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Original em inglês: páginas 61 a 81.

A Expansão da Agricultura Intensiva e Pecuária na Amazônia Brasileira

Robert Walker,1 Ruth DeFries,2 Maria Del Carmem Vera-Diaz,3


Yosio Shimabukuro,4 e Adriano Venturieri5

A agropecuária na Amazônia tem, frequentemente, provocado


controvérsia em função do imenso valor ecológico do meio ambiente da
região. Isso ocorreu, primeiramente, com a pecuária e atualmente com
o crescimento acelerado da soja, uso de tratores e criação de gado.
Essas atividades têm ocupado terras que, por milênios, sustentaram
somente florestas úmidas fechadas, ecossistemas naturais e povos
indígenas dispersos. O presente capítulo focaliza a porção brasileira da
Bacia Amazônica e trata da expansão da agropecuária nesta região,
partindo da premissa de que uma efetiva política de desenvolvimento
sustentável deve fundamentar-se no entendimento desse sistema de
produção.Dessa forma, o capítulo busca atrelar seus objetivos às
iniciativas de desenvolvimento que criaram as pré-condições da atual
economia agropecuária da Amazônia. Esta região é remota e tem,
portanto, demandado a intervenção sustentada do governo para a
liberação de seu potencial. A discussão de políticas públicas é seguida
por descrições sobre pecuária e plantio de soja e para cada uma delas
são apresentadas características do mercado e trajetórias de expansão.
Embora estas descrições setoriais contenham uma riqueza de dados,
elas não fornecem uma arquitetura conceitual para a análise de
impactos ambientais das condições do mercado em expansão. Para isto,
o capítulo evoca o modelo clássico de uso da terra de Von Thünen
explicando a dinâmica da cobertura da terra na Amazônia, em relação
às ligações entre soja-pecuária, com dados de sensoriamento remoto
dos Estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, discutindo cenários de
avanços agrícolas na floresta. As conclusões seguem considerando
possíveis respostas de políticas ao desmatamento e ao contexto social
de intensificação agrícola, com especial atenção às questões de
seguridade da posse da terra e equidade distribucional.

__________________
1
Department of Geography, Michigan State University, 1. INTRODUÇÃO
East Lansing, Michigan, USA.
2
Department of Ecology, Evolution, and Environmental
Biology, Columbia University, New York, New York, USA .
O Brasil há muito vem procurando
3
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Belém, desenvolver o potencial econômico da
Brasil. Amazônia, uma busca que às vezes traz riquezas
4
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos para a região como aconteceu durante a
Campos, São Paulo, Brasil. exploração da borracha nos fins do século XIX e
5
CPATU-Embrapa, Belém, Brasil.
começo do XX. Neste período, os ganhos de
Amazonia and Global Change muitos residentes amazônicos aumentaram a
Geophysical Monograph Series 186 níveis sem precedentes no século dezenove
Copyright 2009 by the American Geophysical Union. [Weinstein, 1983]. Depois do fracasso deste
10.1029/2008GM000735

1
crescimento repentino, a busca por um novo Este capítulo discorre sobre as políticas públicas
propulsor para o crescimento regional que criaram as pré-condições para a
continuou. Parte deste processo se deve à agropecuária amazônica moderna, resultado de
constituição brasileira de 1946, que definiu um um processo de desenvolvimento que se
plano abrangente para integrar a Amazônia à estendeu por 40 anos e continua até o
economia nacional. Além disso, a mudança da presente. A região é tão remota quanto extensa
capital do Brasil, do Rio de Janeiro para Brasília, e, portanto, requer uma intervenção sustentada
em 1960, deu um impulso demográfico e do governo para a liberação de seu potencial.
geopolítico a esta exigência histórica. Em seguida, a discussão trata das descrições
O eterno sonho do Brasil de “desenvolver” a setoriais, primeiramente sobre pecuária e
Amazônia realizou-se em muitos aspectos pela depois sobre a agricultura da soja. Para cada um
agropecuária, no início do século vinte e um. A destes temas consideramos o cenário
região exibe, hoje, além da grande e crescente mercadológico e suas trajetórias de expansão
população, uma economia agropecuária que usando dados censitários brasileiros,
responde por 14% de todo o valor agregado às focalizando a soja, dentre todos os demais
atividades agropecuárias em todo o país. A cultivos da região. Embora outros sejam
carne bovina da Amazônia abastece economicamente importantes, a soja se
consumidores no Brasil e até na China, ao mantém como o principal caso de agricultura
mesmo tempo em que a soja produzida na “mecanizada” da Amazônia, dada a sua
região é embarcada em Porto Velho, capital do supremacia em termos da renda gerada,
Estado de Rondônia e em Santarém, município impactos na paisagem da terra e a provável
do Estado do Pará, rumo aos seus mercados continuidade de expansão. Dito isso, a
europeus. O Brasil emergiu como uma das economia emergente do biocombustível coloca
potências agrícolas mundiais e se apoiou, em a cana-de-açúcar no horizonte como um novo
parte, na base sólida deste robusto setor na cultivo com importância potencial para a região
Amazônia. [Sawyer, 2008].
O desenvolvimento agropecuário nessa As descrições setoriais são ricas em dados,
região frequentemente provoca controvérsia, mas, não fornecem uma arquitetura conceitual
dado o tremendo valor ecológico do meio capaz de estabelecer as ligações entre as
ambiente. Primeiramente, a pecuária – e agora condições de mercado e os impactos ao meio
com o repentino surgimento da soja – tratores ambiente da região. Para isto, focalizamos a
e gado marcham firmemente por terras que, pecuária e a agricultura da soja sob o clássico
por milênios, sustentaram somente florestas modelo de uso da terra de Von Thünen para
úmidas fechadas, ecossistemas naturais e povos explicar a dinâmica da cobertura da terra na
indígenas dispersos. Com tendências contínuas Amazônia. Em seguida, abordamos estas
de demanda por commodities agrícolas do dinâmicas com dados de sensoriamento remoto
Brasil, o avanço da agropecuária, de estudos de desmatamento nos estados de
provavelmente, irá continuar. O presente Mato Grosso, Pará e Rondônia. Concluímos o
capítulo considera a expansão intensiva desta capítulo com a discussão de cenários plausíveis
atividade na Amazônia, de interesse para a de avanço agrícola e possíveis respostas sobre
promoção da ciência e da sustentabilidade no políticas públicas.
âmbito da comunidade do Experimento de Vale ressaltar uma ambiguidade em torno do
Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na termo Amazônia. Ao mesmo tempo em que é
Amazônia (LBA). O desenvolvimento efetivo e a reconhecida como uma entidade política dentro
política ambiental para a Bacia Amazônica do estado brasileiro, denominada “Amazônia
devem estar totalmente fundamentados no Legal”, possuindo um planejamento regional
entendimento da agropecuária da região. que inclui tanto florestas tropicais úmidas

2
quanto regiões relativamente secas de cerrado regime militar e com a Operação Amazônia, por
nos estados de Tocantins, Mato Grosso e meio de uma série de ações governamentais
Rondônia, a Amazônia é uma região biofísica empreendidas e leis aprovadas durante 1966 e
que atravessa algumas fronteiras nacionais. 1967, as quais contemplaram tanto os
Dessa forma, ainda que o capítulo focalize o interesses econômicos quanto os geopolíticos
Brasil como um país que tem vivenciado as mais [Goulding et al., 1995]. O objetivo principal foi
significativas mudanças ecológicas, econômicas investir em uma infraestrutura desenhada para
e sociais na Bacia Amazônica, reconhecemos a ligar a Amazônia às partes sul e nordeste do
importância desta região para todos aqueles que Brasil, um objetivo concretamente simbolizado
compartilham de sua riqueza natural. Além com a conclusão da Rodovia Belém-Brasília em
disso, entendemos que as forças do 1960 [Valverde e Dias, 1967]. Primeiramente,
desenvolvimento que afetam a porção brasileira favorecendo a Bacia Sedimentar do rio
da Amazônia não estão restritas ao Brasil, mas a Amazonas, a Operação Amazônia também
todos os seus parceiros geográficos. procurou estabelecer um pólo de
desenvolvimento na cidade de Manaus, com a
criação da zona de livre comércio em 1967. O
2. A POLÍTICA AMBIENTAL impulso da Operação Amazônia continuou sob
um processo de planejamento mais formal, com
A Amazônia era relativamente “vazia” até o Primeiro Plano de Desenvolvimento Nacional
recentemente. Nesse sentido, para se (1PND 1972-1974), com o objetivo de ligar a
compreender a dramática chegada da região ao restante do Brasil e estimular tanto o
agricultura e da pecuária na região é necessário crescimento econômico, quanto a colonização
considerar os vigorosos esforços do governo [Browder, 1988; Hall, 1989; Mahar, 1979]. O
brasileiro com relação a isso. Esses esforços se principal instrumento fiscal, promulgado pela
desenrolaram durante a última metade do Lei 5174, concedeu 100% de isenção de
século vinte, envolvendo uma variedade de impostos às empresas que investissem na
políticas públicas, algumas das quais voltadas, Amazônia, especialmente na agricultura e na
especificamente, para a Amazônia. Outras, criação de gado. Os investidores também
concebidas para a economia nacional, e que receberam isenções de taxas de importação e
não tiveram impactos significativos. Conforme exportação, crédito subsidiado e acesso a
mencionado, a Amazônia vivenciou uma fundos especiais de investidores brasileiros e
prosperidade considerável durante o advento internacionais [Browder, 1988; Hall, 1987, 1989;
da borracha, com substancial interação Mahar, 1989; Santana, 1997]. O principal
econômica tanto no Brasil, quanto no exterior. beneficiário desses programas iniciais foi a
Com base nisso, focalizaremos a expansão criação de gado, o que estava consistente com
atual, iniciada nos anos 1960, período que tem os padrões de investimento do Banco Mundial e
sido referido como o crescimento súbito (boom) do Banco Interamericano de Desenvolvimento
da oferta [Walker et al., 2008]. [Hall, 1989].
Em 1970, as iniciativas amazônicas de
desenvolvimento responderam às preocupações,
3. POLÍTICAS VOLTADAS PARA A AMAZÔNIA especificamente humanitárias, provocadas pela
seca de 1970 na Região Nordeste, com o Plano
3.1. Integração Nacional de Integração Nacional (PIN). Esse plano deu
origem a um programa extensivo de
Apesar do clamor de longa data para se colonização, envolvendo uma hierarquia urbana
“desenvolver” a Amazônia, os esforços desenhada para acomodar as frentes
significativos somente começaram com o imigratórias e os grandes fazendeiros. O PIN

3
também forneceu novos fundos de em infraestrutura e promoveu atividades
investimento para a agricultura por meio do voltadas para a exportação, tais como a
Fundo para Investimento Privado no pecuária e extração de madeira e minérios
Desenvolvimento da Amazônia (FIDAM) e [Browder, 1988; Hall, 1987, 1989; Mahar, 1979;
acelerou investimentos em infraestrutura Santana et al., 1997]. Isso foi conseguido por
(implantação de redes técnicas modernas para meio do Programa de Polos Agropecuários e
a construção de estradas, redes de Agrominerais da Amazônia, planejado para
comunicação, e de distribuição de energia atrair investimentos subsidiados e com redução
elétrica associadas à construção de usinas de impostos. O instrumento fiscal do PIN, a
hidrelétricas de grande e médio porte, de FIDAM, deu prioridade a um fundo mútuo, que
aerofotogrametria para levantamento dos forneceu uma ampla gama de incentivos, o
recursos naturais (Projeto RADAM-1971)). Fundo de Investimentos da Amazônia (FINAM).
Estes, em última análise, provaram ser de Como nos primeiros programas de crédito, a
importância fundamental para a expansão FINAM deu atenção especial à criação de gado
agrícola da Amazônia [Browder, 1988; Hall, e, por volta de 1980, a Superintendência de
1989; Santana et al., 1997]. Desenvolvimento da Amazônia, agência de
A Rodovia Belém-Brasília (BR-010), planejamento federal da região na época, tinha
importante para o estabelecimento do acesso aprovado 469 projetos relativos à criação de
inicial de norte a sul, cortou toda a Bacia gado, envolvendo US$ 565 milhões [Hecht et
Amazônica, mas sua rota atravessou, al., 1988].
principalmente, as áreas do cerrado. A Ainda em 1980, o governo iniciou o
penetração significativa na floresta úmida Programa Grande Carajás (PGC) para
fechada somente ocorreu até o PIN nos anos impulsionar a imensa riqueza das reservas de
1970, com a construção de duas rodovias que minério de ferro de Carajás, com expectativa de
seccionaram a região em duas partes, Rodovia atender a cerca de 7,5% da demanda de ferro do
Transamazônica (BR-230), de leste a oeste, e a mundo [Hall, 1987, 1989]. Esse programa
Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), de norte a também incluiu um componente agrícola e
sul, mil quilômetros a oeste da Belém-Brasília. reservou áreas de terra para este objetivo. A
Embora estas rodovias permaneçam, em grande ênfase contínua do PGC em infraestrutura
parte, sem pavimentação até o presente permitiu a construção de dois portos: uma
(apesar do recente progresso na BR-163), elas ferrovia de 900 km e a famosa Hidrelétrica de
foram bem sucedidas ao abrir o interior da Tucuruí, no rio Tocantins, a maior usina já
Bacia Amazônica e suas florestas tropicais construída em região de floresta tropical úmida
úmidas para um significativo desenvolvimento [Hall, 1987, 1989].
agrícola. No contexto do PGC Agrícola, vale ressaltar
dois momentos significativos, a soja na
Amazônia e a questão da febre aftosa (FMD),
3.2. Expansão Agro-Industrial que afetaram o potencial de mercado da carne
bovina amazônica à época.
Em 1975, o programa PIN foi formalmente
abandonado e a política desenvolvimentista 3.3. A Abertura Democrática
passou a focalizar, exclusivamente, os
empreendimentos agroindustriais de risco. O Em 1979, no período final do II PND, o Brasil
Segundo Plano de Desenvolvimento Nacional (II experimentou a segunda crise do petróleo, que
PND de 1975-1979) enfatizou a importância da trouxe severos impactos às iniciativas proativas
Bacia Amazônica para a geração de mercados de desenvolvimento. Assim, embora um terceiro
estrangeiros, buscou investimentos contínuos plano nacional tenha sido concebido e

4
executado (III PND), sua grande parte intactas em reservas indígenas, unidades de
permaneceu como um esforço que não saiu do conservação do programa SNUC e por esforços
papel. O Banco Mundial interferiu, de fato, com de estados individuais, para manter as terras
financiamentos para investimentos no Polo de fora do caminho do desenvolvimento.
Desenvolvimento Noroeste (POLONOROESTE)
em 1982 voltados, em sua maioria, para a
pavimentação da BR-364 através de 4. CONSEQUÊNCIAS DA REFORMA POLÍTICA E
Rondônia [Woodward, 1988]. Isso abriu ECONÔMICA BRASILEIRA NA AMAZÔNIA
significativamente a Bacia Amazônica Ocidental
ao desenvolvimento, de modo muito mais 4.1. O Processo do Plano Plurianual
dramático do que o estabelecimento da zona de
livre comércio na cidade de Manaus, em 1967. Com o restabelecimento da democracia,
De fato, o rápido desmatamento associado ao teve início uma nova era de planejamento
POLONOROESTE- Programa de Desenvolvimento nacional, desenhada para estimular o
de Integração ajudou a distanciar a política de desempenho econômico brasileiro como um
desenvolvimento amazônico nos primeiros anos todo, mas com significativos efeitos para a
de democracia do desenvolvimento agrícola e, Amazônia. A constituição de 1988 desenvolveu
assim, acalmar as preocupações relacionadas ao o PPA – Plano Plurianual, um ciclo de
meio ambiente e às populações indígenas. planejamento para ser empreendido por
Desse modo, o I PDA - Primeiro Plano de administrações federais subsequentes. O
Desenvolvimento da Amazônia, em 1986, cortou primeiro PPA com impacto substancial na
subsídios e incentivos fiscais dos interesses Amazônia foi o PPA – Parte II (1996–1999) ou
agrícolas, ao mesmo tempo em que promoveu Brasil em Ação. A este se seguiram o PPA - Parte
as reservas extrativistas e tratou de questões III (2000 – 2003), ou Avança Brasil, e o PPA –
recorrentes de distribuição de terra e pobreza Parte IV (2004 – 2007), ou Brasil de Todos. A
rural do Brasil. Como consequência da reforma administração Lula da Silva elaborou um
que se seguiu ao restabelecimento da sucessor para o PPA, denominado Programa de
democracia em 1985, emergiu um sistema Aceleração do Crescimento (PAC; 2007 – 2010).
extensivo de áreas protegidas, o SNUC - Sistema Os PPAs são, em grande parte, direcionados a
Nacional de Unidades de Conservação da projetos de infraestrutura de estradas, portos,
Natureza, criado para conservar tanto os hidrovias, aeroportos e de eletricidade. Em
recursos naturais como os culturais [Simmons, geral, os programas dão continuidade às
2002]. Esse legado continua a se expandir, com iniciativas de um governo pelo seu sucessor. No
recentes incorporações como, por exemplo, as caso da Amazônia, o programa Brasil de Todos e
áreas da Terra do Meio, na parte central do as iniciativas do PAC do governo Lula têm
Estado do Pará. Nessa mesma região, entre 2005 finalizado e também estendido iniciativas
e 2006, o governo federal criou a Reserva anteriores contempladas pelo Brasil em Ação e
Extrativista do Riozinho do Anfrísio (7.360 km2), Avança Brasil. Embora os recursos da rede
a Estação Ecológica da Terra do Meio (33.000 virtual estejam disponíveis para monitorar o
km2), o Parque Nacional Serra do Pardo (4.450 andamento dessas iniciativas (ex.,
km2) e a Reserva Extrativista do Iriri (3.990 km2). www.brasil.gov.br/pac/), a avaliação da
O governo também se posicionou, mais implementação é difícil, considerando a
agressivamente, na defesa dos direitos das complexidade e extensão das tarefas
terras indígenas, negligenciadas nos tempos envolvidas. Walker e Reis [2007]
violentos da ocupação regional liderada por disponibilizaram mapas no banco de dados do
forças do regime militar. Atualmente, áreas LBA - Programa de Grande Escala Biosfera
substanciais da floresta Amazônica permanecem Atmosfera na Amazônia para possibilitar a

5
avaliação digital da extensão do sistema de Embora a moeda brasileira tenha sido
rodovias desses programas. Esses arquivos inicialmente valorizada pelo plano, sua
permitem visualizar um crescimento de 400 km depreciação em 1999 com taxas de câmbio
em 1968, equivalente à distância da Belém– flutuantes abriu caminho para a demanda
Brasília na Amazônia Legal, para 56.664 km em internacional de commodities agrícolas do
2001. Em 1968, o sistema de rodovias era Brasil, acelerando as exportações da Amazônia
inteiramente federal, enquanto que em 2001, e do país como um todo [Brandão et al., 2005].
as contribuições dos estados para a construção
de rodovias permitiram que chegassem a
37.410 km. Um componente importante dos 4.3. Inovação e Controles Sanitários
PPAs é a pavimentação de estradas e rodovias
públicas que, em sua maioria, se concentra sob A inovação tecnológica tem um papel
a jurisdição do governo federal. De 20.168 km importante na facilitação da penetração da
de rodovias pavimentadas, 12.962 km são agricultura e da pecuária mecanizadas na
federais. Investimento na infraestrutura de Amazônia. No caso da soja, no início a
transporte há muito vem sendo considerado um agricultura brasileira explorou altas latitudes
desenvolvimento econômico chave [Vance, devido às limitações fenológicas do seu cultivo e
1986; Owen, 1987]. seus ciclos de colheita. Os primeiros cultivares
desenvolvidos, especificamente, para áreas
4.2. Reforma Macroeconômica tropicais de baixa latitude foram a BR-10
(Teresina) e a BR-11 (Carajás) [Kiihl et al., 1985].
Além dos PPAs, as administrações iniciadas Mais recentemente, a Empresa Brasileira de
no governo Fernando Collor até o governo Luiz Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) produziu
Inácio Lula da Silva têm promovido reformas soja com característica de período juvenil longo,
macroeconômicas com o objetivo de tais como a BRS Milena, BRS Celeste, BR-27
impulsionar a competitividade do Brasil. Essas (Seridó), BR-28 (Cariri), Embrapa 9 (Bays) e
reformas, que envolvem a privatização de Embrapa 30 (Vale do Rio Doce). Desde 2003, o
empresas estatais, redução de gastos públicos e uso de sementes geneticamente modificadas
reforma monetária, estão consistentes com as aumentou seu domínio de 34% para 65,5% do
transformações políticas e econômicas referidas total de área plantada (Estatísticas sobre a soja
como neoliberalismo [Liverman e Vila, 2006]. em: www.soystats.com). Inovações de sementes,
Embora o neoliberalismo não seja uma matriz combinadas com fertilizantes, aplicações de
monolítica de mudanças institucionais, as calcário e a adoção das técnicas de plantio
reformas macroeconômicas, no caso brasileiro, direto, elevaram a produtividade amazônica a
apresentam o lado clássico de retração do cerca de 3 t ha–1, aproximadamente, 30% mais
empreendimento econômico por parte do do que a média do Brasil em 2005 [IBGE-
Estado, a base do neoliberalismo [Mollo e Saad- PAM,2005; Almeida et al., 1999; Souza et al.,
Filho, 2004]. Outro importante componente da 2000a, 2000b]. As inovações na pecuária foram
transformação neoliberal do Brasil foi a política igualmente importantes, particularmente com
monetária e fiscal, especialmente o Plano Real relação à produtividade da pastagem. Quando
executado no governo Fernando Henrique se iniciou o processo de desenvolvimento na
Cardoso. O Plano Real e seus programas Amazônia, a degradação da pastagem provou
subsequentes, desempenharam e continuam a ser um grande desafio, com infestações de
desempenhar um papel crítico na agricultura da ervas daninhas e diminuição da produtividade
região, em razão da estabilização da moeda e do solo que causaram o abandono prematuro
do controle da inflação, que atingiu altas da terra [Goulding et al., 1995]. Isso, em grande
vertiginosas no início da década de 1990. parte, foi resolvido com o uso de novas

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forragens. A expansão da pecuária brasileira 18% do total de carne bovina in natura
para os cerrados do centro oeste do Estado de comercializada no mundo (FAO, 2006). É
São Paulo e pontos ao sul foi propiciada pela importante salientar, entretanto, que
adoção e modificação de gramíneas forrageiras consumidores chave, tais como os Estados
africanas. Os pecuaristas amazônicos logo Unidos e o Japão, exigem que os exportadores
seguiram o exemplo. A melhoria das forragens sejam totalmente livres de FMD dentro de suas
permitiu ampliar, significativamente, as fronteiras e, por essa razão, não importam carne
perspectivas econômicas da pecuária na região, in natura do Brasil. Diante disso, muitos
facilitando, portanto, sua expansão. A mudança mercados internacionais se abriram a produtos
para pastagens plantadas foi extraordinária em brasileiros, especialmente na Europa e Oriente
todo o Brasil, especialmente na Amazônia, com Médio.
aumento de 62% entre 1985 e 1995 [Cattaneo,
2005]. 4.4. Impactos Gerais de Políticas Públicas
Além da melhoria da grama de pastagem, a
pecuária na Amazônia e no Brasil, de modo Várias iniciativas de políticas voltadas para a
geral, foi beneficiada por ações orquestradas economia da Amazônia brasileira como um todo
por governos estaduais e federais para eliminar possibilitaram e promoveram a expansão da
a barreira sanitária imposta à carne brasileira agricultura e da pecuária intensivas em áreas
pelos mercados doméstico e internacional distantes nessa região. As iniciativas incluem – e
[Walker et al., 2008]. Isso foi conseguido não se limitam – o desenvolvimento de
mediante controle da Febre Aftosa (FMD). Para infraestrutura, política macroeconômica (tanto
manter seus próprios rebanhos saudáveis, monetária como fiscal), melhorias nas gramas
importadores de muitos países exigiram de pastagem e cultivo, e regulamentações
certificação da Organização Internacional da sanitárias. Considerando o amplo espectro de
Saúde Animal (OIE) para a carne oriunda de esforços envolvidos, é problemático determinar
áreas livres de FMD. Os esforços brasileiros para quais iniciativas foram decisivas, dadas as suas
erradicar a FMD seguiram uma abordagem aplicações durante décadas e as dificuldades
multifuncional para a criação de zonas livres da inerentes para se atribuir a causa e o efeito ao
doença, com o uso de vacinas que, se repetido a crescimento de uma economia. À primeira vista,
cada seis meses, poderia controlar a doença de parece razoável atribuir a expansão agrícola das
modo eficaz. O Brasil também define áreas ou quatro décadas passadas ao sinergismo político.
circuitos baseadas na probabilidade da presença Entretanto, fazemos várias observações
da doença, que variam de zonas de risco pontuais com o intuito de identificar efeitos
desconhecido às zonas totalmente livres da específicos de certa importância.
doença [Arima et al, 2005]. Desde o final da Em primeiro lugar, e acima de tudo,
década de 90, o Programa de Erradicação da naturalmente, foi a extensão da infraestrutura
Febre Aftosa tinha alterado drasticamente as rodoviária federal, a qual baixou os custos de
perspectivas da exportação brasileira e transporte a destinos fora da região [Pfaff¸1999;
amazônica. Em 1998, somente dois estados do Simmons et al., 2007; Walker et al., 2008]. Esse
sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) foi um processo de longo prazo que durou
receberam certificação da OIE. Em 2005, a quatro décadas. Partes e unidades desse
certificação tinha se estendido a quase todos os processo foram investimentos em infraestrutura
estados não amazônicos e para os estados do de modo geral, incluindo transportes aéreo e
Acre, Rondônia, Mato Grosso e Tocantins, com fluvial e eletricidade. Embora a análise do
considerável sucesso no controle da doença no impacto dos serviços de utilidade pública na
Estado do Pará. Em 2005, o Brasil foi expansão agrícola na Amazônia seja
responsável por 15% da produção mundial e por problemática, tem havido esforços para

7
identificar reduções substanciais nos custos de Mato Grosso [Brandão et al., 2005]. A
transporte [Simmons et al., 2007; Walker et al., introdução expressiva de produtos bovinos
2008]. O tempo de viagem de Belém a São amazônicos no mercado mundial foi, sem
Paulo, por exemplo, diminuiu quase 50% entre dúvida, possibilitada por eventuais sucessos no
1968 e 1995, de cerca de 100 horas para apenas controle de FMD, em conformidade com as
pouco mais de 50 horas de caminhão. Esses políticas aprovadas nos anos 1990, discutidas
cálculos são posteriores à finalização da rodovia acima. Walker et al. [2008] mostram que as
Belém-Brasília e não contabilizam investimentos infecções por FMD caíram em ordem de
desde 1995, cujo efeito total do período de magnitude desde a era militar, com dezenas de
desenvolvimento provavelmente seja muito milhares de casos anuais na década de 70, a
mais significativo. menos de uma centena por ano no início do
Quanto à política macroeconômica, muito foi século vinte e um. Vamos agora às implicações
escrito sobre o papel inicial dos incentivos fiscais do controle de FMD e suas políticas associadas,
para atrair capital da Região Sul [ex., Hecht, relativas ao rebanho bovino amazônico.
1985]. Esse impacto provavelmente tenha sido
superestimado dado o investimento agrícola
inicial diante da falta de incentivos [Walker et 5. CRIAÇÃO DE GADO
al., 2008] e desenvolvimento contínuo sob um
regime de subsídios reduzidos [ex., Helfand e A pecuária tem uma longa história na Bacia
Castro de Rezende, 2001a, 2001b; Cattaneo, Amazônica iniciada há centenas de anos, nos
2001, Margulis, 2004]. Um estímulo maior, extensos pastos naturais do Rio Amazonas
provavelmente tenha decorrido da reforma [Arima e Uhl, 1997]. Entretanto, quando a região
monetária e do Plano Real, em particular, com o foi aberta a investimentos significativos e à
controle da inflação e da taxa de câmbio migração no começo da década de 1970, o setor
flutuante, iniciada em 1999, o qual desvalorizou amazônico de gado bovino representava pouco
a moeda brasileira frente à moeda americana. mais de 8% do rebanho nacional. Várias décadas
Diante disso, as análises sugerem que as taxas de expansão mudaram drasticamente esse
de câmbio mais baixas reduziriam a expansão cenário e, atualmente, mais de 70 milhões de
agrícola da Amazônia [Cattaneo, 2001]. Tais animais povoam as paisagens amazônicas,
análises parecem basear-se na suposição de que contabilizando mais de um terço do rebanho
a agricultura amazônica produz apenas para total de 185 milhões de cabeças do Brasil em
mercados domésticos, os quais foram 2005. Esse crescimento foi amplamente
surpreendidos pela redução da depreciação da dispersado pela região, embora muito dele
renda em 1999, provocando uma redução da esteja concentrado nos estados do Pará, Mato
demanda interna [Cattaneo, 2001; Wiebelt, Grosso e Rondônia, com um rebanho combinado
1995]. De fato, a situação do mercado mudou de 56 milhões de animais (Tabela 1).
drasticamente em apenas alguns anos, com a Inicialmente, os pecuaristas amazônicos supriam
Amazônia fornecendo uma grande parcela de a crescente população urbana na fronteira e
todas as exportações de carne bovina in natura, poucas indústrias frigoríficas vendiam para o
sem contar o crescimento da agricultura da soja, mercado nacional [Faminow, 1997].
no Estado de Mato Grosso, voltada para
exportação. O crescimento explosivo da Tabela 1. Crescimento do Número de Cabeças de
produção da soja e do gado tem sua origem Gado de Rebanhos de Estados Amazônicos.
atribuída, precisamente, à depreciação ocorrida
em 1999, com enorme crescimento de rebanhos Atualmente, quase 90% do produto regional
na Região Norte e a plantação de soja na Região destina-se às outras partes do Brasil, sendo que
Centro Oeste, presumivelmente, no Estado de os estados de Mato Grosso, Pará, Tocantins,

8
Rondônia e Acre possuem matadouros da pecuária amazônica do que em partes
licenciados para o comércio internacional [Arima centrais e sul do Brasil [Arima e Uhl, 1997]. Os
et al., 2005]. O crescimento da parcela produtores amazônicos estão confiantes em
amazônica nas exportações brasileiras tem sido lucrar de 8% a 10% do prêmio do preço
explosivo, como acabamos de mostrar, quase disponível em operações de comércio
duplicando em cinco anos, de pouco mais acima internacional.
de 5% em 2000 para quase 10% em 2005 Os primeiros pecuaristas amazônicos
(Tabela 2). Esses produtos bovinos atendem às exploraram as pastagens naturais da parte leste
demandas de todo o mundo, com mercados na da Ilha de Marajó e das planícies alagáveis ou
América Latina, União Européia, Oriente Médio várzeas, ao longo do rio Amazonas. Mais
e Ásia, incluindo a China [Arima et al., 2005]. recentemente, a pecuária mudou para terras
elevadas, ou terra firme, dois ecossistemas
localizados em áreas de cerrado e de floresta
5.1. A “Economia” da Pecuária fechada. Embora a pecuária nesse ambiente
tenha originalmente reproduzido os sistemas de
A situação do mercado em expansão, baixa tecnologia e baixo input encontrado nas
juntamente com os custos reduzidos de pastagens naturais, ela se tornou
produção decorrentes das sinergias dos significativamente mais produtiva e rentável ao
processos políticos elaborados acima, tornou a longo do tempo. Atualmente, os pecuaristas de
pecuária amazônica rentável [Walker et al., ecossistemas de terra firme cultivam suas
2000; Zen, 2002; Margulis, 2004; Arima et al., pastagens com gramas forrageiras melhoradas,
2005; Piketty et al., 2005; Walker et al., 2008]. monitoram seus rebanhos em áreas cercadas e
Isso pode parecer surpreendente, utilizam expertise técnica e veterinária para
considerando-se os argumentos anteriores de vacinas e materiais genéticos. Além disso, eles
que os empreendimentos pecuários de risco na têm racionalizado seus sistemas de produção
região foram menores do que as façanhas com a integração de operações especializadas
corporativas, centradas na captação de por meio de cadeias produtivas flexíveis e
subsídios e especulação da terra e não no uso eficientes [Poccard-Chapuis et al., 2005].
produtivo da terra [ex. Hecht, 1985; Hecht e Pequenos proprietários e sítios em planícies
Cockburn, 1990]. Mas, ao contrário, os inundadas sazonalmente criam gado para recria
produtores amazônicos ganharam um bom e engorda nas pastagens melhoradas de grandes
dinheiro com o fornecimento para consumo proprietários em terra firme [Poccard-Chapuis et
doméstico, o que propiciou aos produtores da al., 2005; Arima and Uhl, 1997].
Região Sul se engajarem nos negócios
internacionais em ascensão, com sua direta Tabela 2. Exportação de Carne Bovina Brasileira e
participação nos mercados globais [Kaimowitz Amazônica, de 2000 a 2005*
et al., 2004; Pacheco, 2005]. Considerando que __________________
a FMD ainda limita o envolvimento de muitos *Valores em toneladas métricas. Carne sem osso,
estados amazônicos no comércio internacional, refrigerada e congelada. Fonte de dados: ABIEC
os produtores amazônicos têm tido um papel (www.abiec.com.br/abiec/estatisticas/voll_export.ht
importante na manutenção da globalização da m (acesso em 2 de agosto de 2004).
produção do sul [Nehmi Filho e Pusch, 2003].
Essa circunstância está mudando, rapidamente, A lucratividade da pecuária em ecossistema
com as melhorias sanitárias contínuas nos de terra firme foi analisada, recentemente, por
rebanhos da Região Norte. Na verdade, a vários pesquisadores [ex.: Margulis, 2004; Arima
incidência natural de doenças (FMD, Brucelose) et al., 2005]. Por exemplo, Arima et al. 2005
e de ectoparasitas é menor em regiões-chave compararam o desempenho econômico de

9
grandes operações (>5.000 cabeças) em R$ 1.250 na Amazônia [Arima et al., 2005;
localidades chave da Amazônia com distritos Barros, 2002]. Uma vez que as fazendas
pecuaristas tradicionais da Região Sul. Os pecuaristas se estendem por dezenas de
resultados indicam que os produtores milhares de hectares, esse diferencial de preço é
amazônicos se beneficiam de uma taxa mais alta muito grande em relação aos custos de capital,
de retorno sobre investimentos do que suas que chegam a milhões de dólares americanos
contrapartidas na Região Sul, devido ao baixo nas operações individuais [Arima e Uhl, 1997].
preço da terra e base de recursos com Com vantagens de produtividade e baixos
precipitação e energia solar abundantes. Essas custos da terra, pecuaristas na Amazônia obtêm
vantagens se mantêm apesar do preço do taxas de lucro mais elevadas do que em
produto na Região Sul ser 10% a 20% mais alto, qualquer outro lugar do Brasil, apesar das
uma vez que as áreas são próximas dos distâncias de suas áreas aos principais mercados
mercados principais. da Região Sul e do impacto dos custos de
Embora os solos amazônicos sejam transporte no preço final. A região de Tupã
compostos, predominantemente, de Latossolos produz 4% de Taxa Interna de Retorno (TIR),
com baixa fertilidade e altos índices de acidez, o mas essa não é uma boa comparação com a
fato é que eles não são muito piores do que produção amazônica, que produz uma TIR quase
solos encontrados em outras áreas de produção três vezes mais alta, em torno de 12%.
pecuária do país [Falesi, 1976; Fearnside, 1980; Evidentemente, a região de Tupã é afetada por
Adámoli et al., 1985]. Boas condições de custos da terra que refletem as rendas,
umidade, alta insolação e ausência de geadas significativamente mais altas, que podem ser
compensam as limitações do solo e permitem conseguidas com uma agricultura intensiva
taxas de crescimentos mais altas do que em [Arima et al., 2005] mas, não se trata de um
qualquer outro lugar do país [Margulis, 2004; caso isolado entre outras localidades da Região
Arima et al., 2005; Anualpec, 2003; Arima and Sul, em termos de baixo potencial de lucro.
Uhl, 1997]. Dependendo do tipo de manejo Cálculos municipais agregados indicam um
(cria, engorda, etc.), grandes pecuaristas na retorno de investimento na Amazônia da ordem
Amazônia desfrutam de taxas de crescimento de 5%, ultrapassando a média dos outros
animal de 10% a 16% mais altas, o que se traduz estados, que giram em torno de 3,37% [Arima et
em 5 a 10 quilogramas adicionais de carne al., 2005; Anualpec, 2003]. Isso reflete o fato de
produzida por hectare/ano, comparativamente que a pecuária é rentável em todas as situações,
às áreas pecuaristas da Região Sul (58-82 kg seja em grandes ou pequenas operações [Arima
crescimento vivo ha-1 versus 53-74 kg et al., 2005; Topall, 1991].
crescimento vivo por ha-1).
Tais vantagens de produtividade se 5.2. A Situação do Mercado
transformam em lucros maiores, considerando o
baixo preço das terras [Arima et al., 2005; É provável que a lucratividade da pecuária
Anualpec, 2003; Barros, 2002]. O estudo de amazônica se transforme em crescimento
Arima et al.[2005] documenta os diferenciais de setorial se os mercados continuarem a se
preço da terra entre as Regiões Norte e Sul [ver expandir, cujo processo será determinado por
também Sawyer, 2008]. Na região de Tupã, mudanças na oferta e na demanda. A notável
Estado de São Paulo, um dos centros inserção dos produtos bovinos no mercado
tradicionais de produção da Região Sul, os global resulta, em grande parte, dos esforços
preços são quase três vezes mais altos do que focados na erradicação da FMD. Recentes
em muitos sítios de produção amazônicos. ocorrências nos Estados de Mato Grosso do Sul,
Nessa região, um hectare de terra custa R$ Pará e Amazonas frearam o movimento
3.300, enquanto a mesma área custa cerca de crescente das exportações brasileiras e 49

10
países importadores passaram a impor certas brasileiro ser criado solto torna sua carne ainda
restrições aos produtos brasileiros. Entretanto, mais desejável, uma vez que a preocupação
a médio prazo será possível retomar as com a BSE (encefalopatia espongiforme bovina)
exportações, uma vez que as infecções parecem continua. Dado o papel que a produção
ter sido decorrentes de procedimentos amazônica desempenha tanto no mercado
sanitários mal conduzidos e não de uma nova nacional como internacional e ainda, dada a
variedade da doença. As restrições comerciais, produtividade da pecuária amazônica, sem
geralmente, não são aplicadas a todos os dúvida, isso se traduz em expansão
estados brasileiros e aqueles que não foram considerável do rebanho da região.
afetados pelo surto continuam a exportar
[Arima et al., 2005]. Considerando que o espaço 5.3. A dinâmica do Rebanho Amazônico
para a expansão de rebanhos é limitado em
países pecuaristas, tais como a Austrália e O ambiente econômico em expansão em que
Argentina e ainda, diante do receio de se encontram os pecuaristas da Amazônia
encefalopatia espongiforme bovina (BSE), ou propicia a marcha segura por áreas
“doença da vaca louca”, que restringe o praticamente inexploradas. A Tabela 1 mostra
comércio dos EUA com o Brasil, este país, com isso por estado, referente aos de 1990 e 2005.
suas terras “não desenvolvidas” se apresenta Em 1990, o rebanho amazônico de 18 milhões
como o único país estável para suprir qualquer de animais achava-se amplamente disperso e
crescimento significativo da demanda mundial quatro estados – Mato Grosso, Pará, Rondônia e
[Arima et al., 2005]. Tocantins – já possuíam rebanhos que excediam
Ao que tudo indica, espera-se que esses um milhão de cabeças. Em 2005, o padrão
mercados apresentem significativa expansão nas avançou e a pecuária ocupou as áreas mais
próximas décadas. Sabe-se muito bem que a remotas da bacia. Além disso, o rebanho
carne é uma mercadoria “superior”, em termos regional tinha atingido 74.000.000, muito mais
econômicos, o que quer dizer que, à medida que do que se poderia encontrar na maioria dos
as rendas crescem, os compradores tendem a países produtores. Em 2005, o Estado do Acre
consumir mais. Por isso, existe a grande juntou-se aos Estados de Mato Grosso, Pará,
oportunidade de aumento da demanda dada a Rondônia e Tocantins, com mais de um milhão
renda crescente na China e mesmo no Brasil, de animais, enquanto Roraima, que era o único
países que aumentarão a sua população de estado sem rebanho até 1990, apresentou em
consumidores em busca de carne bovina nos 2005 um rebanho que excedia a 500.000
supermercados de todo o mundo. Na China, o cabeças.
consumo anual de carne bovina é de 4 kg por
pessoa, em média, em comparação com os Figura 1. Rebanho bovino por município, 1990.
Estados Unidos, que é de 44 kg por pessoa [U.S.
Figura 2. Rebanho bovino por município, 2005.
Department of Agriculture, 1997]. Parece claro
que os chineses, em algum momento, irão
experimentar parte desse boom econômico em As Figuras 1 e 2 ilustram, graficamente, os
suas mesas de jantar. tamanhos dos rebanhos por toda a Amazônia
A intensificação do potencial da demanda Legal nos anos em questão. Como se pode ver, a
por carne bovina brasileira pode ocorrer com o distribuição inicial sugere um avanço que
enfraquecimento do apoio político em termos começou nas áreas do cerrado, com rebanhos
de subsídios, ao contrário dos países consideráveis nas partes sul e leste da Bacia
desenvolvidos, os quais mantêm seus preços Amazônica. Um arco quase contínuo de
artificialmente baixos e competitivos com esse municípios se manteve com os rebanhos,
benefício [Arima et al., 2005]. O fato de o gado estendendo-se do município de Paragominas, no

11
nordeste do Estado do Pará, até o sul dos antecedentes e o cultivo da soja, em particular,
Estados do Pará, Tocantins e Mato Grosso, representa um acréscimo considerável à
entrando a oeste do Estado de Rondônia. O agricultura amazônica. Embora a região produza
legado da pecuária das gramas naturais da Ilha uma grande variedade de culturas, a soja
de Marajó é visível, assim como várias áreas predomina, sem dúvida, em termos de lucros,
anômalas além da fronteira inicial da pecuária, com a safra de 2005 avaliada em 7,8 bilhões de
tais como o município de Itaituba no centro do reais, ou cerca de 60% do valor bruto das safras
Estado do Pará, município de Juruá ao norte do anuais na região. Portanto, ao contrário do que
Estado de Mato Grosso e Rio Branco, no Estado ocorria tradicionalmente, a modernização da
do Acre. produção da soja permitiu o extremo avanço da
A atual distribuição do rebanho amazônico agricultura mecanizada na Amazônia, com
mostra uma consolidação e o avanço da sistemas de produção altamente capitalizados.
fronteira pecuária. Como se pode ver na Figura O boom da soja na Amazônia na década
2, o arco do gado é agora complemente passada, de modo geral, representa uma parte
contínuo, incluindo os municípios que vão desde importante do crescimento nacional, que se
o Estado do Pará até o Estado do Acre, ao longo expandiu de uma produção anual de 20 milhões
de milhares de quilômetros a sudoeste. de toneladas em 1990 para 50 milhões em 2004.
Atualmente, a área produtora de gado Isso levou a um aumento da área plantada, de
praticamente engloba todo o Estado de Mato 115.847 km2 para 215.972 km2 em todo o Brasil.
Grosso, além de uma porção considerável do Tal aumento fez do Brasil o produtor de 28% do
Estado do Pará, de modo que quase a metade cultivo global de soja e o segundo maior
da Bacia Amazônica apresenta uma produção produtor e exportador do mundo, suprindo 27%
considerável. A única grande área do total mundial. Comparativamente, os Estados
remanescente, com alguns animais, se encontra Unidos, maior produtor mundial, produz cerca
no Estado do Amazonas, embora os Estados de de 35% [USDA-FAS, 2004; IBGE, 2005]. Embora
Roraima e Amapá ainda não tenham os estados tradicionalmente produtores da soja,
desenvolvido rebanhos significativos. como o Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul,
Entretanto, a pecuária já ultrapassou o Rio São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina
Amazonas no oeste do Estado do Pará e o gado tenham suprido 54% da produção total do Brasil
agora se alimenta nos municípios de Monte em 1990, essa parcela caiu para 37% em 1999.
Alegre, Alenquer, Óbidos e Oriximiná e ao norte Atualmente, 33% da produção da soja brasileira
de Santarém. O dinamismo da economia encontra-se na Amazônia Legal [CONAB, 2003;
pecuária amazônica se dá com a agricultura IBGE, 2005], um aumento drástico em relação
mecanizada, nosso próximo tópico de discussão. aos 24% de 1998. Evidentemente, essa
redistribuição da produção indica uma migração
da produção de soja para a parte norte e a
6. A EXPANSÃO DA AGRICULTURA DA SOJA incorporação das terras vastas e baratas do
cerrado na Bacia Amazônica [Castro et al.,
Assim como a pecuária, a agricultura 2001].
também tem uma longa história na Amazônia
brasileira. Suas primeiras riquezas foram criadas, 6.1. O Lado do Suprimento: Infraestrutura e
em parte, por fazendeiros na porção mais baixa Novas Cultivares
da Bacia Amazônica, onde os colonizadores
portugueses usaram escravos para cultivar ou Do mesmo modo que a pecuária, o boom da
extrair cacau, café, algodão e cana de açúcar agricultura industrial na Região Nordeste do
[Santos, 1980]. Portanto, a condição atual da Brasil foi estimulado por mudanças promissoras
produção agrícola está muito distante de seus na oferta e na demanda, associadas aos

12
mercados doméstico e global. Do lado da soja cultivada em baixas latitudes floresce muito
oferta, os investimentos em infraestrutura cedo, tornando-a baixa e difícil para colheita
estimularam a produção da soja em razão do mecanizada [Hartwig e Kiihl, 1979; Sinclair et al.,
declínio substancial dos custos de transporte. 2005; Vera-Diaz et al., 2008].
Como já foi discutido, o desenvolvimento de
redes de rodovias diminuiu o tempo de viagem 6.2. Demanda de Crescimento
entre as Regiões Norte e Sul do Brasil. Portos,
hidrovias e estradas de ferro desenvolvidas por O crescimento da demanda mundial tem
várias iniciativas federais também foram sido em grande parte motivado pela robusta
importantes para a produção da soja expansão econômica da China e pelo consumo
amazônica. O estabelecimento de grandes global crescente de óleos vegetais e de soja
pontos de transbordo no rio Madeira, cidade de para consumo avícola, suíno e bovino. Estima-se
Porto Velho, em Rondônia e um porto em águas que, atualmente, 30% do consumo mundial de
profundas no rio Amazonas, no município de óleos vegetais e 70% do consumo alimentar de
Santarém, diminuíram os custos de transporte proteína sejam derivados da soja (Estatística
da soja produzida no alto da bacia. Na sobre a soja em Soystats: www.soystats.com),
Amazônia Oriental, a ferrovia Norte-Sul é agora que é um substituto eficiente e saudável de
um meio de conexão dos produtores de soja partes animais, principais vetores de
nos Estados do Maranhão e Tocantins ao porto transmissão de doença em operações de
de Itaqui, na costa atlântica. engorda animal [Rohter, 2003; Vera-Diaz et al.,
Além da expansão da infraestrutura, o 2008]. Entre 1990 e 2000, a demanda global de
desenvolvimento recente de cultivares de soja soja cresceu 68% (de 104.2 para 175.2 milhões
adequadas às condições do clima quente e de toneladas) e o consumo global desse grão
úmido da Amazônia foi decisivo. A soja é uma aumentou 41% (de 104 para 146.7 milhões de
planta típica de dias curtos, adaptada para toneladas) [AGRIANUAL, 2000; RCW, 2004].
crescimento em áreas temperadas e Durante esse mesmo período, o Brasil expandiu
subtropicais. Portanto, da mesma forma como sua parcela no mercado global de 15% para 22%
na agropecuária, os primeiros pensamentos (15,4 para 38,4 milhões de toneladas e
sobre a agricultura na Amazônia enfatizaram as exportou 64% de sua produção). Além disso, o
limitações ambientais e um consenso popular e consumo doméstico dobrou de 6,6 para 13, 6
científico emergiu em torno das condições milhões de toneladas.
climáticas, o de que elas, em última análise, Diversos estudos sugerem que a demanda
inibiriam o desenvolvimento de uma robusta global de soja irá continuar a crescer nas
economia acima da latitude 25o [McGrath e Vera próximas décadas. Assim como a carne bovina,
Diaz, 2006; Jordan, 1982; Sioli, 1973]. Soma-se a muitos produtos de soja são considerados
essa perspectiva geral, o fato de que a soja mercadorias “superiores”, e mesmo as previsões
brasileira foi, originalmente, cultivada com conservadoras da Divisão de População das
grande sucesso entre 20o S e 30o S, onde Nações Unidas [2004] e da RCW [2004] sugerem
cultivares dos Estados Unidos foram bem que a demanda da soja crescerá de 225,6
adaptadas ao clima e ao solo [EMBRAPA-SOJA, milhões de toneladas em 2001 para 385 milhões
2002]. Entretanto, modificações genéticas de toneladas em 2020. A dinâmica brasileira
abriram caminho para a produção amazônica e a para um cenário futuro tem também sido
expansão atual para baixas latitudes é possível, discutida, considerando-se os números da
por meio de novas cultivares que possuem produção e exportação do período de 1990. Em
genes com período juvenil longo, as quais particular, a produção de soja no Brasil poderia
retardam o florescimento e a maturidade da facilmente chegar a 73 milhões de toneladas até
planta. Sem os genes de período juvenil longo, a 2020, com mais de 55 milhões de toneladas

13
exportadas para os mercados globais [Rodrigues, também continue baixa no Estado do Amazonas
2004]. (5.136 toneladas).
Essas dinâmicas espaciais são apresentadas
6.3. A Dinâmica da Produção de Soja em períodos de tempo mais longos nas Figuras
3 e 4 (1990 a 2005). Nelas, observa-se o avanço
O crescimento explosivo da produção da soja da fronteira da soja, primeiramente nos
na Amazônia de três para 20 milhões de t ano-1 cerrados do centro e sul do Estado de Mato
entre 1990 e 2005 foi acompanhado de Grosso, onde ela se acha altamente
aumentos da área plantada, de 16.000 para concentrada em 1990. Embora certa
70.000 km2 [IBGE, 2005]. A dinâmica dissociada quantidade de soja tenha sido produzida nos
por estado está descrita na Tabela 3, referente Estados de Tocantins e Maranhão, assim como
ao período de 1998 a 2005, durante o qual a em áreas fronteiriças entre os Estados de Mato
produção da soja tornou-se um fenômeno de Grosso e Rondônia, a agricultura da soja
dimensão regional. Essa cultura estabeleceu-se amazônica no início dos anos 1990 foi em
por volta de 1998, nos Estados de Mato Grosso e grande parte um fenômeno de um único
Rondônia, embora com claro predomínio do estado. Isso mudou, radicalmente, por volta de
Estado de Mato Grosso, com produção de cerca 2005 (Figura 4). A maior parte da agricultura da
de sete milhões de toneladas. soja ainda se encontra no Estado de Mato
Grosso com produção, praticamente, em todo o
Tabela 3. Crescimento da Produção de Soja nos estado, exceto em áreas do extremo noroeste,
Estados Amazônicos* na fronteira com os Estados de Rondônia, Pará
_____________ e Amazonas. Apesar de seu crescimento e
*Valores em toneladas. Fonte de dados: IBGE, concentração no Estado de Mato Grosso, a soja
Produção Agrícola Municipal (PAM). firmou suas raízes em toda a Bacia Amazônica.
Quanto ao Estado de Mato Grosso, os
Em 2005, o padrão regional mudou. Os números revelam um movimento substancial
produtores de soja do Estado de Mato Grosso para o oeste, com inserção em partes do
aumentaram significativamente sua produção sudeste do Estado de Rondônia criando,
para quase 18 milhões de toneladas. Além juntamente com o Estado de Mato Grosso, uma
deste, os Estados de Rondônia e Pará, juntos, faixa quase contínua de soja ao sul da Amazônia
ultrapassaram 200.000 toneladas de produção Legal, interrompida apenas por várzeas ao sul.
de soja, tendo o Estado do Pará expandido sua Outros focos amplamente dispersos também
produção em quase dez vezes durante o período emergiram. A partir do leste dos Estados da
de sete anos. Ainda, o Estado de Tocantins, com Bahia e Maranhão, a agricultura da soja se
uma produção razoável em 1998 (124.085 juntou à zona de produção significativamente
toneladas), tornou-se o segundo maior produtor expandida do Tocantins. Essas áreas, por sua
amazônico, com quase um milhão de toneladas vez, se ligam às áreas de cultivo do Estado de
(905.328). Os estados com produção abaixo de Mato Grosso. Os dados gráficos sugerem que a
100.000 toneladas em 2005 incluem os Estados fronteira da soja poderá cobrir os cerrados
do Acre, Amapá, Amazonas e Roraima. Destes, nativos, os quais ocupam as partes sul e leste da
os Estados de Roraima e Amazonas mostraram Bacia Amazônica [ver Mueller, 2003].
forte crescimento, particularmente Roraima, Além dos Estados de Mato Grosso, Rondônia
cuja produção inexistente em 1998, atingiu e Tocantins, o Estado do Pará evidencia uma
36.000 toneladas em 2005. Somente os Estados produção emergente, significativa, com
do Acre e Amapá parecem não terem sido resultados importantes nos municípios de
afetados pelo boom da soja, embora a produção Paragominas e Santarém. A agricultura
incipiente da soja encontra-se instalada ao longo

14
da rodovia Transamazônica (ex., municípios de Ao tratar de tal desafio, é necessário situar a
Altamira e Uruará) e atualmente forma um agricultura em um arcabouço conceitual que liga
corredor ao longo da BR-163, que liga as áreas as demandas por commodities ao input de terra
de produção do Estado de Mato Grosso ao para produção. Com esse objetivo,
município de Santarém. A agricultura da soja consideramos o modelo de Von Thünen, o qual
encontra-se também em cinco municípios ao sul salienta que: (1) a atividade agrícola ocorre
do Estado do Pará (municípios de Santana do enquanto as rendas forem positivas, e (2) as
Araguaia, Santa Maria das Barreiras, Conceição rendas ocorrem em função dos preços dos
do Araguaia, Redenção e Floresta do Araguaia) e produtos da terra e dos insumos para sua
do outro lado do Rio Amazonas, a partir do produção. Von Thünen também observou que as
município de Santarém, em Alenquer. Por fim, paisagens revelam padrões espaciais de
os cerrados no extremo norte do Estado de localizações de cultivos, com formas intensivas
Roraima agora mantêm cultivos, assim como os de uso da terra encontradas em áreas mais
municípios do Estado do Amazonas, do outro próximas da concentração populacional e as
lado do rio Madeira, a partir da cidade de Porto extensivas, mais distantes desses locais.
Velho (município de Humaitá), próximo à cidade Com o quadro Thuniano, conceituamos a
de Manaus. expansão da fronteira agrícola em direção à
Amazônia como sendo estimulada por rendas
7. IMPLICAÇÕES PARA A PAISAGEM crescentes [Walker, 2004; Walker et al., 2008].
AMAZÔNICA Essas rendas se apoiam em preços de produtos
agropecuários originários da demanda
O desenvolvimento agrícola é de grande globalizante e por reduções dos custos de
importância para o Brasil, considerando suas produção decorrentes de melhorias no sistema
vantagens naturais, em termos comparativos. de transporte [Mueller, 2003]. No ponto mais
Um longo período de crescimento e o baixo avançado encontra-se a pecuária, distante dos
custo da terra contribuem para tornar o país um centros populacionais, porque sua geração de
grande propulsor mundial da produção de renda acha-se distante de seus centros de
commodities agrícolas. Mas, a agricultura tem a mercado. Atrás da pecuária vem o avanço
função de produzir demanda por terra, o que complementar da soja e da agricultura
significa que quando ela se expande para áreas mecanizada, de modo mais geral. Sob uma
de florestas, as árvores dão lugar a grandes formulação Thuniana, o desmatamento é a
áreas de cultivos e pastagens. A expansão da manifestação de uma fronteira agrícola em
pastagem na Amazônia tem gerado expansão, que ocorre quando as rendas
controvérsias ao longo do tempo e é um fato potenciais, previamente inexistentes em virtude
que a pastagem constitui a maior parte das das condições de mercado ou de infraestrutura,
áreas desmatadas ao norte da região [Walker et tornam-se positivas [Walker and Solecki, 2004].
al., 2008]. A questão é: Podemos esperar que o Duas questões devem ser tratadas antes de
desmatamento, estimulado pela agricultura, considerarmos a dinâmica da cobertura da terra
continue? E se isso acontecer, o quanto irá amazônica dentro deste quadro conceitual. A
devastar? Nas seções anteriores deste capítulo primeira refere-se à intensificação agrícola.
tratamos da situação da demanda tanto por Basicamente, a intensificação agrícola é a
produtos pecuários quanto de soja. As projeções adoção de novas práticas agrícolas ou de
de impactos na paisagem amazônica requerem tecnologias que aumentam a produção por
que essa conjuntura seja refinada em uma unidade de terra. Consequentemente, a
estimativa de demanda por terra. intensificação agrícola leva a uma redução da
demanda por terra, mantendo-se as demais
7.1. A Expansão Agrícola e Von Thünen variáveis e, por essa razão, muitos produtores

15
talvez tenham apelado para ela como solução exemplo, seriam trazidas as áreas para a
para o problema do desmatamento. A segunda produção que, anteriormente, não geravam
questão envolve os mecanismos de perda da rendas positivas. Resultado similar se obtém
floresta sob um sistema Thuniano de com a redução de custos de transporte. Em um
multiculturas e, especificamente, o papel da mundo de duas commodities, o quadro fica mais
expansão da soja no avanço do desmatamento complicado. Admitindo-se, inicialmente, que a
amazônico, dada a parceria ativa com a soja se encontra por trás da fronteira pecuária,
pecuária. surgem várias possibilidades. A primeira é que
Com relação à intensificação, em geral ela é as condições de mercado mudam para apenas
imposta ao fazendeiro ou grupo agrícola em um dos produtos, soja ou carne. Se o preço da
razão da escassez da terra, conforme carne subir, mas não o da soja, estamos então
extensivamente observado em registros diante da primeira situação descrita, com o
históricos [Boserup, 1969]. No caso da avanço da fronteira pecuária, conforme tem sido
Amazônia, é pouco provável que produtores observado há várias décadas ao longo da
agrícolas e pecuaristas pratiquem a história. Entretanto, se o preço da soja subir,
intensificação em maior grau, em razão da mas não o da carne, a soja avança para áreas
abundância de terra, mesmo com novas anteriormente ocupadas com pastagem, até o
tecnologias. Além disso, com terra abundante, momento em que essas áreas se esgotarem e
os sistemas intensivos podem promover o apenas as áreas de florestas permanecerem
desmatamento se gerarem maiores rendas que disponíveis. A esta altura, ocorre a substituição
as geradas pelo sistema não intensivo [White et direta da floresta por soja.
al., 2001; Arima et al., 2005]. Portanto, na As circunstâncias, tais como descritas, não
discussão a seguir não consideramos a são realistas para o caso amazônico, uma vez
intensificação em si mesma e tratamos o caso de que a situação de mercado no passado recente,
sistemas tecnologicamente estáticos, tanto para em geral, parece ter favorecido tanto a soja
a pecuária quanto para a produção de soja. quanto a pecuária [Brandão et al., 2005]. Além
Assim, não consideramos a substituição da disso, os benefícios de infraestrutura não se
pastagem por soja como uma forma de diferenciam por cultivo e todas as atividades
intensificação tecnológica, no sentido estrito da agrícolas na fronteira recebem renda
palavra. Além disso, reservamos o termo, a inesperada, com novos investimentos. Portanto,
partir deste ponto, para descrever a crescente a soja afeta, potencialmente, a cobertura da
eficiência do uso da terra na produção de floresta amazônica por dois mecanismos. Em
cultivos específicos, tais como a soja. Assim, a primeiro lugar, a soja pode estar impulsionando
agricultura da soja se intensifica se as o gado para o interior da floresta [Sawyer, 2008;
tecnologias, recentemente adotadas, Vera-Cruz et al., 2008]. Isso ocorre se a soja
promoverem maior produção de soja por ocupar áreas de pastagens produtivas devido ao
unidade-área. crescimento da renda e se ela continuar a subir
A segunda questão envolve a identificação por força dos produtos pecuários. Em segundo
das forças propulsoras subjacentes aos avanços lugar, se as condições de mercado forem mais
da fronteira agrícola ou pecuária na chamada favoráveis para a soja, a produção avança para
“selva não cultivada”, para usar a terminologia as áreas de floresta primária, antes da pecuária.
original de Von Thünen [Walker, 1999]. Em um O uso da terra mediante o avanço motivado
mundo de commodity única como, por exemplo, pelo mesmo mecanismo ocorre também quando
simplesmente a pecuária, tal exercício recai na a expansão absorve a agricultura nas periferias
descrição das circunstâncias que aumentariam urbanas e converte áreas naturais em áreas para
as rendas de produtos pecuários, como a carne uso residencial [Walker e Solecki, 2004].
bovina. Se os preços da carne subissem, por

16
a
7.2. O Impacto Maior: Pastagem ou Soja? Inclui parcelas desmatadas para todos os usos,
inclusive agricultura mecanizada, pastagem, e ainda
Conforme discutido, a expansão da não produtivas.
pastagem tem sido o principal propulsor do b
Inclui parcelas convertidas em agricultura
desmatamento na Bacia Amazônica. A questão
mecanizada de todas as coberturas da terra,
que agora surge é: “Qual o impacto que a
incluindo florestas, pastagens e vegetação
cultura da soja causa à Amazônia”? sucessional.
Conjecturamos que a soja tenha produzido os
dois efeitos – o de impulsionar e o de avançar, A porcentagem atingiu o pico de 23% em
referidos na discussão conceitual acima, e as 2003, período em que tanto as taxas de
condições de mercado favorecem o crescimento desmatamento quanto o preço da soja
da produção da soja atualmente. Essas estiveram relativamente altos, o que é
considerações foram baseadas em análises de consistente com o “leapfrogging” Thuniano, ou
produtos de sensoriamento remoto, cujos seja, o avanço da soja para o interior das
resultados permitiram a discussão sobre a florestas primárias do Estado de Mato Grosso.
conversão de floresta, o tipo de uso da terra e o Além disso, as terras desmatadas para cultivo
tamanho da clareira. Dados sobre o destino de atingiram 28% a 33% de todas as terras
terras desmatadas não estão disponíveis para convertidas em agricultura mecanizada. Isso
toda a Bacia Amazônica, mas estudos utilizaram contradiz a afirmação de que toda a expansão
sensoriamento remoto para distinguir, entre de terra para cultivo ocorre somente em terras
outros usos da terra, a pastagem, o cultivo previamente desmatadas, principalmente,
mecanizado, principalmente a soja, em três pastagem [Morton et al., 2009a, 2009b]. Em
áreas do Estado de Estado de Mato Grosso Vilhena, a leste de Rondônia, observa-se padrão
[Morton et al., 2006, 2009a], além dos similar. Embora grande parte da expansão da
municípios de Santarém e Belterra no Estado do área de cultivo aconteça em terra anteriormente
Pará [Venturieri et al., 2007], e do município de desmatada, uma porção substancial (22% em
Vilhena, na parte sudeste do Estado de floresta densa e 20% em floresta menos densa)
Rondônia [Brown et al., 2005]. consumiu, diretamente, áreas de floresta entre
1996 e 2001 [Brown et al., 2005].
Figura 3. Área de plantação de soja por município, Numa perspectiva de longo prazo, Venturieri
1990.
et al., [2007] documentam o surgimento da
agricultura mecanizada como propulsora do
Figura 4. Área de plantação de soja por município,
desmatamento, desde 1975, nos municípios de
2005.
Santarém e Belterra, Estado do Pará. Nenhuma
produção mecanizada de soja foi relatada na
Com relação a isso, Morton et al., [2006]
área de estudo, antes de 1999. Somente nos
relatam que de 12% a 14% da área desmatada
períodos de 1999 a 2004 e de 2004 a 2005,
no Estado de Mato Grosso foi convertida
novas áreas de cultivo originaram-se de áreas de
diretamente em área de cultivo entre 2001 e
florestas, cujas mudanças corresponderam a 8%
2004 (Tabela 4).
e 2,7%, respectivamente, nos períodos
analisados. A mesma área de estudo também
apresentou menor proporção de conversão
Tabela 4. Área desmatada convertida em
agricultura mecanizada e área de floresta convertida direta para área de cultivo mecanizado nos
em agricultura mecanizada relatada na literatura períodos acima em relação ao Estado de Mato
sobre três áreas de estudo. Grosso ou Rondônia, com 8,2% e 10,7%,
respectivamente. Nessa dinâmica, as florestas
mais densas no Estado do Pará parecem

17
favorecer o uso de pastagens já desmatadas clareiras, mas representam 37% do
para expansão de áreas de cultivo. desmatamento da região. Por sua vez, as
Dados sobre a extensão de clareiras grandes clareiras, abaixo de 1%, representam
associadas a eventos de desmatamento 13% da floresta derrubada. Essas proporções
individuais também apontam para a importância variam, enormemente, por estado, com as
crescente da soja e da agricultura mecanizada e, maiores proporções do total de desmatamento
de modo mais geral, como a causa direta da representadas por clareiras médias e grandes
perda de floresta na Bacia Amazônica. Em encontradas nos Estados de Mato Grosso e Pará,
particular, as operações mecanizadas que os quais mostram um desenvolvimento
envolvem soja produzem, tipicamente e de significativo da agricultura mecanizada e soja.
forma rápida, grandes clareiras para acelerar o Exemplos dos Estados de Mato Grosso, Pará
início da produção, dado o grau presumido de e Rondônia ilustram variações das dinâmicas de
capitalização e os riscos associados ao cultivo da desmatamento relacionadas a incentivos ao
soja. A título de comparação, um componente capital para áreas de cultivo, considerando que
relativamente maior da criação da pastagem no período 2001-2005 (Figura 5), muitas
está associado a pequenos e médios produtores grandes clareiras se referem a cultivos,
com baixos níveis de tecnologia, que atuam de especialmente, de soja. No Estado de Mato
modo gradativo na formação de suas pastagens Grosso, a variabilidade interanual do
em períodos maiores de tempo [Walker, 2003]. desmatamento de 2001 a 2005 foi motivada,
principalmente, pela variabilidade na área
Tabela 5. Proporção do número de polígonos desmatada de grandes clareiras. Os altos índices
desmatados e de áreas desmatadas em pequenas de desmatamento no período 2003 - 2004 estão
(<100 ha), médias (100-1000 ha) e grandes (>1000 associados, em maior proporção, às grandes
ha) categorias por estado, de 2001 a 2005. clareiras e, em menor proporção, às pequenas.
a
Evidentemente, a agricultura mecanizada
Dados: http://www.obt.inpe.br/prodes.
b produz grandes clareiras, ao contrário de
Os dados de 2001 estão excluídos da análise dos
pequenos produtores, os quais controlam a
polígonos desmatados porque eles contêm grandes
clareiras não genuínas. dinâmica recente da cobertura da terra no
Estado de Mato Grosso. Para efeito de
Figura 5. Dinâmica de tamanhos de clareiras em três comparação, em 2004 o Estado do Pará
estados da Amazônia Legal, de 2001 a 2005. alcançou o maior índice de desmatamento e a
maior proporção de pequenas clareiras na área
A Tabela 5 indica que a grande maioria de desmatada. O desmatamento nesse estado
clareiras anuais tinha menos de 100 ha no parece estar fortemente ligado, em sua
período de 2001 – 2005, refletindo as grandes totalidade, à produção de pequenos
populações de pequenos proprietários na Bacia proprietários com áreas desmatadas no
Amazônica, os quais removem a floresta para período, principalmente, para pastagens
dar lugar às pastagens. Nesse caso, eles [Walker et al., 2000]. Um padrão similar se
representam o limite avançado da fronteira aplica ao Estado de Rondônia, com uma
pecuária [ver Walker, 2003; Walker et al., 2008]. proporção mais alta de desmatamento
O número de clareiras consideradas médias (100 ocorrendo em pequenas clareiras [Browder et
– 1000 ha) e grandes (>1000 ha), tanto para al., 2008]. A atribuição espacialmente variável
pastagem quanto para soja, é relativamente de desmatamento por tamanho de propriedade
baixo. Entretanto, elas contribuem de modo foi observada anteriormente [Walker et al.,
desproporcional para a composição das áreas 2000] e, em termos temporais, é provável que o
desmatadas. Assim, as clareiras de tamanho papel de grandes proprietários tenha crescido,
médio respondem por apenas 3% de todas as considerando a escala de bacia [Alves, 2002].

18
Em geral, a pesquisa sugere que a pastagem A análise acima descreve, tanto conceitual
é a causa imediata da remoção da floresta na quanto empiricamente, a face atual do
Bacia Amazônica e que grande parte da desmatamento da Amazônia que se apresenta,
expansão das áreas de cultivo ocorre em terras principalmente, como uma conversão de
anteriormente desmatadas. Entretanto, uma floresta em pastagem e campos produtores para
proporção substancial e crescente de cultivo mercados em expansão. Assim, a perda da
ocorre em áreas de floresta, por meio do seu floresta no norte da região amazônica é melhor
avanço no uso da terra. Isso acontece interpretada como uma resposta às demandas
especialmente no Estado de Mato Grosso, onde doméstica e global por produtos agrícolas da
o equivalente a 23% de novos desmatamentos região, e as futuras perdas florestais resultarão,
ocorreram em resposta à derrubada para similarmente, de aumentos dessas demandas.
agricultura mecanizada, presumivelmente, a Nas seções individuais sobre pecuária e soja,
soja. À medida que a soja continua a avançar discutimos o escopo de tais expansões, os quais
em qualquer parte na Bacia Amazônica, a são consideráveis. Cabe traduzir esses números
porcentagem de conversão direta de florestas das demandas por consumo em estimativas de
tende a crescer. demandas do fator principal da produção
O fato de que a pastagem figura como a agrícola, ou seja, a terra. A essa altura, devemos,
causa principal da perda de floresta não obviamente, entrar no âmago da especulação,
significa que a soja seja um fator insignificante mas, o fazemos baseados em julgamento
no desmatamento amazônico. Mesmo se a soja fundamentado.
não promovesse a conversão direta de qualquer Este capítulo concentrou-se na situação da
cobertura vegetal ou uso da terra, sua demanda demanda por ambos os produtos amazônicos, a
por terra já desmatada possivelmente pecuária e a soja. Para determinar possíveis
impulsionaria um desmatamento impactos na paisagem amazônica é necessário
compensatório para o deslocamento da estimar: (1) o volume da demanda brasileira e
pecuária. As condições de mercado dos da global que será atendida pelos produtores
produtos pecuários amazônicos têm se mantido amazônicos; (2) a quantidade de terra
favoráveis, indicando sua continuidade. Dessa necessária para atendê-las. Com esse objetivo,
forma, torna-se razoável supor que muito da desenvolvemos projeções de regimes intensivos
pastagem produtiva ocupada pela soja tenha e extensivos de ambos os produtos. Com relação
sido retomada, em alguma parte da Bacia à soja, a EMBRAPA [2002] mostra que 650.000
Amazônica, por meio do desmatamento. km2 de cerrado intocado, em grande parte na
Portanto, uma fração considerável da taxa atual Amazônia, se mantêm inexplorados, capazes de
de desmatamento pode ter sido impulsionada suportar produção de grãos comerciais e óleos
[Sawyer, 2008]. Essa observação tem de sementes. Se a produção de soja brasileira
implicações para a interpretação da Associação crescer 23 milhões de toneladas até 2020
Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais sobre [Rodrigues, 2004], outros 57.000 km2 de terra
a moratória da soja na expansão para o bioma serão necessários em regime de produção
amazônico. Especificamente, a soja pode não intensiva (4 t ha–1) e 76.666 km2 em regime
precipitar, diretamente, o desmatamento em si extensivo (3 t ha–1). Essas terras, provavelmente,
e a partir de si mesma, ao mesmo tempo em virão da Amazônia, a contar pelos recentes
que ela desloca pastagens em detrimento da movimentos da fronteira da soja [Mueller,
floresta. 2003]. Quanto ao gado, uma projeção de
demanda para o ano 2020 confirma o acréscimo
7.3. Expansão Projetada de Demanda por de 393.000.000 animais para o rebanho total
Produtos Agrícolas e Terra global. Se um terço disto for acrescentado aos
rebanhos amazônicos, a quantidade de novas

19
terras ficará entre 196.500 km2 a 393.500 km2,
dependendo das densidades previstas dos O Programa de Grande Escala da Biosfera –
rebanhos. Atmosfera na Amazônia (LBA) procurou
Apesar de nossa documentação sobre o esclarecer como essa região funciona como um
“leapfrogging” que invade as florestas primárias, sistema ecológico de grande escala, em parte,
a maior parte da expansão da soja em médio com o objetivo de conservar seus recursos
prazo, provavelmente, ocorrerá ou em (1) naturais singulares para futuras gerações. Este
pastagens existentes, tanto produtivas como capítulo trata dos principais distúrbios da região,
degradadas, ou em (2) abundantes áreas de da expansão da agricultura mecanizada e,
cerrado ainda remanescentes [Brandão et al., principalmente, da soja e da pecuária na Bacia
2005; Mueller, 2003]. Por outro lado, a maior Amazônica. Com esse objetivo, foram resumidos
parte dos acréscimos do rebanho regional irá se os processos de políticas que promoveram o
estender por terras recentemente desmatadas. desenvolvimento agrícola da região, as situações
Portanto, na falta de qualquer impulso da soja de mercado atuais frente aos produtores
para os campos de pastagem, o incremento do regionais, e descritas a dinâmica de ambos os
desmatamento poderá atingir 393.000 km2 de setores, em termos espaciais. Sugerimos, no
áreas de novas pastagens de gado, com rebanho início, que as políticas efetivas para a
de baixa densidade. Com baixa produtividade da conservação do ambiente amazônico requerem
soja e pecuária, o impulso Thuniano poderia um entendimento da agricultura da região e
acrescentar 76.666 km2 a um novo tentamos fornecer esse entendimento. Assim,
desmatamento. Isso acontece se a expansão da finalizamos o capítulo com uma breve discussão
soja ocorrer somente em pastagens pré- das implicações de nossa exposição da
existentes, que seriam deslocadas em igual agricultura amazônica e da fisionomia da
medida para a fronteira pecuária. Esse cenário mudança ambiental da região para quatro
mostra um limiar mais acima para o incremento décadas para fins de formulação de políticas
de 469.666 km2 de desmatamento em 2020 os públicas. Diante disso, o Brasil, uma nação
quais, anualizados ao longo de 15 anos (2005 – soberana, certamente tem o direito de explorar
2020), produziriam uma taxa anual elevada de a riqueza natural no âmbito de suas fronteiras
desmatamento na ordem de ~31.000 km2. Tal para melhorar o bem estar social. A questão é
número é improvável e depende de fortes como fazer isso de modo sustentável.
pressupostos sobre produtividade e extensão Em termos ambientais, o crescimento
dos deslocamentos de pastagens pela soja. Com inexorável das pastagens amazônicas,
o tempo, a produção de soja irá se intensificar e impulsionado pela soja e, possivelmente, pela
o manejo do rebanho resultará em densidades cana-de-açúcar nos próximos anos [Sawyer,
mais altas. Além disso, o cerrado brasileiro 2008], parece ter todo o formato para um
retém um escopo considerável para a expansão destino claro [Walker et al., 2008]. O governo
agrícola, embora a conservação da floresta à brasileiro, juntamente com os estados da
custa do cerrado seja ecologicamente cara em Amazônia Legal, construiu salvaguardas
razão da diversidade do bioma e da rapidez com ambientais por meio do Sistema Nacional de
que ocorre o seu definhamento [Klink and Unidades de Conservação (SNUC), com a
Machado, 2005; Jepson, 2006]. Apesar dessas designação de vastas faixas de florestas como
observações, o cálculo sugere, entretanto, que a áreas protegidas, fora dos limites de produtores
curto e médio prazos, fortes pressões sobre a rurais e pecuaristas [Lei 9.985, 2000; Decreto
floresta amazônica poderão continuar. 4340, 2002]. As Reservas Indígenas, também
dedicadas à conservação florestal pelo código
florestal e pelo Programa Nacional de Áreas
8. CONCLUSÕES Protegidas [Decreto 5758, 2006], acrescentam

20
uma área, significativa, à barreira para a defesa e o caso da Amazônia não é diferente. Nesse
florestal (http:www.funai.gov.br/). De fato, o sentido, o mercado de carbono é uma ideia cujo
SNUC- Sistema Nacional de Unidades de momento pode ter chegado, dada a sua enorme
Conservação da Natureza, as Reservas Indígenas riqueza na Amazônia. Embora a criação de tais
e as áreas estaduais de conservação cobrem mercados apresente desafios, uma alternativa é
cerca de 2,3 milhões de km2, ou 43% da a implementação dos direitos negociáveis de
Amazônia Legal. Teoricamente, isso parece desenvolvimento (TDRs) sobre o uso de
potencialmente adequado. Combinado com os reservas florestais em propriedade privada. As
requisitos de grandes reservas florestais de TDRs não necessariamente conservam o
propriedade privada, que chegam a 80%, uma carbono no agregado, mas, são capazes de
grande fração da floresta amazônica estaria direcionar, espacialmente, a expansão agrícola
preservada, se as fronteiras da barreira verde de modo consistente com o zoneamento
mantiverem sua integridade. ecológico e a manutenção das áreas protegidas
A abordagem para que sejam atingidas as e, consequentemente, com a biodiversidade
metas louváveis do programa de áreas [Chomitz, 2004]. Intervenções no mercado que
protegidas atravessa um amplo espectro que reduzem a demanda da terra excluem
vai das intervenções regulatórias aos inteiramente os créditos verdes, uma inovação
instrumentos de base mercadológica. Com legal que permite aos bancos atuarem como
relação à intervenção do Estado, o alcance da gestores ambientais para o fornecimento de
lei ocorre, expressivamente, estendido por crédito voltado a interesses agrícolas [Decreto
tecnologias baseadas no uso de satélites, que Federal 6321, 2007; Resolução 3545, 2008 do
possibilitam uma avaliação rápida das fronteiras Banco Central]. Créditos verdes são
de áreas protegidas e das reservas florestais de potencialmente importantes para o
propriedade privada. Entretanto, a manutenção gerenciamento da expansão de fazendas de
dessas fronteiras tem custo potencialmente alto soja, dada a intensidade de seu capital.
e, às vezes, problemático. A degradação das Conforme tem sido sugerido, o impulso da soja
áreas protegidas e das reservas indígenas por em pastagem tem o potencial de ofuscar seu
atividade madeireira predatória e por impacto final na floresta. Por isso deve ser
pecuaristas, que buscam áreas de pastagem tratado por qualquer política intervencionista
mais baratas, mostra a dificuldade de se que tenha a soja como objetivo específico.
transformar parques projetados no papel em Quanto à pecuária, as demandas crescentes de
espaço verde sustentável [Euler et al., 2008]. consumidores por produtos com certificação
Quanto às reservas em propriedades privadas, ambiental em breve atuarão nos preços-prêmio
um satélite consegue identificar as violações, da carne bovina não originária de áreas
mas, a imposição de multas às propriedades ao recentemente desmatadas. Será necessária a
longo da extensão continental da maior floresta assistência do governo para salvaguardar a
tropical do mundo é uma tarefa desanimadora. credibilidade de programas de certificação para
Entretanto, medidas centradas nas cadeias de a formulação de incentivos de modo a ser
produção e no transporte de produtos oriundos consistente com a conservação.
de áreas desmatadas ilegalmente, de acordo Até este ponto do capítulo não se fez
com o Decreto 6321, 2007, presumivelmente menção à questão da distribuição da terra e
monitoradas mediante certificação, sobre o bem-estar social, de modo mais geral,
representam uma nova promessa para a mas, abordamos a agricultura, principalmente,
aplicação da lei. como agregado social de empreendimentos
Ferramentas de base mercadológica têm agrícolas e pecuários. Isso oculta a enorme
sido tradicionalmente fomentadas como variedade de tipos de propriedades agrícolas e
alternativas para a eficácia de regulamentação, pecuárias encontradas na Amazônia, que vão

21
desde operações no âmbito familiar, no seu não, necessariamente, refletem àquelas das
exato limiar de subsistência, até as operações agências patrocinadoras.
altamente capitalizadas, que envolvem dezenas
de milhares de hectares. Tal diversidade
assinala processos sociais complexos, incluindo REFERÊNCIAS
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traz impacto à região com a criação de centenas Adámoli, J.; J. Macedo, L.M Azervedo and J.
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em relação aos seus direitos à propriedade. Para Nordeste Brasileiro, Versão 1.0, edited by M.
estes casos também será necessária uma A. de Queiroz, C. O. Goedert, and S. R. R.
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Building, East Lansing, MI 48823 , USA.
(rwalker@msu.edu)

Tradução: Ivani Pereira


Revisão: Adriano Venturieri

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Washington, D.C., USA. All rights reserved.

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