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sobre Curriculo, Territorio e Diversidade Et ial sobre Religiosidades Populares e Identidades 1 Seminario Regional sobre Povos Originarios: cultura, sustentabilidade e modos de vida ESCOLA SEM PARTIDO E SUA (NAO)CONSIDERACAO EM RELACAO A DIVERSIDADE ETNICO-RACIAL SCHOOL WITHOUT PARTY AND ITS (NO) CONSIDERATION REGARDING ETHNIC-RACIAL DIVERSITY Clarice Martins de Souza Batista’ Lucimar Rosa Dias? Resumo: Este artigo tem como objetivo discutir mensagens de memes (imagens) divulgados em midias sociais nos quais defensores do Movimento Escola Sem Partido (ESP) apresentam criticas as politicas afirmativas, aos direitos constitucionais € as minorias politicas. Para methor compreender 0 fenémeno nos apoiamos na analise do discurso de Dijk (2015) e teoricos do campo da teérica critica e pds-criticas. Neste ensaio foi possivel constatar que as ideias divulgadas nestes materiais leitores sustentam e produzem uma representa¢ao social sobre determinadas culturas por um viés conservador e racista. Esse movimento ameaca a educacao e a sociedade plural em sua diversidade, reforca a opressao as minorias e nao favorece o desenvolvimento critico. Palavras-chave: Escola sem Partido; Memes, Educa¢ao Conservadora, Racismo Abstract: This article aims to discuss messages from memes (images) published in social media in which proponents of the Movement Without a Party (ESP) criticize affirmative policies, constitutional rights and political minorities. To better understand the phenomenon, we rely on Dijk’s (2015) discourse analysis and theorists from the field of critical and post-critical theory. In this essay it was possible to verify that the ideas divulged in these material readers sustain and produce a social representation on certain cultures by a conservative and racist bias. This movement threatens education and plural society in its diversity, reinforces the oppression of minorities and does not favor critical development. Keywords: School without Party; Memes, Conservative Education, Racism ‘em Educacéo Matematica pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). ista em Gestéo Educacional. Licenciada em Pedagogia pela UFMS. Pedagoga da Secretaria de da Educacéo do Parana. Professora da Rede Municipal de Curitiba- Parana. Pesquisadora na 0 es Etnico-Raciais, membro do grupo de estudos EréY4 que compée 0 0s NEABUFPR. E-mail: clarice_batista@hotmail.com pela Faculdade de Educacdo da USP (2007). Mestrado em 997). cenciatura Plena em P Comegaremos nossa reflexdo por uma citacao de Miguel Nagib, um dos principais articuladores do Movimento Escola sem Partido (ESP), presente na primeira pagina do grupo: E licito ao professor, a pretexto de “despertar a consciéncia critica dos alunos” ~ ou de “formar cidadaos”, “construir uma sociedade mais justa”, “salvar 0 planeta”, etc. -, usar a situacao de aprendizado, a audiéncia cativa dos alunos © 0 recinto fechado da sala de aula para tentar obter a adeséo dos estudantes ‘a uma determinada corrente ou agenda politica ou ideologica? > A provocacao feita pelo advogado tem um apelo, pois de fato, ele toca em temas muito pertinentes e sua forma de propor a discussao sem duvida nenhuma € inteligente, pois a resposta as suas indagacdes vem facil. Nao, nao € Correto usar situagao de aprendizado para impor nenhuma corrente de pensamento a alunos, tenha a idade que tiverem. Se em situacao de normalidade isto nao seria correto, imaginemos se agregado a ideia em que institui-se a ideia de “audiéncia cativa”* proposta pelo texto. Porém, o que se pretende neste artigo € demostrar como este movimento se utiliza de um discurso tao ideolgico quanto qualquer outro para colocar a escola em situacdo de constrangimento e ao mesmo tempo propagar concepcées preconceituosas dirigidas a determinados grupos socialmente marginalizados, mantendo relaces desiguais e aprofundando 0 racismo na sociedade brasileira. Nosso argumento é que neste momento precisamos questionar como as discursivas do Movimento Escola Sem Partido impactam os direitos humanos e também. desvelar como diversidade étnico-racial compée este ataque que tem sido percebido por quem se opdem como um ataque a liberdade de catedra, porém pouco se tem dito sobre o viés racista que 0 movimento tem e como isso afronta as conquistas recentes grupo no Ambito da educacao, ou seja, nao é apenas os temas relativos a n-lhe aversio também as vitorias legais que as politicas afirmativas obtiveram nas Ultimas trés décadas junto ao Estado brasileiro. Apesar de negros e negras representarem a maior parte da populacao brasileira. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios Continua de 2016 sao pardos 45,3% e pretos 8,2%, ou seja 53,5% da populacao brasileira s4o negros (pretos mais pardos), quando buscamos indicadores sobre qualidade de vida ¢ este grupo que esta em desvantagem. Apenas para citar como exemplo, a violéncia que acomete os homens negros em sua maioria jovens € assustadora. Segundo dados apresentados pelo Atlas da Violéncia 2018 e divulgados pela plataforma politica Juventudes contra Violéncia “Das 61.283 mortes violentas ocorridas em 2016 no Brasil, a maioria das vitimas sao homens (92%), negros (74,5%) e jovens (53% entre 15 e 29 anos).”> Diante destas situacdes as acdes afirmativas proporcionam a abertura de oportunidades de acesso e ascensdo para a populacao negra desfavorecida historicamente Cerca de 150 mil estudantes negros ingressaram em instituicdes federais de ensino superior nos ultimos trés anos pela Lei de Cotas. 0 numero é uma projecao da Seppir (Secretaria de Politicas de Promocao da Igualdade Racial), da Presidéncia da Republica. A lei esta sendo cumprida pelas 128 instituices federais de ensino. Em 2013, 33% das vagas eram destinadas a cotistas, de forma que 17,25% deles eram negros. Em 2013, foram 50.937 vagas para negros € em 2014. A lei reserva no minimo 50% das vagas das instituicées. federais de ensino superior e técnico para estudantes de escolas publicas. Parte dessas vagas devem ser preenchidas por candidatos autodeclarados pretos, pardos, indigenast® [...] (VOL, 2015, p. 1). Esses resultados sao motivadores, pois atestam que a busca por espacos, a resistencia dos movimentos sociais, as politicas publicas educacionais e a luta de ‘classes, enfim, produzem resultados positivos. Porém, também, o que se percebe é quem sem movimentos continuos esta parte da populacao nao acessa espacos s de privilégio social. O racismo se espreita por entre os espacos 0 que 3 tum esforco bem maior da comunidade negra para garantia de seus direitos. — fosso racial que opera na organizacao e producao de polit Latuando em esferas politicas, educacionats, artisticas, t gicas 0 que colabora na representacao e na superacdo de certos paradigmas que _ envolvem esta populacao. Porém, a situacdo ainda esta longe de ser a ideal. E preciso ‘continuar na tuta por melhor acesso aos bens culturais, econdmicos e politicos. Algumas leis aprovadas nas Ultimas décadas representam um avanco nestas Conquistas € garantia de direito, como é o caso da L 10.639/037 que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de historia e cultura africana e afro-brasileira nas escolas e também da ja cita “Lei das Cotas” que organiza um sistema de cotas, assim como o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10). Esta possibilidade de avanco legal no campo educacional, especialmente, a partir da Constituicao Federal (CF) de 1988, na qual os movimentos sociais negros Conseguiram do inscrever 0 racismo como um crime. Nesse sentido, ao assumir Constitucionalmente que vivemos em um pais racista temos ao mesmo tempo a Possibilidade de constituirmos agdes que busquem a ruptura desta situacdo e o fortalecimento de uma ala conservadora que faz um movimento contrario as conquistas, por que nao quer manter os privilégios materiais e simbélicos nas maos de quem sempre esteve com eles. E @ neste contexto que surge o Movimento Escola sem Partido (ESP), com tom conservador se posicionando contra a diversidade, primeiramente apelando para a pauta de costumes e atacando o avanco das conquistas no 4mbito da sexualidade, mas de forma sutil incluindo cruzada contra a diferenca como um direito humano o patriménio cultural afro-brasileiro como parte do seu catalogo de agressdes. A fim de explicitarmos como os ataques a diversidade trazidos pelo ESP alcangam a as relacdes étnico-raciais e tem ganho repercussio optamos por apresentar como exemplo memes® que o ESP divulga. Sem condi¢ao de esgotar as varias possibilidades de observacao e leitura dos termos e imagens que ja pudemos le- __ 7. Lei 10.639/2003 alterou a Lei 9.394/1996, foi modificada pela Lei 11.645/2008, esta estabelece - ®s bases da educagao nacional, fncluir no curriculo oficial da rede de ensino ‘obrigatoriedade da tornando obrigatorio 0 ensino de historia e 26A da LDB) € incluindo 0 dia 20 de novembro no calendario nestes exemplificam bem nossa tese de que, embora, ainda pouco 0 patriménio cultural afro-brasileiro é parte do discurso de ddio que vem disseminado por este movimento e precisam ser observados e compreendidos.. Conforme Penna (2017), salienta no discurso do Movimento Escola sem Partido (ESP)? ha quatro principais elementos: concep¢ao de escolarizacao, desqualificagao do professor, estratégias discursivas fascistas e a defesa do poder total dos pais sobre os seus filhos. Van Dijk (2015) afirma que 0 discurso pode servir como ferramenta de analise, pois este € uma forma de poder, alterando a percepcao de fatos e, consequentemente, controlando a a¢ao dos individuos envolvidos e Marcuse (1973) nos alerta “O véu tecnolégico esconde a reproducdo da desigualdade e da escravizacdo” (p. 49), sdo estas bases tedricas que nos auxiliaram na andlise dos memes e serdo apresentadas como parte deste artigo. Antes tratamos de situar 0 Movimentos Escola sem Partido. Contextualizando o Movimento Escola sem Partido Em 2004 0 advogado e procurador de Justica de Sao Paulo Miguel Nagib, cria 0 movimento Escola Sem Partido, segundo ele “para que a Constituicao seja respeitada dentro dessas diminutas fracdes do territério nacional que sao as salas de aula” (ESP, 20--, sp). © movimento permanece por aproximadamente 11 anos sem grandes repercussdes, porém adquiriu uma amplitude nacional 2 medida em que toma forma “A onda conservadora é um prenuncio dos massacres aos direitos sociais e humanos que estao em franca destruicao no Brasil.” (SOARES, p.272, 2017) e projeto com base nas ideias de Nagib comecam a ser apresentados varias assembleias e cdmaras como projetos de lei. Em 2014 surge 0 Projeto de Lei (PL) 2974/2014 formulado por Nagib por ne cultura, sustentabilidade e modos de vida ‘o projeto é apresentado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) propondo a criacdo do Programa “Escola sem Partido”. Ainda em 2014 0 vereador Carlos Bolsonaro apresentou a Camara dos Vereadores do Rio de Janeiro um projeto similar ao apresentado estadualmente, 0 PL 67/2014". E em 23/03/2015" o deputado Izalci Lucas (PSDB/DF) lanca 0 projeto 867/2015, que visa incluir o Programa Escola Sem Partido nas diretrizes e bases da educagao nacional. Ha proliferagao de proposicées. Na Camara dos Deputados sao sete os projetos anexados ao 7180/1 867/15, 7181/14, 6005/16, 1859/15, 5487/16. 8.933/2017 e 9.957/2018. Na sequéncia ha um breve resumo das propostas dos projetos. O projeto PL 867/2015 que alteraria a LDB, propde ensino sem “ideologia”. O 7181/2014 trata de alterar os Parémetros Curriculares Nacionais e 0s coloca em carater normativo, propde definir e separar bem os deveres da familia e os da escola. Ja 0 projeto de Le1859/2015 mudaria a LDB, proibindo que os temas sobre género facam parte das diretrizes do ensino nacional)’. O PL 5487/2016 tem por objetivo instituir a proibicdo de orientagao e distribuicao de livros as escolas publicas pelo Ministério da Educacdo e Cultura que verse sobre diversidade sexual para criancas e adolescentes'*. Em uma direcdo contraria aos projetos citados, apenas o PL n® 6.005/2016 busca garantir o pluralismo de ideias no ensino e a livre manifestacao do pensamento, entre outros direitos dos alunos, dos professores e dos pais ou responsaveis. No PL n® 8.933/2017 a intengdo ¢ incluir um dispositive na LDB que é necessario a autorizacéo dos pais para o ensino sobre educacao sexual e o PL n° 9.957/2018 pretende vedar ao professor a promocao de seus proprios “interesses, “opiniées, concepcées ou preferéncias ideolégicas, religiosas, morais, politicas e partidarias entre outras questdes envolvendo discussao de género”. No Senado Federal havia 0 Projeto de Lei do Senado (PLS) 193/16, que visava incluir entre as di - is do escola sem partido, http://www.eps}v.fiocruz.br/noticias/reportagem/por-tras-do-escola- ~ 1 Coléquio Nacional sobre Curriculo, Territério e Diversidade Etnico-Cultural, 1 Simpésio Nacional sobre Religiosidades Populares e Identidades Coletivas, 1 Seminario Regional sobre Povos Originarios: 4 cultura, sustentabilidade e modos de vida retrizes e bases da educacao nacional, de que trata a Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, o "Programa Escola sem Partido” de autoria do senador Magno Malta (PR-ES) que foi retirado de pauta em 21 de novembro de 2017 pelo seu autor. deputado Erivelton Santana (PEN-BA) propée o PL 7180/14, que pretende incluir entre os principios do ensino, “o respeito as conviccdes do aluno, de seus pais ‘ou responsaveis, dando precedéncia aos valores de ordem familiar sobre a educa¢ao escolar nos aspectos relacionados a educa¢ao moral, sexual e religiosa”'®. Estima-se que mais de 150% projetos entre nacional, estaduais e municipais com teor semelhante foram formuladas. Atualmente as ideias do movimento é crescente visto ‘que 0 conservadorismo tem ganho cada vez mais adeptos. Tais proposicées, no contexto do exposto na Consituicao de 1988, sao inconstitucionais, pois ferem ainda a Lei de Diretrizes e Base da Educacao (LDB, 9394/96), Plano Nacional de Educacao (PNE/13005 de 2014), o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10). Porém, isso nao tem impedido de em alguns municipios projetos semelhantes serem aprovados pelas cdmaras. Em Alagoas, o projeto com nome “Escola Livre” foi aprovado, é lei, também ha leis aprovadas em Santa Cruz do Monte Castelo/PR, assim como em Picui/PE. Em ambito estadual em Goias e no Parana projetos foram retirados de tramitacao, tendo muita oposicao organizada de sindicatos de professores. ‘A concepcao dos projetos defendida pelo ESP ¢ de retirar do professor a liberdade de expressao em sua pratica docente, levando alunos e familiares a denunciarem os professores, criminalizando o debate sobre os problemas sociais em sala de aula e gerando relagées de desconfianca entre alunos e professores. Barbosa, So ereablissce emador ae vids” dos ataques aos professores, uso do site para divulgagao de mensagens a educacdo, os educadores e coloca a sociedade contra a educacao hé 0 memes que também propagam mensagens que criminalizam a escola, os ntos sociais, as lutas de classe e o sistema de cotas raciais, entre outras pautas relativas a diversidade. Eos memes? 0 eles nos falam. Os memes veiculados pelo ESP séo modos de comunicacao que trazem mensagens. E um tipo de discurso Esse discurso utiliza-se de uma linguagem proxima a do senso comum, Fecorrendo a dicotomias simplistas que reduzem questdes complexas a falsas alternativas e valendo-se de polarizagoes ja existentes no campo politico para introduzi-las e reforga-las no campo educacional. (FRIGOTTO, 2017, p. 35) 0 que Frigotto nos chama atencao também se aplica ao recurso que movimento tem utilizado para disseminar sua perspectiva de escola e de sociedade. Ha varios memes, porém por conta do tempo para analise selecionamos dois que nos parecem ser bons representantes do que queremos chamar a atencao, isto é, que as politicas afirmativas e a questao racial fazem parte dos ataques gestados por este movimento. ‘A seguir apresentamos 0 primeiro meme que foi retirado da pagina oficial do Facebook administrada pelo movimento. ‘Ocupando 0 topo do prédio da escola, existe um monstro alado: em seu Peitoral esta escrito “movimentos socias” e em cada uma das asas, “luta de Classes” © “ideologia de género”. Existem placas explicitando quatro elementos proibidos na frente da escola: a Cruz, a Estrela de David, um corago e um cérebro. A escola representada como um espaco terrivel de corrupgao dos inocentes. E quem sdo os agentes desta corrupcéo? Os Professores. (PENNA, 2015, sp) Observa-se nesta imagem varias ideias entre elas a desvalorizacéo dos Movimentos sociais e da luta de classes, pois a mensagem apresentada coloca estas Categorias como questées dominantes dentro da escola, enquanto isso satiriza os conhecimentos dos personagens que representam os ex-presidentes Lula e Dilma por no dominar a escola que representa a educacao brasileira, ou seja, induz a quem vé Concluir que estes dois governantes ao invés de colaborar para que a escola cumprisse seu papel de produ¢ao do conhecimento ajudaram a escola a disseminar uma certa concep¢ao de educaco que nao contribui para a aprendizagem, funcdo precipua desta instituicao. Quem acompanha os movimentos sociais no Brasil, sabe que o Movimento Negro é um dos mais atuantes na critica as desigualdades oriundas do racismo, portanto, ao questionar a legitimidade dos movimentos sociais, inclui-se neste grupo o Movimento Negro e todas as lutas que por ele séo pautadas. Os memes no dizem que 0s movimentos sociais existem como uma reacdo as desigualdades que a sociedade mantém e luta pela divisao igualitaria dos bens e conhecimentos produzidos pela humanidade, muitos deles pelo suor dos corpos negros que tem assumido os servicos mais precarios no Brasil. Para Gomes (2012). [...] € importante destacar 0 papel dos movimentos sociais, em particular, do Movimento Negro, os quais redefinem e redimensionam @ questo social € racial na sociedade brasileira, dando-the uma dimensio © interpretacdo. politicas. Nesse proceso, os movimentos socials cumprem uma importante Bes fio 3 deldence © reccerretaalia nie aaa brasileira como, , de reeducagao da populacéo, dos meios e ‘académicos. (GOMES, 2012, p. 1). o Nacional Carcto, Tertroe Diversidad pdsio Nacional sobre Nosidades Populares e ntidades Coletivas, Seminario Regional sobre Povos Originaros: cultura, sustentabilidade e modos de vida tudo ele domina e impossibilita o pensamento, a religiosidade, o amor. A idela aqui é que estimular a concepcéo do bem contra o mal. Este representa os grupos de ‘esquerda que tem o dominio da escola e assim mantem o poder sobre todos. E sabido que nos governos de do Partido dos Trabalhadores (PT), houve alguns avancos nas politicas redistributivas que historicamente tinha limitado acesso ao ensino superior € aos bens produzidos foram contemplados em antigas reivindicagées, ¢ 0 caso, das cotas para as universidades publicas que atualmente tem recorte racial. © segundo meme dialoga com esta realidade produzida pelos governos de esquerda que a ultra-direita do qual o Movimento escola Sem Partido faz, parte. Vejamos GOVERNO DO PT 12 ANOS PRATICANDO BULLYING IDEOLOGICO CONTRA 0S UNIVERSITARIOS BRASILEIROS! Imagem 2: Imagem disponivel na pagina do Facebook do Movimento escola Sem Partido. Fonte: https://www.facebook.com/escolasempartidooictal/posts/539554502862212 I Em observacao a esta imagem, o professor Fernando Penna, que diz que ‘As imagens do professor e da escola/universidade como 0 agente e 0 espaco da corrupcao de menores inocentes estdo se multiplicando nas paginas de defesa a0 projeto escola sem partido. [..] Nesta imagem a campanha de édio dirigida ao Partido dos Trabalhadores e aquela dirigida aos professores € as fescolas/universidades mistura-se. AS universidades, controladas pelo PT, estariam praticando bullying ideoldgico contra os alunos universitarios € transformando-os em militantes com camisas do Che Guevara. € interessante notar que a principal mudanga € que os alunos antes de passarem pela Universidade acreditariam na meritocracia e gostariam de trabalhar no futuro e ‘combateriam a meritocracia e teriam perdido o seu amor que seria substituido pela dependéncia de politicas de agdo ‘cunho social. Esta imagem sozinha poderia ‘a defesa da meritocracia e 0 ataque as politicas de acio tiva, mas vou destacar a imagem da universidade como o espaco de corrupao da inocéncia das criancas. (PENNA, 2015, sp) Observamos, na imagem, pessoas que passam por um processo de transformacao, antes do periodo de uma gestao nacional mais voltada a esquerda, $0 pessoas comuns, saudaveis, tranquilos, interessados e apds 0 periodo de formacao universitaria (sob os governos petistas) passam a ser pessoas estranhas, hipnotizadas, desumanizadas: sem olhos, lingua de fora, expressées abobalhadas, pés virados, cabelos despenteados, deixam de ser “cidadaos de bem”, como atualmente a extrema direita se auto proclama, pacificos e se transformam em militantes defensores de | politicas sociais que contrariam o principio da meritocracia, do esfor¢o. Observa-se na imagem a sugestao de mudanca de concepgao de vida. Antes dentro de uma normalidade, prontos ao esforco individual, fazendo jus a meritocracia, vencer na vida, querer estudar e trabalhar para ter suas conquistas pessoais com esforco proprio. Depois, sujeitos que reivindicam por bolsa militante, por cotas, que culpa a elite branca retrograda (ambas pautas muito presentes nas lutas do Movimento Negro) e deixa de valorizar as conquistas por meritocracia. “As analogias desumanizantes sao ainda mais agressivas nas redes sociais, na forma de memes.” (FRIGOTTO, 2017, p. 43) Ha na mensagem da imagem uma rejeicao as pautas dos movimentos sociais e uma indugdo param nao analisa a imagem que eles defendem a diversidade e a ‘esquerda a uniformizacao. (Os memes, imagens acompanhadas de breves dizeres, tém uma grande importancia nesse discurso simplista. Ent&o, nos nao enfrentamos esse discurso e ele cresceu muito, até que projetos de lei, que incorporam as suas ‘ideias, fossem apresentados nacionalmente e em varios estados do pais e nos déssemos conta da ameaca real que ele representava (FRIGOTTO, 2017 p. 35). Com os memes e sua disseminacao observamos que ao invés de possibilitar uma discussao critica com acesso de todos os grupos aos meios culturais historicamente Produzidos pela humanidade, de valorizar e viabilizar 0 acesso e o aprofundamento de yecimentos, 0 que se percebe é justamente o contrario. - ‘democratica. A luz dos estudiosos da Escola de Frankfurt, podemos dizer que esta forma de ataque esta baseada em uma racionalidade instrumental, que nao se permite observar os problemas sociais, as diferencas de classe. Entendemos assim que a proposta do movimento “escola sem partido” aprisiona ainda mais os individuos nos moldes da sociedade administrada, no plano da ndo-liberdade, privando-os do acesso aos instrumentos conceituais ‘que poderiam promover a tomada de consciéncia sobre as condicdes objetivas ‘que 05 aprisionam. (BARBOSA, 2018, p. 4) A industria cultural nao tem interesse em abertura de horizontes, da criticidade. A anulagao gradual do sujeito e sua substituicdo pela quimera maliciosa da objetividade apenas mantém uma imagem do sujeito pré-capitalista para ofuscar a descoberta de que a subjetividade no mais existe, restando apenas lum espaco vazio daquele que ainda é para si, mas nao mais em si, deixando entrever’o quéo absurda é a légica de uma sociedade na qual vida e produtividade estao tao intimamente ligadas que um homem vale de acordo ‘Com 0 que ou quanto produz, em que um ser humano é valorizado de acordo ‘com seu poder aquisitivo. (FIANCO, 2010, p. 3) 0 discurso da educacao pela meritocracia voltada a competi¢ao e 0 pensamento Unico serve para a defesa dos interesses de quem jé tem acesso a todos os bens culturais e econémicos no Brasil e nao deseja alterar esta correlacao de forcas que condena determinados grupo a miséria e ao analfabetismo. Com isto, se reproduz a critica ao acesso a cultura, ao conhecimento que a imagem traz incluindo as politicas afirmativas, como séo as cotas que alterou a composicao dos estudantes na universidade publica e possibilitou outras vozes qualificadas e podendo contestar algumas verdades leva ao esvaziamento das formas de cultura e da valorizacao do discurso hegeménico da elite brasileira. Ela sabe que alterar esta logica desigual pode contribuir com a formacéo do ser humano unidimensional e por isso insiste em direcionar a formacao educacional para o campo do trabalho e da servidao escondidas numa pseudo critica aos valores morais e meritocraticos. S40 questdes que implicam se empenhado de corpo e alma na divulgacao do nosso anteprojeto de lei contra ‘0 abuso da liberdade de ensinar” (ESP, site, p.1). ‘Atualmente, 0 poder politico se afirma através dos seus poderes sobre 0 processo mecanico e sobre a organizacao técnica do aparato. O governo de sociedades industriais desenvolvidas e em fase de desenvolvimento s6 se pode e manter e garantir quando mobiliza, organiza e explora com éxito a produtividade técnica, cientifica e mecanica a disposicao da civilizagdo ] ‘industrial (MARCUSE, 1982, p. 25) | Consideramos estas formas de controle, de dificuldade no acesso e na qualidade de vida e existéncia uma forma de violéncia que se aplica de forma simbélica que como observa Adorno em Minima Moralia, corresponde a vida danificada, em que a racionalidade e a técnica colocam o grupo em posicao de dominacao constante. O que por sua vez nao possibilita a emancipacao. Renata Peres Barbosa (2018) problematiza todo o contexto apresentado e aponta alguns questionamentos Como pensar em um trabatho educativo capaz de instrumentalizar 0s alunos na problematizacao da formacdo cultural atual, na esteira da logica do mercado, estritamente relacionada a praticas excludentes que cristalizam condicées de miséria e desigualdades sociais e culturats, a partir de um viés pragmatico, de ‘cunho positivista que apregoa a formacao em sua dimensdo técnica e adaptativa, como € 0 caso dos pressupostos do movimento escola sem partido? Como falar em direito & educacdo, em emancipacao e liberdade, em direitos humanos, a partir de uma perspectiva que desconsidera as contradicdes e as lutas sociais? (BARBOSA, 2018, p. 2). Nao se percebe nos objetivos do ESP, assim como nas imagens observadas 0 ‘comprometimento com uma Educacao direcionada para a formacao humana que leve a o de todos, o movimento fez uma escolha sobre quem eles querem educar ‘© racismo na sociedade, o branco é estabelecido como norma de o ha um siléncio como estratégia para negacdo da existéncia do dade (SILVA, 2012). ‘ | Coléquio Nacional sobre Curriculo, Territério e Diversidade Etnico-Cultural, 1 Simpésio Nacional sobre Religiosidades Populares e Identidades Coletivas Seminario Regional sobre Povos Originarios: "oeae cultura, sustentabilidade e modos de vida de pessoas e grupos que se perceberam excluidos socialmente. Os movimentos sociais, de protesto se constituem destas pessoas e grande parte das conquistas foram Possibilitadas por estas lutas que tiveram seu apice na aprovacao da constituicao brasileira de 1988 que progressista, garante muitos direitos humanos e se coloca contra muitas violéncias, mas tudo isso esta em risco na atualidade. Com 0 fortalecimento das ideias presentes no ESP, a educacao brasileira passa Por um retrocesso. A garantia de espaco para as miltiplas formas diversidade ficam Prejudicadas. Esse movimento agride e ameaca a educacao, a sociedade plural e sua diversidade. Reforca a opressio as minorias e nao favorece 0 desenvolvimento critico. Com isto 0 discurso apresentado nos memes provocam implicacdes de [..-] depreciagao supremacista, como a inferioridade intelectual, moral & biologica do outro através dos discursos influenciaram e continuam influenciando a opinido publica, dando origem a representacdes sociais amplamente compartilhadas. Ha uma continuidade da tradigao sociocultural de imagens negativas sobre 0 outro que explicam a persistencia dos padrdes dominantes de representa¢ao no discurso contemporaneo. (ANDRIGHETTO, 5/ 4,p.2) O poder da propaganda e das ideias divulgadas pela midia pode chegar a muitos leitores com tendéncia a confirmar a representacéo social e cultural que séo compativeis com ideologia conservadora e supremacista (DIJK, 2015), que por sua vez desenvolve e mantém 0 homem unidimensional. preciso estarmos atentos aos ataques a diversidade trazidas por este movimento nas suas formas mais evidentes, mas também nas sutilezas dos discursos imagéticos. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS: ANDRIGHETTO, Aline. OS DIREITOS HUMANOS COMO INSTRUMENTO DE PROTECAO. ‘CONTRA O DISCURSO DE INFERIORIZAGAO. 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