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POLÍCIA MILITAR DE RORAIMA

DEPARTAMENTO DE ENSINO E PESQUISA – DEP


COORDENAÇÃO DE ENSINO POLICIAL – CEP
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTO 2021.2
“Amazônia patrimônio dos Brasileiros”

DIREITOS HUMANOS E CIDADÂNIA – CFS 2021.2

AL SGT PM ADERLEY MAGALHÃES DE ASSIS


AL SGT PM ALDENOR PINAICOBO FLAUSINO
AL SGT PM CLAUDECIR DA SILVA TORRES
AL SGT PM GEOVANE DIAS PRADO
AL SGT PM JÉSSICA RAQUEL CUNHA FÉLIX PIRES
AL SGT PM JOSÉ RIBAMAR COELHO AGUIAR
AL SGT PM MARINHO EDUARDO PATRICIO DA SILVA
AL SGT PM PEDRIENI PINTO BRASIL

IMIGRAÇÃO VENEZUELANA E OS IMPACTOS NA SEGURANÇA PÚBLICA

Boa Vista-RR

2021.2
POLÍCIA MILITAR DE RORAIMA
DEPARTAMENTO DE ENSINO E PESQUISA – DEP
COORDENAÇÃO DE ENSINO POLICIAL – CEP
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTO 2021.2
“Amazônia patrimônio dos Brasileiros”

DIREITOS HUMANOS E CIDADÂNIA – CFS 2021.2

AL SGT PM ADERLEY MAGALHÃES DE ASSIS


AL SGT PM ALDENOR PINAICOBO FLAUSINO
AL SGT PM CLAUDECIR DA SILVA TORRES
AL SGT PM GEOVANE DIAS PRADO
AL SGT PM JÉSSICA RAQUEL CUNHA FÉLIX PIRES
AL SGT PM JOSÉ RIBAMAR COELHO AGUIAR
AL SGT PM MARINHO EDUARDO PATRICIO DA SILVA
AL SGT PM PEDRIENI PINTO BRASIL

IMIGRAÇÃO VENEZUELANA E OS IMPACTOS NA SEGURANÇA PÚBLICA

Trabalho do Curso de Sargentos Policiais Militares –


CFS PM 2021.2 para obtenção de nota parcial na
disciplina Direitos Humanos e Cidadania, sob
orientação do Instrutor Prof Cap QOC PM Eduardo
Cesar Mendonça Damasceno Junior.

Boa Vista-RR

2021.2
RESUMO

O presente artigo é o resultado de um estudo sobre a parte histórica da imigração de venezuelanos


para o Brasil e os impactos na segurança pública causados com a imigração venezuelana para o
Brasil, em especial com a entrada de pessoas de nacionalidade venezuelana no estado de
Roraima, estado esse que faz fronteira com a Venezuela por meio do município de Pacaraima que
é o município mais ao norte do estado. Para alcançar o objetivo, realizou-se uma análise por meio
de uma pesquisa bibliográfica, documental, notícias e reportagens jornalísticas, tais pesquisas se
fez necessário para a confirmação de possíveis impactos na segurança pública do Estado de
Roraima. Não bastando somente o estudo acerca dos impactos sociais, com ênfase nos problemas
causados à segurança pública no estado de Roraima causado com a imigração venezuelana,
contextualizados com aumento da criminalidade no estado, em especial aos crimes causados por
pessoas de nacionalidade venezuelana. Cabe ressaltar que o referido trabalho busca-se também a
identificação da participação de venezuelanos em facções criminosas presentes em nosso estado,
e a instalação de facções criminosas vindas da Venezuela. O referido trabalho buscou também o
estudo em torno das ações realizada para mitigar os problemas causados pela imigração em
massa de venezuelanos no Estado de Roraima.

PALAVRAS-CHAVE: Imigração Venezuelana, Impacto social, Aumento da criminalidade,


Facções criminosas, segurança pública.

ABSTRACT

This article is the result of a study on the historical part of the immigration of Venezuelans to
Brazil and the impacts on public safety caused by Venezuelan immigration to Brazil, especially
with the entry of people of Venezuelan nationality into the state of Roraima, this state borders
Venezuela through the municipality of Pacaraima, which is the northernmost municipality in the
state. To achieve the objective, an analysis was carried out through a bibliographic, documentary,
news and journalistic research, such research was necessary to confirm possible impacts on
public security in the State of Roraima. The study of social impacts is not enough, with emphasis
on the problems caused to public safety in the state of Roraima caused by Venezuelan
immigration, contextualized with the increase in crime in the state, especially crimes caused by
people of Venezuelan nationality. It is noteworthy that the aforementioned work also seeks to
identify the participation of Venezuelans in criminal factions present in our state, and the
establishment of criminal factions coming from Venezuela. This work also sought to study the
actions taken to mitigate the problems caused by the mass immigration of Venezuelans in the
State of Roraima.

KEYWORDS: Venezuelan Immigration, Social impact, Increased crime, Criminal factions,


public safety.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................
4
2. A CRISE
VENEZUELANA...............................................................................................5
2.1. O chavismo na Venezuelana................................................................................................5
2.1.1 A crise do economia venezuelana.....................................................................................6
2.1.1.1 A crise do Petróleo.........................................................................................................6
2.1.1.2 Dependência da importações e controle cambial...........................................................7
2.1.1.3 Hiperinflação..................................................................................................................8
2.1.1.4 Crise política..................................................................................................................9
2.1.1.5 Poder militar e controle da imprensa............................................................................10
2.2 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA PARA O BRASIL........................................................10
2.3. IMPACTOS SOCIAIS NO ESTADO DE RORAIMA COM A IMIGRAÇÃO
VENEZUELANA....................................................................................................................12
2.3.1 Saúde...............................................................................................................................12
2.3.2 Segurança........................................................................................................................13
2.3.3 Trabalho...........................................................................................................................15
2.3.4 Educação..........................................................................................................................17
2.3.5 Migrantes Indígenas........................................................................................................17
2.4.2 Envolvimento de Venezuelanos no cometimento de crime.............................................12
2.5.3 Incidência na participação de Venezuelanos em Facções Criminosas............................13
2.4 IMPACTOS NA SEGURANÇA PÚBLICA......................................................................19
2.4.1 Aumento da criminalidade e envolvimento de venezuelano no Cometimento de
crimes........................................................................................................................................19
2.4.2 Incidência da participação de venezuelanos em facções criminosas...............................22
2.5 MECANISMOS PARA MITIGAR A PROBLEMÁTICA DA IMIGRAÇÃO
VENEZUELANA EM RORAIMA..........................................................................................23
2.5.1 Operação Acolhida..........................................................................................................24
2.5.2 Lei de Imigração..............................................................................................................25
2.5.3 Ações do 3º Setor “Organizações não Governamentais”................................................25

CONCLUSÃO...................................................................................................................30
REFERÊNCIAS................................................................................................................31
ANEXOS............................................................................................................................33
1. INTRODUÇÃO

Existem vários meios de obtenção de provas no processo penal, e tais meios estão
previstos no Código de Processo Penal e leis especiais penais, ou seja, são todos legais, no
entanto, nenhuma prova obtida poderá infringir uma norma ou requisito legalmente previsto. É
sabido que qualquer prova ilícita não é aceita no ordenamento jurídico brasileiro, portanto,
devendo esta ser desentranhada do processo, conforme prevê a Constituição Federal de 1988 em
seu art. 5º, LVI e o art. 157 do Código de Processo Penal.
A colaboração premiada está prevista no ordenamento jurídico desde 1990 com a Lei
8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos), e desde então tem sido aplicado os benefícios deste
instituto.
No entanto, somente em 2013 foi publicada a Lei das Organizações Criminosas (Lei
12.859/13), que trata com exclusividade do referido instituto, tendo sofrido alterações
significantes com o advento da Lei Anticrime nº13.964/19, conhecida como “Pacote Anticrime”.
Nesta pesquisa foi discutido se o instituto da colaboração premiada poderá ensejar em
um meio de obtenção de prova ilícita no processo penal.
Quanto aos procedimentos aplicados a esta pesquisa, inicialmente, foi realizado um
levantamento bibliográfico acerca do tema, seguido da análise e interpretação do material
pesquisado e por fim, a elaboração do texto do artigo contendo os resultados da pesquisa.
O artigo, além da introdução e conclusão, está organizado em três tópicos, dando ênfase
as provas, a colaboração premiada e a colaboração premiada como meio de obtenção de prova no
processo penal.
2. A CRISE VENEZUELANA

2.1 O Chavismo na Venezuela


Uma compreensão do que ocorre na Venezuela só é possível por meio de uma breve análise
sobre o chavismo nesse país. A ascensão política de Hugo Chaves, aconteceu na década de
1990. Chávez era um paraquedista do exército venezuelano e envolveu-se em uma tentativa de
golpe contra o então presidente Carlos Pérez no ano de 1992.

Após a sua saída da prisão, lançou-se à candidatura presidencial, com um discurso de


ataque aos políticos do país e prometendo refazer a democracia venezuelana. Afirmava buscar a
realização de maior justiça social por meio do principal produto do país, o petróleo. Hugo Chávez
venceu a eleição em 1998 e iniciou um longo processo no poder, que se estendeu por catorze
anos. Nesse período, venceu quatro eleições (1998, 2000, 2006 e 2012).

Durante os catorze anos no poder, Hugo Chávez promoveu uma ampla distribuição de
renda no país. Conseguiu aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela, diminuiu
sensivelmente o número de pobres do país e reduziu a mortalidade infantil. Entretanto, o
chavismo, contribuiu abertamente para a corrosão da democracia venezuelana.

Depois do falecimento de Hugo Chávez, vítima câncer, o poder do país passou de maneira
provisória para o vice, Nícolas Maduro. Em 2013, Maduro tornou-se presidente de fato do país,
após ser eleito sobre Henrique Caprilles. Desde então, o quadro na Venezuela agravou-se
consideravelmente, e a crise econômica embrionária tomou grandes proporções.

Desde meados de 2013, a Venezuela arrasta-se em uma crise que piora a cada dia.
Atualmente, o país encontra-se em uma encruzilhada, enfrentando uma crise política em razão da
disputa entre Nicolás Maduro (e seu partido — Partido Socialista Unido da Venezuela) e a
oposição venezuelana, que denuncia os abusos de poder cometidos pelo presidente. Além disso,
existe a crise econômica, a crise humanitária e ainda o risco de uma intervenção liderada pelos
Estados Unidos.
2.1.1 A crise da economia venezuelana

A falta de alimentos levou milhares de venezuelanos a passarem fome, e dados comprovam


que, em 2017, a população emagreceu, em média, 11 kg. Muitas mães têm entregado seus filhos
às autoridades por não terem condições de sustentá-los.

A inflação da Venezuela em 2018 ultrapassou 1.300.000%. A pobreza extrema do país


saltou de 23,6%, em 2014, para 61,2%, em 2017. Entre 2013 e 2017, o PIB do país caiu 37%, e a
estimativa para 2018 é de que ele tenha caído 15% (ainda não existem dados oficiais sobre o PIB
venezuelano em 2018). O salário-mínimo atual (ano de 2021) da Venezuela corresponde a
US$3,50.

Essa atual crise econômica da Venezuela transformou-se na maior crise da história


econômica do país. A redução do valor do barril do petróleo, a ineficiência do governo e as
sanções americanas levaram o país à situação atual. Itens básicos, como medicamentos, alimentos
e papel higiênico, não são encontrados facilmente nos supermercados, e, quando são encontrados,
seus preços são exorbitantes.

Podemos elencar 5 fatores que contribuíram diretamente para o agravamento da crise na


Venezuela.

2.1.1.1 A crise do Petróleo


A crise na Venezuela está diretamente ligada com a desvalorização do petróleo no
mercado internacional, o que aconteceu a partir de 2014. As reservas de petróleo foram
descobertas na Venezuela no começo do século XX e, desde então, tornaram-se a principal fonte
de riqueza do país sul-americano, chegando a representar 96% PIB.
Porém, a riqueza do petróleo criou um país extremamente dependente dessa commodity
(produto que tem seu valor baseado pela oferta no mercado internacional). A dependência do
petróleo fez com que a Venezuela não investisse o suficiente na sua própria indústria e
agricultura. Assim, o país comprava tudo o que não produzia.
O estopim da crise foi a queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Em
junho de 2014, o preço do barril de petróleo era de US$111,87 e, em janeiro de 2015, o valor era
de US$48,07. Isso teve resultado direto no PIB do país, que caiu quase 4% no ano de 2014. A
queda do valor do petróleo impactou diretamente o abastecimento do mercado venezuelano, uma
vez que, sem dinheiro, o governo parou de comprar itens básicos do cotidiano da população.
Além disso, a partir de 2017, o governo americano, liderado pelo presidente Donald Trump,
começou a impor uma série de sanções à economia venezuelana, em represália ao autoritarismo
de Nicolás Maduro no comando da Venezuela. Essas sanções agravaram a situação econômica e
forçaram o país a reduzir a quantidade de petróleo exportado, por exemplo. Essa redução da
produção de petróleo também é fruto da má gestão da estatal venezuelana, a Petróleos de
Venezuela (PDVSA).

2.1.1.2 Dependência das importações e controle cambial

Com o foco voltado para o petróleo e usando parte do dinheiro arrecadado com as
exportações do combustível para sustentar programas sociais, o chavismo não se preocupou com
o desenvolvimento agrícola e industrial do país. O governo não investiu nem na própria indústria
do petróleo - levando à queda na produção de barris.

O setor privado foi levado a substituir a produção própria pelas importações mais baratas,
subsidiadas pelo governo. Além disso, o governo adotou uma política de controle de preços,
segurando artificalmente a inflação, o que ajudou ainda mais a acabar com a indústria local.

A Venezuela passou a depender mais e mais de importações - de alimentos e medicamentos


até pneus e peças de reposição para o sistema de metrô das grandes cidades. Com menos dinheiro
para importação, a questão do desabastecimento - e, consequentemente, da fome - se agravou.
Falta até papel higiênico nos supermercados.

O governo também implantou uma política cambial para segurar o valor do bolívar, a
moeda local, controlando a compra de dólares pela população, o que gerou um mercado paralelo
da venda da divisa americana.
Com o controle cambial veio um aumento significativo da corrupção, com desvio de
dólares para o mercado paralelo, onde a moeda valia até 12 vezes o preço do câmbio oficial. O
governo tentou manobras diversas para tentar conter a escalada do paralelo - como a criação de
bandas cambiais distintas que seriam aplicadas em diferentes situações. Mas não houve resultado
concreto e o câmbio ilegal continuou a corroer o já combalido sistema econômico.

O Estado também viu seus gastos públicos aumentarem para conseguir manter os
programas sociais. A dívida externa também aumentou em cinco vezes, com estimativa do FMI
de bater os US$ 159 bilhões ate o final do ano de 2018.

2.1.1.3 Hiperinflação

Ao tentar supervalorizar a moeda venezuelana, o governo provocou distorções de valores


que, além de causarem a crise de desabastecimento, contribuíram para um cenário de
hiperinflação. Além disso, com a queda do preço do petróleo e uma redução no fluxo de divisas,
o governo passou a imprimir mais dinheiro para cobrir o rombo nas contas públicas e isso foi
gerando cada vez mais inflação.

A hiperinflação fez com que faltassem até cédulas de dinheiro circulando, já que as pessoas
passaram a precisar de muito mais dinheiro para comprar qualquer coisa. Para tomar um café ou
comprar um papel higiênico, por exemplo, aqueles que não usam cartão de débito do banco,
passaram a ter de carregar pilhas de cédulas de bolívar - quando conseguiam sacar dinheiro.

Com a deterioração da situação, o chavismo adotou uma espécie de controle artifical da


inflação: obrigava os comerciantes a adotarem um preço abaixo do que eles gastavam para
produzir, porque precisavam importar os insumos. Então, indústrias e comerciantes começaram a
quebrar. A hiperinflação provocou uma pulverização da renda e a pobreza aumentou. Em 2017, o
índice de pessoas na linha da pobreza no país de 30 milhões de habitantes chegou a 87%, um
aumento de 40 pontos percentuais em três anos, segundo levantamento da Universidade Católica
Andrés Bello.
2.1.1.4 Crise política

A Venezuela vive também uma intensa crise política. O país está dividido entre os
chavistas e os opositores, que esperam o fim do poder do grupo que atualmente se reúne em torno
do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Nos últimos anos, a independência entre os
Poderes se reduziu na prática, o que contribuiu ainda mais para a situação crítica atual.

Em 2007, em seu segundo mandato, Chávez conseguiu, por meio de um referendo com
voto popular, aprovação para alterar a Constituição e mudar a regra de reeleição para presidente.
Desde então, os presidentes venezuelanos passaram a poder concorrer a reeleições sem limites.

Chávez aparelhou o Supremo Tribunal do país ao aumentar o número de juízes de 20 para


32. Os 12 novos juízes eram adeptos do chavismo. Durante seu governo, Hugo Chávez também
promoveu a perseguição de opositores e procurou, por meio de pequenas reformas,
perpetuar-se no poder.

Depois da morte de Chávez, em 2013, Nicolás Maduro, que era seu vice-presidente e
também do PSUV, já foi eleito e reeleito presidente com a promessa de dar continuidade às
políticas do antecessor.

Só que Maduro herdou a Venezuela já entrando em colapso econômico e tomou medidas


que contribuíram mais para a crise. Em 2015, o chavismo perdeu o controle do Parlamento e isso
fez com que a situação do país se agravasse, já que Maduro acusa constantemente os
oposicionistas de tentarem tirá-lo do poder por meio de um golpe.

Em maio de 2017, após Maduro convocar a Assembleia Constituinte, dizendo que ela irá
renovar o Estado e redigir uma nova Constiuição, a Venezuela viu mais uma vez uma onda de
protestos violentos tomar o país. Mais de 120 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas. Os
protestos e as pessoas consideradas opositoras ao regime chavista, passaram a ser
seguidas/reprimidas com mais violência.
O mais recente capítulo da crise política da Venezuela deu-se pelo pronunciamento do
presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, realizado no começo de 2019. O político
venezuelano de 35 anos autoproclamou-se presidente interino da Venezuela enquanto o país
estiver em processo de transição de poder. Guaidó foi imediatamente rejeitado por Maduro. A
situação deste, por sua vez, está cada vez mais delicada, porque parte da comunidade
internacional reconheceu Juan Guaidó como presidente venezuelano. Isso inclui os países:
Estados Unidos, Canadá, Espanha, França e, até mesmo, o Brasil.

2.1.1.5 Poder militar e controle da imprensa

Outro ponto que contribuiu para a crise venezuelana foi a forte presença do Exército na
gestão do Estado. Em 25 anos, a Venezuela sofreu três tentativas de golpe de Estado pelos
militares. Chávez trouxe as Forças Armadas para seu governo, nomeando vários generais para
cargos em estatais, substituindo funcionários técnicos especializados.

Uma das empresas que teve parte de seu corpo técnico substituído por militares foi a
petroleira PDVSA, o que, segundo especialistas, explica em parte o fato dela não ter investido em
melhorias, não ter se desenvolvido. O chavismo também colocou militares para atuarem como
ministros. Um terço do gabinete de Maduro é composto por militares e ex-militares.

Outro fator que contribuiu para a crise venezuelana é o estrito controle da imprensa.
Veículos considerados de oposição foram comprados por chavistas, enquanto outros foram
fechados (caso da emissora RCTV, que teve sua concessão cassada).

Em outros casos, o chavismo sufocou o suprimento de papel-jornal para veículos de linha


editorial opositora - o governo venezuelano controla, por meio de uma corporação estatal, a
importação e a distribuição do insumo.

2.2 Imigração venezuelana para o Brasil


A crise política, econômica e humanitária que atingiu a Venezuela fez com que sua
população procurasse refúgio em nações vizinhas. Os dois países que mais receberam refugiados
venezuelanos foram Colômbia e Peru. A entrada de refugiados venezuelanos no Brasil resultou
em uma crise migratória em Roraima, estado de poucos recursos localizado no norte do país.

Para entrar no território brasileiro, que faz fronteira com a Venezuela por meio do estado
de Roraima, os venezuelanos não precisam de visto, podendo permanecer por até sessenta dias
apenas como turistas. Em razão da crise que se instalou na Venezuela, o Brasil permitiu que os
venezuelanos buscassem refúgio, oferecendo residência temporária e possibilitando que os
imigrantes pudessem inserir-se na sociedade. Assim sendo, os venezuelanos acreditam que
conseguirão melhores condições de vida no território brasileiro.

Atualmente, o Brasil possui um amplo conjunto legislativo de proteção aos refugiados e


migrantes, podendo ser considerado referência na efetivação dos seus direitos. Além de
formalizar e internalizar os tratados internacionais de direitos dos refugiados e migrantes, o país
possui legislações específicas para essas pessoas no contexto brasileiro.

A Constituição Federal de 1988, por exemplo, responsável pela promoção dos direitos
humanos no país, garante o princípio da dignidade humana aos refugiados e migrantes. Em seu
artigo 5º, caput, é disposto que todos são iguais perante a lei, garantindo aos brasileiros e
estrangeiros residentes no país os direitos fundamentais previstos na Constituição.

Além disso, a Lei nº 9.474, elaborada em 1997, prevê a implementação dos direitos
previstos na Convenção de 1951 no país e ampliou a definição de refugiado, passando a abranger
a grave e generalizada violação de direitos humanos, com isso, o Brasil reconhece os
venezuelanos como refugiados.

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:

III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu
país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

Essa lei também gera a formação do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE),
órgão nacional responsável pelo auxílio e proteção aos refugiados no país.
Outra importante lei brasileira é a chamada Nova Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), que
ampliou os direitos dos migrantes no país, podemos destacar acolhida humanitária, não
criminalização da imigração, e promoção de entrada regular e de regularização documental para
imigrantes.

2.3 IMPACTOS SOCIAIS NO ESTADO DE RORAIMA COM A IMIGRAÇÃO


VENEZUELANA

2.3.1 Saúde

Segundo relatório da Human Rights Watch (HRW) divulgado em 2017, o sistema de


saúde público de Roraima enfrenta dificuldades há anos para atender à população local. Com a
intensificação do fluxo migratório de venezuelanos em direção ao Brasil e, especificamente, em
direção ao estado, em 2016, a demanda por esse tipo de serviço cresceu no estado. O relatório
aponta que, entre janeiro e início de dezembro de 2016, mais de 7,6 mil venezuelanos foram
tratados no Hospital Geral de Roraima (HGR), principal unidade de saúde do estado; no Hospital
Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), única maternidade pública de Roraima;
e no hospital de Pacaraima, localizado na fronteira entre os países (HRW, 2017). No hospital da
capital, a principal dificuldade de atendimento aos venezuelanos consiste no fato de que, em
geral, pacientes chegam ao estado sem nunca terem recebido tratamento de saúde adequado, o
que faz que necessitem de tratamentos complexos ou de internação por longo período. Soma-se a
isso o déficit de leitos, cuja demanda é maior entre os migrantes. Já no hospital de Pacaraima, é
difícil a prestação de atendimento médico aos cerca de 80% de pacientes venezuelanos, uma vez
que há escassez de insumos médicos essenciais – como gases, fluidos intravenosos e seringas – e
medicamentos básicos, como paracetamol (HRW, 2017). Há uma maior demanda também na
maternidade, em função do aumento do número de mulheres venezuelanas grávidas que
chegaram ao hospital em busca de serviços médicos, sobretudo do tipo pré-natal. Esse dado é
corroborado pelo Relatório anual de epidemiologia de Roraima (2019), que mostrou redução na
taxa de natalidade por mil nascidos vivos no estado entre os anos de 1990 a 2018, porém
tendência de elevação dessa taxa a partir de 2016, cuja causa é atribuída, no relatório, ao aumento
no número de mulheres venezuelanas que buscaram atendimento obstétrico ou refúgio em Boa
Vista. O relatório aponta, ainda, o perigo da reintrodução de doenças já erradicadas no país. Em
2018, foi confirmada a reintrodução do sarampo no Brasil, vindo da Venezuela. Em 2017, foi
confirmado um caso isolado de difteria de criança venezuelana, proveniente de garimpo no
estado de Bolívar, no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA). O documento aponta, também,
a possibilidade de introdução de sorotipos de dengue não existentes no país, além da reintrodução
de doenças já erradicadas, como a 0poliomielite (Relatório anual…, 2019).

Importante salientar que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido buscado de forma
constante por venezuelanos desde o início dos anos 2000. Porém, segundo Scherma et al. (2015),
para os estrangeiros que vivem em regiões de fronteira e que não possuem residência permanente
no país, não há garantia de acesso a serviços de saúde, em função das dificuldades estruturais dos
próprios municípios. Entre os estados do Arco Norte, Roraima concentra o menor número de
profissionais da área de saúde, sendo a maioria servidores titulares de cargos públicos, portanto,
servidores da administração direta do Executivo. Isso se traduz na menor capacidade do estado de
atender às demandas de saúde da população.

A situação é ainda mais alarmante quando considerada a cidade de Pacaraima, que conta
apenas com o Hospital Délio de Oliveira Tupinambá para atendimento da população e de
migrantes. Casos mais graves e de maior complexidade não podem ser atendidos no município,
uma vez que faltam equipamentos na unidade, como mamógrafo, tomógrafo e eletrocardiógrafo.
Também faltam médicos capacitados e não há hospitais especializados. Do lado venezuelano, na
cidade de Santa Elena de Uairén, o Hospital Rosario Vera Zurita, único da Muitos migrantes
conseguem receber atendimento médico inicial por profissionais de saúde militares ao
ingressarem por fronteira terrestre, em Pacaraima e nos abrigos. Porém, as equipes – compostas
por médicos, farmacêuticos, dentistas, enfermeiros, entre outros profissionais – trabalham em
mutirões de atendimento por aproximadamente um mês. Dessa forma, não há ainda um plano
efetivo para mudança na estrutura do atendimento prestado pelo estado, ou o aumento do número
de recursos humanos na área da saúde por tempo limitado, como resposta à crise.

2.3.2 Segurança
O fluxo migratório venezuelano em direção ao Brasil pode ser caracterizado a partir de
três fases: a primeira é composta por integrantes de classes mais altas, que saíram da Venezuela
em meados dos anos 2015 e 2016; a segunda, por indivíduos de classe média, a exemplo de
profissionais liberais e comerciantes, que representaram o fluxo mais intenso pelas fronteiras
nacionais no ano de 2017; e, recentemente, por grupos mais frágeis economicamente, portanto, de
maior vulnerabilidade social, tanto indígenas quanto não indígenas, que buscam ajuda
humanitária no país. Embora as ações adotadas pelo governo federal, pelo governo de Roraima,
pela Prefeitura de Boa Vista e por organizações nacionais e internacionais de apoio tenham sido
relevantes para o controle da situação, ainda persistem conflitos no âmbito social. Isso porque os
migrantes são tidos como indesejados, e, portanto, acabam por serem rejeitados pela sociedade de
uma forma geral, por razões como língua, religião, aparência e hábitos. Eles também são vistos
como concorrentes no mercado de trabalho e como aqueles que aumentam as demandas sociais e
de políticas públicas. Do ponto de vista daqueles que veem a migração como tendo impacto
negativo, os migrantes são considerados uma ameaça à estabilidade política, social e de
segurança brasileira. A criminalização dos migrantes acaba por legitimar atos de violência contra
eles, o que gera violência reativa por parte das vítimas, desencadeando progressivo aumento de
eventos violentos e de xenofobia de ambos os lados, em processo de escalada da violência
(Sarmento e Rodrigues, 2019). Em 17 de agosto de 2018, moradores de Pacaraima se
organizaram por redes sociais e atacaram um acampamento de venezuelanos como forma de
retaliação a agressões que teriam sido cometidas por eles contra um comerciante brasileiro da
cidade (Botafogo, 2018).  Não somente por isso, mas também devido à intensificação do fluxo
migratório, cresceu o número de venezuelanos em situação de rua, o que acabou por gerar o
aumento da sensação de insegurança em moradores do município fronteiriço. Estes optaram por
pagar rondas policiais particulares, com o intuito de manter a sensação de segurança em suas
casas e estabelecimentos comerciais.

A prática é observada não somente em Pacaraima, mas também na capital. A


desinformação tem contribuído para o aumento da polarização social pela população local.  De
um lado há aqueles que entendem a migração como o direito de ir e vir, do outro lado estão
aqueles que acreditam que o Estado deve dar maior atenção à população nacional, portanto
defendem controle mais rígido da fronteira e até mesmo seu fechamento, deportação, restrição e
cotas de acesso a serviços sociais (Sarmento e Rodrigues, 2019). Desse ponto de vista, migrantes
e solicitantes de refúgio reportaram ao ACNUR (2018) que receberam ajuda de cidadãos
brasileiros em sua chegada ao país, mediante a doação de bens domésticos e roupas e de
instituições religiosas, por meio do fornecimento de alimentos. Mais ainda, aqueles que se
estabeleceram nos bairros Tancredo Neves, Gilberto Mestrinho, Compensa, Cidade Nova e
Japiim, em Boa Vista, se tornaram beneficiários do programa governamental Bolsa Família.

De acordo com Sarmento e Rodrigues (2019, p. 246), “a imigração venezuelana tem se


colocado como um espelho por meio do qual nossas mazelas sociais se veem refletidas”. As
autoras afirmam que contra o argumento do “roubo dos empregos”, o que se observa mediante
trabalho de campo é que “as entidades que chegam ao estado para atuar na acolhida aos
imigrantes têm aberto inúmeros postos de trabalho”.  De maneira geral, a partir da análise do
panorama de segurança no estado, é notória a vulnerabilidade de venezuelanos a situações de
violência, abuso, exploração sexual, discriminação, contrabando de pessoas e exploração. Ao
mesmo tempo que existe sensação de insegurança generalizada por parte da população local.

2.3.3 Trabalho

Estudo da Organização Internacional do Trabalho (2017) identificou que, de uma forma


geral, trabalhadores migrantes, ao chegarem a seus destinos, se inserem em setores de atividades
econômicas que possuem salários muito baixos e condições de trabalho degradantes. Isso não é
diferente quando se observa a mão de obra qualificada que vem de países como Cuba, Haiti e
Venezuela. Em virtude, mormente, do fato de que seus diplomas não são reconhecidos no
Brasil. Entre as principais ocupações dos migrantes venezuelanos, estão aquelas de ambulante,
garçom e ajudante de lanchonetes ou em barracas de “churrasquinho”, no período noturno. Eles
também prestam serviços domésticos, realizam a limpeza de quintais e participam de trabalhos
eventuais na agricultura familiar ou em fazendas.  A OIT (2017) analisou, ainda, a situação
laboral dos migrantes e descobriu que mais de 50% deles encontra-se desempregada, seguido por
aqueles que são autônomos; e, por fim, há percentual baixo desse grupo que está empregada
mediante contrato.  De uma forma geral, venezuelanos têm sido admitidos no mercado de
trabalho brasileiro como faxineiros, auxiliares em serviços de alimentação, serventes de obras e
atendentes de lanchonete, além de, em menor medida, atividades administrativas, como
assistentes, almoxarifes e armazenistas.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) elaborou nota técnica na qual chama a atenção
para o fato de que não há medidas de prevenção e repressão voltadas ao trabalho infantil migrante
realizado por venezuelanos, especialmente aquele realizado em ruas e logradouros públicos pela
prática da mendicância e do comércio ambulante, como se vê em Boa Vista e Pacaraima (Nota
Técnica, 2018). Nesse sentido, a OIM (2019b, s.p.) realizou levantamento no qual “entrevistados
responderam que, em algum momento, uma criança ou adolescente sob sua responsabilidade
trabalhou ou fez algum tipo de atividade esperando obter algum tipo de pagamento”. Eles
afirmaram, ainda, que entre os entrevistados há aqueles que possuem “um menor de dezoito anos
sob sua responsabilidade sem carteira de identidade ou certidão de nascimento” (OIM, 2019b).
Em outras palavras, a organização identificou que há crianças e adolescentes acompanhados de
familiares, como avós e tias, além daqueles desacompanhados que chegaram ao país sem um
responsável de seu núcleo familiar e que estão subempregados, como forma de subsistir. A partir
do trabalho de campo, foi possível observar uma média de cinco crianças para cada casal,
composto por um homem e uma mulher, que se movimentam pela cidade, e de três crianças para
cada mulher, que se locomovem pelas ruas da capital. Essa média é variável quando observados
os abrigados. Do ponto de vista dos ganhos com o trabalho, é possível afirmar que, quando
observada a renda média familiar dos migrantes, há variação entre aqueles que estão dentro e fora
dos abrigos.

Segundo os indicadores apresentados, há menor renda familiar na cidade de Pacaraima,


enquanto a média de renda familiar dentro dos abrigos é maior na cidade fronteiriça que na
capital. A renda familiar média fora dos abrigos supera o ganho potencial. Os indígenas possuem
a menor renda familiar dentre os grupos migrantes. Dentro de um panorama maior, o relatório do
OBMigra (2019) destacou menor rendimento médio de venezuelanos quando admitidos, ao
mesmo tempo que ocuparam, junto ao Haiti, as primeiras posições nas movimentações de
imigrantes no mercado de trabalho formal brasileiro. “Nos primeiros seis meses de 2019, a
movimentação de trabalhadores venezuelanos foi superior à de todo o ano de 2018, o que sinaliza
que o mercado de trabalho formal vem absorvendo fortemente o contingente de imigrantes no
país” (Op. cit., p. 3). A pesquisa registrou que houve queda no número de trabalhadores
imigrantes qualificados. Finalmente, ocorreu crescimento de 93,2% no número de carteiras de
trabalho emitidas no Brasil, em função do aumento da demanda por trabalhadores venezuelanos,
em especial nos estados de Roraima e Amazonas, tendo sido emitidas, até junho de 2019,
aproximadamente 26.641 documentos desse tipo em todo o território nacional a migrantes da
Venezuela (OBMigra, 2019).

2.3.4 Educação

A rede estadual de ensino em Boa Vista e Pacaraima oferta vagas tanto para o ensino
fundamental quanto para o ensino médio a migrantes, porém a exigência do histórico escolar para
filhos de refugiados tem sido uma dificuldade frequente em escolas dos municípios. Além disso,
a língua é um empecilho para que eles consigam emprego ou possam se comunicar de forma
efetiva. Dessa forma, é possível apontar a ausência de programas oficiais de ensino de português
para jovens e adultos nas escolas municipais e estaduais. Conforme observado em campo, para
que os venezuelanos possam estudar nas escolas e universidades do estado, é necessário realizar o
processo de reconhecimento de certificados de ensino médio na Secretaria Estadual de Educação
(SEE) e realizar a equivalência de diplomas de ensino superior no Ministério da Educação, por
meio da UFRR. Entretanto, a sobrecarga de trabalho dos docentes e a falta de servidores técnico-
administrativos impedem que seja criado um programa de equivalência acessível e rápido para a
revalidação de diplomas estrangeiros.  Quanto ao ensino básico, que é de competência
compartilhada pelas redes municipais e estadual, não foi observada a existência de programas que
forneçam apoio ou reforço escolar para estudantes que são filhos de pessoas solicitantes de
refúgio e residência temporária. A constante rotatividade decorrente de mudança de endereço por
parte de famílias imigrantes, uma vez que estas não se estabelecem em somente um local,
também tem sido um fator que influencia na aprendizagem dos alunos na rede de
ensino, dificultando ainda a própria prática da língua portuguesa. Sobre o ensino do português, o
que se tem é a oferta pontual de cursos para migrantes na UFRR, no Instituto Federal de Roraima
(IFRR) e na Universidade Estadual de Roraima (UERR). Há, ainda, a oferta de aulas de
português por entidades religiosas, como a Fundação Fé e Alegria, da comunidade jesuíta no
estado; a Pastoral do Migrante, que oferta aulas na capital e nos municípios do interior; e o
Recanto Apuí, espaço cultural independente que é gerido por migrantes e voluntários, só para
citar alguns. O MPT estabeleceu parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac) e passou a oferecer cursos de qualificação em áreas como beleza e hotelaria para
brasileiros e migrantes, no intuito de contribuir para sua melhor formação e, consequentemente,
inserção laboral. As secretarias municipais de educação ainda não desenvolveram um programa
de educação que possa de fato aprofundar a integração cultural. O termo acolhimento ainda não
consta nos projetos pedagógicos de escolas brasileiras, sendo que é por meio das secretarias
municipais que os imigrantes têm um primeiro contato com o ambiente escolar. Ao contrário de
outras áreas, como a da saúde, que já incorporaram o termo à sua atuação.  Em retrospectiva, as
iniciativas de acolhimento e proteção surgiram de forma espontânea nos estabelecimentos
educacionais, como uma resposta às demandas sociais impostas pelo processo
migratório. Exemplo disso é o Projeto Acolher/UFRR, de 2017, cujo nome oficial era Projeto de
Apoio aos Refugiados em Roraima, que iniciou suas ações de acolhimento mesmo antes da
chegada das agências da ONU. As ações do projeto se direcionaram, sobretudo, à oferta de aulas
de português, campanhas de sensibilização da opinião pública sobre migração e campanhas de
doação de alimentos e roupas. A iniciativa contou com o apoio da pró-reitora de assuntos
estudantis e extensão. Entre os anos de 2016 e 2018, outras iniciativas foram desenvolvidas, em
âmbito universitário, como a oferta de orientações jurídicas aos migrantes.  Em Pacaraima, a
situação é ainda mais urgente, em virtude da ausência de políticas públicas voltadas à ampliação
da rede de ensino. As últimas obras de construção de novas instituições educacionais no
município, via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), datam dos anos de
2008 e 2011, sendo que apenas duas foram a termo. Com a chegada da imigração venezuelana ao
município, houve sobrecarga no sistema de ensino, tanto que escolas e creches operam
atualmente com mais alunos que sua capacidade permite.

2.3.5 Migrantes Indígenas

Dentre os grupos migratórios que chegaram à Roraima, o dos indígenas venezuelanos é


o de maior vulnerabilidade. Segundo a OIM (2018), a maior dificuldade das instituições em lidar
com esse grupo reside no não entendimento ou na não aceitação de que a existência do fluxo
migratório indígena não é uma situação passageira. Da mesma forma, os gestores possuem
dúvidas sobre como coordenar e articular ações individuais e de atenção à migração, sobretudo
com relação a indígenas em contexto urbano. O grupo também é o mais vulnerável a situações de
violência e discriminação, bem como são mais passíveis de deportação, em função de
dificuldades para comprovação de seu registro de nascimento e regularização de sua condição
legal no país, que impedem a comprovação de sua nacionalidade. Com a criação dos abrigos,
houve melhoria no tocante à segurança física dos Warao, em especial proteção contra abusos,
violências físicas e sexuais e alimentar, além de atendimento emergencial e proteção contra
exploração do trabalho (OIM, 2018). Os municípios têm registrado mudanças importantes do
ponto de vista da saúde epidemiológica, em função do aumento da migração indígena. O intenso
fluxo migratório de índios da etnia Yanomami, originários da Venezuela, muitos deles
acometidos pela malária, tem refletido no aumento dos casos da doença em Roraima. Eles
frequentemente procuram os polos-base de saúde indígena, localizados em área fronteiriça, como
o de Auarís (Amajarí), Apiaú (Mucajaí), Caynaú e Ajarani (Iracema) para tratamento. Isso,
também refletiu no aumento no número de atendimentos médicos de indígenas para tratamento e
diagnóstico da doença (Relatório Anual…, 2019). Não obstante, os migrantes indígenas de
origem venezuelana também têm se deslocado com frequência pelas fronteiras brasileiras. A OIM
(2018) identificou que até 675 indígenas da etnia Pemon chegaram em Pacaraima, em março do
corrente ano. Ao passo que 591 Waraos saíram do estado e se estabeleceram em Belém e
Santarém, no Pará.

2.4 IMPACTOS NA SEGURANÇA PÚBLICA

2.4.1 Aumento da Criminalidade e envolvimento de Venezuelano no cometimento de crimes

A violência vem aumentando a cada dia com o advindos de venezuelanos migrando para
o brasil em direção a cidade de Pacaraima, moradores de Pacaraima relatam sobre a violência na
cidade a 214 km de Boa Vista (RR), que faz divisa com a Venezuela. Furtos e roubos se tornaram
frequentes e a situação revela que, com o aumento da pobreza está diretamente ligado com o
aumento da violência. Segundo o censo de 2010,  Pacaraima tinha 4514 habitantes, tem hoje
quase quatro vezes mais. O aumento se deve a migração venezuelana registrada nos últimos 5
anos. Com o aumento de moradores e o não investimento dos governos municipal, estadual e
federal na região, a pobreza se tornou realidade visível nas ruas de Pacaraima. Esse aumento da
população desordenado traz consigo a miséria e pobreza onde acarreta no aumento descontrolado
da criminalidade local. Essa migração se deu devido a crise econômica aprofundada pelo
bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos desde 2015 à Venezuela, assim como a crise
do mercado petroleiro, foram os fatores determinantes para essa crise migratória.

Em 2014, 47 pessoas foram mortas por arma de fogo em Roraima. Já em 2017 quase o
dobro, 93. Os últimos dados divulgados pelo Atlas da Violência em relação a estupros são de
2016. Em 2014 foram registrados 128 casos, em 2015 uma pequena queda, e um aumento em
2016, com 156 casos registrados no estado. Os números não param de crescer. Se em 2018,
houve 57.956 homicídios no Brasil, o menor nível desde 2015 e em quase todos os estados houve
queda nas taxas de homicídios por 100 mil habitantes em comparação com 2017, Roraima foi
uma exceção (alta de 51,3%), ao lado de Amapá (7%) e Tocantins (2%). Visto que o estado de
Roraima é um estado pequeno em ascensão, com o aumento da população também estão vindo as
problemáticas.

O governo tem implementado políticas públicas para dirimir os impactos advindos


dessa migração, o atendimento da triagem junto aos estrangeiros se inicia com a operação
Acolhida, que por sua vez, por uma equipe multidisciplinar. Na área da Segurança Pública,
especificamente, houve intervenção federal com Força Nacional e patrulhamento ostensivo, e
intervenção de agentes penitenciários federais através da Força-Tarefa de Intervenção
Penitenciária (FTIP). Além da FTIP atuou também a força tarefa denominada Força Integrada de
Combate ao Crime Organizado (FICCO), composta por policiais civis, militares e policiais
federais.

Em fevereiro deste ano, 2020, a bancada de Roraima no Senado cobrou, em sessão


plenária, providências do governo federal no controle da violência e dos conflitos causados pela
entrada de imigrantes venezuelanos no estado, pelo município de Pacaraima, que faz fronteira
com a Venezuela. Os senadores Chico Rodrigues (DEM-RR), Messias de Jesus (Republicanos-
RR) e Telmário Mota (Pros-RR) criticaram a lei de migração (Lei 13.445, de 2017) e pediram
atenção à cidade, que não possui estrutura e nem recursos para abrigar os refugiados.
A migração descontrolada de venezuelanos para Roraima tem contribuído para o
aumento da violência no Estado. Segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública
(SESP), só no primeiro semestre de 2016 os casos de delitos praticados por estrangeiros vindos
do país vizinho foram 40% maior que durante todo o ano anterior. De acordo com a SESP, em
2015, na Capital, foram registradas 11 infrações criminais cometidas por venezuelanos. Nos
municípios do interior, apenas quatro. De janeiro a junho de 2018, em Boa Vista, foram 16
delitos e, no interior, mais cinco crimes.
O número de infratores venezuelanos autuados pela prática de algum crime também
cresceu mais de 110% no período. Em 2015, apenas 10 estrangeiros responderam na Justiça por
cometimento de delitos em Roraima. No primeiro semestre do ano de 2018, o número saltou para
21. No ano de 2017, conforme a Secretaria de Segurança, os crimes de tráfico de drogas, ameaça,
lesão corporal, injúria e difamação estavam entre os mais cometidos por venezuelanos em
Roraima. Já no ano 2018, os crimes mais comuns foram estupro, ameaça, furto, injúria e lesão
corporal.
Roraima verificou um grande aumento no número de crimes cometidos por imigrantes,
em sua maioria venezuelana, segundo relatório estatístico do Centro Integrado e Operações
Policiais da Secretaria Estadual da Segurança Pública. Os números divulgados revelam que nos
anos de 2017 e 2018 foram registradas 5.939 ocorrências envolvendo estrangeiros, sendo que
95% desses casos foram praticados por venezuelanos. Os dados demostram que em 2017 o
atendimento emergencial registrou 1.765 acontecimentos, representando 2,26% das 77.939
demandas do ano. Enquanto que em 2018 foram registradas 4.173 ocorrências, representando
5,8% no universo de 71.852 casos gerais, com taxa de crescimento de 2017 para 2018 na ordem
de 136%. A maior onda de crimes na capital aconteceu no bairro Caimbé, onde em 2018 foram
registradas 361 ocorrências, um aumento de 94 casos, se comparado com 2017. O Centro da
cidade ocupa a segunda posição com 371 casos em 2018 e 186 no ano anterior. O terceiro lugar é
do bairro São Vicente, que registrou 360 ocorrências em 2018 e 103 em 2017. As posições
seguintes são ocupadas pelos bairros 13 de Setembro, Buritis, Liberdade, Pintolândia, Asa
Branca, Tancredo Neves, Mecejana, Pricumã, São Francisco, Jardim Floresta e Senador Hélio
Campos. Essas áreas apresentam altas demandas de ocorrências por conta da concentração de
estrangeiros em torno de abrigos e semáforos.
Contudo a implantação da politicas publicas corretas e a rigorosidade nas leis
juntamente com o controle fronteiriço pode dirimir essa problemática de migração desordenada e
assim diminuir o número de casos de crimes e violência nas cidades fronteiriças. Logo temos um
controle real e diminuição de índices que aumentaram com o início dessa migração em massa.

2.4.2 Incidência na participação de Venezuelanos em Facções Criminosas

Quando falamos da criminalidade envolvendo venezuelanos no estado de Roraima


temos que analisar os motivos pelos quais levaram essas pessoas a entrarem em território
nacional se instalarem e entrarem para o mundo do crime. Como é de conhecimento de todos nos
últimos anos Roraima teve um crescimento populacional fora do normal, e o motivo que levou
essa expansão populacional foi a vinda de venezuelanos para o estado de Roraima.

Devido a problemas políticos, econômicos e sociais enfrentados pelo país vizinho sua
população foi obrigada a procurar novas fronteiras em busca de melhorias, um dos destinos mais
procurados pelos imigrantes é o Brasil, devido a política adotada em relação a estrangeiros e as
proximidades dos países. Vale salientar, que o Brasil mais especificamente o estado de Roraima
não estava preparado para receber essas pessoas de forma tão repentina, com isso instalou- se o
caos, pessoas vivendo nas ruas, passando fome jogadas a própria sorte.

Diante de tudo isso, um dos problemas que vem alertando as autoridades é o


envolvimento de venezuelanos na criminalidade e mais especificamente em facções criminosas.
Nota-se no estado por meio de índices o quão alarmante é o número de venezuelanos praticando
crimes no estado de Roraima, delitos que vão do furto ao homicídio, segundo as autoridades
competentes tudo isso chamou a atenção da facção criminosa mais atuante no estado(PCC),
muitos desses criminosos são oriundos de prisões na Venezuela ou seja já estavam no mundo do
crime no seu país de origem , ou até mesmo já faziam parte de organizações criminosas e com
todo esse cenário deslocaram suas atividades pro Brasil.

Dentro deste contexto o PCC viu nesses estrangeiros oportunidades de obterem


vantagens, segundo as forças polícias eles fizeram aliança com o grupo criminoso trem de arágua
organização está responsável por roubos, tráfico de drogas, armas e homicídios no país vizinho,
segundos levantamentos feitos por forças de segurança mais de 700 venezuelanos já foras
batizados pelo PCC em Roraima e integram a organização criminosa, fica nítido o interesse do
pcc trazer esses estrangeiros por seu lado com o interesse de reforçar seus integrantes e além do
mais conseguir armas de grosso calibre tendo em vista a facilidade de serem adquiridas no país
vizinho.
Dessa forma fica evidente o porquê dos índices de criminalidade envolvendo
venezuelanos estarem ganhando destaque, outro ponto importante é a apreensão de armas pesadas
em Roraima tais como fuzis, metralhadoras todos oriundos de território venezuelano, o que gera
insegurança a população local e preocupação para o estado que deve buscar soluções para evitar
essas atividades criminosas no Estado e principalmente combater o tráfico de armas que abastece
essas facções criminosas.
Que por sua vez, com o intuito de enfrentar toda essa problemática envolvendo
imigrantes e a prática de crimes no estado de Roraima, autoridades da segurança pública se
reuniram com a finalidade de traçar estratégias para o enfrentamento desta crise, também esteve
presente no encontro a embaixadora venezuelana Maria Teresa belandria, a ideia principal é a
troca de informações entres as duas Nações, ficou evidente que o principal meio de combater tais
atos se dá através da inteligência das forças de segurança, um trabalho que já vem sendo feito e
obtendo bons resultados, neste contexto a troca de informação vai alavancar ainda mais o
trabalho nesses setores tendo como resultado o enfraquecimento e o fim dessas organizações
criminosas, cumpre salientar que o estado também conta com a FICCO (força integrada de
combate ao crime organizado) que também conta com apoio da pm, civil e sejuc sob coordenação
da Pf,grupo que tem logrado êxito no combate ao crime, atacando diretamente essas
organizações criminosas.

2.5 MECANISMOS PARA MITIGAR A PROBLEMÁTICA DA IMIGRAÇÃO


VENEZUELANA EM RORAIMA

Com a crise política e social na Venezuela, como citado anteriormente, houve um


aumento significativo da entrada de venezuelanos no Brasil, usando como porta de entrada o
Município de Pacaraima, sendo o mais ao norte do Estado de Roraima. O crescimento
populacional de forma abrupta no Estado de Roraima trouxe consigo alguns problemas sociais,
dentre os quais podemos citar o aumento da demanda de pessoas morando nas ruas, pedintes em
cruzamentos e semáforos, pessoas sem qualquer renda para prover a própria alimentação muito
menos de seus familiares, além do mais citamos a crise na saúde pública, educação e segurança,
sejam por conta da diferença linguística, cultural ou até mesmo com a grande necessidade de
acesso aos serviços públicos por parte dos venezuelanos.

Quando citamos a crise na saúde, educação e segurança pública no Estado de Roraima


causada pelo aumento populacional de forma rápida, ou seja, sem a previsibilidade da
possibilidade da vinda em massa de pessoas de outra nacionalidade para o Brasil, cabe ressaltar
que essas pessoas estão saindo de seu país não por opção e sim por necessidade, fugindo da crise
econômica e social instalada em seu país de origem. O estado de Roraima não estava e ainda não
está preparado para receber esses imigrantes venezuelanos, pois pelo fato de não haver essa
previsibilidade de aumento populacional tão repentina, principalmente a saúde e educação não
conseguem acompanhar o crescimento nessas demandas, sejam por vagas em hospitais, postos de
saúde e escolas sejam no âmbito estadual ou municipal.

2.5.1 Operação Acolhida

A operação acolhida sob responsabilidade das Forças Armadas Brasileiras, foi criada em
2018, em decorrência do grande fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil, a criação da
operação acolhida tem como principal objetivo recepcionar os imigrantes venezuelanos de forma
a prestar-lhes assistência humanitária, cabe ressaltar que a operação acolhida é uma integração de
vários órgãos sejam eles no âmbito da União, Estados e Municípios, prestando-lhes apoio por
meio de políticas sociais, assistência à saúde, educação e segurança.
De acordo com que prescreve Oliveira (2019), a Operação Acolhida possui três
objetivos específicos, os quais cita:

(...)organização do fluxo migratório venezuelano; oferta de abrigo aos migrantes, bem


como assistência alimentar e médica; e posterior realocação dos migrantes que entram
diariamente, e especialmente, pelas fronteiras terrestres para outros estados do Brasil,
que é o processo de “interiorização”.
Quando analisamos os objetivos específicos da operação acolhida citados por Oliveira
(2019), fica claro a importância da Operação Acolhida nas ações de apoio aos migrantes
venezuelanos que vem para o Brasil em busca de melhores condições de vida.
Ainda no ano de 2018 foi editada e publicada a Lei nº 13.684 de 21 de junho de 2018
que dispõe sobre: “(...)Medidas de assistência emergencial para o acolhimento a pessoas em
situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária, e dá
outras providências”.
Dentre os objetivos da Lei nº 13.684 de 21 de 2018, podemos citar seu artigo 5º,
responsável pela ampliação das políticas de:

Art. 5º As medidas de assistência emergencial para acolhimento a pessoas em situação


de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária
visam à ampliação das políticas de:
I – proteção social;
II – atenção à saúde;
III – oferta de atividades educacionais;
IV – formação e qualificação profissional;
V – garantia dos direitos humanos;
VI – proteção dos direitos das mulheres, das crianças, dos adolescentes, dos idosos, das
pessoas com deficiência, da população indígena, das comunidades tradicionais atingidas
e de outros grupos sociais vulneráveis;
VII – oferta de infraestrutura e saneamento;
VIII – segurança pública e fortalecimento do controle de fronteiras;
IX – logística e distribuição de insumos; e
X – mobilidade, contemplados a distribuição e a interiorização no território nacional, o
repatriamento e o reassentamento das pessoas mencionadas no caput deste artigo.

Com a edição da Lei nº 13.684 de 21 de junho de 2018, fica claro a preocupação com os
efeitos negativos do fluxo migratório, principalmente com a leitura do artigo 5º em que define a
ampliação das políticas públicas para o atendimento dos imigrantes, porém tais ampliações não
acompanharam o crescimento populacional, pelo fato do aumento da demanda por vagas na
saúde pública e na educação, sendo percebido pelas filas e demoras nos atendimentos sejam nos
hospitais, postos de saúde e matrículas em escolas sejam elas municipais ou estadual.

2.5.2 Lei de Imigração

Em 24 de maio de 2017 foi instituída a Lei de Migração, Lei 13.445 responsável por
definir alguns direitos e deveres do migrante e do visitante, bem o define a diferenciação das
modalidades de migrantes em seu artigo 1º, § 1º conforme abaixo:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante, regula a
sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas
para o emigrante.
§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se:
I - (VETADO);
II - imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se
estabelece temporária ou definitivamente no Brasil;
III - emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior;
IV - residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a
sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho;
V - visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas
de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no
território nacional;
VI - apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado,
segundo a sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de
1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002 , ou assim reconhecida
pelo Estado brasileiro.

O artigo 1º da referida Lei traz a diferenciação entre o imigrante, emigrante, residente,


visitante e o apátrida, tais diferenciações tem como principal objetivo a definição de direitos e
obrigações de cada categoria de migrantes. A Lei de Imigração tem como princípio a proteção
dos direitos humanos, aplicando as pessoas nas condições de migrantes algumas garantias
fundamentais para o atendimento da dignidade humana, ficando claro dessa forma uma visão
humanística da referida Lei independentemente da nacionalidade ou de outras condições do
migrante.
Podemos perceber que a política migratória no Brasil tende a atender os objetivos das
convenções e tratados celebrados no Brasil direcionado a atender as Declarações de Direitos
Humanos, pois a Lei de Imigração traz mecanismos para atender e complementar direitos e
garantias contidas em nossa Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º assim o define,
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”.

Como bem esclarece acerca de alguns direitos dos migrantes a Lei nº 13.445/2017 em
seu artigo 4º:

Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os


nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, bem como são assegurados:
I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos;
II - direito à liberdade de circulação em território nacional;
III - direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus
filhos, familiares e dependentes;
IV - medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos;
V - direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro
país, observada a legislação aplicável;
VI - direito de reunião para fins pacíficos;
VII - direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos;
VIII - acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social,
nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição
migratória;
IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da
condição migratória;
XI - garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de
aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da
nacionalidade e da condição migratória;
XII - isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência
econômica, na forma de regulamento;
XIII - direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados
pessoais do migrante, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 ;
XIV - direito a abertura de conta bancária;
XV - direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo
enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de
transformação de visto em autorização de residência; e
XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas
para fins de regularização migratória.

Paulo Henrique Gonçalves Portela (2017) bem elucida a noção da universalidade dos
direitos humanos conforme abaixo:

[...] em decorrência da noção da universalidade dos direitos humanos, que estabelece


que todos os indivíduos são igualmente destinatários dos mesmos direitos, sem distinção
de qualquer espécie, e como consequência do incremento dos fluxos internacionais,
inclusive de pessoas, e da formação de espaços internacionais comuns, como os blocos
regionais, a situação jurídica dos não nacionais assemelha-se cada vez mais à dos
nacionais, gozando aqueles de quase todos os direitos destes, sem o que o
desenvolvimento das relações internacionais poderia encontrar obstáculos adicionais.

Ficando claro que o principal objetivo da Lei de Imigração é o tratamento de forma


humanitário para com os migrantes, independentemente de qualquer distinção entre eles.

2.5.3 Ações do 3º Setor “Organizações não Governamentais”

A (Organização das Nações Unidas - ONU através da UNICEF e ACNUR começaram a


implantar alguns programas a fim de reduzir o número de venezuelanos nas ruas. Em 2018 O
UNICEF abriu um escritório em Boa Vista, localizado em um espaço fornecido pela
Universidade Federal de Roraima. A equipe local é composta por um coordenador e seis
consultores, com o apoio de várias missões dos escritórios nacionais e regionais do UNICEF e a
partir daí realizou uma campanha para matricular meninas e meninos migrantes vivendo em
abrigos e matriculou em escolas formais 824 crianças e adolescentes. Além disso, 218 educadores
estaduais e municipais participaram de um seminário internacional de educação que produziu um
instrumento de advocacy para melhorar a integração de migrantes na educação formal.

Em parceria com o Ministério Público e as universidades federais e estaduais de


Roraima, o UNICEF está trabalhando na possibilidade de reconhecimento dos Espaços de
Aprendizagem como parte da educação formal. O ACNUR (Alto Comissariado da Nações
Unidas), agencia da ONU para refugiados, foi criada em 1950 após a Segunda Guerra Mundial,
inicialmente para ajudar os europeus, hoje, após 60 anos estendeu atendimento para refugiados
em todo mundo. Iniciou suas atividades aqui no estado de Roraima em junho de 217 e atua
dentro dos abrigos para refugiados em parceria com a Operação Acolhida. Em 2018 o ACNUR
abriu outro escritório em Pacaraima, porta de entrada dos venezuelanos no Brasil, para atender
mais de perto as demandas dos migrantes venezuelanos.

A igreja também tem trabalhado para tentar diminuir a situação crítica dos venezuelanos
aqui em Roraima. São diversos projetos voltados para prover as necessidades mais básicas do ser
humano. Através o Projeto (Caminhos da Solidariedade a igreja busca uma articulação conjunta
com a Igreja na Venezuela e tem como objetivo contribuir para que a acolhida e as ações de
integração sejam fortalecidas para atendimento digno aos migrantes em Roraima e nos demais
estados do Brasil, a exemplo temos Dioceses do Paraná, da Paraíba e de Sergipe que já acolheram
migrantes venezuelanos por meio do projeto Caminhos de Solidariedade. Também foram
acolhidas famílias no Paraná, no Distrito Federal e em São Paulo, por meio do programa de
integração da Cáritas Brasileira.

As ações do Terceiro Setor refletem indiretamente na segurança pública de forma


positiva, uma vez que agem na questão de alimentação, vestimenta, educação, integração,
internalização e cadastramento dos migrantes e com isso, haverá menos migrantes cooptados pelo
crime e organizações criminosas, pois sabemos que alguns crimes como furto e roubo e tráfico de
drogas são cometidos por pessoas que não tinham antecedentes criminais mas se viu obrigado a
entrar no mundo do crime para prover alimentação e moradia para o filho, esposa ou outro
parente próximo, tendo em vista que antes de aderir a isso o então agora criminoso já havia
tentado de outras formas conseguir esses itens básicos para si e sua família.
3 CONCLUSÃO

Existem vários fatores que levaram o estado de Roraima ser um dos estados do Brasil o
mais afetado com a imigração venezuelana, dentre estes: políticos, sociais e econômicos, em
consequência da crise em que a Venezuela enfrenta causando a superlotação em nosso estado e os
impactos na segurança pública.
Foram inúmeras tentativas, reuniões e estratégias para solucionar as eventuais
problemáticas, trazidas pelos imigrantes, que causaram um impacto negativo referente aos altos
índices de criminalidade, fato este que vem sendo estudado e planejado. Houve a necessidade da
integração de vários órgãos, afim de diminuir este índice, trazendo mais segurança ao nosso
estado de Roraima.
Esta integração pode ser conceituada como umas das mais eficazes, vemos isto através
dos dados estatísticos que declina e estabiliza.
No caso, as operações que são realizadas na cidade de Pacaraima, que é porta de entrada
dos imigrantes venezuelanos, estão sendo monitoradas e controladas afim de dirimir os impactos
advindos dessa migração, através da operação acolhida.
Concluímos assim que este impacto de imigração venezuelana relacionado a segurança
pública do nosso estado vem sendo estudado, corroborando com a obtenção de bons resultados,
haja vista, os benefícios alcançados no combate à criminalidade e o tráfico de ilícitos.
REFERÊNCIAS

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Dirur/Ipea – autora do relatório © Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2021. acesso
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Lei Federal Nº 9.474, de 22 de julho 1997. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm. Acessado em 27 de novembro de 2021.

Sem autor: O que levou a Venezuela ao colapso econômico e à maior crise de sua história.
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levou-a-venezuela-ao-colapso-economico-e-a-maior-crise-de-sua-historia.ghtml. Acesso em 27
de novembro de 2021.
ANEXO

© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2021IMIGRAÇÃO VENEZUELA-


RORAIMA: EVOLUÇÃO, IMPACTOS E PERSPECTIVAS

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