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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Programa de Pós-Graduação em Letras


Linguística e Língua Portuguesa

Monika Nascimento de Almeida dos Santos


Mônica Leão

(???)
Trabalho apresentado à disciplina de
Teoria Sintática, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.

Prof. Orientador: Milton do Nascimento

BELO HORIZONTE
2009

1
I. INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende apresentar e discutir aatravés das abordagens da
gramática gerativa e da normativa sobre a voz passiva em frases do jornal
Super Notíciai . Este jornalque possui manchetes chamativas e abordagens de
vários assuntos, possui uma linguagem popular, superficial e menos politizada,
pois seu alvo é o público popular, direcionado as classes menos favorecidas. A
voz passiva nesse contexto é relevante para um estudo sistemático, porque
refletiria XXX
Analisaremos essas concepções tendo como foco a competência lingüística do
ser humano porque é o conhecimento que temos de nossa língua materna,
bem como o uso concreto da língua nas mais variadas situações que
corresponde à performance.
Abaixo, explico o que é Língua-I e Língua-E, Competência e Desempenho. Este texto, eu já
tinha enviado para o Milton. Espero que possa ajudá-las, pois acho as minhas formulações
sobre Chomsky estão enxutas:
Chomsky, ao elaborar uma Teoria da Linguagem, tinha como objetivo organizar mais
claramente e metodologicamente os grandes conflitos que ostentavam as concepções de
Aquisição de Linguagem, na década de 50, e, consequentemente, desenvolver uma teoria da
linguagem adequada às condições lingüísticas, que explicava esta aquisição, na medida em
que tentaria, também, explicar o “Problema de Platão1”. Em 1967, ele escreveu seu primeiro
trabalho,2 que tinha como objetivo levantar um contraponto sobre a forma da aquisição de
linguagem que perdurava naquele momento 3. Segundo ele: “as crianças nascem com uma
predisposição natural biologicamente condicionada para a aquisição da linguagem e que a
simples exposição a uma língua é suficiente para desencadear o processo de aquisição”. Isso
para a época era considerado algo revolucionário, pois nenhum lingüista tinha, até o momento,
defendido Aquisição da Linguagem como um processo cérebro/mente. Depreendia, também,
que as crianças aprendem um vocabulário de uma língua e constroem uma gramática
descritiva adequada com bases em dados limitados e ambíguos, mas elas próprias (as
crianças) não sabem e não conseguem descrever como essas coisas funcionam realmente em
suas mentes.
Juntamente com esse trabalho, foram desenvolvidos outros, porém, os que têm maior
importância histórica para a Teoria Gerativa nas décadas de 50 a 70 são: Syntactic Structures

1
A questão do “Problema de Platão”seria: como as crianças aprendem um língua e fazem novas
construções lingüísticas tão rapidamente com tão poucos dados.
2
“Review of B. F. Skinner’s Verbal Behavior”. IN: Leon A. Jakobovits and Murray S. Miron (eds). Readings
in the Psychology of Language, Prentice-Hall, 1967, p. 142-143.
3
Behaviorismo: restrição da psicologia ao estudo objetivo dos estímulos e reações verificadas no físico,
com desprezo total dos fatos anímicos; condutismo. (BARSA, 2005)

2
(1957), Aspects of the Theory of Syntax (1965) e Logical Structure of Linguistic Theory (1975),
que tinham o propósito de responder às seguintes questões:

 O que constitui e a natureza do conhecimento da língua?


 Como é adquirido o conhecimento da língua?
 Como é usado o conhecimento da língua?

Mediante isso, foi desenvolvido um projeto de estudos e pesquisas que esclarecesse


estes problemas, pois, foi e é uma condição básica de uma gramática gerativa explícita,
explicar e construir regras ou princípios que subjazem um aparato mental como base para
aquisição de língua humana, ou seja, é o objetivo dos chomsknianos construir uma teoria
lingüística que explicitasse as regras de aquisição de língua e, em seguida, torná-las descritivo-
explicativas.
Chomsky considera a língua como “um espelho da mente” e isso significa dizer que a
língua comanda toda a razão humana, no sentido de que ela é e faz parte da própria natureza
do homem como indivíduo. A procura pela explicação da aquisição de linguagem, levou-o à
percepção de que as línguas devem ter algo de semelhante, (CHOMSKY, 1997), porque se
houvesse demasiada variabilidade isso dificultaria o próprio aprendizado pela criança. Porém, o
que se observa é que a criança, que está aprendendo uma língua, apesar da grande
complexidade de expressões e construções lingüísticas, de uma determinada língua, ela
aprende tudo num período de até 5-7 anos, muito rapidamente, consegue absorver toda a
gramática desta língua e ainda suas propriedades mais específicas.
Dentro destas questões, enquanto alguns defendem uma lingüística descritiva, de
natureza taxionômica, a lingüística gerativa tem por finalidade ir além da explicitação de um
quadro classificatório,pretende explicar os fatos, apresentando uma visão formalizada da
própria constituição da língua humana, isto quer dizer, focalizar a ‘competência lingüística’ de
um falante/ouvinte. Seu escopo principal é chegar aos universais da linguagem, característicos
em qualquer língua, a ‘faculdade de linguagem’. Estes princípios constitutivos de qualquer
língua, elemento comum em qualquer língua humana seria chamado de Gramática Universal
(GU). Para Chomsky (1986), a GU deve ser caracterizada como um elemento da faculdade da
linguagem de qualquer indivíduo como um mecanismo geneticamente determinado, um
componente da mente que capacita o homem a adquirir a linguagem, originando uma
linguagem particular (Gramática Particular – GP), decorrente das experiências lingüísticas e de
vida dessa pessoa, no seu meio social.
O conhecimento internalizado da língua neste modelo de gramática é chamado de
“competência”, porque o falante tem um mecanismo cognitivo altamente desenvolvido em sua
configuração genética que o possibilita formar sons, palavras, sintagmas e orações,
combinando-os para produzir todo tipo de manifestação lingüística. O falante tem, também,
capacidade de entender e produzir elementos de sua própria língua, distinguindo elementos
que não fazem parte dela, assim como construções com mal-formação. Isso indica que além da

3
competência que lhe é universal, existem parâmetros da aquisição dentro de uma mesma
língua em relação às outras. Desta forma, várias gramáticas são elaboradas a partir de vários
parâmetros construindo-se o que pode se dizer de Gramáticas Particulares (GP). E é dentro de
determinados meios sociais que o falante tem a capacidade de adequar sua propriedade
lingüística dentro de vários contextos linguageiros em seu uso real, isso na teoria é designado
como “desempenho”. Competência se torna o fruto de toda investigação científica da Teoria
Gerativa, pois dela depreende a capacidade de entender e produzir um número finito de frases,
inconscientemente determinadas por uma GU. Essa produção e interpretação de frases é o
que permite a comunicação lingüística de um povo, sendo que o seu uso real em situações
concretas depende de elementos externos, sociais, ou seja, do desempenho lingüístico desse
mesmo falante em situações reais do uso da fala na e para a sociedade.

Para tanto, um quadro teórico metodológico explicativo proposto por Chomsky (1986)
demonstraria que as línguas são construídas dentro de uma língua externa (Língua-E),
construto social e conjunto de ações e comportamentos, e de uma língua interna, equivalendo
a uma GP, e (Língua-I), elemento que existe na mente humana, daquele que conhece a língua,
algo interno do cérebro-mente, respectivamente, uma GU.

Para Chomsky, esclarecer as questões acima é necessário encarar uma entidade


abstrata de um estado de faculdade da linguagem como sendo um componente da mente
(Língua-I). A gramática generativa pretende, por esses aspectos, representar aquilo que uma
pessoa sabe quando usa uma língua, ou seja, aquilo que foi aprendido por princípios inatos,
justamente, a Língua-I, e considerá-la como algo que o lingüista deve caracterizar, propondo
descrições teóricas das propriedades de seus mecanismos constitutivos num nível de
abstração de suas representações lingüísticas. Este tipo de análise também pode ser
interpretada também como uma pesquisa mentalista do estudo da linguagem. Deste modo,
pretende-se, também, caracterizar a GU que particulariza esses princípios inatos
biologicamente, constituindo um componente da mente humana – a faculdade da linguagem.

Numa tentativa de elaborar uma teoria mais concreta sobre estes fenômenos, foi
desenvolvido um quadro teórico chamado Teoria dos Princípios e Parâmetros (Lectures on
Government and Binding, 1981), pressupondo que “os princípios” são dados uniformes em
todas as línguas naturais da mente humana e que se expressam numa GU, e “os parâmetros”
são as escolhas permitidas dentro de cada sistema lingüístico de determinada língua. O que
Chomsky (1997) considera crucial neste tipo de abordagem é um conjunto de postulados que
propõe a organização modular da língua, sendo este um conjunto de módulos independentes e
organizados de forma interativa. Cada módulo é constituído por um conjunto de princípios, e de
parâmetros, de uma determinada língua e devem ser satisfeitos por determinados níveis de
representação (estrutura-S, estrutura-P, Forma Lógica, Forma Fonológica).
Na perspectiva dos Princípios e Parâmetros, quando a pessoa nasce sua mente já
possui todos os aspectos para uma Faculdade de Linguagem, o que Chomsky (1986) chama
de “estado-inicial – E0”. Durante sua vida, o falante desenvolve sua língua para um “estado-final

4
– EF”, que é marcado pelas experiências lingüísticas da vivência, porém esse estado continua a
se desenvolver no falante por toda sua vida, em todo o seu aprendizado na interação social.

2. A GRAMÁTICA GERATIVA

O gerativismo é uma corrente de estudos da ciência da linguagem que teve


início nos Estados Unidos, no final da década de 50, a partir dos trabalhos do
lingüista Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de
Massachussets, o MI.

Ao longo desse meio século, o gerativismo passou por diversas modificações e


reformulações, que refletem a preocupação dos pesquisadores dessa corrente
em elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de
descrever e explicar abstratamento o que é e como funciona “o componente
biológico da espécie”, conforme Chomsky (2006. p.10), - a linguagem humana.

A gramática gerativa assume que os seres humanos nascem dotados de uma


faculdade da linguagem, que é um componente da mente/cérebro
especificamente dedicado à língua.Essa faculdade da linguagem, em seu
estado inicial, é considerada uniforme em relação a toda a espécie humana.
Isso significa que todas as crianças, venham a ser falantes de português, inglês
ou do chaggaii, são dotadas da mesma faculdade da linguagem e partem do
mesmo estado inicial o qual tem sido chamado de Gramática Universal. Esse
estado inicial é modificado à medida que a criança é exposta a um ambiente
lingüístico específico. Assim, uma criança que cresce num ambiente em que se
fala português desenvolve o conhecimento dessa língua, a partir da interação
da informação genética que ela traz no estado inicial de sua faculdade da
linguagem com os dados lingüísticos a que é exposta.Esse conhecimento
permite às crianças, e somente elas, a construírem todas as sentenças
possíveis de sua língua.(KENEDY, 2008, págs. 128-129)

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Sob este ponto de vista assume-se o princípio de que nenhuma Língua é
ensinada ao ser humano, pois sua aquisição não se limita a adquirir estruturas
linguísticas externas .A mente não é um reservatório a ser preenchido com
elementos exteriores, mas um organismo a ser estimulado e incitado à
aquisição do conhecimento.

Assim, hoje admite-se que a Gramática Universal é constituída de princípios


universais, alguns dos quais contêm parâmetros, pontos de escolha que podem
ser fixados de uma determinada maneira limitada.Isto é, a criança nasce pré-
programada com princípios universais e um conjunto de parâmetros que
deverão ser fixados ou marcados de acordo com os dados da língua a que a
criança está exposta. Ela não escolhe as regras, mas valores paramétricos.
Como exemplo, partindo da concepção de que todas as frases indistintamente
da língua requerem um sujeito, contudo esse sujeito, papel temático iii4 de
agente, não precisa ser explícito, sendo esse o parâmetro a ser fixado. A
criança, dependendo do sistema lingüístico em que se encontra, decidirá se o
sujeito deve ou não constar obrigatoriamente na frase realizada.

No exemplo (1) “Segundo a assessoria do HPS, o globo ocular do menino foi


extraído durante cirurgia e uma prótese foi colocada para cumprir o papel
estético.” (Super Notícia, 25/09/09) o papel temático de agente é opcional
(CYRINO, NUNES, PAGOTTO, 2009,p.7). Conforme Chomsky (2006, p. 18),
“adquirir uma língua, portanto, significa selecionar, entre as opções geradas
pela mente, as que combinam com a experiência e descartar as outras”.

2.1. A VOZ PASSIVA NA VISÃO DA GRAMÁTICA GERATIVA

Segundo Chomsky (2006, 16-18), não há nenhum sistema de regras proposto


para cada língua quando se fixa os parâmetros da Gramática Universal; as
estruturas são computadas diretamente pelos princípios desta Gramática e as
escolhas paramétricas são particulares. A voz passiva é um caso específico de
construção de regra. A construção passiva decompõe-se em operações mais
elementares, uma parte morfológica, uma operação em grades temáticas e um
4

6
deslocamento. Para ilustrar essas ocorrências passivas, explicaremo-las nas
frases retiradas do jornal Super Notícia.

(1) Jovem de 20 anos tenta defender amigos e é assassinado a facadas


por um garçom, na porta de casa de show, no Sul de Minas. (16/06/09).
(2) Foram presas 17 pessoas, sendo 15 jogadores, a maioria acima de 50
anos, e dois funcionários. (25/09/09)

Para explicar a construção da voz passiva, (CYRINO, NUNES, PAGOTTO,


2009, pág.1) adotam uma noção de complementação que toma os eixos
semânticos e sintáticos como complementares. As generalizações semânticas
são determinadas pelas três especificações de entrada lexical de um verbo, a
saber: (i) quantos (de zero a três) são os argumentos iv que esse verbo requer,
(i) qual é o papel temático v (agente, paciente, experienciador etc) desses
argumentos; e (iii) qual é a realização sintática (sintagma nominal, sintagma,
sintagma preposicional etc) de tais argumentos. Nesse tipo de construção
verbal, o pape temático de agente é opcional e, se presente, é realizado
estruturalmente como um adjunto (o agente da passiva na terminologia
tradicional e na ).

No exemplo (1) jovem de 20 anos recebe, semanticamente, o Papel Temático


de paciente;o verbo assassinar da locução verbal é assassinado perde sua
capacidade de atribuir caso acusativovi ao seu complemento.O argumento
interno dessa passiva jovem de 20 anos, na verdade, funciona como o sujeito
sintático da sentença, determinando a concordância com o verbo auxiliar e
exibindo o Caso Nominativo (sujeito). O Papel Temático de agente é um
garçom funciona sintaticamente como um argumento externo da sentença.
Se você dizer que o verbo perde a capacidade de atribuir acusativo, então você
pode dizer que as passivas são construções inacusativas.
[O garçom] assassinou [um jovem de 20 anos] [a facadas]
AGENTE PACIENTE INSTRUMENTO

Desta forma, a morfologia passiva, (CHOMSKY, 2006, pág. 17) intercepta a


atribuição do papel temático externo (agente, no exemplo acima) dado a

7
posição do sujeito e opcionalmente o desvia para a frase por, destematizando o
sujeito, esse processo também impede a atribuição de Caso ao objeto; assim,
o objeto deixado sem Caso desloca-se para a posição de sujeito.

No exemplo (2), o Papel Temático de paciente está posposto à locução verbal


e não encontramos Papel Temático para o agente da frase. Na voz passiva o
Papel Temático de agente é opcional, conforme CYRINO, NUNES, PAGOTTO,
2009, pág.6.

Na coleta de frases do Super Notícia, verificou-se uma grande quantidade de


sentenças com omissão de Papel Temático de agente por se tratar de recurso
sensacionalista da linguagem jornalística.

(3) Dois jovens foram assassinados de madrugada em boates de regiões


diferentes de BH. PM acredita que crimes possam ter ligação.(09-09.09)

(4) Adolescente de 13 anos é atingida por tiro nas costas quando chegava
ao colégio em Xangrila. (08/07/09)

(5) No dia em que completou 29 anos de idade, guarda municipal de BH é


salvo da morte, ele foi atingido por um tiro no peito. (17/06/09)

3. A GRAMÁTICA NORMATIVA

Neste capítulo, apresentamos estudos de vozes verbais expostos na gramática


normativa que é conhecida no ambiente acadêmico como gramática tradicional.
Conforme Travaglia (1995, pág. 30-32) é a gramática que estuda apenas os
fatos da língua padrão, da norma culta de uma língua, norma essa que se
tornou oficial. Baseia-se, em geral, mais nos fatos da língua escrita e dá pouca
importância à variedade oral da norma culta, que é vista, conscientemente ou
não, como idêntica à escrita. Ao lado da descrição da norma ou variedade culta
da língua (análise de estruturas, uma classificação de formas morfológicas e
léxicas), a gramática normativa apresenta e dita normas de bem falar e
escrever, normas para a correta utilização oral e escrita do idioma, prescreve o
que se deve e o que não se deve usar na língua.

8
A gramática normativa é o tipo de gramática a que mais se refere
tradicionalmente na escola e, quase sempre, quando os professores falam em
ensino de gramática, estão pensando apenas nesse tipo de gramática, por
força da tradição ou por desconhecimento da existência dos outros tipos.

3.1. A VOZ PASSIVA NA VISÃO DA GRAMÁTICA NORMATIVA

Bechara (1970, p.126) denomina passiva a “forma verbal que indica que a
pessoa recebe a ação verbal. A pessoa, neste caso, diz-se paciente da ação
verbal:

(6) Homem é friamente assassinado pelo ex-amante da mulher e namorado


da filha mais velha dele. Acusado e dois comparsas foram presos.
(15/09/09)

Em Cunha e Cintra (1985, p.372), lemos que o verbo está na voz passiva
quando o fato por ele expresso é representado “como sofrido pelo sujeito:

(7) Aposentada avançou sinal vermelho, atropelou casal e fugiu; ela foi
detida em seguida pela polícia, mas pagou R$1.000 de fiança e esta
livre.(26/05/09)

Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante (1998. Pág. 348) denominam passiva
como “na obtenção da forma passiva do verbo, o auxiliar assume o tempo e o
modo do verbo ativo (no caso, pretérito perfeito do indicativo), enquanto este
assume a forma do particípio (obtiveram – obtida).Não pode haver voz passiva
sem sujeito determinado e expresso. Por isso, é fácil perceber que somente os
verbos que possuem objeto direto na voz ativa formam a voz passiva: afinal, é
o objeto direto da voz ativa que dá origem ao Sujeito da voz passiva.Em outras
palavras: somente os verbos transitivos diretos e os transitivos diretos e
indiretos podem formar a voz passiva.Você já sabe que, na voz ativa, pode
haver orações de sujeito indeterminado pelo verbo na terceira pessoa do plural.
Um exemplo é: Desviaram seu destino. Nessa oração, o sujeito está
indeterminado, mas é fácil perceber que esse sujeito é o agente do processo

9
verbal - quem quer que tenha desviado seu destino praticou - e não sofreu -
uma ação. Na voz passiva, teremos uma oração cujo agente da passiva estará
indeterminado: Seu destino foi desviado. (por quem?)”

Podemos constatar que a teoria da voz passiva de todos os gramáticos acima,


concentra-se no agente e no paciente da ação, não há nenhum exemplo sem o
agente da ação verbal, nem tampouco uma explicação para a ausência deste,
como no exemplo (8), que na sintaxe da gramática normativa recebe o nome
de agente da passiva.

(8) As três vítimas foram socorridas para o HPS João XXIII.(25/09/09)


(9) Foram presas 17 pessoas, sendo 15 jogadores, a maioria acima de 50
anos, e dois funcionários. (25/09/09)

Apesar de os objetivos de ambas as gramáticas elencadas neste trabalho


serem diferentes, isto é, a gramática gerativa, conforme Chomsky (1994, pág.
43) “mudou o foco de atenção do comportamento lingüístico real ou potencial e
dos produtos desse comportamento para o sistema de conhecimento que
sustenta o uso e a compreensão da língua e, mais profundamente, para a
capacidade inata que permite aos humanos atingir tal conhecimento”; e a
normativa é uma espécie de lei que regula o uso da língua em sociedade,
partem de exemplos da língua que não são considerados violações dos
princípios que constituem nossa competência de falantes nativos da Língua
Portuguesa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo postula Chomsky (1994, pág 26) a gramática tradicional e a
estruturalista não trataram de resolver a questão sob o aspecto da formação da
mente e sim pela capacidade de inteligência não-analisável do leitor, falante ou
usuário da linguagem. Para o autor, os interesses da gramática tradicional e da
generativa se complementam. A gramática tradicional apresenta as
construções de linguagem a partir de uma regularidade considerando as
formas e os significados. Nesta perspectiva não há uma preocupação com o

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modo como o conhecimento foi adquirido, o que permite organizar, formar e
interpretar as expressões. Enquanto que a gramática generativa “ocupa-se
primordialmente da inteligência do leitor, dos princípios e dos processos
acionados para atingir o conhecimento total de uma língua.”

Desta forma, apesar de os exemplos referentes à gramática gerativa serem da


língua escrita e não de manifestações da oralidade do falante nativo, podemos
verificar que há coerência nas relações dos Papéis Temáticos e dos
argumentos do verbo transitivo, que não encontramos na gramática normativa.
Nesta gramática, as argumentações para agente e paciente são fossilizadas,
não há outro recurso para se justificar a ausência do agente ou do próprio
complemento do verbo transitivo direto. Mas a interpretação das sentenças em
ambas é completa, isso corrobora com o que Chomsky denomina de
competência - conhecimento inconsciente que o falante possui sobre a sua
língua e que lhe permite fazer intuições, é ela que torna o indivíduo capaz de
falar e compreender uma língua (KENEDY, 2008, pág. 134).

Eu acho que o fruto do trabalho de vocês não seria apenas defender a competência lingüística
por si mesma, mas elaborar um estudo de como a passiva contribuiria para corroborar a
hipótese de que o falante necessita de algo básico e elementar em sua mente para
compreender textos. Pois, se o falante não tivesse um arcabouço mental-cognitivo básico e
similar a outros falantes, na interpretação de passivas, cada indivíduo iria ter sua própria
compreensão do fenômeno, e, consequentemente, nos não nós entenderíamos mutuamente.
Mas não é isso o que acontece, certo. Sabemos que existe algo comum a todos os falantes da
língua portuguesa para interpretarmos as passivas de forma verossimilhante, isso ocorre
através de:
Geralmente, os verbos selecionam seus argumentos internos e externos – Agente – para
interno, na posição de DP, e – Tema/Paciente – para externo, na posição interno do VP como
abaixo: O menino chutou a bola

IP

11
DP I’
A menino
I VP
Chutou x
V DP
Tx a bola

Esta estrutura é a voz ativa padrão de qualquer construção do português. Mas quando
usamos a voz passiva analítica “A bola foi chutada (pelo menino), o agente ‘menino’
não precisa ser materializado fonologicamente como ‘agente’ ou como ‘argumento
externo’ do verbo, se for materializado deverá aparecer com a preposição, dentro do
adjunto, de quem receberá seu papel temático.
A estrutura regular da voz passiva analítica é essa.
(inflectional phrase) IP

(determiner phrase) DP I’ (inflectional)


a bola(j)
I VP (verbal phrase)
foi(x) V’

V PartP (participle phrase)


t(x) chutada t(j) pelo menino
traço
Assim, a flexão da voz passiva é uma grande hipótese de inacusativização do verbo.
Não tendo argumento externo, o argumento interno vira o sujeito.

NOTAS

12
i
Jornal Super Notícia é um jornal publicado na cidade de Belo Horizonte, Brasil.É editado pela Sempre
Editora. Foi lançado no início do ano de 2002. Tem o formato tablóide é e de linha popular.A linha editorial
do Super Notícia é voltada, principalmente, para as consideradas classes C e D, sendo vendido a preço
popular.Esportes, serviços à comunidade, noticiário de polícia e cidades e o mundo das celebridades são os
assuntos mais explorados pelo tablóide.(IN: www.webartigos.com).

ii
uma língua africana falada na Tanzânia.
iii
A ser explicado no capítulo sobre aplicação das teorias.
iv
O argumento interno estabelece uma relação sintática direta com o verbo no interior de um sintagma
verbal. O argumento externo é o elemento que está imediatamente dominado por um sintagma verbal e
estabelece uma conexão sintática com o verbo desse sintagma.

v
A noção de papéis temáticos foi, primeiramente, introduzida por Gruber (1965), Filmore (1968) e
Jackendoff (1972), sob a alegação de que as funções gramaticais do sujeito, objeto e outras são
insuficientes para traduzir certas relações existentes entre algumas construções como: (a) João abriu a
porta com a chave.(2) A porta abriu. (3) A chave abriu a porta. As diferentes relações sintáticas
apresentadas anteriormente nada podem dizer a respeito dessa relação de dependência. Portanto, a
dependência está nas relações de sentido que se estabelecem entre o verbo e seus argumentos (sujeito e
complementos): o verbo, estabelecendo uma relação de sentido com seu sujeito e seus complementos,
atribui-lhes funções, um papel para cada argumento. São a essas funções que chamamos de papéis
temáticos. (IN: CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. Belo Horizonte/MG.
Editora UFMG.2008, págs. 109-110.)

vi
O caso acusativo é usado para marcar o objeto direto de um verbo transitivo.

BIBLIOGRAFIAS

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. São Paulo. Editora Nacional. 1970.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. Belo
Horizonte/MG. Editora UFMG. 2008.

CHOMSKY, Noam. O conhecimento da Língua: sua natureza, origem e uso.Nova York.


Editorial Caminho.1986. Tradução de Anabela Gonçalves e Ana Teresa Alves.

CHOMSKY, Noam. Sobre a natureza e linguagem. São Paulo. Martins Fontes. 2006.
TraduçãoMarylene Pinto Michael.

CUNHA,Celso;CINTRA,Luis Filipe Lindley.Nova Gramática de Português Contemporânea.


2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

KATO, Mary & NASCIMENTO, Milton. Gramática do Português Culto Falado no Brasil. Vol
III. A construção da Sentença. São Paulo.Editora Unicamp. 2009.

KENEDY, Eduardo. Gerativismo. IN: Manual de Linguística. MARTELOTTA, Mário


Eduardo et al. São Paulo. Contexto. 2008.

LUFT, Celso Pedro. Dicionário Prático de Regência Verbal.São Paulo.Ática. 2003.

NEGRÃO, E.; SCHER,ANA.; VIOTTI, E. A competência linguística. IN: FIORIN,José Luiz


et al.Introdução à Linguística: Objetos Teóricos.São Paulo.Contexto. 2008.

NETO, Pasquale Cipro & INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua Portuguesa.São Paulo.
Editora Scipione.1998

SILVA, Maria Jose & SILVEIRA , Emerson Sena. Apresentação de Trabalhos


Acadêmicos. Petrópolis. Editora Vozes. 2007.

SUPER NOTÍCIA. Belo Horizonte. Minas Gerais. Editora Sempre.abril-setembro, 2009.

TRASK.R.L. Dicionário de Linguagem e Linguística.São Paulo. Contexto. 2006.


Tradução:Rodolfo Ilari.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de


gramática no 1º e 2º graus.São Paulo. Cortez. 1995, págs.30-32).

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