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Continuidade

Professor Rafael Rigão Souza - DMPA / UFRGS

Pontos de Continuidade e de Descontinuidade


Vamos começar essa seção comparando 4 gráficos.

Compare os gráficos de uma função polinomial de grau 3,

de uma função polinomial de grau 4,

da raiz cubica

e o gráfico de uma função definida por duas leis de formação:


Cálculo Diferencial e Integral Professor Rafael Rigão Souza - DMPA / UFRGS

O que chama a atenção no último gráfico é a ”quebra”que ocorre em x = 1: esta quebra chama-se um
”ponto de descontinuidade”:
Definição 1 (Ponto de Continuidade). Seja a um ponto do domı́nio da função f . Uma função diz-se
contı́nua no ponto a se existe o limite bilateral limx→a f (x) e este limite iguala o valor da função em a.
Ou seja, se vale
lim f (x) = f (a).
x→a

Se uma função é contı́nua no ponto a, dizemos que a é um ponto de continuidade de f .


Se uma função não é contı́nua no ponto a, dizemos que ela é descontı́nua em a, ou que a é um ponto de
descontinuidade de f (ou simplesmente uma descontinuidade de f .)
Exemplo 1. A função representada no último gráfico foi estudada (em uma versão levemente diferente) na
nossa primeira aula de limites: (
x2 se x < 1,
f (x) =
4 − x se x ≥ 1.
Temos uma função cujo gráfico é dado pela parábola y = x2 se x < 1 e pela reta y = 4 − x se x ≥ 1.

Como havı́amos observado em nossa primeira aula sobre limites,


(
limx→1− f (x) = 1,
limx→1+ f (x) = 3.

Portanto, com limites laterais distintos, o limite bilateral não existe. Por esta razão a função f (x) acima é
descontı́nua em x = 1.
Exemplo 2. A função abaixo tem pontos de descontinuidade em x = 2 e x = 5, como podemos observar no
gráfico:

(Mesmo que não possamos ver os valores exatos dos limites laterais em ambos os pontos, está claro que
se tratam de limites laterais distintos, tanto em x = 2 quanto em x = 5.)
Observação 1. No gráfico acima, não usamos a convenção usual de colocar uma bola fechada para indicar
o valor da função nos pontos x = 2 e x = 5. Sendo assim, ao observarmos o gráfico, não sabemos o valor
da função nestes dois pontos, ou mesmo se estes pontos pertencem ao domı́nio da função. Esse exemplo
foi proposital, visto que gráficos como o acima são muito comuns em áreas aplicadas. Note que o valor da
função nestes pontos (ou o fato da função estar ou não definida nestes pontos) não modifica a conclusão
principal aqui: a função é descontı́nua nestes pontos, visto que os limites laterais são distintos em ambos os
pontos, o que faz com que não exista limite bilateral em ambos os pontos.

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O próximo exemplo, que também foi analisado na primeira aula de limites, traz um caso diferente de
ponto de descontinuidade (chamada descontinuidade removı́vel ):

Exemplo 3 (descontinuidade removı́vel). Seja


(
x2 −7x+10
x−5 se x 6= 5,
f (x) =
1 se x = 5.

Aqui podemos calcular o limite bilateral, visto que

x2 − 7x + 10 (x − 2)(x − 5)
= = x − 2,
x−5 x−5
logo
x2 − 7x + 10
lim = lim x − 2 = 3.
x→5 x−5 x→5

Como o limite da função em x = 5 não coincide com o valor da função em 5 (pois f (5) = 1), temos que
x = 5 é um ponto de descontinuidade de f .
Veja o gráfico:

A descontinuidade é chamada removı́vel quando, como no exemplo anterior, o limite bilateral existe mas
difere do valor no ponto. O nome removı́vel vem do fato de que basta redefinir a função naquele ponto para
que a descontinuidade desapareça. Se a descontinuidade ocorrer como nos exemplos 1 e 2, ou seja, pela
inexistência de limite bilateral, então a descontinuidade não pode ser removida de uma maneira simples
como no exemplo 3. Se ambos os limites laterais existem mas são distintos, o que é o caso dos exemplos
1 e 2, a descontinuidade recebe o nome de descontinuidade do tipo salto. Se a descontinuidade existe por
um dos (ou ambos os) limites laterais não existir, como no exemplo a seguir (exemplo 4), a descontinuidade
chama-se essencial:

Exemplo 4 (descontinuidade essencial). Seja


(
2 + x se x ≤ 0,
f (x) = 1
x se x > 0.

Lembre-se que limx→0+ x1 = +∞ e portanto não existe o limite lateral à direita em x = 0. Isso faz com que
o limite bilateral em x = 0 não exista, fazendo de x = 0 um ponto de descontinuidade de f . Veja o gráfico:

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Funções Contı́nuas

Grande parte das funções trabalhadas em cálculo não apresentam pontos de descontinuidade: é o caso por
exemplo das funções polinomiais, exponenciais, seno e cosseno.

Teorema 1. • Funções Polinomiais são contı́nuas em todos os pontos da reta real;

• As funções seno, cosseno e exponencial são contı́nuas em todos os pontos da reta real;

• As funções racionais, a função tangente e também a função logarı́tmica são contı́nuas em todos os
pontos de seu domı́nio; o mesmo vale para raı́zes.

Se usarmos os últimos dois teoremas da aula de introdução aos limites, temos a prova das afirmações
relativas a polinômios e funções racionais acima.
No inı́cio desta sessão observamos os gráficos de dois polinômios, e também da raiz cúbica. Seguem agora
os gráficos do seno, da função exponencial f (x) = ex , do logaritmo natural e da raiz quadrada. Observe a
inexistência de pontos de descontinuidade em todos estes exemplos:

Gráfico de f (x) = sen(x):

Gráfico de f (x) = ex :

Gráfico de f (x) = ln(x):

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Gráfico de f (x) = x:

Teorema do Valor intermediário


Finalizamos a seção com um teorema que, entre outras aplicações, nos permite encontrar soluções para
muitas equações usando um método chamado método da bissecção.
Teorema 2 (Teorema do Valor intermediário - TVI). Suponha que uma função f (x) é contı́nua em todos
os pontos de um intervalo aberto I. Sejam a < b dois pontos de I. Suponha que f (a) 6= f (b) e seja d um
número real entre f (a) e f (b). Então existe um ponto c entre a e b que satisfaz f (c) = d.

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Uma aplicação do TVI ocorre quando tentamos resolver a equação f (x) = 0. Para simplificar, vamos
supor que a função f (x) é um polinômio (o que nos garante a hipótese de continuidade requerida pelo TVI).
Se ela trocar de sinal entre dois pontos a e b, o TVI garante a existência de pelo menos uma solução da
equação entre a e b. Este é o resultado de um teorema chamado Teorema de Bolzano, uma consequência
direta do TVI, e é a fundamentação teórica para o primeiro método de resolução de equações estudado
na disciplina de cálculo numérico: o método da Bissecção. Como curiosidade, observamos que há vários
métodos de obtenção de soluções para equações, e um deles, bastante famoso, o método de Newton-Raphson,
usa a derivada para encontrar soluções para equações do tipo f (x) = 0. Aqui no curso de cálculo não iremos
explorar estes dois métodos, mas vale saber que eles são baseados na teoria desenvolvida em nosso curso.
Na proxima figura você vê que uma troca de sinais sempre revela uma raiz de um polinômio:

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