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FÓRUM AVALIATIVO – QUARTO BIMESTRE

Estimados alunos,

Estamos começando a estudar o Pós-Modernismo. Já podemos levantar algumas


expectativas de leitura no sentido de esperar por propostas bem inovadoras e criativas,
que quebram o modelo de narrativa tradicional, além de ter em mente narrativas que
expressam sintomas comuns da pós-modernidade, como a fragmentação, o desencanto,
a solidão, a angústia. Este Fórum pretende introduzir algumas linhas de estudo que
acompanharão nosso quarto bimestre. Para isso, proponho duas questões para serem
respondidas.

Questão 1:

Partindo da leitura de um pequeno comentário crítico sobre a obra de Clarice Lispector,


transcrito a seguir, teça considerações sobre o conto “O búfalo” que expressem o que
está sendo afirmado no referido trecho.

Principal nome de uma tendência intimista na literatura brasileira, Clarice propôs uma
viagem ao consciente individual: a experiência interior passa para o primeiro plano da
criação literária, deixando em segundo plano o meio externo, o homem e sua condição
social. Para Clarice, o ponto de partida foram as experiências pessoais, o universo
feminino - apesar de jamais ter aceitado o rótulo de escritora feminista - e seu ambiente
familiar. Experimentou inovações como o fluxo de consciência, indefinindo as
fronteiras entre a voz do narrador e das personagens, denotando uma estrutura sintática
caótica, porém verossímil, ao representar com espontaneidade o pensamento, por vezes
descontínuo e desarticulado, de suas personagens.
Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/a-prosa-intimista-clarice-lispector-1.htm>.
Acesso em: 23 nov. 2021.

Questão 2:

Leia o poema abaixo e o fragmento retirado do conto “O búfalo”, de Carlos Drummond


de Andrade e Clarice Lispector, respectivamente, para responder à questão que os
segue:

TEXTO I:

Um boi vê os homens

Carlos Drummond de Andrade


Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.

TEXTO II:

Ele se aproximava, a poeira erguia-se. A mulher esperou de braços pendidos ao


longo do casado. Devagar ele se aproximava. Ela não recuou um só passo. Até que ele
chegou às grades e ali parou. Lá estavam o búfalo e a mulher, frente a frente. Ela não
olhou a cara, nem a boca, nem os cornos. Olhou os olhos.
E os olhos do búfalo, os olhos olharam seus olhos. E uma palidez tão funda foi
trocada que a mulher se entorpeceu dormente. De pé, em sono profundo. Olhos
pequenos e vermelhos a olhavam. Os olhos do búfalo. A mulher tonteou surpreendida,
lentamente meneava a cabeça. O búfalo calmo. Lentamente a mutuamente a mulher
meneava a cabeça, espantada com o ódio com que o búfalo, tranquilo de ódio, a olhava.
Quase inocentada, meneando uma cabeça incrédula, a boca entreaberta. Inocente,
curiosa, entrando cada vez mais fundo dentro daqueles olhos que sem pressa a fitavam,
ingênua, num suspiro de sono, sem querer nem poder fugir, presa ao mútuo assassinato.
Presa como se sua mão se tivesse grudado para sempre ao punhal que ela mesma
cravara. Presa, enquanto escorregava enfeitiçada ao longo das grades. Em tão lenta
vertigem que antes do corpo baquear macio a mulher viu o céu inteiro e um búfalo.

LISPECTOR, Clarice. O búfalo. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 135.

Nos dois textos apresentados, podemos apontar uma linha aproximativa no que tange ao
tratamento dos animais. O primeiro, um poema da segunda fase do modernismo, e o
segundo, um fragmento de um conto pós-modernista, desenvolvem uma visão que
quebra com a perspectiva dominante dos homens sobre os animais. Explore essa visão
diferenciada sobre os animais nos textos de Carlos Drummond de Andrade e no conto
“O búfalo”, de Clarice Lispector, explicando e exemplificando com elementos dos
textos em debate.

Vocês têm total liberdade para compor o texto. Não há número mínimo ou máximo
de linhas, o que eu desejo é receber uma produção textual que demonstre que vocês
leram o texto e que me encaminhe o grau de compreensão de cada um de vocês.

Grande abraço a todos,


Estou à disposição para auxiliá-los.

Gislene

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