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AMOR: AMOR

Não era nada não. O sujeito é que era meio assim.

Desprovido? Foi por isso que ela ficou daquele jeito.

Encostou a cabeça assim no sofá e foi sumindo. Não tava

mesmo pensando em nada. A textura macia do sofá. Não

queria mais inventar histórias, nem brigar, ter filhos,

namorar. A vida, meu Deus!, bem que podia ter sido

sempre só isso. O gostoso da cabeça encostada no sofá

e a certeza de que tudo era alheio, perdido. Essa paz

precária. Só tinha mesmo vontade era de que até o suave

do sofá fosse sumindo. O sujeito balangando na rede e

olhando pra ela. Ela sumindo, sumindo. O sujeito

sumindo, sumindo. O sofá, a rede, as brigas que um dia

viriam, os meninos falando alto, as histórias sobre coisa

nenhuma, os namorados, as namoradas, os bichos

grudados na parede, o medo, os risos. Que tudo fosse


sumindo, sumindo. Até não... Ah! Deixa pra lá. Claro que

não era nada não. Bobagem.

Amanhã, já teria esquecido tudo.

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