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Finanças Públicas
Duarte Canau
1. Noções básicas sobre políticas financeiras
Política Financeira -componente da política económica do Estado.
O professor Sousa Franco diz que por um lado é “a utilização dos instrumentos
financeiros, para prosseguir determinadas utilidades e finalidades
económico-sociais, de que sejam aptos”.
Política Financeira
⇓
divide-se em:
↙ ↘
Conjuntural: Estrutural:
↙ ↙ ↘
Política: desenvolvimento ↓ c rescimento
económico
↙ ↘ redistribuição de riqueza
Financeira Monetária
⇩
Estabilização( regulação global
da conjuntura económica)
↙ ↓ ↘
pleno estabilidade equilíbrio
emprego de preços externo
Política Estrutural- é a forma como se ordenam os elementos relativamente
estáveis ou só alteráveis a longo prazo numa dada economia;
Política Conjuntural - será o conjunto das variações relativamente estáveis,
variando continuamente ou a curto prazo;
Política Orçamental- tipo de política financeira que implica um conjunto de
escolhas inspiradas em motivações ( como o bem-estar, a eficiência, equidade e
solidariedade).
É a política do Estado que envolve a utilização de receitas e despesas públicas para
a prossecução de objetivos económicos.
1
Funções Financeiras do Estado
⬋ ⇓ ⬊
Afetação de Recursos Redistribuição Estabilização Macroeconómica
1
Existem certos e determinados objetivos que tentam ser atingidos pela política
orçamental ➱Os instrumentos Orçamentais devem contrair o ciclo, no caso de
estar em recessão o Estado deve estimular a economia privada ( que orbita em seu
torno) / Aliviar a carga Fiscal, para que as famílias consigam consumir mais,
reverte-se o ciclo económico.
No entanto esta estratégia de política orçamental, não é isenta de divergências:
⬋ ⬊
Opção por Políticas de Estabilização: Estratégia da Política Orçamental:
( posições) ( posições)
- Abba Lerner:As Finanças Públicas -Discricionária: o Estado Pode fazer o que
devem ser ativas e objetivas ( combate ao quiser, tendo total liberdade p/ conduzir
desemprego -o pleno emprego não pode a sua política.
ser sacrificado, este é o principal objetivo); Dois autores olharam para isto, com o obj-
etivo principal de travar a inflação...
-
Efeitos de estabilização automática: →Friedman ( a política económica deveria
fi
o orçamento exerceria uma ação contra cíclica. car confinada à definição de regras que
per-
A confirmação de tudo isto resultou da utiliza- mitissem a antecipação e previsibilidade);
ção de instrumentos geradores da despesa púb-
lica ( subsídio de desemprego). 2 →Prescott ( modelo das expectativas racio-
nais. Se há um governo que dá sinais de
s ser um Governo gastador, que realiza
despesa pública, é claro que há uma
antecipação da inflação.
1
Pretende explicar como, através dos instrumentos orçamentais ao dispor do Estado, este pode suavizar as flutuações
da economia.
2
Crítica: Se é verdade que os mesmos correspondem a uma boa resposta a movimentos inflacionistas, não dispensavam
a necessidade de realizar ações deliberativas nos instrumentos.
2
Quadro Europeu da Política Orçamental
Vejamos 2 posições sobre a política orçamental e o seu principal objetivo, algo
dispersas:
Keynes: promove o pleno emprego (focando-se na procura)
Friedman: promove o combate à inflação ( focando-se na oferta): Porquê?
⇓
Porque a inflação cria um quadro de expectativas em que surge um certo tipo de
inflação em que os preços aumentam antecipadamente.
↧
“ Rules rather than discretion “
( define taxas de inflação máximas e tudo se mobilizaram em torno desse objetivo)
A Política da UE tem por objetivo a estabilidade dos preços
Como surge a União Económica e Monetária Europeia?
1ª Fase (1990-1993):O bjetivo ⟶ reforço das políticas económicas e monetárias
entre Estados Membros;
Medidas: ⟶ Criação do Mercado Único;
Integração de todas as moedas comunitárias no Sistema Monetário
⟶
Europeu;
2ªFase (1994-1998): Objetivo ⟶convergência nominal dos Estados Membros
Medidas ⟶Convergência dos Principais Agregados Macroeconômicos (
inflação, taxa de juro e défices orçamentais);
⟶A presentação anual de programas de convergência ;
⟶Aprovação do PEC;
⟶Autonomia dos Bancos Centrais;
3
⟶Critérios da Adoção da Moeda Única (défice máximo de 3% & dívida pública
não superior a 60% do PIB);
3ª Fase (1999-2002): Fase que fica marcada por...
⟶ Decisão das taxas de câmbio;
⟶Determinação dos países que estavam em condições para aderir ao Euro.
Subsequente adoção de uma moeda única pela generalidade dos Estados que
haviam preenchido os critérios de convergência ( implicado a perda dos seus
instrumentos convencionais de estabilização macroeconómica);
➔Uma das principais inovações durante todo este faseamento foi o PEC ( um
primeiro programa em relação aos instrumentos de programação plurianual da
despesa pública). Mas porque surgiu o PEC?
Razões:
- Adoção da moeda única poderia constituir um incentivo ao enviesamento
expansionista ( devido ao desaparecimento dos efeitos c rowding out3);
- A ausência de coordenação das políticas orçamentais pode mesmo conduzir
à penalização dos países bem comportados ( sofrerão os efeitos mais
brandos de outros);
- O orçamento comunitário não tem uma vocação de estabilização global ,
para além de ter uma dimensão muito reduzida ( em relação ao PIB dos
países membros);
Funcionamento:
O PEC é constituído por 2 grupos distintos de institutos:
➔Vertente Preventiva: prevê que os Estados membros atinjam uma posição de
equilíbrio orçamental ( através de um sistema de supervisão em que os Estados
devem apresentar os seus programas de estabilidade e crescimento, concretizando
as formas de ajustamento, de forma a alcançar a estabilidade orçamental);
3
Crowding Out -Fenômeno que ocorre quando o aumento do envolvimento do governo num setor da economia de mercado
afeta substancialmente o restante do mercado ( ou seja poderá afetar quer a oferta quer a procura, sequencialmente, por ordens
diferentes)
ex: O investimento do Estado no mercado tecnológico irá promover a expansão do mesmo, que substancialmente vai aumentar
a procura dos produtos criados nesse impulso, que afetaram outros mercados relacionados, como o das energias ;
4
As exigências de uniformização dos planos de uniformização colocam-se em 2
subsequentes planos:
- Estatuto do Programa e das Medidas Previstas ( programa deveria indicar o
respetivo estatuto no quadro dos procedimentos nacionais)
- Conteúdo do Programa ( deve facultar informação sobre a consistência dos
objetivos orçamentais e das medidas previstas para os alcançar, com
especificações sobre a política económica);
➔V ertente sancionatória: cria um procedimento por défice orçamental
excessivo ( acima de 3% do PIB) e prevê a aplicação de sanções para o país
incumpridor.
As exigências de uniformização colocavam-se nos planos de:
- Estatuto do Programa e Medidas Previstas ( o programa deveria indicar o
respetivo estatuto no quadro dos procedimentos nacionais);
- Conteúdo do Programa ( deveria conter certos itens fundamentais);
Os Programas deveriam facultar informação sobre a consistência dos objetivos
orçamentais e das medidas previstas para os alcançar com as especificações sobre a
política económica.
Vicissitudes do PEC:
A aplicação do PEC suscitou variadíssimos problemas e críticas. Vários países
começam a incumprir o pacto, como por exemplo Portugal. Mais tarde tanto a
França como a Alemanha incumpririam com o mesmo também, o que gerou
grande controvérsia pois o PEC deveria ser um mecanismo que beneficiaria os
mais fracos face aos mais fortes. Isto evidenciou as seguintes críticas:
↓
➛ A “Estabilidade e crescimento” do pacto parecia mais focada na estabilidade do
que no crescimento p er si
➛ O PEC era cego em relação a vários tipos de realidades, como o
desenvolvimento económico ou as fases do ciclo económico, ou à diferenciação de
despesas;
➛o pacto não era verdadeiramente sensível às medidas estruturais, tratando tudo
por igual;
5
Isto suscitou que os Estados deveriam adotar uma abordagem consentânea em
períodos de recuperação económica, evitando políticas pró-cíclicas e
aproximando-se gradualmente do objetivo de médio prazo .
A crise europeia:
Crash da bolha imobiliária nos EUA em 2007
⇙ ⇘
Instituições financeiras com Afetam o balanço do setor não financeiro
graves problemas de liquidez porque as famílias deixaram de ser capazes
ou até numa situação de de cumprir as suas hipotecas bancárias
insolvência
↓ ↓
Deixa as instituições financeiras Afetam os ativos do setor financeiro
com graves problemas de liquidez/ ↓
situação de insolvência Crise Bancária
| ↓
| Mercados bolsistas afundaram destruindo a riqueza, a
| procura e deteriorando o setor financeiro e não financeiro
↓ ↓
Autoridades adotam planos de segurança para apoiar o setor financeiro
↓
Encolhem ativos do Estado
⇙ ⇘
C
rise da Dívida Soberana C
rise Cambial
( depreciação de alguns ativos do Estado considerados,
de alto risco podem gerar problemas de liquidez para
as instituições financeiras que os detém);
⇘ ⇙
Depreciação da moeda
⇩
Põe em causa a União Monetária e a sua sobrevivência
Tudo isto tornou evidente a efetiva fragmentação do mercado financeiro europeu
nos seguintes aspetos:
6
→ Aversão internacional ao risco( o preço de um ativo não reflete apenas as
expectativas do mercado sobre o seu retorno futuro, mas também o preço do
risco);
→Contágio( probabilidade de outros países entrarem na mesma situação);
→ Elementos específicos do país( o stock de dívida e o défice orçamental que
cada país exibe);
Resposta à crise: Pacotes de Estímulo orçamental à austeridade
1ª fase ( 2007-2010) :Apelou-se ao estímulo orçamental como forma preventiva
de se cair numa nova Grande Depressão. Adotaram-se pacotes de estímulo
orçamental;
2ª fase ( 2010 -2012): Enfatizou-se o objetivo da consolidação orçamental à
medida que a dimensão da dívida pública foi assumindo valores reconhecidos
como insustentáveis.
Foram criados 2 instrumentos através dos quais foram definidos para os países
necessitados, programas de assistência financeira no respeito por um princípio de
estrita condicionalidade. Aqui foram disponibilizados fundos, pagos pelo CE, o
BE e o FMI.
Adoção de políticas de austeridade
3ª fase (2012-...): surge a partir dessa altura, verificadas as consequências da
austeridade sobre o crescimento económico. Os pacotes adotados na primeira fase
foram sancionados e impulsionados pelas instituições comunitárias que
autorizam, então o relaxamento no cumprimento dos objetivos fixados pelo PEC,
implicando a mera reabilitação do PEC e o seu endurecimento.
A aprovação do “Six Pack” e do Pacto Orçamental consubstanciam a recuperação
da ortodoxia orçamental que esteve na génese deste Pacto, sendo que a UE veio a
enquadrar ( do ponto visto institucional), os mecanismos da assistência
financeira,ao abrigo dos quais os países afastados dos mercados financeiros e sem
acesso a financiamento puderam simplesmente não falir.
As Políticas de Austeridade:
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Byth, define as políticas de austeridade como uma forma de deflação voluntária
em que a economia se ajusta através da redução dos salários, dos preços e da
despesa pública com vista à recuperação da competitividade ( melhor alcançada
mediante cortes na despesa, na dívida pública e nos défices orçamentais).
Corsetti, menciona que os programas adotados cortaram mais e depressa demais,
conduzindo a uma contratação desnecessária e gerando risco macroeconômico. Os
países desenvolvidos enfrentam um problema de sustentabilidade, resultante do
envelhecimento da população e do aumento dos custos com a saúde. A crise da
dívida soberana é um fator adicional a juntar a estas preocupações, pelo que os
Estados estão empenhados a encontrar respostas para o desafio da
sustentabilidade.
O tipo de resposta a adotar num contexto de crise deve ser diferente consoante a
duração da crise e a posição orçamental inicial ostentada pelo país em causa:
→ Recessão não muito prolongada ( <1 ano):
Cortes na despesa pública imediatos terão um impacto moderado sobre a
diminuição do produto e acabam por levar à redução do défice. O efeito direto de
contratação dos cortes na procura é atenuado por efeitos indiretos de redução dos
juros sobre a dívida soberana, reduzindo o custo do financiamento privado na
economia;
→ Recessão de efeitos duradouros ( > 1 ano):
Países cuja posição orçamental seja sólida em que o prémio do risco soberano é
pouco sensível relativamente aos défices orçamentais, o efeito direto torna-se
dominante sobre os efeitos indiretos. Os países com uma posição orçamental mais
frágil ( dívida pública), vêm o impacto macroeconómico dos cortes de despesa
pública imediatos e efetivos que podem ser positivos e irão conduzir a
contratações orçamentais que se tornam expansionistas.
↓
Austeridade expansionista
( fornece um poderoso argumento às políticas que têm vindo a ser seguidas pela
Europa e pelos países europeus)
8
O período de ajustamento é expansionista se o crescimento do PIB real durante
esse período for mais elevado do que o crescimento médio, verificado nesse país
nos dois anos anteriores.
Problemas do ponto de vista do FMI:
Respeitam fundamentalmente ao curto prazo porque é aqui que os efeitos
recessivos são visíveis.
→ O Ajustamento orçamental afeta o crescimento;
→O Ajustamento negativamente a procura agregada;
No caso das economias europeias a hipótese da manipulação da taxa de câmbio
está vedada e a política do BCE é tendencial e estatutariamente restritva. Deste
modo, a austeridade significa a retração da taxa de crescimento da economia e isto
pela ação conjugada dos seguintes fatores:
- Multiplicadores orçamentais são positivos ( em períodos de contratação
económica mesmo que estejamos perante uma política monetária
independente);
- Multiplicadores orçamentais tendem a ser mais elevados quando o produto
é inferior ao PIB potencial;
- Taxas de juro próximo de zero, os efeitos das medidas da austeridade
fazem-se sentir de forma mais intensa sobre a economia do que quando a
política monetária desempenha um papel maior.
Críticas de Mark Blyth:
- A austeridade é vista como uma expressão de zombie economics, uma vez
que tendo tido a concretização prática em alguns momentos da História,
sempre provou mal e no entanto voltou sempre a surgir;
Alternativas à Austeridade:
- Permitir que o Banco Europeu de Investimento possa emprestar aos
Estados, financiando despesa pública ( sendo que a dificuldade está na
própria capacidade financeira do BEI, que é limitada);
- A Comissão pode colocar fundos não utilizados ao dispor dos Estados
membros necessitados, o problema será que, dificilmente os recursos são
afetos a países por razões macroeconômicas;
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- A emissão de “eurobonds” ( com vista ao financiamento de despesa de
emergência, sendo que se fossem emitidas por todos os Estados, elas
poderiam ser subscritas a taxas de juro relativamente baixas);
- Países mais endividados, no incumprimento eliminaram uma fatia da sua
despesa significativa ( problema seria em que o incumprimento afastaria os
devedores do acesso ao mercado durante um período de tempo
significativo);
- restauração da dívida;
Em todo caso haverá aqui um problema de credibilidade, pois a reputação dos
Estados constitui uma condição da dívida soberana que depende em grande parte
da qualidade das instituições políticas e monetárias, a que se associa a ameaça de
sanção e o corte de relações económicas. Até que ponto a renegociação de um
Estado da sua dívida poderá a continuar gozar de uma boa reputação?
Desenvolvimento mais recente na legislação europeia:
A UE tem aderido à promoção e adoção pelos Estados membros de pacotes de
estímulo orçamental, apontado no reforço da intensidade dos estabilizadores
automáticos.
➥exemplo: A proposta da Legislação no desemprego tende a tornar-se mais
generosa em períodos de crise ;
O novo fôlego dado ao PEC na atualidade permitiu um novo pacote legislativo de
seis medidas o Six Pack (2011), que visou reforçar as medidas de supervisão
multilateral das políticas económicas e associar-lhe novas sanções para o caso de
incumprimento dos objetivos fixados. O quadro de governação económica
reforçada deverá assentar em várias políticas interligadas e coerentes de
crescimento sustentável e do emprego.
É constituído por 5 regulamentos:
- regulamentos que alteram o PEC na sua vertente preventiva e
sancionatória;
10
- diretiva que é muito importante já que veio a ser definitivamente
transposta. Contém medidas como os Estados devem criar sistemas
contabilísticos que abranjam todos os subsetores da Administração Pública;
- Os Estados assegurem que o planeamento orçamental que se baseia em
previsões macroeconómicas recorrendo para isso a informações mais
atualizadas;
- Estados devem estabelecer um quadro orçamental eficaz, credível que
facilite a adoção de um horizonte de planeamento orçamental;
Daqui resulta o desvio significativo, complementado por um mecanismo efetivo
de sanções, se a Comissão identificar um desvio significativo em relação à
trajetória de ajustamento ao objetivo orçamental de médio prazo, a fim de evitar a
ocorrência de um défice, que será dirigida uma advertência precoce ao
Estado-membro, segundo os seguintes critérios:
- Quantitativo( variação do saldo estrutural);
- Qualitativo ( não será considerado significativo se o Estado tiver
ultrapassado significativamente o objetivo orçamental de médio prazo,
desde que os planos orçamentais estabelecidos no programa não coloquem
em risco este objetivo);
A redefinição do quadro de coordenação económica de dois novos tratados:
➛ Mecanismo de Estabilidade ( TMEE): institucionalizou definitivamente o
mecanismo de assistência financeira, o princípio da assistência financeira é o da
estrita condicionalidade, significa que qualquer pedido de apoio de estabilidade
ou de empréstimo pressupõe a negociação de um memorando de entendimento;
➛ Pacto Orçamental ( tem em vista o reforço do pilar económico da UEM,
adotando um conjunto de regras destinadas a promover a disciplina orçamental e
a reforçar a coordenação das políticas económicas e a melhorar a governação na
área do euro);
Em 2013 a UE, aprovou 2 últimas peças legislativas, conhecidas pelo Two Pack:
- novos procedimentos e regras de supervisão para países que se encontrem
em dificuldade financeira ( casos em que a situação de dificuldade
financeira severa em que os países irão receber assistência financeira que
estão em vias de abandonar essa assistência);
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- os países da zona euro e visa fortalecer a base jurídica do processo de
coordenação económica do Semestre Europeu do processo de coordenação
económica do Semestre Europeu, dando maiores poderes à Comissão na
monitorização do cumprimento dos objetivos definidos com o PEC. Isto
significará a diluição crescente do papel dos Parlamentos e a europeização
dos respetivos processos orçamentais.
Conceito de equilíbrio orçamental:
Princípio sobre o conteúdo do OE, sendo um princípio que atende aos resultados
orçamentais:
Cabe distinguir entre:
- Equilíbrio em sentido formal ( igualdade contabilística entre receitas e
despesas, cuja violação desta exigência seria quase impensável);
- Equilíbrio em sentido substancial ( permite evidenciar a situação
orçamental do Estado, confrontando um certo tipo de receita, com um
certo tipo de despesa, definindo uma linha, acima da qual haverá equilíbrio
e abaixo da qual se verificará défice);
Principais razões que apontam contra os défices orçamentais:
- Efeitos dos défices orçamentais sobre as taxas de juro reais ( a política
orçamental expansionista intensifica a procura, levando a um aumento da
procura da moeda e subida da taxa de juro);
- Efeitos dos défices orçamentais sobre a taxa de e procura líquida
externa ( os défices orçamentais ao provocarem uma subida da taxa de juro
determinam a apreciação cambial do país);
- Efeitos dos défices orçamentais sobre a taxa de inflação ( em resultado da
pressão exercida pela política expansionista sobre a procura agregada);
- Efeitos dos défices orçamentais sobre o sistema financeiro ( défices
podem fazer aumentar a dívida pública, devido à incapacidade do Estado de
promover o seu abatimento);
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2. Instrumentos das Finanças Públicas: receitas e despesas
públicas
Receita Pública- montante total de dinheiro recolhido para o Estado para o
Tesouro Nacional;
Despesa Pública- conjunto de dispêndios realizados por entes públicos para a
satisfação de necessidades e custear os respetivos serviços;
Princípios que se aplicam às Finanças Públicas:
- Legalidade ( as receitas devem ser regidas e criadas por lei ou no seu
respeito);
- Renovação Atual ( as receitas não podem ser cobradas sem autorização
orçamental anual);
- Previsibilidade( devem constar do Orçamento do Estado);
- Não dedução das despesas de cobrança ( consequência da regra da não
compensação);
- Não consignação a despesas específicas ( salvo em relação a casos
excepcionais, previstos por lei);
- Cobrança ( através do processo de execuções fiscais);
- Generalidade: todos os residentes num determinado país estão sujeito ao
pagamento de impostos.
A ideia de que todos devem pagar imposto sem distinções impostas por classe e
ordem surgiu no liberalismo com o fim das excepções que existiam no absolutismo
aos impostos.
Existem no entanto ainda exceções existentes ao princípio da generalidade, como o
caso dos benefícios fiscais ( fundamentados na inutilidade de certos impostos
devido à coleta inferior à sua despesa de emissão ou a opções políticas)
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- Capacidade( cada um deve ser tributado na medida da sua capacidade);
- Igualdade: pode em primeiro lugar rever-se como a aplicação à lei fiscal do
artigo 13º da CRP, no entanto dever-se-á a igualdade fiscal se estabelecer
mediante a “igualdade de sacrifício”?
Os clássicos vieram a revelar que a resposta seria que não, pois o sacrifício real com
um rendimento inferior irá fazer um sacrifício real muito superior daquele com
um rendimento maior, sendo que aquele com um rendimento muito superior
apenas pagará o seu supérfluo ( consumo supérfluo e poupança), enquanto que
aquele com um rendimento inferior ir-se-á privar de bens essenciais à sua
subsistência.
Daí introduziu-se duas precisões no princípio da igualdade : assegurar por
meios de isenções o rendimento necessário à satisfação de necessidades mínimas e
que os impostos sobre o rendimento fossem proporcionais ao rendimento.
A ideia da proporcionalidade foi introduzida pela teoria marginalista do
rendimento, introduziu a ideia de que cada unidade de rendimento irá ser
diferente para os diferentes sujeitos econômicos e o sacrifício real será diferente
para cada um.
O sacrifício terá uma desutilidade que é função do valor de cada unidade de
rendimento, que deve ser medido pela utilidade marginal perdida ( utilidade da
última unidade do bem de cada sujeito econômico).
A resposta para procurar a igualdade nos impostos será a de personalização do
imposto realizando a igualdade social , tratando igualmente o igual e
desigualmente o desigual , nesta ideia caberão duas ideias de de igualdade :
⇨Passiva ( tem em conta as desigualdades sociais existentes antes do sacrifício
fiscal);
⇨Ativa ( restabelece condições mínimas de igualdade , reduzir as desigualdades,
através da função redistributiva da Economia);
As ideias de generalidade e uniformidade ( repartição dos impostos pelos cidadãos
deve obedecer aos mesmo critério paratodos), estão subjacentes à ideia de
igualdade fiscal. Da uniformidade surge a ideia de:
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➪Igualdade Vertical- critérios de repartição do sacrifício fiscal entre pessoas com
rendimentos diferentes;
➩Igualdade Horizontal-todos os titulares da mesma forma de riqueza devem ser
tributados da mesma forma;
Modalidades das Receitas Públicas:
- Patrimoniais: resultam da administração do património do Estado (
receitas que resultam da normal administração do património- mobiliário/
imobiliário) ou da disposição de elementos do seu ativo e que não tenham
caráter tributário ( resultam da oneração ou da alienação desse mesmo
património);
O património pode ser desdobrado em:
→Bens de Domínio Privado( podem ser alienados);
→ Bens de Domínio Público-84ºCRP( não podem ser sujeitos a gestão
privada-são inalienáveis; fora do comércio jurídico, sendo que o Estado não
poderá adquirir receitas de tal património; se couberem na modalidade de
património classificado, alienar esse mesmo bem será contra a prossecução dos fins
do interesse público);
- Tributárias: provenientes da cobrança de tributos ( imposto, taxa e
contribuição financeira);
Tributos⇨ Prestações pecuniárias a favor do Estado ou de outras entidades
públicas, de natureza obrigatória e sem caráter sancionatório, que em relação à sua
finalidade pode identificar 3 tipos:
→ Impostos: tributos unilaterais, não envolvem qualquer contraprestação e o seu
pressuposto é alheio à relação entre o sujeito passivo e a administração, em factos
relevantes da riqueza ( património, consumo, rendimentos);
→ Taxas: tributos bilaterais , cujo pressuposto é uma prestação administrativa de
que o sujeito passivo seja efetivo causador ou beneficiário, podendo ter uma
contrapartida direta e imediata.
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As taxas são cobradas em situações como:
➞utilização de bens de domínio público;
➞obtenção de um serviço público;
➞remoção de um obstáculo jurídico ao exercício da atividade privada;
A finalidade das taxas será por isso a compensação da prestação que cabe no seu
pressuposto;
A taxa trata-se de um pagamento feito ao Estado mas que contrariamente aos
impostos pressupõem uma contrapartida do Estado: exemplo ➝quem paga
propina tem
Estão subjacentes ao princípio da equivalência - tributa-se não quanto às
possibilidades, mas sim quanto ao benefício que se tira;
Falamos de equivalência jurídica. No caso das taxas, não é necessário equivalência
econômica e pode ser cobrado a preços inferiores ao de produção
→ Contribuições financeiras: categoria autônoma de tributo, que é diferente
dos impostos ( pelo facto de não haver lugar para uma contraprestação) e das taxas
( pois a prestação tem uma natureza difusa, podendo ou não verificar-se ao longo
do tempo| exemplo: Contribuições para a segurança social ⇨ têm como
pressuposto uma prestação administrativa provocada pelo sujeito passivo e têm
como finalidade compensatória a confirmada pelo destino da receita cobrada);
Teoria da Tributação Ótima: estabelecimento de um conjunto de prescrições
do modo como deve funcionar um sistema fiscal em eficiência ( diminuindo as
distorções que ponham em causa a neutralidade económica);
Prescrições Fundamentais da Teoria da Tributação Ótima:
♦Redefinição do sistema de tributação das pessoas singulares ( tem em vista o
alisamento do sistema de taxas, implicando assim a redução da natureza
progressiva);
♦ Redefinição do sistema de créditos fiscais reembolsáveis ( para rendimentos mais
baixo e para famílias em especial condição);
♦Redefinição da tributação das empresas ( sistema de deduções de custos);
Existem 3 componentes de impostos:
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Sobre o rendimento ( como o IRS e o IRC, cujo núcleo essencial de tributação
em relação ao primeiro decorrem do princípio da capacidade contributiva, sendo
que os desgravamentos estruturais do IRS, tendem a ter uma natureza regressiva);
Sobre o Património ( sistema de avaliação dos prédios fez com que se tornasse
possível estabelecer valor patrimonial próximo do valor de mercado dos próprios
prédios e daí surgiu o imposto como o IMI);
Sobre o Consumo (a existência de um custo social associado ao consumo de
determinados bens , tendo em vista a internalização de externalidades negativas
geradas fundamenta a arrecadação do Estado, existindo 3 impostos sobre o
consumo: o de valor acrescentado <IVA>; sobre os veículos <ISV>;especiais sobre
o consumo <IEC>);
Criação de Impostos (103º.2 CRP):
1- Incidência ( objeto ou pessoas que estão sujeitas a pagar aquele imposto
particular, podendo ser real ou pessoal, tendo de se explicar em que versa o
imposto que se paga | ex: rendimentos);
2- Taxa (significa a percentagem do imposto, podendo ser progressiva ou
proporcional);
Existem impostos:
- Proporcionais: vão-se aplicar a mesma taxa indepentemente do
rendimento ( quem tiver mais dinheiro sofre muito menos com o
pagamento);
- Progressivo: à medida que o rendimento aumenta, vai aumentar também a
taxa aplicada ao rendimento ( ex: IRS4):
i) Progressivos Contínuos;
ii) Progressivos por Escalões
4
Professor Paz Ferreira diz que a taxa aplicada ao IRS é exageradamente progressiva pois começa a subir muito cedo na
progressividade e atinge níveis muito altos comparado com outros países
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- Regressivos: à medida que o rendimento sobre, a taxa diminui. Esta
modalidade já não é normal, no entanto existem por vezes conjugações das
taxas pagas em vários impostos acaba por ter efeito regressivo.
-
3- Benefícios Fiscais ( tratamento mais vantajoso a certos contribuintes, que
pagam menos imposto- derrogação do princípio da capacidade contributiva . Se
acontece por prossecução de finalidades intrínsecas ao sistema fiscal, seriam casos
de desgravamento como alguém com um rendimento muito baixo, existem
também casos em que vai contra os objetivos extrínsecos cobrar impostos);
4- Garantias do Contribuinte ( em causa estarão os direitos dos particulares,
serão meios de defesa que dispõem os contribuintes - ninguém pode ser obrigado a
pagar impostos que não estão de acordo com a natureza da Constituição, tenham
natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança não se façam nos termos da lei);
O artigo 104º CRP distinguir 2 t ipos de impostos:
- Diretos: incidem diretamente sobre as manifestações do rendimento
i. Sobre o rendimento (104º.1 CRP)→ imposto único, que pode provir de várias
fontes, mas que se considera de forma global, rendimento bruto englobado em
ques e aplicam taxas e fazem deduções. Ainda pode haver deduções à coleta.
Sobre as empresas incide sobre o rendimento real, o que elas realmente auferem,
apura-se o rendimento normal e não às estimativas de rendimento
ii. Sobre o património
exemplo: IRS e IRC
- Indireto- exprimem indiretamente manifestações de riqueza
i. Sobre o consumo( atende menos à riqueza e às vezes é cega)
exemplo: Imposto Geral sobre o consumo ( IVA)
Impostos especiais: concessões à equivalência que tributam os custos desse
consumo
Imposto Pessoal → são pessoais porque tomam em consideração a situação das
pessoas ( se são casadas, solteiras etc);
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Imposto Real → são indiferentes às circunstâncias pessoais e vão atingir as
manifestações de rendimentos ou exibição de património sem qualquer
consideração dos custos, da situação pessoal e familiar.
Impostos de quota fixa → são impostos que estão sempre ao mesmo preço
independentemente da matéria que esteja a ser considerada ( ex: direitos
alfandegários);
Impostos ad valorem → varia a importância requerida pelos impostos através da
aplicação de uma taxa variável que aumenta à medida que o produto que está em
transação é mais caro;
Impostos Periódicos → vão recair sobre rendimentos que se vão prolongar ao
longo do tempo e vão-se prolongar ao longo do tempo e vai-se criar datas de
obrigação para as pessoas pagarem ( ex: IRS);
Obrigação Única→ paga-se e esgota-se naquele momento ( ex: IVA);
Impostos Principais → os ditos “normais” existem por si próprios e não
dependem de qualquer outra tributação tributária anterior;
Impostos Acessórios → ligados a impostos anteriores ( ex: AIMI - Adicional
Imposto Municipal de Imóveis);
Facto tributário: Pode-se dizer que o aparecimento de um imposto está sempre
dependente do chamado “facto tributário” que é um facto que constitui os
contribuintes na obrigação de pagar imposto. Outras pessoas falam em “facto
gerador do imposto” ou em “pressuposto de facto da obrigação de imposto”. Esse
facto tributário integra-se, se quisermos, 2 elementos fundamentais: objetivo e o
subjetivo.
Elemento objetivo
➔ Objetivo – corresponde à ideia de determinar em abstrato qual o fator
tributário, independentemente da sua ligação a qualquer situação ou a qualquer
pessoa. Há aqui dentro 4 aspetos fundamentais:
o Material – é naturalmente a manifestação de riqueza, de capacidade
contributiva que ocorre e que portanto não está relacionada com ninguém mas a
definição de quais são esses aspectos é num primeiro aspeto fundamental – saber
19
por exemplo se os atos de compra e venda ou obtenção de rendimentos seja de
trabalho ou de capital, esse é portanto o aspeto material do facto tributário;
o Espacial – definir quais são as fronteiras desse facto tributário, qual o seu
âmbito territorial de aplicação. É o Estado? Tem efeitos além do Estado ou apenas
parcelas entre o Estado?
o Temporal – diz respeito à dimensão do tempo relacionado com o imposto. E
essa dimensão do tempo comporta duas possibilidades:
▪ ou se trata de impostos instantâneos, num só ato;
▪ ou se são impostos duradouros, situações que se vão prolongar no tempo como
o recebimento dos salários ou outras modalidades de rendimento e tem que se
saber quanto se vai pedir. Não se pode pagar à cabeça porque não haveria dinheiro
e também não se pode pagar só no fim, daí haver repartição em períodos de tempo
que muito normalmente são os de 1 ano ainda que existam a figura que é a da
retenção na fonte através na qual, por exemplo, os funcionários públicos quando
recebem o seu vencimento já não o recebem líquido porque já foi retirada uma
parcela que depois integrará o imposto que têm para pagar.
o Quantitativo – determinação de quanto é que deve ser pago em cada uma
dessas situações. Nesse aspecto quantitativo é especialmente importante quando se
trata de pessoas colectivas, empresas e têm papel fundamental que cumprem com
grande qualidade e os contabilistas, os técnicos oficiais de contas e os revisores
oficiais de contas, e os técnicos de contabilistas certificados cujos últimos nomes
tem mudado ultimamente e mas a ultima versão é de contabilistas certificados.
Elemento subjetivo:
➔ Subjetivo - São estas as formas de definir o facto tributário mas depois para
que esse facto tributário venha a conduzir ao pagamento efetivo tem que haver
elemento subjetivo que liga uma pessoa, categorias de pessoas e liga-as ao
pagamento das quantias devidas ao Estado;
o Pode-se de outra forma falar de “incidência real”, ou seja, a definição das
funções que vão ser objeto de tributação, a definição dos meios de riqueza que
podem ser objeto do imposto.;
o A “incidência pessoal” que é saber quem paga, pessoas coletivas, individuais, só
os nacionais, nacionais e estrangeiros, etc.
20
Esta definição de incidência pessoal tem dificuldade que não é jurídica porque
sabe-se quem paga impostos mas há dificuldade que resulta da repercussão fiscal,
ou seja, as situações em que a pessoa que está obrigada a pagar o imposto consegue
passar este encargo para outra pessoa e estamos realmente em presença em duas
pessoas do lado dos contribuintes:
-contribuinte de direitoobrigado em virtude da lei;
- contribuinte de facto que é o que efetivamente vai pagar – ex: IVA vai ser pago
não por quem vende mas sim por quem compra.
Esta questão da incidência leva também ao problema das Isenções. Nas
isenções/situações que não há lugar ao pagamento de impostos podemos
encontrar isenções:
➔ Isenções Pessoais – têm a ver com a situação própria de cada pessoa, o seu
nível de riqueza ou falta de riqueza ;
➔ Isenções reais - e também por outro lado pode haver razões que levem a que se
incluem isenções reais quando as pessoas estão em determinadas condições que o
Estado considera atendíveis para obter resultados;
Fases dos Impostos:
➔ Fase do Lançamento - temos de apurar as pessoas que devem pagar e qual a
matéria tributável/coletável sobre a qual deve atingir;
➔ Fase da Liquidação – que é o apuramento do valor exato do imposto que em
princípio está a cargo do contribuinte de a entrega da declaração mas com esta
especialidade que falámos há pouco;
➔ Fase da Cobrança – a entrada efetiva nos cofres públicos das importâncias
devidas. Temos que ver que pode ser cobrança voluntária, facultativa embora
temos que ver sempre a natureza coativa do imposto em que é de facto obrigatório
mas isso não quer dizer que o seu pagamento seja exigido coativamente. Os
cidadãos devem proceder ao pagamento com total liberdade e se não pagarem,
então o Estado vai fazer uma cobrança coerciva, vai penhorar os bens, vai fazer
aqueles leilões horríveis a quem.
21
- Creditícias:como por exemplo a Dívida Pública;
Dívida Pública- conjunto de situações passivas ( o Estado não fará as coisas por si
mesmo, deixando para outros) de que o Estado seja titular, determinada em
primeiro lugar pelo recurso ao crédito
Seria a dívida do Estado, traduzida num compromisso financeiro vencíveis num
determinado prazo. Concorrem para a dívida pública, não apenas a dívida do
Estado mas também a dívida das administrações infra estaduais
Modalidade da dívida pública:
- Quanto à fonte:
Dívida Financeira- associada à contratação de empréstimos ou emissão de dívida (
consta do PIB);
Dívida Não Financeira-aquelas que o Estado adquire bens e serviços;
- Quanto à Moeda:
Dívida Interna- quando é denominada em moeda com curso legal em Portugal(
euro);
Dívida Externa-quando é denominada em moeda sem curso legal em Portugal;
- Quanto à evidência:
Dívida Expressa- resulta da contratação de empréstimos ou da emissão de dívida
com evidência imediata;
Dívida Implícita - resulta da assunção de compromissos que no futuro
redundaram em dívida
Dívida Condicional - evidência meramente difusa podendo no limite vir-se a
concretizar | exemplo: concessão de garantias pessoais do Estado;
- Quanto ao tipo de débito:
Dívida Direta-Estado é o devedor principal;
Dívida Indireta-Estado é um devedor subsidiário;
- Quanto ao exercício Orçamental:
22
Dìvida Flutuante - se a amortização5 ocorrer no mesmo exercício orçamental em
que a dívida foi contraída;
Dívida Fundada - quando a amortização ocorre em exercício diferente daquele
em que haja sido contraída;
Processo de Emissão de Dívida Pública:
1- Necessidade de autorização parlamentar ( no Orçamento de Estado),
decorrendo do princípio da democracia financeira e de assegurar que os
representantes do povo exercem um controlo efetivo sobre a geração de encargos
futuros desse país.
A autorização constitui a melhor forma de assegurar aos credores que virão a
receber a satisfação efetiva dos seus créditos e respectivas remunerações;
2- Definição de Condições Gerais , dos empréstimos a emitir ( condições gerais
do empréstimo e o montante respetivo tal como os prazos de vencimento);
3- Condições Complementares estabelecidas pelo Conselho de Ministros ( artigo
5º.1 Lei 7/98) e Específicas ( por parte da Agência de Gestão e Tesouraria e da
Dívida Pública);
A gestão normal da dívida inclui a emissão de instrumentos de dívida para
obtenção de financiamento e a execução de outras operações.
Instrumentos da Dívida Pública Direta ( artigo 11º, Lei 7/98)
- Contrato: empréstimos têm a natureza voluntária, daí que a forma
convencional de contratação de empréstimos por parte do Estado seja o
contrato;
- Obrigações do Tesouro: valores imobiliários de médio e longo prazo cuja
emissão se efetua através de operações sindicadas e leilões.
Principal instrumento utilizado pelo Estado português para satisfazer as suas
necessidades de financiamento;
5
Amortização- processo de extinção de dívida através de pagamentos periódicos, realizados de modo a que cada
prestação corresponde ao pagamento de juros do saldo do devedor.
23
- Bilhetes do Tesouro: valores mobiliários de curto prazo com um valor
unitário de 1 euro, podendo ser emitidos com um prazo até 1 ano;
- Certificados de Aforro: instrumentos de dívida com o objetivo de captar a
poupança das famílias, tendo como característica principal serem
distribuídos a retalho;
Despesas Públicas:
Divisão em:
- Despesas Correntes (não alteram o património duradouro do Estado | ex:
pagamento de salários);
- Despesas Capital ( alteram o património duradouro do Estado | ex:
amortização e um empréstimo);
O conjunto de dispêndios abrange 2 comportamentos típicos do agente
econômico:
- Consumo: aquisição presente de bens, tendo em vista a satisfação de
necessidades;
- Investimento: todo o capital físico adicional adquirido pelo setor público e
privado, ao fim de um determinado período de tempo. Pode ser:
→ real: bens de capital empregues no processo produtivo;
→ financeiro: por referência ao mútuo ou depósitos de fundos junto de mercados
ou instituições especializadas;
Categorias de Despesas:
↣Despesas de Investimento ( correspondem à formação de capital fixo do
Estado);
Despesas de Funcionamento ( respeitam os gastos necessários para assegurar o
normal funcionamento da máquina administrativa);
↣ Despesas em Bens e Serviços ( asseguram a criação de utilidades por meio da
compra de bens/ serviços do Estado);
Despesas de Transferência ( redistribuição de recursos atribuindo-os a entidades
que se situam ou no setor público ou privado);
↣ Despesas Produtivas( limitam a gerar utilidades no presente);
Despesas Reprodutivas( aumento da capacidade produtiva no futuro);
24
↣ Despesas Militares( todas as destinadas a manter a Defesa Nacional);
Despesas Civis( tudo o que não é destinado a manter a Defesa Nacional);
A segunda metade do séc.XX registou um aumento muito expressivo das despesas
públicas ( pela formação plena dos Estados do bem-estar e boa parte do
crescimento se ficar a dever ao crescimento das despesas sociais):
Outros argumentos incluem:
- função de redistribuição econômica;
- modelo de concorrência entre grupos e interesses especiais;
- dimensão do Estado na sociedade;
- procura de maximização de ganhos eleitorais e burocracia;
3. Morfologia e vicissitudes do Orçamento de Estado:
25
Noção:
Orçamento de Estado → documento onde são previstas e computadas as receitas e
as despesas anuais, competentemente autorizadas.
Elementos Centrais do Orçamento de Estado
⇙ ⇘
Previsão: Autorização:
elemento a que se associam elemento a que se associam
as funções económicasdo OE: as funções políticas e jurídicas
-Racionalidade Económica( permite uma do Orçamento:
gestão mais eficiente e racional dos dinheiros - A utorização políticaque visa a
públicos); garantia dos direitos fundamentais;
-Eficácia como quadro de elaboração das - Consubstancia numa l imitação
políticas financeiras ( possibilidade de conhecer j urídica da Administração, pois
aspetos fundamentais da política de um certo respectivos poderes financeiros
Estado); carecem de ser autorizados;
Características do Orçamento de Estado:
⇨ OE é uma lei em sentido material ( lei reforçada pelo parametricidade material,
pelo facto de não poder ser revogada e poder funcionar como norma travão -
167º.2 e 3 CRP)e em sentido formal ( pelo procedimento agravado ( reserva de
iniciativa governamental - 161º.g);
⇨ Lei muito particular marcada por um objeto ambivalente:é uma lei ( vertente
normativa), mas também um conjunto de mapas, agregados e desagregados de
receita e despesa ( vertente contabilística);
⇨ OE pode ser encarado atendendo à sua dimensão económico-financeira ( aqui é
verdadeiramente o OE);
⇨ Pode também o OE ser considerado em relação à sua dimensão jurídica (
instrumento de concretização do princípio da democracia financeira, regulando
um equilíbrio tenso entre os diversos intervenientes);
Relações entre a Lei de Enquadramento Orçamental e o Orçamento de
Estado:
A LEO é o quadro fundamental do Orçamento de Estado Português ( 106º.1
CRP), a lei do orçamento é elaborada, organizada, votada e executada,
26
anualmente, de acordo com a respectiva lei de enquadramento. è uma lei de valor
reforçado ( 3º LEO), com dois grandes obstáculos:
⇒ Não previsão de qualquer relação de dependência hierárquica de uma das leis
de valor reforçado em relação a outras e muito menos de critérios definidores
dessa dependência;
⇒ Função paramétrica da LEO não aparecer blindada por qualquer outra
exigência, mormente no plano da sua aprovação ou alteração, podendo ela ser
alterada, a todo o tempo;
Planos de incidência da LEO:
⇒ Formal ( sobre a estrutura e procedimentos orçamentais);
⇒ Incidência Substancial ( como os resultados orçamentais);
LEO é cada vez mais uma lei de incidência substancial, preocupada com os
resultados orçamentais.. A parte integrante do corpo do LEO é constituída por 3
eixos principais:
1-Estrutura, conteúdo e resultados orçamentais;
2- Processo Orçamental;
3- Controlo Orçamental e responsabilidade financeira.
Alterações mais recentes na LEO:
Causas :
- Crise económico- financeira e o memorando de Entendimento assinado
com a Troika, cujos objetivos seriam:
→ realização de reformas estruturais que potenciem o crescimento económico;
→ estratégia de consolidação orçamental, apoiada por medidas orçamentais de
natureza estrutural e por uma maior controlo financeiro sobre as empresas
públicas;
→ estratégia para o setor financeiro, baseada na recapitalização e desalavancagem,
com medidas que salvaguardam o setor financeiro dos perigos de uma
desalavancagem não regulada;
- Boas práticas do domínio das finanças públicas e da orçamentação pública;
27
Regras Orçamentais Clássicas:
A organização e a elaboração do Orçamento de Estado, deve obedecer a um
conjunto de regras as quais se traduzem em vinculações jurídicas internas do
orçamento:
➤Anualidade:
Princípio que dispõe de uma dupla exigência:
→ votação anual do Orçamento pelo Parlamento;
→ execução anual do Orçamento pelo Governo e Administração Pública;
O princípio da anualidade justifica-se pelo facto de o período de 1 ano permitir o
controlo mais adequado e como refere Trigo Pereira, um período mais longo
traria maior incerteza às projeções económicas e orçamentais.
Princípio consagrado no 14º LEO e 106º.1 CRP. De acordo com o princípio da
anualidade poderiam incluir-se no orçamento tanto:
→ orçamento de gerência ( as receitas a cobrar efetivamente durante o ano e as
despesas a realizar efetivamente, independentemente do momento que
juridicamente tenham nascido);
→ orçamento de gerência ( créditos e débitos originados naquele período
orçamental, independentemente do momento em que se viessem a concretizar);
28
No orçamento financeiro português, o sistema vigente é o de gerência, em relação
à qual está previsto:
- a elaboração do orçamento que fizesse um enquadramento da perspetiva
plurianual;
- orçamentos dos organismos público e administrativo integrem programas,
medidas, projetos ou ações que impliquem encargos plurianuais prevendo a
despesa total de cada programa;
O princípio consagra assim a regra da plurianualidade, pois determina que os
orçamentos dos serviços e das entidades que compõem os subsetores da
administração central e da segurança social integram os programas orçamentais e
são enquadrados na Lei das Grandes Opções. João Ricardo Catarino diz ainda
que os fatores que levaram à incorporação da plurianualidade, foram o de
desenvolvimento de políticas de conjuntura e determinação de políticas de médio
e longo prazo com objetivos estruturais ( como investimentos públicos), bem
como a necessidade de demonstrar a sustentabilidade económica do Orçamento.
➤Plenitude
Pretende evitar a existência de massas de receitas e despesas que escapam à
autorização parlamentar e ao controlo orçamental ( “um só orçamento e tudo no
orçamento”).
Imposição de aprovação de orçamentos que permitam aos serviços tomar
conhecimento das receitas que podem cobrar e das despesas que podem realizar.
A regra da plenitude indica que deve existir apenas 1 Orçamento que apresenta o
conjunto das receitas e despesas, justificando-se por uma questão de transparência
e racionalidade na utilização dos recursos público e por permitir controle tanto
do Parlamento como dos órgãos jurisdicionais ( mais eficaz e rigoroso).
A universalidade resulta de uma consequência do princípio a plenitude , não
podendo haver um Orçamento único se este não contemplasse todas as receitas e
despesas embora, as 2 regras devam apresentar-se como distintas , sendo que a
universalidade pretende reforçar a clareza, rigor e transparência do Orçamento,
tornando mais fácil a avaliação real da situação das Finanças Públicas.
29
Esta regra não abrange:
- operações da tesouraria;
- gestão patrimonial do Estado;
- fenómenos de independência orçamental;
Só se aplica às receitas e despesas dos serviços integrados, serviços e fundos
autónomos e segurança social: só elas têm de constar num único orçamento e de
estar todas nesse mesmo orçamento.
➤Discriminação
Finalidade de assegurar uma maior racionalidade financeira e um efetivo controlo
orçamental, através de 3 sub-regras:
➥ não compensação (receitas e as despesas devem ser inscritas no Orçamento de
uma forma bruta e não líquida, não devendo ser deduzidas às receitas as
importâncias gastas com a sua cobrança, nem às despesas as receitas originadas
pela sua realização- artigo 8º LEO);
➥não consignação ( não podendo o OE afetar-se qualquer receita à cobertura de
determinada despesa, pretende-se evitar a existência de uma Administração
Pública que se fragmentaria desprovida de uma gestão financeira de conjunto-
exceções: 7º.2 LEO).
Princípio determina que as receitas e as despesas inscritas no OE devem ser
convenientemente discriminadas e individualizadas de forma a que qualquer
utilizador dessa informação possa conhecer a sua origem e o seu destino
➥especificação ( o Orçamento deve individualizar suficientemente cada receita e
cada despesa. Para cada espécie de despesas públicas deverá ser concedido um
crédito que deve ser exclusivamente afeto ao serviço ou função prescrita -105º.3
CRP- tendo o fundamento de se pretender assegurar clareza e limpidez na
elaboração, execução e controlo orçamental). O princípio da especificação rege-se
também por códigos de classificação:
- orgânicos ( visa precisamente distinguir as despesas por unidade orgânica-
departamento do Estado);
- funcional ( agrupa as despesas segundo as funções do Estado, consoante a
classe do serviço que presta à sociedade);
- económica ( pelos fins a que se destinam, consoante as suas características
económicas);
30
➤Publicidade
A publicação do Orçamento é fundamental, devido a:
→ natureza que impõe a publicação oficial no DR como condição da eficácia
jurídica e do consentimento parlamentar para a cobrança de receitas e a realização
de despesas;
→ necessidade que a Administração Pública tem de conhecer o conteúdo preciso
de tão importante instrumento financeiro;
➤Equilíbrio
A mais importante das regras orçamentais, mas também a mais discutida e
controversa ( prevista no sentido formal -105º.4).
Existem duas perspetivas:
➱Formal - estrita igualdade entre as receitas e as despesas o que traduz a
interdição dos défices e excedentes de receita;
➱Substancial - baseiam-se nas teorias…
➛do Défice Sistemático( baseia-se no facto de o desemprego ser um mal social que
não desaparece espontaneamente sendo que é preciso que o Estado saiba com rigor
qual a situação conjuntural da economia e qual a eficácia dos estabilizadores)
➛dos Orçamentos Cíclicos ( receitas aumentam em períodos expansionistas e as
receitas diminuem em períodos de recessão);
Para que os orçamentos do setor público administrativo se encontrem
equilibrados ( 9º LEO), têm de respeitar os critérios de convergência , por forma a
que o COnselho não declare verificada a existência de um défice excessivo.6
Regras Clássicas ⇎Novas Regras Orçamentais
→Regras clássicas respeitam tendencialmente ao OE, e as novas respeitam a todas
as Administrações Públicas;
→ As regras clássicas regulam fundamentalmente a fase de elaboração e aprovação
do OE, nas novas regras está em causa todo o ciclo orçamental ( respeitam também
à fase da execução);
6
Opinião do professor Oliveira Martins
31
→ Regras orçamentais clássicas baseiam-se fundamentalmente na estrutura e no
procedimento orçamentais, as novas regras centram-se sobretudo nos resultados
orçamentais;
→ Regras orçamentais clássicas filiam-se na perspectiva tradicional que se
concebia o orçamento como um orçamento de meios focados na dotação
orçamental, as novas regras alicerçam-se nos fins ou objetivos orçamentais;
Novas Regras Orçamentais:
➤ Estabilidade Orçamental
Impõe a todas as entidades do setor público administrativo a verificação de
situação de equilíbrio ou excedente orçamental ( 10º-LEO).
A estabilidade orçamental é o equilíbrio das Administrações Públicas, estando em
causa a noção de saldo global.
O fator inovador é a consagração do cumprimento das regras orçamentais
numéricas ( que constam do 10º.3)
➤ Transparência e Solidariedade Recíproca
Este princípio irá pressupor a ideia da divulgação ao público no que diz respeito à
estrutura e funções do Estado e às intenções da política orçamental, às contas
públicas e às projeções.
É mobilizado pela maior exigência substantiva de bom comportamento
orçamental. Prende-se na ideia de informação exata e objetiva sobre o modo como
o Estado utiliza os dinheiros públicos, sobre o custo dos programas orçamentais e
sobre os seus benefícios.
➤ Equidade Intergeracional
A necessidade de avaliação da sustentabilidade de longo prazo na dívida pública
induz à previsão deste princípio ( 10º LEO). O princípio é vago e insuficiente pois
nada é concretizado na LEO, sobre o modo de dar explicitação na LEO sobre o
modo de dar explicação no corpo da Lei OE e a exigência da equidade.
A atividade financeira do setor das administrações públicas está subordinada ao
princípio da equidade na distribuição de benefícios e custos entre gerações de
modo a não onerar excessivamente as gerações futuras, salvaguardando as suas
32
legítimas expectativas através de uma distribuição equilibrada dos custos pelos
vários orçamentos num quadro plurianual
Exigências da Estabilidade Orçamental
+
Sustentabilidade a longo prazo das finanças públicas
↓
Novas Regras Procedimentais:
➛ Regras Procedimentais:faz-se em articulação com a aprovação de outros
documentos com relevância orçamental que o vinculam/ condicionam.
➛Regras Numéricas:Exemplos
i) Regras de saldo/ equilíbrio;
ii) Regras de dívida;
iii) Regras de despesa.
Vinculações externas do Orçamento do Estado (17º LEO + 105º.2 CRP):
- obrigações decorrentes de lei, contrato, de sentenças judiciais/ outras
obrigações determinadas por lei;
- obrigações decorrentes do Tratado da UE;
- opções em matéria do planeamento e a programação financeira plurianual;
A subordinação do OE aos limites da despesa consagrados nos instrumentos de
programação orçamental, quadros plurianuais que fixem, para o período de
programação em causa, limites máximos para a despesa agregada e para a despesa
em causa setor/ área funcional
⇩
LEO criou o Quadro Plurianual de Programação Orçamental ( 12º-D)
Conteúdo do OE e os cavaleiros orçamentais:
LEO ( artigo 31º), formata o conteúdo desejável do OE, pretendendo pela positiva
indicar o conjunto de matérias que podem/ devem estar articulados no
Orçamento.
33
i) matérias expressamente integradas :
⇨ específicas e indubitavelmente orçamentais (alíneas a,d e p);
⇨ não especificamente orçamentais, mas tornadas orçamentais legalizando-se,
assim numa prática ou costume orçamental ( atribuindo-se regularidade de
aprovação própria do OE e garantia de vigência por um período tempo- alíneas
e,m e o);
ii)matérias que não constam expressamente :
➩ matérias que serão ainda especificamente orçamentais e cobertas pelo caráter
exemplificativo ( alterações à legislação fiscal ou de certas regras sobre o
funcionalismo público e pensionistas) ;
➩ matérias que serão ainda matérias especificamente matérias orçamentais
surgindo intermitentemente no OE ( caso de previsões em matéria de
funcionalismo público e de contrato de trabalho da Administração Pública);
➩ matérias só de forma indireta ou incidental têm natureza orçamental sendo por
vezes difícil de determinar se ainda estamos perante matéria de um cavaleiro
orçamental ( ex: regimes de férias e feriados);
➩cavaleiros orçamentais ( representação da segurança social, nos processos
especiais de recuperação de empresas e insolvência- 75º LEO);
Direito de emenda parlamentar no domínio orçamental e a sua relação com a
“lei-travão”
É considerado que a iniciativa dos deputados ( ou grupos parlamentares)
conhecem maiores limitações quando incide sobre uma proposta de alteração
orçamental, do que quando ela respeita a proposta inicial do OE.
Na proposta inicial do OE, não existirão quaisquer limitações do ponto vista
material, pelo que as alterações propostas pelos deputados, caso aprovadas podem
concluir a um resultado final completamente diferente da proposta
governamental, desvirtuando o sentido inicial do OE.
Limitações da proposta de alteração orçamental:
- argumento da alteração de sentido da proposta de lei ( pretensão de ano já
elaborado, que está a ser executado e em áreas delimitadas pela proposta do
Governo, que tem o exclusivo da iniciativa de alteração e o encargo e
34
responsabilidade pela execução orçamental). Deputados podem proceder a
modificações orçamentais que não inscrevam na proposta do Governo,
alargando essas modificações a outras áreas não pretendidas pelo Governo.
Assembleia da República não estaria vinculada à proposta de alteração feita
pelo Governo.
- norma da “lei-travão ( 167º.2 CRP), na fase das alterações orçamentais. A “
lei- travão” impede que os deputados, grupos parlamentares, apresentam
projetos de lei, propostas de lei ou propostas de alteração; que envolvam o
aumento da despesa ou a diminuição da receita; no ano económico em
curso.
Papel do Ministro das Finanças:
➛ característica da independência: independência em relação a partidos
políticos a grupos de interesses vários, grupos económicos . Garante-lhe
credibilidade e menor suscetibilidade de ser pressionado por todos esses grupos;
➛ elevada competência técnica: sólida formação económica, resultante de
experiência profissional;
➛ “forte”: deve possuir uma força política tão grande como a do PM que lhe
permita, perante solicitações setoriais dos diversos outros Ministros , dizer que
não;
Etapas do Processo Orçamental ( conducente à aprovação do OE):
1- Envio à AR do Programa de Estabilidade e Crescimento ( Março- Junho);
2- Início dos trabalhos de preparação do OE;
3- Negociação interministerial;
4- Aprovação em Conselho de Ministros, da proposta de leis da GOP ( Setembro);
5- Envio da proposta da Lei das GOP à AR ( Setembro) ;
6- Aprovação em CM das propostas de lei Quadro plurianual de Despesas
Públicas e do OE ( Outubro);
7- Envio das propostas à AR ( Outubro);
8- Discussão ( Novembro );
9- Aprovação do Orçamento ( Dezembro)
Segundo a Constituição é elaborada e votada anualmente, de acordo com a LEO (
106º.1 CRP). Proposta de Lei do OE para o ano económico seguinte é apresentada
35
pelo Governo à AR até 15/10 de cada ano. A iniciativa em matéria orçamental é
um exclusivo do Governo ( 161º.1. g CRP).
↓
Isto porque o OE é o principal instrumento de concretização financeira política
do Governo, assumida e apresentada ao Parlamento no respetivo programa, logo
após a sua tomada de posse. No final do seu mandato, o Governo deverá prestar
contas ao eleitorado, da execução desse mesmo programa político e
responsabilizar-se por ela.
Deve ser o Governo a responder perante as iniciativas orçamentais concretizadas
ao longo da legislatura.
A votação da proposta realiza-se no prazo de 45 dias após a sua admissão pela AR.
O plenário discute e vota na generalidade a proposta de lei, decorrendo a discussão
e a votação na Comissão do Orçamento e Finanças.
Prorrogação de vigência do Orçamento de Estado
A prorrogação da vigência da LOE abrange o articulado e mapas orçamentais, bem
como os seus desenvolvimentos e decretos-leis ( 12ºH LEO). À necessidade ou não
de novos decretos de execução orçamental para sustentar o regime de prorrogação.
No entanto, nos termos (41º.8), veio a prever-se a faculdade de o Governo
aprovar, os dispositivos de execução.
Regime da Execução Orçamental
A execução Orçamental ( 199º.b CRP) compete em exclusivo ao Governo (
situa-se fundamentalmente no quadro da competência administrativa que é o
Governo). A execução orçamental, de que é responsável o Governo, é feita todos
os dias e desde o primeiro dia em que o OE está em vigor.
A necessidade de efetuar alterações orçamentais resulta da execução orçamental.
Há 3 graus:
- Alterações da competência da AR ( 50º A LEO);
- Alterações da competência do Governo ( 51º LEO);
- Alterações da competência dos serviços ( alterações de muito pequeno
significado);
36
4. Setor Público, Contabilidade Pública e Contabilidade
Nacional
Distinção entre contabilidade pública e contabilidade nacional:
→ Administração Pública: baseia-se numa óptica económica para a
caracterização das instituições que lhe pertencem, concretiza-se no Sistema
Europeu de Contas ( SEC 95), que fundamenta uma contabilização em termos de
contabilidade nacional.
→ Setor Público Administrativo : assenta numa classificação jurídico-
institucional dos entes públicos, cujas contas são contas do SPA na ótica da
contabilidade pública.
Contabilidade Pública ( baseia-se em critérios de natureza
jurídico-institucional): é por uma lado uma ótica histórica, que se faz no respeito
pela estrutura e organização convencionais da administração pública portuguesa.
O registo é, essencialmente as receitas e as despesas registadas atendendo ao
momento da sua efetividade financeir. A contabilidade pública tem sobretudo um
interesse interno ( orienta os serviços componentes da Administração Pública);
Contabilidade Nacional ( baseia-se em critérios de natureza económica) : é
sobretudo do interesse externo, os seus destinatários são as instituições
comunitárias competentes ( Comissão Europeia e o “ Eurostat”). É um
instrumento fundamental da uniformização contabilística produzida e prestada
pelos Estados membros, que procura prevenir situações de discricionariedade
contabilística.
O regime fundamental é o SEC 95 e à luz deste fazem parte das Adminitração
Pública:
- entidades qualificadas como produtores não mercantis, em relação a cujos
bens o consumo seja de natureza individual ou coletiva e dando azo a
pagamentos obrigatórios. Estas instituições têm natureza redistributiva.
Pelo mesmo regime integram o Setor Empresarial do Estado as entidades que:
- sejam qualificadas como produtores mercantis7, que adotem a forma
jurídica empresarial e que os capitais respetivos sejam maioritária ou
exclusivamente públicos.
7
Produtor Mercantil- unidade institucional cuja produção corresponde maioritariamente à produção mercantil, segundo o
SEC 95 aquele que é vendido no mercado compreendendo: produtos vendidos a preços economicamente significativos/
objetos de troca direta/ utilizados para pagamentos em espécie
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Concretização das regras do SEC 95 e o conceito de unidade institucional:
Unidade Institucional ⟶ entidades económicas com a capacidade de possuir bens
e ativos de contrair passivos e de realizar atividades e operações económicas com
outras unidades em seu próprio nome. Caracterizando-se pela unicidade de
comportamento e pela autonomia de decisão ( no exercício da sua função
principal).
Dispõe de ➝ Contabilidade Completa ( circunstância de a mesma dispor de
documentos contabilísticos que reflitam a totalidade das suas operações);
Perímetro orçamental e desorientação:
Questão Crítica da Contabilidade Nacional
↓
Como prever a Desorçamentação?
Desormentação → forma de fraude à lei ou de manipulação das regras
contabilísticas;
➥exemplos:
- Retirada artificial de uma entidade do setor público, qualificando-a como
entidade privada, ainda que ela possa continuar a ser apoiada pela via fiscal;
- Retirada artificial do perímetro orçamental ( Orçamento do Estado) de
entidades qualificando-as como empresas públicas e mantendo embora
canais de financiamento público às mesmas;
Conceitos Relevantes a reter:
➢Descentralização Financeira:quadro analítico que sirva para formatar e
explicar, através de premissas claras e regulares,as relações financeiras entabuladas
entre níveis diferenciados de decisão;
➢Descentralização Político-Administrativa:como no caso de um Estado
Unitário que é dividido em subsetores como Regiões Autónomas e Autarquias
Locais;
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➢Descentralização Fiscal:refere-se à receita fiscal própria e pode desdobrar-se
em dois planos diferentes, com a possibilidade que estas entidades têm de ser
titulares da receita , traduzindo-se na autonomia fiscal;
➢Autonomia Financeira : autonomia orçamental e patrimonial e mesmo
quando a estas com sucessivas restrições;
5. Fiscalização Orçamental e Responsabilidade Financeira
Pelo artigo 107º CRP podemos admitir que existem 3 tipos de fiscalização:
- Política: cabe à Assembleia da República e traduz-se na apreciação anual da
Conta Geral do Estado, quer na apreciação ao longo do ano do modo como
os Governos vão executando os Orçamentos.
A Assembleia exerce 2 tipos de controlo:
→ à posteriori( apreciação anual da Conta Geral do Estado);
→ concomitante( apreciação do modo como os Governos executam)
Para além disso exerce ainda a fiscalização ex ante, já que ao votar o Orçamento a
AR exerce uma primeira fiscalização. No exercício da fiscalização a AR é assistida
tecnicamente pelo Tribunal de Contas. O Parlamento poderá recusar a sua
aprovação à Conta Geral do Estado apresentada e responsabilizar politicamente o
Governo em funções, se for o mesmo que executou o Orçamento do Estado.
A AR poderá acionar os mecanismos de responsabilização política/ solicitar
informações sobre o modo como se processa a execução orçamental.
- Administrativa: compete à própria entidade responsável pela realização da
despesa, bem como as entidades que lhe sejam hierarquicamente superiores
( esta fiscalização será realizada à priori)
- Jurisdicional: está confiada ao Tribunal de Contas, que é
constitucionalmente um verdadeiro Tribunal, ao qual compete:
→ dar parecer sobre a Conta Geral do Estado;
→ fiscalizar a legalidade das despesas públicas;
→ julgar as contas que a lei mandar submeter-lhe ( 214º.1 CRP);
39
A responsabilidade financeira é a conjugação dos 3 tipos de controlo
Tribunal de Contas:
É o órgão supremo de controlo, de fiscalização e de auditoria das contas públicas
dando parecer sobre a Conta Geral do Estado, incluindo a Segurança Social e
contas das regiões autónomas, fiscalizando previamente a legalidade e o cabimento
orçamental dos atos contratos geradores de despesa ou representativos de
quaisquer encargos.
Constitucionalmente, é um autêntico tribunal integrado o poder judicial ( 209º.1.
c CRP), tendo uma integração especial no poder judicial. O Presidente do
Tribunal de Contas é nomeado pelo PR, para um mandato com a duração de 4
anos ( 133º.m CRP)
Funções:
- fazer apreciações nos vários domínios das Finanças Públicas e Direito
Orçamental ;
- exercício de diversos tipos de fiscalização;
- aplicação de sanções que a lei manda aplicar em resultado do apuramento
da responsabilidade financeiras;
- formular recomendações em ordem a serem supridas as deficiências da
gestão orçamental;
A competência do tribunal é ampla e complexa existem quatro grande áreas:
- consultiva;
- jurisdicional ( julga e efetiva responsabilidades financeiras);
- Fiscalização à priori das despesas públicas ( examina e concede o visto ou
emite declaração de conformidade );
- Fiscalização concomitante e sucessiva.
Fundamentos do papel do Tribunal de Contas:
Sousa Franco → o controlo orçamental dos dinheiros públicos tem essencialmente
2 ordens de fundamentos:
- jurídico- políticos: assegurar que o Executivo se mantém dentro dos
limites da lei, através da aprovação da Lei do Orçamento;
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- económicos:evitar os desperdícios e a má utilização dos recursos públicos;
É o interesse público da boa administração dos recursos públicos que justifica a
existência de uma instituição como o Tribunal de Contas e que justifica a sujeição
à respetiva jurisdição por parte de determinadas entidades.
O 1º.1 LOPTC define o nível legal das atribuições do Tribunal, a sua missão e o
interesse público que o Tribunal visa realizar . A “ratio” do artigo define que são
as seguintes as linhas fundamentais do diploma:
- princípio da perseguição do dinheiro e dos valores públicos;
- necessidade de controlo financeiro dos dinheiros públicos, das despesas
públicas e do patrimônio público;
As entidades sujeitas à atuação do Tribunal, englobando todas as entidades que
tenham a seu cargo a gestão de dinheiros ou valores públicos independentemente
da natureza jurídica de tais entidades.
Secções do Tribunal de Contas:
O artigo 1º da LOPTC prevê as atribuições do TC. Tudo isso distribuído por
secções especializadas:
➥ 1ª Secção ( do visto)
Exerce a fiscalização prévia e a fiscalização concomitante, realiza o
acompanhamento do próprio ato ou contrato que está submetido a visto.
O visto é o ato através do qual o Tribunal faz a apreciação global dos factos/ atos
de despesa que podem ser validamente realizados. A natureza do visto pode ser
apreciada à luz de 2 critérios:
- caráter do órgão que o produz;
- conteúdo próprio da decisão em que se consubstancia
➥ 2ª Secção ( de auditoria)
Composta por juízes e economistas englobando um componente de apreciação da
economia, eficiência e eficácia dos atos;
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As auditorias assentam sobretudo num controlo de gestão, preocupando-se com a
estrutura organizativa, o planejamento, o controle dos resultados e os
procedimentos;
➥3 ª Secção ( de julgamento)
O julgamento das responsabilidades financeiras e da responsabilidade financeira
reintegratória ( responsáveis na obrigação de repor os montantes determinados na
lei).
Caso seja verificado o desvio de dinheiros públicos pode o Tribunal de Contas
condenar o responsável a repor as importâncias ( 59º LOPTC);
Os responsáveis pela reposição, constam do 61º LOPTC, recaindo sobre os
membros do Governo, dirigentes dos órgãos de gestão e outros órgãos sujeitos à
jurisdição do Tribunal de Contas.
Nas alterações recentes da LEO, surge a criação de uma entidade administrativa
independente- o Conselho de Finanças Públicas ( pronunciar-se sobre os objetivos
propostos relativamente aos cenários macroeconómico e orçamental, à
sustentabilidade de longo prazo das finanças públicas);
Bens Públicos versusBens Privados
O Estado tanto produz bens semelhantes aos outros agentes da sociedade que são
os que têm poderes de autoridade, como produz os Bens Públicos que não são
suscetíveis de repartição igual e de remuneração individualizada.
Os bens públicos são caracterizados pela não exclusividade, ou seja a
impossibilidade de excluir pessoas da sua utilização e pela satisfação passiva sobre a
não necessidade da procura.
Bens de Clubes - produzidos e utilizados por grupos fechados de pessoas. Só
aquelas podem utilizar um bem que seria público em princípio que é do exercício
benéfico e necessário à saúde.
Bens de Congestão- terrenos que não pertencem a ninguém e explorados pelos
vizinhos em certas aldeias.
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Bem Público Global - que tem efeito no nosso país e afeta todos nós, estende-se
entre todos os povos, países e gerações ( exemplo: Ambiente; paz e Proteção
Imigrantes)
Bem Público Regional - abrangem determinada região de um país
Índice:
1.Noções básicas sobre políticas
financeiras……………………………………..………...1
2. Instrumentos das Finanças Públicas: receitas e despesas
públicas…………...13
3. Morfologia e vicissitudes do Orçamento de
Estado………………………………..22
4.Setor Público, Contabilidade Pública e Contabilidade Nacional…….……...33
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