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VIII ReACT – 22 a 26 de novembro de 2021 – react2021.faiufscar.

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ST17 Alianças para futuros possíveis: diversidades das potências


do agir, associativismos e redes de coletivos sócio-técnicos
Bernardo Curvelano Freire
Laboratório de metodologia, pesquisa e documentação em Antropologia (LaMPDA); Universidade Federal
do Vale do São Francisco (UNIVASF); Rede Autônoma Brasileira de Antropologia (RABA)
bernardo.curvelano@univasf.edu.br

Luciano Cardenes
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Rede
Autônoma Brasileira de Antropologia (RABA)

Em prosseguimento às discussões já mobilizadas pelo tema acerca das "alianças para futuros possíveis", o
presente ST coloca em pauta a composição de coletivos heterogêneos que tenham como objetivo a
resolução/problematização de impasses que apresentam-se como obstáculos para a produção dos próprios
coletivos e seus projetos e vida. Com o advento do antropoceno, a complexidade das tomadas de decisão e
deliberações pragmáticas com vistas nos impasses, por vezes, parece ser a própria tarefa da pesquisa
científica em sua arte de tramar alianças, o que desestabiliza a distinção entre ciência pura e ciência
aplicada, que não passa de uma expressão dos Grandes Divisores modernos. Com o intuito de mapear e
articular diferentes atores e experiências, este simpósio temático tem por objetivo reunir pesquisadores,
ativistas, lideranças de movimentos sociais, associações, organizações de representação política e
comunitária em uma assembleia, para refletir sobre como construir futuros possíveis em comum –
experiências reais ou imaginadas, produção ou articulação de coletivos, redes sócio-técnicas, tecnologias
sociais e outros artefatos. Com isso em vista, são bem-vindas as contribuições de organizações
comunitárias de povos indígenas e comunidades tradicionais, percepções inclusivas e abertas sobre não
humanos numa perspectiva pós-humanista, esforços de intelectuais de coletivos feministas, indígenas,
quilombolas, negros e de pesquisa.
Palavras-chave: redes sócio-técnicas, composição de coletivos, agenciamento, práticas de extensão,
projetos de futuro.

Sessão 1: Composições etnográficas

Ética socioclimática: régua ontoética para metamorfosear novas utopias


Frederico Salmi (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Mestrando no PPG Sociologia - UFRGS
Jensen e Morita (2015, p.85) argumentam que “infraestruturas são espaços onde vários agentes se
encontram […] e produzem novos mundos”. Andrew Barry caracteriza infraestruturas como “máquinas
políticas”. Entendo os instrumentos climáticos - iniciativas e políticas públicas formuladas por uma
diversidade de agentes - como máquinas políticas que possuem efeitos na práxis social tanto para humanos
quanto para além de humanos. Ao analisar os recentes instrumentos climáticos brasileiros (2019-2021)
busquei responder a questão posta por Jensen e Morita: “Como nós podemos viver diferentemente?” (Ibid.,
p.85). No contexto do colapso climático (Beck, 2016) e a partir da noção de reciprocidade ecológica e justiça
multiescala do convivialismo (Internacional Convivialista, 2020) e da ética climática (Gardiner, 2017; Brooks,
2020) apresentarei a “ética socioclimática” como pensamento crítico ontoético e ferramenta analítica
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política. Como pensamento crítico ontoético busquei compreender as iniquidades socioecológicas das
atuais estruturas brasileiras do contexto climático. Iniquidades pautadas por princípios éticos
antropocêntricos neoliberais neoextrativas, ou seja, sem a consideração moral de outros agentes. Como
ferramenta analítica busquei compreender a formulação de instrumentos climáticos pautados por outras
ontologias e outras éticas (Kothari et al., 2019), como as ecocêntricas e multicêntricas. Categorias como
pluralidade decisória, localidade energética, acessibilidade epistêmica e material, naturalidade planejada e
benefício intra/intergeracional (Salmi, 2021) se revelaram eficazes. Lançaram luzes sobre as atuais
máquinas políticas brasileiras - que reproduzem as iniquidades socioecológicas no contexto climático - e
revelaram éticas emergentes para além da cosmovisão antropocêntrica. Princípios éticos emergentes que
geraram minimamente novas possibilidades de práticas socioecológicas, as quais começam a permitir a
convivência entre os vários agentes humanos e não humanos. A ética socioclimática como máquina política
se revela assim como uma possibilidade de deslocar o caminhar antropocêntrico catastrófico para
horizontes utópicos emancipatórios (Beck, 2016) ao permitir futuras alianças entre humanos e além de
humanos no contexto do colapso climático.
Palavras-chave: ética socioclimática, convivialismo, ecologias políticas, alianças pós-neoliberalismos.

Desenhando o entrelaçar do Cerrado goiano com as ruínas: em busca de


uma simbiose possível entre humanos e não humanos
Katianne de Sousa Almeida (Universidade Federal de Goiás)
Doutoranda em Antropologia Social
No cenário atual brasileiro estamos diante a um ataque sistemático às ciências humanas, a desqualificação
do trabalho científico, além do empobrecimento maciço da população e à destruição visceral do meio
ambiente. A partir das provocações evocadas nas reuniões do LABareDA (Laboratório de Antropologia &
Desenho – UFPB), principalmente, por meio das leituras compartilhadas de Histórias de Camille (Haraway,
2016), me senti motivada a desenvolver uma escrita desenhada criativa, ou seja, seguir o desafio de uma
produção viva e irreverente perante as mudanças climáticas irreversíveis e as altas taxas de extinção do
Cerrado goiano. Conforme, exploram os argumentos de Haraway (idem) é preciso responder a questão de
como viver nas ruínas e imaginar uma sintonia entre humanos e não humanos, por meio de posturas
inovadoras. Desta forma, o artigo busca compreender de que forma se pode forjar revoluções ontológicas
para formar parentes. Neste projeto, de compreensão dos conceitos da autora citada quanto a aprender a
costurar colaborações improváveis, o desenho tornou-se uma habilidade sensitiva que desafia as
epistemologias tradicionais de produção do conhecimento científico. Ora, para além da reflexão da
dimensão ficcional de Histórias de Camille, também esteve presente nas produções criativas a dimensão
analítica e a dimensão metodológica, uma vez que uma abordagem minuciosa foi se construindo ao longo
dos debates sobre a teoria do antropoceno e o fazer etnográfico na Antropologia. Isto posto, levando em
conta o estímulo proveniente das leituras, dos debates e da produção dos desenhos, face a face a um
planeta danificado precisamos seguir com o problema fomentando outras formas de pensar que possibilitem
a construção de tessituras criativas. Assim, como apresenta Haraway (2006) e Ingold (2015) a confecção de
redes e ao percorrer caminhos que aproximam as ciências e as artes podemos imaginar um cenário, em
que a resistência criativa torna-se uma prática pedagógica para o fazer-aprender-conhecer prospere por
meio da simbiose de humanos e não humanos.
Palavras-chave: Cerrado goiano, histórias de Camille, desenho, epistemologias, simbiose.
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Etnografia e loucura: implicações epistemológicas do fazer etnográfico no


campo da saúde mental a partir do Hotel da Loucura/RJ
Luciano von der Goltz Vianna (Universidade Estadual do Oeste do Paraná)
Doutorado em Antropologia Social
A partir de algumas questões e problemas originados em meu trabalho de campo com o coletivo do Hotel da
Loucura, pretendo ecoar aqui alguns debates epistemológicos atuais e históricos da Antropologia em torno
do caráter, natureza, limites e horizontes da etnografia. A questão central levantada aqui é aquela que se
pergunta pela possibilidade ou não de grafar, narrar ou interpretar, de alguma forma, a experiência da
loucura ao articular duas ciências que se encontram no campo: a Antropologia e a Psiquiatria Transcultural
praticada nos Teatros Rituais do Hotel da Loucura. Ao narrar sobre as negociações, impasses e alianças
entres essas duas ciências, abre-se a possibilidade de coproduzir uma outra ciência que habita/inventa/cria
outros mundos, realidades ou perspectivas (Roy Wagner, Nelson Goodman). O “método da loucura”, em
prática no Teatro Ritual, ao encontrar a etnografia, a interpela, questionando sua plausibilidade, seus limites
e potencialidades. Uma Antropologia reversa (Roy Wagner) torna-se possível a partir daí, quando o coletivo
do Hotel da Loucura se sente implicado em um fazer antropológico que rompe com os limites daquilo que
chamamos disciplinarmente de “trabalho de campo”. No lugar de tomar os conteúdos gerados e acionados
pelos participantes desse coletivo de pacientes, internos, cientistas e artistas, como metáforas ou
mensagens codificadas de sujeitos conectados conosco por algum chão comum universal, proponho
submeter a exame a prática de pesquisa etnográfica concomitantemente com sua prática (Paul
Feyerabend), montando-a e desmontando-a. Mais detidamente, viso aqui questionar sobre o que fazer com
a incomensurabilidade de mundos existente entre a Antropologia e essas outras realidades, ontologias e
epistemologias que habitam o território vasto da loucura, principalmente quando falar em “etnografia”
pressupõem um texto plausível, com estatuto de verdade e escrito por alguém treinado a centrar-se e
descentrar-se no giro eterno em torno de sua prática narcísica. Portanto, pergunto sobre esse “basta a
etnografia” (Tin Ingold), que ressoa ainda na disciplina, e sobre a possibilidade de fazer Antropologia a partir
da proposta de promover uma saúde mental coletiva entres todos os seres, defendida e aplicada pelo
coletivo do Hotel da Loucura.
Palavras-chave: Etnografia, Hotel da Loucura, Epistemologia, Saúde Mental.

Sessão 2: Sobre o futuro das alianças e a composições-limite das vidas


possíveis

Compondo coletivos inclusivos: experiências de associações parciais e


perspectivas para amplas associações
Carla Grião (Universidade de São Paulo)
Mestranda em Culturas e Identidades Brasileiras - USP
Cláudio Bernardino Junior (Universidade de São Paulo)
Mestre em História Social - USP
Este é um trabalho que explora as aproximações dos estudos da deficiência com a antropologia das
ciências e das técnicas, campos distintos, porém com intersecções passíveis de serem exploradas. A
pesquisa parte de três narrativas a respeito de inserções parciais em coletivos que possuem, a princípio,
poucas traduções capazes de garantir acesso amplo aos benefícios sociais: a história de uma mulher com
poliomielite de classe média que, nos anos 1980, tentava levar uma vida com autonomia na cidade de São
Paulo enquanto militava em um coletivo de pessoas com deficiência que lutava por reconhecimento e
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inclusão na sociedade paulistana; a experiência de uma mulher de meia idade que vive no Espirito Santo,
possui baixa visão e tenta produzir uma dissertação de mestrado para um programa de pós-graduação em
uma universidade federal; e a mãe de uma criança com paralisia cerebral, moradora de uma região pobre
na periferia de São Paulo, que precisa sustentar a família ao mesmo tempo em que se responsabilizar tanto
pelos cuidados diários da filha quanto pela sua educação formal, exigência que se tornou perene durante
isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19. A partir das descrições de realidades
aparentemente tão distintas, buscaremos compreender as associações e traduções que compõe os
coletivos em que essas mulheres estão inseridas, levantando hipóteses a respeito dos valores morais e
sociais que circulam pelas conexões de suas respectivas redes sociotécnicas. Concluiremos explorando as
potencialidades de inserção de novas traduções, por meio de tecnologias assistivas, próteses, planejamento
urbano e arquitetônico etc., capazes de criar coletivos mais acessíveis com circulação de valores pautados
na democracia e na inclusão. Desta forma, objetivamos chamar atenção para as pessoas com deficiência
enquanto minoria social cujas especificidades precisam ser levadas em conta para a composição do
coletivo. A baixa adesão que o assunto recebe nos campos acadêmicos brasileiros justifica a proposição
desse debate em um simpósio de antropologia.
Palavras-chave: Pessoas com deficiência; Acessibilidade; Tradução; Redes Sociotécnicas.

Colectivos heterogéneos y política: análisis de una experiencia de Economía


Social y Solidaria
Pablo Piquinela (Facultad de Psicología, Universidad de la República - Uruguay)
Mestre en Psicología Social - Universidad de la República
La exposición presentará el análisis de una experiencia de Economía Social y Solidaria en Montevideo,
Uruguay. Para abordar dicha experiencia, se realizó una etnografía multisituada durante 2018 que sirvió
como trabajo de campo para la elaboración de la tesis de maestría “Materialidad y política: la carpa de
economía social y solidaria como un manifiesto”. La etnografía permite pensar la experiencia a través de su
puesta en práctica y sus efectos en lugar de partir de sus determinaciones formales. Asimismo, es una
herramienta que habilita procesos de pensamiento en torno a las prácticas y qué mundo posible están
practicando. La experiencia de la carpa de Economía Social y Solidaria, en su itinerancia por la ciudad de
Montevideo, se nos presenta como la emergencia de un objeto político que constituye un espacio de
practicabilidad de un sistema de valorización. Así, esta experiencia no trata de ser una alternativa global ni
final al capitalismo sino que propone la puesta en práctica de una serie de encuentros y relaciones que no
parte de la idea de maximización de las ganancias como modo de producción de valor. Estos modos de
intercambio significan mucho más que eso, teniendo en cuenta que la propuesta de la carpa se constituye
como un espacio que porta y traslada un nuevo modo de proponer la vida, concretan nuevas relaciones
sociales. En este sentido, la investigación tuvo por objetivo la comprensión de este fenómeno en su carácter
político. En su análisis se presenta el modo en que la carpa se practica a partir de una trama de relaciones
materiales que hacen a un entramado afectivo que conforma la carpa a modo de composición. Dicha
práctica también supone el ejercicio de la Economía Social y Solidaria como un complejo entramado de
acciones que se constituye en su practicabilidad, generando una ecología de prácticas entre posiciones
políticas, saberes expertos, saberes militantes, legados familiares, materiales y oficios que se compone
como un colectivo heterogéneo y que hacen a un modo muy específico de entender y practicar una forma
de vida. La idea de que Otro Mundo es Posible, se presenta en la experiencia no como un fin o propósito
sino como la puesta en práctica de otro modo de organizar la realidad. Se puede decir, por tanto, que se
trata de una idea cosmogramática (Tresch, 2005), en la medida en que nos propone ciertas relaciones entre
objetos, prácticas y personas que dan lugar a un mapa completo del mundo.
Palavras-chave: Economía social y solidaria, Política, Valorización.
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O encarceramento feminino no Brasil como engrenagem de morte: entre o


abandono, o afeto e a sobrevivência
Rebeca de Souza Vieira (Universidade Federal de Santa Catarina)
Mestranda em Antropologia Social - UFSC
Ismael Higor Cardoso Duarte (Universidade Federal de Santa Catarina)
Mestrando em Antropologia Social - UFSC

Diante do crescimento do encarceramento massivo no Brasil, a população prisional feminina aumentou


fortemente nas últimas duas décadas, tal cenário é constituído majoritariamente por mulheres negras, que
se encontram alocadas em outros marcadores sociais de vulnerabilidade, deste modo, agrupam
interseccionalidades, que são essenciais para os estudo que vão contra a lógica hegemônica do sistema,
em especial nos países colonizados, como o Brasil, no qual os povos negros eram trazidos para serem
feitos de escravos e substrato da exploração desumana; com a abolição da escravidão, estes foram
alforriados, mas não foram incluídos nas estruturas sociais como indivíduos possuidores de direitos, assim,
invisibilizados diante da elite branca brasileira, que criava mecanismos que impossibilitaram as condições
de vida da população negra no país, tais que refletem até hoje em engrenagens de morte. A pesquisa visa
observar os impactos do cárcere e da quebra das relações entre internas e suas famílias na manutenção da
vida, principalmente, no período da pandemia da covid-19, sendo possível assim perceber como as redes
criadas pelas famílias conseguem driblar as engrenagens de morte e descaso criadas no sistema carcerário
penal e como as mulheres no sistema sofrem as caudas do abandono quando não existem essas redes. A
crise, por conta da pandemia da covid-19, tem gerado uma ampliação dos efeitos nefastos do cárcere, como
a falta de assistência médica adequada, a suspensão de visitas por longos períodos que acarretaram na
falta de produtos de higiene, remédios, alimentos e consecutivamente na manutenção do vínculo afetivo das
internas com suas famílias e da vida. Assim, a pesquisa propõe o seguinte questionamento: de que forma
as visitas influenciam na manutenção da vida de mulheres que estão encarceradas e quais as implicações
da pandemia da Covid-19 nesta dinâmica?. Para responder a tal questionamento, a abordagem será a
qualitativa, combinada com o método indutivo, considerando uma parcela de casos específicos com o apoio
dos procedimentos bibliográfico e documental.
Palavras-chave: Encarceramento feminino e vulnerabilidades; manutenção da vida; rede familiar de apoio.

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