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Maracay, 01-12-2021

Estudiante: Jeldimar Guzmán


Autobiografía de Clarice Lispector :

Olá, sou Clarice Lispector, nasci em 10 de dezembro de 1920, com o nome de Chaya
Pinjasovna Lispector, em Chechelnik, Ucrânia. Eu era a terceira filha de Pinjas e Mania
Lispector. Em 1921, minha família deixou o país, indo para a atual Moldávia e depois para
a Romênia. Em Bucareste, em 1922, conseguiram passaporte russo e permissão para viajar
ao Brasil, conseguiram emigrar para Maceió (Alagoas, Brasil), onde já estavam minha tia,
irmã de Mania, minha mãe e seu marido. Quando chegamos ao Brasil, todos tomamos
nomes portugueses: Meu pai Pinjas se tornou Pedro, Minha mãe Mania se tornou Marieta e
Yo Chaya recebeu o nome de Clarice. Quando eu tinha apenas cinco anos, meus pais se
mudaram para Recife, Pernambuco. aos dez anos, minha mãe falece.
Escolhendo o português, comecei a escrever muito cedo, e mandei vários contos para o
Diario de Pernambuco, que rejeitou minhas publicações na seção de contribuições infantis
porque, enquanto os contos das outras crianças tinham algum tipo de narrativa, os textos do
meu pessoa não descreveu mais do que sensações. Uma das primeiras influências literárias
que tive veio do escritor Monteiro Lobato. Sobre o livro The Mischief of Naricita -of
Lobato-eu escrevi: “Quando cheguei em casa não comecei a ler. Fingi que não tinha, só
para sentir o choque de tê-lo depois. Horas depois abri, li uns versos maravilhosos, fechei
de novo, fui para um andei pela casa, adiei ainda mais ir comer pão com manteiga, fingi
não saber onde tinha guardado o livro, encontrei, abri por um momento. Criava os mais
falsos obstáculos para aquela coisa clandestina isso era felicidade. "
Aos quatorze anos, mudei-me para o Rio de Janeiro com meu pai e uma de minhas duas irmãs. Lá,
muito jovem, comecei a ler livros de autores nacionais e estrangeiros de maior relevância, como
Machado de Assis, Raquel de Queiroz, Eça de Queiroz, Jorge Amado e Fédor Dostoevski. Entrei na
Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (então chamada Universidade do
Brasil) em 1939 enquanto escrevia pequenas contribuições para jornais e revistas da época. Aos
vinte e um consegui finalmente publicar Perto do Coração Selvagem, obra que escrevi aos
dezenove anos e pela qual recebi o Prémio Graça Aranha de melhor romance publicado em 1943.
Ainda estudante, conheci o meu futuro marido, o diplomata Maury Gurgel Valente, que muitas
vezes acompanhava de país em país, até à nossa separação em 1959. As constantes mudanças
foram uma das características da minha vida pessoal, onde tive de continuar na casamento com
meu marido, deixando minha família e amigos para trás.
Na minha primeira viagem à Europa - a Nápoles - em 1944 - no meio da Segunda Guerra Mundial -
confessei: "Realmente não sei escrever cartas de viagem, realmente nem sei como viajar."
Durante o conflito, atendia militares brasileiros feridos em hospitais, na época era voluntária no
corpo de enfermeiras da FEB (Força Expedicionária Brasileira).
Ao longo de cinco anos, mudei-me várias vezes, da Inglaterra para Paris e para Berna, onde tive
meu primeiro filho, Paulo. Naqueles anos, com saudades do Brasil, troquei cartas quase que
diariamente com o escritor e amigo meu, Fernando Sabino. Em 1946, ele publicou meu segundo
romance.
De volta ao Rio de Janeiro, em 1949, retomei minha atividade jornalística; assinada sob o
pseudônimo de "Tereza Quadros", em coluna de jornal local. Em setembro de 1952 saí novamente
do Brasil, mudando-me com meu marido para Washington, DC. Em fevereiro de 1952 dei à luz
nosso segundo filho: Pedro. Em 1954 publiquei a primeira tradução de um livro: Close to the Wild
Heart, em francês, com capa de Henri Matisse, morei na capital americana durante oito anos,
período durante os quais fiz grande amizade com o escritor brasileiro Érico Veríssimo e sua esposa
Mafalda. A partir daí pude publicar histórias em revistas brasileiras e fui muito ativo escrevendo
com o escritor Otto Lara Resende. Em 1959 me separei de meu ex-marido para voltar ao Rio de
Janeiro, onde retomei a atividade jornalística; Escrevi artigos na mídia para conseguir o dinheiro
necessário para me tornar independente. Um ano depois, publiquei meu primeiro livro de
histórias, Laços de família, com relativo sucesso; no ano seguinte publiquei o romance A maçã no
escuro, que viria a ser uma peça de teatro. Em 1963 publiquei o que é considerado uma obra-
prima: A Paixão segundo G. H., que escrevi em apenas alguns meses. Nas primeiras horas de 1966,
adormeci com um cigarro aceso, que provocou um incêndio que destruiu o meu quarto e
queimou-me. Com queimaduras em grande parte do meu corpo, passei meses no hospital. Minha
mão direita gravemente afetada quase teve de ser amputada pelos médicos e nunca mais
recuperaria sua mobilidade. O incidente afetou meu humor, e as cicatrizes e marcas em meu
corpo causaram depressão frequente. Devido a minha fluência nos idiomas Português, Inglês,
Francês e Espanhol; Hebraico e iídiche, com alguma fluência; e de noções de russo fiz numerosas
traduções. Registra-se que a primeira e única tradução do espanhol foi o conto Historia de los dos
que sonhou, de Jorge Luis Borges, no Jornal do Brasil. Entre o final dos anos sessenta e o início dos
anos setenta, publiquei livros infantis, traduções e adaptações de obras estrangeiras, obtendo
grande reconhecimento, pelo que proferi palestras e conferências em diferentes universidades
pelo Brasil.
Meses depois da publicação de meu último romance, La hora de la estrellas, vítima de câncer de
ovário, aos 56 anos de idade, morri no Rio de Janeiro em 9 de dezembro de 1977, às 10 horas.
Meu amigo Paulo Francis, disse que “ela se tornou sua própria ficção.” Eu não poderia ser
enterrada no dia seguinte: porque era meu aniversário e era sábado. Foi então sepultada no
domingo, 11 de dezembro de 1977, no cemitério do Caju. Minha biblioteca pessoal e arquivo
documental (manuscritos de livros, correspondência etc.) estão disponíveis na Fundação Casa de
Rui Barbosa e no Instituto Moreira Salles, ambos no Rio de Janeiro. Agradeço muito que você
tenha aproveitado parte do seu tempo para ler minha autobiografia, me despeço, mas não antes
de lhe contar uma de minhas anedotas: “Tive um gênio artístico que me isolou, ao mesmo tempo
que me vinculei com o leitores " Agora me despeço baixinho, mando um beijo e um abraço a todos
os meus leitores.

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