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REDAÇÃO

A PRECARIZAÇÃO DO SISTEMA DE
SAÚDE PÚBLICA NA ATUALIDADE

EIXO TEMÁTICO A SAÚDE, BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA

Além de Aldo, participaram da organização da edição temática


INDICAÇÃO DE Maria Helena Barros de Oliveira, coordenadora do DIHS/
Ensp; Telma Abdalla de Oliveira Cardoso (DSSA/Ensp); Simone
TEXTOS DE APOIO Cynamon Cohen (DSSA/Ensp) e Débora Cynamom Kligerman, do
Departamento de Saúde Ambiental da Ensp (DSSA/Ensp); e Katia
Reis de Souza, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e
Texto 01 – Saúde, trabalho e ambiente em contexto de
Ecologia Humana (Ensp/Cesteh).
precarização
CEE-Fiocruz
De acordo com Maria Helena Barros, a iniciativa visa
fortalecer o campo da saúde pública. “A revista alinha-se à
A relação da saúde com o mundo do trabalho e os missão da Fiocruz de intervir e garantir a manutenção da saúde
processos produtivos tais como se apresentam hoje, bem para a população, bem como fortalecer o SUS. É um conteúdo ao
como com o desequilíbrio e a poluição ambiental, que mesmo tempo específico e abrangente, com questões intrínsecas
têm contribuído para a mudança climática, a crise hídrica ao desenvolvimento do país, visto que temos, atualmente,
e o consequente aumento e reincidência de doenças, será problemas de saúde relacionados ao trabalho e ao ambiente no
analisada no evento de lançamento do número temático Brasil”, explica, observando que a discussão sobre essa temática
Saúde, Trabalho e Ambiente da Revista Saúde em Debate, precisa se dar dentro de um contexto democrático. “A questão de
dia 24/7/2017, às 10h, no Salão Internacional da Escola saúde como direito humano só se concretiza em uma democracia.
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Temos neste momento duas discussões muito importantes: a
O evento busca divulgar a produção do Programa de Pós- reforma trabalhista, que precariza ainda mais as condições de
trabalho, retira direitos e impõe mais riscos ao trabalhador, e a
Graduação em Saúde Pública da Ensp/Fiocruz relativa a
reforma da Previdência Social”, aponta.
essa temática, por meio da revista, editada pelo Centro
Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). A realização do Para apresentar e discutir os principais temas da edição no
debate resulta de parceria entre o Programa de Pós- evento de lançamento, participarão da mesa de debates, além
Graduação em Saúde Pública da Ensp/Fiocruz, o Cebes de Maria Helena Barros e Simone Cynamom, Maria Cristina
e o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE- Rodrigues Guilam, coordenadora Geral de Pós-Graduação da
Fiocruz), que fará a transmissão online pelo blog cee. Fiocruz; Nilson do Rosário, pesquisador do Departamento de
fiocruz.br. Ciências Sociais da Ensp/Fiocruz; Cristiani Vieira Machado,
coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde
Pública; Maria Lucia Frizon Rizzotto, diretora de Política
“O debate de lançamento pretende explicitar os estudos Editorial do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde; e Antonio Ivo
presentes na revista em torno de duas áreas do conhecimento: de Carvalho, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da
Saúde e trabalho e Saneamento ambiental”, explica Aldo Pacheco Fiocruz (CEE-Fiocruz).
Transmissão pelo blog do CEE-Fiocruz: cee.fiocruz.br - https://jornalggn.com.br/blog/
Ferreira, pesquisador do DIHS/Ensp e um dos editores da Saúde cee-fiocruz/saude-trabalho-e-ambiente-em-contexto-de-precarizacao.
em Debate. Aldo defende a necessidade de um olhar mais acurado
sobre o processo de perda de direitos sociais, como o direito à
saúde, e de precarização do trabalho no Brasil. “A saúde pública
está sofrendo um golpe com as atuais reformas, que não medem,
por exemplo, condições de saneamento, jornada de trabalho e
INDICAÇÃO DE
do transporte para o trabalhador”, observa. “Não há incentivo à TEXTOS DE APOIO
ampliação da mão de obra especializada e à criação de condições
de trabalho. Em vez de se aumentar a qualidade do trabalho, tem
se buscado aumentar o ganho da produtividade, o que não traz Texto 01 – Precarização da saúde e privatizações
lucro a ninguém”, explica, destacando que o debate irá discutir os foram debatidos pelo Sindsaúde em seminário no MPE
trabalhos apresentados nessa edição especial, “contextualizando- Por Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado da Bahia
os dentro dessa inquietude”.
A crise no serviço público de saúde, os contratos
Com uma série de artigos atuais, desenvolvidos por alunos e de gestão, a política de privatização implantada pelo
docentes do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da governo estadual, através de parceria público-privada
Ensp/Fiocruz, a revista discute temas como: violência doméstica (PPP) e Organização Social (OS) e a experiência da
e trabalho; saúde e trabalho infantil; políticas de redução de Fundação Estatal de Saúde da Família, foram alguns dos
desastres ambientais; trabalho agrícola feminino; trajetórias temas que deram o tom dos questionamentos debatidos
educacionais e ocupacionais de trabalhadores do Sistema Único pela diretoria do Sindsaúde-Ba, durante o seminário
de Saúde (SUS); a reorganização do trabalho na Previdência Social;
“Precarização dos vínculos na área da saúde pública”,
riscos e proteção da saúde dos trabalhadores da sericultura;
avaliação do trabalho na atenção primária à Saúde; associação promovido pelo Ministério Público Estadual, na última
entre malformações congênitas e a utilização de agrotóxicos; sexta-feira (19).
ecologia política; políticas de saúde do trabalhador e saúde mental;
imigração; e exposição ocupacional a substâncias químicas.

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O evento teve o objetivo de discutir e propor soluções para do governo federal sobre a possibilidade ou não de terceirização
os problemas que vêm prejudicando os vínculos no setor e a desses serviços. Ou seja, se o Estado vai prestar diretamente,
prestação de atendimento à população. Num auditório lotado, ou se ele pode prestá-lo indiretamente. Porque, enquanto isso
estavam presentes a presidente do Sindsaúde, Inalba Fontenelle, não for bem definido, o que vai continuar acontecendo no Brasil
a vice Tereza Deiró, os diretores Aladilce Souza, Dijalma Rossi, são processos de precarizações extremanente irregulares e que
Ivanilda Brito, Jorge Silva, Edson Leitte, Laura Neves, Silvio leva obviamente o prejuízo daquele que está na ponta, que é o
Robertos dos Anjos e Silva, Natalícia da Silva, dentre outros usuário”, ressaltou.
representantes da capital e interior, além de servidores de
diversas categorias da área da saúde. No final dos debates, o Sindsaúde-Ba propôs a criação de
uma comissão para revisão da Lei e Responsabilidade Fiscal
Pela manhã, os debates foram coordenados pelo promotor e um amplo debate sobre o fortalecimento da saúe, através da
de Justiça José Oliva Mattos do Centro de Estudos e gestão direta. Também participaram do evento, o presidente do
Aperfeiçoamento Funcional do MP (Ceaf), os coordenadores Conselho Regional de Medicina na Bahia (Cremeb), Abelardo
dos Centros de Apoio Operacional de Defesa da Saúde Pública Meneses, o presidente do Sindicato Médicos do Estado da bahia
(Cesau), Rogério Queiroz; e da Cidadania (Caoci), Valmiro (Sindimed), Francisco Magalhães, representantes Conselho
Macedo; e do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Regional de Odontologia (Croba), o Sindicato dos Farmacêuticos
Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa (Gepam), (Sindfarma) e da Sesab.
Adriano Assis. O promotor Rogério Luiz Gomes de Queiroz do http://www.sindsaudeba.org.br/novo/?p=1664. Acesso: 19/08/2018
Cesau deu o panorama da situação da precarização dos vínculos
na área da saúde na Bahia.

A mesa-redonda ‘Fundação Estatal de Saúde da Família – INDICAÇÃO DE


Experiência na Bahia’, abordou a tentativa de implementar um TEXTOS DE APOIO
projeto de carreira pública de âmbito estadual. O procurador
do Estado da Bahia Ailton Cardoso, admitiu que a Fesf não foi
uma experiência bem sucedida na Bahia, destacando que dos Texto 03
101 municípios que aderiram ao programa, atualmente, apenas
69 deles mantêm a modalidade. O Sindsaude, que representa
a categoria, denunciou as condições de trabalho impostas pela
fundação, as rescisões de contratos imotivados que vêm sendo
praticados, dentre outras irregularidades. O sindicato alertou
ainda que diversos profissionais que foram contratados para
prestação de serviço no setor de atenção básica, vêm sofrendo
desvio de função, trabalhando em atendimento de média e alta
complexidade.

PRIVATIZAÇÕES
À tarde, as críticas à política de terceirização dos serviços
de saúde no Brasil e na Bahia deram o tom das discussões da
mesa-redonda “A Crise do Serviço Público de Saúde – Meios
Alternativos para a Prestação do Serviço”. Durante o debate, http://www.imaginie.com/wp-content/uploads/2017/10/saude-publica-no-
brasil.jpg
a diretoria do Sindsaúde-Ba fez duras críticas as modalidades
de gestão que estão sendo implementadas pela Sesab, e
questionaram a legitimidade e eficácia das Organizações de
Saúde (OS), das Parcerias Público-Privadas (PPP), dentre outras
formas de terceirizações dos serviços de saúde. INDICAÇÃO DE
TEXTOS DE APOIO
Uma das debatedoras, a promotora de Justiça Rita Tourinho,
do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Patrimônio Público e
da Moralidade Administrativa (Gepam), fez um breve panorama Texto 04 – OAB/SE defende SUS e denuncia
sobre as privatizações na saúde e defendeu a realização do precarização da saúde pública
concurso público no setor. Ela ressaltou que através da lei
Federal 9.637/98, das Organizações Sociais, houve a legitimação A coordenadora do Núcleo de Saúde da Comissão de
da terceirização dos serviços de saúde e desde então “começou a Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil,
série de terceirizações da gestão de postos de saúde e hospitais em Sergipe, Clarissa Marques Santos França, participou
públicos”, que depois se estendeu à contratação de mão de obra. nesta quarta-feira, 18, da audiência pública que discutiu a
privatização do SUS, realizada na Assembleia Legislativa
Para a promotora, as privatizações resultaram na do Estado.
precarização do vínculo dos profissionais de saúde e que seria
necessário enfrentar “entraves constitucionais” como a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) e o teto de remuneração do serviço Coordenada pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnico-
público para aumentar o poder de financiamento municipal e Administrativos em Educação da Universidade Federal de
sanar a carência de estrutura e profissionais nas cidades. Sergipe e pela deputada estadual, Ana Lúcia, a audiência colocou
em discussão o modelo privado de gestão da saúde pública
“Existe hoje uma precarização da prestação dos serviços de pretendido pelo Governo Federal.
saúde. E o que temos de concreto é que precisamos de uma posição

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Segundo o Fórum Sergipano em Defesa do SUS e Contra Nordeste esse número chega a 953,3 e 749,6 respectivamente.
a Privatização da Saúde, o modelo privado, acompanhado do Pelos cálculos da OMS (Organização Mundial da Saúde), há
programa dos planos de saúde populares do Ministério da Saúde, 17,6 médicos para cada 10 mil brasileiros, bem menos que na
transformará, enfraquecerá e destruirá uma conquista social Europa, cuja taxa é de 33,3. Na audiência pública, o secretário de
vital: o Sistema Único de Saúde. Controle Externo da Saúde do TCU, Marcelo Chaves, elogiou o
Programa Mais Médicos, “uma iniciativa importante para tentar
De acordo com o coordenador do SINTUFS, Fábio Santos, é mudar essa realidade”.
preciso, na verdade, fortalecer a atenção primária, priorizando
ações de promoção e prevenção da saúde pública, e garantir Longa espera para marcar consulta – No sistema público de
princípios básicos de um sistema que se afirma público, universal, saúde, esperar é quase parte do protocolo. Na prática, significa
integral e democrático. que o SUS realiza bem menos consultas do que poderia. Segundo o
Fisc Saúde 2016, o Brasil apresentou uma média de 2,8 consultas
“Apesar de todo o processo de sucateamento e precarização por habitantes no ano de 2012, o 27º colocado em 30 países.
da saúde, o SUS ainda é nosso e tem a perspectiva de ser Taxa muito inferior ao dos países mais bem colocados: Coreia do
democrático, com acesso universal e gestão participativa. A Sul (14,3), Japão (12,9) e Hungria (11,8). Segundo o pesquisador,
nossa função enquanto trabalhadores e usuários do SUS é fazer não mudou muito desde então. “Infelizmente, a demanda é maior
a defesa desse sistema”, afirmou. do que a oferta. Desde 1988, incluímos nos SUS 90 milhões de
novos usuários, mas continuamos gastando apenas US$ 400,00
Para a coordenadora do Núcleo de Saúde da OAB/SE, Clarissa por habitante/ano.”
França, a garantia de um SUS público é a segurança da efetividade
do acesso ao direito à saúde. “A desestatização não garante que Faltam leitos – Pesquisa Datafolha encomendada pelo CFM
o serviço seja melhor e que a saúde a todos será concretizada”, (Conselho Federal de Medicina), em 2017, colocou o aumento
considera. do número de leitos como a terceira providência que o governo
deveria tomar para melhorar a saúde pública brasileira. Essa é
“Atualmente, a terceirização impera em vários âmbitos e não a opinião de metade dos 2.089 entrevistados. O tema também
tem melhorado em nada. Hoje, é necessário unir forças para a tem destaque no ranking solicitando ao Reclame Aqui. Nos
defesa de que o SUS tem que ser público e voltado integralmente três primeiros meses de 2018, a falta de leitos foi o 8.º principal
ao usuário. A saúde é um direito e não pode ser tratada como motivo de reclamações dos brasileiros. De acordo com a
mercadoria”, defende Clarissa. Associação Nacional de Hospitais Privados, o Brasil tem 2,3
http://oabsergipe.org.br/blog/2017/10/18/oabse-defende-sus-e-denuncia- leitos por mil habitantes, abaixo do recomendado pela OMS
precarizacao-da-saude-publica/. Acesso: 19/08/2018.
(entre 3 e 5). Ainda segundo o CFM, entre 2010 e 2015, o Brasil
perdeu 13 leitos por dia, num total de 23.565 vagas. As maiores
reduções foram, proporcionalmente, o Rio de Janeiro (22%),
Sergipe (20,9%), Distrito Federal (16,7%), Paraíba (12,2%), Goiás
INDICAÇÃO DE
(11,5%) e Acre (11,5%). Já o déficit de leitos em UTI neonatal é de
TEXTOS DE APOIO 3,3 mil, segundo pesquisa deste ano da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP). O país tem, em média, 2,9 leitos por mil nascidos
Texto 05 – Falta de médicos e de remédios: 10 grandes vivos, abaixo dos 4 leitos recomendados pela entidade. No SUS,
problemas da saúde brasileira. essa taxa é ainda menor: 1,5.
Por Wanderley Preite Sobrinho
Atendimento de emergência – Doentes e precisando esperar
Faltam médicos e remédios no SUS (Sistema Único de longamente pelo atendimento, os pacientes não costumam ser
Saúde). No sistema particular de saúde, a mensalidade é tolerantes com o atendimento prestado em postos de saúde e
alta e não há cobertura para diversas doenças e exames. nos setores de urgência ou emergência de hospitais. Em agosto
O subfinanciamento do sistema de saúde é grave, a de 2016, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) pediu aos
formação dos médicos nem sempre é boa e muitos brasileiros que avaliassem 13 serviços públicos, e o tema ficou
pacientes ainda enfrentam discriminação. no topo dentre aqueles “de pior qualidade”. O assunto recebeu
20 pontos de índice que vai de 0 a 100. Nos estudos do Ipea
sobre serviços prestados pelo SUS, o tema recebeu as maiores
Essas são algumas conclusões de uma pesquisa do UOL que qualificações negativas: 31,1% (postos de saúde) e 31,4%
elegeu 10 dos principais problemas enfrentados pela saúde (urgência ou emergência).
pública e privada no Brasil. Para isso, a reportagem utilizou o
dados do IPS (Sistema de Indicadores de Percepção Social), do Falta de recursos para a saúde – Apenas 3,6% do orçamento
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Fisc Saúde do governo federal foi destinado à saúde em 2018. O percentual
2016, do IBGE, e um ranking encomendado ao Reclame Aqui, fica bem abaixo da média mundial, de 11,7%, de acordo com a
um órgão de defesa do Consumidor avalizado pela Ouvidoria- OMS. Essa taxa é menor do que a média do continente africano
Geral da União, e outro formulado pela ANS (Agência Nacional (9,9%), nas Américas (13,6%) e na Europa (13,2%). Na Suíça, essa
de Saúde). proporção é de 22%. O estudo aponta que o gasto com saúde
no Brasil é de 4 a 7 vezes menor do que o de países com sistema
Faltam médicos – e eles estão mal distribuídos pelo País. Em universal de saúde, como Reino Unido e França, e inferior ao de
audiência pública no Senado em novembro passado, o presidente países da América do Sul em que saúde não é um direito universal,
do TCU, ministro Raimundo Carreiro, elegeu a falta de médicos casos da Argentina e Chile. Essa proporção não deve mudar muito
como “o principal problema do SUS”. “A falta é crônica”, avalia pelos próximos anos, graças à Emenda à Constituição aprovada
Tanaka, da USP. “Há uma tentativa de formar mais médicos, em dezembro de 2016, que limita o crescimento dos gastos
mas a má distribuição ainda persistirá devido à dificuldade de públicos pelos próximos 20 anos ao percentual da inflação nos 12
interiorização”. Segundo dados do CFM (Conselho Federal de meses anteriores. Esse congelamento dos gastos vai representar
Medicina), há um médico para cada 470 brasileiros. No Norte e perdas de R$ 743 bilhões para o SUS no período, segundo estudo

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Ipea. “O SUS está subfinanciando, uma situação agravada pela Discriminação no atendimento – A Pesquisa Nacional de
crise econômica e política do País”, avalia o pesquisador. “Mesmo Saúde, do IBGE, aponta que 10,6% da população brasileira adulta
com problemas de gestão, o dinheiro disponível não dá conta das (15,5 milhões de pessoas) já se sentiram discriminadas na rede
necessidades do setor.” de saúde tanto pública quanto privada. A maioria (53,9%) disse
ter sido maltratada por “falta de dinheiro” e 52,5% em razão da
Formação dos médicos – “Melhorar a qualidade do “classe social”. Pouco mais de 13% foram vítimas de preconceito
atendimento dos médicos” foi a terceira principal melhoria racial, 8,1% por religião ou crença e 1,7% por homofobia.
sugerida pelos usuários do SUS, segundo o Sistema de Esse percentual poderia ser maior se parte da população
Indicadores de Percepção Social, do Ipea. A sugestão ficou atrás LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e
apenas na necessidade de “aumentar o número de médicos” Transgêneros) não deixassem de buscar auxílio médico por medo
e “reduzir o tempo de espera por consulta”. De acordo com o de ser discriminada, indica uma pesquisa da UFSC (Universidade
Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Federal de Santa Catarina). O estudo também mostrou que
Paulo), quase 40% dos recém-formados não passam em seu
gestantes cariocas pardas ou pretas tinham mais dificuldade para
exame. No restante do Brasil, apenas dois outros Estados
encontrar uma vaga em maternidade do que as futuras mães de
aplicam uma avaliação (Goiás e Rondônia), e multiplica-se no
cor branca. Essas vítimas de discriminação têm um risco quatro
País as escolas médicas, nem sempre bem avaliadas. De acordo
vezes maior de desenvolver depressão ou ansiedade e estão mais
com o Ministério da Educação, duas em cada dez faculdades
de medicina não atingiram a nota esperada no Enade (Exame pré-dispostas à hipertensão.
https://noticias.uol.com.br/saude/listas/falta-medico-e-dinheiro-10-grandes-
Nacional de Desempenho de Estudantes) em 2016. “Temos a problemas-da-saude-no-brasil.htm. Acesso: 19/08/2018.
necessidade de formar docentes para melhorar a qualidade
do ensino, principalmente nas novas escolas de medicina que
estão sendo abertas”, acredita o pesquisador da USP. “É preciso
também monitoramento do profissional para que a população INDICAÇÃO DE
receba uma atenção de qualidade.”
TEXTOS DE APOIO
Mensalidades dos planos de saúde – O sistema privado
também não escapa de críticas. Uma das mais comuns é a velha Texto 06
polêmica sobre o valor das mensalidades. Segundo o Ipea, esse
é o principal problema apontado pelos usuários, com 39,8% das
queixas. Ao UOL, a ANS (Agência Nacional de Saúde) reuniu
as principais reclamações feitas por consumidores nos três
primeiros meses deste ano. “Mensalidades e reajustes” ficou em
terceiro lugar, com 2.034 reclamações, contra 1,767 nos três
primeiros meses do ano passado. Muito se deve ao fato de que
apenas 20% (9,4 milhões de clientes) pagam o teto de reajuste
anual estabelecido pela ANS. Tratam-se de planos individuais,
cada vez menos ofertados pelas seguradoras. Os outros 38,3
milhões de segurados pertencem a planos coletivos, cujo
percentual de reajuste depende da negociação da operadora
com a empresa contratante. “De fato o setor privado tem custos
crescentes, e o Estado, sem capacidade de regular, apenas
administra o mercado” afirma diretor da FSP.

Cobertura do convênio – Outra crítica frequente aos planos


de saúde é a cobertura insuficiente. Na pesquisa produzida pela
ANS, o tema ficou no topo das queixas. Foram 15.785 entre
janeiro e março deste ano; mais que as 14.416 registradas
no primeiro trimestre de 2017. No estudo do Ipea, a falta de
cobertura é a segunda razão de maior reclamação entre os
usuários de convênio: 35,2% reprovam o serviço. Em 2015, a
APM (Associação Paulista de Medicina) perguntou aos paulistas
o que mais os incomoda nos convênios. “Os planos dificultam
a realização de exames de alto custo”, respondem 68% dos
entrevistados. Para o professor da USP, as empresas tendem a
controlar gastos reduzindo a cobertura. “Só no SUS a saúde é um
direito. No setor privado, a prioridade é a lei do mercado.” http://www.saude.mppr.mp.br/arquivos/Image/graficos/graf_gasto_publico_
saude_2011.png
Sem reembolso – Os contratos de planos de saúde devem
assegurar aos consumidores o reembolso de um rol mínimo
de coberturas, como o direito a consultas médicas limitadas,
internação, cobertura assistencial ao recém-nascido. Acontece
que isso nem sempre acontece. No estudo do Fisc Saúde, esse
é o terceiro principal motivo de insatisfação de pacientes do
setor privado (21,9%). Esse foi o oitavo principal motivo de
reclamação no primeiro trimestre do ano no Reclame Aqui.
Segundo a instituição, foram 508 queixas. 35% mais do que nos
mesmos três meses do ano passado, quando foram registradas
333 reclamações.

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