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Alterações nos modos de se informar a partir da tecnologia e a

(re)construção da atuação jornalística


 
 
IMMIG, Thais
Universidade Federal de Santa Maria
 
Resumo: O presente ensaio observa as alterações no modo de se informar a partir da tecnologia e
advento da Internet. Os meios tradicionais, como o rádio e a televisão, dividem espaço com as
plataformas digitais que figuram entre as formas mais corriqueiras de acesso à informação na
sociedade atual. A partir disso, busca-se a reflexão de como esse cenário está relacionado à
ascensão das tecnologias na contemporaneidade, além de pontuar a atuação do jornalista no
contexto de desinformação e fake news proveniente das redes. Entende-se que, além das mudanças
no consumo de informação, a mediação algorítmica nas plataformas digitais cria bolhas a partir dos
filtros que condicionam significadamente o acesso a ideias e informações. Portanto, as bolhas,
consequência das novas formas de se informar, exercem influência sobre a forma como os cidadãos
experienciam a realidade e constroem sua visão de mundo.
 
Palavras-chave: Jornalismo; Facebook; Algoritmo; Informação; Desinformação; Atuação
jornalística.

Introdução

Desde o advento da tecnologia e sua utilização na sociedade, estabelece-se


uma nova era em que, a Internet, se apresenta como uma revolução no cotidiano do
mundo contemporâneo. Sua utilização permite, por exemplo, organizar,
transformar e processar as informações em velocidade e capacidade cada vez
maiores e com custos cada vez mais reduzidos. Uma rede de recuperação e
distribuição que pode beneficiar tanto aqueles que produzem tais informações
quanto aqueles que se utilizam dela. Criada originalmente por militares
americanos no final dos anos 60, a Internet começou interconectando dez
computadores. Atualmente, sessenta anos mais tarde, a tecnologia, a Internet e,
recentemente, os algoritmos são palco de debates que permeiam as discussões
contemporâneas. Logo, é preciso pensar a Internet como um fenômeno crescente
na sociedade. Isso porque, segundo um relatório apresentado pelo Pew Research
Center’s Project for Excellence in Journalism relativamente a 2010, a Internet foi,
pela primeira vez, a principal fonte de informação dos norte-americanos, sendo o
único meio que cresceu no respectivo ano.
Dessa forma, é inegável que as novas formas de comunicação têm
consequências na sociedade, de um modo geral, e no jornalismo, em particular. O
aparecimento de um novo meio é normalmente sinônimo de mudanças e
transições importantes, obrigando a repensar as formas de comunicação
anteriores (RODRIGUES, 2013, p. 30). Assim, o objetivo do estudo é refletir sobre o
consumo de informação e atuação do jornalista nesse cenário de ascensão da
tecnologia. Para isso, divide-se em quatro seções. A introdução apresenta
características do ensaio. Em seguida, na seção 2, a partir de Marcelo
Kischinhevsky e Renata Fraga (2020) e Tarleton Gillespie (2018), aborda-se as
novas formas de se informar a partir da ascensão das tecnologias, principalmente a
Internet. Além disso, reflete-se sobre as consequências diante desse cenário, como
a formação de bolhas a partir da restrição de conteúdos de acordo com as
afinidades do usuário. Na seção 3, sobre a atuação dos jornalistas frente às fake
news e a desinformação, compreende-se as mudanças na rotina jornalística diante
do papel fundamental na checagem de informações. Na seção, aborda-se, também,
a importância da permanente reciclagem e atualização dos profissionais diante do
cenário jornalístico que vem sempre se modificando. Por fim, nas considerações
finais são observadas as mudanças no consumo de informação, a partir da Internet,
e a influência em diversos aspectos da atualidade, seja no olhar crítico da
sociedade, seja na atuação dos jornalistas.
Buscou-se, a partir das observações do presente ensaio, refletir sobre as
mudanças nas formas de se informar frente às novas tecnologias e as plataformas
digitais que permeiam a vida cotidiana atual. Além disso, é preciso observar que
“as novas tecnologias desafiam o entendimento tradicional do jornalismo”
(RODRIGUES, 2013, p. 31 apud Josephi, 2005, p. 587-588). Porém, mais importante
que pensar nas peculiaridades das mudanças tecnológicas é a forma como os
cidadãos se apropriam socialmente das novas ferramentas que vão surgindo, bem
como os jornalistas se adaptam frente às mudanças na profissão e nas formas de se
informar.
2 Novas formas de se informar

A principal função do jornalista é de “dizedor de verdade” e, portanto, deve


estar apoiado num trabalho de verificação (REGINATO, 2019, p. 40). Isso porque,
conforme aponta Luiz Beltrão (1976 apud REGINATO, 2019, p. 33), o jornalismo
cumpre importante papel na sobrevivência do homem e da sociedade, pois sem o
conhecimento da atualidade, sequer por um dia, mesmo por horas, a vida social
mergulharia no caos. Sendo assim, diariamente os veículos de comunicação
constituem a realidade a partir de acontecimentos em evidência. Logo, uma das
principais preocupações e utilidades do jornalismo é informar a partir de critérios
fundamentais para a noticiabilidade de um fato: a novidade, o extraordinário e o
singular.
Mesmo que o papel de informar seja atribuído ao jornalismo desde os
primórdios da profissão, as formas de acesso às informações se alteraram ao longo
do tempo. Desde a invenção da prensa de Johannes Gutenberg - que possibilitou
que o trabalho que antes era realizado manualmente pudesse ser feito por
máquinas, tornando a publicação de livros e de jornais muito mais ampla, rápida e
barata - o jornalismo se consolida nos meios tradicionais como o jornal impresso e
posteriormente, através do rádio e da televisão. Sendo assim, até o século XX era
um processo linear que se dava a partir da produção e consumo de informações
diante da circulação das notícias e atuação do jornalismo na sociedade.
A partir da ascensão das Internet - por volta de 1969 - e, posteriormente das
redes sociais, a televisão divide com o online a preferência da população no que diz
respeito ao consumo de informações. Uma pesquisa divulgada recentemente pelo
Target Group Index, do Ibope, aponta que 1 milhão e meio de brasileiros se
informam apenas em meios digitais1. Outra pesquisa recente da Hello revela que
sete em cada dez brasileiros se informam pelas redes sociais2. Sendo assim,
percebe-se, atualmente, uma tendência crescente de consumo de notícias através
das chamadas mídias sociais e de plataformas agregadoras, como Facebook e

1
Disponível em:
https://canaltech.com.br/comportamento/Ibope-15-milhao-de-brasileiros-se-informam-atraves-d
os-meios-digitais/.
2
Disponível em:
https://olhardigital.com.br/2019/02/01/noticias/pesquisa-aponta-sete-em-cada-dez-brasileiros-s
e-informam-pelas-redes-sociais/.
Google (KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020, p. 127). Ou seja, o brasileiro é, cada vez
mais, um leitor de mídias sociais.
Ademais, o embate entre os meios tradicionais e o Facebook, por exemplo,
evidencia a desigualdade de forças crescentes em que as organizações jornalísticas
ficam em posição desfavorável frente aos gigantes da tecnologia que permanecem
avançando no cenário mundial. Segundo Marcelo Kischinhevsky e Renata Fraga
(2020, p. 127) o poder de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, é muito maior
do que qualquer dono de jornal jamais sonhou. Logo, estes novos grandes
intermediários, como as plataformas digitais “passam a capitalizar audiências cada
vez mais massivas, oferecendo plataformas digitais que acirram o processo de
commoditização das informações jornalísticas e operam uma dataficação da vida
cotidiana” (KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020, p. 127).
Além disso, as plataformas têm controle sobre o que se torna visível ou não
na Internet para os usuários. Recentemente, em 2018, o Facebook anunciou uma
mudança em sua política de publicação para privilegiar postagens de amigos e
parentes e dar menos espaço para marcas ou empresas de notícias.3 Dessa forma, a
medida afeta organizações de mídia e empresas que usam o Facebook para
compartilhar seus conteúdo, como páginas de jornais. Dentro dessa lógica, Marcelo
Kischinhevsky e Renata Fraga (2020) afirmam que

a mudança de algoritmo causou impacto negativo para organizações


jornalísticas tradicionais na plataforma, e a última decisão de Mark
Zuckerberg de mudar o foco de circulação de informações jornalísticas
para conversas e interesse privado indica que o compartilhamento de
notícias e comentários tende a se tornar ainda menos aberto e
transparente (KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020, p. 129)

Ainda segundo os autores, a alteração faz com que as empresas de


tecnologia subvertam a lógica do jornalismo industrial e detenham o controle
sobre o que se torna visível ou não na Internet para os usuários. Nesse cenário,
houveram mudanças significativas também para o jornalismo independente que,
com o crescimento das redes sociais como agregador de informações, encontrou
novos meios de exercer seu papel enquanto veículo mas se vê barrado pelos
algoritmos e lógicas do Facebook. Segundo Marcelo Kischinhevsky e Renata Fraga

3
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/facebook-vai-privilegiar-posts-de-amigos-parentes-noticias-te
rao-menos-espaco-22280790.
(2020, p. 131), com a justificativa de restringir o acesso a páginas de “baixa
qualidade” e a conteúdos “caça-cliques”, o algoritmo do Facebook foi sendo
modificado, mas “o resultado mais evidente acabou sendo a invisibilidade, para
bilhões de usuários, dos conteúdos produzidos no âmbito do jornalismo
profissional e mesmo por coletivos independentes de jornalistas e outros
movimentos sociais”.
Nesse sentido, Tarleton Gillespie (2018, p. 96) ao verificar como os
algoritmos são convocados, recrutados e negociados, aponta que “os algoritmos
exercem uma função crescentemente importante em selecionar qual informação
deve ser considerada mais relevante para cada usuário”. Ou seja, é um elemento
chave do sistema informacional e das formas culturais. Para isso, conforme o autor,
os sites antecipam as ações do usuário quando o algoritmo é acionado, o que
requer o conhecimento coletado naquele momento e as informações já acumuladas
sobre o usuário. Estes, podem não estar cientes de que suas atividades estão sendo
rastreadas e mesmo quando tem consciência, os usuários têm pouco ou nenhum
meio para contestar este acordo (GILLESPIE, 2018, p. 101-102). Dessa forma, ao
agir e propor um recorte específico da realidade para cada usuário, os algoritmos
afetam a maneira com a qual as pessoas procuram as informações, como percebem
e pensam sobre os horizontes de conhecimento, além de afetar sua compreensão
no discurso político (GILLESPIE, 2018, p. 110).
Ademais, conforme aponta Gillespie (2018, p. 114), com as ferramentas de
busca contemporâneas, os resultados são postos de forma diferente para cada
usuário, de acordo com as suas preferências. Sendo assim, as histórias expostas, a
partir dos filtros do algoritmo, são apresentadas de forma distinta para cada
usuário. Nesse sentido, segundo o autor, “somos levados - por algoritmos e por
nossa própria preferência - para dentro de ‘filtros-bolha’, onde encontramos apenas
as notícias que esperamos encontrar” (GILLESPIE, 2018, p. 114). Portanto, os
algoritmos operam em prol de um olhar limitado do usuário para a realidade em
sua totalidade.

2.1. BOLHAS E DESINFORMAÇÃO COMO CARACTERÍSTICAS DAS


PLATAFORMAS DIGITAIS
Diante do cenário de filtros e normas criadas nas plataformas digitais, o
Facebook, por exemplo, vem sendo criticado por criar “bolhas”, em que as ideias
são reforçadas por pensamentos semelhantes de postagens de amigos na rede
social. Isso acontece porque, com a justificativa de melhorar a experiência na
plataforma, o Facebook limita o alcance a diversas publicações que estariam fora
dos padrões de consumo do usuário. Logo, esses filtros impostos pelos algoritmos
restringem a atuação na plataforma e desfavorecem as informações jornalísticas,
por exemplo, por não ir de encontro aos padrões criados a partir da aproximação e
gostos de cada usuário. Nesse sentido, Marcelo Kischinhevsky e Renata Fraga
(2020) enfatizam que

as postagens de empresas de mídia desaparecem do feed de notícias -


seção do perfil pessoal de cada usuário da plataforma alimentado pelas
postagens de outros usuários com os quais mantêm laços - a menos que
sejam impulsionadas, ou seja, que as empresas paguem para atingir
públicos mais amplos, ou que o usuário altere as configurações habituais
para visualizá-las primeiro. (KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020, p. 130)

Eli Pariser (2012) também aborda a chamada bolha dos filtros, a partir da
personalização, do monitoramento e da mediação algorítmica nas plataformas
digitais. Segundo o autor, as bolhas condicionam significadamente o acesso a ideias
e informações e, consequentemente, exercem influência sobre a forma como
experimentamos e construímos nossa visão de mundo. Isso acontece porque, na
lógica das plataformas digitais, opiniões divergentes, em postagens com as quais
não interagimos, por sua vez, desaparecem da nossa linha do tempo. O mesmo
acontece com as informações. Com os meios tradicionais (como rádio, televisão e
jornal impresso) o cidadão tinha acesso às informações diárias na sua totalidade
ou, pelo menos, a parte mais relevante dela. Um telejornal, por exemplo,
costumeiramente é dividido por editorias que seguem uma organização das
notícias (que geralmente começa com o acontecimento do dia e termina na seção
esportiva). Dessa forma, mesmo que determinado cidadão não goste de economia,
ele terá acesso às informações relacionadas ao assunto, caso consuma notícias pelo
tradicional telejornal. Logo, teria o entendimento das últimas informações da
sociedade como um todo, mesmo que não se aprofunde em determinados assuntos.
Com as redes sociais, forma mais usada pelos brasileiros para se informar, a
lógica de consumo de informações não é a mesma. Os filtros e normas das redes
sociais acabam restringindo o alcance de diversas publicações que não vão de
encontro aos gostos do usuário mas que são fundamentais para a construção de
um olhar crítico da sociedade pensando fora da atuação algorítmica. Segundo Eli
Pariser (2012, p. 18), “a bolha de filtros [...] gera consequências sociais, que surgem
quando uma massa de pessoas começa a viver uma existência filtrada”. Um fã de
esportes, por exemplo, será alimentado principalmente por postagens deste cunho
na rede social, tendo assim, uma visão limitada a outras editorias importantes na
composição da sociedade.
Ademais, nesse contexto de bolhas e polarizações políticas, crescem o
anti-intelectualismo e o desprezo pelo jornalismo profissional. Segundo Pariser
(2012), esvazia-se o status da produção de notícias, que nos oferecia experiências e
conhecimentos em comum sobre os acontecimentos e ajudava a moldar nossa
visão de mundo – mesmo que pontualmente discordassem do enquadramento
adotado por determinados veículos. Além disso, o autor ainda lembra que, cada vez
mais, temos acesso apenas a conteúdos que reiteram nossas opiniões, identificadas
a partir das normas algorítmicas que filtram nossas interações com outros
usuários das redes sociais.

3 Atuação dos jornalistas frente às Fake News e a desinformação

Atrelado a criação de bolhas a partir das lógicas das plataformas digitais, as


fake news e a desinformação também figuram como características dessa nova
lógica de informação. As redes sociais, por exemplo, abrem espaço para a atuação
dos usuários como produtores de informações a partir de seu perfil nas redes. O
papel de informar passa a não se restringir apenas ao jornalismo. Nesse cenário, as
fake news, conforme André Lemos e Frederico Oliveira (2020, p. 195), se definem
como “mensagens falsas que, embora pareçam verdadeiras, são intencionalmente
produzidas com a intenção de influenciar pessoas ou grupos em prol de interesses
específicos, majoritariamente políticos''. Ou seja, são conteúdos com a intenção de
ser falsos, produzidos com objetivos políticos e econômicos com ampla circulação
online e que não se confundem com erros jornalísticos dada sua intencionalidade.
Ao pensar nas bolhas criadas pelas redes sociais, Sylvia Moretzsohn (2019)
aponta que, nesse cenário, as fake news são apresentadas como fatos e verdades
que confirmam as convicções de quem recebe e ajuda a espalhar essas
informações. Ainda conforme a autora, “o que importa, para esse público, não é
discernir o verdadeiro do falso, como estamos acostumados a pensar, mas reiterar
convicções” (MORETZSOHN, 2019, p. 578). Mas, Moretzsohn (2019) alerta que não
se pode simplificar as fake news apenas como resultado da ignorância do público.
Isso porque, essa tática é combinada com outros dois fatores fundamentais: a
exploração de medos arcaicos que afetam a sensação de estabilidade, real ou
imaginário das pessoas. O segundo fator é a estratégia discursiva que sempre parte
de alguma verdade para depois distorcê-la. Portanto, conforme Moretzsohn (2019,
p. 579) aliado aos dois fatores apresentados, há muita ignorância que é cultivada
pela exploração de elementos irracionais associada a uma base argumentativa
objetiva, como ocorre, por exemplo, nas campanhas anti vacinações da Covid-19,
baseados na suspeita dos interesses da indústria farmacêutica aliado a falsos
efeitos colaterais.
Porém, para alguns autores, o termo fake news não é apropriado por não dar
conta de definir o “complexo fenômeno de poluição informativa” e tem sido usado
por políticos como uma maneira de “suprimir, restringir, minar e contornar a
imprensa livre” (DERAKHSHAN; WARDLE, 2017, p. 5). Nesse sentido, eles sugerem
utilizar “desinformação” para o que é falso e feito para atacar alguém, alguma
instituição ou até um país, bem como informação incorreta e má informação como
o conteúdo caracterizado pelas notícias falsas. Conforme André Lemos e Frederico
Oliveira (2020), as fake news têm mobilizado ainda uma ampla preocupação
relacionada aos efeitos cognitivos, sociais, políticos e culturais destes conteúdos. A
literatura, no entanto, reforça a necessidade de ações de combate, seja por meio do
letramento para informação, seja através de políticas de enfrentamento aos seus
aspectos econômicos, ou ferramentas de checagem.
Diante desse cenário em que a desinformação se faz presente na sociedade,
a atuação do jornalista ganha destaque não só pela apuração precisa das
informações mas pelo papel de desconstruir as notícias e apontar suas falhas,
quando houver. No Brasil, diversas organizações como a Comprova ou Fato ou Fake
têm colaborado para o combate de informações falsas, bem como instruído
jornalistas na atuação frente à desinformação. Além disso, há o desafio de construir
notícias a serem circuladas nas redes sociais já que não existe mais uma lógica de
aparecimento das informações no feed de notícias da plataforma digital. Segundo
Marcelo Kischinhevsky e Renata Fraga (2020, p. 131) “o Feed de Notícias
embaralha os sentidos atribuídos aos acontecimentos jornalísticos, nivelados a
informações de interesse privado, entretenimento e mesmo campanhas
deliberadas de desinformação”.
Ainda conforme os autores, as grandes mudanças no cotidiano profissional
dos jornalistas começam, também, com a informatização das redações dos jornais e
revistas no Brasil, iniciada na década de oitenta. Com a introdução dos
computadores, os jornalistas tiveram de se adaptar a uma realidade profissional
que incluía a exigência de maior qualificação, além de intensificação do trabalho.
Nesse sentido, torna-se relevante apontar para a necessidade permanente de
reciclagem para o enfrentamento do cotidiano profissional. (LAGE, 1996 apud
KISCHINHEVSKY; FRAGA, 2020). Logo, essa conduta obriga os profissionais a
acrescentar o manuseio de sistemas informativos e o conhecimento de processos
necessários para atuar da maneira mais eficaz diante da desinformação que
permeia o trabalho cotidiano do jornalista.

4 Considerações Finais

Desde a ascensão da tecnologia, observa-se mudanças nas práticas da


sociedade, inclusive no jornalismo. A praticidade no uso das plataformas digitais
coloca as redes sociais como a principal forma de se informar dos brasileiros, como
apontam diversas pesquisas. Em consequência disso e da atuação do algoritmo,
principalmente no Facebook, parte da população se vê inserida em bolhas de
acordo com suas preferências, ou seja, com o acesso limitado a diversos assuntos
fundamentais na sociedade mas entendidos pela lógica da plataforma como
irrelevantes na experiência do usuário. Portanto, perde-se no que diz respeito à
construção de um olhar crítico a partir da realidade da sociedade apresentada pelo
jornalismo diariamente.
Outra consequência observada no uso excessivo das redes, é a
desinformação. Isso porque, os usuários passam a produzir informações dentro
dessa nova lógica e, pela falta de uma apuração mais detalhada, acabam por
disseminar informações falsas nas redes que logo se propagam diante da
velocidade de circulação de conteúdo nesses espaços. Nessa lógica, além de pensar
em formas de produzir conteúdo específico para essas plataformas, o jornalista
assume um papel fundamental na checagem desse excesso de informações e se
adapta frente às mudanças impostas no jornalismo. Nesse sentido, “as novas
tecnologias possibilitam o aumento de informação, mas que isso não significa
necessariamente melhor informação” (REGINATO, 2019, p. 34). Portanto, o
jornalismo se adapta diante das mudanças impostas na profissão para atender as
demandas da contemporaneamente. Sendo assim, o papel do jornalista é cada vez
mais importante, embora deva ser desempenhado noutros moldes de acordo com a
realidade atual, sem esquecer regras e valores básicos da profissão.
 
 
Referências
GILLESPIE, Tarleton. A relevância dos algoritmos. Parágrafo, v. 6, n. 1, p. 95-121, 2018.

KISCHINHEVSKY, Marcelo; FRAGA, Renata. O jornalismo refém do algoritmo do


Facebook: desafios regulatórios para a circulação de notícias numa sociedade de
plataformas. Fronteiras-estudos midiáticos, v. 22, n. 2, p. 126-136, 2020.

LEMOS, André; OLIVEIRA, Frederico. Fake news no WhatsApp: um estudo da percepção


dos efeitos em terceiros. Comunicação & Sociedade, v. 42, n. 1, p. 193-227.

MORETZSOHN, Sylvia Debossan. O Joio, o Trigo, os Filtros e as Bolhas: uma discussão sobre
fake news, jornalismo, credibilidade e afetos no tempo das redes. Brazilian Journalism
Research, Brasília, v. 15, n. 3, p. 574-597, 2019. Disponível em: <https://bjr.sbpjor.
org.br/bjr/article/view/1188/pdf_1>. Acesso em: 03 fev. 2021.

PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Editora
Schwarcz-Companhia das Letras, 2012.

REGINATO, Gisele Dotto. As finalidades do Jornalismo. Série Jornalismo a Rigor. V. 15.


Florianópolis: Insular, 2019.

RODRIGUES, Catarina. Jornalismo participativo: tecnologia, comunicação e o papel do


jornalista. 2013.

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