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Modelo de

Grandes
Bacias

CURSO DE CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA PARA APLICAÇÕES


E DESENVOLVIMENTO

APOSTILA 02/05

MANUAL DE REFERÊNCIA TEÓRICA DO MGB

Março 2020
Modelo de
Grandes APOSTILA 02/05

Bacias

ESTE MATERIAL FAZ PARTE DE UM CONJUNTO DE CINCO APOSTILAS


CRIADAS NO CONTEXTO DO PROJETO DE COOPERAÇÃO EM TECNOLOGIAS
PA R A A N Á L I S E H I S R O LÓ G I CA S E M E S CA L A N AC I O N A L , E N T R E
O INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS (IPH-UFRGS) E
A AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA).

AUTORES: Walter Collischonn, Cléber Gama, Vinícius Siqueira, Rodrigo Paiva


e Ayan Fleischmann

COMO CITAR: Collischonn, W.; Gama, C.H.A.; Siqueira, V.A; Paiva, R.C.D.;
Fleischmann, A.S. 2020. Manual de Referência Teórica do MGB.
HGE, IPH, UFRGS.

Março 2020
SUMÁRIO
Apresentação ........................................................................................................................ 4
Estrutura do modelo ............................................................................................................. 5
2.1. Visão Geral do modelo .................................................................................................. 5
2.2. Discretização ................................................................................................................. 6
2.2.1. Minibacias ............................................................................................................. 6
2.2.2. Unidades de Resposta Hidrológica ........................................................................ 8
2.2.3. Sub-bacias ........................................................................................................... 10
Módulo de balanço de radiação na superfície .................................................................... 10
3.1. Fluxo de calor para o solo ........................................................................................... 11
3.2. Radiação líquida de ondas curtas ................................................................................ 11
3.3. Radiação líquida de ondas longas ............................................................................... 11
3.4. Vapor de água no ar .................................................................................................... 12
3.5. Radiação solar incidente ............................................................................................. 12
3.5.1. Dia Juliano ........................................................................................................... 12
3.5.2. Declinação solar .................................................................................................. 13
3.5.3. Ângulo do sol ao nascer ...................................................................................... 13
3.5.4. Número máximo de horas de sol por dia ............................................................ 13
3.5.5. Excentricidade da órbita da Terra ....................................................................... 13
3.5.6. Radiação solar incidente de atmosfera transparente ......................................... 13
3.5.7. Radiação solar incidente ..................................................................................... 14
Módulo de balanço de água no solo ................................................................................... 14
4.1. Interceptação .............................................................................................................. 15
4.2. Balanço hídrico no solo ............................................................................................... 16
4.3. Evapotranspiração....................................................................................................... 17
4.3.1. Evaporação da água interceptada ....................................................................... 17
4.3.2. Evapotranspiração da água do solo .................................................................... 18
4.4. Escoamento superficial no solo................................................................................... 19
4.5. Escoamento sub-superficial no solo............................................................................ 20
4.6. Fluxo de água do solo para o aquífero ........................................................................ 20
4.7. Fluxo de água do aquífero para o solo ........................................................................ 20
4.8. FLUXO DE ÁGUA infiltrada NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO .......................................... 21
Módulo de escoamento na mini-bacia................................................................................ 21
5.1. Propagação do escoamento superficial na mini-bacia................................................ 22
5.2. Propagação do escoamento subsuperficial na mini-bacia .......................................... 24
5.3. Propagação do escoamento subterrâneo na mini-bacia ............................................ 25
5.4. Integração dos escoamentos na mini-bacia ................................................................ 26
Módulo de escoamento na rede de drenagem................................................................... 26
6.1. Modelo Hidrodinâmico - Inercial ................................................................................ 26
6.1.1. Topografia da planície de inundação .................................................................. 28
6.1.2. Esquema numérico do método inercial .............................................................. 29
6.1.3. Estabilidade do método inercial.......................................................................... 31
6.2. Modelo Muskingum-Cunge ......................................................................................... 32
Parâmetros do modelo........................................................................................................ 34
7.1. Capacidade de armazenamento do solo (𝑾𝒎) .......................................................... 35
7.2. Parâmetro de forma da relação entre armazenamento e saturação (𝒃) ........................ 36
7.3. Parâmetro de drenagem sub-superficial (𝑲𝑰𝑵𝑻) e subterrânea (𝑲𝑩𝑨𝑺) ................. 36
7.4. Parâmetro de armazenamento residual (𝑾𝒄) e capilaridade (𝑪𝑨𝑷) ......................... 37
7.5. Tempo de retardo dos reservatórios lineares ............................................................. 37
7.6. Condições de contorno ............................................................................................... 38
7.7. Dados de precipitação ................................................................................................. 38
7.7.1. Interpolação de dados de precipitação ............................................................... 38
7.8. Outros dados meteorológicos ..................................................................................... 39
7.8.1. Normais climatológicas ....................................................................................... 39
7.8.2. Base de dados global do Climatic Research Unit (CRU) ...................................... 40
7.8.3. Método de interpolação para outras variáveis meteorológicas ......................... 40
Condições iniciais ................................................................................................................ 40
Referencias .......................................................................................................................... 40
APRESENTAÇÃO
Este manual apresenta a formulação teórica e visão geral sobre a estrutura do Modelo de
Grandes Bacias – MGB. O modelo MGB é um modelo utilizado para simular os processos
hidrológicos em bacias de grande escala, com dimensões acima de alguns milhares de km2 até
a escala continental.
O MGB é um modelo baseado em equações conceituais para simular o ciclo hidrológico
terrestre, incluindo balanço de água e energia no solo, evapotranspiração, interceptação de
água no dossel das plantas, escoamento superficial, subsuperficial e subterrâneo, além de
equações físicas para representar a propagação de vazões ao longo da rede de drenagem.
A primeira versão do MGB foi apresentada por Collischonn (2001) e Collischonn et al., (2007).
Esta versão vem sendo modificada ao longo do tempo com várias melhorias conceituais
introduzidas por Buarque et al. (2008), Paiva et al. (2011), Pontes et al. (2017) e Fleischmann et
al. (2018).
As aplicações do MGB incluem:

• Estimativa de vazões para sistemas de suporte à decisão e planejamento de recursos


hídricos incluindo planos de bacias e outorga (Pereira et al., 2012; Fan et al., 2015);
• Reanálises hidrológicas para estudo de extremos históricos (Wongchuig Correa et al.,
2017; Wongchuig et al., 2019);
• Estudos sobre processos hidrológicos e ambientais (Fleischmann, et al., 2018; Lopes et
al., 2018; Paiva et al., 2013; Paz et al., 2014; Munar et al., 2018; Fagundes et al., 2019);
• Estudos de previsão de vazões no curto e médio prazo para cheias e operação de
reservatórios (Fan et al., 2014; Fan et al., 2016; Schwanenberg et al., 2015; Siqueira et
al., 2016);
• Estudos de efeitos e impactos de reservatórios no regime hidrológico de diversos
sistemas, de barragens de controle de cheia e regularização de vazões a geração de
energia (Collischonn et al., 2011; Fleischmann, et al., 2018; Fleischmann et al., 2016);
• Avaliação de impactos devido a mudanças no uso do solo e mudanças climáticas (Breda
et al., 2020; Adam et al., 2015; Sorribas et al., 2016);
• Avaliação de inundações (Fleischmann et al., 2019) e medidas de controle.
O MGB se destaca nacionalmente pelo:

• Histórico de desenvolvimento desde 2001 (Collischonn & Tucci, 2001; Collischonn et al.,
2007; Fan e Collischonn, 2014; Pontes et al., 2017);
• Esforços para melhorias em representação de processos físicos relevantes na América
do Sul (e.g. Fleischmann et al., 2017; Paiva et al., 2011b; Paz et al., 2011; Pontes et al.,
2017; Lopes et al., 2018);
• Ferramentas de interface gráfica (Fan & Collischonn, 2014) e processamento de dados
GIS (Siqueira et al., 2016);
• Muitas validações com uso de observações in situ de vazões e observações de outros
processos hidrológicos com sensoriamento remoto (e.g. Fleischmann et al., 2018; Paiva
et al., 2013; Ruhoff et al., 2013; Siqueira et al., 2018), demonstrando boa acurácia;
• Muitas aplicações abrangendo todo o território brasileiro (Lima et al., 2014; Siqueira et
al., 2018);

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• Adequada documentação (https://www.ufrgs.br/hge/mgb/o-que-e/) e uso em um
crescente número de instituições nacionais e internacionais.
No capítulo 2 é apresentada uma visão geral da estrutura do modelo, bem como um
detalhamento do método de discretização da bacia hidrográfica. Os capítulos subsequentes
apresentam a formulação teórica do modelo, com descrição dos balanços de calor e de água no
solo, propagação dos escoamentos e discussão sobre os parâmetros e condições de contorno.

ESTRUTURA DO MODELO
O modelo MGB-IPH é um modelo hidrológico distribuído, de grande escala, que utiliza equações
físicas e conceituais para simular, com passo de tempo diário ou horário, os processos
hidrológicos na superfície terrestre, incluindo: balanço hídrico no solo; balanço de energia e
evapotranspiração; interceptação, geração e propagação de escoamentos superficial,
subsuperficial e subterrâneo nos elementos de discretização da bacia hidrográfica; e propagação
de vazão na rede de drenagem.
Trata-se de um modelo hidrológico distribuído, ou semidistribuído, que divide a bacia
hidrográfica em muitas unidades espaciais menores, num procedimento denominado
discretização. Na versão original do modelo MGB, a discretização da bacia era realizada em
células regulares quadradas, com dimensões de 10 x 10 km, tipicamente. Na versão atual do
modelo MGB, a discretização é realizada de uma forma não estruturada, considerando
pequenas bacias hidrográficas incrementais, denominadas minibacias.

2.1. VISÃO GERAL DO MODELO


A estrutura do modelo MGB pode ser melhor compreendida considerando uma divisão em três
módulos principais:
1. Módulo de balanço de água e energia no solo;
2. Módulo de escoamento interno na minibacia;
3. Módulo de escoamento na rede de drenagem.
O módulo de balanço de água e energia no solo é a parte do modelo MGB em que são realizados
os cálculos relativos aos processos hidrológicos verticais, ou seja, em que predomina o fluxo da
água da atmosfera para o solo (vertical para baixo); o fluxo de água do solo para o aquífero
(vertical para baixo) e o fluxo de água do solo e da vegetação para a atmosfera (vertical para
cima).
O módulo de escoamento interno na minibacia representa os processos hidrológicos horizontais
que ocorrem dentro de uma minibacia, desde a origem do escoamento, que se dá no módulo
de balanço de água, até atingir a rede de drenagem principal da bacia, que é representada
explicitamente no módulo de escoamento na rede de drenagem. O módulo de escoamento
interno na minibacia representa separadamente os fluxos de água pelas vias superficial,
subsuperficial e subterrânea.
O módulo de escoamento na rede de drenagem representa os processos horizontais que
ocorrem ao longo dos principais rios da bacia. A definição dos principais rios é realizada durante
o procedimento de discretização da bacia.

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Um esquema geral do modelo é apresentado na Figura 1. Nos itens restantes deste capítulo é
apresentada, mais detalhadamente, a forma de discretização das bacias hidrográficas adotada
no modelo MGB. Nos próximos capítulos, são apresentados detalhes dos três módulos descritos
acima.

Figura 1: Representação esquemática do ciclo hidrológico simulado pelo Modelo de Grandes Bacias –
MGB.

2.2. DISCRETIZAÇÃO
A discretização da bacia hidrográfica em um modelo hidrológico distribuído é a divisão da área
da bacia em unidades menores, para permitir a representação da heterogeneidade das
características físicas, das variáveis de estado, e dos fluxos.
No modelo MGB a área da bacia é dividida em unidades menores, denominadas minibacias, que
são as áreas de contribuição imediatas a um segmento de rio. As minibacias são delimitadas de
acordo com a topografia e ligadas entre si por canais de drenagem. Cada minibacia possui um
único trecho de rio, e a troca de água entre uma minibacia e outra ocorre, normalmente, única
e exclusivamente por este trecho de rio.
Além da divisão espacial em minibacias, o modelo MGB utiliza outros dois conceitos de
discretização: as sub-bacias e as Unidades de Resposta Hidrológica (URH).
As sub-bacias são agrupamentos regionais de minibacias, e são adotadas para facilitar a
regionalização do processo de calibração dos parâmetros do modelo.
As Unidades de Resposta Hidrológica (URH) são subdivisões internas das minibacias, com base
em critérios baseados em mapas de tipos de solos, vegetação e outros. As URH também são
utilizadas n o processo de calibração de parâmetros do modelo.

2.2.1. Minibacias
As minibacias são definidas através da análise de modelos digitais de elevação e algoritmos de
geoprocessamento. Os algoritmos normalmente utilizados seguem a seguinte sequência: 1)
eliminação de depressões espúrias; 2) definição de direções de escoamento; 3) estimativa de
área de drenagem acumulada; 4) definição da rede de drenagem principal; 5) segmentação da
rede de drenagem em trechos; 6) definição da bacia imediata de contribuição a cada um dos

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trechos (minibacia). Estes algoritmos estão normalmente disponíveis em softwares de SIG, como
o ArcGIS, e no conjunto de ferramentas IPH-Hydro Tools.
As etapas deste processo mais importantes para a definição das minibacias são as etapas 4 e 5,
que consistem na definição da rede de drenagem principal e na segmentação da rede de
drenagem principal em trechos, ou segmentos.
A rede de drenagem principal da bacia é aquela composta pelos rios maiores, e que se deseja
representar explicitamente e de uma forma mais física dentro do modelo MGB. Pequenos
córregos, riachos e outros cursos d’água de menor porte, podem ser desprezados na definição
da rede de drenagem principal da bacia. O processo de transporte da água através destes rios
menores, não pertencentes à rede de drenagem principal, é representado pelo módulo de
escoamento interno na minibacia.
O critério normalmente adotado para definir a rede de drenagem principal da bacia hidrográfica
é um critério de área de drenagem, em que um limite mínimo de área de drenagem é adotado
para definir se um determinado trecho de rio pertence ou não à rede de drenagem principal.
Dependendo do limite mínimo de área de drenagem adotado, o número de minibacias nas quais
uma bacia é dividida pode aumentar ou diminuir. O valor escolhido para este limite, e o número
de minibacias resultante, deve ser escolhido de forma a permitir uma boa representação da
variabilidade das características da bacia. Por outro lado, o aumento do número de minibacias
aumenta a carga computacional, e o tempo de processamento do modelo. Além disso, a
discretização mais detalhada, com um maior número de minibacias, nem sempre conduz a
melhores resultados do modelo. Por este motivo, a definição da rede de drenagem principal e a
discretização da bacia devem ser realizados com cuidado. As aplicações do MGB realizadas
normalmente dividem a bacia em centenas ou milhares de minibacias, adotando um limite de
área de drenagem da ordem de dezenas a centenas de km2.
Uma vez definida a rede de drenagem principal, existem duas formas diferentes para dividir uma
bacia em minibacias, que diferem basicamente no passo 5 descrito acima (segmentação da rede
de drenagem principal em trechos).
Na primeira forma, denominada Segmentação Arc-Hydro, a rede de drenagem é dividida em
trechos definidos pela presença de confluências. Neste método, cada trecho da rede de
drenagem localizado entre duas confluências é definido como um segmento da rede de
drenagem. Além disso, os trechos localizados na cabeceira também constituem segmentos
desde a sua origem (nascente, ou ponto a partir do qual a área de drenagem acumulada supera
o valor limite adotado para a definição da rede de drenagem) até a primeira confluência
localizada a jusante.
A segmentação Arc-Hydro foi proposta por Maidment (2002) e popularizada por ser utilizada no
software ArcGIS, através do plugin Arc-Hydro Tools (ESRI, 2007). Ela tem a vantagem de definir
um único rio para cada minibacia, e utilizar uma lógica semelhante à lógica da representação
vetorial de rede de drenagem adotada, por exemplo, na rede Base Hidrográfica Ottocodificada
(BHO) da Agência Nacional de Águas. Por outro lado, a Segmentação Arc-Hydro tem a
desvantagem de gerar trechos de rio de comprimento extremamente variável, dependendo do
posicionamento das confluências, o que pode levar a erros numéricos nos processos de cálculo
de propagação de vazão ao longo dos rios.

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A segunda forma de segmentação da rede de drenagem foi criada especialmente para o modelo
MGB, e é denominada de Segmentação de Comprimento Constante. Na Segmentação de
Comprimento Constante toda a rede de drenagem é dividida em segmentos com o mesmo
comprimento. O processo inicia pela foz, ou exutório da bacia, e segue para montante ao longo
do rio principal, sendo repetido para toda a rede de drenagem, conforme detalhadamente
explicado no material suplementar apresentado no artigo de Siqueira et al. (2018), disponível
em https://www.hydrol-earth-syst-sci.net/22/4815/2018/hess-22-4815-2018-supplement.pdf.
O resultado da Segmentação de Comprimento Constante é uma rede de drenagem dividida em
segmentos com o mesmo comprimento de rio, ao longo de toda a extensão da rede de
drenagem. Este método tem a vantagem de minimizar problemas numéricos durante os cálculos
do processo de propagação de vazões ao longo dos rios, pois evita a existência de segmentos
muito curtos, mas tem a desvantagem de não gerar estimativas de vazão exatamente nos pontos
das confluências, como às vezes é demandado.
O método de Segmentação de Comprimento Constante foi mencionado pela primeira vez em
Pontes et al., (2017), detalhado por Siqueira et al., (2018) e foi incluído no pacote IPH-Hydro
Tools GIS (Siqueira et al., 2016). O método de Segmentação por Comprimento Constante deve
ser escolhido sempre que se desejar aplicar, durante a simulação, o método de propagação
inercial, conforme descrito adiante no texto. O comprimento a ser fixado pode ser definido pelo
modelador, tendo sido adotados valores entre 1km (Fleischmann et al., 2019) e 15 km (Siqueira
et al., 2018).
A Figura 2 apresenta um exemplo de uma bacia discretizada utilizando os dois métodos de
segmentação da rede de drenagem. Observa-se que o tamanho das minibacias é mais variável
quando é utilizado o método de segmentação do ArcHydro, e mais constante quando é utilizado
o método de segmentação de comprimento constante.

(a) (b)
Figura 2: Exemplo de bacia discretizada utilizando: (a) o método ArcHydro; (b) o método de
comprimento constante.

2.2.2. Unidades de Resposta Hidrológica


A divisão da bacia hidrográfica em minibacias não é, em geral, suficiente para representar a
variabilidade dos processos hidrológicos. Dentro de uma minibacia podem existir áreas com
características físicas muito distintas entre si, afetando a forma como esta minibacia responde
aos estímulos da chuva e do clima, em termos de armazenamento de água e fluxos de vazão e
evapotranspiração.

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A forma adotada no modelo MGB para representar a variabilidade interna das minibacias é
baseada no conceito de Unidades de Resposta Hidrológica, ou Classes de Resposta Hidrológica.
As Classes de Resposta Hidrológica (CRH) são regiões em que o comportamento hidrológico
esperado é homogêneo, e elas permitem, ao mesmo tempo, representar a variabilidade das
características físicas da bacia e manter um certo grau de simplicidade na definição do valor dos
parâmetros do modelo hidrológico. Normalmente as CRH são definidas antes da aplicação do
modelo MGB propriamente dita, em ambiente SIG, com base em mapas de tipos de solos, tipos
de vegetação, tipos de usos da terra, e topografia (Flügel, 1995; Fan e Collischonn, 2014, Fan et
al., 2015, Buarque et al., 2011).
Considerando uma mesma condição inicial (umidade do solo), e mesmas condições de contorno
(chuva, outras variáveis meteorológicas), o comportamento hidrológico de uma determinada
CRH é o mesmo, independentemente de onde está localizada. Assim, o uso de CRHs permite
representar a variabilidade dos processos hidrológicos em unidades irregulares e independentes
da região geográfica.
Dentro de uma mesma minibacia, pode haver uma ou mais CRH. A interseção entre o polígono
de uma minibacia e os polígonos de uma CRH dá origem à Unidade de Resposta Hidrológica.
Assim, cada minibacia pode ter de uma a N Unidades de Resposta Hidrológica (URH), onde N é
o número de CRH identificadas previamente em toda a bacia.
Os parâmetros do modelo hidrológico são, posteriormente, associados às CRH, o que reduz
substancialmente o número de parâmetros do modelo a serem calibrados, uma vez que um
conjunto de parâmetros precisa ser estimado para algumas poucas CRHs, ao invés de ser
estimado para cada célula ou minibacia que compõe o modelo. A aplicação deste tipo de técnica
pode ser encontrada em muitos estudos (por exemplo: Beldring et al., 2003; Das et al., 2008;
Kumar et al., 2010) e tem sido aplicada em modelos como SWAT (Arnold et al., 1998) e MGB-
IPH (Fan e Collischonn, 2014).
Preferencialmente, a mapa de CRH deve ser desenvolvido especificamente com os melhores
dados disponíveis (mapas de solos, mapas de cobertura vegetal) na região em que o modelo
MGB será aplicado. Alternativamente, é possível utilizar um mapa de CRH como o
disponibilizado por Fan et al. (2015), para toda a América do Sul, com resolução de 450 m. Este
mapa contém 9 classes de URH: (i) Floresta + Solo Raso; (ii) Floresta + Solo Profundo; (iii)
Agricultura + Solo Raso; (iv) Agricultura + Solo Profundo; (v) Campo + Solo Raso; (vi) Campo +
Solo Profundo; (vii) zonas úmidas; (viii) áreas semipermeáveis; (ix) água.
Pela interseção dos mapas de CRH e de minibacias é definida a fração da área da minibacia que
corresponde a cada CRH, o que dá origem às unidades de resposta hidrológica (URH), conforme
ilustrado na Figura 3. Os cálculos de balanço hídrico vertical são realizados em cada URH de cada
minibacia, conforme descrito no item 4. A Figura 3 ilustra a delimitação das CRH a partir da
combinação de mapas de uso e cobertura do solo e o fracionamento de uma minibacia em URHs
de acordo com as CRHs definidas.
É importante ressaltar que a posição de uma URH dentro da minibacia não é levada em conta
nos cálculos de balanço hídrico. Considera-se apenas a fração da área da minibacia
correspondente a cada URH para a realização dos cálculos de balanço hídrico.

9
Figura 3: O processo de definição de Classes de Resposta Hidrológica pela combinação de mapas, e a
interseção das CRH com a minibacia, gerando as Unidades de Resposta Hidrológica.

2.2.3. Sub-bacias
No modelo MGB é possível definir sub-bacias na forma de agrupamentos de minibacias vizinhas,
para facilitar a regionalização do processo de calibração dos parâmetros do modelo.
Normalmente, as sub-bacias são definidas com base na presença e localização de postos
fluviométricos com dados.
Esta divisão é adotada porque, muitas vezes, não é possível atingir um desempenho satisfatório
do modelo hidrológico simplesmente pela adoção de Classes de Resposta Hidrológica, e é
necessária uma flexibilidade maior na definição dos valores dos parâmetros do modelo.
Isto ocorre porque frequentemente nem toda a variabilidade das características físicas da bacia
está sendo representada pelas CRH consideradas. Por exemplo, caso as CRH sejam definidas
com base nos tipos de solos e nos tipos de cobertura vegetal, pode existir uma variabilidade dos
tipos de rochas do subsolo dentro da bacia que não está sendo levada em conta pelas CRH. Por
outro lado, quanto maior o número de sub-bacias, maiores são os graus de liberdade no
processo de calibração, e, mais provável se torna encontrar valores de parâmetros com pouco
significado físico.
A forma como os parâmetros são associados com as CRH e com as sub-bacias hidrográficas
dentro do modelo MGB é mais detalhada no manual de exemplo de aplicação do modelo.

MÓDULO DE BALANÇO DE RADIAÇÃO NA SUPERFÍCIE


O balanço de radiação na superfície envolve a estimativa de radiação líquida que pode ser
convertida em fluxo de calor latente (evapotranspiração) e fluxo de calor sensível.
A radiação líquida, estimada pela Equação 1, é o resultado do balanço entre a radiação solar
incidente de ondas curtas, a radiação de ondas curtas refletida e a radiação líquida de ondas
longas. Além disso, é considerado o fluxo de calor para o solo, que ocorre por condução.

𝑅𝑛 = 𝑆𝑛 − 𝐿𝑛 − 𝐺𝑠 (1)

10
onde 𝑅𝑛 [MJ/m².dia] é a radiação líquida na superfície; 𝑆𝑛 [MJ/m².dia] é a radiação líquida de
ondas curtas na superfície; Ln [MJ/m².dia] é a radiação líquida de ondas longas na superfície; e
GS [MJ/m².dia] é o fluxo de calor para o solo.

3.1. FLUXO DE CALOR PARA O SOLO


O fluxo de calor para o solo (GS na Equação 1) é calculado pela Equação 2 (Shuttleworth, 1993).

𝐺𝑠 = 0,38 ∗ (𝑇𝑘 − 𝑇𝑘−1 ) (2)

onde 𝐺𝑠 [MJ.m-2.dia-1] é o fluxo de energia para o solo; 𝑇𝑘 [ºC] é a temperatura média do ar a


2m do solo no intervalo de tempo (dia) 𝑘; 𝑇𝑘−1 [ºC] temperatura média do ar a 2m do solo no
dia anterior, 𝑘 − 1.
De acordo com a Equação 2, o fluxo de calor para o solo é positivo (da superfície para o solo)
quando a temperatura aumenta de um dia para o outro.

3.2. RADIAÇÃO LÍQUIDA DE ONDAS CURTAS


A radiação liquida de ondas curtas (Sn), que é um dos termos da equação de balanço de radiação
(Equação 1) é calculada a partir da radiação incidente de ondas curtas, pela Equação 3, que
considera ainda o albedo da superfície.

𝑆𝑛 = 𝑆𝑖𝑛 ∗ (1 − 𝛼𝑗 ) (3)

onde 𝑆𝑖𝑛 [MJ/m2.dia] é a radiação incidente de ondas curtas; j [-] é o albedo da superfície
associado à URH.
A radiação incidente de ondas curtas (𝑆𝑖𝑛 ) pode ser obtida a partir de dados medidos por
piranômetros em estações meteorológicas. Outra forma de obter os dados de radiação
incidente de onda curta é a partir de dados de insolação (horas de sol por dia), conforme descrito
no item 3.5.

3.3. RADIAÇÃO LÍQUIDA DE ONDAS LONGAS


A radiação líquida de ondas longas (𝐿𝑛 ), que também é considerada na equação de balanço de
radiação (Equação 1) é o resultado da diferença entre a radiação de onda longa que deixa e que
retorna à superfície, e é calculada pela Equação 4:

𝐿𝑛 = 𝑓 ∗ 𝜎 ∗ [0,34 − 0,14 ∗ 𝑒𝑑 ] ∗ (𝑇 + 273,2)4 (4)

onde 𝐿𝑛 [MJ.m-2.dia-1] é a radiação líquida de ondas longas que deixa a superfície; 𝑓 [-] é um
fator de correção devido à cobertura de nuvens; 𝑇 [ºC] é a temperatura média do ar a 2m do
solo; 𝜎 [MJ.m-2.ºK-4.dia-1] é a constante de Stephan-Boltzman ( =
4,903.10 𝑀𝐽. 𝑚−2 . 𝐾 −4 . 𝑑𝑖𝑎−1 ); e 𝑒𝑑 [kPa] é a pressão parcial de vapor da água no ar (dado
−9

pela Equação 7).


O fator de correção da radiação de ondas longas devido à cobertura de nuvens (termo 𝑓 na
Equação 4) é calculado com base na Equação 5.

11
𝑆𝑖𝑛
𝑓= (5)
𝑆𝑚𝑎𝑥

onde 𝑓 [-] é o fator de correção; 𝑆𝑖𝑛 [MJ/m2.dia] é a radiação incidente de onda curta; e 𝑆𝑚𝑎𝑥
[MJ/m2.dia] é a máxima radiação incidente de onda curta que ocorreria no mesmo local caso a
atmosfera fosse transparente, dada pela equação 12.

3.4. VAPOR DE ÁGUA NO AR


A presença de vapor de água na atmosfera influencia o balanço de radiação na superfície,
conforme mostra a Equação 4. Além disso, a presença de água no ar também influencia
diretamente na evapotranspiração (ver Equação 18 no item 4.3).
A quantidade de vapor de água presente na atmosfera é representada pela pressão parcial
exercida pelo vapor. Na condição de saturação, a pressão parcial de vapor no ar é calculada pela
Equação 6:

17,27 ∗ 𝑇
𝑒𝑠 = 0,6108 ∗ exp ( ) (6)
237,3 + 𝑇

onde 𝑒𝑠 [kPa] é a pressão parcial de vapor de água no ar na condição de saturação; 𝑇 [°C] é a


temperatura do ar a 2m da superfície.
Na condição real, a pressão parcial de vapor no ar tem um valor menor ou igual à pressão de
saturação, calculada pela Equação 7, a partir de dados de umidade relativa do ar:

𝑈𝑅
𝑒𝑑 = 𝑒𝑠 ∗ (7)
100

onde 𝑒𝑑 [kPa]é a pressão parcial de vapor de água no ar; e 𝑈𝑅 [%] é a umidade relativa do ar,
estimada em cada minibacia por interpolação espacial de dados de estações meteorológicas
próximas.

3.5. RADIAÇÃO SOLAR INCIDENTE


A radiação incidente de ondas curtas (𝑆𝑖𝑛 ) pode ser obtida a partir de dados medidos por
piranômetros em estações meteorológicas ou a partir de dados de insolação (horas de sol por
dia). Para estimar a radiação de ondas curtas incidente na superfície a partir de dados de
insolação é necessário calcular o número de horas de sol máximo e a radiação incidente máxima
que poderia ocorrer em um determinado dia do ano, caso a atmosfera fosse perfeitamente
transparente, e depois corrigir esta estimativa, considerando o número de horas de sol real e a
transparência parcial da atmosfera. Sendo assim, a radiação solar incidente depende da latitude
da minibacia, da época do ano (definida pelo dia juliano), e de outras variáveis conforme os itens
que seguem.

3.5.1. Dia Juliano


A radiação solar incidente máxima e o máximo número de horas de sol em um determinado
local dependem da época do ano. No modelo MGB, cada passo de tempo corresponde a um dia
Juliano (𝐽𝑑𝑎𝑦 ), que é calculado internamente no modelo, com base na data inicial da simulação

12
e no tamanho do intervalo de tempo (1 dia). O dia Juliano corresponde ao número de dias desde
uma data qualquer até o início do ano. Assim, o dia Juliano varia entre 1 e 365, ou 366 em anos
bissextos.

3.5.2. Declinação solar


A partir do dia Juliano é calculada a declinação solar, que corresponde ao ângulo entre os raios
solares e o plano definido pela linha do equador, pela Equação 8:

2𝜋
𝛿 = 0,4093 ∗ sin ( ∗𝐽 − 1,405) (8)
365 𝑑𝑎𝑦

onde 𝛿 [rad] é a declinação solar; 𝐽𝑑𝑎𝑦 [-] é o dia juliano.

3.5.3. Ângulo do sol ao nascer


Com base na declinação solar (Equação 8) e na latitude, é calculado o ângulo da posição do sol
no horizonte em relação ao Norte, na hora do nascer do sol, pela Equação 9:

𝜔𝑠 = arccos(−𝑡𝑎𝑛 𝜑 ∗ 𝑡𝑎𝑛 𝛿) (9)

onde 𝜑 [rad] é a latitude do centroide da minibacia; 𝜔𝑠 [rad] é o ângulo do sol ao nascer; e 𝛿


[rad] é a declinação solar (Equação 8).

3.5.4. Número máximo de horas de sol por dia


O número máximo de horas de sol ao longo de um dia é calculado pela equação 10:

24
𝑁= ∗ 𝜔𝑠 (10)
𝜋

onde 𝑁 [horas] é o número máximo de horas de sol em um dia; e 𝜔𝑠 [rad] é o ângulo do sol ao
nascer (calculado pela Equação 9).

3.5.5. Excentricidade da órbita da Terra


O fator de correção da radiação solar incidente devido à excentricidade da órbita da Terra em
torno do sol é calculado pela Equação 11.

2𝜋
𝑑𝑟 = 1 + 0,033 ∗ cos ( ∗𝐽 ) (11)
365 𝑑𝑎𝑦

onde 𝑑𝑟 [-] é o fator de correção da radiação solar devido à excentricidade da órbita da Terra
em torno do sol; e 𝐽𝑑𝑎𝑦 é o dia juliano.

3.5.6. Radiação solar incidente de atmosfera transparente


Com base nos valores encontrados nas equações anteriores, e na latitude da minibacia, a
radiação solar de ondas curtas incidente máxima, que ocorreria caso a atmosfera fosse
perfeitamente transparente, é calculada pela equação 12:

13
24 ∗ 3600 ∗ 10−6
𝑆𝑚𝑎𝑥 = 𝑆𝑐𝑡𝑒 ∗ ∗ 𝑑𝑟 ∗ (𝜔𝑠 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝜑 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝛿 + 𝑐𝑜𝑠𝜑 ∗ cos𝛿 ∗ 𝑠𝑒𝑛𝜔𝑠 ) (12)
𝜋

onde 𝑆𝑐𝑡𝑒 [W.m-2] é a constante solar (cujo valor é 1367 W.m-2); 𝑆𝑚𝑎𝑥 [J/m²dia] é a radiação
solar incidente na superfície da Terra ao longo de um dia, caso a atmosfera fosse transparente;
𝛿 [rad] é a declinação solar, dada pela Equação 8; 𝜑 (rad) é a latitude; 𝜔𝑠 [rad] é o ângulo do sol
ao nascer, dado pela Equação 9; e 𝑑𝑟 [-] é o fator de excentricidade, dado pela Equação 11.

3.5.7. Radiação solar incidente


A radiação solar incidente é obtida a partir de dados de insolação (horas de sol por dia) e da
radiação solar incidente máxima, conforme a equação de Angstrom (Equação 13):

𝑛
𝑆𝑠𝑢𝑝 = (𝑎𝑠 + 𝑏𝑠 ∗ ) ∗ 𝑆𝑚𝑎𝑥 (13)
𝑁

onde 𝑁 [horas] é o número máximo de horas de sol por dia em uma latitude em certa época do
ano (Equação 10); 𝑛 [horas] é o número de horas de sol efetivamente medidos por um
heliógrafo, em uma estação meteorológica próxima; 𝑆𝑚𝑎𝑥 [MJ.m-2.dia-1] é a radiação que
atingiria a superfície caso a atmosfera fosse transparente (Equação 12); 𝑎𝑠 [-] é a fração da
radiação que atinge a superfície em dias encobertos (quando n=0); e 𝑎𝑠 + 𝑏𝑠 [-] é a fração da
radiação que atinge a superfície em dias sem nuvens (n=N).
Seguindo valores médios recomendados em Shuttleworth (1993), no modelo MGB são adotados
os seguintes valores para os parâmetros as e 𝑏𝑠 :
𝑎𝑠 = 0,25
𝑏𝑠 = 0,50

MÓDULO DE BALANÇO DE ÁGUA NO SOLO


O balanço vertical de água e de energia é calculado de forma independente para cada URH em
cada minibacia. Os processos verticais simulados pelo modelo MGB-IPH envolvem o balanço de
energia solar na superfície, a interceptação de água da chuva, o balanço de água no solo, a
percolação da água para o aquífero e o fluxo ascendente e a geração dos escoamentos
superficial, subsuperficial e subterrâneo. Estes processos estão ilustrados no esquema da Figura
4.

14
Figura 4: Esquema do balanço de água no solo do modelo MGB-IPH para uma Unidade de Resposta
Hidrológica.

A interceptação d'água pela cobertura vegetal é representada por um reservatório cuja


capacidade máxima é função do índice de área foliar. A interceptação é calculada de forma
independente para cada URH de cada minibacia, conforme descrito no item 4.1.
O balanço de água no solo é realizado considerando que o solo é composto por uma única
camada. O conceito de área de contribuição variável do modelo ARNO (Todini, 1996) é utilizado
para computar a variabilidade espacial da infiltração de água no solo e do escoamento
superficial. O balanço de água no solo é realizado de forma independente para cada URH de
cada minibacia, conforme descrito no item 2.2 e nos itens seguintes.

4.1. INTERCEPTAÇÃO
A primeira etapa do balanço hídrico no solo é a estimativa da interceptação, que é a parte da
água da chuva que é retida pela vegetação e não chega a atingir a superfície do solo. Esta fração
da precipitação é maior ou menor, dependendo do tipo e da condição da vegetação que cobre
o solo.
No MGB, a interceptação é considerada dependente da cobertura do solo, expressa pelo índice
de área foliar (IAF) da vegetação. O IAF expressa a área total das folhas por unidade de área de
solo, e é um parâmetro que pode ser medido ou estimado com base em sensoriamento remoto.
A relação entre a capacidade de interceptação e o IAF é dada pela Equação 14:
𝑆𝐼𝐿𝑗 = 𝛼 ∗ 𝐼𝐴𝐹𝑗 (14)
onde 𝑆𝐼𝐿𝑗 [mm] é a capacidade máxima do reservatório de interceptação do bloco j; α [mm] é
um parâmetro de lâmina de interceptação (o valor adotado é fixo: 𝛼 = 0,4 mm); 𝐼𝐴𝐹𝑗 [-] é o índice
de área foliar.

𝑘 𝑘−1 𝑘−1
𝑆𝐹𝑖,𝑗 = 𝑆𝐹𝑖,𝑗 + 𝑃𝐶𝑖 quando 𝑆𝐹𝑖,𝑗 + 𝑃𝐶𝑖 < 𝑆𝐼𝐿𝑗 (15a)

𝑘 𝑘−1
𝑆𝐹𝑖,𝑗 = 𝑆𝐼𝐿𝑗 quando 𝑆𝐹𝑖,𝑗 + 𝑃𝐶𝑖 ≥ 𝑆𝐼𝐿𝑗 (15b)

15
As Equações 15a e 15b descrevem o processo de enchimento do reservatório de interceptação,
considerando que o volume interceptado não pode superar a máxima capacidade de
𝑘
interceptação (equação 2b). onde 𝑆𝐹𝑖,𝑗 [mm] é a lâmina interceptada ao final do intervalo de
tempo no bloco j da minibacia i; 𝑆𝐼𝐿𝑗 [mm] é a capacidade máxima do reservatório de
𝑘−1
interceptação do bloco j de qualquer minibacia; 𝑆𝐹𝑖,𝑗 [mm] é a lâmina interceptada ao início
do intervalo de tempo no bloco j da minibacia i; 𝑃𝐶𝑖 [mm/dia] é a precipitação sobre a cobertura
vegetal em qualquer bloco da minibacia i; e t é o intervalo de tempo (1 dia).
A equação 16 descreve o efeito da interceptação sobre a precipitação que atinge a superfície do
solo. Caso o reservatório de interceptação esteja completamente cheio, a precipitação passa
integralmente para a camada superficial do solo. Caso contrário, a lâmina disponível de
interceptação é subtraída da precipitação.
𝑘 𝑘−1
(𝑃𝐶𝑖 ) ∙ ∆𝑡 − (𝑆𝐹𝑖,𝑗 − 𝑆𝐹𝑖,𝑗 )
𝑃𝑖,𝑗 = (16)
∆𝑡

𝑘
onde 𝑆𝐹𝑖,𝑗 [mm] é a lâmina interceptada ao final do intervalo de tempo no bloco j da minibacia
𝑘−1
i; 𝑆𝐹𝑖,𝑗 [mm] é a lâmina interceptada ao início do intervalo de tempo no bloco j da minibacia i;
𝑃𝐶𝑖 [mm/dia] é a precipitação sobre a cobertura vegetal em qualquer bloco da minibacia i; 𝑃𝑖,𝑗
[mm/dia] é a precipitação sobre a camada superficial do solo no bloco j da minibacia i; e t é o
intervalo de tempo (1 dia).
A evapotranspiração é aplicada, separadamente, à lâmina de água interceptada e à água da
camada superficial do solo. O reservatório de interceptação é esvaziado mediante a evaporação,
conforme descrito no item 4.3.1 (Equação 20). O módulo de evapotranspiração está baseado na
equação de Penman-Monteith, conforme descrito no item 4.3 deste manual.

4.2. BALANÇO HÍDRICO NO SOLO


O balanço hídrico na camada de solo é realizado de forma independente para cada URH (𝑗)
dentro de cada minibacia (𝑖), e é representado pela Equação 17.

𝑘 𝑘−1
𝑊𝑖,𝑗 = 𝑊𝑖,𝑗 + (𝑃𝑖,𝑗 − 𝐸𝑖,𝑗 − 𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 − 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 − 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 + 𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 ) ∗ ∆𝑡 (17)
𝑘
onde ∆𝑡 [dias] é o tamanho do intervalo de tempo (dia); 𝑊𝑖,𝑗 [mm] é a lâmina de água
𝑘−1
armazenada no solo ao final do intervalo de tempo; 𝑊𝑖,𝑗 [mm] é a lâmina de água armazenada
no início do intervalo de tempo; 𝑃𝑖,𝑗 [mm/dia] é a precipitação menos a interceptação ao longo
do intervalo de tempo, conforme as Equações 15; 𝐸𝑖,𝑗 [mm/dia] é a evapotranspiração da água
do solo ao longo do intervalo de tempo; 𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 [mm/dia] é a fluxo de escoamento superficial
ao longo do intervalo de tempo (drenagem rápida); 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 [mm/dia] éo fluxo de escoamento
subsuperficial ao longo do intervalo de tempo (drenagem lenta); 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 [mm/dia] é a
percolação do solo para o aquífero ao longo do intervalo de tempo (drenagem muito lenta);
𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 [mm/dia] é o fluxo de água ascendente do aquífero para o solo; o subíndice 𝑖 refere-se
à minibacia e o subíndice 𝑗 refere-se à URH.
𝑘
Em cada intervalo de tempo, 𝑊𝑖,𝑗 e 𝑃𝑖,𝑗 são conhecidos, e 𝐸𝑖,𝑗 , 𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 , 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 , 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 e 𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗
são estimados com base no estado de armazenamento do início do intervalo de tempo e em
parâmetros do modelo.

16
4.3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO
Para o cálculo da evapotranspiração o modelo MGB utiliza a equação de Penman-Monteith,
conforme apresentada em Shuttleworth (1993) (Equação 18). Esta equação pode ser aplicada
de acordo com o tipo de cobertura vegetal, utilizando-se valores adequados dos parâmetros 𝑟𝑎
– resistência aerodinâmica – e 𝑟𝑠 – resistência superficial.

𝑒𝑠 − 𝑒𝑑
Δ ∗ (𝑅𝐿 − 𝐺) + 𝜌𝐴 ∗ 𝑐𝑝 ∗ 1
𝑟𝑎
𝐸=( 𝑟 )∗ (18)
Δ + 𝛾 ∗ (1 + 𝑟𝑠 ) 𝜆 ∗ 𝑝𝑤
𝑎

onde E [m.s-1] é a taxa de evapotranspiração; λ [MJ.kg-1] é o calor latente de vaporização;


Δ[kPa.oC-1] é a taxa de variação da pressão de saturação do vapor; R L [MJ.m-2.s-1] é a radiação
líquida na superfície; G [MJ.m-2.s-1] é o fluxo de energia para o solo; ρA [kg.m-3] é a massa
específica do ar; ρW [kg.m-3] é a massa específica da água; cp [MJ.kg-1.ºC-1] é o calor específico
do ar úmido (cp = 1,013.10-3 MJ.kg-1.ºC-1); es [kPa] é a pressão de saturação do vapor; ed [kPa]
é a pressão do vapor; γ [kPa.ºC-1] é a constante psicrométrica (γ = 0,66); rs [s.m-1] é a
resistência superficial da vegetação; ra [s.m-1] é a resistência aerodinâmica.
A evapotranspiração no modelo é calculada em duas etapas, iniciando pela evaporação da água
acumulada no reservatório que representa a interceptação (item 4.3.1) e finalizando com a
evapotranspiração da água presente no solo.

4.3.1. Evaporação da água interceptada


O modelo calcula a evaporação e transpiração de modo separado, e por etapas, de modo
semelhante ao utilizado por Wigmosta et al. (1994). A energia disponível para a
evapotranspiração é utilizada, primeiramente, para evaporar a água interceptada, armazenada
sobre as folhas, caules e ramos da vegetação e diretamente sobre o solo. Caso ainda haja energia
disponível ao final da etapa da evaporação, esta energia vai atender a transpiração.
A evaporação potencial (EIP) da lâmina interceptada é calculada através da Equação 18
(equação de Penman-Monteith) considerando que a resistência superficial (rs ) é nula e que a
resistência aerodinâmica depende da velocidade do vento e da altura média da vegetação. A
evaporação real da lâmina interceptada (𝐸𝐼) é igual à potencial (𝐸𝐼𝑃), caso a lâmina
interceptada seja maior do que a evaporação potencial ao longo do intervalo de tempo (Equação
19a). Caso contrário, a evaporação real é igual à lâmina interceptada (Equação 19b).

𝑘
𝐸𝐼𝑖,𝑗 = 𝐸𝐼𝑃𝑖,𝑗 quando 𝑆𝐹𝑖,𝑗 > 𝐸𝐼𝑃𝑖,𝑗 (19a)

𝑘 𝑘
𝐸𝐼𝑖,𝑗 = 𝑆𝐹𝑖,𝑗 quando 𝑆𝐹𝑖,𝑗 ≤ 𝐸𝐼𝑃𝑖,𝑗 (19b)
k
onde SFi,j [mm] é a lâmina interceptada; EIPi,j [mm/dia] é a evaporação potencial da lâmina
interceptada; EIi,j [mm/dia] é a evaporação real da lâmina interceptada.

Ao final do processo de evaporação da água interceptada, o volume ou lâmina restante no


reservatório de interceptação é atualizado, de acordo com a Equação 20.
𝑘 𝑘−1
𝑆𝐹𝑖,𝑗 = 𝑆𝐹𝑖,𝑗 − (EIi,j ) ∙ ∆𝑡 (20)

17
4.3.2. Evapotranspiração da água do solo
A evapotranspiração da água do solo inclui a transpiração das plantas e a evaporação direta de
água presente no solo. No modelo MGB, a evapotranspiração de água do solo é calculada após
a evaporação da água interceptada. Por esse motivo, a taxa de evapotranspiração calculada pela
equação de Penman-Monteith deve ser ajustada por um fator de correção que considera que
parte da energia originalmente disponível é utilizada para a evaporação da água interceptada.
Dessa forma, após a evaporação do volume interceptado, fica disponível apenas uma fração da
demanda de evapotranspiração original, calculada pela Equação 21 (Wigmosta et al., 1994).

𝐸𝐼𝑃𝑖,𝑗 − 𝐸𝐼𝑖,𝑗
𝐹𝐷𝐸𝑖,𝑗 = (20)
𝐸𝐼𝑃𝑖,𝑗

onde 𝐹𝐷𝐸𝑖,𝑗 [-] representa a fração remanescente da demanda de evaporação; 𝐸𝐼𝑃𝑖,𝑗 [mm/dia]
representa a evaporação potencial da lâmina interceptada; 𝐸𝐼𝑖,𝑗 [mm/dia] é a evaporação real
da lâmina interceptada.
Uma estimativa inicial da evapotranspiração é então calculada para cada URH pela equação de
Penman-Monteith (Equação 18), utilizando valores de resistência superficial (rs ) que dependem
do tipo de vegetação e da disponibilidade de água no solo, conforme descrito adiante.
Posteriormente, esta estimativa inicial é corrigida (Equação 21) multiplicando pela fração
𝐹𝐷𝐸𝑖,𝑗 .

𝐸𝑖,𝑗 = 𝐹𝐷𝐸𝑖,𝑗 ∗ 𝐸𝑇𝑖,𝑗 (21)

onde 𝐸𝑇𝑖,𝑗 [mm/dia] é a demanda evapotranspiração do solo do bloco 𝑗 da minibacia 𝑖


considerando toda a energia disponível; 𝐸𝑖,𝑗 [mm/dia] é a demanda de evapotranspiração
descontando a energia consumida na evaporação da lâmina interceptada.
A resistência superficial (rs ) de cada URH de cada minibacia é calculada no início de cada passo
de tempo utilizando a Equação 22. Esta equação representa o aumento da resistência superficial
com o aumento do déficit de água no solo.

𝑟𝑠 = 𝑟𝑠𝑗,𝑚 se 𝑊𝑖,𝑗 > 𝑊𝐿 (22a)

𝑊𝐿 − 𝑊𝑤𝑝
𝑟𝑠 = 𝑟𝑠𝑗,𝑚 ∗ ( ) se 𝑊𝑤𝑝 < 𝑊𝑖,𝑗 ≤ 𝑊𝐿 (22b)
𝑊𝑖,𝑗 − 𝑊𝑤𝑝

𝑟𝑠 = 𝑟𝑠𝑗,𝑚 ∙ 106 se 𝑊𝑖,𝑗 ≤ 𝑊𝑤𝑝 (22c)

onde 𝑊𝑤𝑝 [mm] é o ponto de murcha permanente; 𝑟𝑠𝑗,𝑚 [-] é a resistência superficial mínima
dependente da vegetação, em condições não afetadas pela umidade do solo e 𝑚 é o índice do
mês (de 1 a 12); 𝑊𝐿 [mm] é o valor limite de armazenamento de água no solo a partir do qual
inicia o stress hídrico.
Os valores de 𝑊𝑤𝑝 e 𝑊𝐿 são estimados a partir do valor da capacidade de armazenamento de
água no solo 𝑊𝑚. O ponto de murcha permanente é considerado igual a 10% da capacidade de

18
armazenamento de água no solo (Equação 23) e o valor limite 𝑊𝐿 é considerado igual a 50% da
capacidade de armazenamento (Equação 24).

1
𝑊𝑤𝑝 = ∗ 𝑊𝑚 (23)
10
1 (24)
𝑊𝐿 = ∗ 𝑊𝑚
2

4.4. ESCOAMENTO SUPERFICIAL NO SOLO


O escoamento superficial gerado no solo em cada URH é o escoamento direto efetivo, aquele
que chega rapidamente à rede de drenagem. No modelo MGB considera-se que a geração de
escoamento superficial se dá apenas em áreas de solo saturado, num processo conhecido como
Dunneano (Dunne & Black, 1970). Além disso, considera-se que a fração de áreas saturadas
numa região varia de acordo com o estado de armazenamento de umidade médio do solo.
O modelo MGB utiliza uma função (Equação 25) que relaciona a fração de área saturada (áreas
onde a infiltração é nula) com a umidade do solo conforme proposto nos modelos ARNO (Todini,
1996) e PDM (Moore & Clarke, 1981).

𝑏
𝑊 𝑏+1 (25)
𝑋 = 1 − (1 − )
𝑊𝑚

onde 𝑋 é a fração da área que está saturada; 𝑊 [mm] o volume de água armazenada no solo;
𝑊𝑚 [mm] é a capacidade máxima de armazenamento de água no solo; 𝑏 [-] um parâmetro do
modelo associado à URH que define o grau de heterogeneidade da capacidade de
armazenamento de água no solo.
O escoamento superficial 𝐷𝑠𝑢𝑝 entre dois passos de tempo consecutivos (k-1 e k) é obtido para
cada URH j de uma minibacia i pelas equações 26.

𝑘−1
𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 = Δ𝑡 ∗ 𝑃𝑖,𝑗 − (𝑊𝑚𝑗 − 𝑊𝑖,𝑗 ) se 𝐴≤0 (26a)

𝑘−1
𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 = Δ𝑡 ∗ 𝑃𝑖,𝑗 − (𝑊𝑚𝑗 − 𝑊𝑖,𝑗 ) + 𝑊𝑚𝑗 ∗ 𝐴𝑏𝑗+1 se 𝐴>0 (26b)

onde 𝑃𝑖,𝑗 [mm/dia] é a precipitação que chega à superfície do solo da URH 𝑗 da minibacia 𝑖
(obtida pela Equação 16 que considera as perdas por interceptação); 𝐷𝑠𝑢𝑝 [mm] é a lâmina de
escoamento superficial da URH 𝑗 da minibacia 𝑖 ao longo do intervalo de tempo; e o termo 𝐴 é
um limite dado pela expressão:

1
𝑘−1 𝑏𝑗 +1
𝑊𝑖,𝑗 Δ𝑡 ∗ 𝑃𝑖,𝑗
𝐴 = [(1 − ) − ] (27)
𝑊𝑚𝐽 (𝑏𝑗 + 1) ∗ 𝑊𝑚𝑗

A cada intervalo de tempo, o valor do termo A permite estimar se houve ou não saturação
completa do solo. Caso o valor de A seja negativo, o solo ficou completamente saturado, e a
estimativa do escoamento superficial depende apenas da precipitação e da alteração do

19
𝑡−1
armazenamento de água no solo entre o estado inicial (𝑊𝑖,𝑗 ) e o armazenamento máximo
𝑊𝑚𝑗 . Caso o valor do termo A seja positivo, o solo não chegou a ficar completamente saturado
ao longo do intervalo de tempo, e a estimativa do escoamento superficial depende do próprio
termo A (Todini, 1996).

4.5. ESCOAMENTO SUB-SUPERFICIAL NO SOLO


O termo “subsuperficial” é utilizado neste texto como sinônimo de escoamento menos rápido
do que o superficial, porém mais rápido do que o subterrâneo. Este fluxo de água ocorre nas
camadas superficiais do solo. Para descrever este escoamento subsuperficial o modelo utiliza
uma relação semelhante à de Brooks e Corey (Rawls et al., 1993), que relaciona a condutividade
hidráulica do solo a sua textura (Equações 28a e 28b). A relação de Brooks e Corey é não-linear
com relação à umidade do solo. A taxa de drenagem subsuperficial quando o solo está próximo
da saturação é muito maior do que quando o solo está mais seco.

2
𝑘−1 3+
𝑊𝑖,𝑗 −𝑊𝑧𝑗 𝜆𝑗 𝑘−1
𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 = 𝐾𝑖𝑛𝑡𝑗 ∗ ( 𝑊𝑚 ) se 𝑊𝑖,𝑗 > Wzj (28a)
𝑗 −𝑊𝑧𝑗

𝑘−1
𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 = 0 se 𝑊𝑖,𝑗 ≤ Wzj (28b)

onde 𝑊𝑧𝑗 [mm] é o limite inferior de armazenamento no solo para haver escoamento
subsuperficial – normalmente utilizado como 10% do 𝑊𝑚; 𝐾𝑖𝑛𝑡𝑗 [mm/dia] é a condutividade
hidráulica do solo saturado; 𝜆 [ - ] representa o índice de porosidade do solo (parâmetro),
normalmente utilizado como 0,67; 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 [mm/dia] é a lâmina de escoamento subsuperficial
do bloco 𝑗 da minibacia 𝑖 ao longo de um intervalo de tempo.

4.6. FLUXO DE ÁGUA DO SOLO PARA O AQUÍFERO


O fluxo de água do solo para o aquífero, conhecido como percolação, é calculado através de
uma relação linear (Equações 29a e 29b).

𝑘−1
𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 = 0 se 𝑊𝑖,𝑗 ≤ 𝑊𝑐𝑗 (29a)

𝑘−1
𝑊𝑖,𝑗 − 𝑊𝑐𝑗 𝑘−1
𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 = 𝐾𝑏𝑎𝑠 ∗ se 𝑊𝑖,𝑗 > 𝑊𝑐𝑗 (29b)
𝑊𝑚𝑗 − 𝑊𝑐𝑗

onde 𝑊𝑐𝑗 [mm] é o limite inferior de armazenamento no solo para haver escoamento
subterrâneo (parâmetro) e normalmente é atribuído como 10% do 𝑊𝑚; 𝐾𝑏𝑎𝑠 [mm/dia] é a taxa
máxima de percolação do solo para o reservatório subterrâneo(drenagem muito lenta); 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗
[mm/dia] é o fluxo de água do solo para o aquífero ao longo de um intervalo de tempo.

4.7. FLUXO DE ÁGUA DO AQUÍFERO PARA O SOLO


Em situações de stress hídrico, quando a zona saturada do aquífero se encontra próxima à
superfície do solo, pode ocorrer uma transferência de água do aquífero para a zona não saturada
de solo, num fluxo inverso ao da percolação. Este movimento ascendente ocorre por diferença
de potencial ou pela existência de vegetação com raízes profundas o suficiente para retirar água
diretamente do aquífero. No modelo, esse fluxo ascendente é calculado pela Equação 30:

20
𝑘−1
𝑊𝑐𝑗 − 𝑊𝑖,𝑗 𝑘−1
𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 = ∗ 𝐷𝑀𝑐𝑎𝑝𝑗 se 𝑊𝑖,𝑗 < 𝑊𝑐𝑗 (30a)
𝑊𝑐𝑗

𝑘−1
𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 = 0 se 𝑊𝑖,𝑗 ≥ 𝑊𝑐𝑗 (30b)

onde 𝑊𝑐𝑗 [mm] é o limite máximo de armazenamento de água no solo para haver fluxo
ascendente; 𝐷𝑀𝑐𝑎𝑝𝑗 [mm/dia] o máximo fluxo ascendente no solo; 𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 [mm/dia] o fluxo
ascendente no solo ao longo de um dia.

4.8. FLUXO DE ÁGUA INFILTRADA NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO


Esta seção refere-se à parcela de água infiltrada em áreas inundadas da planície na camada de
solo não-saturado, conforme descrito em Fleischmann et al. (2018). Para cada bacia hidrográfica
em cada intervalo de tempo, a infiltração da planície de inundação na coluna do solo é calculada
com base no grau de saturação do solo e na área de inundação da bacia hidrográfica, assumindo
que a taxa de infiltração depende linearmente do déficit hídrico do solo (Equação 31).

𝑘 𝑘
𝐴𝑓𝑙 𝑊𝑖,𝑗
𝐷𝑖𝑛𝑓𝑖𝑘 = 𝑖
∗ 𝐾𝑖𝑛𝑓 ∗ (1 − ) (31)
𝐴𝑖 𝑊𝑚

𝑘
onde 𝐴𝑓𝑙 𝑖
é a área alagada na minibacia i [km²], 𝐴𝑖 é a área da minibacia [km²], 𝐾𝑖𝑛𝑓 [mm/∆t]é
a taxa de infiltração que ocorre quando toda a minibacia é inundada e o solo está totalmente
seco.
O volume de infiltração calculado é então removido do volume total de inundação da bacia
hidrográfica (módulo hidrodinâmico – ver Equação 52) e acrescido no armazenamento de água
no solo da bacia hidrográfica (módulo hidrológico). O modelo representa dinamicamente as
mudanças na evapotranspiração e na evaporação em águas abertas, devido a variações na
cobertura do solo durante as inundações (ou seja, diferindo solo/vegetação das áreas
inundadas). Assim, a cada passo de tempo é calculada a fração inundada da minibacia e a
evaporação em águas abertas é calculada para essa área, enquanto a área restante é usada para
cálculo da evapotranspiração no solo/vegetação.
Com a consideração da planície de inundação na minibacia, a equação de balanço de água no
solo (Equação 17) passa a ser então expressa como a Equação 32, incluindo o fluxo de infiltração
𝐷𝑖𝑛𝑓 .

𝑘 𝑘−1
𝑊𝑖,𝑗 = 𝑊𝑖,𝑗 + (𝑃𝑖,𝑗 − 𝐸𝑖,𝑗 − 𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 − 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 − 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 + 𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 + 𝐷𝑖𝑛𝑓𝑖,𝑗 ) ∗ ∆𝑡 (32)

MÓDULO DE ESCOAMENTO NA MINI-BACIA


Os processos descritos no item 4 correspondem à geração de escoamento no solo. Este
escoamento acaba chegando à rede de drenagem da bacia. Entretanto, nem todo o volume dos
escoamentos gerados nas minibacias chega à sua correspondente rede de drenagem no mesmo
passo de tempo em que foi gerado. Isto ocorre porque apenas os rios maiores são representados
explicitamente no modelo, conforme discutido no capítulo 2.2, que trata da discretização. Além
disso, os fluxos subsuperficial e subterrâneo podem envolver tempos de resposta mais longo,

21
entre a geração do escoamento, ou a percolação, e a chegada da água à rede de drenagem. Em
outras palavras, os fluxos de escoamento gerados no solo sofrem retardo e amortecimento
antes de atingir a rede de drenagem explicitamente representada no modelo. No MGB esse
processo de retardo e amortecimento dos hidrogramas dos escoamentos é representado
através da passagem deles por três reservatórios lineares, sendo um para cada tipo de
escoamento gerado: superficial, subsuperficial (ou interno) e subterrâneo.
O escoamento superficial segue do solo para o reservatório linear superficial, o escoamento
subsuperficial segue do solo para o reservatório subsuperficial e o escoamento subterrâneo
segue do solo para o reservatório subterrâneo que representa o aquífero da minibacia,
conforme a Figura 5. Observa-se, também, que o escoamento superficial gerado em diferentes
URH de uma minibacia segue para um único reservatório linear na minibacia. O mesmo ocorre
para o fluxo subsuperficial, e para o fluxo subterrâneo. Isto significa que uma minibacia tem
sempre três reservatórios lineares, independentemente do seu número de URH.

Figura 5: Ilustração de escoamento no interior das minibacias com N diferentes URHs, antes de atingir a
rede de drenagem.

É importante ressaltar que os reservatórios lineares não têm nenhuma relação com a presença
ou não de barragens, açudes ou reservatórios na bacia hidrográfica ou minibacia. Os
reservatórios lineares são apenas uma forma matematicamente simples de representar o
processo físico de propagação da vazão desde o momento em que a água deixa a camada de
solo até que atinja os rios maiores, representados de outra forma, conforme o item 6.

5.1. PROPAGAÇÃO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA MINI-BACIA


Em cada minibacia o escoamento superficial gerado em todas as URH é somado e adicionado ao
volume de água previamente presente no reservatório linear superficial da minibacia ao início
do intervalo de tempo, conforme a Equação 33:

𝑁𝑈𝑅𝐻
1
𝑘−
𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖 2
= 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖𝑘−1 + ∑ (1000 ∙ 𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 ∙ 𝐴𝑖,𝑗 ) (33)
𝑗=1

22
onde 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖𝑘−1 [m3] é o volume de água presente no reservatório superficial no início do
1
𝑘−
intervalo de tempo 𝑘 na minibacia 𝑖; 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖 2 [m3] é o volume de água presente no reservatório
superficial no meio do intervalo de tempo 𝑘 na minibacia 𝑖; 𝐷𝑠𝑢𝑝𝑖,𝑗 [mm] é o escoamento
superficial oriundo da URH 𝑗 na minibacia 𝑖; 𝐴𝑖,𝑗 [km2] é a área da URH 𝑗 da minibacia 𝑖. O índice
𝑗 indica o número da URH e 𝑁𝑈𝑅𝐻 representa o número de URHs existentes, ambos relacionados
à minibacia 𝑖 considerada.
A vazão de saída do reservatório superficial é calculada por uma função linear do respectivo
volume superficial armazenado no reservatório e do tempo de concentração da minibacia,
conforme a Equação 34:

1
1 𝑘−
𝑄𝑠𝑢𝑝𝑖 = ∙ 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖 2 (34)
𝑇𝐾𝑆𝑖

onde 𝑄𝑠𝑢𝑝𝑖 [m3.s-1], é a vazão de saída do reservatório linear superficial da minibacia i; 𝑇𝐾𝑆𝑖 [s]
1
𝑘−
é o tempo de retardo do reservatório superficial da minibacia 𝑖; 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖 2
[m3] é o volume de
água presente no reservatório superficial no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖,
conforme a Equação 33.
O valor de 𝑇𝐾𝑆𝑖 é estimado com base na Equação 35.

𝑇𝐾𝑆𝑖 = 𝐶𝑆 ∙ 𝑇𝑐𝑖 (35)

onde 𝐶𝑆 é um parâmetro adimensional calibrável e 𝑇𝑐𝑖 é uma estimativa do tempo de


concentração da minibacia [s], que é obtida pela fórmula de Kirpich (Equação 36):

Lbi
Tci = a (36)
Sic

onde 𝑇𝑐𝑖 [s] é o tempo de concentração estimado pela fórmula de Kirpich; Lbi [km] é o
comprimento do maior afluente do rio principal; Sic [m.m-1] é a declividade do maior afluente do
rio principal da minibacia i; e os índices 𝑎, 𝑏 e 𝑐 são fixos com valores iguais a, respectivamente,
3420, 0,77 e 0,385.
A estimativa do tempo de retardo pela Equação 35 permite regionalizar este parâmetro, pois
está relacionado à topografia local da minibacia pela Equação 36 (fórmula de Kirpich), e mesmo
assim, realizar a sua calibração, através do parâmetro adimensional CS.
Ao final do intervalo de tempo, o volume armazenado no reservatório superficial é atualizado
pela Equação 37 de balanço parcial:

1
𝑘−
𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖𝑘 = 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖 2
− ∆𝑡 ∙ 𝑄𝑠𝑢𝑝𝑖 (37)

onde 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖𝑘 [m3] é o volume de água presente no reservatório superficial no final do intervalo
1
𝑘−
de tempo na minibacia 𝑖; 𝑉𝑠𝑢𝑝𝑖 2
[m3] é o volume de água presente no reservatório superficial

23
no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖; e 𝑄𝑠𝑢𝑝𝑖 [m3.s-1] é a vazão de saída do reservatório
linear superficial da minibacia 𝑖.

5.2. PROPAGAÇÃO DO ESCOAMENTO SUBSUPERFICIAL NA MINI-BACIA


Em cada minibacia o escoamento subsuperficial gerado em todas as URH é somado e adicionado
ao volume de água previamente presente no reservatório linear subsuperficial da minibacia ao
início do intervalo de tempo, conforme a Equação 38:

𝑁𝑈𝑅𝐻
1
𝑘−
𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖 2
= 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖𝑘−1 + ∑ (1000 ∙ 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 ∙ 𝐴𝑖,𝑗 ) (38)
𝑗=1

onde 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖𝑘−1 [m3] é o volume de água presente no reservatório subsuperficial no início do


1
𝑘−
intervalo de tempo na minibacia 𝑖; 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖 2
[m3] é o volume de água presente no reservatório
subsuperficial no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖; 𝐷𝑖𝑛𝑡𝑖,𝑗 [mm] é o escoamento
subsuperficial oriundo da URH 𝑗 na minibacia 𝑖; 𝐴𝑖,𝑗 [km2] é a área da URH 𝑗 da minibacia 𝑖. O
índice 𝑗 indica o número da URH e 𝑁𝑈𝑅𝐻 é número de URHs existentes, ambos relacionados à
minibacia 𝑖 considerada.
A vazão de saída do reservatório subsuperficial é calculada por uma função linear do respectivo
volume subsuperficial armazenado no reservatório e do tempo de concentração da minibacia,
conforme a Equação 39:

1
1 𝑘−
𝑄𝑖𝑛𝑡𝑖 = ∙ 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖 2 (39)
𝑇𝐾𝐼𝑖

onde 𝑄𝑖𝑛𝑡𝑖 [m3.s-1], é a vazão de saída do reservatório linear subsuperficial da minibacia 𝑖; 𝑇𝐾𝐼𝑖
1
𝑘−
[s] é o tempo de retardo do reservatório subsuperficial da minibacia 𝑖; 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖 2 [m3] é o volume
de água presente no reservatório subsuperficial no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖,
conforme a equação 38.
O valor de 𝑇𝐾𝐼𝑖 é estimado com base na Equação 40:

𝑇𝐾𝐼𝑖 = 𝐶𝐼 ∙ 𝑇𝑐𝑖 (40)

onde 𝐶𝐼 é um parâmetro adimensional calibrável e 𝑇𝑐𝑖 é uma estimativa do tempo de


concentração da minibacia [s], que é obtida pela fórmula de Kirpich, conforme descrito no item
anterior (Equação 36)
A estimativa do tempo de retardo do escoamento subsuperficial pela equação 38 permite
regionalizar este parâmetro, pois está relacionado à topografia local da minibacia pela equação
34 (fórmula de Kirpich), e mesmo assim, realizar a sua calibração, através do parâmetro
adimensional 𝐶𝐼. Tipicamente, o valor de 𝐶𝐼 é de 5 a 20 vezes maior do que o valor de 𝐶𝑆.
Ao final do intervalo de tempo, o volume armazenado no reservatório subsuperficial é
atualizado pela Equação 41 de balanço parcial:

24
1
𝑘−
𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖𝑘 = 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖 2
− ∆𝑡 ∙ 𝑄𝑖𝑛𝑡𝑖 (41)

onde 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖𝑘 [m3] é o volume de água presente no reservatório subsuperficial no final do intervalo
1
𝑘−
de tempo na minibacia 𝑖; 𝑉𝑖𝑛𝑡𝑖 2 [m3] é o volume de água presente no reservatório
subsuperficial no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖; e 𝑄𝑖𝑛𝑡𝑖 [m3.s-1] é a vazão de saída
do reservatório linear subsuperficial da minibacia 𝑖.

5.3. PROPAGAÇÃO DO ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO NA MINI-BACIA


O escoamento subterrâneo na minibacia é o escoamento lento através do aquífero da minibacia.
No modelo MGB considera-se que o aquífero da minibacia está conectado à rede de drenagem
da própria minibacia, mas não está conectado ao aquífero da minibacia vizinha.
Isto significa que o aquífero de uma minibacia pode receber recarga a partir da água do solo das
diversas URH presentes na minibacia, e que pode descarregar para a rede de drenagem da
minibacia, mas não pode trocar água por fluxo subterrâneo com as minibacias vizinhas.
Além disso, considera-se no modelo MGB que o aquífero presente em uma minibacia pode ser
representado por um reservatório linear simples.
Em cada minibacia o fluxo de água do solo para o aquífero de todas as URH é somado e
adicionado ao volume de água previamente presente no reservatório linear subterrâneo da
minibacia ao início do intervalo de tempo, conforme a Equação 42. Também é considerado o
fluxo no sentido inverso, isto é, do aquífero para o solo.

𝑁𝑈𝑅𝐻
1
𝑡−
𝑉𝑏𝑎𝑠𝑖 2
= 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑖𝑘−1 + ∑ (𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 − 𝐷𝑐𝑎𝑝𝑖,𝑗 ) ∙ 1000 ∙ 𝐴𝑖,𝑗 (42)
𝑗=1

onde 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑖𝑘−1 [m3] é o volume de água presente no reservatório superficial no início do


1
𝑡−
intervalo de tempo na minibacia 𝑖; 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑖 2 [m3] é o volume de água presente no reservatório
superficial no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖; 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 [mm] é a percolação oriunda
da URH 𝑗 na minibacia 𝑖; 𝐷𝑏𝑎𝑠𝑖,𝑗 [mm] é o fluxo do aquífero para o solo da URH 𝑗 na minibacia
𝑖; 𝐴𝑖,𝑗 [km2] é a área da URH 𝑗 da minibacia 𝑖. O índice 𝑗 indica o número da URH e 𝑁𝑈𝑅𝐻 é
número de URHs existentes, ambos relacionados à minibacia 𝑖 considerada.
A vazão de saída do reservatório subterrâneo é calculada por uma função linear do volume
armazenado no reservatório subterrâneo, conforme a Equação 43:

1
1 𝑘−
𝑄𝑏𝑎𝑠𝑖 = 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑖 2 (43)
𝑇𝐾𝐵𝑖

onde 𝑄𝑏𝑎𝑠𝑖 [m3.s-1], é a vazão de saída do reservatório linear subterrâneo da minibacia 𝑖; 𝑇𝐾𝐵𝑖
1
𝑘−
[s] é o tempo de retardo do reservatório subterrâneo da minibacia 𝑖; 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑖 2 [m3] é o volume
de água presente no reservatório superficial no meio do intervalo de tempo na minibacia 𝑖,
conforme a Equação 42.

25
O valor de 𝑇𝐾𝐵𝑖 é estimado com base na Equação 44:

𝑇𝐾𝐵𝑖 = 𝐶𝐵 ∗ 3600 (44)

onde 𝐶𝐵 [horas] é um parâmetro calibrável que controla o retardo do escoamento subterrâneo


na minibacia e pode ser pré-estimado a partir dos dados de recessão dos hidrogramas, conforme
descrito no item 7.

5.4. INTEGRAÇÃO DOS ESCOAMENTOS NA MINI-BACIA


A vazão lateral que chega ao trecho de rio de cada minibacia (𝑄) é a soma das vazões de
contribuição superficial, subsuperficial e subterrânea, expressa na Equação 45:

𝑄𝑖 = 𝑄𝑠𝑢𝑝𝑖 + 𝑄𝑖𝑛𝑡𝑖 + 𝑄𝑏𝑎𝑠𝑖 (45)

onde 𝑄𝑠𝑢𝑝𝑖 [m3.s-1] é a vazão de saída do reservatório superficial; 𝑄𝑖𝑛𝑡𝑖 [m3.s-1] é a vazão de
saída do reservatório subsuperficial; 𝑄𝑏𝑎𝑠𝑖 [m3.s-1] é a vazão de saída do reservatório
subterrâneo; 𝑄𝑖 [m3.s-1] é a vazão total gerada na minibacia 𝑖.

MÓDULO DE ESCOAMENTO NA REDE DE DRENAGEM


O módulo de escoamento na rede de drenagem representa os processos horizontais que
ocorrem ao longo dos principais rios da bacia. A definição dos principais rios é realizada durante
o procedimento de discretização da bacia, descrita no item 2.2.
Ao contrário da representação do escoamento interno nas minibacias, o escoamento ao longo
da rede de drenagem principal é representado com maior realismo físico, utilizando uma das
duas opções de metodologia de cálculo: a) o método inercial; ou b) o método Munskingum-
Cunge.
O método, ou modelo, Muskingum-Cunge é menos exigente do ponto de vista computacional,
e permite realizar simulações com tempo de processamento significativamente mais baixos do
que o modelo inercial. Entretanto, o modelo Muskingum-Cunge não é adequado para a
simulação de bacias hidrográficas com rios de baixa declividade, ou onde existem planícies de
inundação. Rios de baixa declividade podem ser definidos, neste caso, como rios com
declividade inferior a 20 centímetros por km.
O modelo inercial, por outro lado, não tem limitações relacionadas à declividade dos rios, e pode
ser aplicado em bacias com rios de alta ou baixa declividade. Além disso, o método inercial
permite representar mais adequadamente rios com planícies de inundação. Por outro lado, o
modelo inercial exige que os cálculos internos sejam realizados com um passo de tempo muito
pequeno, o que resulta em um tempo de processamento significativamente maior.

6.1. MODELO HIDRODINÂMICO - INERCIAL


O método inercial está baseado em uma versão quase completa das equações diferenciais de
escoamento em regime não permanente em rios (as equações de Saint Venant), de acordo com
a proposta de Bates et al. (2010). No método inercial apenas o termo de advecção da equação
dinâmica de Saint-Venant é desprezado, mantendo os termos relacionados às forças de pressão,

26
peso e atrito, além do termo de inércia local, motivo pelo qual recebe o nome de método, ou
modelo, inercial (Fan et al., 2014).
Para resolver as equações diferenciais de Saint Venant simplificadas no método inercial é
aplicado um esquema numérico descrito por Bates et al. (2010), e posteriormente testado e
aprimorado por outros autores (Almeida et. al., 2012; Neal et al, 2012; Almeida e Bates, 2013).
Descrições mais detalhadas do método podem ser encontradas no artigo de Fan et al. (2014),
que apresenta uma descrição do método, com testes em diferentes tipos de rios, e no artigo de
Fassoni-Andrade et al. (2018), que apresenta alguns testes com variações do esquema numérico
aplicado.
No contexto do modelo MGB, o método inercial foi testado na bacia do rio Araguaia por Pontes
et al. (2017), com diversos outros testes e aplicações descritos em outros trabalhos (Fleischmann
et al., 2018; Lopes et al., 2018; Siqueira et al., 2018; Fleischmann et al. 2019).
O método inercial parte das equações de Saint Venant (Equações 46 e 47):

𝜕𝐴 𝜕𝑄
+ =𝑞 (46)
𝜕𝑡 𝜕𝑥

∂(Q2 /A) ∂Q ∂h
+ + gA = gAS0 − gASf (47)
∂x ∂t ∂x

em que 𝑄 é a vazão; 𝐴 é a área da seção transversal ao escoamento; 𝑥 é a distância no sentido


longitudinal; 𝑡 é o tempo; e 𝑞 é a vazão por unidade de largura de contribuição lateral, ℎ é a
profundidade do rio, 𝑆0 é a declividade do fundo do rio; 𝑆𝑓 representa a perda de energia por
atrito com o fundo e as margens; 𝑔 é aceleração da gravidade.
Desprezando o primeiro termo da Equação 47 (equação dinâmica), considerando que o rio tem
uma seção transversal retangular com largura 𝐵 (então 𝐴 = 𝐵. ℎ), e considerando que o valor
de 𝑆𝑓 pode ser estimado pela equação empírica de Manning, como mostra a Equação 48:

𝑄. |𝑄|. 𝑛2
𝑆𝑓 = 4⁄
(48)
𝐴2 . 𝑅 3

a equação dinâmica simplificada fica:

𝜕𝑄 𝜕𝑦 |𝑄|. 𝑄. 𝑛2
+ 𝑔(𝐵. ℎ) + 𝑔(𝐵. ℎ) 4 =0 (49)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 (𝐵. ℎ)2 . 𝑅 ⁄3

onde 𝑄 é a vazão [m³.s-1]; 𝐴 é a área [m²]; 𝑅 é o raio hidráulico [m]; 𝑛 o coeficiente de rugosidade
de Manning; 𝐵 é a largura do rio [m]; ℎ é a profundidade [m].
Finalmente, considera-se que o raio hidráulico (𝑅) é igual à profundidade (ℎ), o que é razoável
para canais naturais, que são muito mais largos do que profundos. Logo, a equação 49 pode ser
modificada e escrita como:

𝜕𝑄 𝜕𝑦 |𝑄|. 𝑄. 𝑛2
+ 𝑔𝐵ℎ +𝑔 7 =0 (50)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 ℎ ⁄3

27
Portanto, o método inercial está baseado na combinação das equações da continuidade (46) e
dinâmica simplificada (50).

6.1.1. Topografia da planície de inundação


Para representar a topografia da planície de inundação, uma curva hipsométrica relacionando a
profundidade do fluxo, a área inundada e o volume de água armazenado na planície e no canal
de uma determinada bacia hidrográfica é obtida através do MDE. Em relação à planície de
inundação, os conceitos do modelo HAND (Rennó et al., 2008) são adotados para calcular o
volume de água que emula o processo de inundação de altitudes mais baixas a mais altas (Paiva
et al., 2011), que é a mesma abordagem adotada em CaMa-Flood por Yamazaki et (2013),
conforme ilustrado na Figura 6.

Figura 6 - Procedimento para calcular o perfil da planície de inundação. Superior: Derivação da grade
HAND usando direções de fluxo, MDE e rede de drenagem. As células brancas e sombreadas
representam pixels localizados na planície de inundação e na rede de drenagem (canal), respectivamente
(adaptado de Rennó et al., 2008). Inferior: a área e o volume da planície de inundação são obtidos
através de incrementos verticais na grade HAND.

Neste método, os pixels caracterizados como canais principais, isto é, sobre a rede de drenagem,
são inicialmente definidos como valores nulos, definindo a interface entre a altura das margens
e a região da planície de inundação. A elevação relativa entre um determinado pixel da planície
de inundação e o pixel do canal a jusante mais próximo é calculada como a altura acima da
margem superior do canal, o que significa que o pixel só será inundado se o nível da água da
planície de inundação (profundidade do fluxo atual subtraído da profundidade do canal do
canal) for igual ou superior a seu respectivo valor HAND.
Assim, a área inundada é calculada somando as áreas individuais de pixels inundados para um
determinado valor de HAND, e o volume de água armazenado na planície de inundação é então
calculado considerando incrementos verticais de acordo com a resolução vertical do MDE. A
Figura 7 mostra uma representação esquemática do canal e da planície de inundação (e seus
parâmetros) para uma determinada bacia hidrográfica.

28
Figura 7 - Representação esquemática do canal e da planície de inundação dentro de uma determinada
bacia hidrográfica. L = comprimento do canal; Dbf = profundidade na margem; Wbf = largura do canal;
hfl = profundidade do fluxo; Afl = área da planície de inundação, expressa em função do valor HAND.

6.1.2. Esquema numérico do método inercial


Na formulação numérica proposta por Bates et al., (2010), o rio é dividido em subtrechos de
comprimento finito Δ𝑥𝑖, conforme representado na Figura 8. As variáveis ℎ (profundidade), 𝑍
(cota do fundo) e 𝑦 (cota do nível da água 𝑦 = 𝑍 + ℎ) são definidas nos centros dos subtrechos.
A variável 𝑄 (vazão) é definida nos contornos de cada subtrecho.

Figura 8: Esquema de trechos de rio e posicionamento das variáveis de acordo com o esquema numérico
adotado no método inercial.

A equação da continuidade é aproximada utilizando um esquema numérico centrado no espaço


e progressivo no tempo, onde a derivada espacial é calculada no centro das células. A equação
dinâmica simplificada é aproximada de forma semelhante, porém a derivada espacial é
calculada nas faces de cada célula.
O resultado da aplicação do esquema numérico às equações 46 e 50 são as equações 51 e 52:

29
((𝑄𝑖𝑡 ) − 𝑔. 𝐵. ∆𝑡. (ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 . 𝑆𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 ))
𝑄𝑖𝑡+1 = (51)
𝑔. ∆𝑡. ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 . (|𝑄𝑖𝑡 |). 𝑛2
(1 + 10⁄ )
( 𝐵. (ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 ) 3 )

(𝑃𝑖𝑡 − 𝐸𝑣𝑞𝑖𝑡 ) ∙ 𝐴𝑓𝑙


𝑡
𝑉𝑖𝑡+1 = 𝑉𝑖𝑡 + [(∑ 𝑄𝑖𝑛
𝑡 𝑡
) − (∑ 𝑄𝑜𝑢𝑡 )+( 𝑖
)] ∙ 𝛥𝑡 (52)
1000

onde 𝑉𝑖𝑡+1 [m³] é o volume total armazenado no canal e planície de inundação na minibacia 𝑖
ao final do passo de tempo; onde 𝑉𝑖𝑡 [m³] é o volume total armazenado no canal e planície de
𝑡
inundação na minibacia 𝑖 no início do passo de tempo; ∑ 𝑄𝑖𝑛 é o somatório de vazões de
entrada no trecho, o que inclui a vazão de trechos de drenagem localizados a montante
𝑡
e a vazão gerada na própria minibacia 𝑖; ∑ 𝑄𝑜𝑢𝑡 é o somatório de vazões de saída; 𝐸𝑣𝑞𝑖𝑡
[mm/Δt] é a perda por evaporação na área inundada; 𝑃𝑖𝑡 é a precipitação direta sobre a área
𝑡
inundada; e 𝐴𝑓𝑙 𝑖
é a área inundada na minibacia 𝑖, no início do intervalo de tempo, o que
inclui a calha do rio e a planície de inundação.
A variável ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 refere-se à profundidade na seção transversal localizada entre a minibacia 𝑖 e
a minibacia 𝑖 + 1, conforme ilustrado na Figura 8. Assim, ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 é estimada pela Equação 53:

ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖𝑡 = 𝑚𝑎𝑥[ℎ𝑖+1
𝑡
+ 𝑧𝑖+1 ; ℎ𝑖𝑡 + 𝑧𝑖 ] − 𝑚𝑎𝑥 [𝑧𝑖+1 , 𝑧𝑖 ] (53)

A variável 𝑆𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖 é a declividade da linha de água. A equação é dada por:

𝑡
(ℎ𝑖+1 + 𝑧𝑖+1 ) − (ℎ𝑖𝑡 + 𝑧𝑖 )
𝑆𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖𝑡 = (54)
𝛥𝑥

As perdas por evaporação são levadas em consideração assumindo a área inundada como água
aberta (isto é, 𝑟𝑠 = 0) e aplicando a equação de Penman-Monteith (Equação 18). Portanto,
quando ocorrem inundações em uma determinada bacia hidrográfica, a área disponível para o
balanço da água no solo é reduzida proporcionalmente a cada URH, enquanto a chuva nas áreas
inundadas produz escoamento superficial de forma direta.
O procedimento de cálculo do método inercial inicia com valores conhecidos das profundidades
h e das cotas do nível da água y em todas as minibacias. A partir daí, são calculados os termos
𝑆𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖𝑡 e ℎ𝑓𝑙𝑜𝑤𝑖𝑡 , segundo as Equações 53 e 54. Com estes valores, é aplicada a equação
dinâmica 49, obtendo o valor da vazão 𝑄𝑖𝑡+1 em todas as mini-bacias. Na sequência, é aplicada
a equação da continuidade (Equação 52) permitindo obter o valor do volume armazenado ao
final do intervalo de tempo em todas as minibacias (𝑉𝑖𝑡+1 ).

A partir de 𝑉𝑜𝑙𝑖𝑡+1 e de uma curva cota x volume calculada previamente em cada minibacia em
uma etapa de pré-processamento, é interpolado um valor de 𝑦𝑖𝑡+1 correspondente ao volume
𝑉𝑜𝑙𝑖𝑡+1 . Finalmente, os valores de profundidade de água nas minibacias são atualizados pela
Equação 55 abaixo.

30
ℎ𝑖𝑡+1 = 𝑦𝑖𝑡+1 − 𝑍𝑡𝑎𝑏𝑖,1 (55)

A partir daí, o método prossegue com a aplicação da equação dinâmica e da equação da


continuidade a cada intervalo de tempo, permitindo calcular os valores de vazão, volume, nível
da água e profundidade em todas as minibacias em todos os intervalos de tempo.

6.1.3. Estabilidade do método inercial


O esquema numérico adotado no método inercial é explícito, e, por isso, está sujeito a uma
restrição do tamanho do intervalo de tempo adotado nos cálculos para evitar instabilidade
numérica.
Isto significa que, o valor de t deve respeitar a condição de Courant-Friedrichs-Levy (CFL), dada
pela Equação 56:

Δ𝑡
(√gh) <1 (56)
∆𝑥

em que 𝑔 é a aceleração da gravidade (m.s-²); ℎ é a profundidade (m); ∆𝑥 é o comprimento do


subtrecho de rio (m); e ∆𝑡 é o passo de tempo de cálculo em segundos.
Isto significa que o intervalo de tempo de cálculo deve ser escolhido de forma a satisfazer, em
todas as minibacias, o critério:

∆𝑥
Δ𝑡 < (57)
√gh

Esta escolha do valor adequado do intervalo de tempo é realizada internamente no modelo MGB
ao longo da simulação. Para isso, a cada passo de tempo de cálculo do método inercial, é
identificada a minibacia com a maior profundidade (ℎ𝑚𝑎𝑥 ), e o valor do intervalo de tempo de
cálculo para o próximo passo de tempo é definido pela Equação 58:

∆𝑥
Δ𝑡 = 𝛼 ∙ (58)
√g ∙ h𝑚𝑎𝑥

em que 𝛼 é um valor menor do que 1, que pode ser definido pelo usuário. Com base em testes
realizados até agora, o valor sugerido é 𝛼 = 0,3.
O critério da Equação 58 é aplicado no modelo MGB a cada intervalo de tempo, durante toda a
simulação. Considerando uma aplicação do modelo, com 𝛼 = 0,3 e em que o valor de Δ𝑥 é
constante e igual a 10 km, e a profundidade máxima varia entre 5 e 10 m, o valor do Δ𝑥 oscila
na faixa entre 5 e 8 minutos, aproximadamente. Isto significa que, tipicamente, os cálculos de
propagação de vazão na rede de drenagem são realizados com um passo de tempo muito
inferior ao passo de tempo dos cálculos de balanço de água no solo, evapotranspiração e
geração de escoamento.

31
6.2. MODELO MUSKINGUM-CUNGE
O modelo hidrológico Muskingum-Cunge é um método simplificado para cálculos de propagação
de ondas de cheia em rios que apresenta bons resultados em rios de declividade relativamente
alta.
O modelo Muskingum-Cunge consiste no tradicional método Muskingum, em que o valor de
cada um dos parâmetros é estimado com base nas características físicas do rio e da onda de
cheia.
Neste método, a vazão de saída de um trecho de rio em um intervalo de tempo qualquer é
relacionada às vazões de entrada e saída no intervalo de tempo anterior e à vazão de entrada
no intervalo atual, segundo a Equação 59.

𝑄𝑅𝑠𝑡+1 = 𝐶1 ∗ 𝑄𝑅𝑒𝑡 + 𝐶2 ∗ 𝑄𝑅𝑒𝑡+1 + 𝐶3 ∗ 𝑄𝑅𝑠𝑡 (59)

onde 𝑄𝑅𝑠𝑡+1 [m³/s] é a vazão de saída do trecho de rio no intervalo 𝑡 + 1; 𝑄𝑅𝑠𝑡 [m³/s] é a vazão
de saída do trecho de rio no intervalo de tempo anterior; 𝑄𝑅𝑒𝑡+1 [m³/s] é a vazão de entrada do
trecho de rio no intervalo 𝑡 + 1 e; 𝑄𝑅𝑒𝑡 [m³/s] é a vazão de entrada no trecho de rio no intervalo
𝑡. 𝐶1 , 𝐶2 𝑒 𝐶3 [-] são coeficientes deste método de propagação e determinados pelas Equações
60 a 62.
2 ∗ 𝐾 ∗ 𝑋 + ∆𝑡
𝐶1 = (60)
2 ∗ 𝐾 ∗ (1 − 𝑋) + 𝛥𝑡

∆𝑡 − 2 ∗ 𝐾 ∗ 𝑋
𝐶2 = (61)
2 ∗ 𝐾 ∗ (1 − 𝑋) + 𝛥𝑡

2 ∗ 𝐾 ∗ (1 − 𝑋) − 𝛥𝑡
𝐶3 = (62)
2 ∗ 𝐾 ∗ (1 − 𝑋) + 𝛥𝑡

onde 𝑋 [-] é um parâmetro adimensional; 𝐾 [s] é um parâmetro de tempo; e 𝛥𝑡 [s] é o intervalo


de tempo de cálculo.
Os parâmetros 𝑋 e 𝐾 do modelo Muskingum-Cunge são relacionados às características físicas
do trecho de rio pelas Equações 63 e 64 abaixo (Tucci, 1998).

1 𝑄0
𝑋= − (63)
2 𝐵0 ∗ 𝑆0 ∗ 𝑐0 ∗ 𝛥𝑥

𝛥𝑥
𝐾= (64)
𝑐0
onde 𝛥𝑥 [m] é o comprimento do trecho de rio; 𝑄0 [m³/s] é a vazão de referência para estimativa
de parâmetros; 𝑐0 [m/s] é a celeridade cinemática; 𝐵0 [m] é a largura do rio e; 𝑆0 [m/m] é a
declividade do trecho.
No modelo MGB o parâmetro 𝑋 é calculado antes do início da simulação em cada trecho de rio,
considerando sua largura, declividade, comprimento e uma vazão de referência. Com base na
vazão de referência é estimada uma celeridade de referência, considerando que o escoamento
ocorre em regime permanente e uniforme. Teoricamente o valor de 𝑋 poderia variar entre 0 e

32
0,5, porém o modelo MGB limita o valor desse parâmetro à faixa entre 0,2 e 0,5, pois valores
abaixo de 0,2 podem resultar em problemas numéricos.
O parâmetro 𝐾 representa o tempo que uma onda de cheia que se propaga com a celeridade
de referência c0 leva para percorrer o trecho de comprimento Δ𝑥.
A vazão de referência é estimada em cada uma das minibacias através da equação de
regionalização 65:

(𝐴𝑑)0,7
𝑄0 = (65)
3

onde 𝐴𝑑 [km2] é a área de drenagem da minibacia em que está localizado o trecho de rio; e 𝑄0
é a vazão de referência [m3.s-1].
A vazão de referência (𝑄0 ) é estimada para cada minibacia, com base na área de drenagem total
a montante da minibacia (𝐴𝑑).
A celeridade de referência c0 é estimada em cada minibacia com base na sua vazão de referência
(𝑄0 ), na largura (𝐵), no coeficiente de manning (𝑛) e na declividade do fundo do rio (𝑆).
Considerando que a seção transversal é retangular, e que o raio hidráulico é igual à
profundidade, a celeridade é obtida pela Equação 66:

5 𝑄00,4 ∗ 𝑆00,3
𝑐0 = ∗ (66)
3 𝑛0,6 ∗ 𝐵00,4

No modelo MGB o método Muskingum-Cunge é aplicado considerando um passo de tempo


horário, mesmo quando o passo de tempo da simulação de balanço hídrico e geração de
escoamento é diário.
A princípio cada minibacia tem um trecho de rio em que deve ser feita a propagação da vazão.
No entanto, quando é aplicado o método Muskingum-Cunge no modelo MGB é realizada uma
verificação da adequação do tamanho do trecho de rio, que pode, em alguns casos, ser dividido
em subtrechos, de acordo um critério descrito em Fread (1993), que sugere um valor ideal para
o comprimento dos subtrechos (Equação 67):

1
𝑐 ∙ ∆𝑡 3 𝑄0 2
∆x𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 ≤ ∙ [1 + (1 + ∙ 2 ) ] (67)
2 2 𝐵0 ∙ 𝑆0 ∙ ∆𝑡 ∙ 𝑐0

Com o valor do comprimento ideal dos subtrechos é possível estimar o número de subtrechos
dentro de uma minibacia a partir da Equação 68:

𝐿𝑖
𝑁𝑖 = (68)
∆𝑥𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙

onde 𝐿𝑖 é o comprimento do trecho de rio que passa através da minibacia 𝑖, 𝑁𝑖 é o número de


subtrechos. O valor final de 𝑁𝑖 deve ser arredondado para o valor inteiro imediatamente

33
superior ao encontrado pela Equação 66, e, com base no valor inteiro de𝑁𝑖 , é calculado o valor
do comprimento real dos subtrechos, pela Equação 69:

𝐿𝑖
∆𝑥𝑟𝑒𝑎𝑙 = (69)
𝑁𝑖

Assim, o trecho de rio de comprimento 𝐿𝑖 é dividido em 𝑁𝑖 subtrechos de comprimento Δ𝑥. Com


base nos valores de 𝑐0 (Equação 66), ∆𝑥𝑟𝑒𝑎𝑙 (Equação 69) e t são calculados os valores de
𝐾 (Equação 64) e 𝑋 (Equação 63) e os valores de 𝐶1, 𝐶2 e 𝐶3 (Equações 60 a 62).

PARÂMETROS DO MODELO
Existem dois tipos de parâmetros no modelo: parâmetros do solo e parâmetros da vegetação.
Historicamente nas aplicações do MGB, os parâmetros da vegetação têm sido adotados como
parâmetros fixos (não-calibráveis) e apenas os parâmetros de solo têm seus valores calibrados.
O índice de área foliar (IAF), por exemplo, têm sido considerado um parâmetro não-calibrável,
associado à URH, porque pode ser determinado com razoável exatidão para um determinado
tipo de vegetação. Os valores do IAF são obtidos da bibliografia e não são calibrados embora
apresentem variação ao longo do tempo. Contudo, alguns parâmetros de vegetação, como por
exemplo a resistência superficial que é um parâmetro conceitual que deve ser estimado de
forma efetiva para toda URH, poderia ser um parâmetro a ser calibrado.
Alguns outros parâmetros são considerados não-calibráveis porque o modelo é pouco sensível
às suas variações, dentro do intervalo de variação esperado. Como é o caso do parâmetro 𝜆, que
é utilizado na equação que descreve o escoamento subsuperficial (28a).
Por outro lado, parâmetros da modelagem hidrodinâmica aos quais o modelo pode ter bastante
sensibilidade (como a largura do rio) não são frequentemente listados entre os principais
parâmetros do modelo pelo fato do módulo hidrodinâmico ter sido implementado
posteriormente ao MGB.
Os parâmetros tidos como “calibráveis” são alterados a cada aplicação do modelo, buscando um
bom ajuste entre os dados observados e calculados. Os parâmetros calibráveis podem ter seu
valor variado de acordo com a URH e para cada sub-bacia. O conteúdo deste material abordará
os principais parâmetros calibráveis do modelo – aqueles aos quais o modelo apresenta maior
sensibilidade – cujo resumo é apresentado na Tabela 1. Uma descrição mais completa dos
parâmetros pode ser encontrada em Collischonn (2001).
Tabela 1 – Resumo de principais parâmetros (calibráveis) do modelo MGB.

Parâmetro Significado Valores típicos

𝑊𝑚 Capacidade de armazenamento de água no solo 10 – 1500 [mm]

Forma da relação empírica entre fração de área


𝑏 0,02 – 1,6 [-]
saturada e armazenamento médio de umidade no solo

34
Parâmetro de escoamento subterrâneo (drenagem
𝐾𝑏𝑎𝑠 muito lenta) – controle de volume na recessão e 0,01 – 5 [mm/dia]
estiagem
Parâmetro de escoamento subsuperficial (drenagem
𝐾𝑖𝑛𝑡 0.01 – 50 [mm/dia]
intermediária)
Fração de 𝑊𝑚 abaixo da qual não há geração de
𝑊𝑐 0,1 [-]
escoamento subterrâneo e subsuperficial
Fluxo de retorno da camada subterrânea para o solo
𝐶𝐴𝑃 0 [mm/dia]
(capilaridade)
Parâmetro para calibração da propagação superficial,
𝐶𝑆 5 – 35 [-]
multiplicativo do tempo de concentração.
Parâmetro para calibração da propagação
𝐶𝐼 20 – 200 [-]
subsuperficial, multiplicativo do tempo de concentração.

𝐶𝐵 Parâmetro de retardo do reservatório subterrâneo 50 – 250 [dias]

7.1. CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DO SOLO (𝑾𝒎)


Este parâmetro influi diretamente sobre o balanço hídrico, porque o volume de água retido no
solo permanece disponível para a evapotranspiração ao longo do tempo em que não é drenado
como escoamento subsuperficial ou subterrâneo. O parâmetro 𝑊𝑚 depende do tipo de solo e
do tipo de vegetação, porque a capacidade de armazenamento depende da profundidade em
que as raízes das plantas podem recuperar a água infiltrada.
A estimativa preliminar de 𝑊𝑚 pode ser feita considerando variáveis como a porosidade do
solo, a profundidade do solo, a profundidade das raízes e a textura do solo. A capacidade de
armazenamento do solo é frequentemente definida como a diferença entre o conteúdo de água
na capacidade de campo e no ponto de murcha.
Considera-se, normalmente, que a capacidade de campo é o conteúdo de umidade retido no
solo após a drenagem por gravidade. Um valor de referência muitas vezes utilizado para definir
a capacidade de campo é o conteúdo de umidade do solo submetido a uma sucção (potencial)
de –33 KPa.
O ponto de murcha permanente é o conteúdo de umidade do solo abaixo do qual as plantas não
mais se recuperam. Um valor de referência muitas vezes utilizado para definir o ponto de
murcha é o conteúdo de umidade do solo submetido a um potencial de –1500 KPa.
Os solos argilosos apresentam maior conteúdo de umidade no ponto de murcha permanente.
Isto ocorre porque a água está mais fortemente retida neste tipo de solos do que em solos
arenosos. Os solos arenosos apresentam menor capacidade de campo do que os solos argilosos
pois são mais facilmente drenáveis. A simples drenagem por gravidade retira mais água de solos
arenosos do que de solos argilosos.
A partir da comum definição de 𝑊𝑚 como a diferença de umidade entre a capacidade de campo
e o ponto de murcha, a capacidade de armazenamento dos solos argilosos é maior do que a de
solos arenosos. Esta definição reflete o ponto de vista agronômico, em que a capacidade de

35
armazenamento é entendida como a quantidade de água que o solo, sujeito a drenagem por
gravidade, pode disponibilizar para as plantas.
No modelo hidrológico, porém, a capacidade de armazenamento do solo é melhor entendida
como a capacidade de absorver a água da chuva gerando pouco ou nenhum escoamento
superficial. Em consequência disso, a melhor estimativa da capacidade de armazenamento para
o modelo hidrológico é a diferença, para o mesmo tipo de solo, do conteúdo de umidade
saturado e o conteúdo de umidade no ponto de murcha. Sob este ponto de vista, os solos
arenosos têm maior capacidade de armazenamento.
Embora existam formas de estimar o parâmetro 𝑊𝑚 diretamente, sua calibração durante a
aplicação do modelo pode ser importante, principalmente se são buscados bons ajustes de
volumes calculados e observados, e este é um dos parâmetros com maior sensibilidade no
modelo. Pelas diversas aplicações do modelo MGB, a faixa de variação comum deste parâmetro
é de 50 a 1000mm, sendo maior para solos arenosos.

7.2. PARÂMETRO DE FORMA DA RELAÇÃO ENTRE ARMAZENAMENTO


E SATURAÇÃO (𝒃)
O parâmetro 𝑏 controla a separação de escoamento superficial até a saturação da capacidade
de armazenamento do solo. O efeito do valor de b sobre o hidrograma simulado é especialmente
claro nos menores picos de cheia. Um aumento no parâmetro 𝑏 faz, portanto, com que um maior
volume de água escoe superficialmente, e menos água infiltre no solo.
Em termos de resultados do modelo, maiores valores do parâmetro 𝑏 aumenta a geração de
escoamento superficial mesmo em eventos de baixa precipitação. Como consequência, o
hidrograma apresenta mais picos em resposta a eventos de precipitação. Além disso, menos
água infiltra, e como o solo permanece mais seco, a evapotranspiração é reduzida, levando ao
aumento da vazão total da bacia. Nos eventos de cheia maiores, que resultam de chuvas mais
prolongadas e intensas, o valor de 𝑏 é pouco importante, uma vez que os picos de vazão ocorrem
porque a chuva encontra o solo com sua capacidade de armazenamento quase que
completamente ocupada.
A calibração do parâmetro 𝑏 é feita de forma a ajustar os picos de vazão observados e calculados
principalmente durante as pequenas cheias. Os valores comumente utilizados para este
parâmetro ficam em torno de 0,12, mas pode chegar a 1,6.

7.3. PARÂMETRO DE DRENAGEM SUB-SUPERFICIAL (𝑲𝑰𝑵𝑻) E


SUBTERRÂNEA (𝑲𝑩𝑨𝑺)
O parâmetro 𝐾𝑖𝑛𝑡 controla a quantidade de água da camada de solo que é escoada
subsuperficialmente e o 𝐾𝑏𝑎𝑠 controla a quantidade de água escoada na camada subterrânea.
Estes parâmetros devem ser calibrados, embora uma estimativa inicial possa ser obtida a partir
de medições locais pontuais de condutividade hidráulica.
Os resultados de algumas simulações mostram, por exemplo, que os valores mais adequados de
𝐾𝑖𝑛𝑡 (de 4 a 40 mm/dia) são sempre muito inferiores aos valores da condutividade hidráulica
saturada dos diferentes tipos de solo.

36
O parâmetro 𝐾𝑏𝑎𝑠 é responsável por controlar os volumes nos hidrogramas durante os períodos
de recessão e estiagem. Grandes valores de 𝐾𝑏𝑎𝑠 implicam, portanto, em fluxos subterrâneos
mais intensos. Tipicamente, os valores desse parâmetro estão entre 0,05 e 5 mm/dia.

7.4. PARÂMETRO DE ARMAZENAMENTO RESIDUAL (𝑾𝒄) E


CAPILARIDADE (𝑪𝑨𝑷)
O parâmetro 𝑊𝑐 limita o escoamento sub-superficial e o escoamento subterrâneo. Trata-se de
um parâmetro pouco sensível em uma faixa razoável de valores e, em geral, seus valores são
fixados em 0,1 – representando 10% de 𝑊𝑚 - e não são calibrados.
O parâmetro 𝐶𝐴𝑃 representa a capilaridade e eventualmente seu valor pode ser alterado para
considerar a possibilidade de um retorno de água subterrânea à camada superficial de solo por
fluxo ascendente. Neste caso, o parâmetro pode ser calibrado ou simplesmente fixado em outro
valor, de forma a permitir o fluxo ascendente da água subterrânea para a camada de solo.
Contudo, em aplicações gerais, normalmente é desconsiderado este efeito e o valor de 𝐶𝐴𝑃 é
mantido nulo.

7.5. TEMPO DE RETARDO DOS RESERVATÓRIOS LINEARES


O valor do parâmetro de retardo dos reservatórios lineares é diferente para cada um dos
reservatórios (subterrâneo – 𝐶𝐵, subsuperficial – 𝐶𝐼 e superficial – 𝐶𝑆). Tipicamente, a vazão do
reservatório subterrâneo responde mais devagar, e a do reservatório superficial mais
rapidamente às variações no volume.
Portanto, o valor de 𝐶𝐵 é maior do que o valor de 𝐶𝑆, e 𝐶𝐼 apresenta um valor intermediário. O
valor do tempo de retardo do reservatório subterrâneo (𝐶𝐵) pode ser obtido analisando os
períodos de recessão do hidrograma e em alguns locais da bacia. Este parâmetro pode ser obtido
pela Equação 70, a seguir.
𝑁𝐷
𝐶𝐵 = − (70)
𝑄
ln ( 𝑄𝐹𝑅 )
𝐼𝑅

onde 𝐶𝐵 [dias] é o parâmetro de retardo do reservatório subterrâneo; 𝑁𝐷 é o número de dias


do período de recessão do hidrograma; 𝑄𝐼𝑅 é a vazão no início da recessão e 𝑄𝐹𝑅 é a vazão no
final da recessão.
Os valores de 𝐶𝑆 e 𝐶𝐼 são obtidos considerando as características do relevo no interior das sub-
bacias. A calibração é complementar a um processo de regionalização, proposto por Bremicker
(1998), que relaciona os parâmetros de retardo às características do relevo no interior da célula.
Para isto é necessário contar com um modelo numérico do terreno com resolução espacial
bastante inferior à resolução espacial do modelo hidrológico.
Para cada minibacia do modelo é calculado um tempo de retardo característico, que é corrigido
durante a calibração por um coeficiente de ajuste adimensional. O tempo de retardo
característico (𝑇𝑖𝑛𝑑) é obtido pela equação de Kirpich, utilizando a diferença entre o ponto mais
alto e o mais baixo do MDT. Os valores de 𝐶𝑆, e 𝐶𝐼 são relacionados diretamente às
características do relevo interno da célula, através da multiplicação pelo 𝑇𝑖𝑛𝑑.

37
A equação que estima o tempo de concentração característico no interior da célula está baseada
na fórmula de Kirpich, embora utilize a largura como o comprimento do canal principal e a
diferença de altura entre os pontos mais altos e mais baixo no interior da célula como ∆𝐻 –
Equação 71.
0,385
𝐿3
𝑇𝑖𝑛𝑑 = 3600 ∗ (0,868 ∗ ) (71)
Δ𝐻
onde 𝑇𝑖𝑛𝑑 [s] tempo de concentração; 𝐿 [km] largura; ∆𝐻 [m] diferença de altura entre os
extremos mais alto e mais baixo.
Desta forma, os valores que são alterados para a calibração são os adimensionais 𝐶𝑆 e 𝐶𝐼,
enquanto o valor de referência, que não se altera, é o tempo de concentração da bacia 𝑇𝑖𝑛𝑑𝑖.
Além disso, a dependência entre os parâmetros de retardo e as características topográficas
fazem com que em regiões planas o valor do tempo de retardo superficial seja superior ao que
ocorre em regiões montanhosas, conferindo ao modelo a capacidade de representar diferenças
regionais em grandes bacias.

7.6. CONDIÇÕES DE CONTORNO


O modelo MGB é um modelo que calcula séries temporais de vazão e outras variáveis
hidrológicas a partir de séries temporais de dados meteorológicos.
Os dados de precipitação e os dados das variáveis meteorológicas necessárias para calcular a
evapotranspiração (temperatura do ar, velocidade do vento, umidade relativa do ar, pressão
atmosférica, e radiação incidente de ondas curtas ou número de horas de sol por dia) constituem
as condições de contorno necessárias para a solução das equações que compõe o modelo.
Para realizar uma simulação com o modelo MGB não é necessário fornecer dados de vazão.
Entretanto, para realizar a calibração dos parâmetros do modelo é necessário utilizar dados de
vazão em alguns locais para comparar com os resultados do modelo.
Como condição de contorno de jusante, considerada para o modelo hidrodinâmico inercial, é
atualmente admitido no código do MGB que a declividade é igual à declividade utilizada na
minibacia anterior. Para este caso também seria possível utilizar outras considerações, como
uma declividade baixa, ou ainda condições de contorno conhecidas, como por exemplo uma
série de maré.

7.7. DADOS DE PRECIPITAÇÃO


Tipicamente a fonte de dados de precipitação utilizados no MGB são arquivos com séries
temporais de chuva diária em postos pluviométricos ou ainda, muitas aplicações do MGB têm
utilizado dados de produtos de sensoriamento remoto para estimativa de precipitação.
Estes dados são interpolados com o objetivo de obter valores de precipitação a cada intervalo
de tempo (dia) em cada uma das minibacias, conforme subitem a seguir.

7.7.1. Interpolação de dados de precipitação


No modelo MGB a interpolação de dados de precipitação, quando utilizados postos
pluviométricos, é realizada a partir das coordenadas dos postos até as coordenadas dos
centroides das minibacias, pelo método do inverso da distância ao quadrado.

38
Para os casos de aplicação com produtos de sensoriamento remoto, é utilizado o método do
vizinho mais próximo a partir das coordenadas do centróide da minibacia e do centro do pixel
do produto.

7.8. OUTROS DADOS METEOROLÓGICOS


Os demais dados meteorológicos são temperatura do ar, velocidade do vento, umidade relativa
do ar, pressão atmosférica, e radiação incidente de ondas curtas ou número de horas de sol por
dia. Estes dados são utilizados para a estimativa da evapotranspiração, utilizando a equação de
Penman-Monteith, e estão tipicamente disponíveis em estações meteorológicas.

7.8.1. Normais climatológicas


Para estimativa de vazões diárias, o modelo MGB é menos sensível à variação diária dos dados
necessários para estimar a evapotranspiração, por esse motivo, em muitas aplicações é possível
utilizar valores de normais climatológicas em estações meteorológicas em substituição aos
dados diários.
Para aplicações no Brasil, o modelo MGB utiliza um conjunto de dados de normais climatológicas
de uma base de dados interna do MGB de Normais climatológicas de 1960- 1990 calculadas pelo
INMET para todo o Brasil, em 394 estações cuja dispersão geográfica encontra-se ilustrada na
Figura 9.
Para estas estações há informações sobre as quatro variáveis necessárias no cálculo da
evapotranspiração no modelo MGB: temperatura [°C], umidade relativa do ar [%], velocidade
do vento [m/s], pressão atmosférica[kPa] e insolação (horas de sol por dia).

Figura 9 – Distribuição espacial das estações climatológicas do INMET disponíveis no banco de dados do
MGB e normalmente utilizadas nas aplicações nacionais do modelo.

39
7.8.2. Base de dados global do Climatic Research Unit (CRU)
Uma segunda alternativa existente na interface de aplicação do MGB para entrada de dados de
clima é a utilização da base de dados global do Climatic Research Unit (CRU), da University of
East Anglia (maiores informações em New et al., 2002).
Os dados do CRU apresentam uma resolução global de 10 minutos. Para utilizá-los, pode ser
realizado o download dos dados pelo site https://crudata.uea.ac.uk/cru/data/hrg/tmc/.
São necessários os produtos: “Elevation”, “Relative Humidity”, “Sunshine”, “Mean
Temperature” e “10m Wind Speed”.

7.8.3. Método de interpolação para outras variáveis meteorológicas


A interpolação espacial dos dados das outras variáveis meteorológicas utilizadas para estimar a
evapotranspiração é realizada utilizando o método do vizinho mais próximo.

CONDIÇÕES INICIAIS
Para iniciar a simulação no modelo MGB algumas condições iniciais são adotadas para algumas
das variáveis de estado do modelo:
Umidade do solo: No início da simulação considera-se que o solo está com um volume
de água referente a 40% de sua capacidade máxima de armazenamento. Isto é, o volume de
água no solo (𝑤) no tempo 𝑘 = 0 é igual a 0,40 ∗ 𝑊𝑚.
Volume no reservatório linear subterrâneo: essa condição inicial é definida junto com
os parâmetros calibráveis do modelo (apesar de não ser um parâmetro calibrável, mas apenas
uma informação inicial de estado do modelo). A entrada desta condição é feita por um valor da
vazão de base inicial em m³/(s.km^2). Nas diversas aplicações do MGB o valor desta condição
inicial costuma ser fixado em 0.01.
Vazão e nível da água nos rios: os fluxos iniciais no modelo são nulos, isto é, o rio
começa absolutamente seco. Por este motivo, no início do período de simulação – período
denominado como de aquecimento do modelo – as estimativas iniciais de vazão são muito
baixas.
Volume nos reservatórios lineares: diferentemente do reservatório linear subterrâneo,
já mencionado, os demais reservatórios lineares (escoamento superficial e subsuperficial e
reservatório para representação da interceptação) começam a simulação vazios, isto é 𝑆𝐹 0 =
0, 𝑉𝑠𝑢𝑝0 = 0 e 𝑉𝑖𝑛𝑡 0 = 0 em todas as minibacias.

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