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Introdução
1
Disponível em:
https://canaltech.com.br/comportamento/Ibope-15-milhao-de-brasileiros-se-informam-atraves-d
os-meios-digitais/.
2
Disponível em:
https://olhardigital.com.br/2019/02/01/noticias/pesquisa-aponta-sete-em-cada-dez-brasileiros-s
e-informam-pelas-redes-sociais/.
Google (KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020, p. 127). Ou seja, o brasileiro é, cada vez
mais, um leitor de mídias sociais.
Ademais, o embate entre os meios tradicionais e o Facebook, por exemplo,
evidencia a desigualdade de forças crescentes em que as organizações jornalísticas
ficam em posição desfavorável frente aos gigantes da tecnologia que permanecem
avançando no cenário mundial. Segundo Marcelo Kischinhevsky e Renata Fraga
(2020, p. 127) o poder de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, é muito maior
do que qualquer dono de jornal jamais sonhou. Logo, estes novos grandes
intermediários, como as plataformas digitais “passam a capitalizar audiências cada
vez mais massivas, oferecendo plataformas digitais que acirram o processo de
commoditização das informações jornalísticas e operam uma dataficação da vida
cotidiana” (KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020, p. 127).
Além disso, as plataformas têm controle sobre o que se torna visível ou não
na Internet para os usuários. Recentemente, em 2018, o Facebook anunciou uma
mudança em sua política de publicação para privilegiar postagens de amigos e
parentes e dar menos espaço para marcas ou empresas de notícias.3 Dessa forma, a
medida afeta organizações de mídia e empresas que usam o Facebook para
compartilhar seus conteúdo, como páginas de jornais. Dentro dessa lógica, Marcelo
Kischinhevsky e Renata Fraga (2020) afirmam que
3
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/facebook-vai-privilegiar-posts-de-amigos-parentes-noticias-te
rao-menos-espaco-22280790.
(2020, p. 131), com a justificativa de restringir o acesso a páginas de “baixa
qualidade” e a conteúdos “caça-cliques”, o algoritmo do Facebook foi sendo
modificado, mas “o resultado mais evidente acabou sendo a invisibilidade, para
bilhões de usuários, dos conteúdos produzidos no âmbito do jornalismo
profissional e mesmo por coletivos independentes de jornalistas e outros
movimentos sociais”.
Nesse sentido, Tarleton Gillespie (2018, p. 96) ao verificar como os
algoritmos são convocados, recrutados e negociados, aponta que “os algoritmos
exercem uma função crescentemente importante em selecionar qual informação
deve ser considerada mais relevante para cada usuário”. Ou seja, é um elemento
chave do sistema informacional e das formas culturais. Para isso, conforme o autor,
os sites antecipam as ações do usuário quando o algoritmo é acionado, o que
requer o conhecimento coletado naquele momento e as informações já acumuladas
sobre o usuário. Estes, podem não estar cientes de que suas atividades estão sendo
rastreadas e mesmo quando tem consciência, os usuários têm pouco ou nenhum
meio para contestar este acordo (GILLESPIE, 2018, p. 101-102). Dessa forma, ao
agir e propor um recorte específico da realidade para cada usuário, os algoritmos
afetam a maneira com a qual as pessoas procuram as informações, como percebem
e pensam sobre os horizontes de conhecimento, além de afetar sua compreensão
no discurso político (GILLESPIE, 2018, p. 110).
Ademais, conforme aponta Gillespie (2018, p. 114), com as ferramentas de
busca contemporâneas, os resultados são postos de forma diferente para cada
usuário, de acordo com as suas preferências. Sendo assim, as histórias expostas, a
partir dos filtros do algoritmo, são apresentadas de forma distinta para cada
usuário. Nesse sentido, segundo o autor, “somos levados - por algoritmos e por
nossa própria preferência - para dentro de ‘filtros-bolha’, onde encontramos apenas
as notícias que esperamos encontrar” (GILLESPIE, 2018, p. 114). Portanto, os
algoritmos operam em prol de um olhar limitado do usuário para a realidade em
sua totalidade.
Eli Pariser (2012) também aborda a chamada bolha dos filtros, a partir da
personalização, do monitoramento e da mediação algorítmica nas plataformas
digitais. Segundo o autor, as bolhas condicionam significadamente o acesso a ideias
e informações e, consequentemente, exercem influência sobre a forma como
experimentamos e construímos nossa visão de mundo. Isso acontece porque, na
lógica das plataformas digitais, opiniões divergentes, em postagens com as quais
não interagimos, por sua vez, desaparecem da nossa linha do tempo. O mesmo
acontece com as informações. Com os meios tradicionais (como rádio, televisão e
jornal impresso) o cidadão tinha acesso às informações diárias na sua totalidade
ou, pelo menos, a parte mais relevante dela. Um telejornal, por exemplo,
costumeiramente é dividido por editorias que seguem uma organização das
notícias (que geralmente começa com o acontecimento do dia e termina na seção
esportiva). Dessa forma, mesmo que determinado cidadão não goste de economia,
ele terá acesso às informações relacionadas ao assunto, caso consuma notícias pelo
tradicional telejornal. Logo, teria o entendimento das últimas informações da
sociedade como um todo, mesmo que não se aprofunde em determinados assuntos.
Com as redes sociais, forma mais usada pelos brasileiros para se informar, a
lógica de consumo de informações não é a mesma. Os filtros e normas das redes
sociais acabam restringindo o alcance de diversas publicações que não vão de
encontro aos gostos do usuário mas que são fundamentais para a construção de
um olhar crítico da sociedade pensando fora da atuação algorítmica. Segundo Eli
Pariser (2012, p. 18), “a bolha de filtros [...] gera consequências sociais, que surgem
quando uma massa de pessoas começa a viver uma existência filtrada”. Um fã de
esportes, por exemplo, será alimentado principalmente por postagens deste cunho
na rede social, tendo assim, uma visão limitada a outras editorias importantes na
composição da sociedade.
Ademais, nesse contexto de bolhas e polarizações políticas, crescem o
anti-intelectualismo e o desprezo pelo jornalismo profissional. Segundo Pariser
(2012), esvazia-se o status da produção de notícias, que nos oferecia experiências e
conhecimentos em comum sobre os acontecimentos e ajudava a moldar nossa
visão de mundo – mesmo que pontualmente discordassem do enquadramento
adotado por determinados veículos. Além disso, o autor ainda lembra que, cada vez
mais, temos acesso apenas a conteúdos que reiteram nossas opiniões, identificadas
a partir das normas algorítmicas que filtram nossas interações com outros
usuários das redes sociais.
4 Considerações Finais
MORETZSOHN, Sylvia Debossan. O Joio, o Trigo, os Filtros e as Bolhas: uma discussão sobre
fake news, jornalismo, credibilidade e afetos no tempo das redes. Brazilian Journalism
Research, Brasília, v. 15, n. 3, p. 574-597, 2019. Disponível em: <https://bjr.sbpjor.
org.br/bjr/article/view/1188/pdf_1>. Acesso em: 03 fev. 2021.
PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Editora
Schwarcz-Companhia das Letras, 2012.