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ATIVIDADE Nº 08 (HÍBRIDO) -LÍNGUA PORTUGUESA DATA: 23 a 25-11-2021

PROFESSORA: MONICA BARROS SÉRIE: 3ª CH: 02 AULAS


CONTEÚDO: MODERNISMO 3ª GERAÇÃO- JOÃO CABRAL DE MELO NETO
INSTRUÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE:
• LER O TEXTO OBSERVANDO AS INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR;
• REGISTRAR E APRESENTAR CABEÇALHO DEVIDAMENTE PREENCHIDO COM AS
INFORMAÇÕES DA AULA;

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

João Cabral de Melo Neto foi poeta, escritor e diplomata brasileiro. Conhecido como “poeta
engenheiro”, ele fez parte da terceira geração modernista no Brasil, conhecida como Geração de 45.
Nesse momento, os escritores estavam mais preocupados com a palavra e a forma, sem deixar de lado
a sensibilidade poética. De maneira racional e equilibrada, João Cabral se destacou por seu rigor
estético.
“Morte e Vida Severina” foi, sem dúvida, a obra que o consagrou. Além disso, seus livros foram
traduzidos para diversas línguas (alemão, espanhol, inglês, italiano, francês e holandês) e sua obra é
conhecida em diversos países.
Biografia
O pernambucano João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife em 6
de janeiro de 1920.
Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmen Carneiro Leão
Cabral de Melo, João era primo de Manuel Bandeira e Gilberto
Freyre.
Passou parte da infância nas cidades pernambucanas de São Lourenço
da Mata e Moreno.
Muda-se com a família em 1942 para o Rio de Janeiro, onde publica
seu primeiro livro, “Pedra do Sono”.
Começa atuar no serviço público em 1945, como funcionário do Dasp
(Departamento de Administração do Serviço Público).
No mesmo ano, inscreve-se para o concurso do Ministério das
Relações Exteriores e passa a integrar em 1946 o quadro de
diplomatas brasileiros.
Após passar por vários países, assume o posto de cônsul-geral da
cidade do Porto, em Portugal em 1984.
Permanece no cargo até 1987, quando volta a viver com a família no
Rio de Janeiro. É aposentado da carreira diplomática em 1990. Pouco
depois, começou a sofrer com uma cegueira, fato que o leva a
depressão.
João Cabral morreu em 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, com 79 anos. O escritor foi vítima de um
ataque cardíaco.

Academia Brasileira de Letras


Embora com extensa agenda diplomática, escreveu diversas obras, chegando ser eleito em 15 de agosto de 1968
como membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), recebido por José Américo. Em seu discurso de posse
homenageou o jornalista Assis Chateaubriand.

Assim, para compensar o laconismo de um “muito obrigado” e expressar meu reconhecimento de outra maneira,
quero dizer que me sinto muito honrado em vir a ser um de vós. E não apenas pelo que cada um de vós representa
em nossa vida intelectual como porque a Academia, que vós todos, em conjunto, constituís, é uma de nossas
instituições em que se tem mantido mais vivo o respeito pela liberdade do espírito. Daí (e não sei de maior elogio
que se possa fazer a um corpo de escritores, homens para quem a liberdade de espírito é condição de existência)
meu empenho em declarar que, entrando para a Academia, não tenho o sentido de estar abdicando de nenhuma
das coisas que me são importantes como escritor.

Na verdade, venho ser companheiro de escritores que representaram, ou representam, o que a pesquisa formal,
no nível da textura e da estrutura do estilo, tem de mais experimental; escritores outros cuja obra é uma
permanente, e renovada, denúncia de condições sociais que espíritos acomodados achariam mais conveniente
não dar a ver; escritores que, em momentos os mais diversos de nossa história política, têm combatido situações
políticas também as mais diversas; escritores que, já acadêmicos, têm julgado livremente a Academia, patronos
de suas Cadeiras e membros de suas Cadeiras. E tudo isso sem que a Academia tenha procurado exercer
nenhuma censura e sem que a posição de acadêmicos tenha levado esses escritores a qualquer autocensura."
(Trecho do Discurso de Posse, 6 maio de 1969)

Obras

João Cabral escreveu diversas obras e segundo ele “escrever é estar no extremo de si mesmo”:

• Considerações sobre o poeta dormindo, 1941;


• Pedra do sono, 1942;
• O engenheiro, 1945;
• O cão sem plumas, 1950;
• O rio, 1954;
• Quaderna, 1960;
• Poemas escolhidos, 1963;
• A educação pela pedra, 1966;
• Morte e vida severina e outros poemas em voz alta, 1966;
• Museu de tudo, 1975;
• A escola das facas, 1980;
• Agreste, 1985;
• Auto do frade, 1986;
• Crime na Calle Relator, 1987;
• Sevilla andando, 1989.

Prêmios

Por conta do seu trabalho literário, o escritor recebeu diversas homenagens e prêmios:

• Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo;


• Prêmio Olavo Bilac, concedido pela da Academia Brasileira de Letras;
• Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro;
• Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro;
• Prêmio Bienal Nestlé, pelo conjunto de sua obra;
• Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro "Crime na Calle Relator" (1988).

Morte e Vida Severina


Com forte crítica social, Morte e Vida Severina é um poema dramático que foi publicado em 1955.
Nele, o escritor retrata a saga de um retirante nordestino que sai do sertão em direção ao Sudeste do Brasil para
buscar melhores condições de vida.
A obra foi adaptada para a música, teatro e cinema.

Trecho do Poema Morte e Vida Severina

— O meu nome é Severino,


como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

Poemas

Confira abaixo, três poemas de João Cabral:

Fábula de um Arquiteto

A arquitetura como construir portas,


de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Até que, tantos livres o amedrontando,


renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.

A Educação pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;


Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão


(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:


ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,


se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

MORTE E VIDA SEVERINA

Resumo da Obra

Morte e Vida Severina retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em
busca de melhores condições de vida. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam
pelas privações impostas ao sertão.
A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele
retrata o enterro de um homem assassinado a mando de latifundiários.
Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior
empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico.
Nota, ao vagar pela Zona da Mata, onde há muito verde, que a morte a ninguém poupa. Retrata, contudo, que
a persistência da vida é a única a maneira de vencer a morte.
No poema, Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José,
que fala do nascimento do filho.
A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um carpinteiro e alvo das
expectativas para remissão dos pecados.

Personagens

Severino é o narrador e personagem principal, um retirante nordestino que foge para o litoral em busca de
melhores condições de vida.
Seu José, mestre carpina, é o personagem que salva a vida de Severino, impedindo este de tomar sua própria
vida.

Análise da Obra

Morte e Vida Severina é um poema de construção dramática com exaltação à tradição pastoril. Ele foi adaptado
para o teatro, a televisão, o cinema e transformado em desenho animado.
Por meio da obra, João Cabral de Melo Neto, que também era diplomata, foi consagrado como autor nacional
e internacional.
Como diplomata, o autor trabalhou em Barcelona, Madri e Sevilha, cidades espanholas que permitiram clara
influência sobre sua obra.
João Cabral de Melo Neto foi seduzido pelo realismo espanhol e confessou ter, daquela terra, o reforço ao seu
anti idealismo, antiespiritualismo e materialismo.
Os instrumentos lhe permitiram escrever com mais clareza sobre o nordeste brasileiro em Morte e Vida
Severina e outros poemas.
A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de
adaptação dos retirantes nordestinos.
O poema choca pelo realismo demonstrado na universalidade da condição miserável do retirante, desbancando
a identidade pessoal.

Trechos da Obra
Para compreender melhor a linguagem que João Cabral utiliza na obra, confira abaixo alguns trechos:
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria,
deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei
sendo o da Maria do finado Zacarias.
O RETIRANTE TEM MEDO DE SE EXTRAVIAR POR SEU GUIA, O RIO CAPIBARIBE,
CORTOU COM O VERÃO
— Antes de sair de casa aprendi a ladainha das vilas que vou passar na minha longa descida. Sei que há muitas
vilas grandes, cidades que elas são ditas sei que há simples arruados, sei que há vilas pequeninas, todas
formando um rosário cujas contas fossem vilas, de que a estrada fosse a linha. Devo rezar tal rosário até o mar
onde termina, saltando de conta em conta, passando de vila em vila.
CANSADO DA VIAGEM O RETIRANTE PENSA INTERROMPÊ-LA POR UNS INSTANTES E
PROCURAR TRABALHO ALI ONDE SE ENCONTRA
Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva só a morte tem
encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela vida que é
menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira).
O RETIRANTE RESOLVE APRESSAR OS PASSOS PARA CHEGAR LOGO AO RECIFE
— Nunca esperei muita coisa, digo a Vossas Senhorias. O que me fez retirar não foi a grande cobiça o que
apenas busquei foi defender minha vida de tal velhice que chega antes de se inteirar trinta se na serra vivi
vinte, se alcancei lá tal medida, o que pensei, retirando, foi estendê-la um pouco ainda. Mas não senti diferença
entre o Agreste e a Caatinga, e entre a Caatinga e aqui a Mata a diferença é a mais mínima.
O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE DE
NADA
— Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale
mais saltar fora da ponte e da vida nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga é difícil defender,
só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, severina mas se responder não pude à pergunta
que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva.

Filme de Animação
Entre as muitas maneiras em que foi retratado, Morte e Vida Severina foi transformado em filme animação 3D
pelo cartunista Miguel Falcão.
O desenho do cartunista demonstra a aridez descrita no poema. Também traduz a poesia visual de João Cabral
de Melo Neto de forma clara na voz compassada do retirante e seus demais personagens.

EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO


COPIAR O ENUNCIADO E TODAS AS ALTERNATIVAS

1. (ENEM - 1999)
Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos:
"Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta, contato denso; Falo somente do que falo: a vida seca,
áspera e clara do sertão; Falo somente por quem falo: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na
míngua. Falo somente para quem falo: para os que precisam ser alertados para a situação da miséria no
Nordeste."

Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário,


a) A linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados
leitores.
b) A linguagem do texto não deve ter relação com o tema, e o autor deve ser imparcial para que seu texto seja
lido.
c) O escritor deve saber separar a linguagem do tema e a perspectiva pessoal da perspectiva do leitor.
d) A linguagem pode ser separada do tema, e o escritor deve ser o delator do fato social para todos os leitores.
e) A linguagem está além do tema, e o fato social deve ser a proposta do escritor para convencer o leitor.

2. Assinale a alternativa que contenha a associação correta:


a) João Cabral de Melo Neto → Poesia intimista, com rimas e métricas.
b) João Cabral de Melo Neto → Reflexão sobre a criação artística.
c) João Cabral de Melo Neto → Poema de feitio tradicional, linguagem clássica e transparente.
d) João Cabral de Melo Neto → Romanceiro da Inconfidência, poesia social.
e) João Cabral de Melo Neto → Os Sertões, prosa regionalista.

3. (UEL-PR) Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, identifica-se como:
a) uma obra que, refletindo inovações e experimentações linguísticas do autor, torna tênues as barreiras entre
a prosa e poesia.
b) um auto que explora a temática do nascimento como signo do ressurgir da esperança.
c) um auto de Natal que rememora a visita dos reis Magos e pastores ao Deus Menino.
d) um poema que encerra uma síntese das propostas vanguardistas contidas na obra geral do autor.
e) um conto cujo interesse se centraliza na preocupação do autor como problema da seca no Nordeste.

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