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SÍNTESE DAS IDEIAS DE POPPPER SOBRE O MÉTODO

CIENTÍFICO E A CIÊNCIA
1. Uma teoria é científica se for testável e suscetível de
falsificação empírica mediante a observação.
TESES
CENTRAIS 2. Uma teoria irrefutável não tem direito a ser
considerada científica.

3. O indutivismo é uma perspetiva errada sobre o


método científico.

4. As teorias e hipóteses científicas não podem ser


verificadas nem confirmadas, unicamente
corroboradas.

5. Os cientistas exercem uma vigilância crítica


permanente das hipóteses e teorias científicas.

6. A ciência é objetiva porque os cientistas submetem as


teorias ou hipóteses a testes empíricos rigorosos.

7. A ciência procede por conjeturas (hipóteses) e


refutações em direção a um ideal de verdade que nunca
atingirá, mas do qual se aproxima constantemente
mediante a eliminação de erros.
A falsificabilidade O tema da falsificabilidade permite a Popper resolver
dois problemas: o da demarcação entre ciência e não
ciência e o do papel da indução na ciência.

A falsificabilidade é a caraterística de uma teoria ou


hipótese que pode ser refutada por alguma observação.

O problema da O problema da demarcação consiste em encontrar um


demarcação critério que permita separar ciência de pseudociência.

Será científica a teoria que se submete a testes


destinados a falsificá-la e assim a refutá-la. A ciência
distingue-se da pseudociência porque procura falsificar
e não verificar ou confirmar as suas hipóteses.

As teorias que não são refutáveis por alguma


observação possível não são científicas. E são
cientificamente tanto mais úteis quanto mais riscos
correrem nas previsões que fazem.
Contra o Popper resolve o problema da indução opondo à
indutivismo e o conceção indutivista da investigação científica (que
verificacionismo procura tornar verdadeiras as teorias) a falsificação.

A indução não é o método da ciência porque:

1. Não podemos inferir as hipóteses da experiência


como se houvesse observações puras ou objetivas. Os
cientistas deduzem consequências observacionais das
teorias e, submetendo essas predições ao confronto com
os factos, sujeitam as teorias a testes rigorosos. Não
precisam da indução para formar hipóteses.

2. A experimentação científica não é realizada com o


objetivo de «verificar» ou estabelecer a verdade de
hipóteses ou teorias porque esse objetivo é impossível.

A indução não nos pode dar certezas acerca da verdade das


nossas teorias. Por maior que seja o número de
observações a favor de uma teoria obtida por indução, esta
pode sempre vir a revelar-se falsa. Mas podemos muitas
vezes ter a certeza da sua falsidade adotando um modelo
hipotético dedutivo que procura provar a falsidade e não a
verdade de uma teoria.

A corroboração Uma teoria diz-se corroborada quando resiste aos


testes destinados a falsificá-la.

Para ser corroborada uma teoria deve apresentar um bom


conteúdo empírico que restrinja aquilo segundo as suas
previsões pode acontecer ‒ de modo a não ser vaga ‒ e
deve passar em testes sérios e rigorosos. Mas ser
corroborada não significa dizer que a sua verdade foi
provada nem que é provável que seja verdadeira.
Unicamente não foi refutada e podemos continuar a
trabalhar com ela, se não for posteriormente desmentida
ou se não encontrarmos uma melhor. A qualquer
momento, uma teoria pode ser refutada por novos testes.
O máximo que se pode dizer de uma teoria científica é
que, até a um dado momento, ela resistiu aos testes
usados para a refutar.
O progresso do A ciência progride mediante o método das conjeturas e
conhecimento refutações.
científico
As conjeturas ou hipóteses – que nunca podem ser
verificadas ou confirmadas ‒ são sujeitas a testes severos
aos quais podem sobreviver ou não. As que sobrevivem às
tentativas de refutação revelam-se mais resistentes, mas
nunca verdadeiras ou provavelmente verdadeiras.
Constituem, em comparação com outras, uma melhor
aproximação à verdade. O seu grau de verosimilhança é o
critério que as torna melhores do que teorias rivais.
Aproxima-se mais da verdade a conjetura que resolve
melhor certos problemas do que as suas competidoras.

O progresso científico, mediante a eliminação de erros,


é uma evolução em direção a uma meta ideal
inalcançável: o ideal da verdade como espelho fiel da
realidade.

SÍNTESE DAS IDEIAS DE KUHN SOBRE A CIÊNCIA E A SUA EVOLUÇÃO

1. Não há atividade científica fora de uma


comunidade de praticantes (comunidade
científica).

2. Não há comunidade científica sem a


adoção consensual de um paradigma pelos
seus membros.

TESES CENTRAIS 3. A atividade a que ao longo da história da


ciência os cientistas mais frequentemente
se dedicam tem o nome de ciência normal.

4. A longos períodos de ciência normal


sucedem de vez em quando episódios
revolucionários a que se dá o nome de
revoluções científicas, ou seja, mudanças
de paradigma.

5. Uma revolução científica traduz-se


numa forma de ver o mundo inteiramente
nova e incompatível com a forma de ver o
mundo associada e determinada pelo
paradigma anterior.
6. Sendo a expressão de formas
incompatíveis de ver o mundo, os
paradigmas são incomensuráveis.

7. Sendo incomensuráveis, não há acima ou


fora de cada paradigma um critério ou
medida comum que permita considerar
que um é mais verdadeiro do que outro ou
que é um espelho mais fiel da realidade.

8. Assim sendo, não se pode falar de


progresso científico se por este
entendermos um progresso contínuo e
cumulativo em direção à verdade. Se
pudermos falar de progresso, este é
descontínuo, feito de algumas ruturas ou
descontinuidades, de mudanças de
paradigmas e não de transformação de um
paradigma noutro.

9. A substituição de um paradigma por


outro não obedece a critérios estritamente
objetivos e racionais.

A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA ESQUEMA DA EVOLUÇÃO DA


CIÊNCIA

Pré-ciência --------- Ciência normal


----------Ciência extraordinária ------------
Revolução científica --------- Novo período
de ciência normal …………….

1. Pré-ciência. Período marcado pela


ausência de consenso, dado não haver um
paradigma partilhado.

2. Ciência normal. Período longo em que


um paradigma – o contexto intelectual e
tecnológico da prática científica – dá unidade
à atividade dos praticantes de ciência. Os
cientistas aplicam o paradigma para
determinar que problemas resolver e como
os resolver e também procuram ampliar o
seu poder explicativo. Este período assume
por isso um caráter cumulativo resultante da
invenção de instrumentos mais potentes e
eficazes, que possibilitam medições mais
exatas e precisas, não procurando o cientista
a novidade nem pôr em causa o paradigma.

3. Ciência extraordinária. Período de crise


do paradigma vigente, dado que as anomalias
a princípio detetadas e relativamente
desvalorizadas persistem e que a sua
gravidade ameaçam as bases do paradigma.
Não basta a existência de anomalias – o
próprio termo é significativo ‒ para que o
paradigma vigente entre em crise. É
necessário que as anomalias abalem a
confiança no paradigma e suscitem a
constituição de paradigmas alternativos. Da
união em torno de um paradigma passamos à
divisão. A crise pode ser resolvida de duas
maneiras: 1. Ou se reformula e reajusta o
paradigma continuando a trabalhar com ele;
2. Ou se abandona o paradigma substituindo-
o por um novo.
4. Revolução científica. Período em que se
dá a mudança de paradigma e a constituição
de uma nova forma de ver o mundo
incompatível ou incomensurável com a
anterior. A transição de um paradigma para
outro não é pois um processo cumulativo,
mas uma rutura e uma aposta nas
potencialidades do novo paradigma. Se não
conseguir explicar melhor os fenómenos que
derrotavam o poder explicativo do anterior
paradigma, o novo não triunfará.
5. Novo período de ciência normal.
Estabelecida uma nova forma de fazer ciência
e dotados de um novo «mapa» para explorar e
investigar a natureza, os cientistas regressam
a uma atividade relativamente rotineira
marcada pela preocupação em consolidar o
novo paradigma e em ampliar a sua
aplicação.
A INCOMENSURABILIDADE DOS Não há um critério absoluto que permita
PARADIGMAS medir ou aferir os méritos relativos de cada
paradigma e decidir da sua maior ou menor
verdade.

Enquanto nova forma de ver o mundo – nova


mundivisão –, o paradigma triunfante
estabelece uma nova forma de fazer ciência,
definindo um novo conjunto de normas e de
procedimentos, que questões são legítimas,
como é apropriado resolvê-las e mesmo um
entendimento diferente de conceitos
anteriores. Mas o novo não triunfa sobre o
velho porque é objetivamente melhor. Na
verdade, os paradigmas são
incomensuráveis: diferentes maneiras de ver
o mesmo mundo instalam os cientistas em
mundos diferentes. Assim, não pode haver
uma forma objetiva, um critério neutro,
exterior a cada paradigma, para dizer que, na
passagem de um a outro, houve um avanço
em direção à verdade. A verdade é sempre
relativa a um paradigma, pelo que é
impossível, dada a incomensurabilidade dos
paradigmas, determinar se um é mais
verdadeiro ou melhor do que outro.

A ESCOLHA ENTRE Não há nenhum argumento a priori –


PARADIGMAS nenhum critério objetivamente
estabelecido ‒ que em certa medida
obrigue um cientista a adotar um
paradigma e não outro.

Apesar de Kuhn apresentar alguns critérios


objetivos que podem tornar um paradigma
preferível a outro – simplicidade,
fecundidade, alcance e precisão explicativa –,
a escolha entre paradigmas envolve vários
fatores (psicológicos e sociais). Assim,
mesmo os critérios objetivos são objeto de
apreciação e de interpretação condicionadas
por gostos, convicções religiosas, etc. No
caso do triunfo do paradigma de Copérnico,
por exemplo, houve cientistas que foram
atraídos pela sua simplicidade, outros que
valorizaram a sua capacidade explicativa e
outros ainda que o rejeitaram por motivos
religiosos. Vários fatores – científicos e extra
científicos (gostos, preferências religiosas,
poder político e mesmo preconceitos) ‒
influenciam a escolha do novo paradigma.

Assim, a mudança de paradigma não


obedece a critérios estritamente racionais e
objetivos.

Não há aproximação à verdade na evolução da ciência porque não podemos


determinar se um paradigma é superior a outro.

A ciência evolui, mas é muito discutível dizer que essa evolução se faz de forma
estritamente racional e objetiva.

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