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café atualmente se concentra em seis Estados: Gerais, no qual focalizaram, além do custo de
Bliska, F. M. de M. et al.
Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, produção, os indicadores sociais e técnicos.
Bahia e Rondônia. A diversidade social, cultural Reis et al. (2001) em “estudo de multi-
e, principalmente, edafoclimática - solo, relevo, casos” na região sul de Minas Gerais (safra
altitude, latitude e índices pluviométricos - exis- 1998/99) ratificaram o estudo de Silva e Reis
tente em cada um desses Estados resultou não (2001), uma vez que os resultados dos respecti-
apenas em diferentes tipos de café, como em vos estudos indicaram que a etapa que mais one-
distintas estruturas de produção, tecnologia e rou os custos de produção foi a da formação da
competitividade setorial. lavoura, no caso dos custos fixos, e os gastos
Assim, nos Estados de Minas Gerais, com mão-de-obra, principalmente a temporária
São Paulo e Bahia predomina o cultivo do Coffea para os custos variáveis.
arabica, conhecido como café arábica, enquanto O estudo de Lima et al. (2008) foi ainda
nos Estados do Espírito Santo e Rondônia pre- mais abrangente. Os autores pesquisaram o
domina o cultivo do Coffea canephora, generica- custo de produção da lavoura de café em diferen-
mente conhecido por café robusta, destinado tes Estados: Minas Gerais (regiões de Três Pon-
principalmente para a indústria de café solúvel e tas e Santa Rita do Sapucaí, no sul do Estado;
à composição de ligas com o arábica; e o Estado Patrocínio, no Cerrado mineiro; e Manhumirim,
do Paraná produz exclusivamente café arábica. na região das Matas de Minas), Espírito Santo
Em cada um desses Estados produto- (Iuna, região de predomínio de café arábica; e
res, os diferentes segmentos das respectivas Jaguaré, região de predomínio de café robusta),
cadeias produtivas do café possuem pacotes e São Paulo (Altinópolis, na região conhecida por
níveis de emprego tecnológico distintos, o que, Mogiana) e Ribeirão do Pinhal no Estado do Pa-
consequentemente, repercute sobre os custos de raná (região de Cornélio Procópio, conhecida por
produção e da competitividade. Norte Novo). Para obtenção das informações e
Produtores, cooperativas e associações, da estruturação foram realizados painéis, que
governos federais e estaduais têm demonstrado consistiram essencialmente em reuniões entre
grande interesse em conhecer os custos de pro- pesquisadores, técnicos e produtores locais. A
dução de café das principais regiões produtoras do pesquisa estimou os custos de produção com
País, principalmente em função da disparidade de operações agrícolas e material consumido, totali-
resultados entre as fontes de informação disponí- zando os Custos Operacionais Efetivos (COE),
veis, sejam elas governamentais ou estimadas por Custo Operacional Total (COT). Os autores não
cooperativas, produtores e consultores. consideraram os custos de oportunidades, custos
Enquanto os produtores buscam indi- com remuneração do proprietário, pois segundo
cações sobre sua competitividade em relação estes, de difícil padronização.
aos demais produtores e regiões produtoras, os Ainda no Estado de Minas Gerais, Tei-
interesses governamentais justificam-se diante da xeira; Caixeta; Donzele (2008) verificaram a viabi-
necessidade de buscar informações que possam lidade econômica, a sustentabilidade e a possibi-
subsidiar a implementação de políticas públicas. lidade de sobrevivência da cafeicultura sob explo-
ração familiar na Zona da Mata de Minas Gerais
com vistas à inserção no mercado de cafés certi-
2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ficados. Além disso, foram comparados os pro-
cessos de custos produção, comercialização e
Para o embasamento técnico deste gestão.
estudo foram averiguados outros estudos relati- No Estado de São Paulo, as pesquisas
vos ao custo de produção nos principais Estados relativas a custo de produção têm sido constan-
produtores de café no Brasil. tes, a fim de subsidiar o segmento da economia
Verificou-se que nas últimas duas dé- cafeeira. Nesse sentido Vegro e Assumpção
cadas cresceu a demanda por pesquisas de (2003) acompanharam 20 talhões em dez propri-
custo de produção, rentabilidade e competitivida- edades cafeicultoras com perfis diferenciados, ao
de. Tal tendência é verificada no trabalho de Silva longo das safras 1999/00 nas regiões de Garça -
e Reis (2001), em quatro propriedades (safra Marília (Alta Paulista) e Piraju (Sudoeste). Nesse
1996/97), na região de Lavras, no sul de Minas caso os cafeicultores foram vinculados a três
perfis: perfil empresarial moderno (pequeno, mé- situação de prejuízo nos dois sistemas produtivos.
TABELA 1 - Estimativa de Custo de Produção de Café Arábica e Robusta, por Região, Ano Agrícola
Bliska, F. M. de M. et al.
2005/06
(R$/sc. 60kg beneficiada)
Variável Operacional Total a/c b/c
Região
(a) (b) (c) (%) (%)
Guaxupé 183,39 213,66 229,49 80 93
Franca 157,27 173,71 194,83 81 89
São Gabriel da Palha 114,59 127,37 130,25 88 98
Luis Eduardo Magalhães 145,93 180,32 182,50 80 99
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da CONAB (2006).
seu levantamento nos mais importantes cinturões forço do empreendedor e acumular recursos
produtores da rubiácea (VEGRO, 2008). A regio- para novas inversões) apenas para as lavouras
nalização do levantamento da companhia decor- conduzidas sob irrigação em Luis Eduardo. Em
re do reconhecimento tácito de que existem dife- todas as demais modalidades de exploração, o
renciações tecnológicas e sócio-econômicas re- resíduo foi insatisfatório para assegurar a remu-
levantes entre os pólos produtores considerados: neração do trabalho do produtor (empreendedor)
Franca/SP, Guaxupé/MG, Luis Eduardo/BA, Lon- e o pagamento de outras despesas com a pro-
drina/PR; Manhuaçu/MG, Patrocínio/MG e São priedade, gerar capital de giro para a próxima
Sebastião do Paraíso/MG. Os resultados para as safra e permitir novos investimentos, sendo in-
estimativas de custos de produção da última clusive negativa para os casos de Manhuaçu e
safra, em escala crescente, podem ser sumaria- São Sebastião do Paraíso.
dos (Tabela 2). No quesito custo operacional, a meto-
Devido a maior produtividade média dologia da CONAB promove a contabilização das
considerada em Luis Eduardo/BA (cafeicultura despesas com depreciações e outros custos fixos
irrigada com média de 55sc./ha), nessa região foi (manutenção de máquinas e seguro), além do
observado o menor custo de produção unitário custo variável já tabulado. Nesse nível de agre-
(R$155,04/sc.), referendando a hipótese de que o gação, as regiões de Luis Eduardo e São Sebas-
investimento em tecnologia de manejo ainda que tião do Paraíso, novamente, exibem o menor e o
incremente o custo por unidade de área, reduz maior custo operacional com R$185,91/sc. e
fortemente os custos por unidade de produto, R$248,60/sc., respectivamente (Tabela 2).
uma vez que alavanca a produtividade da cultura.
Em contrapartida, o maior custo variável foi en-
contrado em São Sebastião do Paraíso, alcan- 3 - OBJETIVO
çando R$199,55/sc. Nessa região além de solos
menos férteis e lavouras mais desgastadas pela Em função da disparidade de resulta-
idade, tem-se ainda um clima ligeiramente menos dos obtidos entre as fontes de informação sobre
chuvoso que a porção mais ao sul do estado, custos de produção de café disponíveis, sejam
conduzindo a produtividades médias de apenas elas governamentais ou estimadas por cooperati-
23sc./ha e acarretando o maior custo observado. vas, produtores e consultores, este estudo com-
A variação entre o maior e o menor custo unitário patibilizou diferentes modelos de custos de pro-
variável alcançou 29%. dução, utilizados na pesquisa científica, a fim de
No segundo semestre de 2007, a mé- calcular e comparar os custos de produção de
dia do preço recebido pelos cafeicultores no café nos principais Estados produtores de café do
Estado de São Paulo foi de R$244,73/sc. que, Brasil - os de Minas Gerais, São Paulo, Espírito
cotejado com os custos totais apurados pela Santo, Rondônia e Paraná - e de suas respecti-
CONAB para os distintos cinturões produtores vas regiões produtoras, visando fornecer subsí-
(soma dos anteriores acrescida de remuneração dios para os cafeicultores consolidarem o acom-
para o capital fixo aplicado, sobre o cafezal e a panhamento da economia cafeeira e subsídios
renda da terra), resulta em resíduo satisfatório para a formulação e implementação de políticas
(acima dos 20% - que permite remunerar o es- públicas setoriais específicas para as diferentes
TABELA 2 - Estimativa de Custo de Produção de Café Arábica, por Região, Ano Agrícola 2007/08
regiões produtoras do País, de forma a gerar Ji-paraná, Ouro Preto do Oeste, Alto Paraíso,
resultados passíveis de uma análise geral e de Cacoal e Rolim de Moura. Total: 8 questioná-
escopo homogêneo. rios.
• Estado da Bahia (cafés arábica e robusta):
oeste (regiões de Luís Eduardo Magalhães e
4 - METODOLOGIA Barreiras - café arábica), regiões de Vitória da
Conquista e Barra do Choça - café arábica) e
4.1 - Levantamento dos Dados Extremo Sul (região de Itamaraju - café robus-
ta). Total: 11 questionários.
O levantamento das estruturas de cus- • Espírito Santo (cafés arábica e robusta): Alto
to de produção e dos coeficientes técnicos de Caparaó (região de Venda Nova do Imigrante,
produção de cafés arábica e robusta nos seis Domingo Martins e Iúna - arábica); Caparaó
principais Estados produtores de café do Brasil - (região de Alegre - robusta); Noroeste (região
Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, de São Gabriel da Palha - robusta) e Norte Lito-
Bahia e Rondônia - foi realizado entre setembro râneo (região de Linhares - robusta). Total: 6
de 2005 e agosto de 2006, portanto se refere ao questionários.
ano agrícola 2005/06. O levantamento foi realizado mediante
Os questionários foram aplicados nas aplicação de um questionário estruturado, desen-
seguintes regiões: volvido em parceria com técnicos do Instituto de
• Estado de Minas Gerais (café arábica): sul de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricul-
Minas (regiões de Guaxupé, Três Pontas, Var- tura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e
ginha, Cabo Verde, São Sebastião do Paraíso da Embrapa Café (Consórcio Brasileiro de Pesqui-
e Carmo de Minas), Cerrado (Patrocínio, Monte sa e Desenvolvimento do Café - CBP&D/Café).
Carmelo e Araguari), Vale do Jequitinhonha Procurou-se compatibilizar os diferentes modelos
(Capelinha, Turmalina, Água Boa e Angelândia) de levantamento de custos de produção utilizados
e Zona da Mata (Manhumirim e Viçosa). Total: pelas cooperativas de café, universidades, consul-
16 questionários. tores do setor, Companhia Nacional de Abasteci-
• Estado de São Paulo (cafés arábica e robusta): mento (CONAB) e, principalmente, os tradicionais
Mogiana (regiões de Franca e Espírito Santo levantamentos de custo de produção desenvolvi-
do Pinhal), região de Garça-Marília, Sudoeste, dos pelo Instituto de Economia Agrícola.
ou Médio Paranapanema (região de Piraju) e O questionário foi estruturado em duas
Alta Paulista (regiões de Adamantina e Para- partes principais. A primeira parte, composta por
puã) - café arábica; e Alta Paulista (região de 42 questões, procurou identificar as principais
Tupã - café robusta). Total: 7 questionários. características da região de atuação de cada um
• Estado do Paraná (café arábica): regiões de dos informantes entrevistados - cooperativa, as-
Cornélio Procópio (Norte Novo) e de Jacarezi- sociação e outros agentes da cadeia produtiva,
nho (Norte Velho). Total: 4 questionários. além de extensionistas rurais, pesquisadores e
• Estado de Rondônia (café robusta): regiões de consultores (BLISKA et al., 2009). Essas informa-
ção dos resultados do estudo, ao indicarem as foi estabelecido com base em indicações dos
possíveis razões para as discrepâncias observa- informantes-chave, quanto a dois critérios funda-
das entre os custos de produção de café nas metais: a) à homogeneidade da cafeicultura local
diferentes regiões produtoras de cada um dos e b) participação dos sistemas de produção de
principais estados produtores de café. café existentes em cada uma das principais re-
A segunda parte do questionário avaliou giões produtoras no volume total da produção de
as operações de produção realizadas em cada café produzido na respectiva região.
região (dados por hectare de café cultivado), os
insumos e materiais consumidos e as máquinas e
implementos agrícolas utilizados no ano agrícola. 4.2 - Matrizes de Coeficientes Técnicos
Além disso, foram levantados os preços dos insu-
mos, máquinas, implementos e salários praticados Para elaboração das matrizes de coefi-
nas respectivas regiões, na safra 2005/06. cientes técnicos dos respectivos sistemas de
Os levantamentos contaram com a produção adotou-se o conceito utilizado por Mello
colaboração de diversas Instituições de Pesquisa (1988), que define em seu trabalho o conjunto de
e/ou de Assistência Técnica e Extensão Rural manejos, práticas ou técnicas agrícolas realiza-
daqueles estados, além de Cooperativas, Asso- das na condução de uma cultura, de maneira
ciações de Produtores e consultores do setor. A mais homogênea possível, por grupos represen-
aplicação dos questionários foi realizada com o tativos de produtores.
auxílio da Embrapa (Rondônia, Cerrado e Zona Neste trabalho, a descrição dos custos
da Mata de Minas Gerais, Oeste da Bahia e Espí- foi norteada pelo conceito de custo operacional
rito Santo), do Instituto Capixaba de Pesquisa, total (COT), de acordo com Matsunaga (1981),
Assistência Técnica e Extensão Rural (INCA- embora tenham sido realizadas algumas adapta-
PER) (Espírito Santo) e do Departamento de ções. O custo operacional total compõe-se de
Economia Rural (DERAL), da Secretaria da Agri- todos os itens de custo variáveis, que são as des-
cultura e do Abastecimento do Paraná. Em algu- pesas efetuadas com mão-de-obra, operações de
mas regiões, como no vale do Jequitinhonha e máquinas e equipamentos, insumo consumido ao
oeste da Bahia, recorreu-se a especialistas e longo do ano, parte de itens do custo fixo repre-
consultores que fornecem assistência técnica às sentados pela depreciação dos bens duráveis
propriedades da região ou técnicos dos órgãos associadas ao processo produtivo, pelos impostos
estaduais de assistência técnica e extensão rural. e pelo valor da mão-de-obra familiar (não foram
Em outros locais contou-se com o auxílio de As- considerados os juros de custeio e o custo de
sociações de produtores, como em Rondônia. oportunidade). Em substituição às estimativas de
Também houve necessidade de preencher o custo das horas trabalhadas de máquinas e im-
questionário diretamente com produtores indivi- plementos foram considerados seus respectivos
duais ou empresas, como no Vale do Jequitinho- valores de aluguel, os quais incluem itens de cus-
nha, oeste da Bahia e Zona da Mata. tos fixos como depreciação e lucro do fornecedor
Os questionários foram aplicados in do serviço.
loco, e na maioria dos casos com a participação Os coeficientes técnicos e os preços
de técnicos e especialistas ou ainda componen- apresentados nas planilhas de custo referem-se
tes atuantes nessa cadeia produtiva do café. às informações fornecidas pelos entrevistados
Além disso, os entrevistados selecionados para a em suas respectivas regiões. Algumas conside-
realização das entrevistas são tidos como infor- rações nas subseções 4.2.1 e 4.2.2, apresenta-
mantes-chave em suas respectivas regiões. das a seguir, foram utilizadas para uniformizar a
Em função disso, os custos médios de metodologia de cálculo do custo de produção.
produção, assim como os coeficientes técnicos
médios de produção, para cada uma das regiões
produtoras e tipo de café (arábica ou robusta), 4.2.1 - Despesas com insumos e materiais
foram calculados utilizando-se a média aritmética
dos dados obtidos por meio dos questionários Correspondem às quantidades de insu-
aplicados em cada região produtora. mos e materiais efetivamente utilizados durante o
ano agrícola e ao seu respectivo preço na região. 4.2.2 - Despesas com operações
na região, informado pela Associação de Agri- giões, insumos utilizados e suas despesas ope-
Bliska, F. M. de M. et al.
cultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) e estima- racionais, por unidade de área de lavoura ou
do através de levantamento de campo em ou- saca beneficiada de 60kg produzida.
tras regiões que utilizam a irrigação. Informações de técnicos do setor indi-
• Colheita e repasse - em propriedades onde a cam que os custos de produção em anos de
colheita é mecanizada calculou-se o número safra alta são muito menores do que os custos no
médio de horas necessárias para colher um ano de safra baixa, principalmente em função do
hectare (5h/ha), considerando a velocidade mé- custo da colheita. Grande número de produtores
dia de 700m/h; e adicionou-se o custo da mão- tem, inclusive, optado por conduzir o manejo de
de-obra para realizar o repasse (média de 500 suas lavouras de modo a obterem um ano de
covas por dia/homem). safra alta e outro de safra zero, tão insustentável
• Pré-processamento pós-colheita - para as pro- é o custo de produção no ano de baixa.
priedades que não informaram os custos de Os resultados obtidos por este estudo
secagem e beneficiamento, adotaram-se valo- são amplos e passíveis de comparações em
res médios obtidos a partir de observações; relação aos projetos já realizados, pois intensifi-
sendo assim, considerou-se para secagem o cou a pesquisa em campo em um curto espaço
valor de R$3,00 por saca beneficiada e para de tempo (safra 2005/06). Além disso, a aplica-
beneficiamento o valor de R$4,00/sc. Os cálcu- ção de questionário estruturado e uniforme, den-
los foram feitos com base no café em coco, que tro das regiões, permitiu a comparação dos cus-
é a forma de pré-processamento mais usual. tos de produção intra e inter-regionalmente.
• Transporte geral Embora a estrutura de custo de produ-
Transporte da lavoura para o terreiro - conside- ção do café cereja descascado (CD) seja diferen-
rou-se o valor de 2 viagens de uma hora/má- te da estrutura do café natural, não foram levan-
quina cada. tadas informações específicas para a formação
Transporte de insumos - considerou-se o valor de seu custo de produção pois sua participação
médio na região para o transporte de uma tone- no volume total de café produzido pelo País foi
lada de insumo em geral. estimada por este estudo em apenas 5%.
Transporte de mão-de-obra para colheita - cus-
to equivalente a 2 viagens.
Transporte de produto beneficiado - conside- 5.1 - Custos de Produção do Café Arábica
rou-se o valor de R$0,90 por saca para o trans-
porte do café beneficiado. 5.1.1 - Minas Gerais
Apesar da defasagem temporal entre os
dados coletados - tais como: preços, quantidades Os resultados indicaram que a região
de insumo e salários - e os dados levantados por que apresenta menor custo de produção de café
outros levantamentos de custo de produção, o que arábica é a Zona da Mata (atualmente conhecida
dificulta comparações diretas, a característica mais por Matas de Minas), cujo custo médio total por
importante deste estudo é a de fornecer subsídios saca beneficiada foi de R$166,78. Aparentemen-
para comparações entre as diferentes regiões te, tal resultado decorre do emprego generalizado
produtoras em um mesmo período e a equipe de mão-de-obra familiar na condução das etapas
responsável, mediante o uso de metodologia simi- de manejo da cultura. A região que apresentou
lar e homogeneidade de coleta de dados. custo médio mais elevado foi o Vale do Jequiti-
nhonha, R$226,66/sc. Na região sul de Minas
Gerais o custo médio da saca foi de R$184,82 e
5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO no Cerrado de R$190,36.
Intrarregionalmente observou-se menor
Os custos operacionais totais médios discrepância ente as informações obtidas na Zo-
de produção obtidos para cada uma das princi- na da Mata e no Vale do Jequitinhonha. As in-
pais regiões e sub-regiões produtoras de café no formações fitotécnicas e socioeconômicas obti-
Brasil são apresentados na tabela 3, levando-se das durante o estudo (BLISKA et al., 2009) indi-
em consideração a espécie de café e os valores cam que há maior homogeneidade entre os sis-
referentes à produtividade média das sub-re- temas de produção de café utilizados nessas
TABELA 3 - Custo Operacional Total de Produção do Café das Principais Regiões Produtoras Brasilei-
ras1, Safra 2005/06
TABELA 3 - Custo Operacional Total de Produção do Café das Principais Regiões Produtoras Brasilei-
Bliska, F. M. de M. et al.
TABELA 3 - Custo Operacional Total de Produção do Café das Principais Regiões Produtoras Brasilei-
ras1, Safra 2005/06
regiões, o que pode estar repercutindo no custo res e espaçamentos, tratos fitossanitários, nutri-
final de produção de cada informante. cionais e podas, recomendados tecnicamente.
As informações fitotécnicas e socioe- De modo geral o café é beneficiado nas proprie-
conômicas indicaram, ainda, que na região Sul dades e embora predomine a colheita manual a
de Minas Gerais os sistemas de produção são colheita mecânica tem se expandido de forma
mais heterogêneos, com predomínio de peque- significativa, em grande parte via aluguel de má-
nos produtores, grande parte deles em áreas de quinas (BLISKA et al., 2009). Adicionalmente é
montanha, mas que são responsáveis por volu- uma região reconhecida por produzir cafés de
me de produção inferior ao produzido pelos mé- excelente qualidade de bebida. Tais fatores, alia-
dios e grandes produtores. As diferenças de utili- dos ao menor custo de produção, certamente
zação de tecnologia nessa região também são conferem à região maior vantagem comparativa.
significativas. Esses fatores refletem os custos de Os valores obtidos para as regiões da
produção observados na região. O custo médio Alta Paulista, Garça-Marília e Sudoeste são muito
de produção nessa região, R$194,82/sc., encon- próximos - R$234,84/sc., R$230,15/sc. e R$224,04/
tra-se bem próximo à média observada para o sc., respectivamente.
Cerrado mineiro, R$190,36/sc., região onde os
valores indicados pelos informantes também
foram bastante heterogêneos. 5.1.3 - Espírito Santo
elevado que o custo médio do sistema adensado, R$85,46/sc. A diferença fundamental entre esses
Bliska, F. M. de M. et al.
R$159,82/sc. Esse comportamento foi observado dois valores é a utilização de sistemas irrigados no
tanto no Norte Novo como no Norte Velho. Caparaó e sem irrigação na Alta Paulista.
Intrarregionalmente, observou-se que Cabe destacar que o Estado de São
tanto os custos do sistema tradicional como os do Paulo não é produtor tradicional de café robusta e
sistema adensado mostram-se mais elevados na os valores dos custos de produção deste café no
região de Jacarezinho (Norte Velho). Esse com- Oeste paulista refletem a finalidade principal des-
portamento pode refletir os investimentos recen- ta lavoura para o Estado: a produção de semen-
tes feitos nesta região, onde as lavouras de café tes para porta-enxerto, em mudas de arábica. Isto
têm sido renovadas a uma taxa superior à de é, na Alta Paulista, região Oeste, utiliza-se o culti-
Cornélio Procópio (Norte Novo): 2,5% em Jaca- var de robusta Apoatã IAC 2258 como porta-
rezinho e 1,5% em Cornélio Procópio. Assim, enxerto, cujo sistema radicular é resistente aos
apesar de o café ter sido introduzido neste Esta- nematóides Meloidogyne exígua e M. incognita, o
do via Jacarezinho, hoje as lavouras mais antigas que tem viabilizado a produção do café arábica
encontram-se na região de Cornélio Procópio naquela região. O volume de robusta destinado à
(com idade média de 20 anos), e concorrem para indústria de torrefação e moagem e solubilização
piores resultados, comparativamente à região de não é significativo.
cafeicultura renovada de Jacarezinho (com idade Nas demais regiões de produção de
média de 9 anos) (BLISKA et al., 2009). café robusta - Noroeste e Norte Litorâneo, no
Especialmente para a do Norte Novo, Espírito Santo; Jiparaná e Alto Paraíso, em Ron-
mas também para o Norte Velho, observou-se dônia - os custos de produção observados foram
interessante vantagem comparativa em relação às muito similares, tendo variado entre R$105,98/sc.
demais regiões produtoras de café do País: o custo e R$109,22/sc. Em Ouro Preto do Oeste, em
médio do sistema adensado no Norte Novo foi de Rondônia, o custo médio de produção, R$95,22/
R$147,29/sc. e no Norte Velho R$172,34, valores sc., reflete um sistema de produção que se apro-
inferiores aos observados na maior parte das ou- xima muito de um extrativismo, sem adição de
tras regiões produtoras, principalmente se compa- adubos químicos e/ou de matéria orgânica, em
rado com o Sul e Cerrado de Minas, Mogiana Pau- que o único insumo utilizado é o herbicida para
lista, Alto Caparaó e Planalto e Oeste baianos. controle da vegetação entre as linhas de café.
TABELA 4 - Custo Operacional Total de Produção de Café Arábica na Região de Guaxupé, Estado de
TABELA 5 - Custo Operacional Total de Produção de Café Arábica na Região de Franca, Estado de São
Paulo, Safra 2005/06
COT CONAB Estudo
R$/ha 5.844,25 5.201,45
R$/sc. 194,83 173,38
Produtividade (sc./ha) 30 30
Fonte: Elaborada a partir de dados da pesquisa e dos dados da CONAB (2006).
lo. Observou-se a mesma produtividade média (30 Novo (Cornélio Procópio) e o Norte Velho (Jacare-
sacas/ha) nos dois levantamentos, porém os cus- zinho), Estado do Paraná, com custos de produ-
tos apurados por este estudo (R$173,38/sc.) foram ção inferiores aos observados na maior parte das
inferiores aos da CONAB (R$194,83/sc.). outras regiões produtoras, principalmente se com-
A tabela 6 compara o custo de produ- parado com o Sul e Cerrado de Minas, Mogiana
ção obtido por este estudo com as informações Paulista, Alto Caparaó e Planalto e Oeste baianos.
da CONAB (2006), para o café robusta, na região A seguir se destacam a região da Mo-
de São Gabriel da Palha, no Espírito Santo. Ob- giana, no Estado de São Paulo, e o Sul e o Cer-
serva-se que tanto os valores dos custos de pro- rado de Minas Gerais que, além de apresentarem
dução (R$109,22/sc.), como a produtividade custos de produção similares, apresentam exce-
média (20sc./ha), obtidos neste estudo, são infe- lentes condições edafoclimáticas para o desen-
riores aos valores observados no levantamento volvimento da cultura e são reconhecidas por pro-
da CONAB (R$130,25/sc. e 52 sc./ha, respecti- duzir cafés de excelente qualidade de bebida,
vamente). principalmente o sul de Minas e a Mogiana, fator
Com relação ao Estado da Bahia, o que se estrategicamente explorado pode resultar
custo total de produção de café arábica na região na captura de prêmios no mercado de café de
de Luís Eduardo Magalhães e a produtividade qualidade conferindo ainda maior capacidade
média obtidos neste estudo (R$199,54/sc. e 60 competitiva para esses cinturões.
sc./ha, respectivamente) foram superiores aos Quando comparados com os resulta-
valores obtidos pela CONAB (R$182,50/sc. e 55 dos do levantamento de custo de produção dis-
sc./ha, respectivamente) (Tabela 7). Uma vez que ponibilizado pela CONAB (2006), para o mesmo
o peso da irrigação no custo total de produção é período, observou-se que os valores estimados
muito elevado nessa região, o fato de este estudo neste estudo são em geral inferiores aos da CO-
ter utilizado como estimativa do custo do equipa- NAB, embora o estudo tenha utilizado os valores
mento de irrigação por ha o valor do aluguel de de aluguéis de máquinas e implementos pratica-
pivot central para irrigação nessa região pode ter dos em cada região como estimativa dos custos
se refletido no custo obtido. desses equipamentos por hectare, o que tenderia
a superestimar o custo. A exceção observada
ocorreu na região de Luís Eduardo Magalhães.
6 - CONCLUSÕES Nessa região, em função do peso da irrigação do
custo total de produção de café, a utilização do
Os resultados indicam que as regiões valor do aluguel de pivot central pode ter se refle-
que apresentam maior vantagem comparativa, tido no custo de produção superior ao informado
com relação aos custos de produção são o Norte pela CONAB.
TABELA 6 - Custo Operacional Total de Produção de Café Robusta na Região de São Gabriel da Palha,
Estado do Espírito Santo, Safra 2005/06
COT CONAB Estudo
R$/ha 6.772,76 2.184,40
R$/sc. 130,25 109,22
Produtividade (sc./ha) 52 20
Fonte: Elaborada a partir de dados da pesquisa e dos dados da CONAB (2006).
TABELA 7 - Custos Operacionais Totais de Produção de Café na Região de Luís Educardo Magalhães,
Estado da Bahia, Safra 2005/06
COT CONAB Estudo
R$/ha 10.037,62 11.972,36
R$/sc. 182,50 199,54
Produtividade (sc./ha) 55 60
Fonte: Elaborada a partir de dados da pesquisa e dos dados da CONAB (2006).
LITERATURA CITADA
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ridade de informações entre as fontes disponíveis sobre custos de produção da lavoura, este estudo
Bliska, F. M. de M. et al.
calcula e compara os custos nas principais regiões produtoras brasileiras, visando fornecer subsídios aos
cafeicultores, para o acompanhamento de seu negócio, e à formulação de políticas públicas para as
diferentes regiões produtoras do País. O estudo compatibilizou diferentes modelos de custos de produ-
ção, utilizados na pesquisa científica, e gerou resultados passíveis de uma análise geral e de escopo
homogêneo.
ABSTRACT: Brazil’s coffee sector has been historically linked to the country’s process of eco-
nomic, social and technological development. Recently, coffee export revenues have fallen, as compared
to the expansion of other agricultural sectors. Nevertheless, official estimates point to a growing trend in
coffee production and productivity in the country. To address this situation with professionalism and com-
petitiveness it is essential to analyze coffee production costs. Different sources of data collection have
caused information disparity. To provide farmers with reliable information for decision making and support
public policies for each producing region, this study calculated and compared coffee production costs in
major Brazilian producing regions. Different models of production costs were made compatible, thereby
generating results able to provide comprehensive and homogeneous analysis.