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Memoria 24 Jun 2019
Memoria 24 Jun 2019
SESSÃO ACADÉMICA
Rui Santos Vargas
NESTA MEMÓRIA:
1 SESSÃO ACADÉMICA
2 QUADRO SOCIAL
3 PROGRAMA
7 ELOGIO AO PATRONO
Marechal Carlos
Frederico Lecor
Segue na página 4
QUADRO SOCIAL
1.º DELEGADO DE HONRA
Coronel QMB EB André Luís Correia de Castro 03OUT2017 – 20JUL2019
Coronel Av. FAB Fernando César da Costa e
17JAN2017 – 02OUT2017
Silva Braga
Boa tarde
Por volta da década de 1770, a família muda-se para Faro, onde aliás os
Buys já tinham negócios. É aliás desta mudança que nasce a perceção
geral, ainda que errada, que Lecor nasceu em Faro. Esta cidade é aliás
a única cidade portuguesa que deu o seu nome a uma rua devido a esse
mesmo facto. A justiça aqui foi fruto de equívoco, mas é ainda assim,
justiça. Se a cidade onde Lecor nasceu de facto, ainda que com tantas
ruas, não lhe presta essa homenagem, pois então que o equívoco se
preste a que a cidade de adoção o tenha feito.
Muitos saberão, pois é bem conhecido, mas digo-o aqui, Lecor foi o
único general português que teve o privilégio de comandar uma divisão
anglo-portuguesa em combate. Fê-lo na batalha de Nivelle, em
Novembro de 1813, quando o exército assaltou as fortificações de Soult
a norte do rio. Era comandante interino, a mais ténue das posições, mas
cumpriu, de novo, sem mácula, a sua missão. Começava já a trilhar
áreas novas e desconhecidas.
Quem afirmasse, 21 anos antes, que isto iria acontecer, seria decerto
apodado de louco. Filho de mercadores, ainda que de grosso e bem
relacionados, formado na artilharia, agora o general mais graduado de um
exército português vitorioso.
As guerras revolucionárias, que duraram duas longas décadas, mandaram
abaixo muitos dos paradigmas e inauguraram de forma dramática toda uma
nova era. O elemento social não foi diferente.
Para um português, habituado à sua terra, o Brasil era todo um novo mundo
com 'aves das cores mais fantasticas' e 'planícies sem limites'. Como o futuro
conde de Samodães, comandante do 2.º regimento, o pôs, “tudo n’este paiz
é grande e maravilhoso”.
Nesse dia inicia ele aquilo que Falcão Espalter denominou de Vigia
Lecor.
O início do governo português em Montevideu marcou o fim de 6 anos de
revolução e lutas intestinas, em que não só os independentistas lutaram
contra os espanhois, mas entre si, divididos entre centralistas e
federalistas. Ainda que não tenha sido imediato, o novo governador trás
de novo a paz e prosperidade ao importante porto. A maioria da
população de Montevideu, principalmente os que beneficiam do
comércio (e em Montevideu eram quase todos, em diferentes níveis),
recebeu Lecor com alívio, ainda que com alguma apreensão.
Mesmo Buenos Aires, que partilhava algum ideário com Artigas, acabou
por não intervir e manteve o tratado que tinha com Portugal desde
1812.
Tomás de Iriarte, um oficial argentino que o conheceu, diz dele que “no
fué el idolo del pueblo, tampoco puede aseverarse que alimentasen contra
él sentimientos de odio y reprobacion personal”.
Quem o conheceu nesta altura revela bem qual a postura política de Lecor.
A historiografia uruguaia acompanha até hoje esta visão e não o alça a um
tirano estrangeiro, mas no pior dos casos, um mal necessário. Muitos vêm
nele mais vantagens que desvantagens, apesar de ser um invasor.
Como Lecor refere, essa decisão foi daquelas que um homem como ele só
poderia tomar uma vez na vida. Nesse mês de Setembro de 1822, o seu
compromisso com o Brasil foi assumido de corpo inteiro. O general passava
a ser um dos “heróis da brasileia liberdade”, conforme nos dita um poema
épico escrito anos depois.