Engenharia de Produção Lista de exercícios 2 Disciplina: Aproveitamento de Resíduos Profª. Laiane Alves de Andrade Discente: Mateus Souza Gonçalves
Inovações na Cadeia de Produção e Consumo de Embalagens PET
1- Introdução Nos últimos anos, a sociedade brasileira confirmou que as mudanças nos padrões de consumo doméstico levaram ao aumento da quantidade de resíduos sólidos urbanos. Entre os resíduos plásticos que as pessoas descartam, destacam-se polímeros termoplásticos como o tereftalato de polietileno (PET) e o cloreto de polivinila (PVC), que contribuíram significativamente para o aumento da quantidade de resíduos sólidos ocorrido na terra nas últimas décadas. O consumo mundial desses materiais aumentou de 5 milhões de toneladas na década de 1950 para aproximadamente 100 milhões de toneladas por ano em 2009. Nas cidades onde os resíduos sólidos urbanos são coletados seletivamente, existem duas formas de descarte de embalagens PET: de forma inadequada, juntamente com os resíduos orgânicos, fazendo com que esse material seja encaminhado para aterro sanitário, ou descartando-o de forma adequada juntamente com o “lixo seco”, por meio da coleta seletiva, até a central de triagem e, em seguida, reciclados. No Brasil, 54,8% das garrafas PET foram recicladas em 2008, e esse percentual representa 253.000 toneladas de 462.000 toneladas (ABIPET, 2009). A pergunta que se segue é: “Para onde foram as outras 209 mil toneladas de garrafas PET? ”. É possível que a maioria delas seja enviada para aterros sanitários, enquanto as demais são armazenadas em locais inadequados, deixadas no chão ou lavadas. . O método utilizado para atingir o objetivo proposto, constituiu-se de coleta de dados primários e secundários. Foram realizadas: análise de documentos e sites que trabalham com o setor de reciclagem, visitas técnicas e entrevistas com atores da cadeia de reciclagem de embalagens PET. Por conveniência, a cidade de Porto Alegre (1,3 milhão de habitantes) foi escolhida como capital do estado (IBGE, 2009). A entrevista foi realizada pelo autor deste artigo, gravada e transcrita, e teve duração de 28 minutos e 2 horas e 55 minutos. Entrevistas e dados coletados mostram que há oportunidades de inovação de produtos e processos na cadeia de produção e consumo de embalagens PET para aumentar o valor da cadeia e trazer benefícios ambientais, econômicos e sociais. A entrevista segue um roteiro pré-estruturado com questões abertas. O objetivo é questionar os entrevistados sobre a possibilidade de reestruturar a rede para encontrar formas inovadoras e sustentáveis de aumentar o valor do PET. Também foram questionados sobre os 3 responsáveis por essas ações, quais processos ou iniciativas podem ser agregados aos trabalhos já realizados e quais as perspectivas futuras do mercado. 2- Metodologia 2.1-PET e o Processo de Reciclagem O Polietileno Tereftalato (PET) é um poliéster termoplástico que apresenta excelentes propriedades térmicas e mecânicas. É um material semicristalino, com alta resistência, transparência e segurança (CHEN, 2003; KARAYANNIDIS e ACHILIAS, 2007). Embora a sua aplicação principal tenha sido, nos últimos tempos, na indústria têxtil (KARAYANNIDIS e ACHILIAS, 2007), uma grande quantidade desse material também vem sendo consumida nas gravações de áudio e vídeo, filmes de Raio-X, embalagens de alimentos, especialmente de bebidas carbonatadas, como água e refrigerantes, substituindo materiais como o vidro e o Policloreto de Vinila (PVC). O consumo mundial de PET está estimado em 26 milhões de toneladas anuais. O aumento do consumo destas embalagens trouxe impactos e consequências socioambientais (KARAYANNIDIS e ACHILIAS, 2007; BURAT, GÜNEY e KANGAL, 2009; TORLAKOGLU e GÜÇLÜ, 2009). As garrafas PET descartadas de forma inadequada são consideradas uma das principais responsáveis pelo entupimento de bueiros e pelo alagamento de vias urbanas em dias de chuva intensa. Questiona-se também o descarte de garrafas PET na coleta convencional e o seu encaminhamento para aterros sanitários. A reciclagem de garrafas PET é um dos maiores exemplos de sucesso sobre reciclagem de polímeros (KARAYANNIDIS e ACHILIAS, 2007). Um fator que contribui para isso, além da ampliação do consumo, é o fato de que é possível usar PET reciclado na produção de novas garrafas, sem riscos para a saúde dos consumidores (BENTAYEB et al, 2007). Desde 2008, a marca de bebidas Evian, da França, utiliza 25% de plástico reciclado para a fabricação das suas embalagens, produzindo garrafas com igual qualidade às que utilizam apenas resina virgem (EVIAN, 2010). A cadeia de reciclagem de polímeros está dividida em quatro fases: coleta, separação, transformação da embalagem em matéria-prima e venda (BURAT, GÜNEY e KANGAL, 2009). Quanto à transformação em matéria-prima, destacam-se as quatro principais abordagens para a reciclagem: descarte industrial pré-consumo, reciclagem mecânica, reciclagem química e recuperação de energia (KARAYANNIDIS e ACHILIAS, 2007). 2.2-Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos e a Logística Reversa A gestão da cadeia normalmente considerava apenas questões como minimizar o custo final, logística eficiente e bons prazos de entrega (COX apud KHOO et al., 2001). No entanto, no início do século 21, uma mudança de enfoque pôde ser observada. Parcerias foram formadas visando a implementação de práticas que respeitam o meio ambiente, reduzindo o desperdício e a poluição (MELNYK e HANDFIELD apud KHOO et al., 2001). Para Rao e Holt (2005), a Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos (Green Supply Chain Management) pode contemplar iniciativas ambientais nas funções de compra, produção, entrega e na logística reversa, incluindo fornecedores e contratantes. Para os autores, ao contemplar iniciativas junto à logística reversa, a GSCS envolve fornecedores de materiais, contratantes de serviços, vendedores, distribuidores e usuários, que trabalham juntos para mitigar impactos ambientais advindos de suas atividades. Já a logística reversa, segundo Rogers e Tibben-Lembke (1998), é o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição. 2.3-Inovação para a Sustentabilidade A inovação pode ser considerada como a apresentação de novas combinações ou configurações entre os recursos e a produção. De forma mais ampla, consiste em mudar e propor novos processos produtivos e novas organizações em uma firma (STRAETE, 2004). Nesse sentido, Elzen e Wieczorek (2005) defendem que a mudança tecnológica não pode ser facilmente separada de mudanças estruturais, econômicas, culturais e sociais. Assim, tem-se que as inovações sustentáveis, tanto em âmbito econômico e social, como no contexto ambiental, envolvem alterações dos sistemas produtivos em termos técnicos, espacial, distribuição de riqueza, preservação do meio ambiente, entre outros. No entanto, a inovação também é vista como um elemento que contribui para a degradação do meio ambiente, tendo em vista a sua vinculação com o aumento do crescimento econômico e do consumo. Ainda assim, grande parte das soluções para os problemas ambientais inclui o caráter inovador por meio do desenvolvimento de (BESSANT e TIDD, 2009) 3.0-Descrição e Análise dos Resultados Se todas as embalagens PET colocadas no mercado forem recolhidas e enviadas ao local adequado, seja pela coleta seletiva ou através de iniciativas empresariais, o objetivo ideal da reciclagem será atingido. Neste cenário, é preciso que a sociedade civil e empresarial esteja envolvida no processo, assim como o governo e as ONGs, destacando a importância da presença de todos os stakeholders no processo. A falta de qualificação também pode gerar outro problema, relacionado à gestão da produção das empresas transformadoras (que utilizam matéria-prima reciclada). Se há erro na identificação dos materiais que serão enfardados nos Centros de Triagem, pode haver parada de máquinas, reduzindo a produtividade. Além disso, muitas vezes, a indústria não tem o conhecimento e a tecnologia adequada para trabalhar com material reciclado. Devido a essas dificuldades, a maioria dos compradores das indústrias acaba optando por utilizar resinas virgens. Um dos maiores problemas para a reciclagem do PET é a sua mistura com o PVC. Por ser difícil distinguir visualmente, uma das possíveis soluções seria o fabricante informar, na própria embalagem, quais os tipos de materiais que foram utilizados na sua composição e que este procedimento fosse fiscalizado pelos órgãos competentes. Outra alternativa para distinção destas embalagens seria realizar uma inovação de produto, padronizando a forma ou incluindo uma marca de fácil identificação. Os Centros de Triagem são o elo da cadeia com melhores possibilidades de agregar valor ao processo e adotar inovações tecnológicas, proporcionando a geração de emprego e melhorando a renda dos trabalhadores. O perfil atual das 750 pessoas que trabalham nos 16 Centros de Triagem localizados em Porto Alegre é de desempregados e pessoas com baixa qualificação para ter acesso ao mercado formal. Para fortalecer os Centros de Triagem e aumentar a renda destes trabalhadores foram sugeridas pelos entrevistados medidas com enfoques gerencial, tecnológico, mercadológico, políticas públicas e iniciativas do setor privado. Por sua vez, o volume de resíduos comercializáveis nos Centros de Triagem depende do comportamento de todos os envolvidos na cadeia. Os consumidores deverão ter a atitude correta e dar o destino adequado aos seus resíduos. Além disso, a capacitação dos trabalhadores dos Centros pode ser determinante. Segundo o pesquisador do IFSul, com o treinamento realizado em alguns Centros de Triagem, foi possível reduzir de 40% para 20% o rejeito do material recebido. A necessidade de qualificar as pessoas que trabalham nos Centros de Triagem foi salientada também pelos entrevistados que representavam o CAMP, Ambev e a organização de Catadores. O líder da organização de catadores considera importante a capacitação dos trabalhadores para que estes possam pensar em longo prazo. Segundo ele, a realidade atual dificulta essa situação, pois os catadores não conseguem ter uma visão em longo prazo e não vêem importância em se capacitarem. O representante da Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social sugere que mais empresas utilizem a isenção fiscal de parte dos seus tributos para investimentos em projetos sociais, conforme previsto na Lei Estadual número 11853, conhecida como Lei da Solidariedade (RIO GRANDE DO SUL, 2009). Esta legislação permite que empresas privadas utilizem parte dos impostos devidos para investimentos em projetos sociais. 4.0-Considerações Finais Inovações de Produto Para resolver o problema de misturar diferentes tipos de plástico, especificamente PET e PVC, um foi identificado para diferenciar embalagens de PET de PVC por meio do uso de 'uma característica de design de cada tipo de plástico. Quando dois ou mais tipos de plásticos são utilizados na mesma embalagem, devem ser de fácil identificação, para que o consumidor possa efetuar tal separação. A utilização de um percentual de material reciclado na nova embalagem é uma forma de reaproveitar e reciclar o mercado. Ainda sobre a substituição do material , podemos citar a empresa Vonpar que já produz garrafas PET com 30% de insumos de cana-de- açúcar. Inovação no Processo Entende-se como inovações no processo as medidas que podem ser implantadas ao longo das etapas da cadeia de produção e consumo das embalagens PET Entre elas, destacam-se como principais: - Desoneração tributária do PET reciclado, uma vez que esta matéria-prima sofre bi- tributação, ou seja, é tributada na comercialização da resina virgem e posteriormente na comercialização da resina reciclada. - Eliminação de elos da cadeia de produção e consumo de embalagens PET por meio da qualificação dos Centros de Triagem e a criação de condições para a comercialização direta para as indústrias recicladoras. A eliminação, ou redução do papel dos intermediários irá resultar na elevação dos ganhos dos trabalhadores dos Centros de Triagem. - O consumidor tem um importante papel nesta cadeia. Uma inovação de alto impacto seria a mudança de comportamento do consumidor brasileiro. Se ele seguir o exemplo dos consumidores japoneses, que retiram a tampa e o rótulo das garrafas, lavam internamente e as comprimem para reduzir o volume, facilitaria a logística reversa e otimizaria o trabalho dos Centros de Triagem. - O aumento da eficiência da cadeia pode ser obtido com o emprego de tecnologias sofisticadas como o uso da tecnologia Ultravioleta para a separação dos diferentes tipos de plástico. Diante da realidade brasileira, sugere-se priorizar a adoção de medidas de baixo custo ou de alterações na legislação, de forma a serem mais facilmente implantadas. – Conforme foi demonstrado, as inovações exigem ações integradas e, numa cadeia como esta, que possui uma forte interdependência entre os seus diversos elos, ratifica-se a proposta de Straete (2004), de que a alteração dos relacionamentos é crucial para o surgimento de inovações ao longo da cadeia.