Você está na página 1de 13

EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA CIDADE

( CPC, art. 540 c/c CC, art. 337)

FORMULA-SE PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

FRANCISCO DAS QUANTAS, casado, comerciário, inscrito


no CPF(MF) sob o nº. 999.333.777-88, com endereço sito na Av. Xista, nº. 000, nesta Capital ,
com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora intermediado por seu mandatário ao final
firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com endereço eletrônico e profissional
inserto na referida procuração, o qual, em obediência à diretriz fixada no art. 106, inc. I c/c art.
287, ambos do CPC, indica-o para as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido
respeito à presença de Vossa Excelência, com suporte no art. 539 e segs. do Caderno de Ritos
c/c art. 334 e segs. da Legislação Substantiva Civil , ajuizar a presente

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO


C/C PEDIDO TUTELA ANTECIPADA,
em face do credor do cheque 00011, originário da conta corrente nº. 771133, sacado contra o
Banco Xista S/A, credor esse desconhecido e em lugar incerto, pelos motivos de fato e de direito
abaixo expostos.

INTROITO

( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)

A parte Autora não tem condições de arcar com as despesas do


processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as
despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais.

Destarte, o Demandante ora formula pleito de gratuidade da justiça,


o que faz por declaração de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do
CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório acostado.

( b ) Requerimento de diligência (CPC, art. 319, § 1º


1º)

O Autor desconhece quaisquer dados atinentes à qualificação da


parte Promovida, máxime porquanto desconhecido e em lugar incerto. Nesse compasso, pede
que Vossa Excelência determine as diligências necessárias a obterem-se as informações
exigidas no inc. II, do art. 319 do CPC.

4
( i ) FATOS

Na data de 00/11/2222 Autor procurou realizar um cadastro para


abertura de conta corrente junto ao Banco Delta S/A (ag. 4566). Nessa ocasião tomara
conhecimento que seu nome se encontrava inserto nos órgãos de restrições e, igualmente, no
CCF (Cadastro de Emitente de Cheques Sem Fundos) do Banco Central do Brasil.

Naquele momento o emitente da cártula, ora Autor, descobrira que a


restrição em ensejo se originou da emissão e não pagamento do cheque nº. 00011, da conta
corrente nº. 771133, sacado contra o Banco Xista S/A. Tal contexto pode ser constatado da
análise da microfilmagem do cheque em liça, ora carreado. ( doc. 01)

Entrementes, o Promovente não faz ideia de quem seja o credor da


referida cártula, máxime em face do lapso de tempo transcorrido de sua emissão. Em que pese a
microfilmagem do cheque com a assinatura no verso desse, não é possível identificar aludida
pessoa. A mesma, de fato, é totalmente ilegível.

Nesse diapasão, para que se possa tomar providência da baixa no


CCF e, por via reflexa, nos órgãos de restrições, faz-se necessária a apresentação do cheque
(original) devidamente quitado, ou algo similar e legítimo. É regra imposta pelo Banco Central do
Brasil.

Eis o âmago do entrave: não se sabe quem é o(a) credor(a), muito


menos como encontrá-lo(la), para assim efetuar-se o pagamento diretamente ao mesmo(a) .

4
( ii ) DIREITO

É inescusável que a presente querela é apropriada e, sobretudo, tem


poder liberatório do débito, maiormente se o devedor é desconhecido , como no caso.

CÓDIGO CIVIL

Art. 335 – A consignação tem lugar:


...
III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido,
desconhecido, declarado ausente, ou residir
em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil.
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento.

A corroborar no entendimento da regra supra, vejamos o que


professam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald:

“ Outrossim, quando a lei sugere um credor desconhecido,


desconhecido, certamente não está
referindo ao credor originário, pois a relação obrigacional contém necessariamente
sujeitos determinados e determináveis, nunca desconhecidos. Mas, eventualmente,
poderá o credor originário falecer, sem que seja possível identificar os seus sucessores.
Será, portanto, uma situação de incerteza convindo ao devedor pagar em consignação.

4
“(FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações.
Obrigações. 4ª Ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2010. Pág. 381.)

Com efeito, é ancilar o entendimento jurisprudencial acerca do tema


em vertente:

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. CREDOR.


Com endereço desconhecido. Devedor que pretende depositar o valor atualizado do
débito. INTERESSE DE AGIR. Ainda que haja mora do devedor, há interesse processual
para a propositura de ação de consignação em pagamento da dívida, nos casos em que
é alegado que o credor está em lugar incerto. Sentença anulada. Recurso provido.
(TJSP; APL 1001074-20.2015.8.26.0011; Ac. 9132690; São Paulo; Décima Oitava
Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Helio Faria; Julg. 27/01/2016; DJESP 15/02/2016)

DIREITO CIVIL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO.


CREDOR EM LUGAR INCERTO E NÃO SABIDO. ADMISSIBILIDADE DO PROCESSO.
POSSIBILIDADE DE CITAÇÃO POR EDITAL. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
SENTENÇA CASSADA.
1. É possível o ajuizamento de ação de consignação em pagamento para o devedor se
liberar de obrigação, uma vez que credor se encontra em lugar incerto e não sabido,
impossibilitando o pagamento do título de crédito, a teor do que dispõe o art. 335, III,
do Código Civil. 2. Não pode o devedor, cujo credor não se consegue localizar, e que de
forma espontânea se dispõe a pagar uma dívida, ficar eternamente vinculado a ela, se
a própria Lei prevê a possibilidade de se valer da ação de consignação em pagamento,
4
a qual tem efeito liberatório. 3. Uma das hipóteses de citação válida é aquela realizada
por edital, a qual poderá ser deferida nos casos do réu ser desconhecido ou incerto, ou
se encontrar em local ignorado, incerto ou inacessível, nos exatos termos do art. 231,
inciso II, do CPC. 4. Apelo conhecido e provido. Sentença cassada. (TJDF; Rec
2015.06.1.003920-7; Ac. 904.312; Primeira Turma Cível; Rel. Des. Romulo de Araujo
Mendes; DJDFTE 24/11/2015; Pág. 213)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. NULIDADE DO ATO


CITATÓRIO. NÃO CONFIGURAÇÃO. CREDOR EM LOCAL INCERTO E NÃO SABIDO.
ESGOTAMENTO DOS MEIOS DE LOCALIZAÇÃO. INEXIGIBILIDADE. ADVERTÊNCIA DO
ART. 285, CPC. AUSÊNCIA. IRREGULARIDADE QUE OBSTA A IMPOSIÇÃO DOS EFEITOS
REVELIA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. CAUSA DE PEDIR HIPOTÉTICA.
FORMAÇÃO. NÃO CABIMENTO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. CONCESSÃO.
IMPOSSIBILIDADE.
A Lei material civil admite expressamente a consignação em pagamento como forma
de extinguir obrigação quando o devedor desconhece o paradeiro do credor. Ademais,
se as particularidades do caso concreto externam não ser razoável exigir do devedor o
esgotamento dos meios usuais utilizados para tentar localizar o credor, o fundamento
não é hábil a deflagrar a nulidade do ato citatório por edital. STJ, RESP 364.424/RJ. A
falta de inserção da advertência do art. 285, segunda parte, CPC, no edital não acarreta
a nulidade do ato citatório, mas apenas a impossibilidade de aplicação dos efeitos da
revelia. A causa de pedir da formação de litisconsórcio necessário no pólo passivo da
demanda é hipotética e não merece acolhida. Embora o apelo interposto pelo curador
especial não necessite de preparo para ser admitido, o defensor desconhece a situação
financeira do réu citado por edital e, via de consequência, não se presume a
4
veracidade da declaração de hipossuficiência legal pronunciada por aquele em favor
deste, fato que impossibilita a concessão da benesse legal. (TJMG; APCV
1.0024.12.249950-2/001; Rel. Des. Leite Praça; Julg. 01/07/2015; DJEMG 13/07/2015)

( iii ) PLEITO DE TUTELA ANTECIPADA

Diante dos fatos narrados, bem caracterizada a urgência da


baixa do cheque junto ao Banco Central do Brasil . Por esse norte, não resta outra alternativa
senão requerer à antecipação provisória da tutela preconizada em lei.

Ainda no que concerne à tutela, especialmente para que o Autor


possa honrar o compromisso e, por essa razão, ter seu nome isento de informações negativas,
justifica-se a pretensão pelo princípio da necessidade.

O Código de Processo Civil autoriza o Juiz conceder a tutela de


urgência quando “probabilidade do direito” e o “perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo”:

Art. 300 - A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

No presente caso, estão presentes os requisitos e pressupostos para


a concessão da tutela requerida, existindo verossimilhança das alegações, além de fundado
4
receio de dano irreparável ou de difícil reparação , mormente no tocante à necessidade de o
requerente ter o amparo do plano de saúde contratado.

O fumus boni juris se caracteriza pela próprio desejo de efetuar o


pagamento de credor desconhecido.

Evidenciado igualmente se encontra o periculum in mora, eis que ter


seu nome isento de informações negativas. E isso, frise-se, traz sequelas extremamente
indesejáveis, eis que afeta diretamente no seu cotidiano financeiro e que não aceita pretendente
a crédito (e até mesmo um simples talonário de cheques) com restrições nos cadastros
abonadores.

Desse modo, à guisa de sumariedade de cognição, os elementos


indicativos de viabilidade da pretensão, contidos com a prova ora imersa, traz à tona
circunstâncias de que o direito muito provavelmente existe.

Acerca do tema do tema em espécie, é do magistério de José Miguel


Garcia Medina as seguintes linhas:

“. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como requisito, no
sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo,
mínimo, que o direito afirmado é provável
(e mais se exigirá, no sentido de se demonstrar que tal direito muito provavelmente
existe, quanto menor for o grau de periculum.
periculum. “ (MEDINA, José Miguel Garcia. Novo
código de processo civil comentado ... – São Paulo: RT, 2015, p. 472)
4
(itálicos do texto original)

Com esse mesmo enfoque, sustenta Nélson Nery Júnior, delimitando


comparações acerca da “probabilidade de direito” e o “ fumus boni iuris”, esse professa, in verbis:

“4. Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris: Também é
preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade do direito por ela afirmado
(fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia do processo de
conhecimento ou do processo de execução...” (NERY JÚNIOR, Nélson. Comentários ao
código de processo civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 857-858)
(destaques do autor)

Em face dessas circunstâncias jurídicas, faz-se necessária a


concessão da tutela de urgência antecipatória , o que também sustentamos à luz dos
ensinamentos de Tereza Arruda Alvim Wambier:

"O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose significativa de


subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano, dependendo do periculum
evidenciado. Mesmo em situações que o magistrado não vislumbre uma maior
probabilidade do direito invocado, dependendo do bem em jogo e da urgência
demonstrada (princípio da proporcionalidade), deverá ser deferida a tutela de
urgência, mesmo que satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim ... [et tal]. – São
Paulo: RT, 2015, p. 499)

4
Não fosse isso o suficiente, urge transcrever arestos que indicam a
viabilidade da concessão de tutela antecipada em sede de Ação de Consignação em
Pagamento, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Ação de consignação em pagamento. Decisão agravada que indeferiu o pedido de
consignação dos valores pelo agravante. Tutela antecipada. Juízo de cognição sumária.
Requisitos do art. 273 do código de processo civil [CPC/2015, art. 303]. Prova
inequívoca da verossimilhança das alegações presente na intençao do agravante em
depositar as parcelas vencidas e vincendas, na sua integralidade. Perigo de dano de
difícil ou incerta reparação presente no fato do bem objeto do contrato de
financiamento ser utilizado na atividade da empresa. Essencialidade do bem,
demonstrada. Manutenção do bem na posse do agravante, devida, mediante o
afastamento da mora. Não inscrição/exclusão do nome do agravante dos cadastros de
proteção ao crédito. Possibilidade desde que a mora seja afastada. Decisão,
reformada. Recurso conhecido e provido. (TJPR; Ag Instr 1280594-6; Araucária; Décima
Oitava Câmara Cível; Rel. Des. Athos Pereira Jorge Junior; DJPR 16/03/2015; Pág. 348)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE REVISÃO DE CONTRATO C/C


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. DEPÓSITOS
DE VALORES INCONTROVERSOS. PEDIDOS DO DEVEDOR DE EXCLUSÃO/ABSTENÇÃO
DE NOME NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO E DE MANUTENÇÃO NA POSSE
DO BEM. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. NEGADO PROVIMENTO.

4
1. O depósito da quantia que o devedor entende como justa não descaracteriza a
mora. Apenas com o pagamento integral das parcelas devidas e na forma contratada
tem ele o condão de afastar os efeitos da mora, razão pela qual não há falar em não
inclusão do nome do devedor nos órgãos restritivos de crédito e na manutenção na
posse do bem. Decisão em consonância com as recentes orientações do Superior
Tribunal de justiça. 2. Não afastada a mora, fca o devedor sujeito a todos os efeitos
dela decorrentes, tais como a inscrição do nome no cadastro de proteção ao crédito,
protesto de títulos e também à busca e apreensão do bem fnanciado. (TJMS; AI
1414658-49.2014.8.12.0000; Miranda; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Fernando
Mauro Moreira Marinho; DJMS 13/03/2015; Pág. 18)

Diante disso, o Autor vem pleitear tutela de urgência antecipatória


(CPC, art. 303) no sentido de:

a) seja autorizado a depositar, de logo, a quantia de R$ 3.273,45


(três mil, duzentos e setenta e três e quarenta e cinco reais), valor
esse que corrigido (inpc + juros de mora de 1% a.m.) resulta em R$
3.788,99( três mil, setecentos e oitenta e oito reais e noventa e nove
centavos);

b) concretizada a providência supra, pede que seja determinado


que o Banco Xista S/A, por sua Agência nº. 3344, situada na Av.
4
Delta, nº. 000, em Fortaleza(CE), tome as necessárias providências
para promover junto ao Bacen a devida baixa do nome do Autor
junto ao CCF, em face do pagamento do cheque anexado com a
exordial, o qual pede que acompanhe o mandado;

c) pede, por fim, a expedição de ofícios à Serasa e ao SPC, para que


essas entidades se abstenham de proceder a informações negativas
em nome do Autor, respeitante ao cheque aqui aludido.

( iv ) PEDIDOS e REQUERIMENTOS

Dessa forma, considerando que a pretensão do Autor encontra


respalda nas regras supracitadas, o mesmo vem requerer:

4.1. Requerimentos

a) requer-se a citação, por edital CPC, art. 246, inc. IV), do credor do cheque nº.
00011, cártula essa sacada contra o Banco Xista S/A(Ag. nº. 3344), para levantar os
valores depositados, ou, se quiser, apresentar resposta no prazo legal (CPC, art.
542, inc. II);

4.2. Pedidos

4
a) pede-se, mais, sejam julgados procedentes os pedidos formulados nesta
demanda, declarando-se a quitação da obrigação em debate (CPC, art. 546),
excluindo definitivamente o nome do Autor dos órgãos de restrições e a baixa do
protesto do título em vertente, ratificando-se, ademais, a tutela de urgência
concedida (CPC, art. 304, § 3º);

b) solicita igualmente a condenação da Ré a pagar as despesas processuais (CPC,


art. 84), além de honorários advocatícios (CPC, art. 546, caput c/c art. 85);

c) protesta provar o alegado por toda espécie de prova admitida(CFed, art. 5º,
inciso LV), especialmente com oitiva de testemunhas, tudo de logo requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ 3.788,99 ( três mil, setecentos e oitenta


e oito reais e noventa e nove centavos) . (CPC, art. 292, inc. II)

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de março de 0000.

Você também pode gostar