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CASO

Semprônio, com grave doença, que impossibilita sua locomoção, qualquer atividade, lhe
causa dores lancinantes e projeta sua morte para futuro próximo, escreve carta dizendo que
quer pôr fim à sua vida. Pede que um dos filhos possa lhe entregar remédio que antecipe sua
morte. O filho Névio, vendo o sofrimento do pai, se dispõe a ministrar-lhe droga que lhe
antecipe a morte. Pede ao Judiciário que o autorize a tanto. O Ministério Público,
funcionando nos autos, é contra a concessão do pedido.

PESQUISA
1. Eutanásia: violação a vida ou modo de preservação da dignidade da pessoa humana?
a. Confronto entre o código penal brasileiro e a Constituição Federal
b. A eutanásia é o exercício do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, uma
vez que o sujeito adulto, dotado de consciência, deve ter o direito de esperar a
morte ocasionada pela doença que possui ou de antecipar o seu falecimento
por causa da situação insuportável e irreversível em que se encontra.
c. As normas jurídicas atinentes à matéria não asseguram a ampla liberdade para
o homem ou para a mulher decidir sobre o que fazer com seu próprio corpo, ao
contrário, restringem-na enormemente. As disposições normativas aplicáveis à
matéria estabelecem proibições genéticas e abrem poucas exceções permitindo
certos atos de disposição sobre o corpo.
d. O direito à morte digna amplia a eficácia do Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana.
e. Descriminalizando a eutanásia com os devidos requisitos para a sua prática, o
Brasil dará um passo a frente no caminho pela defesa da liberdade humana. É
inviável que as pessoas sejam escravas de uma vida irrelevante. No ato da
legalização deve-se observar a opção de cada um, respeitando aqueles que são
religiosos ou simplesmente não concordam com o direito de poder decidir
sobre a própria morte.
f. O direito à vida e o direito à liberdade são direitos que estão contextualizados
em nossa Carta Magna e com certeza são de suma importância para todo ser
humano, mas impor a ideia de que o paciente tem que ser mantido vivo, contra
a sua vontade é algo que afronta a liberdade. Ainda mais em situações
degradantes e sem expectativa alguma de recuperação.
2. Conceito
a. A eutanásia é uma das formas que traz o fim do sofrimento da pessoa que está
em estado terminal de uma doença grave, ou até mesmo de uma pessoa que
está em estado vegetativo.
b. A eutanásia é também conhecida como homicídio piedoso, vez que a morte é
antecipada no caso de uma pessoa que possui uma doença terminal ou
incurável, com o intuito de abreviar o sofrimento da pessoa adoentada por
suicídio assistido, entenda que é uma ação que ocasiona a morte do agente,
onde prevalece a vontade dele.
c. A vida tem seu término, e é preferível que a dor e a angústia sejam a todo
custo eliminadas do processo, onde o indivíduo pode optar pelo direito de
morrer dignamente.
d. A concepção de dignidade da pessoa humana está ligada à possibilidade de a
pessoa conduzir sua vida e realizar sua personalidade conforme sua própria
consciência, desde que não sejam afetados direitos de terceiros. Tal poder de
autonomia pode alcançar também os momentos finais da vida da pessoa.
3. Eutanásia em outros países
a. A Holanda foi o primeiro país a legalizar a prática da eutanásia. Atualmente a
eutanásia é legalmente permitida na Colômbia, Bélgica, Luxemburgo e
Holanda. Diante disso, a pessoa em estágio terminal ou avançado sofrimento
poderia em tese escolher seu destino baseado na dignidade da pessoa humana
e no direito à vida, vez que existem situações em que o tratamento médico,
com o fim de prolongar a vida não apresenta resultados, apenas mantém os
órgãos em funcionamento através de aparelhos; prolongando o sofrimento do
indivíduo, mesmo que inconsciente, e dos familiares, que presenciam
diariamente tal desgaste
b. Na Holanda, as restrições são: a doença deveria ser incurável, o paciente
vítima de dores insuportáveis, sem qualquer perspectiva de melhora, sendo
que o indivíduo deveria ter pleno controle das suas capacidades mentais
4. Projeto de lei
a. Houve um projeto de Lei nº 125/96 de autoria do senador Gilvam Borges, do
PMDB do Amapá, que abordava sobre o tema. Ademais, este projeto de lei,
que buscava legalizar a eutanásia no Brasil tramitou no Congresso, contudo,
nunca foi colocado em votação e restou arquivado em 2013.
5. Código Penal
a. Embora a eutanásia não seja contemplada no ordenamento jurídico pátrio de
forma objetiva, o Código Penal elenca em seu artigo 121, § 1º que "se o agente
comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral [...], o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço". Ou seja, mesmo que seja por
relevante valor moral, o agente será punido pela prática, pois em respeito ao
posicionamento favorável dos doutos doutrinadores, permitir a não punição
geraria desconforto e insegurança, onde a alegação da prática da eutanásia
poderia servir para encobrir outros crimes, a exemplo, o direito sucessório. E
mesmo depois de toda explanação, o art. 122, código penal brasileiro, o
induzimento ou instigar alguém ao suicídio ou prestar auxílio para que o faça,
a pena vai de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
6. Questão religiosa
a. A eutanásia é proibida no país, principalmente, por questões religiosas.
Todavia, concluiu-se que o operador do Direito deve ter um olhar técnico,
permitindo que indivíduos em determinadas situações, com absoluta
integridade mental, possam decidir sobre a continuidade ou o término de suas
vidas.
7. Suicídio x Eutanásia
a. Suicidas são pessoas com desequilíbrio emocional motivado por situações
opostas às daqueles que estão acometidos por uma doença terminal. O
autocida presume que a sua vida chegou ao fim, enquanto o doente é
realmente impossibilitado de viver. Nesse viés, as pessoas que querem se
suicidar precisam de atendimento psicológico e de mais atenção da sociedade,
posto que na maioria das vezes o suicídio advém de barbaridades como o
preconceito, a ignorância e a violência, que permeiam o meio social.
b. Ao decidir pela eutanásia, o indivíduo não está aceitando um simples suicídio,
ele apenas objetiva encurtar uma série de aflições causadas pela ausência de
meios para combater a sua doença. Dessa maneira, é repudiável que pacientes
e familiares sofram pela ineficácia do sistema legislativo brasileiro, que muitas
vezes não dá a devida importância a assuntos tão relevantes como a eutanásia
8. Pena de morte em guerra
a. O Direito à vida é um direito supraestatal que pode ser relativizado. Exemplo
dessa relativização é a possibilidade de pena de morte em caso de guerra
declarada (BRASIL, Art. 5 º Inc. XLVII, Alínea a). Se o Estado em tempo de
guerra tem o direito de utilizar a supressão da vida de alguém como punição
para infrações penais, por que este alguém, civilmente capaz e em sua absoluta
integridade mental, não tem o direito de exercer a sua autonomia individual
quando está enfrentando uma doença com um quadro que a atual medicina não
tem meios para reverter?
b. Filosoficamente falando, a autonomia está ligada à liberdade individual, onde
cada um pode ter suas próprias escolhas, decidindo como será a sua vida e o
seu futuro com base em suas convicções. Os seres humanos não podem, por
conta das leis da natureza, escolherem seus nascimentos, todavia, são capazes
de ter o direito de optar pelo término de suas vidas tomadas por moléstias
insanáveis.
9. Ortotanásia e eutanásia
a. Para Maria Helena Diniz (2014) a ortotanásia é a eutanásia por omissão. É o
ato de suspender medicamentos ou medidas que aliviem a dor, ou de deixar de
usar meios artificiais para prolongar a vida de um paciente em coma
irreversível, por ser inadmissível o prolongamento de uma vida vegetativa sob
o ponto de vista físico, emocional e econômico, respeitando o pedido do
próprio enfermo, ou de seus familiares.
b. Sobre a polêmica causada por termas que tratam sobre vida e morte, Leo
Pissini (2005) declarou que a morte e a dor são muitas vezes percebidas como
sem sentido e consequentemente são vistas pelos médicos como um fracasso e
essa dicotomia resulta na luta para obter a máxima prolongação da vida
humana, com pouca preocupação sobre a qualidade deste prolongamento. O
autor narra também que a ênfase de tal dicotomia recai na luta para garantir a
máxima prolongação da vida, mas há pouca preocupação com a qualidade
desta extensão.
https://advjosneymiranda.jusbrasil.com.br/artigos/1206572032/eutanasia-morte-por-
encomenda
https://thaliasartodeoliveira.jusbrasil.com.br/artigos/1169805553/eutanasia-e-o-direito-penal-
brasileiro
https://brunaleitest.jusbrasil.com.br/artigos/944405697/a-descriminalizacao-da-eutanasia

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