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ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL PAULISTA

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

Rachel da Mota Vieira

6º Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” – Especialização em Direito Eleitoral e


Processual Eleitoral
Módulo II – Direito Eleitoral e Processual Eleitoral
Disciplina C – Direito Processual Eleitoral e Sistema Recursal
Tema 03 – Ações que visam à declaração da inelegibilidade (AIME e RCD) e as
suas questões processuais
Palestrante: Dra. Marilda de Paula Silveira

Seminário: 24/11/2021 Palestra: 29/11/2021

Fichamento

Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME)


A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) está prevista no art. 14, §§
10 e 11, da Magna Carta, que diz:
“Art. 14. [...]
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral
no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com
provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de
justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
manifesta má-fé.”
Segundo o Prof. Dr. José Jairo Gomes, trata-se de uma ação de caráter
constitucional-eleitoral, que pode acarretar a perda de mandato eletivo, que pode
ter três possíveis fundamentos: abuso de poder “econômico”, corrupção e
fraude.
Inelegibilidade e AIME

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Apesar de a ação ter como objetivo principal a eventual cassação de mandato,


caso procedente, poderá acarretar inelegibilidade.
Procedimento da AIME
Não há previsão expressa do procedimento da AIME, contudo, há um
entendimento jurisprudencial de que o procedimento a ser adotado está previsto
nos artigos 3º a 16 da LC nº 64/90, tido como rito “ordinário” no campo eleitoral.
Nesse sentido, o doutrinador José Jairo Gomes esquemática o procedimento da
seguinte forma:
protocolização da petição inicial (até 15 dias após a diplomação) →
citação do impugnado → contestação (sete dias da citação) →
julgamento antecipado do mérito; extinção do processo sem julgamento
do mérito → fase probatória (quatro dias após a defesa) → diligências
(cinco dias após a audiência; aqui pode haver nova audiência) →
alegações finais/memoriais e manifestação do Ministério Público (cinco
dias depois das diligências) → decisão (três dias depois das
diligências) → recurso ao TRE (três dias) → recurso ao TSE (três dias)
→ recurso ao STF (três dias).

Aplicação supletiva e subsidiária do CPC


Os dispositivos presentes no CPC são aplicáveis ao rito da AIME supletiva e
subsidiariamente, nos termos do art. 15 do CPC.
Segredo de justiça
De acordo com o artigo 14, § 11, da Constituição Federal, a tramitação da AIME
deve ocorrer em segredo de justiça. Com isso, objetiva-se preservar o nome e a
imagem do impugnado de publicidade negativa decorrente da ação, uma vez
que este pode ser absolvido ao final do processo. Contudo, destaca-se que
apesar da tramitação ocorrer em segredo, o julgamento deve ser público (TSE –
Ac. Nº 4.318, de 25-9-2003 – JURISTSE 11:65).
Petição inicial

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A petição deve seguir o artigo 319 do CPC. Assim, a peça tem de conter o
endereçamento, a qualificação e o domicílio do impugnado, o pedido e seus
fundamentos fático-jurídicos (causa de pedir) e requerimento de citação do
impugnado. Ademais, a petição deve especificar as provas com que se pretende
demonstrar a veracidade dos fatos narrados.
Além disso, caso não atenda requisito legal ou nas hipóteses previstas no artigo
330 do CPC, o processo poderá ser extinto sem mérito (CPC, arts. 354 e 485,
inciso I). Nesse caso, é cabível recurso à instância superior.
Objeto
A AIME possui como objetivo a desconstituição do mandato de candidato eleito.
Causa de pedir
O fundamento fático da ação consiste na materialização dos seguintes ilícitos
eleitorais: abuso de poder econômico, corrupção e fraude.
Partes
No polo ativo da ação tem legitimidade qualquer candidato, partido político,
coligação ou órgão do Ministério Público. Já o polo passivo pode ser ocupado o
candidato diplomado, incluso o suplente de titular de mandato proporcional,
desde que devidamente diplomado.
Prazo para ajuizamento
A AIME tem de ser ajuizada nos 15 primeiros dias após a data da diplomação.
Dessa maneira, caso a exordial não seja apresentada nesse período, há a
decadência do direito de impugnar.
Desistência da ação
Considerando o interesse público, não é admitida desistência da ação (TSE –
RO nº 104/RO – DJ, v. 1, 29-9-2000, p. 168 – extraído do voto do relator). Dessa
maneira, caso haja desistência do polo ativo, deve o Ministério Público assumir
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esse posto na relação processual (TSE – REspe nº 15.085/MG – DJ 15-5-1998,


p. 98).
Competência
No caso da AIME, a competência de dá a partir da natureza da eleição/cargo.
Assim, a) nas eleições presidenciais é competente o Tribunal Superior eleitoral;
b) nas eleições federais e estaduais são competentes os Tribunais Regionais
Eleitorais; c) Nas municipais são competentes os juízes eleitorais lotados nas
respectivas circunscrições eleitorais.
Tutela provisória de urgência cautelar
A tutela antecipada com caráter antecedente e com a finalidade de sustar a
diplomação de candidato eleito é inviável, uma vez que a diplomação é
pressuposto necessário para o ajuizamento da AIME.
Defesa
Realizada a citação, inicia-se o prazo de sete dias para que o impugnado se
defenda e apresente a contestação. Na ocasião, deverá o impugnado apresentar
toda a matéria de defesa, acompanhada das razões de fato e de direito com que
rejeito o pedido da petição inicial. Ademais, ressalta-se que na AIME não ocorre
a presunção da veracidade dos fatos, ainda que o réu não apresente a
contestação ou que não se manifeste “precisamente sobre as alegações de fato
constantes na petição inicial”, isso porque a procedência da AIME requer prova
inconcussa dos fatos em que se baseia.
Fase probatória: audiência de instrução e diligências
Quanto as provas e instrução probatória, aplica-se o mesmo procedimento da
AIJE, como prescreve o art. 5º, caput, da LC nº 64/90:
“Decorrido o prazo para contestação, se não se tratar apenas de
matéria de direito e a prova protestada for relevante, serão designados
os 4 (quatro) dias seguintes para inquirição das testemunhas do
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impugnante e do impugnado, as quais comparecerão por iniciativa das


partes que as tiverem arrolado, com notificação judicial.”
Alegações finais
Dado o encerramento da fase probatória, “as partes, inclusive o Ministério
Público, poderão apresentar alegações no prazo comum de 5 (cinco) dias” (art.
6º, da LC nº 64/90). A faculdade é conferida às partes.
Julgamento
Finalizada a fase das alegações finais, com ou sem elas, os autos devem ser
conclusos ao juiz eleitoral ou ao juiz-relator para julgamento. A decisão deve
seguir o modelo disposto no art. 489 do CPC, possuindo relatório,
fundamentação e dispositivo.
Recurso
Apesar do procedimento da AIME ser o ordinário nos termos dos artigos 3º a 16
da LC nº 69/90, o sistema recursal é o do Código Eleitoral.
Invalidação da votação e realização de novas eleições
Caso a AIME seja julgada procedente, a cassação do mandato acarretará
anulação automática de todos os votos conferidos ao impugnado, devendo ser
realizada nova eleição, segundo o art. 224, § 3º, do Código Eleitoral.

Recurso contra Expedição do Diploma (RCED)


O Recurso está previsto no art. 262 do Código Eleitoral, que possui a seguinte
redação:
“Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos
casos de inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e
de falta de condição de elegibilidade.
§ 1º A inelegibilidade superveniente que atrai restrição à candidatura,
se formulada no âmbito do processo de registro, não poderá ser
deduzida no recurso contra expedição de diploma.
§ 2º A inelegibilidade superveniente apta a viabilizar o recurso contra a
expedição de diploma, decorrente de alterações fáticas ou jurídicas,

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deverá ocorrer até a data fixada para que os partidos políticos e as


coligações apresentem os seus requerimentos de registros de
candidatos.
§ 3º O recurso de que trata este artigo deverá ser interposto no prazo
de 3 (três) dias após o último dia limite fixado para a diplomação e será
suspenso no período compreendido entre os dias 20 de dezembro e 20
de janeiro, a partir do qual retomará seu cômputo”.

Ademais, o RCED admite três possíveis fundamentos, que constituem um rol


taxativo: inelegibilidade superveniente, inelegibilidade constitucional e falta de
condição de elegibilidade.
Aspectos processuais
Como não há previsão expressa de rito específico para o RCED, é utilizada a
aplicação supletiva do procedimento previsto nos artigos 2º a 16 da LC nº 64/90.
Ademais, aplica-se também supletiva e subsidiariamente o CPC.
Petição inicial/recursal
A petição inicial deve conter o endereçamento, os nomes e a qualificação das
partes, os fundamentos de fato e de direito, o pedido e a causa de pedir, além
das provas com que se pretende demonstrar a veracidade dos fatos narrados.
Causa de pedir
O pedido sempre passará pela cassação do diploma do candidato eleito,
devendo constituir uma das hipóteses previstas no artigo 262 do Código
Eleitoral, que são: inelegibilidade superveniente, inelegibilidade constitucional e
falta de condição de elegibilidade.
Legitimidade
Detém legitimidade ativa o partido político, candidato eleito e diplomado, bem
como suplente, sendo possível a formação de litisconsórcio entre os agentes.
Ademais, é possível que o Parquet possa manejá-lo.

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Por outro lado, detém legitimidade passiva somente o candidato diplomado.


Além disso, caso se trate de suplente diplomado, este também possui
legitimidade passiva.
Competência
A competência para conhecer e julgar o pedido formulado no recurso depende
da natureza das eleições/cargo. Dessa maneira, a) nas eleições municipais os
TREs são competentes; b) nas eleições gerais/geral é competente o TSE.
Prazo para ajuizamento
O recurso pode ser interposto no prazo decadencial “de 3 (três) dias após o
último dia limite fixado para a diplomação” (CE, art. 262, § 3º - inserido pela Lei
no 13.877/2019).
Defesa
A defesa da demanda deve ser apresentada por escrito em 3 dias (art. 267,
Código Eleitoral).
Desistência
No julgamento do Respe nº 8.536, entendeu não ser possível a desistência da
demanda, devido ao seu caráter público. Contudo, há também o entendimento
de que admitindo desistência, é facultado ao Ministério Público a assunção do
polo ativo.
Fase probatória
Apesar da demanda ser tramitada no tribunal, admite-se a fase probatória.

Alegações finais

Após a fase probatória, é dada abertura para as partes se manifestarem,


incluindo o Ministério Público.

Decisão
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A decisão do recurso deve ser proferida com a devida fundamentação, sob pena
de nulidade.
Recurso
O prazo para a interposição de recursos é de 3 dias. Sendo admitido embargos
de declaração. Quanto a competência, em caso de competência originária do
Tribunal Superior, a decisão é recorrível ao STF por meio de recurso
extraordinário, nos termos do art. 121, § 3º, da Constituição Federal. Em caso de
competência originária de Tribunal Regional, contra o acórdão cabe recurso
especial ao TSE.

Bibliografia

GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. São Paulo: Atlas, 2020.

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