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TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
O espaço do debate sobre gênero e sexualidade na educação exige o
reconhecimento dos aspectos biológicos e culturais da questão de gênero e
sexualidade, bem como a compreensão das identidades de gênero presentes em
nossa sociedade e, por consequência, na escola.
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ATENCAO
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O pequeno Romeo Clarke tem cinco anos e adora usar seus mais de 100 vestidos
para as atividades do dia a dia. "Eles são fofos, bonitos e têm muito brilho", explicou ao
tabloide britânico Daily Mirror. Clarke virou notícia em maio do ano passado. O projeto
de contraturno que ele frequentava na cidade de Rugby, no Reino Unido, considerou as
roupas impróprias. O menino ficou afastado até que decidisse - palavras da instituição - "se
vestir de acordo com seu gênero". [...]
A instituição deve ser um ambiente em que todos os alunos se sintam acolhidos. Para que
isso aconteça, é importante que a sexualidade seja discutida constantemente, mostrando
que não há uma única maneira possível de explorá-la. Também é preciso apoiar alunos
que busquem os educadores para discutir sua sexualidade. Nas regras de convivência e nas
ações concretas de gestores e professores, deve estar claro que situações de homofobia e
piadinhas não são toleráveis.
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Vale lembrar que a proposta feminista não representa a luta pela construção
de um padrão onde o feminino é superior ao masculino. O feminismo busca a
igualdade de gênero através da superação da dominação masculina que prevalece
em nossa sociedade. Os exemplos dessa dominação podem ser observados na
violência contra a mulher no mercado de trabalho, com média salarial inferior em
relação aos homens. Acompanhe na figura a seguir as diferentes identidades de
gênero e suas representações.
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Gênero e educação
Organizar este dossiê consistiu, para nós, um grande desafio. Por certo, não precisamos "inventar"
justificativas para a oportunidade de sua publicação: de um lado, porque a demanda pela inclusão
na REF de artigos voltados para a Educação já vem se manifestando há algum tempo; de outro
lado, porque reconhecemos que as questões de gênero e sexualidade vêm ganhando espaço
nas análises e pesquisas educacionais, ainda que não com o ritmo ou da forma como muitas
de nós, estudiosas feministas, desejávamos e esperávamos. De qualquer modo, entendemos
que a articulação entre Educação e Estudos Feministas é um processo em curso e que o dossiê
deveria ser representativo desse processo. Tal tarefa nos parecia, contudo, quase impossível de ser
realizada a contento.
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país, e tentam estabelecer um diálogo com a teorização e a produção internacional da área. Seria
preciso reconhecer, ainda, que, não apenas nestes espaços, mas também em escolas e centros
comunitários, alguns docentes e estudantes questionam suas experiências e ensaiam práticas sob
a ótica do gênero. Um processo, portanto, plural, polêmico e complexo, no qual práticas educativas
e pedagógicas cotidianas incitam questões e problemas teóricos, ao mesmo tempo que novas
teorias e movimentos sociais provocam ou transformam as práticas pedagógicas. Seria possível
expressar adequadamente essa multiplicidade?
O presente dossiê traz apenas uma pequena amostra desse quadro. Os artigos que se seguem,
produzidos por estudiosos de algumas instituições brasileiras, são construídos a partir de diferentes
posições disciplinares e teóricas e elegem algumas temáticas relevantes para o campo educacional,
mais uma vez, distintamente concebidas. O leitor atento poderá perceber pontos divergentes e de
tensão entre eles. Entendemos, contudo, que essa característica se constitui em uma das "marcas"
mais instigantes e produtivas do feminismo e que, portanto, não há sentido em negá-la.
No artigo que abre o dossiê: "Educação formal, mulher e gênero no Brasil contemporâneo", Fúlvia
Rosemberg questiona a esperada articulação entre os estudos de gênero e o campo da educação
e, com apoio de dados quantitativos recentes, apresenta um quadro crítico da situação de
homens e mulheres no sistema educacional brasileiro. A autora analisa, ainda, as metas nacionais
e internacionais hoje afirmadas em relação à igualdade de oportunidades de gênero na educação
e põe em discussão algumas das interpretações convencionais.
Em "Teoria queer: uma política pós-identitária para a Educação", Guacira Lopes Louro busca
analisar questões significativas da teorização queer e indicar alguns desafios que ela pode sugerir
ao campo educacional. "Como", pergunta a autora, "uma tal teoria, declaradamente não propositiva,
pode 'falar' a um campo que, tradicionalmente, vive de projetos e de intenções, objetivos e planos
de ação?" A transgressão de fronteiras sexuais e de gênero e o questionamento da dicotomia
heterossexualidade/homossexualidade – centrais na análise queer – servem aqui de mote para
refletir sobre o atravessamento e a contestação de muitos outros binarismos importantes para o
campo educacional.
Para construir o artigo intitulado "Mau aluno, boa aluna? Como os professores avaliam meninos e
meninas", Marília Carvalho recorre a uma pesquisa qualitativa realizada com docentes de uma escola
pública de Ensino Fundamental em São Paulo. Os depoimentos favorecem uma aproximação mais
'direta' ao cotidiano escolar e permitem à autora uma análise interessante dos critérios de avaliação
e das opiniões dos docentes sobre comportamentos, atitudes, sucessos e insucessos de meninos
e meninas.
Helena Altmann privilegia uma questão que, nos últimos anos, ocupa (e preocupa) professoras
e professores das escolas brasileiras, ou seja, as diretrizes dos PCN. No artigo "Orientação Sexual
nos parâmetros curriculares nacionais", a estudiosa discute como o dispositivo da sexualidade é
apresentado neste documento oficial e as proposições que são feitas para operar nas escolas com
este 'tema transversal'. Finalmente, ela se volta para os efeitos de tais propostas nas salas de aula,
mais particularmente, nas atividades da Educação Física.
O artigo que encerra o dossiê: "Mídia e educação da mulher: uma discussão teórica sobre modos
de enunciar o feminino na TV", assinado por Rosa Fischer, sai do espaço escolar e assume a
educação em seu sentido mais amplo. Recorrendo a conceitos de Michel Foucault e Homi Bhabha,
bem como às formulações de Maria Rita Kehl sobre a enunciação do feminino, a autora analisa
criticamente o discurso que a televisão brasileira vem produzindo sobre as mulheres.
Longe de sugerir conclusões ou propostas definitivas, esperamos que este conjunto de textos
estimule o debate e suscite outros estudos e análises sobre possíveis articulações entre a Educação
e os Estudos Feministas.
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• O conteúdo dos livros didáticos que apresentam tarefas diferentes para homens
e para mulheres, com maior valor social para as tarefas dos homens.
• Nossa educação, de maneira geral, não apresenta homens e mulheres como
detentores de direitos iguais.
• Não mostra aos alunos como se formam as desigualdades sociais.
• Reproduz o modelo tradicional de ensino que desloca o conhecimento da realidade
valorizando ou desvalorizando características, atitudes e comportamentos.
• Valoriza o silêncio, a obediência e a acomodação.
• Reconhece a desobediência como característica natural para os meninos e negativa
para as meninas.
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Vale lembrar, caro acadêmico, das discussões que você acompanhou nas
Unidades 1 e 2, que mostraram os desafios da diversidade e também como o
respeito à diversidade e o acesso à educação de qualidade para todos são previstos
na legislação brasileira.
LEITURA COMPLEMENTAR
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de gênero”, que nos últimos dois anos vem sendo divulgados e exaustivamente
repetidos em vídeos, textos, cartilhas, documentos da CNBB, palestras etc. Uma
retórica que afirma haver uma conspiração mundial entre ONU, União Europeia,
governos de esquerda, movimentos feminista e LGBT para “destruir a família”,
mas que, em última análise, objetiva, sim, propagar um pânico social e voltar as
pessoas contra os estudos de gênero e contra todas as políticas públicas voltadas
para as mulheres e a população LGBT, sobretudo nas questões relacionadas aos
chamados novos direitos humanos, por exemplo, no uso do nome social, no direito
à identidade de gênero, na livre orientação sexual.
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