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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DESEMBARGADOR(A) PRESIDENTE DO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Origem – autos n. xxxxxxxxxxxxx

NOME DO ADVOGADO(A), advogado(a) inscrito(a) na


Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional XXXXXXXXXXX, sob o n. XXXXXX,
com escritório no endereço situado a XXXXXXXXXXXXXX, vem, respeitosamente,
perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 5º, inciso LXVIII da Constituição
Federal e 647 e 648, inciso, VI, do Código de Processo Penal, impetrar o presente

HABEAS
CORPUS
com pedido de liminar

Em favor do Paciente NOME DO CLIENTE, nacionalidade, profissão, estado civil,


RG, CPF, filiação, endereço com CEP, em desfavor de ato praticado pelo(a)
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, aduzindo
para tanto as questões de fato e de direito que passamos a expor:

1) DA SÍNTESE DOS FATOS

(Narrar a síntese dos fatos)

É a síntese necessária dos fatos.

2) DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS PARA DISCUSSÃO DE QUESTÕES PROCESSUAIS


Inicialmente para que não se alegue o writ não seria o meio
adequado para discutir questões processuais que não repercutam diretamente na
liberdade do Paciente é importante demonstrar seu cabimento nestes casos.

É pacífico no STF há um bom tempo que: “Não é somente a


coação ou ameaça direta à liberdade de locomoção que autoriza a
impetração do habeas corpus. Também a coação ou ameaça indireta
à liberdade individual justifica a impetração da garantia
constitucional inscrita no art. 5o, LXVIII da CF. (HC 83.162-
1/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, j. 02/09/2003)”

A própria observância a previsão legal do art. 648, inciso IV


prevê expressamente o cabimento de habeas corpus para impugnar o processo
manifestamente nulo, ou seja, para discussão de matéria processual (nulidade) que não
necessariamente afetaria diretamente a liberdade de locomoção do Paciente.

Por isso, o STF já admitiu a possibilidade da impetração do


habeas corpus quando a liberdade do Paciente for indiretamente atingida pela decisão
hostilizada, apenas para citar casos mais recentes, por exemplo no HC 127.415/SP, Rel.
Min. Gilmar Mendes (inépcia da denúncia); no HC 136.331/RS, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski (ilegalidade na inobservância do direito ao silêncio); AgRg no HC
157.627/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski (ordem de apresentação das alegações
finais entre corréus no caso de colaboração premiada); HC 166.694/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes (produção de prova indeferida) e outros.

De forma acertada, o Min. DIAS TOFFOLI consignou que: “1.


Embora a pretensão formulada no writ não guarde relação direta
com a liberdade de locomoção da paciente, circunstância que
demonstraria a inadequação da via eleita, no caso vertente,
diante de aventada ocorrência de nulidade absoluta, há
indiretamente um cerceamento à liberdade de ir e vir da
paciente, de modo a, excepcionalmente, entender-se cabível a
impetração. (...) (HC 120.017, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira
Turma, DJe 8.8.2014)”

Recentemente, em caso de repercussão que se discutia a ilicitude


de provas e imparcialidade do julgador em processo da Lava Jato, o STF pacificou o
tema, inclusive com a divulgação da decisão no Informativo 985: “quando a
liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada,
cabe habeas corpus ainda que para solucionar questões de
natureza processual.” (HC 163.943 AgR/PR, Rel. orig. Min. Edson
Fachin, Redator do Acórdão Min. Ricardo Lewandowski, DJe
10/09/2020).”

Por isso, requeremos o conhecimento do presente habeas corpus


ou subsidiariamente a concessão da ordem de ofício.

3) DA NULIDADE DA BUSCA E APREENSÃO SEM MANDADO E/OU


RAZÃO DA FISHING EXPEDITION

A busca e apreensão é regulamentada no Código de Processo


Penal, especialmente pelos artigos 240 e 245 do CPP que estão em total consonância com
o art. 5o XI da Constituição Federal que protege a inviolabilidade do domicílio.

Pouco importa neste caso se da busca e apreensão realizada de


forma ilegal resultaram elementos úteis ou não para a persecução penal, isso porque no
processo penal os fins não justificam os meios, ou ainda nas palavras da Exma.
Ministra do STF, Rosa Weber: “4. A validade da investigação não está
condicionada ao resultado, mas à observância do devido
processo legal.” (STF, HC 106.152/MS, Rel. Min. Rosa Weber,
Primeira Turma, j. 29/03/2016).

A doutrina adverte a necessidade de delimitação dos objetos


de forma precisa de acordo com a finalidade da busca. Vejamos a lição de AURY
LOPES JR: “Os fins da diligência impõem clara definição – de
forma apriorística – do que se busca. Ou seja, impede-se a
busca genérica de documentos e objetos. Se possível, deve ser
delimitado o objeto ou objetos buscados, para evitar um
substancialismo inquisitório. Se o que se busca é uma arma,
que se faca a busca direcionada pra isso, não estando a
autoridade policial autorizada a buscar e apreender
documentos, cartas ou computadores.” 1
Essa compreensão é básica, pois, não existe razão para se
apreender aquilo que não constitua corpo do delito.

Ocorre que, no caso em tela (demonstrar a ausência do mandado


judicial OU explicar a amplitude da busca e apreensão para além dos limites do
mandado)

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já entendeu que “não


existe intercepção apenas para sondar, para pesquisar se há
indícios de que a pessoa praticou o crime, para descobrir se um
indivíduo está envolvido em algum delito” (STJ, AgRg no REsp
1154376/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
16/05/2013, DJe 29/05/2013). Ou seja, suspeita de material probatório, eventuais
instrumentos e quaisquer outros objetos não podem ser a delimitação de um
mandado de busca e apreensão.

De igual forma, nos casos de busca e apreensão, o Eg. STJ


também entende não ser válida busca e apreensão decretada sem elementos
concretos que pudesse sinalizar a prática delitiva:

3. Deve ser declarada nula a decisão judicial que


deferiu a medida cautelar probatória sem indicar
elemento concreto, descoberto pela polícia, que pudesse
sinalizar a prática de crimes e justificar a mitigação
da inviolabilidade do domicílio. 4. Habeas corpus
concedido para anular a decisão de busca e apreensão,
declarar inadmissíveis as provas dela derivadas e
desconstituir a condenação do réu, com determinação para
que o Juiz prolate nova sentença com base nos elementos
de convicção remanescentes, sem prejuízo da aplicação
das teorias da fonte independente de prova e da
descoberta inevitável. (STJ, HC 480.386/SP, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, Dje. 01/07/2020)

Há muito tempo o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


reconhece como nula a devassa promovida por busca e apreensão que não delimita
os objetos da busca e apreensão:
Reconheceu-se, pois, a nulidade procedimental, pelo
fato de os integrantes da Polícia Federal terem
cumprido a diligência sem a anterior e indispensável
comunicação do equívoco, quanto à natureza do local do
cumprimento, à Ministra relatora, o que não lhe
propiciara a oportunidade de delimitar o objeto do
mandado judicial de busca e apreensão. Por derradeiro,
assentou-se não ser jurídica e nem se justificar em um
Estado Democrático de Direito uma devassa indiscriminada
para recolher objetos que nenhum interesse possuíam para
a causa. Ainda consignou-se que, dos documentos
apreendidos, apenas dois permaneceriam no corpo do
inquérito, sendo os demais devolvidos ao escritório.
Determinou-se que as provas obtidas devem ser
desentranhadas dos autos de inquérito que tramita no STJ
e devolvidas ao paciente, sem que se possa usar qualquer
de suas informações na investigação, em relação ao
paciente ou a qualquer outro investigado. (Informativo
n. 590, STF, HC 91610/BA, Rel. Min. Gilmar Mendes, j.
8.6.2010)

Também por isso, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL possui


precedentes reconhecendo que a realização de busca em relação a pessoa distinta
daquela prevista no mandado afronta a inviolabilidade do domicílio:

“Inicialmente, neste juízo prefacial e provisório,


considero relevante o argumento da parte impetrante no
sentido de que a realização da busca e apreensão, no
dia 5 de março de 2015, na residência dos pacientes,
teria ocorrido sem a existência de ordem judicial
escrita e individualizada, o que poderia ensejar
afronta ao disposto no art. 5o, inciso XI, da
Constituição Federal. Assim, teria ocorrido o
cumprimento da ordem judicial em relação à pessoa
distinta daquela prevista no mandado judicial, porquanto
direcionado à pessoa jurídica “PF & PJ Soluções
Tecnológicas” e cumprido em relação às pessoas físicas
dos pacientes.” (Medida Cautelar no HC 133.159/PR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, j. 31/05/2015)
É nítido que houve apreensão de objetos que não são de
titularidade dos investigados/acusados e não possuem qualquer relação direta com
a investigação. Sobre o tema CLEUNICE PITOMBO esclarece que: “Em
decorrência, pode-se afirmar que a apreensão de coisa encontrada
ao acaso, sem relação com o fato investigado, resultante de busca
legal, não pode ser realizada de pronto. Melhor que a autoridade
policial preserve o local, providenciando a autorização
judicial, para que a tomada se concretize em plena legalidade.”2

Por isso, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em festejado


precedente firmado no AgRg no HC 435.943/RJ, nos casos de busca e apreensão
coletiva em comunidades cariocas, entendeu que:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. APURAÇÃO DE CRIMES


PRATICADOS EM COMUNIDADES DE FAVELAS. BUSCA E APREENSÃO
EM RESIDÊNCIAS. DECLARAÇÃO DE NULIDADE DA DECISÃO QUE
DECRETOU A MEDIDA DE BUSCA E APREENSÃO COLETIVA,
GENÉRICA E INDISCRIMINADA CONTRA OS CIDADÃOS E CIDADÃS
DOMICILIADOS NAS COMUNIDADES ATINGIDAS PELO
ATO COATOR. 1. Configurada a ausência de
individualização das medidas de apreensão a serem
cumpridas, o que contraria diversos dispositivos
legais, dentre eles os arts. 240, 242, 244, 245, 248 e
249 do Código de Processo Penal, além do art. 5o, XI,
da Constituição Federal: a casa é asilo inviolável do
individuo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial. Caracterizada
a possibilidade concreta e iminente de ofensa ao
direito fundamental à inviolabilidade do domicílio. 2.
Indispensável que o mandado de busca e apreensão tenha
objetivo certo e pessoa determinada, não se admitindo
ordem judicial genérica e indiscriminada de busca e
apreensão para a entrada da polícia em qualquer
residência. Constrangimento ilegal evidenciado. 3.
Agravo regimental provido. Ordem concedida para reformar

2
PITOMBO, Cleunice Valentim Bastos. Ilicitude da prova obtida por meio da busca e apreensão.
In: VILARDI, Celso Sanchez. Et al. Crimes Econômicos e Processo Penal. FGV Law. São Paulo:
Saraiva, 2008, p. 75.
o acordão impugnado e declarar nula a decisão que
decretou a medida de busca e apreensão coletiva,
genérica e indiscriminada contra os cidadãos e cidadãs
domiciliados nas comunidades atingidas pelo ato coator
(Processo n. 0208558-76.2017.8.19.0001). (STJ, AgRg no
HC 435.934/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
05/11/2019)

Vale registrar que no caso em tela não ficou comprovado o


consentimento do morador, conforme alegado pela Guarnição Policial.

(explicar como a busca aconteceu e o que foi alegado pela


Guarnição)

Em ocasião mais recente outra decisão do STJ reconheceu que


o famigerado consentimento do morador deve ser comprovado com registro
documental ou audiovisual, sob pena de nulidade da busca e apreensão:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FLAGRANTE. DOMICÍLIO


COMO EXPRESSÃO DO DIREITO À INTIMIDADE. ASILO
INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES CONSTITUCIONAIS. INTERPRETAÇÃO
RESTRITIVA. INGRESSO NO DOMICÍLIO. EXIGÊNCIA DE JUSTA
CAUSA (FUNDADA SUSPEITA). CONSENTIMENTO DO MORADOR.
REQUISITOS DE VALIDADE. ÔNUS ESTATAL DE COMPROVAR A
VOLUNTARIEDADE DO CONSENTIMENTO. NECESSIDADE DE
DOCUMENTAÇÃO E REGISTRO AUDIOVISUAL DA DILIGÊNCIA.
NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS. TEORIA DOS FRUTOS DA
ÁRVORE ENVENENADA. PROVA NULA. ABSOLVIÇÃO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. O art. 5º, XI, da Constituição Federal
consagrou o direito fundamental à inviolabilidade do
domicílio, ao dispor que "a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial". (...) 7.2.
Por isso, avulta de importância que, além da
documentação escrita da diligência policial (relatório
circunstanciado), seja ela totalmente registrada em
vídeo e áudio, de maneira a não deixar dúvidas quanto à
legalidade da ação estatal como um todo e,
particularmente, quanto ao livre consentimento do
morador para o ingresso domiciliar. Semelhante
providência resultará na diminuição da criminalidade em
geral – pela maior eficácia probatória, bem como pela
intimidação a abusos, de um lado, e falsas acusações
contra policiais, por outro – e permitirá avaliar se
houve, efetivamente, justa causa para o ingresso e,
quando indicado ter havido consentimento do morador, se
foi ele livremente prestado. (...)11. Assim, como
decorrência da proibição das provas ilícitas por
derivação (art. 5º, LVI, da Constituição da República),
é nula a prova derivada de conduta ilícita – no caso, a
apreensão, após invasão desautorizada da residência do
paciente, de 109 g de maconha –, pois evidente o nexo
causal entre uma e outra conduta, ou seja, entre a
invasão de domicílio (permeada de ilicitude) e a
apreensão de drogas. 12. Habeas Corpus concedido, com a
anulação da prova decorrente do ingresso desautorizado
no domicílio e consequente absolvição do paciente (STJ,
HC 598.051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Sexta
Turma, j. 02/03/2021)

Percebe-se que a jurisprudência não exige apenas que o local


da busca e apreensão seja delimitado e individualizado, mas também determina
como indispensável que o mandado judicial apresente objetivo certo e pessoa
determinada, o que foi desrespeitado no presente caso, primeiramente porque o
mandado era demasiadamente amplo – conforme já foi demonstrado –, e segundo,
pois no momento da busca ampliou-se seu objeto ao se apreender (explicar os bens
apreendidos sem mandado ou fora dos limites do mandado).

Em ocasião mais recente o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


voltou a reconhecer a ilicitude das provas obtidas em busca realizada sem o mandado:

3. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão


geral, que o ingresso forçado em domicílio sem mandado
judicial apenas se revela legítimo - a qualquer hora do
dia, inclusive durante o período noturno - quando
amparado em fundadas razões, devidamente justificadas
pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem
estar ocorrendo, no interior da casa, situação de
flagrante delito (RE 603.616, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 5/11/2015, Repercussão Geral
- Dje 9/5/1016 Public. 10/5/2016) 4. O Superior Tribunal
de Justiça, em acréscimo, possui jurisprudência no
sentido de que "A existência de denúncia anônima da
prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao
avistar a polícia, por si sós, não configuram fundadas
razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do
acusado sem o seu consentimento ou sem determinação
judicial" (RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, julgado em 18/2/2020, DJe de 2/3/2020) 5.
Na hipótese, o Tribunal de origem deu provimento ao
recurso ministerial para condenar o paciente pela
prática do crime de tráfico de drogas. Contudo, os
policiais militares, ao realizaram patrulhamento de
rotina, invadiram a residência do paciente sem qualquer
tipo de informação prévia ou indício que pudesse levar a
crer que o paciente trazia consigo ou tinha em depósito
entorpecentes, valendo-se unicamente do fato de que
empreendeu fuga para dentro de sua residência ao notar a
aproximação da viatura policial, o que torna ilícita a
apreensão dos entorpecentes e, como consequência, das
demais provas produzidas. 6. Uma vez reconhecida a
ilicitude das provas obtidas por meio da medida
invasiva, bem como de todas as que delas decorreram,
fica prejudicada a análise das demais matérias
aventadas na impetração.7. Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a sentença
absolutória, com fulcro no art. 386, II, do Código de
Processo Penal. (HC 610.403/MS, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2020,
DJe 15/10/2020)

Na doutrina norte-americana essa devassa é conhecida como


fishing expedition, tal como explica o magistrado ALEXANDRE MORAIS DA ROSA:
“É possível, portanto, definir pescaria probatória (fishing
expedition), como a apropriação de meios legais, para, sem
objetivo traçado, ‘pescar’ qualquer espécie de evidencia, tendo
ou não relação com o caso concreto. Trata-se de uma investigação
especulativa indiscriminada, sem objetivo certo ou declarado,
que, de forma ampla e genérica, ‘lança’ suas redes com esperança
de ‘pescar’ qualquer prova, para subsidiar uma futura acusação ou
para tentar justificar uma ação já iniciada.”3

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, mesmo sem mencionar


o termo fishing expedition, em caso de quebra de sigilo telefônico declarou ilegítima a
medida realizada com base em listagem genérica, ou seja, confirmando que a busca

3
ROSA, Alexandre Morais da. Et al. Fishing Expedition e Encontro Fortuito na Busca e
Apreensão. Um dilema oculto do processo penal. Florianópolis: EMais, 2019, p. 41.
deve ser determinada contra pessoa devidamente individualizada e que esteja no rol de
investigados (STF, Inq-AgR 2245/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 09/11/2007).
Também no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL existe precedente muito similar em que
se reconhece a ilicitude da busca estendida para endereço que não constava no mandado
(HC 106.566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, J. 16/12/2014).

Consolidando a matéria, recentemente o SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL enfrentou novamente o tema no julgamento do mérito dos
HCs 144.159 e 163.461, reconhecendo a ilicitude de busca e apreensão realizada “em
relação à pessoa distinta daquela prevista no mandado
judicial, porquanto direcionado à pessoa jurídica PF & PJ
Soluções Tecnológicas e cumprido em relação às pessoas físicas
dos pacientes”.4

Nesta oportunidade, se fez referência ao termo fishing


expedition, ao reconhecer a ilegalidade da busca e apreensão realizada nesses moldes:

“É fundamental o respeito às formalidades do ato de


busca e apreensão, aos contornos definidos no mandado e
na ordem judicial autorizadora, pois o meio de obtenção
de prova em questão acarreta grave impacto à esfera de
direitos do imputado. Assim, para limitar o poder do
Estado, determina-se o requisito que pressupõe a
autorização judicial. O controle judicial prévio para
autorizar a busca e apreensão é essencial com a
finalidade de se verificar a existência de justa causa,
de modo a se evitar fishing expedition (investigações
genéricas para buscar elementos incriminatórios
aleatoriamente, sem qualquer embasamento prévio)”. (STF,
HC 163.461/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma,
j. 05/02/2019).

Recente decisão do STF em caso de Relatoria do decano da


Corte, Min. Celso de Mello novamente constatou a impossibilidade de fishing
expedition:

4
Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2019-jul-21/vinicius-vasconcellos-jurisprudencia-penal-turma-stf.
Acesso em: 24/03/2020.
EMENTA: 1. Os estatutos do poder, em uma República
fundada em bases democráticas, não podem privilegiar o
mistério nem legitimar o culto ao sigilo: consequente
necessidade de este Inquérito transcorrer sob a égide
do postulado da publicidade. 2. Sigilo e liberdade de
imprensa. 3. O pedido de diligências investigatórias
formulado pelo Senhor Procurador-Geral da República. 4.
Deferimento, em termos, de parte dos pleitos deduzidos
pelo Ministério Público Federal. 5. Delimitação do
âmbito de análise do exame pericial ora requerido, sob
pena de conversão da pesquisa em inadmissível e
indiscriminada devassa estatal: vedação de operações de
“fishing expedition” e necessidade de medida de busca e
apreensão. 6. Aplicabilidade somente às testemunhas da
prerrogativa fundada no art. 221 do Código de Processo
Penal. 7. Inaplicabilidade a investigados e a réus da
prerrogativa inscrita no art. 221 do Código de Processo
Penal. 8. Autonomia investigatória, de índole
constitucional, da Polícia Federal em sua condição de
polícia judiciária da União (CF, 144, § 1º, inciso IV):
magistério da doutrina. 9. Conclusão: encaminhamento
dos autos à Polícia Federal (SINQ/DICOR). (STF, Inq.
4.831/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 05/05/2020)

Por fim, ressaltamos que o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


entende que a consequência da fishing expedition que torna nula a busca e apreensão
é a ilicitude das provas obtidas: A Turma, por votação unânime, confirmou
a liminar deferida e concedeu, em parte, a ordem de habeas
corpus para declarar a ilicitude e o desentranhamento das provas
obtidas na busca e apreensão realizada no domicílio das pessoas
físicas Antonio Pereira Junior e Leila Maria Raimundo Pereira a
partir da autorização determinada na Ação Cautelar Inominada
009167-56.2015.8.16.0014. Assim, em respeito ao princípio da
contaminação, igualmente as provas derivadas devem ser declaradas
ilícitas, o que deve ser analisado pelo juízo de origem,
juntamente com a viabilidade de continuidade do Processo Penal
0037749-32.2016.8.16.0014. Em seguida, nos termos do art. 157, §
3º, do CPP, “preclusa a decisão de desentranhamento da prova
declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão
judicial, facultado às partes acompanhar o incidente”, tudo nos
termos do voto do Relator. (STF, HC 163.461/PR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, Segunda Turma, j. 05/02/2019).5

Desta forma, requeremos que seja reconhecida a nulidade da


busca e apreensão e consequentemente a ilicitude das provas obtidas.

4) DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR

É prescindível esclarecer que para concessão de medida liminar


se fazem necessários a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora. Contudo,
ambos se encontram manifestamente demonstrados no caso em tela.

A fumaça do bom direito neste caso está evidente em virtude


dos diversos precedentes jurisprudências que já adotaram tal medida, reconhecendo que
se está diante de caso que possui entendimento pacífico para concessão da ordem diante
das decisões do STJ (citar apenas a referência jurisprudência utilizada) e do STF (citar
apenas a referência jurisprudência utilizada).

Por sua vez, o perigo na demora é ainda mais evidente,


considerando que (usar algum argumento que demonstre a urgência, por exemplo,
oferecimento de Denúncia, citação do acusado, aproximação da audiência de instrução,
processo concluso para julgamento, prejuízos sociais suportados pelo Paciente).

Ressalta-se que requeremos a concessão de medida liminar neste


caso, não para reconhecer a ilicitude da prova desde logo, mas apenas para determinar a
suspensão do processo até o julgamento de mérito do presente habeas corpus, evitando
um tumulto na persecução penal ou ainda que maiores prejuízos sejam suportados pelo
Paciente.

Nestes casos, a jurisprudência de ambas as Turmas Eg. STJ


autoriza o sobrestamento ou suspensão do processo até o julgamento de mérito do writ
vide os precedentes: TutPrv no HC 631.229/SC, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
DJe 15/12/2020; HC 542.911, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe
05/11/2019.

5
Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=402524
Acesso em: 24/03/2020.
Por isso, requeremos a concessão de medida liminar para
determinar a suspensão do processo até a apreciação do mérito deste habeas corpus.

5) DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Pelo exposto, requeremos que sejam considerados os argumentos


acima expostos para:

a) A imediata concessão de medida liminar determinando a suspensão


do processo até a apreciação do mérito deste habeas corpus;

b) Ao final, requer o conhecimento e provimento da presente


impetração para reconhecer a nulidade da busca e apreensão e
consequentemente a ilicitude das provas obtidas, resultando no
o
desentranhamento e inutilização desta prova, nos termos do art. 157 e §3 do
CPP.

Por fim, requeremos a intimação dos patronos abaixo assinado,


antes do julgamento do mérito do writ, uma vez que possui interesse em fazer
sustentação oral. Isso porque, conforme previsto no artigo XX, do Regimento Interno
deste Tribunal, os habeas corpus independem de pauta, devendo o pedido ser requerido à
Coordenadoria do órgão julgador, o que se faz na presente petição.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Local e data.

NOME DO ADVOGADO
OAB/XX n. XXXXXX

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