Você está na página 1de 5

fls.

247

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000939173

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000487-07.2017.8.26.0244 e código 134027F8.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1000487-07.2017.8.26.0244, da Comarca de Iguape, em que são apelantes
CLAYTON JOSÉ VIEIRA e ANA PAULA SIMÕES VIEIRA, é apelado
PREFEITURA MUNICIPAL DE ILHA COMPRIDA.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GERALDO EUCLIDES ARAUJO XAVIER, liberado nos autos em 17/11/2020 às 18:05 .
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 14ª Câmara de Direito
Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores OCTAVIO


MACHADO DE BARROS (Presidente) E JOÃO ALBERTO PEZARINI.

São Paulo, 17 de novembro de 2020.

GERALDO XAVIER
Relator
Assinatura Eletrônica
fls. 248

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação 1000487-07.2017.8.26.0244
Apelantes: Clayton José Vieira

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000487-07.2017.8.26.0244 e código 134027F8.
Ana Paula Simões Vieira
Apelado: Município de Ilha Comprida
Comarca: Iguape
Voto 47. 139.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GERALDO EUCLIDES ARAUJO XAVIER, liberado nos autos em 17/11/2020 às 18:05 .
Apelação. Ação declaratória de inexistência de relação
jurídico-tributária com pedido cumulado de repetição de
indébito e de indenização por danos morais. Imposto predial
e territorial urbano. Exercícios de 2015 a 2017. Alegação de
incorreção da base de cálculo adotada pelo município para
lançamento do tributo. Improcedência. Área de preservação
ambiental. Limitação administrativa ao direito de
propriedade. Ônus a ser suportado pelo titular do domínio.
Aplicação dos princípios da função social da propriedade,
da preservação e conservação do meio ambiente e da
supremacia do interesse público sobre o particular. Sentença
mantida. Recurso denegado.

Cuida-se de ação declaratória de inexistência


de relação jurídico-tributária com pedido cumulado de repetição de indébito e
de indenização por danos morais proposta por Clayton José Vieira e Ana Paula
Simões Vieira em face do município de Ilha Comprida.
Sustenta-se ilegítima a cobrança do imposto
predial e territorial urbano dos exercícios de 2015 a 2017 em virtude de
impossibilidade de exploração econômica dos imóveis, por tratar-se de área de
preservação ambiental.
Julgado improcedente o pedido, apelam
tempestivamente os autores: reiteram o argumento antes expendido e requer
inversão do resultado do julgamento.
Recebido e processado o recurso, nas
Apelação Cível nº 1000487-07.2017.8.26.0244 -Voto nº 2
fls. 249

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

contrarrazões argumenta-se correta a sentença, pugna-se por sua manutenção.


Eis, sucinto, o relatório.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000487-07.2017.8.26.0244 e código 134027F8.
O reclamo não comporta abrigo.
Com efeito.

Malgrado os argumentos expendidos


pelos apelantes, a sentença está correta, no tocante às

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GERALDO EUCLIDES ARAUJO XAVIER, liberado nos autos em 17/11/2020 às 18:05 .
preliminares aduzidas pelo recorrente inclusive; ela há de
prevalecer por seus próprios fundamentos, nos termos do artigo
252 do Regimento Interno da corte, “in verbis”:
Art. 252. Nos recursos em geral, o
relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão
recorrida, quando, suficientemente motivada, houver de mantê-
la.”
No sentido da possibilidade de
adoção das razões de decidir da sentença como fundamento do
acórdão, também já se manifestou o Superior Tribunal de
Justiça:
“PROCESSUAL CIVIL -
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS ARTS. 535 E 475, II, DO
CPC - ADOÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA
COMO RAZÃO DE DECIDIR - POSSIBILIDADE. 1. Em
nosso sistema processual, o juiz não está adstrito aos
fundamentos legais apontados pelas partes. Exige-se, apenas,
que a decisão seja fundamentada, aplicando o magistrado ao
caso concreto a legislação considerada pertinente. 2. Não
Apelação Cível nº 1000487-07.2017.8.26.0244 -Voto nº 3
fls. 250

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

incorre em omissão o acórdão que adota os fundamentos da

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000487-07.2017.8.26.0244 e código 134027F8.
sentença como razão de decidir. 3. Recurso especial improvido”
(recurso especial 592.092 / AL, relatora Ministra Eliana
Calmon).
Alegam os autores que os imóveis sobre os

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GERALDO EUCLIDES ARAUJO XAVIER, liberado nos autos em 17/11/2020 às 18:05 .
quais incidem o tributo situam-se em área de preservação ambiental.
As áreas de preservação permanente são
protegidas para conservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica, a biodiversidade, o solo, o fluxo gênico de fauna e flora e o bem-
estar das populações humanas (artigo 1º, § 2º, II, do Código Florestal
Brasileiro Lei 4.771/65). Legalmente instituídas pelo Poder Público, são de
domínio público ou privado.
As limitações impostas às áreas de
preservação permanente não inviabilizam de todo o exercício do direito de
propriedade; têm por escopo fazer cumprir o princípio constitucional da
função social da propriedade (artigo 170, VI, da Constituição Federal).
Eis, a propósito, o que diz a Promotora de
Justiça Anelise Grehs Stifelman, especialista em Direito Ambiental Nacional e
Internacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul:
“(...) os espaços considerados como de
preservação permanente podem estar no domínio público ou privado e limitam
constitucionalmente o direito de propriedade com base no princípio da função
social da propriedade (art. 170, VI, da CF).
“Desse modo, não há que se falar em
desapropriação de área de preservação permanente, pois esta não inviabiliza
totalmente o exercício do direito de propriedade, sendo um ônus social a
restrição consistente na obrigação de preservar a vegetação natural.
“Nesse aspecto, urge que os proprietários de
áreas de preservação permanente situadas em aglomerados urbanos sejam
Apelação Cível nº 1000487-07.2017.8.26.0244 -Voto nº 4
fls. 251

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

conscientizados sobre a importância destas como verdadeiros instrumentos de


ordenamento territorial com a finalidade não apenas de preservar as margens

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000487-07.2017.8.26.0244 e código 134027F8.
dos recursos hídricos, garantir a recarga dos aqüíferos e a drenagem urbana,
mas também para garantir a existência de corredores ecológicos que propiciem
a conectividade de unidades de conservação de proteção integral e evitem o
isolamento das espécies, medidas fundamentais para a garantia da

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por GERALDO EUCLIDES ARAUJO XAVIER, liberado nos autos em 17/11/2020 às 18:05 .
biodiversidade.” (in “Meio Ambiente e Acesso à Justiça Flora, Reserva
Legal e APP”; organizadores: Antonio Herman Benjamin, Eládio Lecey e
Sílvia Cappelli; teses de profissionais, Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, São Paulo, volume 1, página 102).
De concluir, pois, pela incidência do imposto
no que entende com imóveis situados em área de preservação permanente. É
que há limitação, mas não supressão do direito de propriedade. Cuida-se de
ônus a ser suportado pelo titular do domínio com vistas à proteção do meio
ambiente.
Em suma: incide o imposto sobre os imóveis
dos apelantes, conquanto supostamente parte da área seja de preservação
ambiental. A limitação administrativa ao domínio encontra arrimo nos
princípios da função social da propriedade, da preservação e conservação do
meio ambiente e da supremacia do interesse público sobre o particular.
Em suma: ao decisório “a quo” não se pode
pôr emenda.
Posto isso, nega-se provimento ao apelo e
mantém-se, qual lançada, a sentença. Majora-se a verba honorária de
sucumbência para 11% (onze por cento) do valor da causa (artigo 85, § 11, do
Código de Processo Civil).

Geraldo Xavier
Relator

Apelação Cível nº 1000487-07.2017.8.26.0244 -Voto nº 5

Você também pode gostar