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Referencial Curricular

de Alagoas

Ensino Fundamental
Ensino Fundamental
2019
2019
(Fonte: Agência Alagoas – Foto: Márcio Ferreira)

O governador Renan Filho, por meio do receber a ave, pelo Instituto para Preservação
Decreto nº 55.235, de 22 de setembro de da Mata Atlântica (IPMA), em terras da Usina
2017, institui a ave Mutum como símbolo Utinga Leão, no município de Rio Largo.
do Estado de Alagoas, em comemoração Escolhemos o Mutum de Alagoas para
ao bicentenário da emancipação política representar o Referencial Curricular de
de Alagoas. Alagoas, pois a história de resistência,
O regresso do Mutum de Alagoas (Pauxi resiliência e bravura da ave símbolo de
mitu) aconteceu 42 anos depois da ave, Alagoas, assemelha-se com a história do
genuinamente alagoana, ter sido decla- povo alagoano.
rada à beira da extinção. Pedro Nardelli foi Desse modo, o artista plástico da cidade
quem redescobriu o Mutum de Alagoas de Major Izidoro e egresso da Escola Esta-
aqui e o levou, no final da década de 1970, dual Constança de Góes Monteiro, Lucas
para o Rio de Janeiro. Pereira França, criou uma linda arte para
Atualmente, em processo de reintrodução o Referencial Curricular de Alagoas, inspi-
na fauna de Alagoas, alguns espécimes estão rado no Mutum de Alagoas, no povo e no
num viveiro, especialmente construído para território alagoano.
REFERENCIAL CURRICULAR DE ALAGOAS

ALAGOAS
2019
HELOÍSA GABRIELA SANTOS SILVA - ESCOLA ESTADUAL PEDRO JOAQUIM DE JESUS
JOSÉ RENAN VASCONCELOS CALHEIROS FILHO
Governador de Alagoas

JOSÉ LUCIANO BARBOSA DA SILVA


Vice-Governador de Alagoas
Secretário de Estado da Educação de Alagoas

LAURA CRISTIANE DE SOUZA


Secretária Executiva de Educação

SÉRGIO PAULO CALDAS NEWTON


Secretário Executivo de Gestão Interna

RICARDO LISBOA MARTINS


Superintendência de Políticas Educacionais

WILANY FÉLIX BARBOSA


Superintendência do Sistema Estadual de Educação

ROSEANE FERREIRA VASCONCELOS


Superintendência da Rede Estadual de Ensino

CARLOS RUBENS ARAÚJO DJALMA BARROS DE SIQUEIRA NETO


Presidente da Undime/AL Vice Presidente da Undime/AL

ANA DEYSE RESENDE DOREA


Secretária de Coord. Técnica

GLAUCIANE VEIGA WANDERLEY


Secretária de Finanças

VALQUÍRIA DE LIMA SOARES LUCAS RINALDO VIEIRA DA SILVA


Presidente do Conselho Estadual de Presidente da União Nacional dos Conselhos
Educação de Alagoas – CEE/AL Municipais de Alagoas – UNCME/AL
COORDENAÇÃO GERAL

Ricardo Lisboa Martins Rosa Maria Melo dos Santos


Secretaria de Estado da Educação de Alagoas União Nacional dos Dirigentes Municipais de
SEDUC/AL Educação | UNDIME/AL

COORDENAÇÃO DE ETAPA DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Patrícia Gomes de Siqueira REDATORES DE EDUCAÇÃO INFANIL


Coordenadora de Educação Infantil Cristina de Fátima da Silva Peiter
Jádina Inácio da Rocha Castro
Ricardo Almeida Maciel

COORDENAÇÃO DE ETAPA ENSINO FUNDAMENTAL

Márcia Cristina Batista da Silva Fabiana Alves de Melo Dias


Anos Iniciais do Ensino Fundamental Anos Finais do Ensino Fundamental

LINGUAGEM

REDATORES DE REDATORES DE LÍNGUA INGLESA


Língua Portuguesa Jair do Nascimento Porto
Quitéria Rosa Pereira Oliveira Sandra Felisberto da Rocha
Luciana Santos Silva
Vanda Pereira Leite Dias

REDATORAS DE ARTE REDATORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA


Angela Neumy Fragoso Fatimi Adalberto Gomes de Lima Júnior
Juliana Fernanda Mello Amorim Gedalva Queiroz Brito

MATEMÁTICA

REDATORES MATEMÁTICA
Cláudio Henrique de Morais Silva
Eliane Silva Araújo Correia
Terence Coelho Lopes de Magalhães

CIÊNCIAS DA NATUREZA

REDATORES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA


Bernadete Fernandes de Araújo
Cristiane de Castro Laranjeira Rocha
Juliane dos Santos Medeiros

CIÊNCIAS HUMANAS

REDATORAS DE GEOGRAFIA REDATORES DE HISTÓRIA


Klévia Lima Delmiro Josafá Ferreira Campos
Rozilene Belo Barros dos Santos Luciana Tenório Costa Silva

ROSILÂNIA MACEDO DA SILVA


Articulador de Conselhos - CEE/AL
JOSÉ NEILTON NUNES ALVES
Articulador de Regime de Colaboração UNDIME/AL

MURILO FIRMINO DA SILVA


Articulador de Conselhos - CEE/AL
LUCAS RINALDO VIEIRA SILVA
Articulador de Conselhos - UNCME/AL
FICHA CATALOGRÁFICA

SECRETARIA DE ESTADO DA UNIÃO DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS


EDUCAÇÃO DE ALAGOAS DE EDUCAÇÃO DE ALAGOAS
Avenida Fernandes, s/n - Farol Av. Dom Antônio Brandão, 218 - Farol
Maceió – AL CEP: 57.051-190 - Maceió/AL
CEP: 57055-055 Telefone: (82) 3336.6637    Celular: (82)
Sítio: http://www.educacao.al.gov.br/ 98147.2669
Sítio: undimeal@bol.com.br
À COMUNIDADE ESCOLAR Este documento contempla competên-
cias e habilidades essenciais em todo territó-
A Secretaria de Estado da Educação rio brasileiro, por meio da Base Nacional Co-
apresenta às Comunidades Escolares das mum Curricular da Educação Infantil e Ensino
13 Regionais de Educação de Alagoas e seus Fundamental, bem como as experiências das
102 municípios, o REFERENCIAL CURRICU- pessoas que vivem, aprendem e ensinam no
LAR DE ALAGOAS. território alagoano.
O Referencial Curricular de Alagoas é um O Referencial Curricular de Alagoas pro-
documento para todo território alagoano, cons- põe que a educação escolar alagoana deva or-
truído democraticamente, com participação ganizar a formação e desenvolver as potencia-
dos alagoanos, mas principalmente, professo- lidades de todos os envolvidos nos processos
res e instituições de ensino de Alagoas. de ensino e de aprendizagem.
O Referencial Curricular de Alagoas nas- Crianças e estudantes, em suas diversida-
ceu de um processo com inúmeras interven- des, valorizadas em seu território, aprenderão
ções e contribuições dos mais variados cola- e ampliarão os saberes historicamente cons-
boradores, BNCC e os referenciais estadual truídos pela humanidade e pelo povo alagoano.
e municipais, além de pesquisas, consultas A Escola, em seu papel transformador,
públicas, seminários, grupos de trabalhos, vi- precisa promover uma Aprendizagem Signi-
sitas técnicas, leituras críticas por especialis- ficativa, considerando a variedade de inter-
tas, oficinas, debates, audiências públicas etc. faces que o Ensino do conhecimento escolar
Todo o trabalho de (re)elaboração do realiza, por meio da inovação, da contextuali-
Referencial Curricular de Alagoas contou zação, da interdisciplinaridade, da pesquisa e
com uma equipe de técnicos e especialistas: dos letramentos.
coordenadores, redatores, articuladores da
Profª. Drª. Laura Cristiane de Souza
SEDUC, da UNDIME, UNCME e CEE.
Secretária de Estado da Educação de Alagoas
SUMÁRIO
Apresentação...................................................................... 13
Alagoas, um Território de Aprendizagens............................ 19
Apresentação do Ensino Fundamental................................. 51

LINGUAGENS.................................................................... 59
Língua Portuguesa.............................................................. 59
Introdução.......................................................................................................................61
Contexto histórico do componente curricular Língua Portuguesa..............................64
Concepções de Língua Portuguesa...............................................................................67
Contextualizando as competências...............................................................................69
Organização curricular do componente Língua Portuguesa........................................75
Organizador Curricular de Língua Portuguesa..............................................................75
Língua Portuguesa - Anos Iniciais do Ensino Fundamental..........................................92
Letramento digital durante a alfabetização...................................................................95
Anos Iniciais por eixos (práticas de Linguagem)............................................................95
Língua Portuguesa - Anos Finais do Ensino Fundamental............................................97
Campos de atuação nos Anos Finais.............................................................................98
Transição entre Etapas.................................................................................................100
Referências...................................................................................................................104

Arte.................................................................................. 259
Apresentação................................................................................................................261
Ensino da Arte no Brasil e seus marcos legais.............................................................262
O Componente Curricular Arte e a BNCC...................................................................264
Metodologias e abordagens no Componente Curricular Arte...................................265
O currículo e a Arte na Pós-modernidade  ..................................................................268
A Arte e seus processos de hibridações......................................................................270
Componente curricular Arte e o desenvolvimento de Competências cognitivas
e socioemocionais .......................................................................................................272
O papel do arte educador e suas mediações...............................................................275
O Componente Curricular Arte no Ensino Fundamental............................................276
Organização do Componente Curricular Arte............................................................280
O Organizador Curricular do Componente Arte.........................................................289
Referências...................................................................................................................361
Educação Física................................................................. 365
Apresentação................................................................................................................367
Introdução.....................................................................................................................368
Educação Física e seus Marcos Legais.........................................................................369
Educação Física e os princípios de Ensino e de Aprendizagem..................................370
Educação Física e os temas contemporâneos............................................................372
Estrutura da Educação Física para o Ensino Fundamental..........................................372
Educação Física no Ensino Fundamental – Anos Iniciais.............................................382
Educação Física no Ensino Fundamental – Anos Finais...............................................382
Organizador Curricular dos Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental................384
Referências...................................................................................................................407

Língua Inglesa................................................................... 409


Introdução.....................................................................................................................411
Concepções Históricas e Evolução do Componente..................................................412
Concepções Específicas do Componente Adotadas no Documento........................417
Língua Inglesa nos Anos Iniciais...................................................................................423
Organizador Curricular do Componente Curricular...................................................424
Referências...................................................................................................................460

MATEMÁTICA.................................................................. 463
Matemática....................................................................... 463
Apresentação................................................................................................................465
Área de Matemática......................................................................................................470
Organização do Conhecimento Escolar de Matemática.............................................475
Metodologias no ensino de Matemática......................................................................492
Organizador Curricular.................................................................................................497
Referências...................................................................................................................547
.............................................................................................................................................
CIÊNCIAS HUMANAS...................................................... 553
Geografia.......................................................................... 553
Apresentação ...............................................................................................................555
Marco regulatório..........................................................................................................557
A área de Ciências Humanas........................................................................................558
Competências Gerais da BNCC...................................................................................560
Concepções históricas e evolução do componente Curricular de Geografia...........562
Conhecendo os princípios do Raciocínio Geográfico.................................................563
Conceitos Geográficos.................................................................................................566
Competências Específicas do componente curricular de Geografia.........................568
O Currículo de Geografia..............................................................................................570
O papel do educador no processo curricular...............................................................575
O papel do estudante no processo curricular.............................................................576
Organização Curricular do Componente de Geografia..............................................577
Transição entre as Etapas.............................................................................................580
Objetos do conhecimento Aplicado ao Ensino Fundamental Anos Iniciais...............581
Objetos do conhecimento Aplicado ao Ensino Fundamental Anos Finais.................582
Apresentando o Organizador Curricular de Geografia...............................................585
Referências...................................................................................................................620

História............................................................................. 623
Apresentação................................................................................................................625
Marco Regulatório da BNCC.........................................................................................627
A Área de Ciências Humanas .......................................................................................628
Contexto histórico e evolução do componente curricular de História......................631
Competências específicas de História para o Ensino Fundamental..........................632
O currículo e o componente curricular de História.....................................................634
Organização do Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais.....................................636
Organizador Curricular de História..............................................................................638
Referências.........................................................................................................................

CIÊNCIAS DA NATUREZA................................................ 671


Ciências da Natureza......................................................... 671
Breve Histórico das Concepções do Ensino de Ciências da Natureza.......................674
Ciências da Natureza no Ensino Fundamental............................................................678
As Unidades Temáticas................................................................................................688
Desdobramentos Didático-Pedagógicos – DesDP.....................................................697
Um Olhar para o Território Alagoano...........................................................................700
Organizador Curricular de Ciências da Natureza Anos Iniciais/Anos Finais ..............705
Referências ...................................................................................................................719

Anexo I -
Resolução CNE/CP nº 2 de 22 de dezembro de 2017........... 723
Anexo II -
Resolução CEE/AL Nº 1/2019 de 6 de maio de 2019........... 733
ALAGOAS, UM
TERRITÓRIO DE
APRENDIZAGENS
A área territorial de Alagoas é de
27.767,661 km², compreendido por
102 municípios e conforme IBGE1, a
população totaliza 3.322.820 habi-
tantes, com densidade demográfica
de aproximadamente 119,31 hab/
km². Com relevo formado por planície
litorânea, planalto a norte e depres-
são no centro, o ponto mais elevado
é a Serra de Santa Cruz, com 844 m
acima do nível do mar. Localizado na
Região Nordeste, o Estado faz limi-
tes com Pernambuco, Sergipe, Bahia
e o oceano Atlântico. Em quase todo
território alagoano, o clima é tropical,
com temperaturas entre 18°C e 26°C.
O inverno é a estação em que ocorre
maior índice de chuvas. Os principais
rios são: Ipanema, Moxotó, Mundaú,
Paraíba do Meio e São Francisco. O
território é dividido geograficamente
em três Mesorregiões:

1 População e Densidade Demográfica estimadas para


2018, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE (https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/panorama)
10
20 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

Mesorregiões de Alagoas
Mesorregião do Agreste Alagoano

Composta pelas Microrregiões de Arapira-


ca, Palmeira dos Índios e Traipu: Está loca-
lizada na área central do estado, está entre
o Sertão e a Mata Atlântica. Nos seus 24
municípios predominam culturas de feijão,
fumo, amendoim, mandioca, milho, caju,
algodão e cana-de-açúcar. Neles, são en-
contrados minerais como: amianto, argila,
calcário e ferro.
Mesorregião do Leste Alagoano

Formada pelas Microrregiões do Litoral


Norte Alagoano, Maceió, Mata Alagoana,
Penedo, São Miguel dos Campos e Serra-
na dos Quilombo. Com 52 municípios, é a
Mesorregião mais habitada. Há um intenso
turismo por causa de suas belíssimas praias.
A zona da mata chama atenção, principal-
mente pela flora e fauna da Mata Atlântica.
Historicamente, a cana de açúcar é a cultura
predominante. Possui o Porto do Jaraguá e
Aeroporto Zumbi dos Palmares. Além do tu-
rismo, o comércio e a indústria fortalecem a
economia da região.
Mesorregião do Sertão Alagoano

Compreende as Microrregiões alagoanas


do Sertão do São Francisco, Batalha, Santa-
na do Ipanema e Serrana do Sertão Alagoa-
no: É formada pela união de 26 municípios
agrupados em quatro microrregiões. O
clima nessa Mesorregião é semiárido, com
baixa umidade relativa do ar. Vegetação
de caatinga menos populosa. A economia
desta mesorregião está baseada principal-
mente na pecuária. Desenvolve criação de
caprinos e bovinos, além da cultura do cul-
tivo de feijão e mandioca.
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 11
21

O povo de Alagoas tem caracte- van, Rainha Marta e muitos outros.


rísticas marcantes: resistência, ale- Os sotaques e expressões típicas
gria, resiliência e cordialidade. Com como oxe, oxente, arretado, pocar,
origem étnico-racial na miscigena- vôte, bulir, avia, catenga, resenha,
ção entre os índios que já habitavam mangar e muitas outras, definem
a região, os europeus - principal- também o território de Alagoas.
mente portugueses - e dos negros Os encantos naturais de Alagoas
trazidos da África. A maioria da po- reforçam o turismo como um grande
pulação autodeclara-se parda, com vetor da economia. Destacam-se as
significativa parcela de brancos. A belas praias, lagoas, lagunas e rios,
vida e experiências do povo alagoa- especialmente toda a região banha-
no, do Litoral, da Zona da Mata, do da pelo Rio São Francisco. É crescen-
Agreste e do Sertão, caracterizam te o turismo ecológico e de aventura,
todo seu território com sua grande com descobertas de trilhas, sítios
riqueza cultural, que se destaca no arqueológicos e reservas da mata
artesanato, folclore, culinária, arqui- Atlântica. O comércio e os serviços
tetura, religiosidade, produção lite- têm grandes destaques na econo-
rária, festas, danças, músicas, flora, mia do Estado. Pelo interior, as gran-
fauna, lagunas, rios, praias e mares. des feiras livres trazem os produtos
Pode-se dizer o quão são admi- da agricultura familiar e da pecuária.
rados o filé alagoano, a singeleza, As culturas da cana-de-açúcar, ar-
a cerâmica e jóias ecológicas indí- roz, feijão, macaxeira, inhame, milho,
genas e quilombolas. O sururu de banana, abacaxi, coco, laranja, algo-
capote, caldinho de massunim ou dão e fumo são destaque. O Estado
de feijão, fritada de siri, peixada, bu- também possui rebanhos bovinos,
chada, queijo manteiga, tapioca ou equinos, caprinos, bubalinos, pisci-
um arroz de tempero com um pirão cultura e ovinos. A indústria alagoana
de galinha de capoeira. O Coco de destaca-se nos setores alimentício,
roda, Reisado e Pastoril encantam açúcar, álcool, têxtil, químico, cloro
toda gente, são muito apreciados de químico, cimento, mineração, produ-
vaquejada e cavalhada. Território da ção de petróleo e gás natural.
liberdade dos povos indígenas e dos Mesmo com grande influência
quilombolas, destacando-se filhos branco europeia, destaca-se que os
ilustres como: Zumbi dos Palmares, povos tradicionais, indígenas e qui-
Graciliano Ramos, Aurélio Buarque lombolas, estão por todo Estado e
de Holanda, Nise da Silveira, Jorge garantem, principalmente, as identi-
de Lima, Linda Mascarenhas, Dja- dades culturais do local.
12
22 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

Povos Indígenas e Quilombolas

Povos indígenas
Povos Indígenas em
Alagoas: Aconã,
Karapotó, Kariri-Xocó,
Karuazu, Katokinn,
Jeripancó, Kalankó,
Koiupanká
Tingui-botó,
Wassu-cocal,
Xukuru-Kariri

Povos Quilombolas: http://www.iteral.al.gov.br/dtpaf/comunidades-quilombolas-de-alagoas/


Mapa%20das%20Comunidades%20Quilombolas-2011.JPG/image_view_fullscreen
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 13
23

A seguir, apresentaremos perspectivas e dimensões do Referencial


Curricular de Alagoas, o qual é construído a partir do processo de imple-
mentação da Base Nacional Comum Curricular da Educação Infantil e En-
sino Fundamental, conforme a Resolução CNE/CP nº 2 de 22 de dezem-
bro de 2017, que institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum
Curricular, a ser respeitada obrigatoriamente, ao longo das etapas e res-
pectivas modalidades, no âmbito da Educação Básica.

Referencial Curricular de Alagoas


O Ministério da Educação, em parceria com o Conselho Nacional de
Secretários de Educação - CONSED, a União Nacional dos Dirigentes Mu-
nicipais de Educação - UNDIME e o Fórum Nacional dos Conselhos Esta-
duais de Educação - FNCEE desenvolveu um processo de (re)elaboração
dos documentos curriculares dos Estados e Municípios, por meio de um
grande trabalho de regime de colaboração. Este processo permitiu a po-
tencialização e otimização dos recursos materiais e humanos de Estados
e Municípios.
Em Alagoas, o processo de regime de colaboração se materializou por
meio da SEDUC/AL, UNDIME/AL, CEE/AL e UNCME/AL. O objetivo do
processo foi reelaborar o Referencial Curricular de Alagoas, definindo um
documento para o território alagoano, com base nos documentos curri-
culares dos Sistemas de Ensino municipais e estadual, para nortear o tra-
balho docente nas escolas de Alagoas. Neste contexto, especialistas re-
datores, articuladores e coordenadores foram selecionados e ajustaram o
documento curricular preliminar - Referencial Curricular de Alagoas, que
passou por uma grande consulta pública e contou com a participação e
contribuição das comunidades educativas dos 102 municípios alagoanos.
Em Alagoas, optou-se por um documento curricular para o território,
denominado Referencial Curricular de Alagoas. Desta forma, falar de um
documento que referencie processos didático-pedagógicos é referir-se a
currículos declarados e ocultos, que se formam e ganham forma nas vivên-
cias e experiências históricas e diárias, a partir de referenciais como: povos,
tradições, atividades, cultura e economia entre outros. Partimos do princípio
que Referencial Curricular é um conjunto de reflexões de cunho educacional
que dispõe de orientações didáticas para os educadores das diversas áreas
14
24 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

do conhecimento, respeitando seus mento, reconhecimento e desen-


estilos pedagógicos e a diversidade volvimento pleno nas singularida-
cultural de cada localidade. des e diversidades.
Para a construção de uma pro- A sociedade contemporânea
posta curricular ampliada, que se impõe necessidades de desenvol-
efetive na prática, se faz necessá- vimento de competências, específi-
rio que as concepções, em torno cas das culturas digitais do Séc. XXI,
dos elementos articuladores, sejam que vão muito além do acúmulo de
bem definidos e alinhados entre to- informações. Nesse contexto, é real
dos os que a desenvolvem, espe- a necessidade de se formar um su-
cialmente em torno das especifici- jeito crítico, comunicativo, criativo,
dades que compõem o território e participativo, colaborativo, aberto
cada etapa da Educação Básica. Para ao novo, protagonista e autêntico
pensar numa proposta de referen- em suas escolhas, um sujeito que
cial curricular é necessário definir de convive, respeita e aprende com as
qual currículo estamos falando, para diferenças e as diversidades.
quem é construído, quais objetivos A necessidade do Estado de
e como pensar a educação, ao mes- Alagoas em revisar seu Referencial
mo tempo em que surge a necessi- Curricular é decorrente da relevan-
dade de dialogar com questões cen- te aproximação da prática educa-
trais do processo educativo: o que cional em relação às orientações
aprender, para que aprender, como expressas nas Diretrizes Curricula-
ensinar, como promover redes de res Nacionais, em consonância com
aprendizagem colaborativa e como a Base Nacional Comum Curricular
avaliar o aprendizado. (BNCC). A BNCC é um documento
A partir desses elementos, de- de caráter normativo e apresenta
finem-se, como balizadores deste as aprendizagens essenciais que
documento curricular, os princí- foram definidas para assegurar o
pios éticos, estéticos e políticos desenvolvimento de competências
que norteiam e fundamentam uma gerais, habilidades que se consubs-
educação voltada para o desenvol- tanciam, no âmbito pedagógico.
vimento humano global, conside- Para tanto, serão apresentados
rando o sujeito em todas as suas neste Referencial Curricular de Ala-
dimensões: cognitivas e socioe- goas, elementos estruturantes que
mocionais. Pensar a formação in- devem ser adotados nos currículos
tegral desse sujeito é pensar uma escolares, como forma de garan-
educação voltada ao seu acolhi- tir os direitos de aprendizagem de
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 15
25

todas as crianças, jovens e adultos No que tange o Plano Nacional de


alagoanos a partir de suas especifi- Educação - PNE (2014 - 2024, Metas
cidades, com foco em seu desenvol- 4 e 8), o Estado precisa fortalecer seu
vimento integral, ou seja, uma ferra- papel de coordenação no território,
menta de estímulo à reflexão sobre realizando busca ativa e viabilizan-
o que e como pensar, construir e do o planejamento de matrículas,
executar um currículo, consideran- de forma integrada aos Municípios,
do as particularidades regionais e bem como incorporando instrumen-
locais com a participação de todos tos de monitoramento e avaliação
os responsáveis e interessados. contínua em colaboração com os
Segundo a Lei de Diretrizes e Municípios e com a União. Há ainda
Bases da Educação Nacional LDBEN a necessidade de que os Estados e
(1996), no art. 22, a educação bá- Municípios projetem a ampliação e
sica tem por finalidade desenvol- a reestruturação de suas escolas na
ver o educando, assegurar-lhe a perspectiva da educação integral e,
formação comum, indispensável nesse contexto, é estratégico consi-
para o exercício da cidadania e for- derar a articulação da escola com os
necer-lhe meios para progredir no diferentes equipamentos públicos,
trabalho e em estudos posterio- espaços educativos, culturais e es-
res. Já o art. 32 tem por objetivo, portivos, revitalizando os projetos
a formação básica do cidadão. Na pedagógicos das escolas nessa dire-
educação formal, os resultados das ção. A política pública deve fortalecer
aprendizagens precisam expres- sistemas educacionais inclusivos em
sar e apresentar a possibilidade de todas as etapas, viabilizando acesso
utilizar o conhecimento para tomar pleno à educação básica obrigatória
decisões pertinentes em situações e gratuita. A juventude (jovens e jo-
que requerem sua aplicação. A esse vens adultos, conforme o Estatuto
conhecimento mobilizado, opera- da Juventude) do campo, das re-
do e aplicado, em situação, dá-se o giões mais pobres e negra; devem
nome de competência. Outro de- ganhar centralidade nas medidas
safio é assegurar acesso pleno de voltadas à elevação da escolarida-
crianças, adolescentes e jovens no de de forma a equalizar os anos de
ensino fundamental, esforço que estudo em relação aos demais re-
exige colaboração entre redes es- cortes populacionais. Os Estados e
taduais e municipais e acompanha- os Municípios devem se organizar e
mento da trajetória educacional do entender esses desafios como com-
estudante. promissos com a equidade, contan-
16
26 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

do com o apoio federal para viabilizar cias específicas, definidas a partir


o atendimento das pessoas com de- da mobilização de conhecimentos
ficiências, transtornos globais do de- (conceitos e procedimentos), ha-
senvolvimento e altas habilidades ou bilidades (práticas cognitivas e só-
superdotação em salas de recursos cio emocionais), atitudes e valores
multifuncionais, classes, escolas ou para resolver demandas complexas
serviços especializados, públicos ou na vida cotidiana do pleno exercício
conveniados. da cidadania e do mundo do traba-
Salienta-se que o processo de lho. Tais competências estão agru-
regime de colaboração para imple- padas e organizadas em Unidades
mentação da BNCC da Educação Temáticas, visando uma progres-
Infantil e Ensino Fundamental, de- sividade e continuidade no trata-
finido pela Resolução CNE/CP nº mento dado à construção do co-
2 de 22 de dezembro de 2017, que nhecimento nesta etapa de ensino.
institui e orienta a implantação da Em cada Unidade Temática, for-
Base Nacional Comum Curricular, mam-se os Objetos de conhecimen-
a ser obrigatoriamente respeitada, to, que correspondem aos conteú-
ao longo das etapas e respectivas dos conceituais referentes a essas
modalidades no âmbito da Educa- Unidades. Completando-se com as
ção Básica, traz competências ge- habilidades, que são distribuídas de
rais para a formação do sujeito da forma que propiciem uma progressi-
ação educacional em sua integrali- vidade de conhecimentos no Ensino
dade. Indica ainda, dez competên- Fundamental - Anos Iniciais e Anos
cias gerais a serem desenvolvidas Finais. Conforme a BNCC,
dentro de uma cone-
xão entre as etapas e “As aprendizagens essenciais concorrem para
os campos de expe- assegurar o desenvolvimento das dez compe-
riências e/ou as áreas tências gerais, que consubstanciam no âmbito
de conhecimento, vi- pedagógico. As competências são definidas
sionando que, ao final como mobilização de conhecimentos (con-
de todo o processo, a ceitos e procedimentos) habilidades (práticas
criança e/ou estudan- cognitivas e sócio emocionais), atitudes e valo-
te tenha assegurado o res para resolver demandas complexas na vida
direito a essas compe- cotidiana do pleno exercício da cidadania e do
tências nos processos mundo do trabalho. (BRASIL, 2017)”
de ensino. Para todas
as áreas, há competên-
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 17
27

As concepções sobre os processos do como e por que ensi-


nar devem estar bem delimitadas para que assegurem o desen-
volvimento e a aprendizagem e se materializem no trabalho da
organização pedagógica, tanto na Educação Infantil, quanto no
Ensino Fundamental - Anos Iniciais e Anos Finais. Neste contex-
to, são definidas as metas, o plano de trabalho, as estratégias
de ensino, respeitando o tempo e o ritmo das fases do desen-
volvimento das crianças e dos jovens, bem como a avaliação
de forma contínua e as concepções prévias, até a mobilização
e consolidação da aprendizagem em sua totalidade. Desta for-
ma, o Referencial Curricular de Alagoas garante e ratifica o que a
BNCC define como competências gerais para as três etapas de
ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio)
da Educação Básica, objetivando que a criança/estudante as te-
nha desenvolvido, através de toda sua trajetória.
O Referencial Curricular de Alagoas orienta o território de
Alagoas nos Sistemas de Ensino, a efetivação do trabalho e
planejamento didático-pedagógico, pautado na consecução
das 10 competências da BNCC, ao longo dos processos de en-
sino das etapas da Educação Básica, áreas de conhecimento,
componentes curriculares e ações complementares desen-
volvidas nas escolas de Alagoas.
18
28 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

1. Valorizar e utilizar os conhe- 4. Utilizar diferentes linguagens


cimentos historicamente - verbal (oral ou visual-mo-
construídos sobre o mundo tora, como LIBRAS) e escri-
físico, social, cultural e digi- ta, corporal, visual, sonora e
tal para entender e explicar a digital - bem como conheci-
realidade; continuar apren- mento das linguagens artís-
dendo e colaborar para a tica, matemática e científica,
construção de uma socieda- para se expressar e partilhar
de justa, democrática e inclu- informações, experiências,
siva; ideias e sentimentos em dife-
rentes contextos e produzir
2. Exercitar a curiosidade in- sentidos que levem ao enten-
dimento mútuo;
telectual e recorrer à abor-
dagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a re- 5. Compreender, utilizar e
flexão, a análise crítica, a ima- criar tecnologias digitais de
ginação e a criatividade, para informação e comunicação
investigar causas, elaborar de forma crítica, significa-
e testar hipóteses, formular tiva, reflexiva e ética nas
e resolver problemas e criar diversas práticas sociais (in-
soluções (inclusive tecnoló- cluindo as escolares) para se
gicas) com base nos conheci- comunicar, acessar e disse-
mentos das diferentes áreas; minar informações, produ-
zir conhecimentos, resolver
3. Valorizar e fruir as diversas problemas e exercer prota-
gonismo e autoria na vida
manifestações artísticas e
culturais, das locais às mun- pessoal e coletiva;
diais, e também participar
de práticas diversificadas da
produção artístico-cultural;
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 19
29

6. Valorizar a diversidade de 8. Conhecer-se, apreciar-se e


saberes e vivências culturais cuidar de sua saúde física e
e apropriar-se de conheci- emocional, compreenden-
mentos e experiências que do-se na diversidade hu-
lhe possibilitem entender as mana e reconhecendo suas
relações próprias do mundo emoções e as dos outros,
do trabalho e fazer escolhas com autocrítica e capacida-
alinhadas ao exercício da ci- de para lidar com elas;
dadania e ao seu projeto de
vida, com liberdade, auto-
nomia, consciência crítica e
9. Exercitar a empatia, o diálo-
go, a resolução de conflitos e a
responsabilidade; cooperação, fazendo-se res-
peitar e promovendo o res-
7. Argumentar com base em peito ao outro e aos direitos
fatos, dados e informa- humanos, com acolhimento
ções confiáveis, para for- e valorização da diversida-
mular, negociar e defender de de indivíduos e de grupos
ideias, pontos de vista e sociais, seus saberes, identi-
decisões comuns que res- dades, culturas e potenciali-
peitem e promovam os dades, sem preconceitos de
direitos humanos, a cons- qualquer natureza;
ciência socioambiental e o
consumo responsável em
âmbito local, regional e glo-
10. Agir pessoal e coletivamen-
te com autonomia, respon-
bal, com posicionamento sabilidade, flexibilidade,
ético em relação ao cuidado resiliência e determinação,
de si mesmo, dos outros e tomando decisões com base
do planeta; em princípios éticos, demo-
cráticos, inclusivos, susten-
táveis e solidários.
20
30 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

Além das competências gerais telectuais e culturais. Consideran-


para a educação básica, o docu- do a concepção de educação inte-
mento traz competências e habili- gral inclusiva defendida na BNCC,
dades específicas por área e com- as diversidades dos indivíduos que
ponente curricular específica, que compõem cada grupo de estudan-
se desdobram em consonância com tes deve ser considerada para ga-
as especificidades de cada etapa. rantir que todos os estudantes se-
Vale ressaltar, que elas oportunizam jam contemplados nos processos
a articulação horizontal, numa pers- de ensino e de aprendizagem.
pectiva interdisciplinar: na Educa- Para tanto, a concepção de su-
ção Infantil, entre os campos de ex- jeito, defendida neste documento,
periência e no Ensino Fundamental, se refere a sua historicidade e seus
entre as áreas de conhecimento, direitos. No caso da criança, na
perpassando todos os componen- educação infantil defende-se que,
tes curriculares e também a articu- nas interações, relações e práticas
lação vertical, ou seja, a progressão cotidianas vivenciadas, ela constrói
entre os grupos etários da educa- sua identidade pessoal e coletiva,
ção infantil e entre os anos iniciais brinca, imagina, fantasia, deseja,
e finais do Ensino Fundamental aprende, observa, experimenta,
permitindo a continuidade das ex- narra, questiona e constrói senti-
periências dos estudantes, de acor- dos sobre a natureza e a sociedade,
do com as especificidades da área/ produzindo cultura (BRASIL, 2009,
saber. Considerando esses pres- p.12). Com o apoio dos Parâme-
supostos e em articulação com as tros Nacionais de Qualidade para a
competências gerais da Educação Educação Infantil, esta concepção
Básica, os campos de experiências pode ser ampliada: a criança é um
e componentes curriculares, devem ser humano único, completo e, ao
garantir às crianças desenvolvimen- mesmo tempo, em crescimento e
to de competências específicas. em desenvolvimento. Isso porque
Diante da compreensão do por- ela tem características necessárias
quê e de como ensinar, é necessá- para ser assim considerada: consti-
rio se definir para quem ensinar. A tuição física, formas de agir, pensar
educação básica compreende su- e sentir. É um ser em crescimento
jeitos em diversas etapas do de- porque seu corpo está continua-
senvolvimento humano - crianças, mente aumentando em peso e al-
jovens e adultos - e com diferentes tura. É um ser em desenvolvimento
características físicas, sociais, in- porque essas características estão
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 21
31

em permanente transformação. É por meio da interação e do brincar


As mudanças que vão acontecen- que a infância se caracteriza, que a
do são qualitativas e quantitativas criança aprende e se desenvolve.
— o recém-nascido é diferente do Nessa perspectiva, o documen-
bebê que engatinha que é diferente to determina que seis direitos de
daquele que já anda, já fala, já tirou aprendizagem e desenvolvimento
as fraldas. O crescimento e o de- sejam assegurados para as crian-
senvolvimento da criança pequena ças nesta prática, enquanto sujeitos
ocorrem intrinsecamente tanto no sócio históricos e culturais. Sendo
plano físico quanto no psicológico. assim, tais eixos apontam caminhos
Embora dependente do adulto que assegurem a compreensão de
para sobreviver, a criança é um ser que as crianças aprendem em situa-
capaz de interagir num meio natu- ções nas quais possam desempe-
ral, social e cultural desde bebê. A nhar um papel ativo em ambientes
partir de seu nascimento, o bebê que as convidem a vivenciar desa-
reage ao entorno, ao mesmo tem- fios e a sentirem-se provocadas
po em que provoca reações, mar- a resolvê-los, nas quais possam
cando a história daquela família. construir significados sobre si, os
Os elementos de seu entorno que outros e o mundo social e natural.
compõem o meio natural (o clima, Compreendendo garantia de direi-
por exemplo), social (os pais, por tos para cumprimento de deveres
exemplo) e cultural (os valores, por em busca de uma sociedade ala-
exemplo) irão configurar formas de goana justa, democrática e inclu-
conduta e modificações recíprocas siva, a BNCC aponta os direitos de
dos envolvidos. aprendizagem e desenvolvimento,
Diante deste entendimento, é que são conviver, brincar, participar,
importante que a criança seja con- explorar, expressar e conhecer-se.
siderada a partir de suas necessi- Ao ingressar no Ensino Funda-
dades e interesses, colocando-a mental, a criança continua a mes-
no centro do planejamento e da ma, no entanto, a proposta de
prática pedagógica. Para tanto é educação se reconfigura. As Leis
necessário que o professor planeje Federais 11.114/2005, 11.274/2006
e proporcione situações nas quais e 12.796/2013 (que altera a Lei
as interações e brincadeiras sejam 9.394/96 em acordo com a Emenda
eixos articuladores, possibilitando Constitucional 59/2009) instituí-
que as crianças se expressem, por ram uma nova organização do En-
meio das suas diversas linguagens. sino Fundamental e definiram, em
22
32 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

algumas delas, a antecipação do sino assegurarem essa transição


Ensino Fundamental a ser iniciado de forma a dar continuidade aos
aos seis anos de idade e ampliaram processos de aprendizagem e de
sua duração para nove anos. Ou- desenvolvimento; efetivamente
tras ampliaram a obrigatoriedade integrando e buscando garantir de
escolar, estendendo-a dos quatro fato o que o é de direito à Educação
aos dezessete anos de idade. Essa Infantil e à Educação Básica. Para
organização traz inevitáveis ques- tanto, esse referencial tem por ex-
tionamentos e a obrigatoriedade pectativa apontar elos entre o que
- ao estado conjuntamente aos mu- se propõe como trabalho de quali-
nicípios - na estruturação de orien- dade nas duas etapas.
tações que favoreçam à articulação É imprescindível conhecer o que
entre as etapas educativas propor- é próprio de cada etapa e, principal-
cionando uma transição entre os mente, o que é realizado no fazer diá-
distintos espaços de socialização rio pedagógico, a fim de pensar em
da criança em respeito ao momen- estratégias que coloquem a criança
to das práticas e as concepções de em primeiro plano, isto é, ressaltan-
ambas as etapas educacionais para do sua capacidade de aprender e as
que venham a ser integradas a partir habilidades a serem conquistadas,
do reconhecimento de suas diferen- considerando o caminho de vivên-
tes histórias, valores e concepções. cias transcorrido até esse ponto
Desse modo, a transição da Educa- de transição. Pensar em ações que
ção Infantil para o Ensino Fundamen- envolvam ambas as etapas é crucial
tal se constitui em um momento em para que as crianças possam, desde
que se faz necessário o respeito à a educação infantil (re)conhecer os
singularidade das duas etapas como anos iniciais do ensino fundamen-
também a um lugar em que a crian- tal como continuidade, espaço de
ça precisa transitar alicerçada numa novos desafios e conquistas, onde
base que garanta seus direitos e vi- não se deixa de ser criança, embora
vências de aprendizagem, conside- o desenvolvimento inerente a cada
rando o passar de uma etapa para grupo etário requeira a maturidade
outra como parte integrante do pro- que possibilitará a permanência com
cesso de desenvolvimento infantil e sucesso dessa criança e seu pleno
integral do sujeito. desenvolvimento.
As DCNEI e a BNCC para a Edu- A transição se caracteriza por
cação Infantil, apontam a neces- mudanças pedagógicas na es-
sidade de as Instituições de en- trutura educacional, decorrentes
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 23
33

principalmente da diferenciação • Evitar atividades que priorizem a


dos componentes curriculares. alfabetização e/ou antecipação
Como bem destaca o Parecer de conteúdos do EF para crianças
CNE/CEB nº 11/2010, “os estu- em idade de pré-escola, como
dantes, ao mudarem do professor forma de preparação para a en-
generalista dos anos iniciais para trada no ensino fundamental;
os professores especialistas dos
diferentes componentes curricu-
lares, costumam se ressentir dian- • Apresentar aos pais a proposta
te das muitas exigências que têm pedagógica da IEI destacando a
de atender, feitas pelo grande nú- importância de atividades lúdi-
mero de docentes dos anos finais” cas, com ênfase no brincar, ob-
(BRASIL, 2010). Realizar as neces- jetivando o desenvolvimento de
sárias adaptações e articulações, diversas habilidades e compe-
tanto no 5º quanto no 6º ano, para tências para toda a vida;
apoiar os estudantes nesse pro-
cesso de transição, pode evitar
ruptura no processo de aprendi- • Articulação/diálogo entre a Ins-
zagem, garantindo-lhes maiores tituição de Educação Infantil (IEI)
condições de sucesso. com a Escola de Ensino Funda-
Importante destacar que, en- mental (EEF) apresentando pro-
quanto sujeitos da ação em idade posta/concepção de educação
de pré-escola, a criança precisa trabalhada de modo que a EEF
ser reconhecida e respeitada a crie mecanismos de adaptação
partir de suas especificidades e, no primeiro ano;
para garantir minimamente seu
desenvolvimento e formação é
necessário: • Alinhamento da concepção de
criança, educação, desenvolvi-
mento e aprendizagem entre as
duas etapas da educação básica.
24
34 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

Desse modo, é importante des- Os principais mediadores nesse


tacar que essa articulação deve ser processo de transição da educação
organizada e orientada respeitan- infantil para os anos iniciais são os
do os objetivos de cada etapa, por professores com planejamentos
exemplo, o objetivo da Educação efetivos elaborados em conjunto
Infantil não é a alfabetização, con- com as crianças e para as crian-
forme o que preconiza o Caderno 3 ças; uma proposta de educação
do Programa Nacional de alfabeti- integrada, na qual os professores
zação da Idade Certa (PNAIC) para da educação infantil olhem para os
a Educação Infantil: anos iniciais e os professores dos
anos iniciais se voltem para a edu-
Embora crianças da pré-escola possam cação infantil, atentos a uma con-
se alfabetizar por interesse particular tinuidade e complexidade ludica-
a partir das interações e da brincadei- mente construídas (HECK,2012).
ra com a linguagem escrita, não cabe à Assim, propomos para as duas
pré- escola ter a alfabetização da tur- etapas em questão uma continui-
ma como proposta. Na Educação In- dade dialogada, respeitando suas
fantil, muito mais importante do que, especificidades, contudo com-
por exemplo, ensinar as letras do alfa- preendendo que toda a historici-
beto é familiarizar as crianças, desde dade construída e vivenciada pela
bebês, com práticas sociais em que a criança da Educação Infantil aden-
leitura e a escrita estejam presentes tra como saberes no Ensino Funda-
exercendo funções diversas nas inte- mental, constituindo-se possibi-
rações sociais; é dar-lhes oportunida- lidade para saberes cada vez mais
de de perceberem lógicas da escrita complexos, não descartando em
tais como sua estrutura peculiar (não nenhum momento a ludicidade tão
se fala como se escreve), sua estabili- presente e fundamental na apren-
dade (as palavras não mudam quando dizagem da criança que ocupa esse
a professora lê uma história) e os múl- lugar de transição. Como aponta
tiplos papéis que desempenha nas so- a BNCC, o referido lugar deve ser
ciedades contemporâneas (utilitário e mapeado a partir das:
estético). (BRASIL, 2016, p. 26)
[...] informações contidas em rela-
tórios, portfólios ou outros regis-
tros que evidenciem os processos
vivenciados pelas crianças ao longo
de sua trajetória na Educação In-
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 25
35

fantil podem contribuir para a com- paço e materiais considerados nas


preensão da história de vida es- diferentes atividades e seus modos
colar de cada estudante do Ensino de organização: tempo em sala de
Fundamental. Conversas ou visitas aula, brincadeiras livres, hora da re-
e troca de materiais entre os pro- feição, saídas didáticas, atividades
fessores das escolas de Educação permanentes, sequências didáticas,
Infantil e de Ensino Fundamental atividades de sistematização, pro-
– Anos Iniciais também são impor- jetos etc. Considerando sempre a
tantes para facilitar a inserção das ludicidade e interação como enca-
crianças nessa nova etapa da vida deadores dos processos de aprendi-
escolar” (BNCC, 2018, p.51). zagem da criança para que a integra-
ção da Educação Infantil ao conjunto
Para que as crianças possuam da Educação Básica, através dos pri-
modos próprios de compreender meiros anos do Ensino Fundamental,
e interagir com o mundo, cabe às se concretize sem rupturas favore-
unidades de ensino, através das cendo a continuidade da aprendi-
suas propostas curriculares, fa- zagem de saberes espontâneos e
vorecer a criação de um ambiente científicos com sucesso.
escolar onde a infância possa ser Os processos de ensino e
vivida sem rupturas em toda a sua aprendizagem guardam, em si,
plenitude, um espaço e um tempo conceitos diferentes porém, urge,
de encontro entre os seus próprios nesse contexto de um entrelaça-
espaços e tempos respeitando a mento, para que se possa assegurar
identidade do ser criança. Por isso, ao estudante a competência neces-
o acolhimento, adaptação, adequa- sária em cada ano/etapa do ensino
ções entre outros procedimen- escolar, levando o professor a pen-
tos, não são pertencentes apenas sar nos processos que envolvem o
à etapa da Educação Infantil, mas aprender. Dentro desse contexto,
são imprescindíveis nos primeiros os processos de ensino e aprendi-
anos do Ensino Fundamental. zagem perpassam pelas Diretrizes
Para que essa fase da transição Nacionais para a Educação Básica,
logre êxito, o planejamento da esco- pela BNCC (BRASIL, 2017), pelo Re-
la precisa contemplar os critérios de ferencial Curricular de Alagoas, pelo
organização das crianças em classes Projeto Político Pedagógico da es-
ou turmas, a definição de objetivos cola e pelo Plano de Aula do profes-
por agrupamentos etários, bem sor. Todos esses documentos nor-
como o planejamento do tempo, es- teiam a ação didática do professor,
26
36 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

assim como também expressam e perpassam as concepções de mundo,


de sociedade, de escola e de estudante que queremos formar. Com isso, o
Currículo se configura dentro de uma multiplicidade de saberes e prática de
ambientes de aprendizagem, em que se legitima a identidade sócio cultural
de um povo.
Os professores, ao prepararem suas aulas, devem considerar esse
ambiente em que os estudantes vivem, para que visualizem objetos, coi-
sas e fenômenos que permitam interação, visando facilitar o diálogo e as
relações interpessoais. Além disso também, devem ser consideradas as
concepções prévias de mundo que o estudante já possui. Segundo Cam-
pos e Nigro (1999), é preciso considerar aquilo que o estudante pensa a
respeito de determinado assunto, suas ideias e conhecimentos já adqui-
ridos fora do ambiente escolar.
As condições de aprendizagem se fazem a partir de vários modos, em
que se consideram desde o acesso do estudante à escola, ao tempo de
hora/aula que se dedica, entre outros fatores que devem ser respeita-
dos como forma de assegurar ao estudante o tempo necessário ao seu
desenvolvimento cognitivo. Assim como, se faz necessário observar as
dificuldades e avanços obtidos, ou seja, o desempenho cognitivo do estu-
dante, intervindo em tempo hábil, em que possa oportunizar a ele o avan-
ço progressivo da aprendizagem.
A articulação teórica e prática deve permear o ensino de cada disciplina,
de modo que a prática aqui mencionada não se restrinja aos experimentos
no laboratório ou observações, mas acontecendo sempre que conheci-
mentos são mobilizados para entender a realidade e sempre que saia do
plano das abstrações conceituais para o plano real (RIO GRANDE DO SUL,
2006). Kleiman e Moraes (2009) defendem a perspectiva de uma educação
que seja para além da transmissão de conhecimentos e, nesse sentido, é
importante que se adotem nas escolas, metodologias de ensino que bus-
quem inovar as práticas pedagógicas, oferecendo ao estudante a opor-
tunidade de uma postura ativa, interessada e comprometida no processo
de aprendizagem, práticas diferentes das que se encontram nas salas de
aula mais tradicionais. Para tanto, é imprescindível a inclusão não só dos
conteúdos, mas também, sua contextualização, experimentação, integra-
ção entre disciplinas, áreas de conhecimento, vivências e convivência em
tempos e espaços escolares e extraescolares, mediante aulas e situações
diversas (BRASIL, 2013).
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Referencial Curricularde
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Educação Infantil
Fundamental 27
37

Conforme Santomé apud Brasil (2013) na educação básica a proposta


baseia-se em metodologias mistas, as quais são desenvolvidas em pelo
menos dois espaços/tempos. Um deles destinado ao aprofundamento
conceitual no interior das disciplinas, e outro, voltado a atividades inte-
gradoras, desenvolvidas a partir de várias estratégias ou temáticas, me-
diante a organização do projeto pedagógico da escola. Estes projetos
podem privilegiar as relações entre situações reais existentes nas práti-
cas sociais (ou simulações de situações) e os conteúdos das disciplinas,
tendo como fio condutor as conexões com o mundo do trabalho e com a
sociedade em geral.
As estratégias inovadoras se materializam com a utilização de ma-
teriais didáticos tecnológicos diversos, imbuídas de intencionalidades e
planejamento estratégico. O aparato tecnocientífico contribui para enri-
quecer a prática de sala de aula, a democratização do acesso e uso pe-
dagógico da internet, que é um desafio, mas ao mesmo tempo, constitui
uma aliada na consolidação da aprendizagem.
No Ensino Fundamental, orienta-se que o recurso das mídias digitais
seja explorado reflexivamente de modo a analisar os aspectos negativos
e positivos de seu uso, assim aproximando do mundo das crianças e dos
jovens, tornando as aulas mais atrativas e prazerosas. Essas estratégias
não podem ser interpretadas como receitas prontas, mas sim, quebrar
as barreiras entre a escola e o contexto sociocultural, contribuindo para
o desenvolvimento das competências socioemocionais para lidar com os
conflitos e as adversidades sociais. Em consonância com a BNCC (2017)
orienta-se que, nos processos de ensino, se utilize os diversos tipos tex-
tuais e recursos midiáticos, tais como filmes, documentários, artigos de
jornais e revistas, simulações de experimentos, pautados na concepção
de se ter um estudante proativo, gerenciador do seu aprendizado.

Um Referencial para Educação Inclusiva


A educação inclusiva parte do princípio de que todos têm direito de
acesso ao conhecimento sem nenhuma forma de discriminação. Tem
como objetivo reverter a realidade histórica do país marcada pela desi-
gualdade e exclusão. A política educacional inclusiva do Referencial Curri-
cular de Alagoas é orientada pelo reconhecimento deste direito, respeito
28
38 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

à individualidade e valorização da diversidade. A educação é um direito


garantido a todas as pessoas, com ou sem deficiência, e obrigatória para
crianças, adolescentes e jovens dentro da faixa etária de 04 a 17 anos.
O Referencial Curricular de Alagoas preconiza e fundamenta a im-
portância para o território alagoano, da promoção da educação inclu-
siva, no que tange o Atendimento Educacional Especializado - AEE à
estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista, trans-
tornos globais de desenvolvimento, bem como o cuidado e o trabalho
individualizado de estudantes com altas habilidades e superdotação2.
O Atendimento Educacional Especializado - AEE oferecido ao estu-
dante é construído a partir das necessidades educacionais específicas
visando a definição dos recursos necessários e às atividades a serem de-
senvolvidas. A responsabilidade da elaboração do Plano de Atendimen-
to Educacional Especializado - PAEE, é do professor da Sala de Recursos
Multifuncionais - SRM em interlocução com o professor regente de aula
ou de turma. Para isso o professor da sala de AEE recebe da escola e famí-
lia do estudante informações sobre as suas necessidades específicas, em
relação a sua participação na escola e a sua aprendizagem. Essas informa-
ções devidamente fundamentadas são enviadas por meio de relatório e
anexada ao Plano de Desenvolvimento do Estudante - PDI com base nes-
tes dados o Professor de AEE elabora seu plano de atendimento.
Os recursos de acessibilidade na educação são aqueles que assegu-
ram aos estudantes com deficiência ou mobilidade reduzida, condições
de acesso ao currículo para a utilização dos materiais didáticos e peda-
gógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de

2 Com base nos termos da Convenção da ONU de 13 de dezembro de 2006, Decreto Federal nº 196
de 09 de julho de 2008, da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de
2008, do Decreto Federal nº 7611/2011, da Resolução CNE 04/2009, da resolução CEE nº 460/2013, da
Resolução SEE/2197 de 26 de outubro de 2012, da Lei 12. 764 de 12 de dezembro de 2012, que institui a
Política Nacional de proteção dos direitos a pessoas com Transtorno do Espectro Autista, Lei 13.234 de 29
dezembro de 2015; que altera a Lei 9394 de 1996 ( LDB) para dispor sobre a identificação, o cadastramento e
o atendimento , na educação básica e na educação superior de estudantes com altas habilidades/superdo-
tação, Nota técnica nº 04/2014/MEC/SECADI/DEEE da Lei 13.146 Lei Brasileira de Inclusão de 06 de junho
de 2015, do Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 que promulga a Convenção Internacional sobre os
direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinado em Nova York, em 30 de março
de 2007 e da Resolução nº 4 de 13 de julho de 2010; que define diretrizes curriculares nacionais gerais para a
Educação Básica tendo como fundamento garantir a democratização do acesso a inclusão, permanência e
conclusão com sucesso das crianças, jovens e adultos na educação na instituição Educacional a aprendiza-
gem para a continuação dos estudos e a extensão da obrigatoriedade e gratuidade da Educação Básica.
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 29
39

comunicação e informações. O atendimento que ocorre na SRM ca-


racteriza-se como um atendimento educacional especializado que visa
à complementação do atendimento educacional comum, no contra tur-
no de escolarização, para estudantes com quadros de deficiências ou de
transtornos globais do desenvolvimento ou que apresentem altas habi-
lidades/superdotação, matriculados em escolas comuns, em quaisquer
dos níveis de ensino.
No AEE, devem-se abordar questões pedagógicas que são diferen-
tes das oferecidas em escolas comuns e que são necessárias para melhor
atender as especificidades desses estudantes. As atividades da sala de
recursos não podem ser confundidas com aula de reforço, com o atendi-
mento clínico e tampouco, com um espaço de socialização. As atividades
desenvolvidas nesse serviço não devem ter como objetivo o ensino de con-
teúdos acadêmicos, tais como a Língua Portuguesa, a Matemática, dentre
outros. A finalidade do atendimento educacional especializado é promover
o desenvolvimento da cognição e metacognição, atividades de enriqueci-
mento curricular, ensino de linguagens e códigos específicos de comunica-
ção e sinalização, ajudas técnicas e tecnologias assistivas.
O professor de SRM pode atender os estudantes de forma individual
ou em pequenos grupos compostos por necessidades educacionais
semelhantes, em módulos, 02 vezes por semana, sendo a frequência
determinada pelo professor de sala de recurso e de acordo com o seu
plano de atendimento. Esse atendimento deve estar articulado com a
proposta pedagógica da escola de origem do estudante. O AEE integra a
proposta político-pedagógica da escola, envolve a participação da famí-
lia para garantir pleno acesso e participação dos estudantes e deve ser
realizado em articulação com as demais políticas públicas. A equipe da
escola deve trabalhar articuladamente com os profissionais da saúde,
da assistência social e das outras áreas afins, para atender toda a diver-
sidade dos seus estudantes.
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40 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

Contextualização, desdobramentos e temas


integradores e contemporâneos
O Referencial Curricular de Alagoas sugere Organizadores Curricu-
lares para Educação Infantil e Ensino Fundamental, conforme a BNCC,
orientando a organização do ensino e aprendizagem de competências e
habilidades descritas como saberes essenciais para todos os brasileiros
em escolarização. Destacamos que o Referencial Curricular de Alagoas é
a expressão do que concerne cada território, além do que já preconiza os
saberes essenciais da BNCC.
O trabalho didático-pedagógico desenvolvido pela escola, a partir dos
componentes curriculares, deve se organizar considerando as identidades
dos estudantes que, em linhas gerais se constituem uma rica heterogenei-
dade, presente no rosto das diversidades da sociedade brasileira, especial-
mente do território alagoano, advindas dos aspectos sociais, econômicos,
políticos, religiosos, culturais e ecológico.
O Referencial Curricular de Alagoas também estabelece que as diver-
sidades que constituem a sociedade brasileira e alagoana abrangem os
jeitos de ser, viver e pensar. O currículo escolar deve abordar as diversi-
dades como parte integrante das temáticas que constituem as relações
sociais. Dessa maneira, o caminho para a efetivação de uma sociedade
democrática, em que as diferenças sejam respeitadas e os direitos dos
diferentes sujeitos e grupos sociais sejam garantidos em suas represen-
tações, na organização social, política, econômica e cultural do país, só é
possível por um processo educativo que considere e respeite as diversi-
dades das construções humanas.
Portanto, o currículo escolar deve incluir na abordagem dos conteúdos
escolares as discussões sobre questões de gênero, étnico-raciais e reli-
giosas, multiculturalismo, entre outras. É necessário que a discussão das
diferenças faça parte do contexto escolar, compreendida a partir de suas
dimensões históricas e sociais e das relações que se estabelecem entre
os diferentes sujeitos de uma sociedade. As múltiplas relações sociais no
Brasil diferenciam homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais,
negros, índios e brancos, restringindo os direitos e as oportunidades entre
os sujeitos em função da discriminação e do preconceito.
A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental marcam
a entrada na educação escolar da criança em processo de formação e de-
ReferencialCurricular
Referencial Curricular de Alagoas
Alagoas--Educação Infantil
Ensino Fundamental 31
41

senvolvimento humano. Nessa perspectiva, a educação nessas etapas


da Educação Básica deve considerar os saberes socialmente construídos
pelo/a pequeno estudante, partindo de sua identidade e territorialidade,
trazendo à tona as práticas e o desenvolvimento de suas habilidades, re-
fletido em seu poder de intervenção social, a partir dos aspectos: sociais,
culturais, políticos, religiosos, étnico, geracionais, de gênero e diversida-
de sexual e ambientais.
O Referencial Curricular de Alagoas apresenta uma perspectiva de en-
sino e contextualização que parte dos saberes e identidades do território
alagoano, principalmente elementos das culturas indígenas e quilombo-
las: artesanato, pinturas corporais, danças, jogos, lutas, lendas, religião,
língua, origem, relações étnico raciais, território, história de Alagoas, his-
tória oral, costumes, tradições, processo de demarcação, remédios, chás,
interação com a fauna e flora e muito mais.
Dessa forma, a Escola, enquanto ambiente de sistematização de sa-
beres e enquanto espaço de democratização do acesso ao conhecimento
científico do ser humano, em sua prática pedagógica, deve se organizar
de tal forma que possa identificar práticas de preconceitos, rótulos e dis-
criminação presentes nas relações sociais a partir de discursos negativos,
para assim, trabalhar em sua base curricular a sensibilidade e o equilíbrio
do reconhecimento, do respeito, da valorização das diversidades presen-
tes no ser humano e sua participação na construção histórica e social para
a vida no planeta.
O Referencial Curricular de Alagoas apresenta, no Organizador Curri-
cular, os Desdobramentos Didático-Pedagógicos - DesDP que têm como
objetivo contextualizar e abordar os referenciais definidos nos espaços,
regiões, locais e territórios de Alagoas. O DesDP apresentam exemplos
e possibilidades, como sugestão para ampliar ações pedagógicas, sobre-
tudo para o ensino e desenvolvimento da aprendizagem significativa. As
etapas de Ensino, campos de experiências e componentes curriculares
são pautados no território alagoano, considerando os saberes essenciais
da BNCC e os saberes diversificados que precisam fazer parte do trabalho
curricular desenvolvido em cada escola.
A Resolução CNE/CP Nº 2, de 22 de dezembro de 2017, que institui e
orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular, a ser respei-
tada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades
no âmbito da Educação Básica, trata da parte diversificada, que deve ser
32
42 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

composta de elementos do território, contempla-


dos nos currículos escolares e nos documentos cur-
riculares dos sistemas de ensino:

Art. 7º Os currículos escolares relativos a todas as etapas e


modalidades da Educação Básica devem ter a BNCC como
referência obrigatória e incluir uma parte diversificada,
definida pelas instituições ou redes escolares de acordo
com a LDB, as diretrizes curriculares nacionais e o atendi-
mento das características regionais e locais, segundo nor-
mas complementares estabelecidas pelos órgãos norma-
tivos dos respectivos Sistemas de Ensino. Parágrafo único.
Os currículos da Educação Básica, tendo como referência à
a BNCC, devem ser complementados em cada instituição
escolar e em cada rede de ensino, no âmbito de cada sis-
tema de ensino, por uma parte diversificada, as quais não
podem ser consideradas como dois blocos distintos jus-
tapostos, devendo ser planejadas, executadas e avaliadas
como um todo integrado.

Os Desdobramentos Didático-Pedagógico - Des-


DP, enquanto estratégia do Referencial Curricular de
Alagoas, apresentam os elementos do território Ala-
goas, observando diversos aspectos e possibilidades
de interlocução com este território.
Para Educação Infantil, o Referencial Curricular
de Alagoas, apresenta no Organizador Curricular os
Campos de Experiências, Objetivos de aprendizagem
e desenvolvimento, Grupos por faixas etárias e os
DesDP, com a seguinte estrutura:
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 33
43

Organizador Curricular - Educação Infantil

Campos de Experiências

Crianças bem
Bebês Crianças pequenas Grupos por Faixas etárias
pequenas
Objetivos de Aprendiza-
gem e Desenvolvimento
DesDP DesDP DesDP

Para Ensino Fundamental, o Referencial Curricular de Alagoas, apresenta no


Organizador Curricular Campos de Atuação, Práticas de Linguagem3, Objeto de
Conhecimento, Habilidades e os DesDP, com a seguinte estrutura:

Organizador Curricular - Ensino Fundamental

Campos de Atuação ou Práticas de Objeto de Habilidades DesDP


Unidades Temáticas Linguagem³ Conhecimento

As perspectivas do território alagoano são contempladas pelos DesDP, abor-


dando exemplos ou sugestões locais. Importante destacar que os DesDP não
esgotam as possibilidades de interação e intervenção didático-pedagógicas
com o território.
O trabalho didático-pedagógico desenvolvido pela comunidade escolar nos
Sistemas de Ensino e território de Alagoas abrange a intervenção e modificação
das relações com o mundo que vivemos, para tanto os projetos integradores,
transversais e interdisciplinares abordam uma variedade complexa de Temas
Integradores e Contemporâneos, que estarão sempre presentes no desenvol-
vimento do ensino e aprendizagem. É importante acrescentar que os currícu-
los da Educação Básica, tendo como referência a BNCC, devem também incluir
3 Coluna exclusiva do organizador curricular do componente Língua Portuguesa
34
44 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

temas transversais, que tratem de questões contemporâneas relevantes


para o desenvolvimento da cidadania que afetam a vida humana em esca-
la local, regional e global.
A inclusão de temas transversais, de forma integradora, por outro lado,
propicia efetiva integração interdisciplinar e contextualizadora de sabe-
res de diferentes disciplinas e áreas de conhecimento. É oportuno regis-
trar que alguns temas transversais são exigidos por legislação e normas
específicas, tais como o processo de envelhecimento, respeito e valori-
zação do idoso (Leis nº 8.842/1994 e nº 10.741/2003), direitos da crian-
ça e do adolescente (Lei nº 8.069/1990), educação para o trânsito (Lei nº
9.503/1997), educação ambiental (Lei nº 9.795/1999 , Parecer CNE/CP
nº 14/2012 e Resolução CNE/CP nº 2/2012), educação alimentar e nutri-
cional (Lei nº 11.947/2009), educação em direitos humanos (Decreto nº
7.037/2009, Parecer CNE/CP nº 8/2012 e Resolução CNE/CP nº 1/2012),
educação das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro-
-brasileira, africana e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, Pare-
cer CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/2004), bem como saúde,
sexualidade e gênero, vida familiar e social, educação digital, educação
para o consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecno-
logia e diversidade cultural (Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução
CNE/CEB nº 7/2010).

Avaliação para uma Educação Integral


A avaliação definida pelo Referencial Curricular de Alagoas é en-
tendida como processo contínuo de apropriação, construção e reconstru-
ção da aprendizagem, como ação educativa e se dará de forma contínua e
cumulativa. Contínua, porque ocorrerá ao longo dos processos de ensino
e de aprendizagem, no qual o professor deverá selecionar e elencar os ins-
trumentos avaliativos que serão utilizados a partir das competências e ha-
bilidades básicas de cada componente curricular. Cumulativa, por ser um
processo gradativo de aprendizagem, fortalecendo o conhecimento cons-
truído pelo estudante e, servindo de “ponte” para novas aprendizagens.
Essas concepções de avaliação deverão ser vivenciadas em todas
as etapas e modalidades da Educação Básica, observando as especifi-
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 35
45

cidades de cada uma. Nesse contexto, não se pode,


nem se deve avaliar sob uma única visão, mas com
um olhar político-pedagógico que oportunize a to-
dos o êxito escolar e o prosseguimento nos estu-
dos, conduzindo os estudantes às oportunidades
de desenvolvimento enquanto seres conscientes,
éticos e críticos, inserindo-os no mundo do traba-
lho, da inovação, tecnologias e da informação.
A avaliação que possibilite a formação integral
deve estar ancorada em um ensino que tenha por ob-
jetivo o desenvolvimento, de todas as capacidades
da pessoa humana, e não apenas voltada para os as-
pectos cognitivos. Assim, a avaliação faz sentido nas
aprendizagens de natureza sociocultural, quando en-
volve as dimensões afetivas, emocionais, biológicas,
simbólicas, éticas, estéticas e outras que contribuem
para a formação humana. Nessa forma de verificação
de aprendizagem, há uma conversão dos métodos de
correções tradicionais (verificação de erros e acertos)
em métodos investigativos, capazes de indicar as al-
ternativas de solução e tipos de intervenções peda-
gógicas necessárias em cada situação de aprendiza-
gem do sujeito envolvido no processo.
A avaliação no contexto da Educação Integral
considera perspectivas para maior reflexão frente os
processos e formas de promoção do ensino, tempos
e espaços de aprendizagem, bem como qualidade de
ensino. A rede estadual de São Paulo, por meio do do-
cumento “Diretrizes do Programa de Ensino Integral”
elenca os seis princípios norteadores da avaliação em
Educação Integral, São Paulo (2018)4:

4 Centro de Referências em Educação Integral https://educacaointegral.


org.br/glossario/avaliacao-na-educacao-integral/
36
46 - -ALAGOAS,
ALAGOAS,UM
UMTERRITÓRIO
TERRITÓRIO DE
DE APRENDIZAGENS
APRENDIZAGENS- -

#1. Quem avalia tem decisões a tomar no sentido de qualificar o que


está sendo avaliado: o avaliador deve refletir sobre a atribuição de valor
nos processos de ensino e aprendizagem;

#2. A avaliação está a serviço da formação do educando e não o inverso.


Da maneira como a escola está tradicionalmente organizada, os processos
avaliativos costumam determinar os conteúdos de ensino, e desta forma a
educação acaba perdendo sua função original (a desenvolver habilidades e
competências para a vida, garantir o desenvolvimento integral, etc). A avalia-
ção deve portanto servir à melhoria do ensino, e não o contrário.

#3. A avaliação deve ir além da verificação da aprendizagem. O re-


sultado das avaliações de aprendizagem deve necessariamente servir
como ponto de partida para uma reflexão aprofundada dentro da escola:
os resultados avaliativos só têm sentido na medida em que servem para
orientar os próximos passos do planejamento e oferecer diretrizes para a
tomada de decisões.

#4. A avaliação expressa valores, concepções, crenças e o posicio-


namento político-ideológico do avaliador. Não existe processo avaliativo
neutro. A concepção do que é um “educador” e um “educando” se traduz
nos mecanismos avaliativos utilizados. Se por exemplo o educando é en-
tendido como alguém que deve acumular informações, a avaliação medirá
o número de informações memorizadas (“provas”). Se, por outro lado, o
educando for compreendido como um ser potente, capaz de aprender e
dotado de saberes, a avaliação terá um caráter mais dinâmico, processual
e com função diagnóstica.

#5. O melhor procedimento de avaliação é o procedimento de ensi-


no. É impossível educar sem avaliar. Na medida em que se devem inves-
tigar os conhecimentos prévios dos educandos antes de iniciar novos
percursos de aprendizagem, a avaliação é parte inerente do processo de
educação.

#6. O ‘produto’ do trabalho do professor não é a aula, mas sim a apren-


dizagem do estudante. O professor deve direcionar suas estratégias e mé-
todos de ensino para atender as necessidades específicas dos estudantes.
ReferencialCurricular
Referencial Curricularde
deAlagoas
Alagoas-- Ensino
Educação Infantil
Fundamental 37
47

Na perspectiva da Educação Integral, a avaliação


é muito mais que o desempenho dos estudantes pois
considera a gestão educacional e a atividade docente
como processos que devem ser avaliados, dentro de um
contexto de ação-reflexão-ação, promovendo replane-
jamento em todas as instâncias de gestão.
Salientamos, que o Referencial Curricular de Alagoas
apresenta um olhar diferenciado e ampliado para avalia-
ção na perspectiva da Educação Integral. Os aprendiza-
dos não se referem apenas às habilidades acadêmicas e
conteúdos escolares, mas passam por habilidades so-
cioemocionais, de convivência, de respeito à diversida-
de, de estar e agir no mundo: os aprendizados atitudinais
também precisam ser contemplados nos processos ava-
liativos em Educação Integral. Segundo Antoni Zaballa,
no livro “Prática educativa: como ensinar”, os conteúdos
e competências a serem avaliados devem considerar ca-
pacidades motoras, de equilíbrio, autonomia, relação in-
terpessoal e inserção social.
A avaliação em Educação Integral é sobretudo uma
avaliação processual, muito mais do que uma avaliação
de resultados. Uma vez que o ponto de partida é a sin-
gularidade de cada estudante, torna-se difícil estabe-
lecer parâmetros universais. A avaliação deve conside-
rar os saberes prévios dos estudantes, o que querem
aprender, quais suas formas de aprendizado. A partir
de uma avaliação inicial, pode-se não apenas conhecer
o estudante, como traçar estratégias metodológicas
de ensino para atender às suas próprias necessidades
e interesses. A avaliação em educação integral é, por-
tanto, um instrumento processual de acompanhamen-
to da aprendizagem tanto pelo estudante como pelos
que promovem o ensino e aprendizagem, contemplan-
do os diversos saberes, aproximando os conteúdos
escolares dos saberes comunitários de cada território,
convidando o avaliando a se auto avaliar e a traçar seu
próprio percurso nos caminhos do conhecimento.
NAEDJA MARIA DOS SANTOS- ESCOLA ESTADUAL SANTOS FERRAZ
APRESENTAÇÃO
DA ETAPA ENSINO
FUNDAMENTAL
É com grande satisfação que apresentamos à
comunidade escolar e toda sociedade alagoana, o
Referencial Curricular de Alagoas para o Ensino Fun-
damental.   Neste documento, são apresentadas es-
pecificidades da prática pedagógica que se traduzirão
no currículo, compondo um conjunto de reflexões e
orientações didáticas   para os educadores que atuam
nas áreas do conhecimento dos Anos Iniciais e Finais.
Ao propor este documento curricular, a partir do
texto introdutório, busca-se garantir uma abordagem
do conhecimento científico e escolar,  contemplando
questões como diversidade, preservação ambiental,
desenvolvimento sustentável, relações afetivas, ino-
vação e o uso das tecnologias.
A necessidade do nosso Estado em reelaborar o Re-
ferencial Curricular para o Ensino Fundamental se deu
pela relevante aproximação da prática educacional às
orientações expressas na Base Nacional Comum Cur-
ricular. Para tanto, são apresentados elementos estru-
turantes que devem ser adotados nos currículos e na
prática como forma de garantir um ensino fundamental
enquanto direito do estudante, a partir de suas especificida-
des com foco em seu desenvolvimento integral, consideran-
do as particularidades regionais e locais com a participação
de todos os interessados e responsáveis.
O Referencial do Ensino Fundamental está fundamenta-
do nas dez competências gerais da BNCC, desdobrando-se
nas áreas do conhecimento: Linguagem (Língua Portugue-
sa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa), Matemática,
Ciências Humanas (Geografia e História) e Ciências da Na-
tureza. As competências específicas de cada área estão
apresentadas nos componentes curriculares, a fim de pre-
parar o leitor para compreender as competências do com-
ponente curricular.
A construção do referencial para o Ensino Fundamen-
tal foi organizado em 04 etapas: (i) reunião de organização
e rotina da equipe; (ii) composição e reuniões com grupos
de trabalho (GT) com professores e especialistas para dis-
cussão e troca de conhecimentos entre os membros sob
a coordenação dos redatores; (iii) estudo comparativo dos
referenciais curriculares da rede estadual de Alagoas e dos
municípios de Maceió, Penedo e Teotônio Vilela; (iv) encon-
tros e imersão em comunidades indígenas e tradicionais de
Alagoas, a fim de subsidiar e garantir a contextualização dos
territórios alagoanos no texto.
O Referencial Curricular de Alagoas, para os Anos Ini-
ciais e Finais do Ensino Fundamental, traz a discussão dos
sujeitos que queremos formar, do processo de transição e
progressão entre as etapas, além de sugestões e possibili-
dades com o objetivo de subsidiar os professores em suas
atividades pedagógicas levando-se, em consideração, os
elementos dos territórios alagoanos.
Assim, convidamos todos a interagir neste território de
possibilidades. Vamos lá?!
TEXTO INTRODUTÓRIO
LINGUAGENS
A linguagem, conforme os Parâmetros Curricula-
res Nacionais, é “uma forma de ação interindividual
orientada para uma finalidade específica; um proces-
so de interlocução que se realiza nas práticas sociais
existentes numa sociedade, nos distintos momentos
de sua história” (BRASIL, 1998, p. 20).
Em consonância com a quarta competência geral
da BNCC (2017), as atividades humanas realizam-se
nas práticas sociais, mediadas por diferentes lingua-
gens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
escrita), corporal, visual, sonora e, contemporanea-
mente, digital. Por meio dessas práticas, as pessoas
interagem consigo mesmas e com os outros, consti-
tuindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações,
estão imbricados conhecimentos, atitudes e valores
culturais, morais e éticos.
As linguagens são utilizadas para a produção de
conhecimentos e compreensão dos fenômenos natu-
rais, sociais e culturais, contribuindo para a interação
das demais áreas. A linguagem, verbal ou não verbal1,
serve de meio de comunicação de ideias ou sentimen-
tos, podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos
sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies
de linguagens: visual, auditiva, tátil, entre outras. A or-
ganização e sistematização da área da linguagem na
Educação Básica envolvem os componentes curricu-
lares de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Arte
e Educação Física. Esses componentes integram con-
cepções relacionadas às atividades humanas media-
das por diferentes linguagens.
Esta articulação resgata a unidade no desen-
volvimento na aquisição do conhecimento curri-
cular, de modo a potencializar o desenvolvimento
1 A linguagem não verbal utiliza-se do desenho, a dança, os sons, os gestos,
a expressão fisionômica, as cores.
54 - LINGUAGENS -

das respectivas competências música, na escultura, na pintura,


e habilidades, integrando os co- na dança no teatro e outras. Con-
nhecimentos científico, acadê- forme a terceira competência ge-
mico e escolar, conforme a BNCC ral da BNCC, “valorizar e fruir as
(2017), documento norteador do diversas manifestações artísticas
nosso referencial. A integração e culturais, das locais às mundiais,
dos componentes curriculares da e também participar de práticas
área perpassa: diversificadas da produção artís-
Pelo componente Língua Por- tico cultural”. Associados e es-
tuguesa, no qual cabe o trabalho timulados pelo contexto em que
em uma perspectiva enuncia- o ser humano se encontra e sua
tivo-discursiva, evidenciando a identidade social, os modos de fa-
linguagem em uso, proporcionan- zer arte possibilitam a criação de
do aos estudantes experiências símbolos que, de alguma maneira,
de letramentos sociais, dentro e expressam o que não está aparen-
fora do espaço escolar, de forma a te, dando-lhe sentido, falando ao
possibilitar a participação signifi- sentimento e à imaginação.
cativa e crítica nas diversas práti- A Educação Física é o compo-
cas sociais permeadas/constituí- nente curricular que tematiza as
das pela oralidade, pela escrita e práticas corporais; onde os sujeitos
por outras linguagens. são oportunizados a compreender,
Língua Inglesa que, por sua vez, refletir criticamente, interpretar e
exerce grande influência para a for- recriar valores, sentidos e significa-
mação do educando, contribuindo dos as diversas manifestações das
para melhorar sua comunicação, práticas corporais, reconhecendo
aumentar seu repertório cultural, a historicidade da cultura corporal
inserir-se, responsavelmente, na de movimento e suas relações com
cultura digital e argumentar usan- a organização da vida de forma in-
do textos, orais e escritos, para dividual e coletiva, como também o
efetivar seus argumentos. respeito à cultura e as origens das
A Arte é uma forma do ser hu- práticas corporais, sem exclusão
mano expressar suas emoções, para todos que a praticam.
sua história, sua cultura através de É pela linguagem que se
valores estéticos, beleza, harmo- podem construir os quadros
nia, equilíbrio e outros. Inúmeras de referências culturais, como
são as formas em que a arte pode concepções e ideologias, mitos,
ser representada em especial na representações, conhecimento
Referencial Curricular de Alagoas - Educação Infantil 55

científico e arte. A linguagem oral, relevante que compreendam que


escrita, imagética ou corporal, faz as linguagens são dinâmicas, e que
parte da atividade discursiva, ou todos participem desse proces-
seja, do ato de falar, de expressar so de constante transformação
claramente ideias, informações ou (BNCC, 2017).
sentimentos a alguém. É importante considerar, tam-
A sistematização das lingua- bém, o aprofundamento da refle-
gens produz um conjunto de dis- xão crítica sobre os conhecimen-
posições e atitudes, como ler, in- tos dos componentes da área,
terpretar, pesquisar, selecionar dada a maior capacidade de abs-
informações, analisar, argumentar tração dos estudantes. Essa di-
e produzir textos orais e escritos. mensão analítica é proposta não
Sobretudo “valorizando e utilizan- como fim, mas como meio para a
do os conhecimentos historica- compreensão dos modos de se
mente construídos sobre o mundo expressar e de participar no mun-
físico, social, cultural e digital para do, constituindo práticas mais
entender e explicar a realidade sistematizadas de formulação de
[...]”, conforme a primeira compe- questionamentos, seleção, orga-
tência geral da BNCC (2017). nização, análise e apresentação de
A linguagem possibilita ao ho- descobertas e conclusões.
mem a apreensão do mundo ex- Dessa forma, cabe-nos refle-
terior, dando-lhe meios para se tir: Que cidadão queremos for-
posicionar criticamente perante os mar? sujeitos autônomos, criati-
outros, tornando-o agente trans- vos, que consigam interagir, que
formador. Dessa forma, a lingua- possam aprofundar uma reflexão
gem é compreendida como o maior de forma crítica e promover mu-
mediador da convivência humana, danças na sua realidade. É deste
assim como das transformações cidadão que o mundo atual ne-
que a educação busca. cessita e para quem nosso refe-
Garantir os direitos de apren- rencial precisa oportunizar.
dizagem relacionados às múltiplas Considerando o exposto e em
linguagens é dever da escola, e o articulação com as competências
mais importante é que os estu- gerais da Educação Básica, a área
dantes se apropriem das especi- de Linguagens deve garantir aos
ficidades de cada linguagem, sem alunos o desenvolvimento de com-
perder a visão do todo no qual elas petências específicas, apresenta-
estão inseridas. Mais do que isso, é das no quadro a seguir.
56 - LINGUAGENS -

COMPETÊNCIAS
ESPECÍFICAS DE 4. Utilizar diferentes linguagens
LINGUAGENS PARA O para defender pontos de vista
ENSINO FUNDAMENTAL que respeitem o outro e pro-
movam os direitos humanos,
1. Compreender as linguagens a consciência socioambien-
como construção humana, tal e o consumo responsável
histórica, social e cultural, de em âmbito local, regional e
natureza dinâmica, reconhe- global, atuando criticamente
cendo-as e valorizando-as frente a questões do mundo
como formas de significação contemporâneo.
da realidade e expressão de 5. Desenvolver o senso esté-
subjetividades e identidades tico para reconhecer, fruir e
sociais e culturais. respeitar as diversas mani-
2. Conhecer e explorar di- festações artísticas e cultu-
versas práticas de lingua- rais, das locais às mundiais,
gem (artísticas, corporais inclusive aquelas perten-
e linguísticas) em diferen- centes ao patrimônio cul-
tes campos da atividade tural da humanidade, bem
humana para continuar como participar de práticas
aprendendo, ampliar suas diversificadas, individuais e
possibilidades de partici- coletivas, da produção ar-
pação na vida social e cola- tístico-cultural, com respei-
borar para a construção de to à diversidade de saberes,
uma sociedade mais justa, identidades e culturas.
democrática e inclusiva. 6. Compreender e utilizar tec-
3. Utilizar diferentes lingua- nologias digitais de infor-
gens – verbal (oral ou vi- mação e comunicação de
sual-motora, como Libras, forma crítica, significativa,
e escrita), corporal, visual, reflexiva e ética nas diversas
sonora e digital –, para se práticas sociais (incluindo as
expressar e partilhar in- escolares), para se comuni-
formações, experiências, car por meio das diferentes
ideias e sentimentos em linguagens e mídias, produ-
diferentes contextos e pro- zir conhecimentos, resolver
duzir sentidos que levem ao problemas e desenvolver
diálogo, à resolução de con- projetos autorais e coletivos.
flitos e à cooperação. Fonte: (BNCC, 2017)

Referencial Curricular de Alagoas - Educação Infantil 57

As competências específicas cação): Compreender, utilizar e criar


da área da linguagem corroboram tecnologias digitais de informação
com as competências gerais da e comunicação de forma crítica,
BNCC (2017), mais especificamen- significativa, reflexiva e ética nas
te a terceira competência especí- diversas práticas sociais (incluin-
fica em consonância com a quarta do as escolares) para se comunicar,
competência geral, que remete às acessar e disseminar informações,
diferentes linguagens com o ob- produzir conhecimentos, resolver
jetivo de [...] expressar e partilhar problemas e exercer protagonismo
informações, experiências, ideias e autoria na vida pessoal e coletiva.
e sentimentos em diferentes con- O objetivo da área de lingua-
textos e produzir sentido que le- gem é possibilitar, assim, que os
vem ao entendimento mútuo. estudantes usem adequadamente
A sexta e última competência a linguagem e produzam novos co-
específica da área da linguagem dia- nhecimentos, sobretudo, tendo a
loga em conformidade com a quinta língua como elemento de integra-
competência geral da BNCC (2017), ção social que os permita desen-
em relação às TDIC (Tecnologias volver e manifestar habilidades em
Digitais de Informação e Comuni- sua vida cotidiana.

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