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A FILOSOFIA MEDIEVAL

Santo Agostinho (354-430).


O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas quatrocentos anos,
era considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho, que nasceu no norte da África,
numa cidade chamada Tagarte, nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na cidade natal e ,com
a ajuda de um amigo foi para Cartago, aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não foi um
bom aluno. Na juventude, detestava estudar grego. Interessa-se pôr filosofia ao ler uma obra de Cícero.
Quando criança era cristão, mas depois interessou-se pôr outras religiões, como a dos maniqueus, que
formavam uma seita, e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Com o
seu espírito o homem pode transcender a matéria, para os maniqueístas. O maniqueísmo contém uma
visão dualista radical, bem e mal são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho
combateu essa doutrina, que foi criada pôr Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, pôr considerá-la
vulgar. Teve um caso de amor, interessava-se pôr questões mundanas e nasceu um filho, falecido ainda
adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de duas famílias.
Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a mudança
e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma foi para Milão, onde foi novamente
professor de retórica. Foi influenciado pelos estóicos, pôr Platão e o neoplatonismo, também estava
entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o maniqueísmo, que critica. Converteu-se então à fé cristã,
depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do
cargo de professor. Voltou a Tagaste onde funda uma comunidade monástica, disposto a fundamentar
racionalmente a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que sem a fé a razão não é capaz de levar
para a felicidade. A razão, para Agostinho serve de auxiliar da fé, esclarecendo e tornando inteligível
aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico de que a
naturezahumano contém parte da essência divina. Demonstra que há limites para a racionalidade,
receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo uma luz inundou seu coração, sua
alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis anos, praticando a vida ascética.
Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos e expôs a teoria de que os sentidos dizem
algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação
não é falsa, o que é falso é querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de
Hipona.
Agostinho ficou conhecido pôr "cristianizar" Platão, fazendo vários paralelos entre a parte
espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as sagradas escrituras. Faz a distinção
entre o corpo, sujeito à sorte do mundo e a alma, que é atemporal., com a qual se pode conhecer Deus.
Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Idéias eternas já existiam na sua mente. Deus é
bondade pura. Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim apesar da humanidade
ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso
depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de acordo
com a sua própria consciência a sua conduta, livre da Divina Providência enquanto está vivo. Seria o ato
livre de decisão, de opção. Durante um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de
Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio. De fato ,para ele não existe mal, apenas a ausência de
Deus. (com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus) Essa teoria encontra-se no livro O livre
arbítrio.
Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a inversa. Os
órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus é a fonte dos
conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina. Assim se chega
às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de pensar corretamente a ordem natural divina. A
unidade divina é plena e viva, e guarda a multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a
liberdade complementam-se.
Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo,
espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a história
da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor à Deus e nos valores que
Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos.
Essas cidades estariam presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria. Outra obra
importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele um precursor de Descartes,
Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida nos números, que fazem parte da natureza.
Santo Anselmo- (1033-1109) nasceu em Aosta na Itália, filho de um nobre Gondolfo, e de
uma mãe rica, Ermenberga. Seguiu a carreira religiosa, fez estudos clássicos e escreveu sempre em
latim. Foi eleito prior em 1063, porque tinha muita inteligência e piedade. Sua biografia nos é contada
pelo seu discípulo, Eadmero. Foi comum na Idade Média os religiosos buscavam o apoio da fé na razão.
Anselmo escreveu uma obra sobre esse assunto. É considerado um dos iniciadores da tradição
escolástica. Buscava um argumento para provar a existência de Deus, e sua bondade suprema. Fala que
a crença e a fé correspondem à verdade, e que existe verdadeiramente um ser do qual não é possível
pensar nada maior. Ele não existe apenas na inteligência, mas também na realidade. Anselmo
desenvolveu uma linha de pensamento sobre essas bases, chamados de argumento ontológico, que foi
retomada por Descartes e criticada por Kant, e ela estava numa obra chamada Proslógio. Parte do fato
de que o homem encontra no mundo muitas coisas, algumas boas, que procedem de um bem absoluto,
que é necessariamente existente. Todas as coisas tem uma causa, menos o ser incriado, que é a causa
de si mesmo e fundamenta todos os outros seres. Esse ser é Deus. Seus argumentos não foram
totalmente aceitos. Anselmo chegou a arcebispo da Cantuária em 1093. Escreveu outras obras
importantes, Da Gramática e A Verdade, latim. Recebeu doações de terras para a igreja, mas brigou
com Guilherme, o ruivo, rei da Inglaterra pois não queria fazer comércio com os bens da Igreja. Isso foi
considerado um desrespeito ao poder Real, e Guilherme impediu Anselmo de Viajar para Roma,
desafiando o poder da Igreja.
Num dos seus primeiros livros, Monológico, em que apresenta sua visão de Deus, Anselmo
fala que a essência suprema existe em todas as coisas e tudo depende dela. Reconhece nela
onipotência, onipresença, máxima sabedoria e bondade suprema. Ela criou tudo a partir do nada.
Anselmo procurava desenvolver um raciocínio evolutivo sobre o que considerava ser a verdade, que
estava contida na Bíblia. Para Anselmo, o pensamento tem algo de divino, e Deus tem uma razão. Sua
palavra é sua essência, e Ele é pura essência (essa noção não é nova) infinito, sem começo nem fim,
pois nada existiu antes da essência divina e nada existirá depois. Para ela o presente, o passado e o
futuro são juntos ao tempo, são uma coisa só. E Ela é imutável, uma substância, embora seja diferente
da substância das outras criaturas. Existe de uma maneira simples e não pode ser comparado com a
consciência das criaturas, pois é perfeito e maravilhoso e tem todas as qualidades já citadas. O verbo e
o espírito supremo são uma coisa só, pois este usa o verbo consubstancial para expressar-se. Mas a
maneira intrínseca que o espírito supremo se expressa e conhece as coisas é incogniscível para nós. O
verbo procede de Deus por nascimento, e o pai passa a sua essência para o filho. O espírito ama a si
mesmo, e transmite esse amor.
Para Anselmo, a alma humana é imortal, e as criaturas seriam felizes e infelizes eternamente.
Mas nenhuma alma é privada do bem do Ser supremo, e deve buscá-lo, através da fé. E Deus é uno.
Para se contemplá-lo devemos nos afastar dos problemas e preocupações cotidianos e buscá-lo. Ele é
onipotente embora não possa coisas como morrer ou mentir. É piedoso, em parte por ser impassível, o
que não o impede de exercer sua justiça, pois ele pensa e é vivo. Anselmo fala muito da crença divina
do Pai, do filho e do espírito humano. Grandes coisas esperam por aquele que aceitar Deus e buscá-lo.
Santo Anselmo influenciou muito o pensamento teológico posterior.
São Tomás de Aquino- (1227-1274)
Nasceu em um castelo próximo à cidade de Aquino, Itália, de uma família nobre. Entrou cedo
para a ordem Dominicana. Não se sabe com precisão os acontecimentos da sua vida. As universidades
surgem no século XII, e elas começam a ter forte atuação e influência. Cria-se um ambiente cultural,
nas capitais, em que irão atuar Alberto Magno e seu discípulo, São Tomás de Aquino. Há uma
miscigenação cultural, pois os Sábios da Arábia vem para a Europa. São Tomás de Aquino entrou para a
universidade de Nápoles, onde estudou filosofia. Sabia, falava e escrevia em latim fluentemente.
Escreveu um opúsculo quando ainda era jovem, O ente e a Essência, entre os anos de 1252 e
1253. Aborda questões metafísicas, explicando o percurso da consciência humana entre a sensação e a
concepção . Diz, o que cai imediatamente no alcance do saber humano é composto. O homem se eleva
do composto ao simples, do posterior ao anterior. A essência existe no intelecto. A substância composta
é matéria e forma. A forma e matéria, quando tomadas em si, ou seja sem o aparato do entendimento
racional considerando-as, é incognoscível, mas existem caminhos para a investigação das possibilidades.
O intelecto quando está isento da materialidade, desvela que nada pode ser mais perfeito do que aquilo
que confere o ser. São Tomás é famoso por ter cristianizado Aristóteles, à semelhança do que fez
Agostinho com Platão, ele transformou o pensamento desse sábio num padrão aceitável pela igreja
católica, Apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, como diz Tomás, e de sua obra ser
original, autônoma e independente de dogmas, ele está em harmonia com o saber contido na Bíblia. E
Tomás aplica o pensamento de Aristóteles na teologia. No Ente e a Essência, ele comenta obras como a
Física e a Metafísica. E as observações sobre Aristóteles vão permanecer em todas as suas obras. Além
dessa influência podemos citar os padres da Igreja, o pseudo-dioníseo (mais cultura grega), Boécio e os
árabes e judeus como influência. Tomás de Aquino afirma que podemos conhecer Deus pelos seus
efeitos, ele é o último em uma escala evolutiva, a causa de todas as coisas. Antes de Deus vem os
anjos, e antes desses, os homens. Ele comenta o gênero e a espécie, que pertencem à essência, pois o
todo está no indivíduo.
A essência tem dois modos, um é dela própria, nada é verdadeiramente dela, senão o que lhe
cabe como ela própria. Por exemplo o homem, por ser homem, será sempre racional. Mas o branco e o
preto não são noções exclusivas da humanidade.
No outro modo, algo se predica da essência, por acidente daquilo que é específico, como o
homem ser de cor branca. As formas são inteligidas na medida em que estão separadas da matéria e
suas condições. A diferença da essência da substância compostas e simples é que a composta é forma e
matéria, e a simples é apenas forma. A inteligência possui potência e ato.
Santo Tomás de Aquino é mais um que fala (como o fez mais tarde Espinosa) que a essência
de Deus é o seu próprio ser. Concluindo, ele diz que há essência nas substâncias e nos acidentes.
Então virou professor e foi para Paris, onde escreve comentários sobre a Bíblia. Nessa cidade
passa a vida, foi onde escreveu as duas Sumas que compõe a sua obra: A Suma contra os gentios e a
Suma teológica, mais diversos opúsculos. São obras teológicas, com muitos aspectos filosóficos. Santo
Tomás afirma que o homem possui uma capacidade, passada por Deus, de distinguir naturalmente o
certo e o errado. Ele não tinha uma visão muito positiva da mulher, como Aristóteles, que dizia ser o
homem ativo ,criativo e doador de energia vital na concepção, enquanto a mulher é receptora e passiva.
Ele achava que isso estava de acordo com a afirmação da Bíblia que a mulher deriva de uma costela do
homem. Na Bíblia está escrito como viver segundo a vontade de Deus, e daí Tomás tira seus
argumentos sobre a vida moral. Ele demonstra que não há conflito entre a fé e a razão. O conhecimneto
verdadeiro é uma adição da inteligência para o objeto a ser inteligido em si. Apesar de Deus ser a causa
de tudo, ele não age diretamente nos fatos de sua criação. Mas a providência existe e governa o mundo,
pois ele é abslouto e necessário. E a felicidade do homem só pode ser encontrada na contemplação da
verdade.
A obra de São Aquino é imensa, alguns de seus trabalhos foram escritos por ele mesmo,
outros ditados e outros ainda reportados. Aristóteles disse, e isso foi comentado por São Tomás, que o
homem tem a sensação em comum com os animais, que sentem de maneira perfeita. A memória nasce
pelo acúmulo de lembranças, e a lembrança nasce da experiência. Mas o homem se eleva ao raciocínio e
produz a arte. A filosofia é um conhecimento das causas dos fenômenos. Assim a filosofia deve
considerar o senso comum e tem um aspecto coincidente com a teologia: seu saber provém da
Sabedoria divina. Então, em menor grau o saber popular também. Mas a sabedoria divina deve ser
procurada através da fé, dizia Tomás, e isso é comum entre os teólogos.
Ele distingue na natureza o ser real e o ser da razão (Espinoza nos Pensamentos metafísicos
também o faz, mais uma vez.). O ser real existe independente de qualquer consideração da razão. O ser
da razão é aquele que apesar de existir em representação, não pode ser independente do pensamento
de quem o concebe. Assim a lógica humana só existiria no conceito, e não na realidade. Por outro lado,
a alma é imortal, pois é imaterial, e tudo que é imaterial é imortal. Esse argumento como outras
verdades teológicas pode ser agora combatido, mas durante séculos ele fundamentou o pensamento em
que a Igreja se apoia.
Para Tomás, o conhecimento passa por vários graus de abstração cujo objetivo é conhecer a
imaterialidade. O primeiro esforço da existência abstrativa consiste em considerar as coisas
independentemente dos sentidos e da noção que tiramos dele. O segundo esforço consiste em
considerar as coisas independentes das qualidades sensíveis. No terceiro esforço tem que se
consideraras coisas independentes do seu valor material. Assim chega-se ao objeto metafísico, que é
imaterial, espiritual.
Na Suma contra os Gentios faz uma exposição completa da religião católica, identificando o
que há de verdade nela. Gentios eram os pagãos e os maometanos. Essa suma trata de Deus e suas
obras, da fé no mistério da santíssima trindade, da encarnação, dos sacramentos e da vida eterna. Deus
é a verdade pura, sem falsidade vontade que existe em si e para si e neste processo estende sua
vontade para o que não é a sua essência. O que não é sua essência seriam só as coisas percebidas, pois
Deus é tudo. Não tem ódio, não quer o mal, sua potência indica-se com a sua ação, mas ele não pode
tudo. Santo Tomás de Aquino faz a distinção entre a filosofia e teologia. E as criaturas não existem
desde sempre. Ele descreve o momento em que se inicia uma vida, quando mostra como a alma se
junta ao corpo. É uma grande obra, que influenciou e influencia até hoje todos os que se querem
católicos, além de filósofos e outros estudiosos.

O ESCOLASTICISMO
Alguns datam os primórdios deste movimento no século VII DC. Fazendo o prolongar-se até o
século XV DC. Seja como for, chegou a o seu ponto culminante nos séculos XII e XIII. Esse nome alude
aos homens de escola os mestres universitários, filhos da igreja católica romana, que controlavam o
sistema educacional da Europa, durante a idade média. O sistema estava alicerçado sobre o manuseio
filosófico da fé cristã, destacando se as idéias filosóficas de Platão e Aristóteles mas, especialmente, a
lógica e a metafísica do último deles. O maior filosofo deste período foi Tomas de Aquino. A filosofia dele
continua sendo uma poderosa força tanto no seio da igreja católica romana quanto no mundo filosófico.

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