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UNIVERSIDADE SÃO TOMAS DE MOÇAMBIQUE

MAPUTO

Cadeira: Finanças públicas e direito financeiro/2º Semestre.


1ºano do curso de direito/2021

Instrumentos Financeiros

Instrumentos financeiros são meios que o Estado utiliza para exercer


actividade financeira e satisfazer necessidades colectivas. Os instrumentos
financeiros são seguintes:

- O orçamento do Estado e Plano Económico e Social (PESOE)


- O património do Estado.
- O crédito publico
- A conta do Estado;
- O tesouro publico.
- As receitas públicas
- A divida publica
- A despesa pública

O orçamento do Estado origem e conceito


A instituição orçamental tem origem no século XIX, ligado á consolidação
do sistemas políticos liberais na Europa, preocupada com a protecção das
liberdades e garantias dos cidadãos com relação a actividade financeira do
Estado e intromissão do poder aos seus rendimentos e propriedades.

O orçamento é um documento no qual estão previstas as receitas a


arrecadar e fixadas as despesas a efectuar num determinado ano

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económico, é um instrumento de implementação da política financeira do
Estado. Vide art. 130 e ss da CRM, art. 12 e ss do SISTAFE
No orçamento do Estado as receitas devem ser previstas e as despesas
fixadas.

O orçamento do Estado é aprovado pela Assembleia da República (alínea


m) do nº 2 do art. 179 CRM) e nele, encontramos a autorização dada ao
governo para através das instituições que compõem a administração pública
realizar determinadas despesas até um valor fixado e cobrar receitas nos
valores estimados.

O orçamento do Estado é um instrumento que serve para controlar a


administração pública no âmbito da actividade financeira e gestão do erário
público.

O orçamento do Estado é o quadro básico que determina a actividade


financeira do Estado, determina os montantes a despender para o
funcionamento do governo num dado ano económico e deve respeitar aos
princípios elencados no artigo 13 do SISTAFE, tanto no que se refere a
preparação quanto á execução: Anualidade, unidade e universalidade,
especificação, não compensação, não consignação, equilíbrio e publicidade

Funções e dimensões do orçamento


Dentre as varias funções do orçamento iremos destacar as que abaixo se
apresenta que coincidem com a dimensão deste instrumento:

a) Função económica
b) Função política
c) Função jurídica

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a) Função e dimensão económica
O O.E é uma previsão de gestão orçamental e exposição do plano
financeiro do Estado para determinado ano.
O orçamento tem dimensão e função económica porque é um instrumento
de gestão financeira do Estado. Através dele, o Estado faz as opções
económicas fundamentais e mais racionais para o desenvolvimento do país
e o bem-estar social. Facilita a gestão dos dinheiros públicos, tornando-a
mais racional e eficiente.
O O.E é um elemento fundamental na definição e execução da política
económica e social do Governo e permite aos agentes económicos e a
sociedade no geral conhecer as principais linhas desta política, funcionando
em articulação com o plano económico e social- PES (art. 128 CRM), que
espelha política económica e social do Governo

b) Função e dimensão política


O orçamento tem dimensão e função política porque é um instrumento de
autorização política do plano financeiro, na qual o parlamento autoriza o
Governo a realizar certas despesas e a cobrar determinadas receitas
previstas.
O O.E garante que a tributação dos rendimentos das empresas e dos
cidadãos e sua utilização estejam dependentes da aprovação da Assembleia
da República aonde estão os representantes do povo
O O.E assegura o equilíbrio e a separação dos poderes na medida em que a
Assembleia da República tem exclusivo poder para autorizar a arrecadação
das receitas e sua utilização e, o Governo executa o orçamento isto é, cobra
as receitas e realiza as despesas através dos seus órgãos e instituições da
administração pública e presta contas ao Tribunal Administrativo e ao

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parlamento. ( vide art. 179 n.º 2 alínea m), 204 n.º 1 alínea e), todos da
CRM e art. 26 e 35 do SISTAFE).

O Tribunal Administrativo e o parlamento fiscalizam a execução do


Orçamento do Estado (vide art. 131 e 230 n.º 2 da CRM).

c) Função e dimensão jurídica


O Orçamento do Estado tem função jurídica por ser uma norma jurídica.
Trata-se de uma lei que limita a acção da administração pública no
concernente a gestão de fundos públicos.

O orçamento do Estado na qualidade de norma jurídica fundamenta a


actividade financeira do Estado e limita as arbitrariedades na gestão do
dinheiro público e, tem consagração constitucional. Art. 130 da CRM

As funções e dimensões do orçamento do Estado tem uma relação de


interdependência e complementaridade pois, ao analisarmos vamos
verificar que a efetivação de uma depende de outras que a complementa
e vice-versa.

A autorização parlamentar para a aprovação do orçamento é uma


decisão política, (dimensão e função politica) com vista a se alcançar
objectivos determinados, eficiência e racionalização na gestão do
dinheiro publico (dimensão e função económica) sendo que, estas duas
dimensões e funções (económica e política) só serão concretizáveis se
for garantida uma adequada fiscalização que é exercida pela função
jurídica.

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Figuras afins do orçamento do Estado
Ao falar de figuras afins do orçamento pretendemos falar de realidades
semelhantes e que, podem confundir-se com ao orçamento do Estado
tais como:

a) Conta do Estado:
É um registo de factos passados reportando o modo como foi executado
o orçamento do Estado enquanto, o orçamento do Estado é uma
previsão da execução financeira.

b) Balanço do Estado:
O balanço avalia o activo e passivo patrimonial do Estado num
determinado período com vista a apurar a sua situação patrimonial.

c) O orçamento das pessoas privadas:


Ė um orçamento não vinculativo ás pessoas que o detêm e, embora seja
instrumento de gestão, não está dotado das funções política e jurídica

d) Orçamentos administrativos:
Os orçamentos administrativos são aqueles que respeitam a sectores da
administração pública, constituem portanto, parte do orçamento do
Estado.

Preparação e aprovação do orçamento do Estado


A preparação e elaboração do O.E cabe ao Governo e para tal, é apoiado
pelos órgãos da administração pública ou instituições do Estado, e tem
como órgão coordenador desta acção o Ministério da Economia e

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Finanças, através da Direcção Nacional de Plano e Orçamento e esta
actividade integra-se no subsistema do Orçamento do Estado

Com vista a dar inicio ao processo da elaboração das propostas, o


ministério das finanças na qualidade de órgão coordenador do sistema
do orçamento do Estado comunica aos diversos órgãos, instituições do
Estado, províncias e autarquias as orientações, metodologias a seguir e
os limites orçamentais de cada instituição e outras informações
pertinentes para elaborarem as suas propostas.

As instituições ou órgãos do Estado elaboram as propostas e submetem


ao órgão tutelar ou competente e, uma vez aprovado pelas respectivas
entidades responsáveis das instituições proponentes, todas as propostas
são enviadas ao ministério das finanças (direcção nacional do plano e
orçamento) para serem analisadas, alteradas se necessário e unificadas
para adequa-las aos requisitos exigidos

Após correcção e unificação, o governo, através do ministério das


finanças submete a proposta elaborada composto pelos mapas e os
elementos previstos no SISTAFE á Assembleia da República
(comissão do plano e orçamento)
Segunda fase
É a fase da discussão, que inicia na comissão do plano e orçamento da
AR, que discute na especialidade e observa as questões técnicas,
podendo os deputados introduzir algumas alterações com vista a
responder á política económica e social ou outras questões relevantes
De seguida, a Assembleia da República delibera com vista a aprovação
ou não aprovação da proposta do orçamento do Estado o SISTAFE.

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Com a aprovação o governo fica autorizado a executar o O.E conforme
previsto o que esteja previsto na lei que aprova o O.E de cada ano

Caso, a proposta do orçamento não seja aprovado até a data fixada é


reconduzido o do exercício económico anterior até a aprovação do novo
orçamento.
Por último a Lei do Orçamento do Estado vai á Publicação no Boletim
da República, em obediência ao princípio da publicidade, plasmado na
CRM e no SISTAFE

Execução do orçamento do Estado.


Uma vez aprovado o orçamento, o governo toma medidas necessárias,
para a comunicação das dotações atribuídas as instituições, provinciais e
todos os órgãos da administração pública para que a execução inicie a
01 de Janeiro. Significa que, a partir desta data o governo apoiado pela
administração pública ou instituições do Estado fica autorizado a iniciar
a cobrança de receita, recurso ao credito etc e a realização de despesas
nos limites previstos.

A execução orçamental deve obedecer os princípios da legalidade, no


sentido de respeitar a lei e o da prévia justificação no sentido de realizar
despesas ou cobrar receitas com base em suportes justificativos .

A nível central a execução do orçamento é da responsabilidade do


Ministério da Economia e Finanças e, ao nível provincial ela compete
aos Serviços de Economia e Finanças.

Princípios e fases da despesa pública

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A despesa pública para além de ter de ser legal e apresentar prévia
justificação deve respeitar ainda os princípios da economicidade, no
sentido de uso racional dos fundos, minimizando os custos, da eficiência
no sentido de maximizar os resultados e da eficácia no sentido de obter
os resultados pretendidos e ainda ter cabimento na respectiva rubrica de
despesa
As fases ou procedimentos para a realização da despesa estão previstos
no SISTAFE:

Cabimento: verificação, registo e cativo do valor da despesa a assumir


e verificação dos requisitos para realização da despesa

Liquidação: apuramento do valor a pagar e emissão da ordem de


pagamento pela entidade competente

Pagamento: entrega do valor ao credor e titular do documento que


justifica a despesa.

Com relação a receita os procedimentos a seguir para a sua cobrança


além de respeitar o princípio da legalidade, como seja o facto de ter de
ser legal e estar inscrita no orçamento do Estado, deve respeitar ainda as
fases previstas no SISTAFE:

Lançamento: verificação e registo da ocorrência do facto gerador da


obrigação

Liquidação: determinação e registo do valor que o Estado tem a receber


e do respectivo devedor ou sujeito passivo.

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Cobrança: tomada de posse da receita e entrega ao tesouro publico ou
cofre do Estado

A Docente

Novembro de 2021

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