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Meta
Explorar como a questão de valor participa de todas concepções, práticas, avaliações e
gestão da manutenção. Neste contexto as produções concretas e simbólicas e sua
manutenção também serão abordadas.
Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1.0 INTRODUÇÃO
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produção, de uma forma quase sempre reativa e reparadora, mais recentemente passa
a ser considerada como uma atividade estratégica para as organizações e para as
cadeias de suprimentos envolvendo várias organizações, sendo ativa ou pró ativa e
produtora.
Ao longo da disciplina você vai verificar isto, por exemplo, na perspectiva de gestão de
ativos. Particularmente, quando há uma preocupação com a sustentabilidade dos
processos, esta posição fica ainda mais destacada.
Nesta aula, você vai explorar como a questão de valor participa de todas concepções,
práticas, avaliações e gestão da manutenção. Neste contexto as produções concretas
e simbólicas e sua manutenção também serão abordadas.
2.0 CONCEITOS
Nas interações entre organizações, que sempre constituem uma forma de produção, há
expectativas quanto às transformações a serem alcançadas por meio das formas de
produção disponíveis. A intencionalidade da consciência que produziu com uma
finalidade, esperar alcançar, em alguma medida, aquela finalidade. A comparação ou
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razão entre essas expectativas e os resultados alcançados na produção, em geral,
corresponde a alguma forma de desempenho ou medida de desempenho.
INFORMAÇÃO SOCIEDADE
MATERIALIDADE
imaginário VALOR VALOR imaginário
Sujeito Sujeito
consciente consciente
expectativa
expectativa
AÇÃO
TRANSFORMAÇÃO
ENERGIA
MUNDO DA VIDA
MÁTERIA
Nos sítios na internet, quando você clica no gesto de que gostou ou não gostou,
juntamente com milhares de outros sujeitos, que nunca viu nem vai ver, o valor do
produto e de seu produtor estão sendo transformados instantaneamente...O quanto
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você gostou, de que gostou e por que gostou, certamente, diferem do que acham os
demais, mas na métrica de quantidade de aprovações, isso não conta, pelo menos em
uma primeira avaliação.
Essa relatividade percebida pode ser considerada a base do valor. Porque todo valor é
valor relativo, em uma escala própria. Contratos comerciais, normas técnicas,
legislações são, em essência, acordos ou imposições de valores, conforme o contexto
social. O que é certo e o que não é. O que é caro e o que é barato. O que é bom ou
ruim, são exemplos de problemas de valor.
Qual o valor de sua produção? Isto pode ser respondido por números, em uma escala
de valores financeiros para remuneração; ou com base em outros conceitos: estou
satisfeito com ela, ou não estou feliz com o que faço; ela é maravilhosa, mas ninguém
valoriza o que eu faço!
Todos os valores são uma forma de construção social, consensual ou não. O valor e o
desempenho vão ser a base das relações entre as organizações e as formas de
produção e de manutenção que serão discutidas adiante.
Sem uma clara percepção de como os valores e o desempenho são percebidos, você
terá dificuldades nas interações profissionais e pessoais em qualquer organização. E
não conseguirá planejar, executar, ou gerir qualquer atividade de manutenção em
sintonia com a organização ou as organizações que demandam ou em que se executa
a atividade.
Então, surgem algumas questões: o que tem mais valor (relativo)? Como isto se define
no Mundo da Vida e nas organizações?
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2.2 Risco, perigo e dano
No senso comum, as pessoas dizem que toda ação tem riscos... Nesse caso, em geral,
risco é a possibilidade de algo indesejado acontecer, como um acidente, ou algo que
constitui prejuízo a alguém. De forma semelhante, as pessoas se referem a uma
condição perigosa ou arriscada.
Para uma definição mais formal, você pode considerar as referências da Royal Society
(1992):
“the potential to cause harm” and also as “a property or situation that in particular
circumstances could lead to harm”.
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Você pode associar, agora, os conceitos de valor, risco, perigo e dano a diversos
contextos importantes para a EP e seu desempenho profissional.
Nesta correlação de sentidos, agir é sempre correr riscos, refletindo-se sobre a relação
entre o valor relativo da produção pretendida e dos danos que ela possa gerar ou que
possam ocorrer se algo não acontecer conforme o esperado.
Como cada ação, visando à produção, despende energia e significa trabalho, humano
ou não, ela ocorrerá pelo valor socialmente reconhecido nesta produção e relacionado
com seus resultados, conforme as expectativas dos sujeitos sejam mais ou menos
satisfeitas. Ações serão preferidas a outras em função de seu valor.
Há, portanto, risco na ação de se produzir, por não se alcançar o desempenho desejado
que gere retorno. Por outro lado, para se evitar que acidentes e outros fenômenos
interfiram negativamente na produção, é preciso agir – como na manutenção – o que
também tem valor relativo e riscos associados, como em qualquer produção. Assim, as
ações com menor risco serão preferidas em relação as demais.
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As organizações não são, naturalmente, permanentes, ou seja, elas não se mantêm
inalteradas, por elas mesmas, ao longo do tempo. Isto vale para as ordenações lógicas
e as organizações sociais.
Quanto tempo durou aquela última arrumação que você fez em sua gaveta ou bolsa?
Por que não continua arrumada? Por experiência, você sabe que isso não acontece e,
se você preza a ordem, precisa manter a arrumação com intervenções periódicas, do
contrário, vai imperar o caos, em algum tempo.
Pense também no seu organismo. Sem se cuidar você pode ficar doente e mesmo
“parar de funcionar”.
Cada transformação implica em uma perda de energia que não pode ser mais usada
para uma outra transformação seguinte ou para reverter a transformação realizada. O
conceito usado para designar esta perda ou indisponibilidade é entropia. A entropia é
usada para medir o grau de desordem das partículas em condições definidas.
Para que não alcance um estado caótico, é preciso que a organização renove seu
estoque de energia e de informação, que precisa vir de fora dela.
Deste modo, cada organização, por mais que tenha agentes internos responsáveis por
sua manutenção, precisa de interações com outras organizações para manter seu
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funcionamento. A renovação dos quadros de colaboradores segue a mesma linha
lógica.
Veja o caso de seu organismo. Ele dispõe, até certo ponto, de recursos para se manter,
mas, no caso de acidentes, grandes traumas, infecções graves, é preciso que agentes
externos atuem para reparar a saúde afetada. Do mesmo modo, apesar de haver
reservas de energia, sem o ar e os alimentos que vêm de fora do organismo, ele não se
manteria vivo ao final de uns poucos minutos.
Veja o caso da Terra. Sem a energia enviada pelo Sol e transformada em diversos
processos no Mundo da Vida, a vida aqui não seria viável.
As atividades humanas não produzem nem matéria nem energia, mas podem
transformar estas entidades, disponíveis na natureza, uma em outra, e vice-versa,
gerando fluxos das duas capazes de alimentar organizações, se opondo ao aumento da
entropia, ou se você preferir, do grau de desordem.
Por um lado, sem o fluxo de matéria e energia que se opõe ao aumento da entropia, a
vida não se sustenta. Por outro, para as organizações sociais sobreviverem, além dos
fluxos de matéria e de energia, precisam de interação com outras organizações e troca
de informações e circulação de pessoas. Daí a necessidade e o valor da manutenção,
quer considerada para um item de uma máquina, quer considerando a organização
como um item.
Na Fig.2 a ordem ou organização projetada, privativamente, pelo sujeito se transforma
(a ação de organizar começa no campo da elipse vermelha de seu imaginário e alcança
a elipse azul da realidade compartilhável com outros sujeitos) em objeto concreto (bloco
azul), através de uma produção intencional. Esta produção acontece na intersecção dos
campos imaginação (rosa) de produção/manutenção (azul), da sociedade (laranja) e do
ambiente natural (verde). O retângulo externo manutenção pode ser pensado como o
contexto em que tudo isto acontece, o que se deseja fazer. Mas, essa organização se
degrada, por força da entropia (setas tracejadas pretas conectando o objeto ao exterior),
e é preciso que o sujeito faça manutenção de seu produto, com suporte de fluxos e
matéria, energia e informação provenientes da sociedade e do Mundo da Vida.
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Matéria
Mundo da Vida
Sociedade
Energia
Manutenção
Abstração e Entropia
projeto
OBJETO DO
lógica MUNDO DA
VIDA
espaço organizar
Ação Sujeito OBJETO DO
consciente MUNDO DA desorganizar
tempo VIDA
nexo
Trabalho Produção
INTENCIONALIDADE
Linguagem
Na Fig.2, o sujeito consciente produz (bloco azul associado à produção e bloco amarelo
associado à manutenção), intencionalmente, e para isso se apropria do que conhece e
dos materiais e recursos de que dispõe, realizando um trabalho. Primeiro a intenção é
um projeto, uma linguagem mental. Em seguida, pode ser comunicado a outros sujeitos,
usando as linguagens e signos disponíveis (idioma, desenhos, modelos etc.). O passo
seguinte é a materialização do projeto. Observe que projetar, se comunicar e construir
algo concreto são formas de trabalho em que existem riscos e produção de valor.
Você já refletiu sobre como o valor de um produto se relaciona ao risco, agora será
importante explorar uma outra associação: entre valor e símbolo. E, neste caminho,
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você poderá refletir sobre a produção e a manutenção (dos valores) dos símbolos,
vinculados às demais produções. Antes disto, convém apresentar alguns conceitos.
Todo fenômeno que é percebido pela consciência vai ser transformado em uma forma
de produção que você pode chamar de experiência ou de conhecimento. Contudo, nem
toda experiência é consciente. Nem sempre você reflete sobre o que acontece ou está
sentindo.
A consciência em presença de qualquer fenômeno produz uma representação dele que
passa a ser a percepção da realidade. Na prática, você lida com a sua representação
da realidade que, inclusive, pode e costuma ser modificada com o tempo e experiência.
Você pensou e se lembrou de cenas que representavam, pelo menos para sua
consciência, o que seria manutenção...Estavam armazenadas na sua memória e você
produziu associações entre elas e o termo manutenção, atualizando aquelas
lembranças e formando novas imagens que, agora, representam outro forma de
entendimento ou de conhecimento.
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A linguagem é uma forma organizada de representação usando signos e as
representações não deixam de ser processos lógicos, ou formas de organização. Por
outro lado, as organizações de relações entre pessoas representam o que as pessoas
pensam e como são capazes de viver e de produzir em dado momento da história.
Pela mesma linha, as leis são uma representação formal dos valores morais, éticos,
políticos etc. que um grupo social adota em determinado momento da história.
Quando você diz que estuda EP, ou que é aluno do CEFET/RJ essas afirmações são
representações suas. Quando você começou “seu curso” elas, possivelmente, eram
diferentes das que você usa hoje. Ou, de outra forma, o que era EP para você vem se
modificando ao longo do tempo, com as contribuições de sua experiência e
modificações de sua consciência. Ao concluir o curso, seu diploma e CREA vão
representar para a sociedade sua capacidade e autoridade para agir profissionalmente.
Com a Gestão da Manutenção vai acontecer a mesma coisa! No mundo da vida, como
profissional, se suas representações e as de seus pares não coincidirem ou, pelo
menos, forem reciprocamente compreendidas, as decisões conjuntas se transformarão
em conflitos e as produções serão muito difíceis ou mesmo inviáveis.
Os valores são fenômenos, assim como os símbolos. Quando uma marca faz você
atribuir valores diferentes a seus produtos, tecnicamente equivalentes aos de outras, há
algo além do concreto sendo percebido por você. Pode-se pensar em um valor
simbólico.
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simbólicos considerados pela organização ou pela sociedade em que ela se insere. Por
exemplo, será possível responder a pergunta: uma vida vale mais do que várias?
Muitas vezes, o produto é o suporte material do símbolo, como um diamante raro, pode
simbolizar riqueza, nobreza. Outras vezes, é o próprio símbolo, como uma bandeira
nacional, por exemplo (ARAUJO, F.; HANSCH, F; et al, 2009)
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INFORMAÇÃO SOCIEDADE
MATERIALIDADE
imaginário VALOR VALOR imaginário
SÍMBOLO SÍMBOLO
Sujeito Sujeito
consciente consciente
expectativa SÍMBOLO
expectativa
AÇÃO
TRANSFORMAÇÃO
ENERGIA
MUNDO DA VIDA
MÁTERIA
As percepções de risco podem ser muito diferentes quando se trata de objeto concreto
e símbolo. Assim, os valores que vão decidir as estratégias de manutenção,
possivelmente, podem ser muito diferentes.
Lembre-se do caso recente do incêndio que destruiu parte da Catedral de Notre Dame
de Paris ocorrida em 15 de abril de 2019. (CND, 2019). A catedral estava em
manutenção e, possivelmente, o incêndio aconteceu por causa de algumas falhas nos
equipamentos usados na reforma.
A edificação e o que ela simboliza não são o mesmo objeto de manutenção. O risco de
destruir ou danificar o símbolo nacional francês e da cristandade, pesa com grande valor
nos projetos e ações que serão tomadas. E, ainda, o risco de a sociedade não aprovar
os resultados, por mais adequados técnica e financeiramente que sejam, também deve
estar sendo considerado pelos decisores.
Na linguagem coloquial, trata-se de saber o que vale à pena ou não fazer neste caso!
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3.0 ATIVIDADE
Considere a Fig.9 da Aula 1, em que a saga dos Epesnasaguas é relatada em 8
cenas.
2) Você percebe algum risco na cena 1, para a tribo no interior do abrigo? E nas cenas
3, 4 e 5? Que riscos e perigos você identifica? (atende ao objetivo 2);
3) Que correlações você estabelece entre a experiência vivida pela tribo e descrita
nas cenas de 1 a 4 com as atividades desenvolvidas nas cenas 5, 6 e 7? Explore
as relações entre valor, produção simbólica e concreta e manutenção (atende ao
objetivo 3).
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produção, ou manutenção do abrigo destruído, deve ter sido considerada de
grande valor e por isto valia a pena a participação de grande parte da tribo em
sua realização. Naturalmente, as experiências de morte, frio e falta de proteção
descritas nas cenas anteriores levaram a uma percepção coletiva de risco e a
uma expectativa de desempenho do novo abrigo que permitiram sua
construção coletiva. Mas o valor do trabalho realizado só pode ser constatado
com a chegada da estação das chuvas, quando a tribo pode testar seu produto.
Os valores simbólicos podem ser pensados, por exemplo, no esforço de
construir um novo abrigo em lugar muito próximo do anterior, usando materiais
semelhantes, como uma forma de identidade territorial e técnica dos
Epesnasaguas.
4. Conclusão
A manutenção nas organizações não se aplica, apenas, aos itens concretos como
equipamentos, edificações, instalações ou mesmo organizações como um todo. O
que está sendo produzido de forma concreta, potencialmente, tem uma
contrapartida simbólica que é valorizada pela sociedade. A percepção de risco e
suas representações, assim como as formas de definir valor e desempenho,
interferem diretamente nas finalidades da produção e da manutenção. No contexto
contemporâneo, em que compromissos com a responsabilidade social e práticas
sustentáveis se tornam cada vez mais relevantes, a EP precisa refletir em suas
práticas o conjunto de valores compatível com essas demandas.
5. Resumo
As produções conscientes estão permeadas do sentido de valor e de risco, refletindo as
expectativas sociais em que acontecem, quando se consideram as ações dos indivíduos
ou das organizações. São as medidas de valor e de desempenho e as percepções de
risco, socialmente construídas, que vão mobilizar os esforços de produção e de
manutenção. Como cada produção material é, potencialmente, uma produção simbólica
e há, também, valores simbólicos, acontece que a manutenção pode ter como finalidade
manter ou recuperar um “item simbólico”. O item pode ser o símbolo em si ou ser uma
espécie de suporte material para o símbolo, como foi comentado o caso da Catedral de
Notre Dame. Assim, o valor da manutenção não pode ser definido, somente, pelo valor
do produto concreto, mas deve contemplar o seu valor simbólico. A impermanência das
coisas do Mundo da Vida e da Sociedade pode ser compreendida pelo conceito de
entropia, o que leva à necessidade de manutenção de tudo o que existe, sob pena de
degradação progressiva das formas e dos desempenhos.
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6. Informações sobre a próxima aula
Na próxima aula você será convidado a explorar a trajetória histórica da produção social
do conhecimento no campo de organização do trabalho produtivo, usando conceitos
básicos do pensamento sistêmico como referência. Com isto você poderá compreender
como a busca por equilíbrio entre estrutura e ação na gestão das organizações se
relaciona com a produção do conhecimento e, também, como aprendizagem e a busca
de equilíbrio interagem na produção de mentefatos e artefatos para manutenção da vida
no cotidiano.
7. Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5462: Confiabilidade e
Mantenabilidade. Rio de Janeiro, 1994.
Royal Society (1992), Risk Analysis, Perception and Management, The Royal Society,
London.
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