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A
pesar de recente, a sigla Brics é cada vez O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
mais falada — especialmente no noticiário divulgado pelo Programa das Nações Unidas para
internacional. Formulada pelo economis- o Desenvolvimento em novembro (ver Súmula, na
ta Jim O’Neil em 2001 para designar o pág. 5), aponta que entre os Brics o país mais de-
grupo de países emergentes formado por Brasil, senvolvido é a Rússia (66º), seguido de Brasil (84º),
Rússia, Índia e China, essa expressão incorporou, China (101º), África do Sul (123°) e Índia (134º).
em 2010, a África do Sul. O que une os cinco é o O IDH considera três dimensões: o conhecimento,
fato de crescerem rapidamente: em 2010, o Pro- medido por indicadores de educação; o padrão de
duto Interno Bruto do grupo somou US$ 11 trilhões, vida digno, medido pela renda; e a saúde, medida
o equivalente a 18% da economia mundial. Mas, pela longevidade.
se os aspectos financeiros são semelhantes, em No texto A saúde nos Brics — Progresso e
muitas outras áreas esses países têm condições perspectivas para 2011, o economista André Cezar
divergentes — inclusive na concepção de seus Medici, especializado em Economia da Saúde, ava-
sistemas de saúde. lia que os cinco países têm desafios comuns a en-
Radis pesquisou a realidade do setor na Rús- frentar. Primeiro, promover a equidade: diminuir
sia, Índia, China e África do Sul e constatou que o a pobreza e a desigualdade social. Segundo, ser
bom desempenho econômico não necessariamente mais eficiente na prestação de serviços de saúde.
se reflete na qualidade de vida da população. En- Terceiro, lidar com o envelhecimento da população
quanto o Brasil tem um sistema universal e integral e o aumento das doenças crônicas não transmis-
de saúde, na Índia e na África do Sul o acesso é síveis. E, finalmente, levar à frente mecanismos
marcado pela iniquidade. Já a Rússia oferece um para tornar seus sistemas de saúde sustentáveis.
co de saúde, a partir dos seguintes enquanto na França era de 59 centrados na necessidade e não
princípios: responsabilidade do anos e nos Estados Unidos, de 63. na capacidade de pagamento do
Estado pela saúde, acesso universal Nos quinze anos seguintes, o país paciente. Mas os mecanismos de
a serviços gratuitos, abordagem investiu em prevenção das doenças financiamento da saúde foram
preventiva das doenças, atenção infecciosas para mudar esse quadro alvo de grande reforma recente:
profissional de qualidade, relação — em 1965, a expectativa de vida os impostos deixaram de ser o
estreita entre ciência e prática chegou a 64,3, ante 67,5 da França único meio de sustentar o setor,
médica e conexão entre promoção e 66,8 dos Estados Unidos. O país, depois de criado um sistema de
da saúde, tratamento e reabilitação. porém, não foi capaz de responder seguro social.
Em 1937, hospitais, farmácias adequadamente à transição epide- André Cezar Medici destaca
e outros estabelecimentos de saúde miológica e ao crescimento das do- o fato de a expectativa de vida
foram nacionalizados e todos os enças crônicas não transmissíveis, na Rússia ser 11 anos mais baixa
profissionais do setor tornaram-se nas décadas seguintes. do que a média da União Europeia
funcionários do Estado. Essa orga- O sistema também sofreu com (62 anos para homens e 74 para
nização resistiu à Segunda Guerra os cortes de gastos durante a Guer- mulheres), principalmente pela
Mundial, conseguindo oferecer ra Fria e com o isolamento de sua mortalidade precoce masculina
atenção à saúde adequada e evitar ciência, diz o documento. provocada por fatores de risco
grandes epidemias. Hoje, avaliam os pesquisa- como alcoolismo, tabagismo e cau-
Em 1938, a expectativa de dores, a base do sistema conti- sas externas (incluindo violência,
vida na Rússia era de 43 anos, nua a mesma: serviços de saúde acidentes de trânsito e suicídio).