, José Ricardo Pires de. “Relatório
dos estudos sobre os climas e as condições higiênicas das cinco localidades mineiras
indicadas para a nova capital desse Estado”. In: ESTADO DE MINAS GERAIS. Co-
missão d’Estudo das Localidades..., 1893. Ainda sobre a natureza da doença, Baeta
Viana ressaltava que, até 1930, contavam-se “como agentes bocigênicos ora causais
ora ocasionais: os cósmicos – atmosféricos, hídricos, telúricos; os alimentares – deficiên-
cia de iodo, de vitaminas, alimentação excessivamente gordurosa” (VIANA, 1930:4).
57
Cf. Relatório apresentado pelo engenheiro Samuel Gomes Pereira, In: ESTADO
DE MINAS GERAIS, Comissão d’Estudo das Localidades..., 1893, p. 26.
106
58
ESTADO DE MINAS GERAIS. Comissão d’Estudo das Localidades..., 1893, p.
75-76. O relatório da comissão geraria a publicação de artigos e estudos contestan-
do as opiniões de seus integrantes. Cf.: O Contemporâneo, 1 de outubro de 1893,
p. 3; BRAGA, 1894. Na justificativa de seu trabalho, Vieira Braga dizia: “De
conhecimentos banais nestas questões telúricas e de atmosferologia, que prendem-
se ao clima e ao saneamento de uma localidade qualquer, melhor fora conserva-me
afastado. Trata-se porém da cidade de Juiz de Fora, difamada no Congresso Minei-
ro (...) como foco de paludismo, como conquista aos pântanos do rio Paraibuna,
graças às apreciações exageradas, gratuitas e precipitadas do médico higienista
que veio estudar as localidades indicadas para a Capital (...)”. Segundo o autor,
quem compulsasse o relatório de Pires de Almeida, especialmente na parte refe-
rente “às condições higiênicas e as moléstias reinantes das localidades indicadas
como as melhores para sede da capital”, e que estivesse desprevenido das “imper-
feições” do mesmo, quisesse tirar conclusões, “naturalmente se convencerá de que
no Estado de Minas, será perigoso habitar qualquer região que não esteja (...) a
mais de mil metros acima do nível do mar” (BRAGA, 1894:5 e 17).
59
Aarão Reis elogiava a solicitude e o sincero empenho de Pires de Almeida no
cumprimento das atividades e, como convicto adepto da ciência, chegou mesmo a
salientar o pioneirismo em nosso país do processo de investigação dos germes
patogênicos aplicado pelo médico, envolvendo análises bacteriológicas das poeiras
atmosféricas das diversas localidades. No entanto, dizia também que sua “respon-
sabilidade profissional” o impedia de aceitar certas opiniões de Pires de Almeida
que, segundo ele, aventurava-se equivocadamente em relação a certos assuntos
técnicos de higiene, fazendo afirmações sem fundamento e contradizendo fatos e
observações “registrados e consignados” pelos engenheiros por períodos superio-
res a três meses. ESTADO DE MINAS GERAIS. Comissão d’Estudo das Localida-
des..., 1893, p. 41. Sobre o papel de médicos e engenheiros no Brasil do século
XIX, cf.: COELHO, 1999.
107
60
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1894, p. 67.
61
ESTADO DE MINAS GERAIS ANNAES, 1894, p. 126.
62
ESTADO DE MINAS GERAIS ANNAES, 1894, p. 114. O senador era profes-
sor de Geologia na Escola de Minas, em Ouro Preto. ASSEMBLÉIA Legislativa de
Minas Gerais, 1889, p. 64.
108
63
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1894, p. 116-117.
64
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1984, p. 111-123.
65
ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1894, p. 127.
109
66
Segundo Drumond, Pires de Almeida baseava suas afirmações sobre Belo Hori-
zonte em informações prestadas por terceiros e em observações realizadas numa
estadia de menos de 24 horas. Outros congressistas também se apoiariam na ques-
tão do tempo para criticar as opiniões de Pires de Almeida, dizendo ser impossível
ajuizar-se da salubridade de uma região baseando-se em observações realizadas
em prazo tão exíguo. ESTADO DE MINAS GERAIS. ANNAES, 1894, p. 78-79.
67
Retomando a explicação social da moléstia, o deputado Teixeira da Costa dizia
que “a moléstia só tem atacado a classe dos indigentes, e não se pode citar um
único caso entre os indivíduos que se alimentam regular e suficientemente”. ES-
TADO DE MINAS GERAIS . ANNAES, 1894, p. 104.
68
“Pode alguém diante deste fato acusar o clima de Barbacena ou suas águas de
condutoras do quid ignotum papogeno (...)?” In: ESTADO DE MINAS GERAIS.
ANNAES, 1894, p. 86.
110
69
Como afirmado anteriormente, a votação que aprovou a escolha de Belo Hori-
zonte teve resultado apertado: 30 votos favoráveis a Belo Horizonte, e 28 contra
(BARRETO, 1996:426 vol.1).
70
Vale ressaltar que Aarão Reis destacava o emprego do “processo moderno” de
análise bacteriológica das águas e poeiras atmosféricas das cinco localidades indicadas
para estudo, levadas a efeito pelo Dr. Pires de Almeida. No entanto, esse procedimento
teria pouca influência nas considerações finais apresentadas no Relatório de Aarão
Reis. ESTADO DE MINAS GERAIS. Comissão d’Estudo das Localidades..., 1893.
111
71
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Saneamento básico em Belo Horizonte ..., 1997,
p. 20.
72
Segundo alguns cronistas, o único vestígio remanescente do arraial do Curral del
Rei seria a Matriz da Boa Viagem, que também não perduraria muito tempo, sendo
demolida aos poucos para a construção do templo atual, finalizado na década de 30
(BARRETO, 1996: 605 vol.2). Apesar das afirmações dando conta ser a Matriz o
único edifício remanescente do antigo arraial, veremos adiante que outras construções
também permaneceram, tanto na zona urbana como na suburbana da nova capital.
112
73
ESTADO DE MINAS GERAIS. Revista Geral dos Trabalhos, 1985, vol.2, p 59.
74
“O projeto geral da nova Capital será delineado sobre uma população de 200.000
habitantes, e sobre esta mesma base será efetuada a divisão e demarcação dos
lotes; as obras, porém, a executar desde já, serão projetadas e orçadas sobre a base
de uma população de 30.000 habitantes; devendo, entretanto, os respectivos pro-
jetos serem organizados de forma a permitirem o natural desenvolvimento das
obras executadas à proporção que for aumentando a população” (BARRETO,
1996:32 vol.2). Vale lembrar também que Saturnino de Brito integraria a Comis-
são Construtora da Nova Capital de Minas, como chefe da seção de abastecimento
de água, entre os anos de 1894-1895, a convite do próprio Aarão Reis.
113
75
Ver por exemplo: “Solicitações de aprovação de plantas residenciais”, in: “Co-
municados Internos da Comissão Construtora”. ESTADO DE MINAS GERAIS.
CCNC/MHAB, 1895.
76
Decreto n.840, 9 de julho de 1895. BARRETO, 1996, vol.2:406-407. Seu
cumprimento, porém, parece não ter sido seguido à risca. Em 1906, um periódico
da capital conclamava a prefeitura a estimular novas construções, concedendo
favores aos proprietários ou impondo a pena de desapropriação dos terrenos. Dizia
“impressionar mal ver, ao lado de lindos e confortáveis prédios, terrenos servindo
de viveiros de cobras e capinzal comprometendo a saúde pública”. A Vanguarda,
4 de fevereiro de 1906, p. 1-2.
77
Minas Gerais. Decreto n.680, de 14 de fevereiro de 1894; BARRETO, 1996:203-
229 vol.2.
114
78
Formado em 1886 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Francisco Saturnino
Rodrigues de Brito era outro representante da geração de “engenheiros intelectu-
ais” das décadas finais do século XIX. Foi indicado para a Comissão Construtora
por Aarão Reis, da qual se demitiu em 1895, por divergências com o próprio Reis.
Após essa data, trabalhou na elaboração de projetos e nas obras de saneamento em
outras cidades brasileiras: Vitória (ES); Santos, Campinas, Ribeirão Preto, Limei-
ra, Sorocaba e Amparo (SP); Petrópolis, Paraíba do Sul, Itacoatiara e Campos (RJ);
Recife (PE). Foi responsável pelo projeto de abastecimento de água da capital
paulista, pelo projeto de saneamento da Lagoa Rodrigues de Freitas e da Bahia da
Guanabara (BARRETO, 1996:121 vol.2).
79
Segundo Aarão Reis, a repetição de estudos e culturas de microorganismos,
realizadas por meio de novas análises químicas e bacteriológicas dos mananciais
de Belo Horizonte, poderia levar à descoberta do “pretendido micróbio papogêneo,
que tanto amedronta os que acreditam ser ele conseqüência de germes organiza-
dos das águas e não do modo de alimentação, agasalho, higiene e afecções heredi-
tárias dos antigos habitantes do lugar”. ESTADO DE MINAS GERAIS. Revista
Geral dos Trabalhos, 1895, vol II, p. 243. Não há, porém, referências a estudos
dessa natureza nos documentos da Comissão Construtora.
80
Em maio de 1985, um jornal da cidade de Sabará publicava carta de Aarão
Reis, na qual informava de seu pedido de exoneração e repudiava com veemência
as acusações do ex-presidente do estado, Cesário Alvim, de que era sócio de olari-
as que forneciam material de construção para a nova capital. O Contemporâneo, 23
de maio de 1895, p. 1. Cf.: BARRETO, 1996:262-266 vol.2.
115
81
Francisco de Paula Bicalho, natural de São João del Rei, diplomou-se pela
Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1871. Chefiou a Comissão Construtora da
Nova Capital entre os anos de 1895 e 1898, quando a cidade foi inaugurada. Em
1901 assumiu o cargo de Inspetor Geral das Obras Públicas da Capital Federal.
Em 1903, foi nomeado chefe da Comissão de Obras de Melhoramentos do Porto
do Rio de Janeiro, delineando o plano de intervenções no porto, cais e armazéns,
o prolongamento do canal do mangue e o arrasamento do Morro do Senado
(BARRETO, 1996:775 vol.2).
82
O descaso das autoridades estaduais com relação à saúde pública seria objeto de
116
117
85
“Foi verdadeira torrente que se despenhou, dando lugar a um aumento brusco e
considerável de população, sem que tivéssemos casas confortáveis para abrigá-la,
levantando-se, por toda parte, pequenas cafuas e ligeiros ranchos cobertos de sapé,
cujo número crescia dia a dia, representando verdadeiros simulacros de abrigo
hipotético”. Francisco Bicalho. Relatório, 1896 (In: BARRETO, 1996:598 vol.2).
Segundo Berenice Guimarães, a lei que designara Belo Horizonte como a nova sede
do governo previa a construção, pelo poder estadual, de casas com condições higi-
ênicas que seriam alugadas a preços baixos para os operários, o que, no entanto,
não foi contemplado no plano elaborado por Aarão Reis (GUIMARÃES, 1996:133).
118
86
A Capital, 29 de março de 1896, p. 1
87
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Mensagem ao Conselho Deliberativo
da Cidade de Minas 1900, p. 39.
88
Publicando suas impressões sobre o país, o italiano Alessandro D’Atri, afirma
ser o nome Belo Horizonte o próprio retrato da cidade: “a beleza do solo, o sorriso
da natureza, a salubridade do clima, o frescor do ar, o azul do céu” (In: BARRETO,
1996:641-642 vol.2).
89
Joseph Antoine Bouvard visitou Belo Horizonte em 1911. Cf.: ARAÚJO, 1996:66.
119
90
FERREIRA, Cícero. “Higiene”. In: A Capital, 20 de junho de 1896, p. 1.
91
A Capital, 21 de dezembro de 1897, p 1.
120
92
Cf. por exemplo, relatórios apresentados ao Conselho Deliberativo da Capital
pelos prefeitos Bernardo Pinto Monteiro, 1902, p. 5-6, 112-122; Olynto Deodato
dos Reis Meireles, 1911, p. 4-7; Afonso Vaz de Melo, 1919, p. V-X.
93
Para as condições de vida nos bairros populares da cidade ver: JULIÃO, 1992;
LE VEN, 1997; SOMARRIBA, 1984.
121
94
A higiene conformaria um conjunto de princípios técnico-científicos capazes de
conduzir o país à civilização que, segundo Chalhoub, “implicam a despolitização
da realidade histórica, a legitimação apriorística das decisões quanto às políticas
públicas a serem aplicadas no meio urbano”, tornando “possível imaginar que
haveria uma forma científica – isto é, neutra, supostamente acima dos interesses
particulares e dos conflitos sociais em geral – de gestão dos problemas da cidade e
das diferenças sociais nela existentes” (CHALHOUB, 1996:35 grifos do autor).
95
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Mensagem ao Conselho Deliberativo
da Cidade de Minas, 1900, p. 19.
96
A mudança do foco de preocupação da forma, ou qualidade – condições da mora-
dia – para o espaço – o local da habitação – é apontada por Sidney Chalhoub como
um dos aspectos que contribuíram na conformação do discurso sobre a salubridade
urbana na segunda metade do século XIX, assim como da “ideologia da higiene”
(CHALHOUB, 1996:33). Essa mudança é objeto de estudo de ABREU (1986).
122
97
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Relatório apresentado ao conselho
Deliberativo ..., 1911, p. 16.
98
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Relatório apresentado ao conselho
Deliberativo..., 1912, p. 26.
123
99
Minas Gerais, 25 de outubro de 1894, p. 2.
100
Decreto 876, de 30 de outubro de 1895. ESTADO DE MINAS GERAIS.
Coleção de Leis e Decretos ..., 1896, p. 311-313.
101
A reorganização do Serviço de Higiene do Estado seria aprovada através da Lei
452, de 9 de outubro de 1906, porém, somente em 1910 ela seria cumprida pelo
governo mineiro, através do Decreto 2.733, de 11 de janeiro de 1910 (SALLES,
1997:117).
124
102
Sobre a saúde pública em Minas Gerais, cf.: SALLES, 1997:117-119, e MAR-
QUES e CARVALHO, 1996. A necessidade de uma intervenção sanitária mais
efetiva dos poderes públicos era assunto em voga nos meios médicos desde o início
da década de 10. No VII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, ocorrido em
Belo Horizonte no ano 1912, o problema da insalubridade que caracterizava as
zonas rurais era objeto do discurso pronunciado por Carlos Chagas: “em alguns
estados da União grassam endemias facilmente combatíveis pelos processos
profiláticos definitivamente estabelecidos (...). Nem precisamos transpor os limites
deste próspero Estado para exemplificar o que afirmamos”. Citando o vale do rio
São Francisco, Carlos Chagas apontava a contradição entre a natureza rica e a
“população de definhados, anêmicos e caquéticos”, que não conhecia os benefíci-
os de uma assistência médica regular. Cf.; Discurso pronunciado pelo dr. Carlos
Chagas (orador oficial) na sessão solene inaugural do VII Congresso Brasileiro de
Medicina e Cirurgia, 1912, p.8-9. Porém, apesar do interesse e dos comentários
que havia despertado, “a momentosa questão ia sendo relegada ao esquecimento”
pelas autoridades estaduais (TAVARES, 1920).
103
Decreto 5.019, de 8 de junho de 1918, cria o Serviço de Profilaxia Rural em
Minas Gerais. Minas Gerais,19 de junho de 1918, p. 1-4.
125
104
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo Sr.Dr. Affonso
Penna Júnior ..., 1920, p. 3.
105
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo Sr. Secretário do
Interior ..., 1918, p. 3. A fala de Samuel Libânio reforça a imagem de que a
reorganização da Diretoria de Higiene em 1910 não havia significado mudança
efetiva na política sanitária levada a efeito pelo estado.
106
“Dadas as condições epidemiológicas de Minas, infelizmente um dos Estados da
União onde mais intensa se faz sentir a ação nefasta de várias epidemias”. ESTA-
DO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo Sr. Secretário do Interi-
or..., 1918, p. 6 (PENA, 1918). Entre as demandas relativas à saúde apresentadas
por Samuel Libânio à administração estadual, destacam-se: a inspeção médica
escolar, a reforma e reaparelhamento do desinfectório e do Hospital de Isolamen-
to, a organização do serviço de estatística do estado, o estímulo à criação do Serviço
Permanente de Higiene Municipal nas diversas cidades do estado, a implantação
de leprosários e da assistência aos alienados entre outros. Cf. Relatórios da Direto-
ria de Higiene, referentes aos anos de 1919 (publicado em 1920), 1921 (publica-
do em 1922), 1923 (publicado em 1924).
126
107
Decreto n.1.088, de 29 de dezembro de 1897. ESTADO DE MINAS GERAIS.
Coleção de Leis e Decretos, 1898. Tão logo instalada a sede governo, a capital
mineira seria chamada Cidade de Minas. Porém, pouco tempo depois retomaria o
antigo nome de Belo Horizonte (BARRETO, 1996).
108
Decreto 1.358, 6 de fevereiro de 1900 (Cria Sessão de Higiene e Assistência
Pública da Cidade de Minas). Minas Gerais, 7 de fevereiro de 1900, p. 1.
109
Decreto n.1.366, de 14 de fevereiro de 1900 (Instalações Sanitárias). Minas
Gerais, 25 de fevereiro de 1900, p. 1-2; Decreto n.1.367, de 2 de março de 1900
(Polícia Sanitária). Minas Gerais, 3 de março de 1900, p.1-4; Minas Gerais, Decre-
to n.1.368 e 1369, de 5 de março de 1900 (Cemitério e Matadouro). Minas
Gerais, 6 de março de 1900, p.1-3
110
ESTADO DE MINAS GERAIS. Mensagem ao Conselho Deliberativo da Cidade
de Minas ...,, 1900,
127
111
Seria considerado mendigo todo aquele que não tivesse meios de fortuna ou pa-
rente que o pudesse assistir, vivendo por isso a implorar esmolas. O exercício de tal
prática, porém, era vedado a quem que não estivesse inscrito como tal no livro de re-
gistros da prefeitura, onde, a cada um, seria dado um bilhete de identidade, assinado
pelo diretor de higiene, com número de inscrição, constando ainda nome, idade,
residência e designação do local destinado a estacionar, além de uma placa com a
inscrição Mendigo, que devia ser trazida de forma visível no peito. Cf.: Decreto n.
1435, de 27 de dezembro de 1900. Entre setembro de 1901 e agosto de 1902 fo-
ram matriculados 43 mendigos, sendo negados vários pedidos para aqueles que não
apresentavam os requisitos legais para mendigar na cidade. PREFEITURA DE BELO
HORIZONTE. Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo..., 1902, p. 160.
112
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo Sr. Dr. Ferando
de Mello Vianna..., 1924, p.18.
128
113
As Alterosas, 1916. In: JULIÃO, 1992:134. A autora lista uma série de recla-
mações que abrangiam o fornecimento de água, luz elétrica, rede de esgotos, varrição
de ruas, calçamento entre outros. Essas reclamações podem ser conferidas em:
“Lixo nos subúrbios”. A Nota, 9 de setembro de 1915, p. 1; “Falta de luz”. Diário
de Minas, 16 de outubro de 1914, p. 1; “O Calafate e a prefeitura”. A Capital, 25
de outubro de 1913, p. 1; “Ao sr. Prefeito”. Diário de Minas, 1 de novembro de
1899, p. 1; “Reclamações”. Diário de Notícias, 26 de setembro de 1907, p.2.
129
114
ESTADO DE MINAS GERAIS. Anuário de Estatística Demógrafo-Sanitária ...,
1921, p. 26. Na tabela apresentada, cólera e febre amarela apresentam um único
óbito cada entre 1910-1920; a peste, nenhum óbito.
130
115
ESTADO DE MINAS GERAIS. Anuário de Estatística Demógrafo-Sanitá-
ria...,1921, p. 12. Pedro Salles também afirma a artificialidade da elevada inci-
dência de tuberculose como resultado de ser a cidade considerada lugar favorável
para o tratamento dos doentes (SALLES, 1997, p.90).
116
Os dados relativos à mortalidade entre 1897 e 1920 encontram-se nas p. 44-
114. Sobre doenças gastrointestinais cf.: HAMMERLI, s/d.:572-573 vol.1.
131
117
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Secretário do Interi-
or..., 1918, p. 17. Afirmações da mesma natureza são encontradas nos relatórios
dos prefeitos Bernardo Pinto Monteiro, publicado em 1902, p. 150; Benjamin
Brandão, publicado em 1910, p. 21; Olynto Deodato dos Reis Meireles, publicado
em 1911, p. 12.
118
A Comissão Construtora havia destinado lugar específico para a construção de
um hospital na zona suburbana, constando em sua documentação uma planta com
quatro amplas enfermarias. Porém, esse seria mais um dos projetos não executados.
Como foi dito, durante o período de construção da cidade, a assistência médica aos
operários era feita pela própria Comissão ou, quando necessário, na Santa Casa de
Sabará, com a qual o governo havia estabelecido contrato. Em 1896, a epidemia de
varíola obrigou o engenheiro Francisco Bicalho a autorizar a instalação, em caráter
provisório, de um hospital para doentes de moléstias contagiosas e infecciosas. A
instalação de isolamentos provisórios parece ter sido prática nos momentos de ame-
aça, como, por exemplo, o da peste bubônica nos anos de 1899/1900. Cf.: PRE-
FEITURA DE BELO HORIZONTE. Mensagem ao Conselho Deliberativo..., 1900,
p. 41. Cf. também: ESTADO DE MINAS GERAIS. CCNC/MHAB; BARRETO,
1996:589-594 vol.2; SALLES, 1997:39-48; MARQUES e CARVALHO, 1996.
119
Em 1899, a Santa Casa de Misericórdia era instalada em barracas de lona tipo
Docker, cedidas pelo governo mineiro. A construção da primeira enfermaria seria
finalizada em fevereiro de 1901, e novos pavilhões foram edificados até os anos 20
(SALLES, 1997:40).
132
120
ESTADO DE MINAS GERAIS. Álbum Médico de Belo Horizonte. 1912, s.p.
121
A Sociedade de Medicina, Cirurgia e Farmácia foi criada em 1899, fruto da
iniciativa dos médicos Cícero Ferreira, Olynto Meireles e Salvador Pinto. Em suas
sessões, que tinham o resumo publicado no órgão oficial do Estado, eram discuti-
das questões científicas, casos médicos e as epidemias. A sociedade funcionou até
agosto de 1902. Em 1908, era criada a Associação Médico-Cirúrgica de Minas
Gerais (SALLES, 1997:148-149).
133
134
122
Os dados apresentados são relativos ao ano de 1918 e foram retirados respecti-
vamente: ESTADO DE MINAS GERAIS. Anuário de Estatística Demografo-Sanitá-
ria, 1921, p. 11; GOULART, 2003:23; BERTOLLI FILHO, 1986:117; ABRÃO,
1998:154.
135
136
137
A crônica da espanhola em
Belo Horizonte
139
1
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Relatório apresentado ao Conselho
Deliberativo..., 1919, p. VI.
2
Diário de Minas, 1° de setembro de 1918, p. 1.
140
3
As proposições sobre a “literatura da peste” elaboradas por esses autores foram
objeto de discussão no capítulo 1 (seção III – Perspectivas analíticas: a epidemia
como evento e como narrativa).
141
4
Diário de Minas, 24 de setembro de 1918, p. 1, e Minas Gerais, 10 de outubro de
1918, p. 4.
142
5
Minas Gerais, 11 de outubro de 1918, p. 3.
6
A Nota, Belo Horizonte, 10 de outubro de 1918, p. 1.
7
O terror dos moradores provavelmente seria reflexo do medo que a confirmação
da presença daquela moléstia ainda desconhecida causava entre a população. Po-
143
rém, também poderia apontar para os receios provocados pelas medidas impostas
pela Diretoria de Higiene, especialmente a prática do isolamento, que não parecia
contar as simpatias populares, como veremos mais adiante.
8
Mineiro de Pouso Alegre, Samuel Libânio diplomou-se em 1905 pela Faculdade
Nacional de Medicina. Em 1910, assumiu o cargo de médico-auxiliar da Diretoria
de Higiene do Estado de Minas Gerais, reorganizada naquele mesmo ano. De 1917
a 1926 assumiu o cargo de Diretor de Higiene do Estado, sendo responsável pela
criação e implantação do Plano de Profilaxia e Saneamento Rural do Estado de
Minas Gerais, com o apoio do governo federal e da Fundação Rockfeller. Foi professor
da Faculdade de Medicina e membro da Liga Anti-Tuberculose de Minas Gerais.
9
A Nota, 10 de outubro de 1918, p. 1.
10
Minas Gerais, 18 de outubro de 1918, p. 5. A primeira notícia afirmando a
existência de casos na cidade também seria publicada no Diário de Minas, nesse
mesmo dia 18 de outubro, na primeira página. Não há registros anteriores sobre a
doença em nenhum dos dois jornais.
11
Diário de Minas, 24 de outubro de 1918, p. 1.
144
145
12
Cf. capítulo 1, seção “Perspectivas analíticas: a epidemia como evento e como
narrativa”.
13
Minas Gerais, 18 de outubro, p. 4 e 19 de outubro de 1918, p. 5.
146
14
Minas Gerais, 21 e 22 de outubro, p. 5.
15
“Carta do deputado Nelson de Senna, Presidente da Comissão de Festejos”.
Minas Gerais, 20 de novembro de 1918, p. 2. Na capital federal, as ruas estiveram
repletas em comemoração ao armistício, havendo desfiles de bandas e corso de
automóveis. Outras festividades eram programadas para breve. Cf.: Minas Gerais,
13 de novembro de 1918, p. 4.
16
Minas Gerais, 9 de novembro de 1912, p. 1.
17
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 2.
147
18
Minas Gerais, 10 de novembro, p. 6, e de novembro, p. 5
19
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro, p. 6.
148
20
Minas Gerais, 6 de novembro de 1918, p.2; 8 de novembro, p.1; 5 de novem-
bro, p.1; 10 de novembro, p.4.
21
Minas Gerais, 14 de novembro de 1918, p. 2.
149
22
Diário de Minas, 1° de novembro de 1918, p. 1. O Minas Gerais também
criticava a atitude da empresa e de quem se dispusesse a freqüentar suas salas,
aconselhando a população a observar as determinações divulgadas pela Diretoria
de Higiene em favor da coletividade, mas também do próprio indivíduo: “Faz-se
mistér, portanto, que essas acertadas providências não sejam anuladas pelos
freqüentadores de cinemas e outras casas de diversões, que, além do risco pessoal
que correm, contribuirão para a agravar a situação, aumentando o número de
casos da importuna, e não raro, perigosa enfermidade”. Minas Gerais, 4 e 5 de
novembro de 1918, p. 4.
150
23
A sugestão de que o divertimento e o bom humor eram remédios eficazes na
batalha contra as ameaças epidêmicas também é apontada por Delumeau, desde o
século XVI: “é preciso manter-se alegre, em boa e pequena companhia e às vezes
cantores e instrumentos musicais, e algumas vezes ler e ouvir alguma leitura agra-
dável” – A Paré, citado em DELUEMAU, 1996:125-127. Desregramentos tam-
bém são relatados durante os episódios epidêmicos da antiguidade, porém, são
tratados mais como um desejo de se aproveitar os últimos momentos de vida, que
conselho para manter o equilíbrio saudável da mente e do corpo. Cf.: DELUMEAU,
1996:128.
24
Minas Gerais, de 7 de novembro de 1918, p. 5.
151
A Carestia
25
Minas Gerais, de 7 de novembro de 1918, p. 5.
26
“Várias casas comerciais, entre as quais as dos srs. Oliveira & Vianna, Samuel
Ribas e Lunardi & Comp. tiveram que fechar as suas portas, devido a se acharem
atacados todos os seus empregados, tendo a última se reaberto anteontem, após
oito dias de forçada interrupção”. Minas Gerais, 6 de novembro de 1918, p. 2.
27
Minas Gerais, 27 de novembro de 1918, p. 7.
152
28
O preço fixado pelo governo federal era de 600 réis para cada 100 gramas.
Antes da pandemia, o produto era adquirido por 400 réis nas farmácias cariocas,
enquanto em meados de outubro o valor chegava a mil e seiscentos réis. Minas
Gerais, 18 de outubro de 1918, p. 5. As requisições incidiam sobre os estoques
existentes e mesmo sobre as encomendas que acabavam de chegar à alfândega do
Rio de Janeiro. Minas Gerais, 25 de outubro de 1918, p. 6.
29
Minas Gerais, 21 e 22 de outubro de 1918, p. 8 (grifo nosso).
30
Minas Gerais, 4 e 5 de novembro de 1918, p. 4.
31
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 2.
153
32
Diário de Minas, 1° de julho de 1918, p. 1
33
Decreto publicado no Diário de Minas, 1° de setembro de 1918.
34
Os membros da Junta de Alimentação Pública Estadual, seriam empossados no
dia 8 de setembro. Diário de Minas, 10 de setembro de 1918, p. 2
35
Diário de Minas, 17 de setembro de 1918, p. 1; 21 de setembro de 1918, p. 1.
154
36
Diário de Minas, 27 de setembro de 1918, p. 1
37
Tabelas do Mercado Municipal publicadas pelo Minas Gerais, em 10 de outubro
de 1918, p. 6 e 17 de novembro de 1918, p. 5.
38
Diário de Minas, 8 de novembro de 1918, p. 1.
155
39
Minas Gerais, 14 de novembro de 1918, p. 2.
40
Minas Gerais, 15 de novembro de 1918, p. 3.
41
Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 5.
42
Minas Gerais, 13 de dezembro, p. 4, e 20 de dezembro de 1918, p. 4.
43
Minas Gerais, 1 de dezembro de 1918, p. 2.
156
44
Minas Gerais, 5 de dezembro de 1918, p. 4.
45
“Roças gripadas”. Diário de Minas, 3 de janeiro de 1919, p. 1.
46
A Nota, 10 de outubro de 1918, p. 1.
157
47
Ainda no dia 10 de outubro, havia muitas dúvidas entre as autoridades e o corpo
médico sobre a verdadeira natureza dos casos de gripe então verificados na capital
do país.
48
Minas Gerais, 10 e outubro de 1918, p. 4.
49
Como veremos, a natureza da moléstia e o desconhecimento de seu agente
158
deixavam dúvidas sobre o sucesso de qualquer medida que pudesse ser posta em
prática naquele momento, o que seria observado pelos próprios responsáveis pela
saúde pública de então. No entanto, as práticas de isolamento, desinfecção e a
divulgação de conselhos à população, implementadas num segundo momento, su-
gerem que tais aspectos não seriam explicações suficientes para a ausência comple-
ta de qualquer ação preventiva.
50
Decreto de 17 de outubro de 1918. Minas Gerais, 18 de outubro de 1918, p. 1.
51
Diário de Minas, 18 de outubro de 1918, p. 1.
159
52
Em suas memórias, o médico Carlos Caiafa Filho relembra o isolamento devido
à espanhola: “Como era costume da época prender os doentes no quarto e não
deixá-los comer ‘alimentos pesados’, sofremos esta tortura por muitos dias. Fica-
mos nos dois quartos do alpendre, os últimos do fim do imenso corredor de uns
quinze metros ou mais de comprimento, portanto, longe do corpo central da casa,
completamente isolados. Mas logo que passou a crise inicial e entramos em conva-
lescença, passamos a roubar biscoitos de polvilho, suspiros de clara de ovo batida
com açúcar, tarecos etc., lá do armário da sala de jantar, onde nossa mãe os
guardava. Passávamos o dia lendo revistas, principalmente o Tico-Tico ou o Malho,
a Careta etc, e vendo também revistas em italiano, francês e inglês, que meu pai
recebia” (CAIAFA 1986:67). Bem diversos deviam ser os dias dos enfermos po-
bres, isolados nos hospitais.
53
Minas Gerais, 17 de outubro de 1918, p. 5.
160
54
Diário de Minas, 22 de outubro de 1918, p. 1.
55
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretário do
Interior..., 1919, p. 15.
161
162
163
56
Minas Gerais, 9 de novembro de 1918, p. 2.
57
Minas Gerais, 30 de novembro de 1918, p. 3. O último boletim divulgado pelo
governo, em 15 de dezembro, informava terem sido verificadas 3.877 notifica-
ções. Cf.: Minas Gerais, 15 de dezembro de 1918, p. 2.
58
Em 1918, a população total da cidade era estimada em 55.709 habitantes.
ESTADO DE MINAS GERAIS. Anuário de Estatística Demógrafo-Sanitária, 1938,
p. 11. Em São Paulo, Cláudio Bertolli Filho afirma que os dados oficiais apontavam
que cerca de 22% da população havia sido infectada. O autor, porém, indica que
a proporção dos atingidos tenha chegado a dois terços da população da cidade,
estimada em 528.295 habitantes (BERTOLLI FILHO, 1986:106-107). A mesma
proporção de infectados, isto é, dois terços, foi apresentada para o Rio de Janeiro,
por Teófilo Torres, Diretor Geral de Saúde Pública do Distrito Federal, ao final da
epidemia (TEIXEIRA E MEYER, 1920:496-497).
164
59
Ao contrário de Minas, em São Paulo a Diretoria de Higiene dispensava a decla-
ração do local da ocorrência dos casos e a relação nominal dos atacados do mal.
Segundo Artur Neiva, responsável por aquela diretoria, esperava-se apenas que os
médicos declarassem o número de casos atendidos, “e isso sem a superveniência
do menor incômodo aos doentes por parte da administração sanitária” (Cf.:
BERTUCCI, 2002:113).
60
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 2.
61
“(...) a deficiência (...) de corpo clínico mesmo em épocas normais e agora
agravada pela moléstia que o não poupou, constituíram outros tantos entraves e
obstáculos quase insuperáveis à ação pronta e eficaz das autoridades sanitárias do
Estado”. ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secre-
tário do Interior..., 1919, p. 20.
62
Minas Gerais, 19 de novembro de 1918, p. 2.
165
63
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo sr Secretário do
Interior..., 1918, p. 21.
64
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo sr Secretário do
Interior..., 1918, p. 34. Essa observação era feita considerando-se o movimento
anual de 1917, que somava 90 internações. Em 1918, desde o início da pandemia
(10 de outubro) até o dia 16 de novembro, isto é, em pouco mais de um mês, o
Hospital de Isolamento computava 78 internações.
65
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretário do
Interior..., 1919, p. 16.
66
Como apontado na Introdução deste trabalho, apenas duas coleções de periódi-
cos cobrem todo o período da pandemia em Belo Horizonte: Diário de Minas,
órgão do PRM, e Minas Gerais, órgão oficial do governo do estado. A forma como
166
167
70
Diário de Minas, 26 de outubro de 1918, p. 1 (grifo nosso).
71
Minas Gerais, 26 de outubro de 1918, p. 2. O otimismo e a imprevidência
assinalados como reações da população da capital mineira em relação à influenza,
e mesmo a outras moléstias epidêmicas, também podem ser analisados como um
dos aspectos que comporiam as atitudes coletivas diante dessas ameaças: qual seja,
a da sua negação.
72
Minas Gerais, 28 e 29 de outubro de 1918, p. 3.
73
Diário de Minas, 27 de outubro de 1918, p. 2.
168
74
Diário de Minas, 2 de novembro de 1918, p. 1.
75
Diário de Minas, 31 de outubro de 1918, p. 2. Esse decreto reeditava medida
tomada pelo Ministério do Interior para a capital federal, conforme noticiado pelo
Diário de Minas, 27 de outubro de 1918, p. 1.
169
76
Minas Gerais, 26 de outubro de 1918, p. 2 e Diário de Minas, 1° de novembro
de 1918, p. 1. Sobre o extrato tonsilar, de Érico Coelho, cf.:, 25 de outubro de
1918, p. 1
77
“Diretoria de Higiene auxilia fundação de postos de socorro pela Damas da
Caridade”. Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 4; O Minas Gerais de 15 de
dezembro de 1918, p. 2, informa que, durante a epidemia, a Diretoria de Higiene
havia destacado um de seus médicos para atender aos doentes socorridos pelas
Conferências de São Vicente de Paulo.
170
78
Correio da Manhã, 20 de outubro de 1918, p. 1, apud: GOULART, 2003:97.
79
FACULDADE de Medicina de Belo Horizonte. Ata da 12ª Sessão da Congrega-
ção, 1918.
171
80
FACULDADE de Medicina de Belo Horizonte. Ata da 12ª Sessão da Congrega-
ção, 1918.
81
Minas Gerais, 3 de novembro de 1918, p. 5. Essa reunião é mencionada no
relatório apresentado pelo diretor de higiene em 1919: “Os presentes deram seu
pleno assentimento à orientação do Diretor de Higiene, (...) manifestando a convic-
ção de que nada mais poderiam alvitrar, além do que já estava sendo posto em
172
173
84
Minas Gerais, 2 e 3 de dezembro de 1918, p. 2.
85
O decreto de criação do Serviço de Profilaxia Rural do Estado de Minas Gerais
foi promulgado no dia 18 de junho de 1918, sendo publicado juntamente com o
seu regulamento naquela mesma data. O primeiro posto de saneamento rural foi
inaugurado no dia 19 de agosto do mesmo ano na cidade de Leopoldina. ESTADO
DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretário do Interior...,
1919, p. 3 e 4.
174
86
Relatórios apresentados ao Secretário dos Negócios do Interior nos anos de
1919, 1920, 1921, 1924.
87
Ver também: EVANS, 1999:153; SLACK, 1999:13; BOURDELAIS, 1988:33;
PELLING, 1978:3-5.
88
Diário de Minas, 26, 27 e 28 de agosto de 1918, p. 1. O jornal voltaria à carga
contra o projeto de Azevedo Sodré no mês seguinte. Diário de Minas, 6 e 27 de
setembro de 1918.
89
Diário de Minas, 22 de outubro de 1918, p. 1.
175
90
Diário de Minas, 6 de dezembro de 1918, p.1 e 2. Rodrigues Alves era o
presidente da república quando da reforma urbana do Rio de Janeiro, tendo no-
meado e apoiado as ações de Pereira Passos.
91
Minas Gerais, 15 de novembro de 1918.
176
A sociedade em ação
92
Minas Gerais, 2 e 3 de dezembro de 1918, p. 2.
93
Reações semelhantes são apontadas nos estudos sobre as epidemias de cólera na
Europa durante o século XIX. “A impotência da ciência e dos homens em geral em
debelar o contágio quebrava as solidariedades tradicionais. Em certas localidades,
os doentes estavam abandonados à própria sorte” (VINCENT, 1988:65).
177
94
Diário de Minas,12 de outubro de 1918, p. 1.
178
95
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretário do
Interior, 1919, p. 17.
96
Diário de Minas, 26 de outubro de 1918, p. 1. No mesmo dia, o diário oficial
publicava como estavam organizados os serviços das diversas enfermarias e os
professores e alunos responsáveis pelos plantões em cada uma delas. Minas Gerais,
26 de outubro de 1918, p. 2 e 3, e 11 e 12 de novembro de 1918, p. 3.
97
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretário do
Interior..., 1919, p. 17. Já no dia 6 de novembro, dos 17 funcionários que presta-
vam serviços desde a instalação do Hospital da Medicina, achavam-se “em pé
apenas 2 cozinheiros e um auxiliar de farmácia”. Minas Gerais, 6 de novembro de
1918, p. 2.
179
98
Minas Gerais, 27 de outubro de 1918, p. 4. O curso de enfermeiros e padioleiros
de guerra começou a funcionar na Faculdade de Medicina em dezembro de 1917.
Os diplomas da primeira turma seriam entregues em sessão solene no mês de
agosto de 1918 (PENNA, 1997:166).
99
Minas Gerais, 27 de outubro de 1918, p. 4.
100
Minas Gerais, 2 de novembro de 1918, p. 2.
101
Minas Gerais, 9 de novembro de 1918, p. 1.
180
102
Associação de leigos católicos tradicional; sua atuação no estado foi inicialmente
estimulada pelos padres lazaristas. Em Belo Horizonte, os vicentinos compunham-
se de várias associações menores formadas nas diversas paróquias da capital mi-
neira, cada uma delas recebendo um nome distinto, como Conferência de Santa
Ana, do Santíssimo Sacramento, de Santo Antônio, de São Luiz Gonzaga, entre
outras. Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 4 e 6, e 11 e 12 de novembro
de 1918, p. 2; e Diário de Minas, 15 de novembro de 1918, p. 6.
103
Minas Gerais,13 de novembro de 1918, p. 2.
104
Minas Gerais, 6 de dezembro de 1918, p. 2.
181
105
Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 4, e 11 e 12 de novembro de 1918,
p. 2.
106
Minas Gerais, 26 de outubro de 1918, p. 3
182
107
Minas Gerais, 2 de novembro de 1918, p. 2 (grifo nosso).
108
Minas Gerais, 9 de novembro de 1918, p. 5. Informação sobre as atividades
desenvolvidas pelo posto da Floresta, entre os dias 13 e 15, apontava: Dia 13 –
visitas médicas em domicílio: 40; gêneros e dietas fornecidos a 60 pessoas. Dia 14
– visitas médicas em domicílio: 20; gêneros e dietas fornecidos a 65 pessoas. Dia
15 – visitas médicas em domicílio: 35; gêneros e dietas fornecidos a 143 pessoas.
Minas Gerais, 16 de novembro de 1918, p. 3.
183
109
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 6.
110
Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 4.
111
Minas Gerais, 4 e 5 de novembro de 1918, p. 4.
112
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 3.
184
113
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 6. Doações como a do coronel
Vianna não eram a regra. Contribuição de igual valor foi dirigida anonimamente
aos vicentinos, e a Companhia de Tecidos doaria a mesma quantia em fazendas de
algodão. Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 3. Outras doações
pessoais expressivas giravam em torno d e 100 a 200$000.
114
“Na lista de ontem, onde se lê que o deputado Bressane assinou 2$000 leia-se
a quantia de 20$000”. Minas Gerais, 20 de novembro de 1918.
115
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 3 e 6, e 16 de novembro de
1918, p. 3.
116
Minas Gerais, 4 e 5 de novembro de 1918, p. 4.
185
117
Na França, durante a epidemia de 1832, uma circular aos prefeitos trazia uma
instrução informando que “havia de se abrir em sua comuna uma subscrição que
deveria ser levada de casa em casa, por uma ou duas pessoas notáveis do lugar, a
todos os habitantes que por sua posição, tivessem condições de colaborar”
(BOURDELAIS, 1987:189).
118
Diário de Minas, 17 de outubro de 1918, p. 2.
186
119
Diário de Minas, 19 de novembro de 1918, p. 2.
120
Nesse sentido, é expressiva a citação que a autora faz de uma nota publicada no
jornal O Estado de São Paulo, de 27 de outubro de 1918: “Urge, pois, que todas
187
as pessoas se prontifiquem a dar o que puderem. Note-se, mais uma vez, que não
vai nisto um simples movimento de filantropia, mas também de defesa própria. É
interesse de todos os habitantes da cidade que haja dentro desta quanto menos
miséria, desocupação, orfandade e doença. O saudável equilíbrio da vida urbana
resulta em benefício direto de cada família, de cada indivíduo, por mais altamente
colocado que esteja. Cooperar para restabelecer esse equilíbrio ameaçado não é
grande virtude, é quase apenas um ato de egoísmo esclarecido” (BERTUCCI,
2002:123-124). Apesar de não contarmos com exemplo tão expressivo, não é
difícil supor que pensamento dessa natureza também estivesse presente entre a
população da capital mineira.
121
Cf. capítulo 1.
122
Veja por exemplo os dados sobre São Paulo, Porto Alegre e Rio Grande, exami-
nados por BERTOLLI FILHO, 1986; ABRÃO, 1998; e OLINTO, 1995.
188
123
Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 4.
124
Minas Gerais, 25 de outubro de 1918, p. 6. Os grifos são nossos.
125
Minas Gerais, 3 de novembro de 1918, p. 5.
126
Diário de Minas, 5 de novembro de 1918, p. 1.
127
Minas Gerais, respectivamente 7 de novembro, p. 5, e 9 de novembro de 1918,
p. 2 e 5.
189
128
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Livro de Enterramentos do Cemitério
Municipal do Bonfim – 01/18/1912 a 29/02/1920.
129
Minas Gerais, 10 de novembro de 1918, p. 4.
190
130
Minas Gerais, 7 de novembro de 1918, p. 5.
131
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p2.
132
Veja ainda; PICKSTONE, 1999:125-148.
133
Noção semelhante é trabalhada por Charles Rosenberg para os Estados Unidos
(ROSENBERG, 1987).
191
134
Para a gripe em São Paulo, cf.: BERTUCCI, 2002:120-121.
135
Minas Gerais, 8 de novembro de 1918, p. 1.
136
Em relatório apresentado no ano 1913, o diretor do Hospital de Isolamento
informava que o baixo movimento naquela instituição devia-se à “repugnância”
existente entre a população em hospitalizar qualquer pessoa. ESTADO DE MINAS
GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Américo, Ferreira Lopes, Secretário
de Estado de Negócios do Interior..., 1913, p. 31. Em novembro de 1918, o Minas
Gerais informava que a epidemia continuava a alastrar-se nos bairros pobres, e que
as estatísticas, baseadas em notificações, não refletiam a realidade, uma vez perdu-
rar entre as camadas inferiores da sociedade o “hábito” de não recorrer a médicos.
Minas Gerais, 11 e 12 de novembro de 1918, p. 2.
137
Minas Gerais, 13 de novembro de 1918, p. 2 (grifo nosso).
138
Minas Gerais, 21 de novembro de 1918, p. 1
192
139
Richard Evans discorda da proposição de que as epidemias de cólera tenham
tido papel fundamental nas revoluções políticas e sociais ocorridas no continente
europeu no correr do século XIX. Também critica a perspectiva que analisa os
impactos da moléstia como um “teste de coesão social”, de cooperação entre dife-
rentes estratos sociais. Porém, não questiona a existência de diversos distúrbios
como conseqüência da moléstia (EVANS, 1987:243-244, 367, 477 e 1999:152-
153, 157-162). Sobre os tumultos em tempos de epidemia ver também: SNOWDEN,
1991; BOURDELAIS, 1987:222-225; VINCENT, 1988:54-55.
193
140
Diário de Minas, 13 de novembro de 1918, p. 1. Certamente, como veremos no
próximo capítulo, a observância dos conselhos da Diretoria de Higiene não surti-
ram muitos efeitos diante da natureza viral da influenza.
141
Cf.: ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretá-
rio do Interior..., 1919, p. 18.
194
142
Minas Gerais, 22 de novembro de 1918, p. 2.
143
Minas Gerais, 4 de dezembro de 1918, p. 3.
144
Minas Gerais, 6 de dezembro de 1918, p. 3.
195
196
145
As orações indicadas eram as mesmas propostas pelo cardeal do Rio de Janeiro,
Pro perigrinantibus e Pro vitanda mortalitate del tempore pestilentiae. Minas Gerais,
14 de novembro de 1918, p. 6.
197
146
Minas Gerais, 23 de outubro, p. 4 e 24 de outubro de 1918, p. 3.
147
Minas Gerais, 26 de outubro de 1918, p. 4
148
Diário de Minas, 5 de novembro de 1918, p. 1. Vale lembrar que, assim como
as promessas aos santos, outra prática comum ao catolicismo era pedir a interces-
são das almas para alcançar determinadas graças.
198
149
O Festim, 26 de janeiro de 1919, p. 1.
199
150
ESTADO DE MINAS GERAIS. Arquivo de Processos do Fórum Lafayette.
Maço 25. 1919.
151
A Nota, 6 de novembro de 1917.
152
Diário de Minas, 18 de outubro de 1918, p. 2.
200
153
Diário de Minas, 22 de outubro de 1918, p. 2; Minas Gerais,17 de outubro, p.
4 e 11 e 12 de novembro de 1918, p. 2 e 3; Diário de Minas, 7 de dezembro de
1918, p. 2.
154
Diário de Minas, 29 de outubro de 1918, p. 2.
201
155
Diário de Minas, 29 de outubro de 1918, p. 2.
156
Diário de Minas, 22 de dezembro de 1918, p. 2.
157
Como veremos no próximo capítulo, uma das explicações levantadas para o
termo “influenza” estava relacionado à idéia de que a moléstia era devida a influ-
ência celeste.
202
158
Minas Gerais, 21 e 22 de outubro de 1918, p. 4; 25 de outubro de 1918, p. 6
159
Minas Gerais, 7 de novembro de 1918, p. 5. Cf.: Diário de Minas, 12 de
novembro de 1918, p. 2.
160
Ver: Diário de Minas, 6 de novembro, p. 1; 13 de novembro, p. 2; 1° de
dezembro, p. 2; e 8 de dezembro de 1918, p. 1.
203
161
Diário de Minas, 6 de novembro, p. 2, e 13 de dezembro de 1918, p. 2. Sobre
o apelo literário da tuberculose, David Steel afirma que, no século XIX, a doença
revestia-se de um “glamour mórbido” (STEEL, 1981). Para o mesmo assunto, cf.:
SONTAG, 2002.
162
Diário de Minas, 5 de novembro de 1918, p. 1.
204
163
Minas Gerais, 6 de novembro de 1918, p15.
164
Minas Gerais, 21 e 22 de outubro de 1918.
205
206
165
Diário de Minas, 27 de outubro de 1918, p. 1.
166
Minas Gerais, 17 de outubro de 1918, p. 5.
167
Minas Gerais, 6 de dezembro de 1918, p. 1 e 2.
207
168
A questão dos exames pode ser acompanhada pelo Diário de Minas durante o
mês de novembro, nos dias: 9, 13, 19, 21, 22, 23, e 17 de dezembro de 1918.
169
Diário de Minas, 10 de dezembro de 1918, p. 1. Cf.: Minas Gerais, 13 de
dezembro de 1918, p. 2; 14 de dezembro p.2; e 15 de dezembro, p. 2; Diário de
Minas, 8 de dezembro de 1918, p. 1; 9 de dezembro, p. 2; 11 de dezembro, p. 2;
13 de dezembro, p. 2
170
Minas Gerais, 29 de dezembro de 1918, p. 1
171
A Notícia, 14 de fevereiro de 1920, p. 4.
208
172
Apesar da tentativa de encontrar depoentes que pudessem contribuir com o
levantamento de informações sobre a pandemia na cidade de Belo Horizonte,
praticamente todos afirmaram não ter recordações que pudessem auxiliar essa
pesquisa.
173
Diário de Minas, 6 de novembro de 1918, p. 2.
209
A medicina e a influenza
1
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo...,
1903, p. 40.
211
2
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho..., 1903, p.
40-41.
3
Como mostra Gina Kolata, desde 1930 até a década de 1990, vários cientistas
ainda buscavam determinar o que havia feito da pandemia de influenza de 1918
uma manifestação tão mortal (KOLATA, 2000).
212
4
Cf. também DRIGALSKI e LOT, 1964:260-261; BEVERIDGE, 1978:24.
213
5
Essas opiniões, como veremos adiante, remetem à teoria das trocas biológicas,
desenvolvida nos trabalhos de McNEILL, 1976, e CROSBY, 1973.
6
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo...,
1903, p. 40-41.
214
215
216
7
Sobre as pandemias entre 1700-1900, cf. também: PATTERSON, 1986.
8
No Brasil, como se lê em W. Bernardinelli, quando da epidemia de 1989-1890,
muitos médicos pensaram tratar-se de uma “doença nova, por que se tinham es-
quecido da gripe” (BERNARDINELLI, 1933:41).
217
9
Segundo Campbell, diversos acontecimentos foram tomados como causa ou como
tendo ascendência sobre a origem da doença, entre os séculos XVI e XVIII: os
cometas, as erupções vulcânicas, os meteoros, os meteoritos, a aurora boreal, as
rápidas mudanças climáticas e as pragas de insetos (CAMPBELL, 1943:392).
10
“A moléstia agarra o futuro enfermo que até então gozava de boa saúde sem
qualquer aviso prévio, e o doente dificilmente se livraria do mal à custa de seus
próprios esforços” (Georges Werner. In: BERTOLLI FILHO, 1986:90). A refe-
rência à praga de insetos é feita por BEVERIDGE, 1978:25.
218
11
Segundo DeLACY, a prática desses inquéritos epidemiológicos seria uma ferra-
menta importante no desenvolvimento da medicina e nas transformações operadas
no entendimento e na definição de outras doenças no decorrer do século XVIII –
o levantamento e a troca de informações possibilitaria aos médicos perceberem
estar falando de uma mesma doença; por seu lado, a comparação exigia uma
particularização dos objetos que estavam sendo examinados (DeLACY, 1993, p74).
12
“A teoria humoral não concebia a doença como o objeto, mas como expressão de
uma certa relação entre objetos, a saber, os humores e suas qualidades” (Walter
Pagel. In: DeLACY, 1993:77-78). Mas o galenismo e, especialmente a terapêutica
dele derivada, subsistiriam até o século XIX (Cf.: BYNUM, BROWNE e PORTER,
1985:159-169).
13
Recuperando a antiga noção hipocrática de que certas doenças estavam relaci-
onadas a determinadas condições climáticas e circunstâncias locais, em meados
219
220
16
Cf.: BYNUM, BROWNE e PORTER, 1985:149.
221
17
Cf. PATTERSON, 1986:21-22. “O fato de que a influenza freqüentemente
avançasse contra os ventos dominantes e parecesse irradiar-se das cidades, prova-
velmente contribuiu para a ascensão do pensamento contagionista por volta de
1780”. Ainda segundo o autor, as especulações sobre a origem asiática da doença
viriam reforçar a xenofobia de europeus e americanos, “acostumados à noção de
que coisas perigosas como a peste e os turcos provinham do leste misterioso”
(PATTERSON, 1986:p. 26).
18
Como salienta Patterson, “a posição de compromisso – ou seja, um espaço de
consenso – entre miasmatistas e contagionistas era comum” (PATTERSON,
1986:12).
19
Para um exame mais detido sobre essas formas de entendimento das moléstias,
cf.: CZERESNIA, 1997, e também: PELLING, 1993.
20
Essas relações e rearticulações entre os conceitos e sentidos expressos por essas
teorias foram objeto de observação por Afrânio Peixoto em 1913. Segundo dizia,
222
termos como contágio, infecção e desinfecção, entre outros, “não podem ser toma-
dos pelo seu significado estrito; mas os velhos termos continuam com a acepção
nova que os nossos conhecimentos lhes vão transferindo. (...) Antes da época atual,
em que se precisaram as noções etiológicas, todos esses termos fizeram correr rios
de tinta, para os definir e discutir. Só a noção da causa e do meio de transmissão
pode fazer a paz entre os grupos debatentes” (PEIXOTO, 1913:501-503).
21
Além dos resultados apontados por meio de alguns inquéritos realizados durante
as epidemias na segunda metade do século XVIII, a autora lista vários autores que
partilhavam a mesma opinião, entre os quais William Cullen, que havia identifica-
do a influenza como um catarro contagioso, classificando-a entre as diversas clas-
ses de febres (DeLACY, 1993:106). Segundo Patterson, a expansão geográfica
das epidemias de influenza era tão óbvia no final do século XVIII que mesmo os
anticontagionistas tiveram que reconhecê-las (PATTERSON, 1986:27).
22
A mesma avaliação é encontrada em PATTERSON, 1986:29.
223
23
Thompson, Symes. “Influenza (Londres, 1890)”. In: DOCUMENTA GEIGY,
1964:3.
24
Inicialmente essas observações estiveram relacionadas a fungos: Agostinho Bassi
relaciona a doença do bicho-da-seda (muscardine) à ação de um fungo parasitário;
224
225
26
Os postulados de Henle e Koch estabeleciam as condições necessárias para
provar que um organismo particular era a causa de uma determinada moléstia.
Entre tais postulados, estavam a presença constante do parasita e a possibilidade
de reprodução da doença pela sua inoculação em organismos sãos (ROSEN,
1994:221-222; 230).
27
Crosby afirma que, mais tarde, os estudos sobre a moléstia apontaram que os
coelhos – usados naquele experimento realizado por Pfeiffer – não apresentavam
qualquer susceptibilidade à doença, não sendo por isso capazes de desenvolver a
moléstia produzida pelo vírus da influenza.
226
28
Especialmente a página 103. A autora apresenta uma extensa pesquisa a respeito
das investigações e dos debates sobre a doença ocorridos até a descoberta do vírus
da influenza, em 1933. Cf. também: BILLINGS, Molly. “The influenza pandemic of
1918”, junho 1997. www.satanford. edu/group/virus/uda/fluresponse.html>.
29
O cientista norte-americano Richard Shope dedicou-se às pesquisas sobre a
gripe suína desde finais da década de 20, tendo mais tarde proposto sua relação
com a pandemia de 1918 (SHOPE, 1958).
30
Entre eles: pneumococos, estreptococos, diplococos, bacilo de Friedländer, além
de vários tipos de bactérias não identificadas (KINSELLA, 1919). Opiniões seme-
lhantes podem se consultadas em outros artigos publicados no mesmo número da
revista: MacCCALLUM, 1919 e GOODPASTURE, 1919. De modo semelhante,
227
228
34
Fato semelhante pode ser observado em relação ao modelo científico proposto
por Simon Flexner para a poliomielite, no início do século XX, e que privilegiava a
investigação virológica, em detrimento das características clínicas e epidemiológicas
da moléstia. Sua proposição de que a pólio era uma doença neurológica de origem
viral e contágio respiratório perduraria até o final da década de 1940, quando
passou a ser classificada como doença entérica, determinando mudanças significa-
tivas no entendimento e na possibilidade de controle da moléstia (Cf. ROGERS,
1996).
35
A existência de algumas doenças causadas por organismos ainda menores que as
bactérias, os chamados vírus, já era reconhecida desde o final do século XIX. Até
1930, a proposição da existência desses vírus filtráveis baseava-se na observação
de que certas culturas consideradas “estéreis” – isto é, que haviam sido submeti-
das a sucessivas filtragens capazes de reter todas as bactérias – ainda continuavam
mantendo a capacidade de provocar reações similares às moléstias estudadas nos
organismos inoculados. Assim, durante os primeiros trinta anos do século XX, as
viroses só podiam ser estudadas por meio de seus efeitos patogênicos nos organis-
mos infectados. Somente com a criação do microscópio eletrônico, na década de
1930, foi possível observar e estudar a estrutura dos vírus em detalhe. LYONS e
PETRUCELLI, 1978:579.
229
36
Entre os diversos pesquisadores que sugeriram essa hipótese em artigos publica-
dos naquele mesmo ano, estavam o cientista alemão H. Selter, os ingleses H. G.
Gibson, F. B. Bowman e J. L. Connor, os franceses Charles Nicolle, Charles Lebailly.
Cf.: TOGNOTTI, 2003:107-108.
37
Entre as críticas dirigidas aos bacteriologistas, a autora transcreve um trecho do
artigo publicado por V. Scoccia na revista Il Policlínico, em 1918: “Os bacteriologistas
estão sempre fazendo pesquisas, mas nunca chegam a um consenso. Talvez, exata-
mente como o problema ficou sem solução após a epidemia de 1889-90, temos
todos os motivos para acreditar que, nessa ocasião – a qual tem também (infeliz-
mente) gerado uma grande quantidade de material de estudos – eles acabarão
chegando a conclusão nenhuma” (In: TOGNOTTI, 2003:106).
230
38
A experiência dos cientistas ingleses repetiu os procedimentos e resultados obti-
dos por Richard Shope em relação à gripe suína, no ano 1928 (Cf.: BEVERIDGE,
1978:4-5; SHOPE, 1958, p.172).
231
39
Esse “laboratório biológico” do vírus da influenza pode estar no próprio homem,
ou nos suínos, espécie capaz de contrair a influenza humana e também aviária
(BEVERIDGE, 1978; KOLATA, 2002; TONIOLO NETO, 2001; COLAVITTI,
2004:53-59).
232
40
Tais interpretações seguem as proposições formuladas por McNeill relativas à
noção de “nicho ecológico”, relacionando a ausência de imunidade a determina-
das doenças infecciosas em certas regiões ao fato de estas terem permanecido
isoladas, impedindo o contato com os agentes patógenos por elas responsáveis e,
por conseguinte, o desenvolvimento da capacidade de reação à sua presença e
proliferação no interior do organismo (McNEILL, 1976). A mesma linha de análi-
se fundamenta as afirmações de Alfred Crosby sobre as transferências patológicas
que tiveram lugar entre Europa e América após a “descoberta” e colonização
desse último continente (CROSBY, 1998 e 1973).
41
Em 1552, o padre Vicente Rodrigues informava que, entre os índios de
Pernambuco, houve uma “tosse geral de que muitos morriam”. Antes de termina-
da aquela década, a doença também seria reportada no Rio de Janeiro e no Espí-
rito Santo, causando grandes prejuízos nessa última capitania, uma vez ter matado
número significativo de escravos: “foi tão grande a mortandade (...) e tão acelerada
que do dia em que lhes dava, até o sexto os levava (...) em breve tempo achamos
por conta a seiscentos escravos serem mortos” (In: ARAÚJO, 1993:56). Cf.: SAN-
TOS FILHO, 1977:182 vol.1. Em Minas Gerais, um dos primeiros registros escri-
tos sobre a doença se daria na Comarca do Serro Frio. No ano 1792, em requeri-
mento enviado ao almotacé da Vila do Príncipe pelo escrivão do Senado da Câmara,
afirmava-se ser “público e notório” existir naquela vila “a Epidemia dos Povos em
defluxoins perigosas”. Por isso, requeria o Senado, em nome de seu presidente e
demais vereadores, que os moradores de todas as ruas fossem interpelados a faze-
rem diariamente “fogueiras de ramos e ervas aromáticas para purificarem o ar”.
VICTOR, 1925:526. O defluxo é identificado como uma “inflamação catarral da
membrana mucosa das fossas nasais” (CHERNOVIZ, 1908:1574).
233
42
Como se vê, o hábito freqüente de se nomear as epidemias de gripe recorrendo
a assuntos que se inscrevem e impregnam o cotidiano em determinadas ocasiões,
tem raízes profundas na cultura popular.
43
Condonga Grande e Córregos eram, respectivamente, uma lavra de ouro distan-
te cerca de 270 km, e um povoado a cerca de 20 km do arraial de Conceição.
234
44
A antiga noção de que uma moléstia pudesse se transformar em outra com a
mudança das condições atmosféricas, examinada na seção anterior desse capítulo,
encontraria defensores até a segunda metade do século XIX (PATTERSON,
1986:29).
235
45
Como veremos, a noção de que condições climáticas distintas poderiam influir no
caráter ou malignidade das doenças ainda estaria presente no início do século XX.
46
A epidemia assim mencionada por Lavradio teve lugar no ano de 1852, no Rio
de Janeiro.
236
47
Na verdade, nada garante que essas manifestações epidêmicas não pudessem
ser devidas a outras moléstias, na medida em que, como se viu na seção anterior,
mesmo no século XIX, a influenza era confundida com outras doenças.
48
Polka era a denominação “plebéia” da influenza: “...o povo a denominou de
Polka, querendo dizer com esse nome a moléstia da moda, ou antes aludir ao jeito,
que tomam, no andar, as pernas de algumas pessoas que a sofreram, as quais, por
causa das dores com que ficam nas pernas parecem andar executando certos mo-
vimentos dos que dançam este bailado de última moda” (De Simoni). “No Brasil
quanto à terminologia da gripe, o zamparinismo epidêmico foi importado pelo
lisboeta. Os espanhóis e argentinos abusavam do trancazo, os franceses de mil
nomes populares, os portugueses... da zamparina e os brasileiros... da zamparina
mais da polka” (José Novaes de Souza Carvalho Neto) (In: MONCORVO FI-
LHO,1924, respectivamente, p. 24-25 e p. 23-24). A mesma informação é dada
por CHERNOVIZ, 1908:1749.
237
238
49
Cf. também capítulo 2.
50
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Relatório apresentado ao Conselho
Deliberativo..., 1903, p. 40.
51
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo...,
1903, p. 40.
239
52
ESTADO DE MINAS GERAIS. Anuário de Estatística Demógrafo-Sanitária...,
1921, p. 26, e MALETTA, 1997. Confira os dados apresentados na Tabela 1, no
capítulo 2.
53
Ainda na década de 1930, encontramos médicos fazendo referência à influência
das condições atmosféricas ou telúricas para explicar a contaminação por determi-
nadas moléstias. Um exemplo são os comentários do Dr. Décio Parreiras, diretor
240
241
55
Segundo Lopes Rodrigues, a doença de Dakar havia vitimado mais de 90 entre
os 1.500 homens da esquadra brasileira, proporção que, segundo ele, não se
observava em relação à epidemia reinante no Rio de Janeiro. Ver: Revista Médico-
Cirúrgica do Brasil, Ano XXVI, n.11, pp. 476-486, 1918, p. 480.
242
56
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo Sr. Secretário do
Interior..., 1919, p. 14.
243
244
57
Minas Gerais, 10 de outubro de 1918, p. 4.
58
Jornal do Comércio, 22 de setembro de 1918, In: SEIDL, 1918:455.
245
246
59
Entre as particularidades arroladas por Ribeiro da Silva, estavam: o fato da
epidemia de 1918 atingir de forma intensa as pessoas jovens; a curiosa benignida-
de com que acometia os velhos; a presença nos esputos dos doentes de uma varia-
da flora de estafilococos, estreptococos e outros germes de natureza indeterminada,
e a raridade de diplococos, geralmente os únicos organismos encontrados em abun-
dância nos doentes de gripe “tipo nostras”.
60
Ao contrário do que se lia no Dicionário de Littré, o Dr. Joseph Chalier, da Univer-
sidade de Lyon, apontava a sangria como uma das indicações mais seguras e bené-
ficas nos casos de influenza: “Ninguém lhe pode contestar a utilidade nos estados
asfíxicos, em que a cianose adquire uma intensidade ameaçadora. Numerosos médi-
cos há, todavia, muito tímidos, que se satisfazem com as ventosas escarificadas: não
é o bastante, é preciso agir por uma depleção brusca do sistema circulatório e
somente uma sangria a assegura, retirando sem receio pelo menos 500 gramas de
sangue (...) É preciso ter a sangria fácil” (CHALIER, 1919 grifo do autor).
247
61
Segundo informava Carlos Seidl, vigoravam no Brasil dois convênios internacio-
nais: o de Paris, de dezembro de 1903, ratificado em abril de 1907, e o de
Montevideo, de 21 de abril de 1914, e “por nenhum desses convênios é lícito
considerar a gripe objeto de medidas de profilaxia internacional” (SEIDL,
1918b:461).
62
Minas Gerais, 19 de outubro de 1918, p. 3.
248
63
Sobre as reações contrárias à quarentena e isolamento, cf.: BOURDELAIS,
1988:21-28; ROSENBERG, 1987:79-81. Cf. ainda o episódio da Empresa Go-
mes Nogueira no capítulo precedente (capítulo 3, seção I: A chegada da influenza
e os transtornos no cotidiano da cidade).
64
O receio de Carlos Seidl traz à lembrança as reações da população carioca em
resposta à vacinação obrigatória contra a varíola, no episódio conhecido como a
Revolta da Vacina (1904).
249
65
Considerações praticamente idênticas eram apresentadas por Carlos Seidl, por
sinal, proprietário do mesmo periódico, diante da Academia Nacional de Medicina,
no dia 10 de outubro de 1918. Cf.: Minas Gerais, 12 de outubro de 1918, p. 4.
66
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Secretário do
Interior..., 1919, p. 15.
250
67
“Por essa ocasião, entre os dias 10 e 12 de outubro, os casos de morte, que no
início da pandemia eram raros, começaram a ser assinalados em maior escala, até
que em 14 de outubro era verdadeiramente desesperadora a situação de nossa
população (...) o governo, atarantado ante a gravidade que se lhe deparava, só
então procurou estabelecer as primeiras medidas práticas (...)” (MONCORVO FI-
LHO, 1924:53). Cf. também p.31-32, 47. Para São Paulo, cf. BERTOLLI FI-
LHO, 1986:196. Na capital mineira, as primeiras medidas contra a influenza só
seriam tomadas uma semana depois de notificados os primeiros casos. (Cf. capítulo
3, seção II – As reações das autoridades públicas).
251
68
Como vimos no primeiro capítulo, apesar de considerar benignos os casos de
gripe verificados no vapor Itajubá, o inspetor do porto de Rio Grande havia deter-
minado a quarentena da embarcação, que trazia a bordo 38 tripulantes atacados
pela moléstia. Além disso, providenciava para que os doentes fossem removidos
para o lazareto da cidade. Na primeira quinzena de outubro, as autoridades sanitá-
rias de Santa Catarina e do Paraná proibiram que o vapor Itaquera atracasse em
seus portos, devendo manter-se fundeado longe dos mesmos para desinfecção e
isolamento dos doentes (ABRÃO, 1998:62-63). Em Mato Grosso, tentou-se isolar
a capital por meio de um posto sanitário no rio Paraguai, onde embarcações, tripu-
lantes, passageiros e bagagens eram inspecionados e desinfectados (MEYER e
TEIXEIRA, 1920:573).
69
“Moção de apoio a Carlos Seidl”, apresentada por Garfield de Almeida à Acade-
mia Nacional de Medicina. In: SEIDL, 1918:444.
252
70
Os debates sobre a natureza da moléstia podem ser acompanhados em artigos
publicados pelo Brasil-Médico, Ano XVII, n.45, 1918, e pela Revista Médico-Ci-
rúrgica do Brasil, Ano XXVI, n.11, 1918, e ANO XXVII, n. 2 e n.5, 1919.
71
A imposição de medidas restritivas parecia mais uma resposta política à pressão
social que uma resposta científica acreditada pelos atores que as punham em prática.
253
72
Em Minas, o cronista José Clemente comentava sobre as expectativas dos doen-
tes: “O povo gostava de receitas longas. Não havia fé em receitas curtas. Coisas do
povo (...). Qualquer um achava ruim, depois de examinado, receber do médico só
o nome de um preparado escrito em uma única linha (...). Queriam ver o médico,
compenetradíssimo, calado, de óculos, numa mesa a meditar para escrever a recei-
ta do xarope, poção, pílula ou cápsula, que deveria curá-los (...). Remédio assim é
que incutia fé na sua eficiência (...). Ai do médico que não formulasse e se limitasse
a receitar preparados fabricados! Podia contar com a desconfiança coletiva em sua
ciência (...). Estava desmoralizado... E os médicos sabiam também que as receitas
compridas tinham muito prestígio (...). Diversos deles eram conhecidos pelo cum-
primento de seu receituário” (ANDRADE, 1982a).
73
Sobre as reações populares frente às medidas sanitárias em tempos de epidemia
ver, entre outros: EVANS, 1999; CHANDAVARKAR, 1999; SNOWDEN, 1991:67-
103; CUETO, 1997. Para o Brasil cf.: CARVALHO, 1987; SEVCENKO, 1984.
254
74
Especialmente os capítulos 2 e 3. Vale ressaltar que o próprio Seidl havia apon-
tado não ter implementado medidas de fechamento e controle das casas de diver-
são e de outras instituições em função de reações negativas por parte da população.
Cf. acima, nota 64 SEIDL, 1918:437.
75
“(...) Venceslau Brás tomou providências enérgicas. Demitiu – a meu ver injus-
tamente – o diretor de Saúde Pública, dr. Carlos Sidl, que nada pudera fazer pela
indiferença com que haviam sido tratados os seus sucessivos pedidos de recursos”.
CHAGAS FILHO, 1993:150. Sobre as ações de Carlos Seidl, cf.: Revista Médico-
Cirúrgica do Brasil, Ano XXVI, n.10, pp. 435-453, 1918. As críticas dirigidas a
Seidl e sua exoneração da Diretoria Geral de Saúde Pública seriam motivos de
outros diversos artigos e notas publicados na mesma revista. Cf.: Ano XXVI, n.10,
pp. 454-471; n.11, pp. 473-503; n.12, pp. 517-558; ANO XXVII, n. 4, 130-
133; n.7, pp. 253-258. Cf. também: MONCORVO FILHO, 1924:29-45; MEYER
e TEIXEIRA, 1920:405-422; GOULART, 2003:92-100; BRITO, 1997:21.
255
76
Nicanor Nascimento. In: BRASIL. ANNAIS 1918, p. 610.
77
Sobre as críticas e cobranças a Artur Neiva, cf. p. 117-118, 135-136.
78
A crítica de Werneck talvez não fosse mesmo dirigida à atuação da iniciativa
pública ou de suas autoridades, sendo possível pensá-la como um apontamento dos
limites intrínsecos da ação do Estado como saneadora das necessidades humanas.
Vale relembrar, também, o caráter oficial das fontes sobre o período da epidemia
na capital mineira.
256
257
79
Especialmente: Afterword.
80
Para a discussão sobre a validade e correção do conceito de medicalização cf.,
entre outros: EDLER, 1992; SAMPAIO, 1995; ANTUNES, 1999.
258
81
Apud ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho
Deliberativo..., 1903, p. 40 (grifo nosso). Justificativa semelhante foi apresentada
pelo diretor de higiene de Fortaleza. Confira no capítulo 1.
259
82
Editoriais. Brasil-Médico, Ano XXXIV, n. 5, p. 69, 1919. Cf. no mesmo perió-
dico: “Notificação obrigatória dos casos de influenza” (Editoriais), n.6, p. 89; “As
vantagens da quarentena na gripe” (Correspondências), n.7, p. 103; “O regime
das quarentenas e a desmoralização da Higiene brasileira” (Editoriais), n.8, p.
124-125; “Ainda a questão das quarentenas na profilaxia da gripe”, n.11, p. 174.
260
83
Diário de Minas, 27 de outubro de 1918, p. 2.
84
Minas Gerais, 29 e 29 de outubro de 1918, p. 3.
85
Minas Gerais, 26 de outubro de 1918, p. 2; Minas Gerais, 28 e 29 de outubro de
1918, p.3.
86
Minas Gerais, 20 de outubro de 1918, p. 11. Sobre as opiniões de Plácido
Barbosa e Teófilo Torres, cf.: Minas Gerais, respectivamente, 23 de outubro de
1918, p. 3-4 e 19 de outubro de 1918 p. 3.
261
87
Essas indicações eram propaladas através dos manuais médicos ou em notícias
veiculadas pela imprensa. Ver entre outros: STERNBERG, 1889; CHERNOVIZ,
1908; HUCHARD, 1911; ANDRÉ, 1918; DUPRAT, 1918; Minas Gerais, 21 e 22
de outubro de 1918, p. 3; 23 de outubro de 1918, p. 4; 25 de outubro de 1918, p.
5; 26 de outubro de 1918, p2; 3 de novembro de 1918, p. 5.
262
88
Sobre a medicina e outras práticas de cura no Brasil durante a colônia e o
Império, cf.: RIBEIRO, 1997; WITTER, 2001; WEBER, 1999; FIGUEIREDO,
2002.
89
Entre ensinamentos sobre como cultivar plantas, ler a sorte, preparar refeições,
garantir o asseio e a conservação de “alimentos alteráveis”, um anúncio de almanaque
publicado no Diário de Minas também prometia “revelar receitas para a cura de
qualquer enfermidade e se manter a boa saúde”. Diário de Minas, 9 de novembro
de 1918, p. 2.
90
Sobre as fórmulas populares contra a gripe cf: BERTUCCI, 2002:222 e seg.
91
Ver seção 3 do capítulo anterior. Ver também: MARQUES, 2003.
263
92
Minas Gerais, 22 de novembro de 1918, p. 2 e Diário de Minas, 22 de novem-
bro de 1918, p. 2, e 30 de novembro de 1918, p. 2.
93
Sobre esses produtos cf.: p. 163-184.
94
Diário de Minas, 14 de novembro de 1918, p. 2 e 3.
95
Diário de Minas, 29 de outubro de 1918, p. 3.
96
Diário de Minas, 28 de setembro de 1918, p. 4.
264
97
Diário de Minas, 16 de outubro de 1918, p. 2.
98
Diário de Minas, 2 de novembro de 1918, p. 4.
99
Minas Gerais, 23 de outubro de 1918, p.8.
100
Minas Gerais,3 de novembro de 1918, p.8.
101
Minas Gerais, 20 de outubro de 1918, p.16 e 26 de outubro de 1918, p.4.
265
102
Diário de Minas, 29 de outubro, p. 1; 2 agosto, p. 2; 6 de novembro, p. 2.
103
Minas Gerais, 23 de outubro de 1918, p.8.
104
Diário de Minas, 14 de novembro de 1918, p. 2; 24 de outubro de 1918, p. 2.
105
Minas Gerais,3 de novembro de 1918, p.8.
106
Minas Gerais, 3 de novembro de 1918, p.8.
107
Diário de Minas, 28 de novembro de 1918, p. 3.
266
108
Minas Gerais, 13 de dezembro de 1918, p.4.
109
Diário de Minas, 6 de novembro de 1918, p. 2; 22 de novembro de 1918, p. 2.
267
110
Sobre o fracasso da medicina, cf.: BERTUCCI, 2002:181; BERTOLLI FI-
LHO, 1986:148, 155.
111
André Pereira Neto identifica uma disputa entre três perfis profissionais –
generalista, especialista e higienista – durante o Congresso dos Práticos, ocorrido
em 1922 (PEREIRA NETO, 2001).
268
112
Minas Gerais, 28 e 29 de outubro de 1918, p. 3.
269
113
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo...,
1903, p. 14-16.
114
Cf.: OSLER, 1908; OLIVEIRA, 1919; “A gripe espanhola: suas formas, profilaxia
e terapêutica” (Transcrição de artigo do Dr. Rubião Meira no Diário Popular, São
Paulo). Minas Gerais, 28 e 29 de outubro de 1918, p. 5.
115
Plácido Barbosa, Minas Gerais, 23 de outubro de 1918, p. 3-4.
116
Minas Gerais, 27 de outubro de 1918, p. 4.
117
Minas Gerais, 15 de dezembro de 1918, p. 2.
270
118
Minas Gerais, 25 e 26 de novembro de 1918, p. 3.
119
Minas Gerais, 8 de novembro de 1918, p. 1.
120
Minas Gerais, 28-29 de outubro de 1918, p. 3. Observação semelhante era
feita pelos membros de uma comissão nomeada pela Academia Paulista de Medi-
cina, a fim de elaborar um estudo clínico sobre a gripe: “Convém salientar também
que toda gripe que evolui em indivíduo anteriormente doente não pode deixar de
ser considerada séria, de prognóstico reservado. Assim os diabéticos devem ser
olhados com atenção, assim os nefréticos correm risco de irrupção da uremia,
assim os fracos de forças ficam grandemente debilitados, e do mesmo modo os
tuberculosos ficam na iminência de ver reacender o mal, que então corre parelha
com a gripe (...)”(Idem).
271
121
O autor enfatizava que a história das principais epidemias de gripe, observadas
desde 1580, ensinava que, “entre os numerosos observadores que as descreve-
ram, aqueles que a atribuíram ao contágio são em número muito menor que os que
as atribuíram à circunstâncias metereológicas e atmosféricas, tais como o frio e a
umidade, sucedendo ao calor e à seca, o nevoeiro espesso, a mudança rápida de
temperatura, a neve, os tremores de terra, as erupções vulcânicas, a diminuição do
ozone, etc” (ROUSSY, 1919:162, grifos nossos). Após as pesquisas que havia
realizado entre 1889-1894, a fim de identificar o micróbio patogênico da influenza,
Roussy levantava a hipótese de que o agente causador da gripe deveria ser um
“elemento vivo, (...) tão subtil, que seu estado molecular parece vizinho do estado
de vapor ou gasoso, o que lhe permitiria infeccionar o organismo, por assim dizer
instantaneamente, pelas vias respiratórias. Este agente seria então uma espécie de
vapor animado” (ROUSSY, 1919:172-173).
272
122
Artigo transcrito do Jornal do Comércio.
123
Minas Gerais, 19 de outubro de 1918, p. 3.
124
Minas Gerais, 28-29 de outubro de 1918, p. 3.
125
Minas Gerais, 28-29 de outubro de 1918, p. 3.
273
126
ESTADO DE MINAS GERAIS. Relatório apresentado ao Conselho Deliberativo...,
1903, p. 14.
127
Notas e referências aos estudos realizados durante os anos de 1918-1919 po-
dem ser consultados nos periódicos nacionais e internacionais: Brasil-Médico; Re-
vista Médico-Cirúrgica do Brasil, Gazeta Clínica, Lancet, Journal of American Medical
Association – JAMA, Il Policlínico, Bulletin de L’Intitut Pasteur, Presse Médicale,
entre outros.
274
128
Os estudos de Crowell contaram com a colaboração dos doutores Oscar D’Utra
e Silva, Magarinos Torres e Cássio Miranda, também do Instituto Oswaldo Cruz.
Ver: Brasil-Médico, Ano XXXIII, p. 21-22, 1919.
275
129
São citados como defensores dessa opinião os patologistas Alcides Godoy, Mar-
ques Lisboa, Eurico Villela e Astrogildo Machado.
130
“Já estava no prelo a nossa comunicação preliminar... quando chegaram ao
nosso conhecimento pesquisas nesse sentido realizadas em França, por Nicolle e
Lebailly, as quais vêm confirmar os nossos resultados” (CUNHA, MAGALHÃES e
FONSECA 1918a:378). O mesmo trabalho seria publicado com acréscimos em:
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, fasc.2, tomo 10, p.174-191, 1918b.
276
131
MOSES, Artur. “Bacteriologia da gripe”. Brasil Médico, no XXXIII, n.5, p. 37-
39, 1919.
132
Cf., entre outros: PARANHOS, 1919; COSTA, 1920.
277
278
279
280
281
282
283
284
Fontes
Periódicos
285
Documentação Oficial
286
287
Textos Médicos
288
289
290
Livros e artigos
291
292
<http://www.2.okstate.edu/ww1hist/flu.html>
<http://www.stanford.edu/group/virus/uda/fluresponse.html>
Obras de referência
Bibliografia
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298
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