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“Práticas de ensino e aprendizagem para a nova educação”


Renato Casagrande

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Práticas de ensino e aprendizagem para a nova educação

INTRODUÇÃO
No processo de ensino e aprendizagem, é necessário pensar sobre as novas e velhas fórmulas de
apresentar e construir novos e antigos saberes. Tradição e inovação não se excluem mutuamente, mas
dialogam. E é um compromisso do professor promover incansavelmente tal diálogo, em busca de uma
educação com mais sentido e entusiasmo. Docência pressupõe doação. Doação de atenção, argumen-
tos, questionamentos, emoção. Doação da melhor técnica. Doação de propósitos.
É preciso, no entanto, ter em vista que a melhor metodologia, técnica ou prática pedagógica será
sempre aquela que conduz ao nosso objetivo. As propostas educacionais que apresentem o conheci-
mento como um conteúdo pronto, cristalizado e, sob certo aspecto, já morto, têm maiores chances de
sufocar o aluno, a sua chama de curiosidade e de construção de um saber vivo e pulsante. Paulo Freire
nos diz que os alunos são seres programados para aprender e que necessitam do amanhã como o peixe
da água. Mulheres e homens se tornam seres roubados ao negar-lhes a condição de partícipes da pro-
dução do amanhã.
São grandes as dúvidas dos professores em saber, definir, decidir sobre que tipo de metodologia
utilizar em suas aulas? Como aliar velhas e novas metodologias com as novas tecnologias? Essas ques-
tões suscitam muitas reflexões e debates no ambiente educacional, principalmente, nesse novo tempo
em que há a popularização e fácil acesso às novas tecnologias educacionais.
Vivemos um novo tempo na educação. Alinhadas a esse novo tempo, novas metodologias de
ensino e aprendizagem estão surgindo. Contudo, alguns professores apresentam grande dificuldade
em definir e selecionar quais métodos utilizar, com o objetivo de obter melhores resultados na aprendi-
zagem dos seus estudantes. Isso se dá porque os estudantes não aprendem da mesma maneira, assim
como, dependendo da disciplina, do conteúdo ou da atividade, as metodologias não funcionam da
mesma maneira. O que dá certo em uma turma, às vezes não dá certo em outra, assim como o que
funciona com um estudante não funciona tão bem com o outro. Tudo isso gera muita insegurança e
dúvidas entre os professores.
O ideal é que o professor não se limite a usar apenas um método e não tenha medo de experimen-
tar novas abordagens. Há uma diversidade de metodologias e os professores que as estão utilizando
estão provocando uma mudança considerável no processo de ensino e aprendizagem, conquistando
bons resultados.
Quanto aos métodos de aprendizagem, podemos dividi-los em dois grupos. O primeiro grande
método e o mais difundido e usado até hoje é o método tradicional (também chamado de método
conteudista), centrado na figura do professor. Enquanto que o segundo é o que podemos chamar de
método inovador centrado na figura do aluno. Vamos explanar melhor estes dois aspectos metodoló-
gicos a seguir:

2. Metodologia tradicional
O método tradicional se opõe aos outros métodos porque tem como foco não o estudante, mas
sim o professor, que se encontra em uma relação vertical de exposição de conhecimentos e cobrança de
conteúdo. Aqui, o professor geralmente é visto como o único detentor e transmissor do conhecimento.
Assim, trata-se de um método centrado no professor, considerado um transmissor de cultura, um guia.
Geralmente o aluno acompanha a matéria lecionada pelo professor por meio de aulas expositivas, com
aplicação de provas e trabalhos avaliativos. Esse método é conhecido como passivo, pois nele o docente
é o protagonista da educação, ou seja, o sujeito ativo, enquanto o aluno exerce o papel de sujeito passivo.

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Surgido na Europa, por volta do século XVIII, o método de ensino tradicional adota um tipo de
ensino que procura “uniformizar” os estudantes. Há bastante rigidez quanto a normas e conduta disci-
plinar. O sistema de avaliação adotado nesse método procura verificar e valorizar a quantidade de in-
formação absorvida pelo aluno, prevendo provas e avaliações que devem ocorrer de tempo em tempo,
com o objetivo de analisar o quanto de informação o aluno conseguiu memorizar. A principal forma de
levar o conteúdo formal ao estudante é por meio das aulas expositivas.
A aula expositiva é muito criticada nos dias de hoje, principalmente pelo fato de que, na maio-
ria das situações, como vimos, o aluno torna-se um sujeito passivo, deixando de realizar sua própria
aprendizagem, na medida em que se limita a acompanhar aquilo que é exposto pelo professor. No
entanto, é a metodologia mais tradicional e mais presente ainda na educação básica e também na
superior. É talvez a primeira que o professor tem em mente quando prepara ou pensa em ministrar
uma aula. A aula expositiva está no cerne da tradição conteudista, tida como ultrapassada e acrítica
durante as décadas de 60 e 70.
No entanto, mesmo ainda criticada, a aula expositiva tem se transformado ao longo do tempo. Muitos
professores têm ministrado suas aulas, não limitando-a numa aula diretiva, onde eles falam e os alunos escu-
tam. A aula expositiva pode e precisa ser dialogada. Assim, numa aula expositiva de hoje, há a permissão e
o incentivo às participações e interações dos alunos, abrindo espaço para o que é comumente chamado de
aula expositiva dialogada.
Na aula expositiva dialogada há a exposição de conteúdos com a participação ativa dos estu-
dantes, levando-se em conta, preferencialmente, o conhecimento prévio dos alunos sobre o tema
que está sendo proposto. Neste caso, o professor passa, mesmo numa abordagem tradicional de
ensino, a atuar como um mediador, incentivando os alunos a questionarem, perguntarem, debate-
rem, interpretarem e discutirem o tema em estudo.
O professor pode e deve fazer uso da aula expositiva, sempre que achar conveniente, mas ela
precisa ser apresentada como meio de envolver o estudante, despertando o interesse dele para o
estudo e o aprofundamento do tema proposto. A seguir, apresentamos algumas orientações para
que os professores possam obter melhores resultado quanto à aula expositiva:
1. O professor deve ter um bom tom de voz, falar alto e claro, mudar várias vezes o tom da fala
e fazer pausas durante a exposição;
2. A forma de apresentar um tema deve ser muito simples, clara e original. Deve ser uma fala
compreensível dando ênfase aos fatos mais importantes;
3. O professor deve elaborar resumos, revisar e exemplificar o máximo possível;
4. É preciso que o professor seja adequado quanto ao tempo de exposição. Sempre que possí-
vel deve dar exemplos ou contextualizar com a realidade dos alunos. Também deve obser-
var a reação dos alunos nas aulas;
5. O professor deve colher constantemente o feedback das suas exposições, pelas expressões
dos alunos demonstrando interesse ao tema e, em alguns casos, perguntando a eles sobre
como está o andamento da exposição;
6. A exposição de um tema deve estimular os alunos a fazer perguntas e dialogar com o pro-
fessor sobre o tema;
7. O professor não deve na sua exposição ser um leitor de textos, fichas, slides ou outro recurso.
A apresentação deve ser natural, espontânea e informal;
8. O tema apresentado deve ser, sempre que possível, ilustrado com revistas, jornais, vídeos,
figuras e outros recursos disponíveis.

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A aula expositiva, se utilizada com o intuito de um diálogo entre o professor e os estudantes é


uma boa opção para a apresentação de temas e o desenvolvimento de conteúdos, contudo não pode
ser o único e nem o principal recurso a ser utilizado. Hoje vivemos um período em que precisamos
combinar diferentes abordagens, inclusive, em alguns casos, as mais tradicionais, com novos métodos,
principalmente os que permitem aos alunos serem mais ativos no processo de aprendizagem. Essa é
uma tendência muito forte em todos os ambientes educacionais, tanto na educação básica como na
educação superior.
E, se pensarmos bem e analisarmos as alternativas, chegamos a um ponto em que podemos
aferir que não existe uma metodologia ou um método totalmente adequado. O ideal é mesmo
combinar um ou mais métodos de acordo com as situações e condições das escolas, professores e
estudantes. Qualquer método quando utilizado de forma isolada e que não dialogue com os de-
mais pode se tornar reducionista.

3.Metodologias Ativas
Uma das grandes mudanças que está acontecendo na educação é a busca pelas metodologias
ativas, que tende a se tornar um recurso didático importante para os novos tempos na educação,
colocando o aluno como protagonista do processo de aprendizagem e destacando habilidades
e competências individuais que, diante um modelo de aula tradicional, estavam adormecidas.
Outra mudança que ganha espaço com a era do ensino remoto é a implementação da educação
híbrida, modalidade de ensino que mescla encontros presenciais e encontros on-line (síncronos
ou assíncronos), e que se conecta às propostas das metodologias ativas como uma inovação
metodológica importante para o novo cenário educacional.

Embora apresentada como grande novidade na atualidade, as metodologias ativas já são


debatidas e apresentadas aos professores há muito tempo. Pesquisadores como John Dewey, Jean
Piaget, Maria Montessori, Célestin Freinet, Lev Vygotsky, Carl Rogers, Paulo Freire e tantos outros,
enfatizam, há décadas, que o processo de ensino e de aprendizagem tem mais significado quando
há interação do estudante com o meio. Hoje as tecnologias tornam-se experiências educacionais
importantes e significativas para transformar a informação em conhecimento, superando, assim, o
modelo tradicional de ensino.

As metodologias ativas são consideradas instrumentos que promovem a pedagogia da


autonomia, e dessa forma, possibilita e favorece o protagonismo do aluno, abrindo espaço para que
ocorra o diálogo, a participação, a reflexão, a formação do senso crítico e o respeito às diferentes
opiniões que surgem em sala de aula, no ambiente on-line ou em qualquer outro âmbito social.
Quando bem implementadas, as metodologias ativas estimulam e incentivam a autoaprendizagem,
despertando a curiosidade e o interesse no desenvolvimento de novos conceitos e a busca por
novos conteúdos por parte dos alunos.

Novos estudos têm mostrado que o aprendizado ativo é muito mais eficiente e eficaz do que
o aprendizado passivo. Entre esses estudos, o mais propagado é a teoria do psiquiatra americano
William Glasser que procura explicar como as pessoas geralmente aprendem e qual a eficiência
dos métodos nesse processo. Essa teoria é conhecida como Pirâmide da Aprendizagem, conforme
ilustração abaixo:

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IMAGEM 01: Pirâmide da Aprendizagem de William Glasser

10%
Ler

Método de
20% aprendizado
Escrever
Passivo

30%
Observar

50%
Ver e Ouvir

70%
Discutir

Método de
80% aprendizado
Praticar
Ativo

95%
Ensinar

De acordo com essa teoria, os alunos aprendem cerca de 10% lendo; 20% escrevendo; 50%
observando e escutando; 70% discutindo com outras pessoas; 80% praticando e 95% ensinando. Assim,
podemos concluir que os métodos mais eficientes de aprendizagem estão inseridos nas metodologias
ativas.
Segundo o professor José Moran, dentre as diversas estratégias que podem ser usadas para se
conseguir ambientes de aprendizagem ativa em sala de aula, destacam-se as seguintes:
» Discussão de temas e tópicos de interesse para a formação profissional;
» Trabalho em equipe com tarefas que exigem colaboração de todos;
» Estudo de casos relacionados com áreas de formação profissional específica;
» Debates sobre temas da atualidade;
» Geração de ideias (brainstorming) para buscar a solução de um problema;
» Produção de mapas conceituais para esclarecer e aprofundar conceitos e ideias;
» Modelagem e simulação de processos e sistemas típicos da área de formação;
» Criação de sites ou redes sociais visando à aprendizagem cooperativa;
» Elaboração de questões de pesquisa na área científica e tecnológica.
Moran destaca que a aprendizagem se constrói num processo equilibrado entre a construção
individual (cada aluno percorre seu caminho), a grupal (os alunos aprendem com seus semelhantes
e pares) e a orientada (os alunos aprendem com alguém mais experiente), um especialista ou
professor.
A seguir apresentamos os modelos de metodologias e abordagens mais comumente aplicados
e que têm gerado, quando bem aplicados, bons resultados no aprendizado dos alunos.

3.1 Aprendizagem Baseada em Problemas - PBL (Problem Based Learning)


PBL é uma sigla que vem do inglês e representa a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). Tra-
ta-se de uma metodologia de ensino ativa, que tem como objetivo associar o aprender ao fazer a partir da
discussão em grupo de uma pergunta complexa, de um desafio ou de um problema a ser resolvido.

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Portanto, é método em que a aprendizagem ocorre de forma coletiva, fugindo do modelo con-
vencional no qual o professor ensina uma matéria e os alunos mostram o quanto aprenderam a partir
de uma avaliação final.
As principais etapas da PBL são:
a) Observação da realidade: os alunos analisam o problema a ser resolvido;
b) Identificação dos pontos chaves do problema: nesta etapa os alunos desmembram o pro-
blema, dividem-no em partes menores;
c) Teorização: momento de os alunos pesquisarem as teorias que abordam ou que contri-
buem para o entendimento e a solução do problema;
d) Hipóteses de solução: etapa em que são levantadas, a partir do estudo teórico e da análise
do grupo das possibilidades, a solução ou soluções ao problema estudado;
e) Aplicação à realidade: nesta última etapa os alunos fazem uso daquilo que aprenderam.
Uma prática derivada da PBL é o “Estudo de Caso”. Geralmente essa prática é utilizada com alunos
mais maduros, principalmente no ensino médio e na educação superior. O Estudo de Caso oferece aos
estudantes a oportunidade de direcionar sua própria aprendizagem, enquanto exploram seus conheci-
mentos em situações relativamente complexas. Relatos de situações, geralmente baseados em casos do
mundo real, são apresentados aos estudantes com objetivo de compreender o caso, identificar o pro-
blema ou os problemas e apresentar proposta de resolução para esses problemas. É uma ótima prática,
inclusive para ser trabalhada na formação de professores e gestores educacionais.

3.2 Aprendizagem baseada em projetos (ABP)


Aprendizagem baseada em projetos ou, em inglês, project based learning (PBL) tem por objetivo
fazer com que os alunos adquiram conhecimento por meio da solução colaborativa de desafios desen-
volvendo um projeto.
Sendo assim, o aluno precisa se esforçar para explorar as soluções possíveis dentro de um contex-
to específico seja utilizando a tecnologia ou os diversos recursos disponíveis, o que incentiva a capaci-
dade de desenvolver um perfil investigativo e crítico perante alguma situação.
Além disso, o professor não deve expor toda a metodologia a ser trabalhada, a fim de que os alu-
nos busquem os conhecimentos por si próprios. Porém, é necessário que o educador dê um feedback
nos projetos e mostre quais foram os erros e acertos.

IMAGEM 02; Roteiro para aprendizagem baseada em projetos

Como? Com que


recursos?

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Pesquisado O que
por quem? produziremos?

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Muito similar à aprendizagem baseada em problemas, a aprendizagem baseada em projetos, se-


gundo Willian Bender, trata-se de uma metodologia de ensino que consiste em permitir que os alunos
confrontem as questões e os problemas do mundo real, que consideram significativos, determinando
como abordá-los e, então, agindo de forma cooperativa em busca de soluções.
São muitas as possibilidades geradas no desenvolvimento de projetos. O professor Balzan desta-
ca, segundo a sua visão, as principais. Vamos a elas:
» Visão ampla sobre a área a ser pesquisada;
» Realização de entrevistas com diferentes pessoas;
» Trabalho com dados colevtados;
» Análise de conteúdo;
» Necessidade de leituras, estudos e estabelecimento de conexões;
» Elaboração de relatórios;
» Cumprimento de prazos;
» Incentivo à pesquisa, estudo autônomo por parte do aluno e trabalho em grupo.

3.3 A sala de aula invertida (flipped classroom)


A sala de aula invertida, também conhecida como flipped classroom (em inglês), é um método
em que os alunos têm acesso aos objetos de aprendizagem antes da aula propriamente dita. Eles são
incentivados a estudar inicialmente sozinhos ou em grupos com seus colegas. E só posteriormente a
essa fase é que vão para a sala de aula para executar e aprofundar o que aprenderam.
É fundamental ressaltar que para haver eficácia na sala de aula invertida é importante que os alu-
nos tenham possibilidade de desenvolver seus estudos fora da sala de aula, na modalidade on-line. Vale
lembrar que surgem novas formas mais eficientes de se trabalhar o processo de aprendizagem on-line.
Os alunos podem percorrer uma trilha de aprendizagem de forma engajada e motivadora se tiverem os
recursos ideais e, nesse caso, o acesso à internet e a disponibilidade de equipamentos para acesso ao
mundo virtual são grandes aliados.
Assim, nas atividades presenciais ou nas aulas com a participação dos professores, os alunos, já
com um conhecimento prévio do tema estudado, tendem a ser mais ativos e interessados. É o momento
de os alunos tirarem dúvidas, aprofundarem conteúdos, desenvolverem projetos, resolverem proble-
mas, analisarem casos e compartilharem suas experiências de aprendizado com a turma.
A sala de aula invertida é uma excelente estratégia para melhorar a concentração e dedicação dos
alunos também nos encontros e aulas presenciais, sem que os professores se desgastem tanto. Desta-
cam-se como principais vantagens desse método:
a) Alunos mais ativos: o aluno assume o protagonismo no processo de aprendizagem, pois
ele tem toda a autonomia necessária para adquirir novos conhecimentos e habilidades
quando lhe for mais conveniente. Com o uso de novas tecnologias é o próprio aluno que
decide quando, como e onde irá aprender;
b) Aproveitamento do tempo: nesse método, o tempo de aula presencial pode ser mais curto que
o tradicional, e, portanto, deve ser melhor aproveitado. Assim, os professores precisam trabalhar
com dados e informações mais relevantes, bem como a colaboração e aplicação de conceitos;

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c) Uso de mais materiais: os alunos podem fazer o uso de vídeos, jogos, e-books, aplicativos e
qualquer outro material complementar que possa potencializar o processo de aprendizagem
de forma dinâmica e inovadora, sempre com a supervisão de um tutor para ajudar em dúvidas
ou qualquer outra demanda que possa ocorrer.
Outro ponto é que os alunos que participam de uma sala de aula invertida possuem fácil acesso a
qualquer tópico dentro de um curso on-line no momento em que for demandado.
Os alunos também poderão criar o seu próprio material de estudo usando as ferramentas de ensi-
no on-line e compartilhá-lo com o grupo, colocando em prática, assim, a produção colaborativa – parte
fundamental da sala de aula invertida.
Com mais opções de materiais e maior acesso do aluno, o tutor tem mais oportunidades de enri-
quecer os momentos de produção colaborativa.
A sala de aula invertida tem como proposta o aprendizado no ritmo do aluno e o seu melhor
desempenho.
Cada aluno, sem dúvida, possui um processo de aprendizagem diferente. Cada um deles possui
um ritmo diferente para compreender determinados assuntos. Deste modo, aqui é possível que ele
participe de grupos colaborativos on-line que mais atendam às suas necessidades, além de caminhar à
maneira que mais se adéqua a ele.
Além disso, com a tecnologia o professor tem maior percepção das dificuldades do aluno e pode
usar o momento da aula presencial para ajudá-lo. Assim, é possível até aliar a flipped classroom à apren-
dizagem adaptativa.
A melhora no desempenho estudantil é resultado dessa soma de vantagens. Ao controlar seu
momento de estudo, ter mais materiais, ter seu ritmo respeitado e interagir com os colegas, os alunos
podem render mais, aprender mais. E, com isso, melhorar seus desempenhos em um processo de apren-
dizagem. Por isso, a flipped classroom impacta positivamente no cenário educacional e pode revolucio-
nar a educação do futuro.

Mas qual é o impacto da sala de aula invertida na educação?


As tecnologias de hoje estão redefinindo as aulas de amanhã. A educação a distância age ajudando
nessa transformação. Países e organizações estão cada vez mais se aproximando desse modelo de ensi-
no.
Na medida em que mais alunos têm acesso a computadores e dispositivos móveis conectados à
internet, mais oportunidades educativas e interativas se abrem para professores e alunos.
A modalidade representa uma forte influência na geração de conhecimento no país e no mundo,
com perspectivas interessantes e positivas.
Desta maneira, espera-se uma maior democratização do ensino a distância, bem como uma maior
interação entre as diversas culturas quanto aos conhecimentos gerados.
Fóruns, chats, museus e laboratórios virtuais favorecem as práticas de sala de aula invertida e am-
pliam o acesso à educação superior de qualidade por um custo muito baixo ou mesmo nulo.
Também na educação superior o modelo de sala de aula invertida começa a ser muito popular. De-
vido à forma como propõe uma reorganização da instrução aluno a aluno, bem como gerencia de forma
mais eficiente o tempo em sala de aula.
Mudar o que está sendo feito há tantas décadas exigirá uma mudança de postura não só de profes-
sores, mas também dos alunos.

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Os próximos anos devem ser marcados por um crescimento do compartilhamento de conteúdo,


especificamente em relação ao EAD.

E como implementar a sala de aula invertida?


Para que o método seja eficaz, o professor precisa estar atento a algumas orientações, aqui foram
selecionados 10 tópicos considerados fundamentais.
1. Toda mudança de metodologia e de paradigma exige uma dedicação maior, principalmente
no início das atividades. O trabalho é grande e exige muito empenho do professor. Também
é preciso uma boa comunicação com os pais, com os demais professores e mesmo com os
alunos. Toda novidade pode causar estranhamento e se não houver o apoio e o engajamen-
to de todos esses agentes, a chance de dar errado é grande. É fundamental o professor ar-
gumentar muito sobre os benefícios do novo método, apresentar e discutir o planejamento
das atividades com todos.
2. Os materiais que serão utilizados pelos alunos precisam ser muito claros, assim como as
orientações dadas pelos professores. Os conteúdos, instruções e estratégias são de respon-
sabilidade dos professores. É claro que sempre deve ser incentivado que os alunos também
sugiram mudanças, estratégias e até novos conteúdos que tenham relação com o que está
sendo estudado.
3. Em todo o processo o professor precisa dar feedback de forma contínua para os alunos. Se
isso não ocorrer, os alunos podem se perder em todo o processo e os resultados serão muito
negativos, além da perda preciosa do tempo de aprendizagem.
4. A flexibilidade é um dos pontos-chave do método. Portanto, o professor não deve se pren-
der muito a roteiros e regras. O que funciona em uma turma ou em um nível de ensino pode
não funcionar em outro. O professor precisa experimentar, testar, validar e aprender com a
implantação da metodologia.
5. O método combina educação e novas tecnologias. É fundamental que o professor tenha do-
mínio dessas tecnologias. Não precisa se tornar um expert, mas precisa entender os recursos
disponíveis, o acesso a eles e as reais dificuldades que os alunos terão no acesso.
6. Os encontros presenciais precisam ser muito valorizados. Diferentemente de o professor
discorrer os conteúdos, é preciso que se tenha atividades previamente elaboradas que in-
centivem e motivem os alunos a apresentarem o que estudaram, suas dúvidas e que tenham
vontade de se aprofundarem sobre o tema e desenvolverem mais atividades relacionadas.
7. A avaliação da aprendizagem, assim como do interesse de cada aluno, pode ser feita de ma-
neira contínua, em cada aula, em cada finalização de etapa. Isso possibilita ao professor fazer
intervenções rápidas e precisas para corrigir a rota e garantir melhor aprendizagem futura.
8. As atividades preparadas pelos professores devem ser objetivas, descomplicadas, curtas e
bem focadas para não dispersar o interesse e o envolvimento dos alunos. Sugere-se que os
vídeos não ultrapassem 10 minutos, assim como parte dos textos encaminhados ou dos ro-
teiros deve ser, sempre que possível, fácil de ser assimilada e entendida, já que os alunos, na
maioria das vezes, não terão o professor por perto para tirar suas dúvidas iniciais.
9. Quanto mais simples as tecnologias a serem utilizadas, maiores as chances de o método
funcionar. O professor, atuando como curador, precisa escolher e indicar preferencialmente
tecnologias convencionais, que os alunos e pais já estão acostumadas a usar. Qualquer tec-
nologia ou material que possa complicar o estudo do aluno pode pôr tudo a perder.

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Práticas de ensino e aprendizagem para a nova educação

10. É importante que seja incentivada a interação entre os alunos, de forma que eles, entre
si, discutam as temáticas antes da aula, sempre que possível, e durante a atividade com os
professores. Também compartilhem com os colegas os novos conceitos aprendidos e possi-
bilidades de colocá-los em prática.
Por fim, o professor precisa estar aberto ao novo, aceitando críticas, orientações, sugestões, apren-
dendo com os erros e acertos, mudando rotas sempre que necessário. Aos poucos, é certo que o profes-
sor verá o grande potencial que a sala de aula invertida tem para promover uma revolução na aprendi-
zagem dos alunos.

3.4 O Design Thinking (D.T.)


As mais renomadas universidades de todo mundo destacam que uma das grandes competências
para o profissional do futuro será a capacidade de inovar e encontrar soluções criativas para problemas
comuns. Sendo assim, é importante que sejam desenvolvidas competências ligadas à criatividade,
tomada de decisão e raciocínio crítico.
Design thinking é o termo utilizado para se referir ao processo de desenvolvimento de pensamento
crítico e criativo. Esse processo deve ser realizado de forma coletiva e colaborativa e visa gerar as
condições necessárias para maximizar a geração de insights e a aplicação prática deles na solução de
problemas ou no desenvolvimento de projetos inovadores.
O DT trabalha um conjunto de ideias e insights para abordar problemas relacionados a futuras
aquisições de informações, análise de conhecimento e propostas de soluções para problemas que
facilite a vida social.
As etapas do Design Thinking podem, em geral, ser resumidas pelos seguintes passos:
1. Identificar oportunidades de inovação ou problemas que podem ser resolvidos;
2. Descobrir como gerar a Oportunidade de Inovação ou como resolver os problemas;
3. Desenvolver a Oportunidade de Inovação ou resolução dos problemas;
4. Testar as ideias e soluções – desenvolvimento de protótipos;

5. Implementar a solução.

3.5 Movimento Maker


Associado à metodologia do DT, o movimento maker, denominado também como “mão na
massa”, que surge da filosofia “Do it Yourself” (Faça Você Mesmo), também tem ganhado força no âmbito
educacional por incentivar a criatividade e o protagonismo do aluno. À medida que os alunos vão
confeccionando objetos e produtos, os professores vão trabalhando com os conteúdos relacionados
ao que está sendo produzido e, mais do que isso, abre-se a possibilidade de inclusão tecnológica,
uma vez que os alunos de diferentes idades passam a ter os primeiros contatos com o pensamento
computacional por meio da robótica.

No movimento maker, o aluno é estimulado a trabalhar atividades de forma colaborativa,


desenvolvendo projetos em equipe. Trata-se de uma excelente metodologia de aprendizagem híbrida,
pois os alunos podem trabalhar off-line e on-line, na escola e também em outros ambientes fora dela.

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Um dos principais exemplos do movimento maker no Brasil é a Campus Party. É considerada a


maior experiência tecnológica do mundo, pois consegue reunir milhares de jovens em torno de um
grande festival de inovação, criatividade e empreendedorismo.
Esse movimento tem criado o que é chamado de cultura maker, que tem como eixo central o
aluno desenvolver sua aprendizagem com autonomia, já que ele entra em contato direto, de forma
lúdica e interativa, com o objeto de estudo, favorecendo a sua autonomia e respeitando o seu ritmo de
aprendizagem. Além do aluno desenvolver sua autonomia, ele também se torna mais participativo e
interessado, além de contribuir para a aquisição de um conhecimento mais solidificado.
A grande virada de chave no movimento maker, quando comparado a métodos tradicionais de
ensino, é que em vez de os alunos estudarem sobre invenções eles passam a ser os inventores e vão
utilizar e pesquisar informações e suas inter-relações com diferentes disciplinas para desenvolver essas
invenções. Por exemplo, enquanto no ensino tradicional as crianças e adolescentes aprendem sobre
matemática, no movimento maker os alunos constroem conhecimentos matemáticos, pensando em
determinadas situações como matemáticos.
Os alunos podem produzir roupas, alimentos, cosméticos, produtos de higiene e limpeza, medicina
caseira, instrumentos musicais entre tantos outros produtos. As atividades podem ser desenvolvidas
com ajuda de softwares, de vídeos explicativos, textos dirigidos e outros recursos disponíveis. Todas as
atividades devem e precisam ser desenvolvidas com o apoio, a mediação e a liderança dos professores.
Na prática pedagógica maker há a necessidade de uma flexibilização curricular. Os professores
precisam agir como curadores para selecionar os conteúdos que precisam ser aprendidos pelos
estudantes. Se for muito extensa essa relação de conteúdos, os resultados dos trabalhos desenvolvidos
pelos alunos podem ser comprometidos. Então, é fundamental trabalhar inicialmente com o conteúdo
essencial e à medida que os trabalhos vão sendo desenvolvidos os próprios alunos vão pesquisando e
aprofundando outros conteúdos que serão necessários para a criação que está sendo proposta.
A educação maker está intrinsecamente vinculada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
em fase de implantação no Brasil, pois trabalha de forma integrada e simultânea aspectos cognitivos,
socioemocionais, interdisciplinares, multidisciplinares e transdisciplinares. Favorece elementos como
criatividade, autonomia, curiosidade, interesse, responsabilidade, reflexão e empatia. Os alunos
aprendem, na prática, a respeitarem, conviverem e se relacionarem com os diferentes, a lidar melhor
com suas próprias emoções. Passam a conhecer suas potencialidades, suas fraquezas e aprendem a
lidar bem com elas. Aspectos como liderança, companheirismo, trabalho em equipe, cooperação,
colaboração, empatia, são pontos fortes e observados e evidenciados no movimento maker.
Na aprendizagem prática ocorre a valorização da experiência do estudante, possibilitando um
aprendizado a partir dos seus acertos e, principalmente, dos seus erros, já que errar é uma consequência
natural da realização de tarefas baseadas na cultura maker. O entusiasmo do aluno é um dos principais
combustíveis para levá-lo para a aceitação do erro e pelo despertar do interesse na compreensão de
temas mais complexos que exigem um nível maior de aprofundamento.,
Piaget já afirmava que o aluno se engaja conscientemente na criação de um objeto público e
compartilhável. Quando ele assume o protagonismo na construção do conhecimento, colocando as
mãos na massa para construir esse objeto e socializá-lo, seu interesse, entusiasmo e motivação para
novas descobertas é exponencial quando comparada às atividades tradicionais de ensino. A grande
maioria das atividades maker são fundamentadas na abordagem Construtivista de Piaget, valorizando
o envolvimento do estudante em projetos em que ele assume a construção do conhecimento.
Não se trata de grandes investimentos. Muitas escolas públicas com recursos escassos têm
conseguido implantar a cultura, principalmente trabalhando com sucatas. O importante é que o material

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seja adequado e esteja de acordo com a idade dos alunos e em conformidade com as habilidades a
serem desenvolvidas durante as atividades.
Os alunos mais novos utilizam materiais como cola, papelão, plásticos, potes, tesouras sem ponta,
isopor, além dos dispositivos eletrônicos disponíveis e adaptados à sua faixa etária. Já os alunos com
idade mais elevada podem usar madeira, ferramentas diversas, fios, vidros, estilete, parafusos, pregos,
martelos, cola quente, entre outros.
À medida que a cultura maker vai tomando corpo na escola, há movimentos no sentido de
montagem de laboratórios, inclusive com a participação da comunidade escolar. Hoje com a redução do
custo de ferramentas e equipamentos de fabricação digital e tecnologias de computação esse “sonho”
pode se tornar realidade em qualquer escola pública. Não é simples, não é fácil, mas é possível.
Para a cultura maker ser implantada nas escolas é preciso um alinhamento no projeto pedagógico,
incluindo os princípios da filosofia maker. Os coordenadores e professores precisam elaborar um
planejamento das atividades ou projetos que serão desenvolvidos com os recursos do movimento
maker. Precisam identificar a infraestrutura, os recursos e as metodologias necessárias à implementação
de atividades práticas, podendo e devendo substituir parte das aulas teóricas pelo desenvolvimento
projetos e de atividades práticas.

3.6 Gamificação
A gamificação na educação tem se tornado uma poderosa ferramenta no processo de ensino e
aprendizagem para superar o desinteresse do aluno e buscar o seu engajamento. Essa estratégia consiste
em trazer para as interações do cotidiano educacional elementos e mecânicas dos jogos para gerar este
engajamento, dinamicidade, interação, dedicação e prazer na realização das atividades educacionais.
As estratégias de gamificação contribuem para que os alunos atuem como autores e protagonistas
da sua aprendizagem, já que os jogos possibilitam aos alunos, de forma lúdica, encontrar sentido no
que leem, no que fazem e no que procuram.
Entre as metodologias ativas de aprendizagem, a gamificação está entre as estratégias mais
eficazes para potencializar o aprendizado e proporcionar engajamento dos alunos. Assim, o potencial
da gamificação na educação é imenso, uma vez que desenvolve competências socioemocionais que
farão total diferença no aprendizado.
Os jogos estimulam o trabalho em equipe, enfatizando aspectos como responsabilidade e outros
valores como meio para chegar a resultados esperados. Os jogos também podem estimular a empatia,
já que em muitas situações, dependendo do tipo de jogo, os alunos ou jogadores precisam se colocar no
lugar do outro. Além da empatia, isso favorece o desenvolvimento de muitas outras formas de interação
social.
Segundo o professor Aaron Seitz, professor e pesquisador do Departamento de Psicologia
da Universidade da Califórnia, alguns videogames realmente têm o potencial de causar mudanças
em grande escala, em uma ampla variedade de aspectos do comportamento humano, incluindo as
habilidades cognitivas. Dentre os videogames se destacam os chamados de “jogos cerebrais”, ou jogos
projetados, que têm como objetivo o aumento das habilidades cognitivas. Tudo indica que, cada vez
mais, os jogos personalizados deverão ser desenvolvidos em maior escala e terão um impacto duradouro
e positivo nas habilidades cognitivas humanas.
A gamificação é recomendada principalmente para aulas com conteúdo denso e de difícil
compreensão, como é o caso das ciências exatas e também o estudo de idiomas. Os jogos, nesses

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Workshop Licenciaturas

casos, contribuem muito para facilitar o aprendizado. Por meio da prática e da diversão que os games
proporcionam, as fórmulas e conceitos são absorvidos pelos alunos de forma mais leve e efetiva.
Os games podem ser eletrônicos ou não. Depende muito do objetivo do estudo, das condições
e estrutura da escola, bem como do preparo dos professores. O importante é que eletrônico ou não,
eles cumprem um papel importante na aprendizagem dos alunos, desde que sejam utilizados com
parcimônia e como atividades combinadas com outras estratégias de ensino e aprendizagem.
Entre tantas técnicas que podem ser utilizadas na gamificação destacamos algumas, citadas e
descritas pelo especialista Diego de Oliveira Pinto.
a) Storytelling: técnica utilizada para ensinar, demonstrar e soltar a imaginação dos alunos.
Mais ou menos como nos jogos de estratégia dos videogames, o storytelling desperta o
interesse do jogador ao inseri-lo em um cenário enigmático.
b) Avatar: são a representação visual do jogador. Tanto em jogos na sala de aula quanto no
ambiente virtual é possível pedir que o aluno crie um personagem com elementos do con-
teúdo explorado. Isso ajuda o participante a aumentar sua imersão na atividade.
c) Desafios, conquistas e missões: é um dos elementos mais importantes na gamificação,
pois completar missões e vencer desafios é o que faz o jogador querer se esforçar cada vez
mais. Portanto, trata-se de fatores motivacionais para que os alunos queiram se engajar nos
jogos de maneira ativa e voluntária.
d) Recompensa: é fundamental determinar recompensas para cada ação positiva do jogador.
Essa também é uma forma de obter feedback positivo e estimular o engajamento. Assim, é
fundamental criar um sistema de bônus ou pontuação que dê vantagens ao jogador para
que ele veja a utilidade da dinâmica e perceba os benefícios da atividade.
e) Progressão: os jogadores precisam saber que estão caminhando na direção certa e ganhan-
do em aprendizado. Isso caracteriza a evolução nos estudos e cria um sentimento de moti-
vação. A sensação de estagnação é muito ruim em qualquer atividade humana. Do início ao
fim, o “gás” precisa ser o mesmo.
f) Feedback: é importante que sejam fornecidos feedbacks aos alunos ou jogadores a cada
etapa do jogo a fim de que os participantes tenham conhecimento sobre como está seu ren-
dimento. Antes de avançar nas atividades os alunos precisam saber onde estão acertando e
onde estão errando e as razões do acerto ou do erro. O feedback é fundamental para que os
estudantes compreendam os pontos que precisam ser melhorados em suas ações.
g) Competição: O instinto competitivo pode gerar resultados concretos para o aprendizado.
Como a competitividade é inerente à natureza do ser humano, a disputa saudável em busca
de vencer algum desafio é um item importante para melhor desempenho no aprendizado.
O sabor de angariar medalhas e prêmios e ter seu nome associado a tais méritos proporcio-
na uma sensação de vitória inigualável.

3.7 Trabalho em Equipe: aprendizagem entre pares, colaborativa e cooperativa.


O trabalho em grupo é uma metodologia na qual os alunos trabalham de forma autônoma,
pesquisando e compartilhando informações e conhecimento sobre determinado tema com o objetivo
de promover a aprendizagem cooperativa. Embora seja uma prática extremamente convencional,
poucas vezes foi sabido explorá-la para que, de fato, gere resultados efetivos para a aprendizagem
Na maioria das vezes, os alunos organizam os grupos em função de seus interesses e vínculos
pessoais, de proximidade física ou mesmo por qualquer critério aleatório. São poucos os casos que os

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Práticas de ensino e aprendizagem para a nova educação

professores intervêm na formação desses grupos utilizando critérios técnicos ou observando os perfis
dos estudantes e como poderiam colaborar para um trabalho mais efetivo.
Assim, surgem novas formas de organizar esses grupos de trabalho, denominados atualmente
como práticas de aprendizagem cooperativa, colaborativa, entre pares, rodas de conversas, entre outros.
A seguir veja algumas atividades para estimular o trabalho em grupo.
a) Roda de Conversa
A Roda de Conversa é o método mais “básico”, mas é muito eficiente. O grupo é organizado
de forma que todos os participantes consigam se enxergar. O professor atua como media-
dor de um tema e deve propor questões para serem discutidas no grupo.
A Roda de Conversa permite uma ampla troca de experiências, desabafos e opiniões. Isso
gera uma rica produção de dados significativos, permitindo aos alunos concordar, discordar
e complementar as ideias e opiniões dos seus colegas.
b) Aprendizagem entre pares
A aprendizagem entre pares e times – em inglês, Peer Instruction (PI) ou team based lear-
ning (TBL) – como o próprio nome revela, se trata da formação de equipes dentro de deter-
minada turma para que o aprendizado seja feito em conjunto e haja compartilhamento de
ideias. Seja a resolução de um problema, o desenvolvimento de um projeto ou mesmo a
discussão sobre um fato, é possível que os alunos resolvam os desafios e trabalhem juntos, o
que pode ser benéfico na busca pelo conhecimento. A ajuda mútua, quando se aprende e se
ensina ao mesmo tempo, colabora para a formação do pensamento, a partir de discussões
embasadas e levando em consideração opiniões divergentes.
c) Aprendizado colaborativo
No trabalho colaborativo não há divisão clara de papéis. Os alunos vão progredindo pesso-
almente enquanto trabalham coletivamente em direção a um objetivo comum. Os alunos
aprendem durante o trabalho a reconhecer e entender as diferenças individuais, e gerenciá-
-las de forma automática, se houver boas orientações e direcionamento por parte do profes-
sor. Os alunos se tornam responsáveis uns pelos outros e organizam seus esforços entre si.
Geralmente as atividades não são monitoradas pelo professor. Os alunos avaliam seu pró-
prio desempenho individual e em grupo. Os professores só intervêm quando são solicitados
pelo grupo.
d) Aprendizado cooperativo
Diferentemente do aprendizado colaborativo, no aprendizado cooperativo há uma estru-
turação em que cada aluno assume uma função específica no grupo. Esse compromisso
individual na aprendizagem colaborativa, segundo Johnson & Johnson, é o principal fator
para que todos os membros do grupo saiam fortalecidos, a ponto de se tornarem capazes
de realizar sozinhos tarefas similares às que forem desenvolvidas no grupo, considerando
os aspectos cognitivos e atitudinais. Os alunos não devem atuar isoladamente, mas interde-
pendentes e essa interdependência deve ser positiva.
Embora as tarefas sejam realizadas separadamente pelos participantes, os resultados positivos ou
negativos do trabalho desenvolvido pelo grupo nunca são observados de forma individual, mas sempre
do grupo. Assim, se um participante falhar, não é ele que falha, mas toda a equipe.
Nesse tipo de aprendizagem um estudante ajuda a promover a aprendizagem de outro, por meio
de explicações verbais, exemplos e demonstrações de conceitos e atitudes. Os estudantes também,
além das questões cognitivas, do conhecimento em si, aprendem e desenvolvem competências sociais,

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Workshop Licenciaturas

como aprender a dialogar de forma aberta e direta, respeito às diferenças individuais, apoio mútuo e
resolução de conflitos.
O fato de os resultados do trabalho serem vistos de forma grupal não exime a responsabilidade de
cada um pelo resultado do trabalho em grupo. Cada estudante deve ser avaliado individualmente e a
avaliação do grupo é o resultado dessas avaliações individuais. A finalidade é que os estudantes possam
aprender juntos para, no futuro, desempenharem sozinhos as tarefas que lhe são propostas.
O professor tem um papel mais preponderante nessa prática, pois ele é quem define a função de
cada elemento do grupo, como também fornece informações para os estudantes lerem e analisarem.
Os professores acompanham todo o desenvolvimento do trabalho do grupo, observando, ouvindo e
intervindo sempre que necessário.
Como vimos, o aprendizado colaborativo e aprendizado cooperativo são frequentemente usados​​
de forma intercambiável. Na aprendizagem colaborativa, os alunos progridem individualmente em
conjunto uns com os outros. Na aprendizagem cooperativa há interdependência entre os participantes,
promovendo maior responsabilidade entre eles.
Alguns cuidados devem ser observados quando se utiliza a metodologia do trabalho em grupo,
seja na modalidade cooperativa, colaborativa ou em rodas de conversa.
1. Sempre que possível, o professor precisa organizar os grupos de forma que alunos com ca-
pacidades, comportamentos e aptidões diferentes trabalhem juntos. Embora não seja sim-
ples e fácil reunir alunos assim, quando bem conduzido o trabalho, os resultados são extra-
ordinários.
2. O ambiente físico também é muito importante para o bom desenvolvimento do trabalho
em grupo. Sempre que possível o professor deve organizar ou orientar sobre o ambiente
físico, ideal para cada tipo de atividade desenvolvida. Havendo espaços fora da sala de
aula (quadra de esportes, pátios, salas de estudo, bosque, entre outras), nas atividades
presenciais, o professor deve utilizá-los permitindo assim maior interação e movimento
entre os participantes do grupo.
3. Sempre que a atividade requerer, antes de iniciar um trabalho em grupo, o professor deve
subsidiar os alunos com textos, materiais para pesquisas e outras atividades que incenti-
vem o aluno a estudar o tema.
4. O número de elementos que deverão compor um grupo vai depender muito do objetivo
da aula e do tipo de atividade a ser realizada. Geralmente um número grande de partici-
pantes não é recomendado. O professor também precisa orientar para que os alunos se
organizem em círculos, de maneira que possam se ver e ouvir sem dificuldade.
5. A coordenação e supervisão do professor é muito importante. Ele deve circular entre os
grupos, ajudando os alunos com suas dificuldades e dúvidas, respeitando as metodolo-
gias adotadas em cada prática estudada. Deve também avaliar as atividades realizadas,
complementar informações consideradas necessárias e elaborar uma síntese, de prefe-
rência com a participação da classe. Independentemente de qual tipo de aprendizado
em grupo for realizado há muitos benefícios na aprendizagem em grupo. Os principais
benefícios são:
» Os alunos passam a identificar, entender e respeitar as diferenças individuais e culturais e apren-
dem a lidar com pontos de vistas diferentes;
» Há o desenvolvimento de um forte senso de trabalho em equipe, com melhoria nos relacionamen-
tos interpessoais;

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Práticas de ensino e aprendizagem para a nova educação

» Melhoria nos níveis de autoconhecimento, autoestima e autoconfiança dos alunos;


» Desenvolvimento de habilidades cognitivas e de comunicação oral e escrita.
Os benefícios são extraordinários, entretanto, eles não são conquistados de graça ou de forma
simples. Dependem muito do preparo dos professores, de muita persistência, muita capacidade de lidar
com os conflitos que surgirão no desenrolar dos trabalhos. Todas essas práticas exigem tanto por parte
dos professores como dos alunos uma mudança de mentalidade.
Assim, além de desenvolvermos as questões cognitivas, estaremos preparando cidadãos mais
completos, com as habilidades necessárias para conquistarem sucesso na vida pessoal, na vida em
família, na vida em sociedade e no mundo do trabalho.

3.8 Storytelling ou contação de histórias


Storytelling é uma abordagem que consiste na contação de narrativas potencializadoras na geração
de resultados na aprendizagem dos alunos. Na contação de histórias, os professores conseguem envolver a
atenção dos alunos e com o auxílio, sempre que possível, de recursos audiovisuais conseguem fazer com que
eles desenvolvam conexões.
É considerada como uma ferramenta de aprendizado ativo que favorece a construção de conexões,
visto que as histórias permitem a relação dos fatos contados com os conteúdos a serem aprendidos. A
narrativa da história deve ser estruturada de acordo com os objetivos da aprendizagem e deve ser moldada
de forma que promova o interesse e a participação dos alunos.
O potencial de uso do storytelling como ferramenta de aprendizado é vasto, visto tratar-se de
uma estratégia versátil e complementar, podendo contribuir com todas as outras metodologias ativas já
apresentadas. Também contribui com o desenvolvimento do conhecimento a longo prazo, já que os alunos
tendem a memorizar as histórias contadas e manter a conexão das histórias com os conteúdos aprendidos e
o conhecimento adquirido.
A inclusão da narrativa no processo educacional tem desenvolvido nos alunos aspectos
relacionados a empatia, criatividade e desenvolvimento do senso crítico, já que são provocados,
constantemente, a fazer reflexões sobre os temas apresentados.
Além das contribuições já apresentadas, temos também a oportunidade de, por meio das narrativas,
como histórias reais, lendas, mitos e contos, transmitir valores, valorizar aspectos culturais, reforçar costumes
e resgatar tradições que têm significado para a sociedade.

4 Novas formas de avaliação da aprendizagem


Não é de hoje que a avaliação precisa servir como forma de democratização do ensino, sendo
assim, o perfil da avaliação como meramente classificatória precisa, urgentemente, se tornar diagnóstica.
Segundo Luckesi, a avaliação precisa estar pautada na verificação da aprendizagem, como ponto
de partida e não como um fim em si. O fato de os estudantes temerem o momento da prova advém
da característica punitiva da avaliação, sendo que o processo de avaliação deveria ser uma forma de
análise da trajetória, entre erros e acertos, de forma qualitativa, buscando orientar o estudante na sua
aprendizagem.
A pandemia trouxe para o debate esta mesma questão, já falada por Luckesi, em muitas das suas
obras, portanto o assunto não é novo, o assunto já foi debatido, mas muito pouco colocado em prática.
Se a avaliação diagnóstica fosse uma prática comum no dia a dia das escolas, não haveria tanta
preocupação em como avaliar durante a pandemia, sendo assim, vamos analisar uma breve explanação

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Workshop Licenciaturas

sobre os tipos de avaliação e a importância da avaliação diagnóstica, não somente no retorno às aulas,
mas em todo o processo de ensino e aprendizagem.
Para Hadyt, a avaliação formativa é uma contribuição para a prática do professor, onde ele pode
adequar o ensino às necessidades de cada turma e estudante, propiciando a ele informações sobre o
progresso da sua aprendizagem, tanto sobre seus avanços quanto sobre suas dificuldades.
A sugestões para a avaliação no período pós-pandemia, provindos do parecer do CNE, também
sugerem esta mesma linha: avaliar com o intuito de diagnosticar e formar o estudante para que ele
possa compreender que a avaliação é apenas uma forma de conhecer seu processo de aprendizagem e,
como diz Vasco Moretto, não é um acerto de contas.

5. Conclusão
Os benefícios advindos com a implementação de todas as metodologias apresentadas são
extraordinários. Entretanto, estes benefícios não são conquistados gratuitamente ou de forma simples,
pois dependem muito do preparo dos professores, das condições das escolas, do trabalho dos gestores
e ainda demanda muito envolvimento, participação e apoio dos pais. Vivemos em um período de
grande mudança na mentalidade das atividades da escola e todos precisam estar abertos a essas novas
transformações que estão correndo na educação.

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