Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mineração
Mining
Realização de projeto de
lavra de mina subterrânea
com utilização de aplicativos
específicos
Underground mine design using specific softwares
Abstract
1. Introdução
O aprofundamento das minas a céu mente não seja a indústria extrativa mine- empresas especializadas desenvolvam
aberto existentes e a tendência crescente ral a atividade econômica mais agressora aplicativos capazes de otimizar o plane-
das restrições ambientais têm criado di- do meio ambiente (Silva, 2009). jamento da mina em um curto espaço de
ficuldades para a exploração de miné- O desenvolvimento de uma meto- tempo, o que seria quase impossível de
rios por métodos a céu aberto. Por outro dologia, usando como ferramenta um ser feito manualmente. Softwares de mi-
lado, há inúmeras dificuldades na explo- aplicativo de mineração para os serviços neração atuais permitem, nesse sentido,
ração de minas subterrâneas, como, por em mina subterrânea, tem o objetivo de uma visão em 3D da jazida e de toda a
exemplo, o alto custo que suas atividades servir de instrumento didático para as estrutura de mina necessária para a lavra
demandam e a pouca experiência que os disciplinas de Desenvolvimento Mineiro do minério.
profissionais da área possuem, pois as e Lavra Subterrânea e se constituirá em Na lavra subterrânea, a automação
minas subterrâneas não são comuns aqui um passo decisivo para o prosseguimen- de uma metodologia de lavra e/ou a sua
no Brasil. Esse quadro se constitui em um to de uma linha de pesquisa no Departa- otimização por meio de aplicativos co-
desafio a ser superado pelas indústrias de mento de Engenharia de Minas da Esco- merciais é menos interativa do que para
mineração e, também, pelos cursos de la de Minas da Universidade Federal de a lavra a céu aberto. Existe uma neces-
Engenharia de Minas. Ouro Preto. O programa será utilizado sidade reconhecida de melhoria das fer-
A produção de bens minerais mos- para executar exercícios acadêmicos prá- ramentas computacionais para embasar
tra, para o futuro, a perspectiva de se vir ticos com o intuito de difundir, entre os o planejamento, o projeto e a operação
a processar, cada vez em maior escala, alunos de graduação, a prática de utili- de minas subterrâneas e, embora esses
através de lavra subterrânea, em razão da zação das tecnologias de última geração, aplicativos disponham de algumas ferra-
progressiva exaustão das reservas facil- em termos de planejamento de lavra. mentas, eles são mais desenvolvidos para
mente acessíveis à extração a céu aberto A crescente dificuldade de se conse- atender aos métodos de lavra a céu aber-
e da necessidade da preservação do meio guirem minérios com altos teores, aliada to, sendo ainda incipientes as metodolo-
ambiente, impondo cada vez mais restri- à variação dos preços das commodities, gias para os serviços de desenvolvimento
ções à lavra a céu aberto, embora, sabida- nos últimos anos, tem feito com que de mina subterrânea.
2. Metodologia
Escolha do método de lavra subterrânea de acordo com as considerações importantes sobre a jazida
A seleção do método de lavra é dições ambientais adequadas para os do-se em conta os aspectos tecnológico,
um dos principais elementos, em qual- operários; os impactos causados ao meio econômico, social, político e ambiental.
quer análise econômica de uma mina, e ambiente devem ser reduzidos; o método Nesse trabalho, a partir de um co-
sua escolha permite o desenvolvimento deve permitir condições de estabilidade nhecimento melhor do comportamento
da operação. Comumente o método de durante a vida útil da mina, deve asse- do minério e das encaixantes e a fim de
lavra é designado como sendo a técnica gurar a máxima recuperação de minério se definirem parâmetros necessários ao
de extração do material. Isso define a com mínima diluição, deve ser flexível dimensionamento de uma eficiente ope-
importância de sua seleção, já que todo para adaptar às diversas condições ge- ração subterrânea, foram selecionados
o projeto é elaborado em torno da téc- ológicas e à infra-estrutura disponível e os métodos de lavra subterrâneos mais
nica utilizada para lavrar o depósito. Os deve permitir atingir a máxima produti- comuns. Pela aplicabilidade de cada mé-
trabalhos de infra-estrutura estão direta- vidade, reduzindo, conseqüentemente, o todo e características do corpo minera-
mente relacionados com o método, con- custo unitário do minério. lizado, dois métodos foram escolhidos
forme Macedo et al. (2001). São vários os métodos de lavra des- e serão aplicados, simultaneamente, ao
Ainda, segundo os mesmos auto- critos por Hartman (2002) e Hustrulid desenvolvimento da mina subterrânea.
res, os principais objetivos da seleção do (1982) e estes são limitados pela disponi- Foram discutidos, também, os principais
método estão relacionados com os aspec- bilidade e performance dos equipamentos motivos da utilização dos métodos e o
tos ambientais, econômicos e sociais. O e, como todos os fatores que influenciam por quê de suas aplicações, ao se apresen-
método deve ser seguro e produzir con- em sua seleção, devem ser avaliados levan- tarem os resultados do projeto de mina.
Um banco de dados geológico con- siste de um número de tabelas que contêm diferentes dados, tais como identificação
520 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 64(4), 519-524, out. dez. | 2011
Milton Brigolini Neme et al.
do furo, coordenadas do ponto de son- para estudos de viabilidade e estimação subterrânea e, também, a seleção de pos-
dagem, profundidade máxima, trajeto de reservas minerais. síveis métodos de lavra de subsolo. Tam-
do furo, inclinação, azimute, litologias e Nessa etapa, foi possível a realiza- bém foi possível obter o acesso ao corpo
teores para a modelagem do corpo mine- ção de uma primeira aproximação das e foi possível elaborar alternativas para o
ralizado. Esses dados constituem a base partes a serem lavradas a céu aberto e transporte do material de profundidade.
Na parte aflorante do corpo mine- repetido até a obtenção do modelo da maneira, uma transição para mina sub-
ralizado, iniciou-se uma mina a céu aber- cava final. terrânea, pois fatores técnicos e econômi-
to em cava, feita a partir de dados, como A tendência natural das minas a céu cos indicaram esse tipo de mudança.
altura dos bancos, largura das bermas, aberto, à medida que se desenvolve a la- Foi definido o nível máximo de
ângulo de talude e o gradiente da rampa. vra, é que a cava se torne mais profunda, lavra a céu aberto, segundo estudos
Foram construídos segmentos de podendo-se atingir um limite econômico geomecânicos, e foi deixado um pi-
acordo com a altura dos bancos e com e técnico que não permita o seu prosse- lar de coroamento para a abertura da
a largura das bermas, procedimento guimento. Tornou-se necessária, dessa mina subterrânea.
Após a modelagem do corpo mine- de ferramentas do aplicativo de criação diente, foram criadas galerias para a li-
ralizado, de acordo com o banco de da- de pontos por coordenadas. Esses pontos gação da rampa de acesso principal ao
dos geológico, e definidos os limites da são: um na superfície e outro no fundo do corpo mineralizado.
cava a céu aberto, em relação a aspectos poço. Com essa linha, foi criado o sólido Semelhante à abertura do poço ver-
econômicos, de segurança e ambientais, que representa o poço, de acordo com o tical, foram abertos os poços de ventila-
alocaram-se as vias de acesso principais modelo estabelecido, que é um cilindro ção e, também, saídas de emergência do
para uma mina no subsolo. circular de diâmetro de 7 m, a partir da lado oposto ao da rampa, condição in-
Foi utilizada uma rampa em zi- superfície até a profundidade de 1140 m. dispensável de segurança operacional. As
guezague, como acesso principal, em Para melhor operacionalização do câmaras de refúgio, as estações de bom-
detrimento da helicoidal, de modo que método de lavra, a mina foi divida em bas e as subestações elétricas foram dese-
a rampa fique sempre próxima ao corpo níveis, de acordo com as propriedades nhadas com base nas linhas paralelas e
mineralizado, facilitando o acesso aos in situ das rochas e, também, com base segundo a largura desejada de dimensões
níveis e até mesmo aos subníveis. O dese- em métodos empíricos de classificação do espaço requerido. Tudo isto foi elebo-
nho da rampa foi feito por um processo dos maciços, como, por exemplo, o Mé- rado a partir de uma linha central. Atra-
trabalhoso, pois o aplicativo não possuía todo Escandinavo “Q System” (Barton vés do desenho de outras linhas paralelas
ferramentas apropriadas para confecção et al., 1974), o método de classificação a estas e a uma cota com distância igual
de rampas subterrâneas que acompa- geomecânica “RMR System” (Bienia- à altura pretendida, têm-se as dimensões
nham o corpo mineralizado. wski, 1989) e esta última classificação que formaram, por triangulação, o sóli-
Com o uso de ferramentas de criar básica (in situ) foi, ainda, ajustada, de- do que representa essas aberturas.
pontos por direção, distância e gradiente, pendendo da orientação de juntas, grau Os alargamentos das vias de aces-
foi feito um ziguezague até a extensão fi- de intemperização, tensões induzidas, so principais (pass bay) destinados à
nal do corpo, para a construção da ram- mudança de tensões em razão da lavra e manobra de equipamentos foram feitos,
pa de acesso principal. Com o auxílio de efeitos da detonação. estrategicamente, nos pontos com maior
circunferências, com raio igual ao raio Cada galeria foi criada a partir de confluência de trânsito.
mínimo da linha de centro da rampa (20 uma linha central e de um modelo da Para um melhor entendimento de
m), foi feito o seu raio de curvatura. seção transversal escolhida para a sua projeto de mina subterrânea, foi discuti-
A partir das coordenadas do ponto forma. Com ferramentas de construção da, na apresentação dos resultados, a ne-
de locação do poço na superfície, traçou-se de segmentos, como, por exemplo, por cessidade de implementação de cada uma
uma reta central do poço vertical através ângulo, por direção, por distância, gra- dessas aberturas.
Modelagem de Blocos
O modelo de blocos é um banco estimados tais teores. Isto foi obtido respectivos teores. Também permiti-
de dados espacialmente referenciado estimando e fixando valores de atribu- ram refinar os estudos preliminares de
para a estimação de volume, tonelagem tos de dados de amostras que contêm métodos de lavra e sua divisão em ní-
e para a definição da característica mé- coordenadas X, Y, Z e os valores dos veis e, principalmente, possibilitaram
dia das dimensões de um corpo mine- atributos de interesse. elaborar uma análise econômica das
ralizado. Todo esse processo foi feito a A estimativa dos teores por pro- diversas alternativas, conduzindo a es-
partir de dados de perfuração. As pro- fundidade e a consequente obtenção tudos de viabilidade.
priedades modeladas foram os teores de da tonelagem possibilitaram um maior Assim, foram efetuados cálculos
ouro e de prata e, pelo Método do In- conhecimento das reservas e da distri- (expressos por relatórios em planilhas
verso do Quadrado da Distância, foram buição espacial do minério, com seus eletrônicas) de tonelagem e teores do
REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 64(4), 519-524, out. dez. | 2011 521
Realização de projeto de lavra de mina subterrânea com utilização de aplicativos específicos
corpo mineralizado total. A tonelagem e lavradas a céu aberto, no subsolo e até los servirão para definição de vida útil e
teores foram divididos nas partes a serem em níveis e subníveis. Os referidos cálcu- fluxo de caixa do empreendimento.
3. Resultados e discussões
Figura 1
Desenho da infra-estrutura da
mina subterrânea com uso
de ferramentas do aplicativo.
A) Vista longitudinal e
B) vista transversal do corpo
mineralizado, das aberturas
subterrâneas e divisão da jazida
em níveis e subníveis.
nas características geométricas do corpo equipamentos, para acesso, extração e de lavras também serão interligadas ao
mineralizado, taxa de produção segundo enchimento do realce. Anterior à gale- subnível superior (visando a estabelecer
o planejamento de lavra e características ria de acesso ao nível 1 (profundidade o circuito de ventilação), porém a perfu-
geomecânicas do maciço rochoso e ana- de 200 m), foi aberto um ponto de ma- ração dos leques será planejada para que
logia com operações existentes, como em nobra para os equipamentos. os pilares com 5 m verticais permane-
Machado (2004). A seleção do Método de Alarga- çam intactos. Cada painel de lavra terá
Do ponto de vista da Mecânica das mento por Subníveis com Preenchimento 75 m de dimensão vertical com 3 subní-
Rochas, o material de enchimento deve Posterior está relacionada ao uso de es- veis e um pilar de 5 m de espessura. Após
prover suporte para o alargamento ou téril e rejeito da planta metalúrgica para a lavra do painel, será feito o enchimento
servir como confinamento lateral para os aumentar a recuperação de minério e a do realce com pastefill.
pilares e, dessa forma, melhorar as carac- segurança. O referido método será utili- A partir desse estudo, foi possível,
terísticas de deformação. Então, devido zado, no nível 2, uma vez que a rocha e ainda, definir a forma de suporte de es-
as encaixantes necessitarem de suporte o minério são mais competentes (RMR cavação, como também os equipamentos
adicional e, também, para se prover a maior que 60 para capa e lapa; e RMR de manuseio do minério. Os próximos
plataforma de trabalho sobre a qual as entre 40 e 80 para o minério) e o corpo passos lógicos de projeto serão a defini-
tiras de minério serão perfuradas e de- apresenta mergulho forte (maior que 45°) ção da vida útil e a definição do fluxo de
tonadas, o preenchimento será realizado e uniforme. caixa do empreendimento.
com o estéril gerado no desenvolvimen- A simulação de lavras experimen- Dependendo do mapeamento geo-
to subterrâneo e parte do estéril gerado, tais comprovou a utilização do Método técnico, os pilares horizontais serão tra-
quando se lavrava a mina a céu aberto. de Alargamento por Subníveis com En- tados, antes das detonações dos leques,
O acesso ao corpo que será lavra- chimento Posterior, nos próximos níveis, através de injeção de tirantes grauteados
do por esse método é realizado através embora não tenha sido feita a exclusão e cordoalhas de aços (cable bolts) instala-
de uma galeria horizontal com seção do uso do Corte e Enchimento pelas con- dos em furos realizados no piso do subní-
3,5 m x 3 m. O nível 1 será lavrado dições da rocha em profundidade. vel acima dos mesmos, visando a aumen-
(profundidade de 200 m) com base no Serão desenvolvidas as chaminés tar a segurança dos trabalhos de limpeza
fato de estar próximo da cava e nas de lavra (slot raises) interligando um do minério desmontado dentro do painel
propriedades in situ do maciço rocho- subnível ao subnível superior estabele- de lavra e para controle da diluição.
so. Será desenvolvida com a lavra uma cendo a frente livre para o início do des- O carregamento do material des-
rampa ascendente com seção 3,5 m x 3 monte do painel por meio de perfuração montado será efetuado por carregadeiras
m, com inclinação de 15%, realizada ascendente de furos em forma de leques e o transporte será feito por caminhões
no corpo mineralizado a uma distân- (fans). Nos subníveis que terão os pila- articulados de 30 t, que levarão o miné-
cia deste, compatível com o alcance dos res horizontais (sill pillars), as chaminés rio até a superfície.
4. Conclusão
tacionais usados, na pesquisa, mostra- ta situações reais de minas subterrâneas projeto preencherão uma lacuna e re-
ram que é possível adaptar o aplicativo conhecidas e simulações importantes sultarão em uma melhor formação dos
à configuração de mina subterrânea, mas foram realizadas como a transição para Engenheiros de Minas e se constituirão
se registra a necessidade de criação de uma mina subterrânea e decisão de apro- em um passo decisivo para o prossegui-
ferramentas específicas que facilitem a fundamento de acesso existente ou cons- mento de uma linha de pesquisa na área
aplicação a corpos em profundidade. trução de outro com geometria diferente. de Planejamento Mineiro dentro do De-
Os dados utilizados nas decisões a A conclusão do estudo e a aplica- partamento de Engenharia de Minas da
cada passo do projeto levaram em con- ção futura do passo-a-passo criado pelo Universidade Federal de Ouro Preto.
5. Referências bibliográficas
BARTON, N., LIEN, R., LUNDE, J. Engineering classification of rock masses for the
design of tunnel support. Rock Mechanics and Rock Engineering. Wien, Austria,
v.6, n.4, p. 189-236, 1974.
BIENIAWSKI, Z. T. Engineering rock mass classifications. New York: John Wiley e
Sons, 1989. p. 51-90.
HARTMAN, H. L. Introductory mining engineering. (2. Ed.). New York: John
Wiley e Sons, 2002. p. 324-349, p. 365-371, p. 413-432.
HUSTRULID, W. A. Underground mining methods handbook. New York: SME,
1982. p. 227-482, p. 483-666, p. 872-997.
MACEDO, A. J. B., BAZANTE, A. J., BONATES, E. J. L. Seleção do método de
lavra: arte e ciência. REM - Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 54, n. 3, p.
221-225, jul./set. 2001.
SILVA, J. M. Lavra de mina subterrânea. Universidade Federal de Ouro Preto, 2009.
(Notas de aula).
MACHADO, I. C. Turmalina Gold Project: statement of resources. 2004. (Techi-
cal Report). Disponível em <http//: www.jaguarmining.com/i/pdf/turmalina-tech-
report.pdf> Acesso em: 14/abril/2010.
524 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 64(4), 519-524, out. dez. | 2011