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Notas de Aula
Fundações, 2o período de 2010
Prof. Fernando Artur Brasil Danziger
Capítulo 1 - INTRODUÇÃO
Fundação é o elemento ou peça de uma estrutura responsável por transmitir as cargas da estrutura
para o terreno. Portanto, a função de uma fundação é transmitir cargas ao terreno, devendo essa
transmissão ser feita de forma adequada, ou seja, sem gerar problemas para a estrutura, de qualquer
natureza.
O gráfico abaixo (figura 1.1), que representaria uma prova de carga, ilustra os comentários do
parágrafo anterior.
Esses dois requisitos devem ser atendidos por todas as fundações, e o assunto será bastante
enfatizado em vários pontos adiante. Cabe ainda lembrar que quando aqui se menciona colapso ou
ruptura da fundação a referência diz respeito ao terreno de fundação e não à estrutura da fundação.
Naturalmente, a fundação deve atender às exigências de projetos de estruturas quanto ao seu
dimensionamento estrutural. Entretanto, vale lembrar que os problemas e acidentes relacionados a
fundações são muito mais relativos ao terreno de fundação do que à estrutura da fundação.
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As fundações são geralmente divididas em dois grandes grupos: o primeiro relativo às fundações
superficiais e o segundo às fundações profundas.
Figura 1.2 - Critérios de Terzaghi (1943) e da NBR 6122/1996 para a profundidade de assentamento
de fundações superficiais.
Uma segunda característica da fundação superficial diz respeito à forma de transferência da carga
ao terreno, que se dá pela sua base. A figura 1.3 ilustra o processo.
Figura 1.3 - Pressão transmitida pela base de uma sapata ao terreno e reação do terreno sobre a
sapata.
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Quanto às fundações profundas1, são geralmente peças de comprimento muito maior que a largura
ou diâmetro, embora a NBR6122/1996 especifique o critério de Df>2B, sendo Df não menor do que
3 metros.
Quanto ao modo de transferência de carga ao terreno, as fundações profundas o fazem através tanto
da base como da superfície lateral da fundação (figura 1.4).
1
Embora existam vários termos para denominar as fundações superficiais, o mesmo não acontece com as fundações
profundas, com apenas uma designação. O termo fundações indiretas é às vezes utilizado por alguns colegas mais
velhos, mas não é considerado correto pelo meio geotécnico no Brasil.
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A figura 1.5 mostra também a base de concreto magro (concreto de baixa resistência), de espessura
mínima de 5 cm, utilizada para regularização da superfície do terreno. A armadura inferior da
sapata deve manter um cobrimento mínimo em relação à base de concreto magro. A figura 1.6
mostra uma sapata em execução.
Figura 1.6 – Sapata em execução, observando-se o uso de desempenadeira para acerto de superfície
inclinada, na qual não se emprega forma.
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Da mesma forma que as sapatas, os blocos precisam ser assentes em camada de regularização de
concreto magro. Muito utilizados há algumas décadas, hoje em dia os blocos só são utilizados para
cargas muito pequenas.
Figura 1.8 – Bloco de fundação do edifício Rochedo, reforçado com estacas raiz (cortesia Promon
engenharia).
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radier - elemento de fundação superficial que abrange todos os pilares da obra ou carregamentos
distribuídos (por exemplo tanques, silos, etc.). No caso de prédios, o uso corrente do radier é
relativo a prédios muito altos, em que as cargas muito elevadas por pilar conduzem à interferência
entre as projeções das sapatas.
sapata associada (radier parcial) - sapata comum a vários pilares, cujos centros, em planta, não
estejam situados em um mesmo alinhamento. Este tipo de fundação é comum, no caso de prédios,
nas fundações dos pilares do poço dos elevadores.
viga de fundação - elemento de fundação superficial comum a vários pilares, cujos centros, em
planta, estejam situados no mesmo alinhamento.
Os tipos de fundação profunda serão vistos quando se abordar este tipo de fundação.
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A decisão final relativa à escolha do tipo de fundação é uma das que exige maior experiência por
parte do engenheiro. Dessa forma, o aluno de graduação - e mesmo o engenheiro de pouca
experiência - não deve se achar incompetente por não se sentir seguro para tomar esta importante
decisão. De fato, apenas com a maturidade advinda da experiência é que se adquire a necessária
segurança na tomada de tal decisão.
Em princípio, para qualquer tipo de estrutura, em qualquer tipo de terreno2, pode-se empregar tanto
fundações superficiais como fundações profundas. Ou seja, existe geralmente viabilidade técnica
tanto para um tipo de fundação como para outro. Em alguns casos extremos a escolha - que
naturalmente precisa contemplar a solução mais econômica dentre as alternativas técnicas possíveis
- é óbvia. É fundamental lembrar que o tipo de fundação é condicionado não apenas pelo terreno
como pela estrutura para a qual se pretende projetar as fundações, ou seja, pelos dois elementos
simultaneamente. Por exemplo, no caso de rocha aflorante ou a pequena profundidade empregam-se
fundações superficiais na quase totalidade dos casos. Da mesma forma, no caso de presença de solo
mole com grande espessura desde a superfície do terreno empregam-se fundações profundas, exceto
no caso de fundações de pequenas estruturas. Este assunto será detalhado em capítulos
subsequentes. Quanto ao aspecto econômico, a questão executiva deve ser encarada com muito
cuidado.
Mas a escolha do tipo de fundação não envolve apenas aspectos técnicos e econômicos. Envolve
uma série de outros fatores, entre eles aspectos psicológicos e da forma como são desenvolvidos os
projetos de fundação. Exemplificando, uma das maneiras - infelizmente bastante comum - de se
definir um determinado tipo de fundação segue o seguinte roteiro: um determinado construtor
deseja construir um prédio, e sabe que serão necessárias sondagens à percussão para o projeto das
fundações. Assim, ele manda realizar as sondagens, escolhendo muitas vezes a empresa pelo menor
preço, o que é lamentável, pois os problemas que advirão de sondagens mal executadas podem
trazer-lhe muitos problemas e prejuízos. De posse dessas sondagens e da planta de locação e carga
dos pilares, ele solicita a algumas empresas de fundações que forneça os custos da fundação para a
sua obra. Assim, ele realiza uma pequena concorrência e toma a decisão final.
Dois problemas existem nesse processo. O primeiro problema diz respeito a que as empresas de
fundação não são propriamente empresas de fundações, mas empresas de estacas, ou eventualmente
estacas e tubulões. Ou seja, mesmo que tais empresas possam executar fundações superficiais
quando especialmente solicitadas para tal, o autor das presentes notas não conhece nenhum caso
onde fundações superficiais tenham sido consideradas uma alternativa por tais empresas. Isso por
razões lógicas: primeiro, porque os principais produtos dessas empresas são estacas, e segundo
porque para executar fundações superficiais o próprio construtor pode fazê-lo, sem a necessidade de
equipamentos especiais de que ele não dispõe - como o bate-estacas, por exemplo - ou com algum
equipamento especial auxiliar que ele pode alugar, como um sistema de rebaixamento do nível
d’água.
O segundo problema no processo mencionado acima diz respeito às propostas das empresas de
fundações, que nem sempre são uniformizadas. Ou seja, às vezes uma proposta estabelece preços
unitários enquanto outra estabelece preços globais (fechado, para a obra como um todo). Além
2
As observações do presente item referem-se a fundações de estruturas em terra. Estruturas com lâmina d’água,
sobretudo offshore, estão relacionadas a uma filosofia de projeto de fundações completamente diferente (ver, por
exemplo, Mello e Bogossian, 1996).
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disso, o que se considera às vezes preço global pressupõe, pela empresa de estacas, um certo
comprimento que, ao ser ultrapassado, será cobrado à parte. Ou seja, há que estudar com detalhe as
diversas propostas para de fato se aquilatar acerca das assertivas de cada uma e de quem é a
responsabilidade das variações decorrentes entre previsão e obra de fato executada.
Na opinião do autor das presentes notas de aula, a melhor maneira de se proceder é estabelecer um
projeto - por engenheiro geotécnico experiente, ou estrutural com sólidos conhecimentos de
Mecânica dos Solos - que numa situação tradicional represente o menor custo. Pode ser necessário
realizar ante-projetos de mais de uma solução, em alguns casos. Uma vez definida a solução de
menor custo (pelo menos aparente), deve-se dar a oportunidade a empresas de fundações de
fornecerem alternativas à solução apresentada. É possível que certas circunstâncias - como por
exemplo a vontade de se ganhar um cliente novo, a ociosidade de equipamento e pessoal, a
disponibilidade de novas técnicas - consigam reduzir o custo da solução que seria a mais
econômica. Naturalmente, o cuidado mencionado no parágrafo anterior precisa ainda ser tomado.
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Capacidade de carga de uma fundação ou carga de ruptura (Qrup): é a carga correspondente à ruptura
do terreno de fundação. Considerando o comportamento de uma fundação em uma dada prova de
carga, a carga de ruptura seria aquela para a qual o deslocamento cresce indefinidamente para um
dado valor de carga (figura 2.1). O conceito pode ser aplicado também não apenas em termos de
carga (carga de ruptura), mas igualmente em termos de pressão (pressão de ruptura). Vale salientar
que, embora a ilustração esteja sendo feita para uma sapata, o conceito é igualmente válido para
fundações profundas.
Carga (pressão) de segurança (Qseg): é a carga (pressão) de ruptura dividida por um adequado fator
(ou coeficiente) de segurança, FS, não levando em conta os recalques que a estrutura possa vir a
sofrer.
Qseg = Qrup/FS
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Carga (pressão) admissível (Qadm): é a carga de segurança que se permite aplicar à fundação
levando em conta o tipo e a grandeza dos recalques a ocorrer e a sensibilidade da estrutura para se
submeter a estes recalques.
Segundo um enfoque acadêmico, ter-se-ia a seguinte sequência: para uma dada fundação, seria
verificada a carga de ruptura correspondente. Em seguida, o fator de segurança apropriado seria
empregado, obtendo-se a carga de segurança. Seria então estimado o recalque para esta carga de
segurança. Uma vez tal recalque ser aceitável pela estrutura a ser suportada, esta carga de segurança
seria considerada como carga admissível. Caso contrário, ou seja, caso este recalque não fosse
tolerado pela estrutura, a carga admissível seria menor do que a carga de segurança.
Na prática dos projetos de fundação, não é esta a sequência, uma vez que a carga dada pela estrutura
é um valor fixo, e o que se deve alterar são as dimensões da fundação de modo a que esta venha a
ser capaz de possuir segurança com relação à ruptura e recalques compatíveis com a estrutura.
Carga (pressão) de trabalho (Qtrab): é a carga que efetivamente atua na fundação. A diferença entre a
carga admissível e a carga de trabalho é que a primeira é aquela que se permite aplicar à fundação,
enquanto a segunda é aquela que realmente atua. Esta última é, em muitos tipos de obra - como no
caso de prédios -, raramente conhecida. De fato, sabe-se que as cargas calculadas no caso de prédios
são conservativas, e muitos engenheiros costumam dizer que uma tonelada de carga de prédio é
mais leve que uma tonelada de carga de silo ou de tanque. Tal frase ilustra o fato de que no caso de
silos ou tanques, em que o peso específico do material a estocar, bem como seu volume, são bem
conhecidos, portanto o são as cargas correspondentes. O mesmo não acontece no caso de prédios.
Nesses casos, é importante que se faça um esforço de pesquisa no sentido de se procurar ganhar
experiência e medir tais cargas (ver capítulo seguinte).
Após as reflexões acima, é importante salientar que na prática da engenharia não é incomum utilizar
ambos os termos - carga admissível e carga de trabalho - como a mesma coisa.
Segundo Terzaghi (1943), a curva carga versus recalque de uma prova de carga em uma fundação
superficial pode assumir uma forma situada entre as curvas c1 e c2 da figura 2.2.
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A curva c1 constitui o que se poderia denominar de ruptura verdadeira, às vezes também chamada
de ruptura franca, em inglês plunging. Nesta curva, a fundação apresenta um bom comportamento,
ou seja, os deslocamentos são pequenos à medida que se acresce o carregamento. Num determinado
valor de carga, a tangente à curva muda abruptamente de inclinação para uma tangente vertical, ou
seja, não se consegue mais fazer com que a fundação ganhe carga, e os recalques crescem
indefinidamente. É a ruptura clássica ou conceitual. Segundo Terzaghi (1943), este tipo de
comportamento é próprio de solos de alta resistência.
Por outro lado, se, como na curva c2 desde o início do carregamento a fundação já vai sofrendo
deslocamentos significativos, é definida a ruptura - nesse caso, portanto, convencional - no ponto
onde a curva se torna uma reta de elevada inclinação. Segundo Terzaghi (1943), este tipo de
comportamento é próprio de solos de baixa resistência.
Cabe lembrar que o estabelecimento da ruptura (convencional) pelo critério acima é muitas vezes
difícil na prática, uma vez que não é nítida (ou não existe a transição) entre um trecho curvilíneo e
um trecho retilíneo. A figura 2.3, correspondente a resultados de provas de carga em placas, ilustra
este comentário.
Figura 2.3 – Provas de carga em placas de 30, 60 e 80 cm de diâmetro em solo residual de gnaisse.
Localidade: Adrianópolis, RJ (Jardim, 1980).
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Vários outros critérios existem para definir a ruptura convencional, relacionados ao conceito de
grande deslocamento do solo, ou seja, a uma situação tal que os deslocamentos já seriam de ordem
a gerar sérios danos à edificação. Um destes critérios é considerar como carga de ruptura o valor
correspondente a um deslocamento igual a uma fração do diâmetro da placa ensaiada, por exemplo
D/10.
a) Ruptura generalizada - caracterizada pela existência de um padrão de ruptura sob a fundação bem
definido, consistindo de uma superfície de ruptura partindo de um bordo da fundação até o nível do
terreno (figuras 2.4.a e 2.5). A curva carga versus recalque apresenta um bom comportamento, ou
seja, pequenos deslocamentos para valores crescentes de carga, até que a ruptura acontece, de modo
brusco. Portanto, em havendo a ruptura de uma dada fundação, esta acontece sem aviso, de forma
repentina e catastrófica. A menos que a estrutura impeça de algum modo a rotação da fundação, a
ruptura é acompanhada de significativa inclinação (figura 2.6). Por ocasião da ruptura, o solo
adjacente sofre intumescimento.
b) Ruptura localizada - caracterizada pela existência de um padrão de ruptura sob a fundação bem
definido apenas imediatamente abaixo da fundação (figuras 2.4.b e 2.7). Há a tendência de
intumescimento na região adjacente à fundação. Mesmo a grandes valores de deslocamento não
ocorre a rotação da fundação. A ruptura localizada representa uma situação intermediária entre a
ruptura generalizada e a ruptura por puncionamento.
c) Ruptura por puncionamento - caracterizada por um padrão de ruptura que não é fácil de se
visualizar (figuras 2.4.c e 2.8). O solo em torno da fundação permanece relativamente inalterado.
Rotação da fundação também não acontece. Mais do que no caso da ruptura localizada, a fundação
ganha carga mesmo com grandes deslocamentos da fundação (ver gráfico da figura 2.4.c).
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Figura 2.5 – Modo de ruptura generalizada em modelo reduzido de sapata em areia compacta
(Vesic, 1975).
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Figura 2.7 - Modo de ruptura localizada em modelo reduzido de sapata em areia medianamente
compacta (Vesic, 1975).
Figura 2.8 - Modo de ruptura por puncionamento em modelo reduzido de sapata em areia fofa
(Vesic, 1975).
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Vesic (1975) amplia o conceito anterior de Terzaghi (1943) e mostra que não apenas o tipo de solo
condiciona o modo de ruptura, mas este depende da compressibilidade relativa do solo para uma
dada geometria da fundação e condições de carregamento. A figura 2.9, válida para o caso de areias,
ilustra o comentário anterior. A tabela 2.1, obtida de dados de Vesic (1975), contém exemplos de
outros materiais.
Figura 2.9 - Modos de ruptura para fundações em areia, conforme obtido em modelos reduzidos
(Vesic, 1975).
Tabela 2.1 - Modos de ruptura para diferentes tipos de solo e fundação (extraído de Vesic, 1975).
Tipo de solo Tipo de fundação Carregamento1 Modo de ruptura
areias compactas superficial qualquer generalizada
areias compactas profunda qualquer por puncionamento
areias fofas superficial qualquer por puncionamento
argilas moles saturadas superficial rápido generalizada
argilas moles saturadas superficial lento por puncionamento
camada de argila mole ou areia fofa
subjacente à camada suporte de areia superficial qualquer por puncionamento
compacta
1
Válido apenas para cargas estáticas.
Conclui-se da figura 2.9 (ver ainda tabela 2.1) que a ruptura de estacas em areias, mesmo
compactas, se dá segundo o modo por puncionamento, de modo diferente do que imaginaria a
princípio (figura 2.10).
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Figura 2.10 - Modo de ruptura por puncionamento em modelo reduzido de estaca em areia
compacta (Vesic, 1975).
Da mesma forma, a figura 2.11 representa uma situação em que se poderia imaginar que ocorreria
uma ruptura generalizada, em virtude da camada superior de areia compacta. Entretanto, a presença
de uma camada de argila mole logo abaixo da camada de areia compacta condiciona o processo de
ruptura por puncionamento.
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Figura 2.11 – Ruptura por puncionamento de modelo de sapata em areia compacta subjacente a
camada de argila mole.
As soluções para cálculo da carga de ruptura estão associadas à aplicação da Teoria da Plasticidade.
Na ruptura, as tensões existentes em certas regiões do solo de fundação encontram-se totalmente
mobilizadas, representando portanto uma condição limite da capacidade do solo.
qrup = c Nc + q Nq + ½ γ B Nγ (2.1)
sendo
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Vale salientar que, como o modelo de Terzaghi (1943) estabelece uma fundação assente no nível do
terreno no qual atua uma sobrecarga q, no caso da sapata estar assente num tipo de solo e acima da
base da fundação existir outro tipo de solo, o único parâmetro do solo acima da base a ser
empregado na expressão (2.1) é o peso específico γ, o qual é utilizado para o cálculo de q.
Neste caso, Terzaghi (1943) recomenda que sejam empregadas as mesmas expressões acima.
Entretanto, os parâmetros de resistência do solo devem ser minorados. Ou seja, uma vez obtidos os
valores de c e φ deve-se obter os valores a serem empregados no cálculo c* e φ*, sendo
c* = 2/3 c (2.4)
tg φ* = 2/3 tg φ (2.5)
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Para a obtenção dos fatores de capacidade de carga a empregar nos cálculos, existem duas
alternativas possíveis. A primeira consiste em calcular o valor de φ* e entrar nos ábacos para
estimativa de Nc, Nq e Nγ a partir de φ*. De outra forma, pode-se entrar com o próprio valor de φ
diretamente nos ábacos de N’c, N’q e N’γ.
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A teoria de Vesic tem muitas semelhanças com a teoria de Terzaghi, mas apresenta a possibilidade
de introdução de uma série de fatores que influenciam a capacidade de carga de uma fundação.
Alguns desses fatores são aqui introduzidos.
qrup = c Nc + q Nq + ½ γ B Nγ (2.6)
A expressão (2.6) de Vesic (1975) é idêntica à expressão (2.1) de Terzaghi (1943). Entretanto, os
fatores de capacidade de carga de um e outro autores são ligeiramente diferentes. Os valores a
serem empregados para a teoria de Vesic (1975) constam da Tabela 2.3.
Nestes casos, Vesic (1975) introduziu fatores de forma, de modo que a expressão (2.7) se aplica a
outras formas da base da fundação.
qrup = c Nc ζc + q Nq ζq + ½ γ B Nγ ζγ (2.7)
sendo
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Forma da base ζc ζq ζγ
corrida 1,0 1,0 1,0
retangular 1 + (B/L) (Nq/Nc) 1 + (B/L) tg φ 1 - 0,4 B/L
quadrada 1 + (Nq/Nc) 1 + tg φ 0,6
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Até o presente momento as cargas aplicadas às fundações eram centradas, ou seja, não havia
excentricidade da carga em relação ao centro da fundação. Além disso, não havia componente de
carga horizontal atuando na fundação. Quando a carga é inclinada e/ou excêntrica (figura 2.13), a
capacidade de carga é reduzida em relação à carga vertical centrada, e portanto há que considerar os
efeitos correspondentes.
As figuras 2.14 e 2.15 abaixo, de Meyerhof (1953), ilustram respectivamente os casos de carga de
ruptura com a carga (i) excêntrica e (ii) excêntrica e inclinada.
Figura 2.14 – Modelo reduzido de ruptura de sapata corrida com carga excêntrica em areia
(Meyerhof, 1953).
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Figura 2.15 – Modelo reduzido de ruptura de sapata corrida com carga inclinada e excêntrica em
argila saturada (Meyerhof, 1953).
Se a carga aplicada à fundação for inclinada e excêntrica em relação ao centro da fundação, tal
como indicado na figura 2.13, a carga de ruptura deve ser obtida através da expressão (2.8)
sendo
B’ = B - 2 eB
L’ = L - 2 eL
O conceito de largura efetiva e comprimento efetivo foram introduzidos por Meyerhof (1953).
ζci, ζqi e ζγi fatores de inclinação, devendo ser obtidos de acordo com as expressões abaixo.
m
P
ζ qi = 1 − (2.10)
Q + B ' L ' c cot g φ
m+1
P
ζ γi = 1 − (2.11)
Q + B ' L ' c cot g φ
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sendo
m = mB ou mL, dependendo da excentricidade ocorrer em relação ao lado menor (B) ou lado maior
(L) respectivamente.
Quando as cargas são inclinadas, há naturalmente componente horizontal de carga. Portanto, há que
se verificar também se, mesmo que o solo sob a fundação apresente suficiente segurança em relação
à ruptura (ao carregamento vertical), pode haver deslizamento da fundação. Assim, a verificação a
fazer consiste em estimar a carga que provoca o deslizamento da fundação Pmáx.
Pmáx. = Q tg φ + B’ L’ ca (2.15)
sendo ca a aderência entre o solo e a fundação. No caso de solos moles a adesão pode ser tomada
como a resistência não drenada su. Recomenda-se, para este caso, um fator de segurança mínimo de
1,5, ou seja, Pmáx ≥ 1,5 P.Vale salientar que, como a carga Q corresponde à carga vertical atuante, e
quanto maior o valor de Q maior o valor de Pmáx., é conveniente utilizar-se na expressão (2.15) o
menor valor possível de Q, pois caso contrário o dimensionamento será contra a segurança.
Parênteses em relação à Teoria de Vesic: Uma terceira verificação que precisa ser feita no caso de
cargas excêntricas diz respeito à posição da resultante das cargas em relação à base da fundação.
Nesse caso, entretanto, e diferentemente das verificações anteriores, não se determina a
condição de ruptura, mas estas verificações correspondem à condição de trabalho da fundação. A
figura 2.16 ilustra o caso de uma carga vertical, com excentricidade em relação a apenas um dos
lados da fundação, e. À medida que o valor de e cresce, cresce também o valor da tensão máxima de
bordo, e a forma trapezoidal do diagrama de tensões na base vai se acentuando. Quando a
excentricidade atinge 1/6 da largura da base, o diagrama passa a ser triangular. A partir deste
momento, se a excentricidade cresce, parte da base deixa de ser comprimida.
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i) Para as cargas permanentes: toda a base deve estar comprimida. Matematicamente, isto é
representado pela expressão
ii) Para as cargas resultantes mesmo na situação mais desfavorável a base deve ter o seu centro de
gravidade na região comprimida. Isto se traduz matematicamente pela expressão
Para o cálculo da tensão máxima atuante no bordo da fundação, o gráfico da página seguinte pode
ser utilizado, e os valores para entrada são as excentricidades relativas eB/B e eL/L. O valor obtido
através do gráfico corresponde ao fator de majoração k da pressão média σméd = Q/(B L) de forma a
se obter a tensão máxima, ou seja,
Diferentemente de Terzaghi (1943), Vesic (1975) não emprega expressões distintas para o cálculo
da capacidade de carga de fundações que possam apresentar diferentes modos de ruptura. A
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proposta de Vesic (1975) consiste em utilizar fatores de compressibilidade, os quais são adicionados
à expressão (2.8). Entretanto, tais fatores dependem do valor do índice de rigidez Ir do solo,
extremamente difícil de se estimar através das sondagens à percussão, única ferramenta disponível
no caso normal de fundações de prédios. Assim, sugere-se que se empregue mesmo com a teoria de
Vesic (1975) o enfoque adotado por Terzaghi (1943) - de se reduzir os parâmetros do solo - quando
se estiver trabalhando com modos de ruptura que não o generalizado.
O nível d’água deve ser considerado sempre que estiver a uma distância menor do que a largura da
fundação em relação à profundidade da base da fundação. Seu efeito deve ser considerado de forma
ponderada através dos valores de γ, seja na parcela ½ γ B Nγ, caso o NA se situe entre a base da
fundação e a profundidade igual a Df + B, seja também na parcela qNq, caso o NA esteja ainda mais
acima, entre a base da fundação e o nível do terreno.
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item 6.3.2.1.b) para efeito de cálculo estrutural, as pressões na base da fundação podem ser
admitidas como uniformemente distribuídas, exceto no caso de fundações apoiadas sobre rocha;
item 6.3.2.1.c) para efeito de cálculo estrutural de fundações apoiadas sobre rocha, o elemento
estrutural deve ser calculado como peça rígida, adotando-se o diagrama de distribuição mostrado na
figura 2.17.
a) Nas sapatas dos pilares situados nas divisas do terreno, a excentricidade deve ser eliminada
mediante o emprego de artifícios estruturais como por exemplo as vigas de equilíbrio
(dimensionamento adiante na matéria).
b) Quando a sapata for submetida a cargas excêntricas pode-se, na falta de um processo mais
rigoroso, uniformizar a pressão adotando-se o maior dos seguintes valores:
A norma atual não é muito clara a respeito, e portanto recomenda-se a manutenção das prescrições
da norma antiga.
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item 6.4.5.1 No caso de fundações próximas, porém situadas em cotas diferentes, a reta de maior
declive que passa pelos seus bordos deve fazer, com a vertical, um ângulo ∝ como mostrado na
figura 2.10, com os seguintes valores:
c) rochas: ∝ ≥ 30o.
item 6.4.5.2 A fundação situada em cota mais baixa deve ser executada em primeiro lugar, a não ser
que se tomem cuidados especiais (figura 2.18).
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Se o fator de segurança de uma massa de solo é maior do que algo em torno de 3 em relação
à sua plastificação (ruptura), o estado de tensões no interior do solo é provavelmente semelhante ao
estado de tensões computado segundo a asserção de que o solo é elástico. Assim, nessas condições
o estado de tensões no interior do solo pode ser estimado com base na Teoria da Elasticidade
(Terzaghi, 1943).
As teorias que abordam problemas de tensões são baseadas na hipótese de que o solo é
homogêneo e isotrópico ou que o afastamento em relação a essas condições pode ser descrito por
equações simples. Vale lembrar que o termo isotrópico denota propriedades, em um determinado
ponto, idênticas em todas as direções, e o termo homogêneo denota as mesmas propriedades em
todos os pontos de uma mesma massa de solo (Terzaghi, 1943). A grande maioria das teorias que
têm a finalidade de estimar recalques de fundações é baseada na hipótese de que o solo é
homogêneo e isotrópico.
Um conceito estudado em Mecânica dos Solos será brevemente revisto aqui, é o conceito de
bulbo de pressões. Quando é aplicada uma carga na superfície de um dado terreno, são geradas
tensões em seu interior. Se as tensões de igual valor forem unidas por curvas, tais curvas serão
designadas por isóbaras (mesma tensão). A figura 3.1 abaixo (Bowles, 1977) ilustra as isóbaras de
tensões verticais geradas por uma fundação quadrada (largura B) no terreno. Denomina-se de bulbo
de pressões a região limitada pela isóbara de 10% da pressão aplicada no nível do terreno, sendo
esta a região do terreno mais influenciada pelo carregamento aplicado.
Observa-se da figura 3.1 que o bulbo de pressões, no caso da sapata quadrada (ou circular),
atinge uma profundidade da ordem de 2B, sendo B a largura (ou diâmetro) da fundação. Entretanto,
à medida que a relação L/B (sendo L o comprimento da fundação) cresce, o bulbo atinge
profundidades maiores. A tabela 3.1 fornece os valores de α (segundo Barata, 1983), sendo αB a
profundidade atingida pelo bulbo de pressões.
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Figura 3.1 – Isóbaras sob ação do carregamento de uma sobrecarga uniformemente distribuída na
superfície de semi-espaço infinito, homogêneo e isotrópico, representando carregamento de uma
fundação atuando no nível de um dado terreno (Bowles, 1977).
Tabela 3.1 – Valores de α para a estimativa da profundidade atingida pelo bulbo de pressões (na
seção central) de uma fundação de comprimento L e largura B (extraído de Barata, 1984).
Relação L/B Valor aproximado de α
1
1 2,0
1,5 2,5
2 3,0
3 3,5
4 4,0
5 4,25
10 5,25
20 5,50
infinito 6,50
1
obs.: válido também para sapatas circulares
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Várias são as formas de se classificar os recalques das fundações (em princípio, válidas tanto
para fundações superficiais como para fundações profundas).
Antes de se iniciar a classificação propriamente dita, é bom lembrar que o termo recalque é
relativo a movimento vertical descendente da fundação, embora às vezes seja utilizado, de forma
inadequada, para outras modalidades de deslocamento.
Tem-se que:
a) recalque absoluto: é o recalque de uma fundação, ou ainda de um ponto de uma fundação (no
caso de fundação de grandes dimensões).
b) recalque diferencial: é a diferença entre dois recalques absolutos ( de duas fundações ou de dois
pontos de uma mesma fundação, no caso de fundações de grandes dimensões).
No que diz respeito aos danos que podem ser causados às estruturas, vale lembrar que tais
danos não são apenas estruturais, como se pensa às vezes, mas também funcionais e estéticos.
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caimentos, inclinação do prédio, mesmo se movimento for de corpo rígido, etc., ver figuras 3.3 a
3.5).
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Quanto ao tempo de ocorrência, os recalques podem ser rápidos (às vezes chamados de
imediatos) ou lentos.
Os recalques rápidos demoram horas ou dias para ocorrer. De uma maneira geral, quando
uma determinada obra é concluída, recalques desse tipo praticamente deixam de ocorrer ao final da
construção (para o peso próprio, naturalmente, restando ainda os recalques correspondentes à
ocupação do prédio). Já os recalques lentos demoram meses ou anos para ocorrer e ainda existe uma
parcela dos recalques para ocorrer quando a obra é concluída.
Muitas vezes há uma associação dos dois tipos. No caso de materiais argilosos saturados,
por exemplo, uma parcela se dá de forma rápida, não drenada (deformação a volume constante),
enquanto outra se dá de forma drenada, com saída de água dos vazios (processo de adensamento).
No presente texto tratar-se-á apenas de recalques do tipo rápido, uma vez que geralmente em
solos argilosos saturados moles são empregadas estacas.
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b) Muito pouco se conhece acerca de recalques devidos a fenômenos viscosos, sobretudo quanto à
possibilidade de previsão deste tipo de recalque, mesmo em solos argilosos moles saturados.
Vale lembrar o trabalho de Vargas (1989) que mostra a existência de recalques desse tipo em
solos arenosos de São Paulo.
Terzaghi e Peck (1967) mencionam que antes do advento da Mecânica dos Solos as pressões
utilizadas como admissíveis eram obtidas através de observações. As estruturas que apresentavam
problemas forneciam indicações sobre pressões que não podiam ser utilizadas, enquanto aquelas
com bom comportamento sugeriam pressões admissíveis adequadas para aqueles tipos de terreno.
Os códigos de fundação foram assim estabelecidos, sem levar em conta aspectos relacionados às
dimensões da área carregada, características das fundações e da estrutura, etc.
O uso (e a própria existência) dos códigos conduziu, segundo aqueles autores, à crença
errônea de que, uma vez que a pressão aplicada às fundações fosse menor que a pressão admissível
dos códigos, nada aconteceria à estrutura. Terzaghi e Peck (1967) comentam ainda que muitos
engenheiros acreditavam mesmo que, nessas condições, o recalque era nulo, crença que, segundo
eles, “existe até hoje” (1967). Nós poderíamos certamente estender essa observação até a presente
data.
Naturalmente, o uso dos códigos conduziu a muitos sucessos, mas também a vários
insucessos. Estes foram atribuídos à inadequação da classificação dos solos, com relação à
classificação constante dos códigos3.
Para superar este problema, surgiram as primeiras provas de carga em placas, realizadas em
placas de 1ft x 1ft (30cm x 30cm), geralmente, e assentes à mesma profundidade onde se pretendia
assentar as fundações.
Em princípio, as pressões admissíveis obtidas a partir das provas de carga eram provenientes
da relação
1
p adm = p
2 0 ,5"
3
Vale lembrar, neste ponto, que a questão dos recalques pode ser dividida em dois problemas: o
primeiro relativo à previsão dos recalques, e o segundo relativo à verificação da sensibilidade da
estrutura aos recalques. De fato, Skempton e MacDonald (1955) comentam: “Não importa quão
acurada uma análise de recalques possa ser, ela é de limitado valor prático se o projetista não tem
conhecimento do valor do recalque que pode ser tolerado pela estrutura em consideração. Em outras
palavras o conhecimento dos recalques admissíveis é tão importante quanto a habilidade de se
efetuar o cálculo dos recalques”.
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sendo
Mesmo com a realização das provas de carga, houve vários insucessos. Terzaghi e Peck
(1967) lembram que a prova de carga influencia o terreno até uma profundidade da ordem de 2B,
sendo B a largura da placa, enquanto as fundações influenciarão regiões muito mais profundas (ver
conceitos de bulbos de pressões). Terzaghi e Peck (1967) sugerem o uso das provas de carga
relacionadas à realização do SPT, de forma a verificar a aplicabilidade dos dados das provas de
carga.
Terzaghi e Peck (1967) mencionam ainda que, no caso de areias, o critério de recalques deve
comandar o dimensionamento das fundações, exceção feita ao caso das areias fofas, com nível
d’água próximo à base da fundação, e fundação com largura de até 1,8 m.
De uma maneira geral, os métodos de previsão de recalques podem ser de dois tipos:
racionais e semi-empíricos (ou empíricos).
4
Terminologia adotada pelo Prof. Fernando Emmanuel Barata
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i) Método de Terzaghi-Peck
Este método visa obter o recalque s de uma fundação superficial de largura B, conhecendo-
se o recalque s1 de uma placa de 1ft x 1ft (30cm x 30cm) assente à mesma profundidade da
fundação. É válido para areias medianamente compactas e compactas, e deve-se utilizar a seguinte
expressão:
2
2B
s = s1
B + 1
sendo B expresso em pés. Para B expresso em metros, deve-se substituir 1 na expressão acima por
0,3.
Este método toma como base os resultados de provas de carga em placas circulares de
diferentes diâmetros, 30cm, 60 cm e 80cm, assentes à mesma profundidade em que se pretende
instalar as fundações. A partir dos resultados das provas, determinam-se os valores de pressão
correspondentes ao recalque admissível desejado. (ver figura 3.6 abaixo).
P
p ∆ =n + m
A
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O método de Housel foi muito empregado pelo Professor Fernando Emmanuel Barata como
parte do desenvolvimento de seu método de estimativa de recalques de fundações superficiais.
p
∆h = λ c∆ B (1 − µ 2 )
Ez
sendo
λ = coeficiente de Mindlin, λ ≤ 1, que leva em consideração o fato da fundação estar assente a uma
profundidade h e não na superfície do terreno (figuras 3.8 e 3.9)
c∆ = fator de forma da fundação (tabela 3.2)
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Tabela 3.2 – Fatores de forma a serem empregados no método de Barata (1984) (admitiu-se que as
sapatas podem ser consideradas como fundações rígidas)
Forma da fundação Valores de c∆
Circular 0,88
Quadrada 0,82
L/B = 1,5 1,06
L/B = 2,0 1,20
Retangular L/B = 5,0 1,70
L/B = 10,0 2,10
L/B = 100 3,40
Ez = módulo de deformação (ou módulo de placa), o cerne do método; Barata correlacionou o valor
de Ez com a resistência de ponta do ensaio de cone, qc, através da expressão
Ez = a qc
e o valor do coeficiente a foi designado por Barata como coeficiente de Buisman, em homenagem
ao pesquisador holandês que utilizou expressão semelhante para a estimativa do módulo
edométrico; os valores do coeficiente de Buisman obtidos e relacionados por Barata (1983) constam
da tabela 3.4. Barata (1983) ressalta que a experiência até aqui existente mostra que o valor de a é
sempre maior que 1,0; as areias e solos arenosos têm os mais baixos valores de a, enquanto as
argilas e solos argilosos apresentam os mais altos.
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Figura 3.8 – Valores de λ para fundações circulares5 (Caquot e Kérisel, 1956, segundo Barata,
1962).
5
Valores correspondentes a coeficiente de Poisson igual a 0,3, podendo ser adotados nos casos da prática de projeto.
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Figura 3.9 - Valores de λ para fundações retangulares (Fox, 1948, segundo Barata, 1962).
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Os valores de Ez devem ser calculados ao longo de todo o bulbo de pressões, cuja profundidade pode ser obtida através
da tabela 3.1. Caso não se disponha do ensaio de cone, pode-se empregar uma correlação entre os valores da resistência
de ponta do cone (qc) e o número de golpes (N) do SPT, através da correlação
qc = K N
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Tabela 3.5 – Valores de K para emprego na correlação entre o ensaio de cone e a sondagem à
percussão (Danziger, 1982)
Assim, uma vez que se disponha apenas de resultados de sondagens à percussão, deve-se
calcular os valores de Ez de metro em metro (pois na sondagem N é fornecido a cada metro) e
definir uma reta cuja tendência de comportamento represente os pontos na região correspondente ao
bulbo. Pontos muito fora da tendência do conjunto podem ser eliminados da análise. Uma vez
definida esta reta, o valor de Ez a ser empregado na expressão para cálculo dos recalques
corresponde ao meio do bulbo. A figura 3.10 ilustra este procedimento.
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Concluindo o presente item, cabe salientar que o método de Barata – como todos os métodos
semi-empíricos – apresenta um banco de dados associado, o qual é relativo aos solos residuais.
Portanto, o método é particularmente indicado para aplicação em tais solos, que constituem uma
realidade tipicamente brasileira.
p
εz = (1 + ν ) [ (1 − 2ν ) A + F ]
E
sendo
I z = ( 1 + ν ) [ ( 1 − 2ν ) A + F ]
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Segundo Schmertmann (1970), estudos em modelos em areias têm todos mostrado que a
profundidade correspondente à máxima deformação vertical é maior do que a fornecida pela Teoria
da Elasticidade. Na figura 3.11 acima estão incluídos resultados provenientes de ensaios em
modelos. Schmertmann (1970) apresenta resultados de aplicação do Método dos Elementos Finitos,
para uma análise não linear, igualmente apresentando a mesma tendência de comportamento.
Baseado nas conclusões acima, Schmertmann (1970) propõe para fins práticos uma
distribuição simplificada do fator de influência Iz em função da profundidade normalizada. Esta
distribuição tem a forma de um triângulo, sendo referida como distribuição 2B-0,6. A distribuição
simplificada está também apresentada na figura 3.11.
Es = 2 qc
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4) Calcule o valor de (Iz/Es) ∆z e calcule a soma dos valores para as camadas consideradas.
σ ' vb
C1 = 1 − 0,5
∆p
sendo
σ’vb = tensão vertical efetiva ao nível da base da fundação
∆p = p-σ’vb = tensão líquida na fundação
t
C2 = 1 + 0,2 log
to anos
sendo
t = tempo para avaliação dos recalques
to = tempo de referência, assumido como 0,1 ano
∞ 2B
Iz 2B
I
ρ = ∫ ε z dz ≈ ∆p ∫ dz ≈ C1 C2 ∆p ∑ z ∆z
0 0 Es 0 Es
Es = x qc
sendo
x = 2,5 para fundações quadradas e x = 3,5 para fundações longas
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'
p − σvb
I zp = 0,5 + 0,1 '
σvp
sendo
σ’vp = tensão vertical efetiva a B/2 ou B abaixo da fundação, respectivamente para os casos de
simetria axial (fundações quadradas) e estado plano de deformações (fundações longas)
Finalizando, é importante ressaltar que o método de Schmertmann (1970, 1978) é, tal como o método de Barata
(1962, 1983), um método semi-empírico. Desse modo, seu banco de dados é associado a areias sedimentares e,
portanto, esse é seu universo de aplicação na prática da engenharia.
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Incluir no estudo Bjerrum, NGI pub. 100, discussão sobre N , ver pg. 13.
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