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Planejamento Sonhar na agao de planejar Madalena Freire Sonhar nio € proibido Eu sou um menino muito sonhador. Me chamo Luiz Fernand. Sonho dormindo ou acordado, pois sonhar nao é errado. Tem vezes que eu quero ser um péssaro, ‘para voar e sentir o vento Outras vezes quero ser um super heréi que pudesse {fazer 0 bem ¢ matar meus inimigos, ou um genio maluco, para ‘riar varios monstros. Também posso ser um aventureiro, igualzinho ao Indiana Jones, para procurar tesouros. Ser um pirata para comandar meu navio. Até um Peter Pan, para ficar na Terva do nunca, ‘Mas nao pensa s6 em fantasia. Penso também na vida real (0 que eu quero mesmo é ser um médico ‘ou engenheiro eletranico. Com dezessete anos quero comegar afacer ‘cursos para ser alguma coisa na vida Vocé nao deve pensar: Ew ndo consigo, pois sonhar é facil Todo fazer pedagdgico nasce de um sonho, Sonho que emerge de uma necessidade, de ‘uma falta que nos impulsiona na busca de um fazer. Sonhamos porque vivemos alimentados por nossas faltas ‘Num primeiro movimento desse sonhar pedag6gico o ingrediente bésico — porque ainda no iniciamos 0 fazer ~ € a idealizagdo: capacidade de imaginar, idear, projetar fantasias, planejar idéias a serem executadas, Ou seja, faz parte do planejar a agio de sonhar que, neste primeito movimento, ainda nao esté no plano das idéias, das hipsteses que estruturario a ago pedag6gica, No contato com a realidade pedagégica o mundo do sonho plancjado, idealizado, pode sofrer choques (grandes ou pequenos, fracos ou fortes, em sintonia ou dessintonias) onde emerge tum segundo movimento que € o do desilusionamento, Podemos ter duas possiveis reagdes no contato com esse movimento: ou cafmos numa atitude pessimista, desesperangosa, fatalista ou incorporamos esse movimento como elemento constituidor do sonhar. Pois, é do sonho que construimos um fazer, “chegamos” a realidade ¢, é na realidade, tendo nosso sonho como parimetro, que poderemos trabalhar © enfrentamento do idealizado, do fantasiado, do imaginado com o real. Para, assim, comegarmos a nos instrumentalizar para a construgdo de um sonho mais real ~ adequado a realidade; agora ndo a realidade imaginada, fantasiada, mas a real. Seri no fazer desse processo de sonhar — planejar ~ idealizar — desilusionar ~se ¢ reconstruir 0 sonho mais perto do possivel, do realizsvel, nos limites que a realidade nos impée, que poderemos agilizar em nds: Vocé nao deve pensar: Eu ndo consigo, pois sonhar & facil, mas, exige 0 exercicio constante da persisténcia, da perseveranca para a construgao do rigor na ago do refletir ~ estudar ~ planejar ~ avaliar, na recriagao permanente do sonho desejado; para que seu planejamento seja produto final conquistado, Sobre planejamento Planejar € cumprir atividades em datas marcadas? Como nio viver burocraticamente o cumprimento das atividades nas datas planejadas? Como vivé-las significativamente? As atividades de um planejamento burocratizam-se quando © educador dicotomiza 0 contetido da matéria do contetido do sujeito e da dinimica do grupo; ocasionando assim a perda do significado. Dinamica, contetido da matéria ¢ contetido do sujeito nio estio dissociados, Um nao existe sem 0 outro. Como nao existe sujeito sem objeto de conhecimento a set estudado, nem objeto de conhecimento sem sujeito que conhece. A aco, interagio entre sujeito e objeto de conhecimento, € permanente O contedido emerge, explode da vida e, é na vida do grupo (dos sujeitos cognoscentes), que se constr6i a dinimica, Dinamica aqui, entendida como fruto ritmico do jeito que 0 grupo vive o estudo dos contetidos. Como ndo matar, burocratizar, nem um nem outro? Como vivé-los harmoniosamente - complementando-se — no compasso individual coletive? Como viver os contetidos significativamente enterrando 0 contetido morto, sem significado; reavivando o contetido vivo para fazer nascer contetidos futuros? planejamento nasce na avaliagao. Através do planejamento pensa-se o passado e o futuro para a construgdo do presente, ato de planejar instrumentaliza 0 aprendizado do prever que desafios adequados propor. Neste sentido, qualquer planejamento tem como objetivos trabalhar a zona proximal partindo da zona real dos sujeitos. Somente através de um planejamento rigoroso pode-se orgenizar, delimitar, ¢ objetivar ‘uma intervencao adequada, (© planejamento, portanto, é 0 instrumental bisico para a intervengdo do edueador. B, através dela é que se dé a desequilibragio da hipStese do educando, ao mesmo tempo que se inicia © acompanhamento do processo de reequilibraso pelo educador. Pois, no basta desequilibrax, Cabe a0 educador instrumentalizar © reequilibrio da nova hipétese do educando, Como todo processo, este também nao é autGnomo, & cheio de idas e vindas, avangos e recuos. planejamento organiza, sistematiza, disciplina a liberdade a nivel individual e coletivo, Ele dé os paradigmas para 0 exercicio da pritica pedagégica. Através dele podemos agilizar respostas diante do inusitado para trabalhar a improvisagao. Neste sentido, o planejamento alicerga a ago criadora Questdes centrais no processo do planejamento: ‘meus educandos j6 sabem o qué? (zona real) ‘ainda nao conhecem o qué? devo ensinar o qué? quando ensinar? onde ensinar? Momentos do planejamento: 1) Avaliagao, 2) Levantamento do processo das hipéteses do planejamento (especificando objetivos gerais e especificos das atividades, envolvendo: materiais, tempo e espaso. 3) Acompankamento do desenvolvimento da agao planejada: conferindo sua adequasao ow ndo, suas possiveis mudangas, etc 4) Avaliagdo reflexiva do produto conquistado. 5) Replanejamento, Plangjar para qué? Por que? © qué? Para quem? Com 0 qué? Em que espago? Com que materiais? Por quanto tempo? Professor e coordenador tém planejamento distinto? 0 ato de planejarexige do educador uma apo organiada. © inmprovsar€ importante na ago pedagsgica desde que o educador tenha consciéncta, controle do que esté improvsande, Para isso ele teré que ter organizado seu planejamento. Ter uma ado planejada significa que 0 ducador tem claro seus objerivos,O que espera aleangar com cada aividade ou com determinado encaminhamento (Quando tenho os objetvos claramente deliniiados, a improvisagdo que posta vir a corer estd sob meu controle TTenho consciéncia do porqué estou improvisando: determinada aividade que planjei ndo dew certo, Os motivos tenho que procurar, depos, na avaiagao da mesma. Assim vivida @ 070 inprovisada € produsiva, aprendo com ela, aprofundo meu planejamento. O desalio, portanto, € iver @ planejamento sem detear de correr o risco de possivels improvisagBes. A. maprovsagto, desse modo, faz parte do planejamento, mas nao € planejamento. Neste semido, 0 educador trabala sua lexibilidadeplanejando. O desafio de todo educador na construgfo do planejamento & conhecer 0 que planeja ~ contesido da matéia e contesdo do sujeito. Esse € seu estudo, Pata isso precisa esttuurat 08 dbjtivos de sua pritica que norteardo a organizaglo de sua ago, Agio organizada nio significa ago esttic, mas ato constante de reflex, de intervencao na realidad E através desse pensar coldianamente que 0 educador sistemarza suas previsbes sobre 0 aque est querendo conhecer. Portanto, na concep¢do democritica de educagto, 0 ato de planejar nfo & meramente fabricar planos, ele € processo ininterrupto, permanente, cijo desafio € langarse na re- tlaborasdo didria de novos planejamentos, Neste sentido 0 ato de planjae € processial, onde avaliagdo planejamento constroem o produto Essa reclaboragio viva do planejamento cs contrala na reflexo, no pensar da ago cetidiana, Nesse pensar temas momentos que, dentro do processo de planer, interconmunicam-se No primeiro momento a cbservagdo 6 ferramentabasica. Os dados colhidos da cbservagto nos levaaelaborat um levantamento de quests que nos remete & pesquisa, & anlise, A relexto, 20 estude, Esse € um momento de esto na constr das hipSteses do planejamento 'No segundo momento, jé com as hipslesesreisiadas (que nasceu do momento satrios) inserdas na ago, acommpanfianos est, segundo o que foi panejado, 1 que estf dando certo? O que nao? O que estou acesventando? © que estou tendo que improvisar et. Este acompanhamento é a velficagdo se os encaminbamentes do planejamento sto endo adequados, produivos ou ndo. Na verdade, este acompanhamento da propria ago que o professor, 0 otientador, ou 0 coordenador tm, 366 possivel se tiverem o planejamento reisrado importante ressaltar aqui que o acompanhamento que o professor tem do seu trabalho com as eriangas 6 0 mestno que o orentador ou coordenador tem com seus professores ‘Acompanhar. na concepsa0 democraticn de educasio, nio & assitr,cobrar, mas sim, inteferir, quatonar, problematic, gerinando a madara ‘Acompanbar significa, também, buscar cotidiznamente sintonia entre meus objeivos ¢ minha agdo. Sintonia entre teoviae prdica Oterceiro momento é a avaliardo do produto conquistado — 0 conhecimento construido. Nela repensamos tudo 0 que ocorreu desde o primeiro momento do levantamento das hipsteses e a sua execupdo em relagio a0 planejado. O que foi a mais, 0 que faltou, 0 que foi a previsto corte, 0 que no foi, ete-E durante a avaliagdo que gestames 0 nove planejamento e onde descobrimos que ha erros que s6 podem ser descobertos depois de cometides. B, também, durante a avaliagdo que peroebemos que estamos sendo capazes de prever possiveis erros, possiveis hipsteses falsas. Poi, énesse momento que amatramos o vivido ereplanejaos o futuro E nesta concepgio pe 0. planejamento € um processo ininerrupto, processua organicador da conquista pracerosa dos nossos descjos onde 0 esforga, a perseveranga, ‘iscipina, so armas de ita cotidiana para a mudanca pedagozica FREIRE, Madalena et al. Avaliagio e planejamento: a prética educativa em questio. Instrumentos Pedag6gicos II. Sao Paulo: s.e., 1997, p.54-58,

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