NÓS E A PANDEMIA
Juazeiro do Norte
Até que ponto estamos preparados para
lidar com o acaso?
No dia 16 de março de 2020, cinco dias
após a OMS decretar a pandemia do novo
coronavírus, a rede de Institutos Federais do Ceará
publicou o primeiro ofício que suspendia as
atividades presenciais, unindo-se ao combate
nacional à transmissão do vírus.
Poucos esperavam, no entanto, que a
suspensão de apenas quinze dias estenderia-se por
mais de nove meses, sem previsão de retorno,
modificando não só as relações educacionais,
como também as interpessoais.
Diante dessa metamorfose mundial, os
jovens tiveram que adaptar suas rotinas de estudo
ao isolamento social, buscando uma mínima
“normalidade” em tempos atípicos. Mas, a palavra
“adaptar” não é a melhor para explicar o ocorrido,
já que não houve tempo de preparação e de forma
brusca e repentina, as salas de aula presenciais
migraram para o ambiente virtual, dando início ao
fenômeno das videoconferências.
Mesmo reconhecidos como “nativos
digitais” e precursores de um processo inevitável
de dependência virtual, os adolescentes não
estavam prontos para essa revolução da
virtualização do ensino, visto que uma elevada
parcela dos professores não recebeu a capacitação
necessária para o uso das ferramentas tecnológicas
Tengo Lengo Tengo. Instituto Federal do Ceará.
e a maioria dos alunos encontrava-se fragilizada
diante da conjuntura caótica nacional.
Disponível em: <https://www.ufsm.br/midias/arco/
teletrabalho-ead-pandemia/.>. Acesso em: 12 de dezembro
de 2020.
Nessa perspectiva, Paulo Freire, o patrono
da educação brasileira, defendeu que “Ensinar não
é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. Contudo, em meio às transações
online, o ensino remoto emergencial ocorreu aos
moldes da educação bancária, formando
indivíduos acomodados e não questionadores.
Onde estavam____________?
“Ensinar não é transferir conhecimento”
-Paulo Freire
Assim como existe um limite para os
depósitos bancários, que deve ser respeitado,
também deveria existir um limite no conteudismo
do sistema educacional brasileiro, que foi
evidenciado neste período pandêmico. Não
demorou muito tempo para que a sobrecarga das
tarefas escolares integrasse o cotidiano dos
estudantes que, somada à vulnerabilidade
emocional advinda do isolamento, abriu caminho
para uma epidemia oculta entre os jovens: a
ansiedade. Dentro desse universo conturbado, o
sentimento de angústia fez-se presente dias e noites
adentro, trazendo dúvidas sobre o futuro
acadêmico e até mesmo a própria identidade.
Porém, apesar de tantas desventuras do
acaso, a juventude nunca deixou de buscar formas
de superação diária. Em momentos críticos, a
resiliência manifesta-se como uma das maiores
características humanas, revelando caminhos
alternativos na “vivência online”. Mesmo com
dificuldades, muitos estudantes fortaleceram laços
a partir do diálogo, puderam ver o que realmente
importa e recordar os bons momentos em sala de
aula.
É preciso amadurecer a prática do ensino a
distância, de modo que crie oportunidades de
construção coletiva do conhecimento, usando as
diversas ferramentas presentes na internet. Afinal,
a qualidade da educação não pode estar entregue ao
acaso.