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Carta ao leitor
Entrevista: Nicolau
Scala/Art   Maquiavel
Resource Gente
Ensaio

 
O pintor alemão Albrecht Dürer, 30 anos,

tem dois objetivos artísticos, ambos muito


ambiciosos: buscar a beleza absoluta e refletir a
glória da criação divina na arte. Para alcançá-los,
dedica-se a estudos exaustivos, inclusive de
fórmulas matemáticas que possibilitem descrever
a beleza humana. Suas admiradoras, tão
entusiasmadas pelas habilidades do artista
quanto por sua aparência, garantem que ele não
precisaria esforçar-se tanto, pois tudo o que
procura já foi alcançado. A prova, suspiram as
donzelas, está em seu último auto-retrato: Dürer Albrecht Dürer,
no auto-retrato:
fez-se belo como um Cristo. Para as fãs, não beleza divina
restam dúvidas de que a beleza do pintor é
divina.

Que ninguém estranhe se vir a esposa de um rico mercador


exibindo jóias que pertenceram à família Medici, de Florença.
Filho de Lourenço, o Magnífico, Piero de Medici está
dilapidando a fortuna herdada. Sem vocação para os negócios e
menos ainda para a política, ele perdeu o domínio que sua
família exercia em Florença e também os bancos e empresas
deixados pelo pai. Há três anos, Piero abandonou seu palácio,
antecipando-se ao ataque de Carlos VIII, então rei da França.
Como se não bastasse a pilhagem promovida pelos franceses,
Piero ainda teve suas contas bancárias confiscadas pelo novo
governo de Florença e, com a cabeça a prêmio, foi obrigado a
viver no exílio. Parte do que Piero carregava na noite da fuga já
foi dada em penhor – e, de lá, para novos donos.

A corte francesa continua a inventar estilos. À frente das


novidades está Ana da Bretanha, a poderosa herdeira que já
desposou dois reis – viúva de Carlos VIII, casou-se há dois anos
com seu sucessor, Luís XII. Agora, ela faz-se acompanhar por
"damas de honra", designação oficial das mulheres da nobreza
convocadas para festas e convescotes sociais. As damas de
honra circulam pelo palácio como convidadas da rainha,
desfrutando seu convívio e colaborando para entretê-la.
Comenta-se, porém, que elas só estão na corte para ofuscar a
presença de uma aparentada do rei, Luísa de Saboya, a maior
rival política da rainha Ana.

A nobreza italiana acaba de ganhar um exigente código de


conduta, criado em Mântua por Baldassare Castiglione. A
nova etiqueta reza que o perfeito cavalheiro deve comportar-se
de modo equilibrado e responsável, demonstrando desenvoltura
em suas realizações. Nas armas, nas letras, nos esportes ou nas
conversações, recomenda-se evitar o esnobismo – mas não um
elegante ar de superioridade. As idéias de Castiglione estarão no
livro O Cortesão. Entre os imperativos do autor, um merece
destaque: "Nunca sentir tédio".

Aos 28 anos, o cônego polonês Nicolau Copérnico já


promete ser notícia. Famoso por perceber um eclipse lunar da
estrela Aldebaran, ocorrido em 1497, quando estudava
astronomia em Bolonha, ele agora está provocando nova
agitação. Ao renovar por mais três anos seu afastamento da
catedral de Frauenburg, deixou furiosos outros cônegos.
Detalhe: desde 1499, quando foi designado ao posto, Copérnico
nunca compareceu. Conseguiu uma licença, alegando que não
poderia interromper seus estudos sobre o movimento dos astros.
Alguns invejosos o acusam de não cumprir com as obrigações
religiosas, apesar da renda mensal que recebe da Igreja. Com
idéias brilhantes e um tratamento tão privilegiado, não seria
espantoso se Copérnico acabasse redefinindo o lugar da Terra no
Universo.

Joana, a louca (à esq.), e a piedosa Catarina: diferentes

O humor dos reis espanhóis, Isabel de Castela e Fernando de


Aragão, muda da água para o vinho quando o assunto gira
sobre suas jovens filhas. A caçula, Catarina, de apenas 15
anos, piedosa, inteligente e recém-casada com o príncipe Artur,
herdeiro do trono da Inglaterra, é o orgulho do casal real. Já no
caso de Joana, 21 anos, a primeira na linha de sucessão depois
da morte dos irmãos mais velhos, o panorama é sombrio. A
instável princesa só dá motivos de preocupação. Casada com
Felipe, o Belo, filho do imperador germânico Maximiliano I, ela
ficou famosa pelo ciúme doentio que demonstra em relação ao
marido. Seus escândalos já lhe valeram o apelido de "a louca",
referência nada sutil aos perceptíveis sinais de insanidade. Seus
empregados temem que Joana, já surpreendida falando sozinha
no meio da noite, venha a ter idéias suicidas.
             

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