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pena-ajudar-os-alunos-organizar-um-e-como-apoia-los

Publicado em GESTÃO ESCOLAR 10 de Junho | 2019

Gestão democrática

Grêmio escolar: saiba por que


vale a pena ajudar os alunos
organizar um e como apoiá-los
Na perspectiva da gestão democrática, os grêmios podem representar uma
boa parceria e canal entre os estudantes e a gestão da escola
Beatriz Vichessi

Crédito: Getty Images

Protagonismo estudantil. Se fosse necessário explicar somente com duas palavras o que significa ter
um grêmio na escola, seria com essas. “É um exercício para os alunos desenvolverem habilidades
fundamentais na sociedade: discutir problemas, defender ideias, propor soluções. Uma possibilidade
de desempenhar um papel político, um currículo aplicado”, diz Leandro Raphael Vicente, professor da
EE Professora Luciane do Espírito Santo, em São Paulo, que leciona Filosofia, é coordenador da área de
Ciências Humanas e um dos conselheiros do grêmio.

Outra boa forma de explicar a importância do grêmio escolar é se valer da Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) e do Plano Nacional da Educação (PNE). Ambos falam de gestão democrática, o que implica na
participação efetiva e ativa de todos os atores da comunidade escolar, representados assim:
Associação de Pais e Mestres (APM), conselho de escola e grêmio. “Esse último representa todo
estudante matriculado na escola”, explica Sonia Maria Brancaglion, técnica educacional da Secretaria
Estadual de Educação do Estado de São Paulo. “No CE Professor Agostinho Pereira, em Pato Branco, no
Paraná, o grêmio é considerado realmente parte da gestão a ponto de participar de um grupo de
Whatsapp com os gestores”, diz Elair Damaceno, agente educacional que acompanha os gremistas de
perto, diariamente. O diretor, Élcio Slongo, completa: "a parceria é tão forte que os estudantes têm a
chave da escola para fazer reuniões aos finais de semana, se for o caso, e durante a semana, podem
usar a sala da diretoria ou a dos professores. As reuniões deles são tão importantes para a escola
como qualquer outra”.

O que faz e o que não faz um grêmio


Esqueça a imagem do grêmio como a reunião da turma da bagunça, da instituição que só quer saber
de festas. Isso são coisas do passado. Também não pense no grêmio como uma instituição
simplesmente tarefeira. Lembre-se do papel protagonista dos alunos. Isso quer dizer que eles devem
ser convidados para conceber a festa junina da escola em parceria com a gestão, pensar nas atrações e
no cronograma de organização, por exemplo. Jamais chamados somente para cumprir atividades como
montar as barracas, servir os lanches, etc. Sonia reforça que a turma tem de ser corresponsável pela
escola. “Muitos gestores relatam que por causa do grêmio, é notável o quanto os alunos
amadureceram. Aprenderam a reivindicar, olhar mais para o próximo, entendem as regras que
precisam ser respeitadas, sabem a função de cada um na escola, se sentem parte dela”.

Formar grupos de estudo, promover semanas culturais, campeonatos esportivos e aulas livres sobre os
mais diversos temas são algumas das possibilidades de ações gremistas. Laís Ribeiro Cardoso é aluna
do 2º ano do Ensino Médio da EE Professora Luciane do Espírito Santo. Vice-presidente da chapa
Evolução Gremista, ela conta que uma das ações bacanas realizadas foi colocar nos banheiros da
escola uma caixinha da higiene, com itens variados, para casos de emergência. “Tem pasta de dente,
sabonete... E colocamos algumas frases de incentivo também, como “Você é linda do jeito que é” e
“Você também pode ser sensível”, que também promovem reflexões”, diz a aluna.

Já no CE Professor Agostinho Pereira, o grêmio promove um curso de dança com o professor de Arte e
Filosofia, à noite. “A iniciativa foi dos alunos e dele. As aulas são semanais e, mesmo na ausência do
educador, os estudantes dão conta”, fala Élcio. Mas as possibilidades, não se esgotam aí. A gestão atual
do grêmio da EE Professora Helena Cury de Tacca, em Franca (SP), por exemplo lidera a realização de
uma campanha contra pequenas corrupções. “Em cada degrau da escada da escola, colocamos uma
placa, com uma delas: Furar a fila, falsificar documento, colar na prova, entre outras. O objetivo era
despertar a consciência de todos. E colocamos cartazes explicando os problemas causados por essas
atitudes”, relata Otávio Henrique da Silva Leme, 16 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio e diretor
financeiro do grêmio.

O papel da gestão
Embora não seja obrigatório toda escola ter um grêmio, é papel da gestão apoiar a organização. A boa
notícia é que não se trata de um processo burocrático nem custoso. Aliás, não é preciso investir
nenhum recurso financeiro. “Só boa vontade e parceria entre gestão e alunos”, diz Sonia.
Evidentemente, algumas ações planejadas pelos alunos do grêmio podem precisar de dinheiro, como
pintar a quadra ou instalar um sistema de rádio na escola. Nesse caso, a moçada pode requisitar a
verba para a gestão ou então arrecadar. Somas pequenas podem ser administradas pelos estudantes e
é interessante que eles tenham um livro caixa, para o grupo saber o que foi feito com o dinheiro e
quanto custou cada ação. Mas quantias mais robustas devem ficar à cargo da APM. Sonia reforça que
lidar com valores é uma boa oportunidade para crianças e jovens se envolverem com dinheiro de
forma responsável.

Ainda falando em recursos financeiros, algumas redes disponibilizam verbas para serem usadas de
acordo com decisões exclusivas do grêmio escolar. A rede estadual paulista, por exemplo, fez em 2018
o Orçamento Participativo Jovem. Os estudantes, articulados pelo grêmio, receberam cinco mil reais, e
tinham de olhar para escola e definir o que seria feito com o dinheiro em relação à infraestrutura,
exclusivamente. Como deixar a escola mais bonita, aconchegante, atrativa? Comprar materiais
esportivos ou plantas para colocar no ambiente? São questões que devem ser discutidas e acordadas
entre os estudantes com o apoio dos gestores.

Como montar um grêmio em 5 passos

1. Mobilize a comunidade estudantil


Para começar, é importante convidar as turmas - inclusive do Ensino Fundamental 1 - para
conversar sobre o que é democracia, o que é representatividade, o que é e porque vale a pena
formar um grêmio. Professores podem ser convidados para dar aulas sobre os temas citados,
alunos de outras escolas podem ser chamados para contar sua experiência como gremistas, etc.

2. Defina o funcionamento do grêmio


Hora de compor o estatuto, o conjunto de regras do grêmio. Para essa etapa, a gestão escolar
pode oferecer exemplos, tal como outros grêmios, e ajudar a compor a espinha dorsal do
documento. Exemplo: A Secretaria Municipal de Educação de Atibaia (SP) fornece um modelo e
apoia diretamente os grêmios escolares, fazendo um encontro desde 2017 com todas as 21
diretorias gremistas. “Temos 26 escolas, as que são muito pequenas e fazem parte de polos,
participam do grêmio desse polo”, conta Eliane Doratiotto, diretora do departamento de
Educação da secretaria de educação de Atibaia.

3. Estimule chapas e propostas


Levantar quais alunos gostariam de formar chapas para se candidatar à gestão. Quando
estiverem organizadas e com suas propostas e cargos bem definidos, a gestão pode auxiliar na
organização do calendário de atividades do processo eleitoral, incluindo debate entre as chapas
com participação dos alunos, que podem fazer perguntas sobre os planos de cada uma.

4. Organize uma eleição


A votação, propriamente dita, pode ser feita com cédulas de papel, computadores que simulam o
processo eletrônico e até urnas eletrônicas. Vale falar com a justiça eleitoral local e perguntar
como a unidade local pode colaborar com o processo, inclusive falando sobre propaganda
eleitoral, processo de apuração de votos, etc. Se todo esse roteiro começar a ser realizado no
início do ano letivo, é possível realizar a eleição em maio, dando posse à chapa eleita no mesmo
mês, que fica no poder por um ano, geralmente. Exemplos: No CE Professor Agostinho Pereira, a
votação é a cada dois anos, e para contribuir com a organização das chapas, cerca de três meses
antes das eleições, os alunos que querem se candidatar, são convidados a fazer um estágio no
grêmio, para saber como esse organismo funciona. Já no processo eleitoral da EE Professora
Luciane do Espírito Santo, o grupo simulou muitos eventos das eleições tradicionais. Leandro
conta que a turma organizou debate, que foi gravado em vídeo, e as chapas apresentaram
propostas nas redes sociais.

5. Construa um plano de trabalho


Depois que toma posse, a primeira coisa a ser feita pela chapa vencedora é traçar um bom plano
de trabalho - definindo o que fazer, quem fará, em qual tempo e como. É imprescindível
considerar as propostas apresentadas em campanha e o que mais os membros da diretoria
gremista acharem válido - por que não, por exemplo, incluir alguma proposta da chapa da
oposição? Exemplo: Na EE Professora Luciane do Espírito Santo, a diretoria gremista se organiza
para seguir um cronograma mensal, estabelecendo uma ação maior por mês (outras, menores,
podem ser regulares e se repetirem mensalmente). Com os professores conselheiros, o grêmio
se reúne a cada 15 dias para contar o que pensam em fazer, pedir orientações para viabilizar
ideias.

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