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1.

Você como humano

 De onde você é (data, contexto histórico e local de nascimento)?

Ernâni nasceu no ano de 1962, dois anos antes do início do conflito colombiano, em Malambo, cidade do
departamento do Atlántico, no território de seu povo, os Mokaná. Teve como mãe a Senhora Dulce, até
então com 30 anos, e como pai Ramiro, com seus 37 anos. Foi criado como católico e em pouco tempo, em
junho de 1965, viu seu irmão mais novo, Camilo, nascer.

 Como era seu relacionamento com seus pais?

Ambos os pais eram muito atenciosos e progressistas, mesmo sendo católicos ferrenhos, como era de
costume. De fato, a história mais contada em sua infância foi a de quando Dulce, sua mãe, começou a
gargalhar de felicidade quando soube do fim da Revolução Cubana. A felicidade durou pouco, porém,
quando em 1964 o Conflito Colombiano começou. Dentre os perseguidos pelas milícias de extrema-direita
estava as Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia, no qual tanto sua mãe quanto seu pai faziam
parte. Graças a isso, tanto Ernâni quanto o irmão normalmente ficavam aos cuidados de Martina, uma das
várias do povo Mokaná, que passou a ser uma figura materna para ambos, ainda mais quando as notícias de
que Dulce havia sido morta se espalharam, assim como boatos de que ela fora capturada, torturada,
violentada e morta pelas milicias após uma operação planejada pelo governo colombiano. Em luto, Ramiro
se aposentou da posição de guerrilheiro e manteve-se como professor na escola local. Não teve coragem de
contar o ocorrido para os filhos até anos depois, quando Ernâni completou 20 anos. O futuro vampiro se
lembra da conversa que se sucedeu no dia em um detalhe espantoso; aquilo havia marcado o então jovem
Mokaná e tornou aquele aniversário o pior dia de sua vida. Todo 14 de setembro, então, ao invés de celebrar
mais um ano de vida, passa o dia relembrando a mãe e, eventualmente, quando se tornou vampiro, presta
visitas à família, escondido nas sombras e evitando a luz, mesmo que artificial

 Como era seu relacionamento com outras crianças (irmãos e/ou amigos)?

Seu irmão foi um dos pilares usados para suportar a perda da mãe, assim como Martina. Ernâni foi uma
criança normal dentre os outros, mas a morte de sua mãe criou uma faísca em seu coração, um desejo de
comunhão, de reconhecimento, de respeito. Começou a estudar Relações Internacionais, a ver cursos de
oratória, dentre outros, para poder defender sua terra, provar ao estado que os Mokaná são de fato uma tribo
indígena e conseguir dinheiro o bastante para manter seu povo em pé. A imagem de seu irmão mais novo
sorrindo, animado, sempre foi parte do motivo da compostura e da determinação de Ernâni. Dulce podia ter
morrido, mas sua morte havia resultado em uma união quase sobrenatural entre suas duas crias. Quanto aos
outros, não tinha muito tempo para conversar com os antigos amigos, mas era um preço que devia ser pago
para o bem maior.

 O que você sonhava se tornar quando crescesse?

Ernâni sonhava em ser exatamente o que acabou se tornando: Uma pessoa influente que, além de ajuda rsua
comunidade, representa-a mundo afora. Infelizmente, claro, teve de pagar um preço grande pelo seu sucesso.
Grande até demais.

 Quais foram seus conflitos na adolescência?

Por viver em uma comunidade muito receptiva e amigável, todo seu povo o acolheu muito bem após o
falecimento de sua mãe, o que resultou em um grande apego entre ele e sua comunidade. Quando teve de
viajar para a Argentina com a intenção de se formar na UBA, o pequeno Mokaná sofreu ao dar adeus à sua
vida antiga, assim como seus amigos antigos e seu irmão, sem contar com a agora “Mãe” Martina, apelido
dado pelo seu povo àquela figura de sabedoria, grandiosidade e humildade que tinham como exemplo. Ela
era, como o nome diz, a mãe de todos.

 Quais eram suas ambições como humano?

Como mencionado antes, o desejo de ser reconhecido e de servir seu povo lhe guiaram para o fim de sua
vida e se transformaram em seu eterno motivo de ser na pós-vida. Sua intenção não era apenas simbolizar
seu povo, mas todo grupo indígena necessário.

 Qual sua formação e/ou profissão?

Virou oficialmente um diplomata de seu povo, negociando com governadores, políticos, pessoas poderosas e
até mesmo com o Presidente. Depois de certo tempo, ficou conhecido por conseguir resolver problemas, e
foi então que sua carreira decolou. Não é como se os fins justificassem o meio, mas não há fim sem alguns
sacrifícios. Para viver em Barranquilla precisa-se de algum dinheiro à parte, mesmo se a pessoa é de classe
média. Serve como negociador, representante e até mesmo político. Também serve a chefões do crime que
precisarem de serviço, o que expande ainda mais os contatos que Ernâni guarda.

2. Aproximação do seu senhor

 Descreva seu senhor (nome, aparência, trejeitos e de qual época ele é).

Túpac Amaru II é um descendente direto de Túpac Amaru I, da linhagem inca que, no fim do século XVIII,
fez uma revolta anticolonialista. Foi tratado como figura mítica, inspiração de vários anti-imperialistas na
América Latina, mais especificamente Peru. É, também, uma das figuras importantes do Ministério e o Líder
do Tlacique, um subgrupo no Ministério. Oficialmente, não existe; significando que dedica 100% do tempo
para a política vampírica e para assuntos não-humanos. É uma pessoa nostálgica e sábia que, assim como em
seu tempo vivo, encontra pessoas dispostas a praticar o ato revolucionário, tanto dentro dos Anarquistas
quanto na Camarilla, no Sabat e até mesmo na política humana. Isto significa, porém, que passa muito
tempo procurando por pessoas para transformar. Com a ascensão da segunda inquisição, a procura de Túpac
tornou-se cada vez mais veloz e mais caótica, visto que tem o objetivo de, assim como os antigos vampiros
indígenas, preservar seu local e sua cultura, cada vez mais em perigo. Graças à sua idade, é lento com
tecnologias novas (mais precisamente as criadas depois dos anos 2000). Mesmo sendo nobre (e vampiro) é
uma pessoa assustadoramente empática após estes anos de infelicidade, tentando servir os pedidos dos seus
quando possível.

 O que te destacou entre 100.000 pessoas?

Além da cultura e do sentimento de perda dela, o grandioso feitio que foi forçar o estado a admitir, em 1998,
que os Mokaná são, de fato, uma comunidade indígena, sem contar com os estudos precisos para isso. As
notícias daquilo o chamaram atenção e, como a quantidade de indígenas decai cada vez mais, aquele singelo
ato foi o bastante.
 Por que você é mais valioso como vampiro ao invés de um carniçal/lacaio?

Seria irônico para o fruto de uma relação de indígenas com africanos escravizar alguém. Ele ainda guarda a
mágoa do que foi a colonização no fundo do que resta da sua alma. Além disso, a etnia dos dois os ligam.
Mesmo que por um pouco, Túpac não conseguiria manter um reflexo da sua juventude como seu lacaio. Ele,
mais que ninguém, sabe como é desabrochar. E Mokaná tinha o potencial não só para desabrochar, mas para
entrar no jogo político dos Anarquistas e até mesmo conversar com a Camarilla.

 Qual foi a dívida que seu senhor adquiriu para que você pudesse ser transformado em
vampiro?

Em 1998, Túpac teve uma conversa com sua baronesa. Obviamente, o primeiro não tinha poder na política
humana o suficiente para ajudá-la neste aspecto, porém a política vampírica corria em seu sangue. O apoio
do antigo revolucionário à Aracy e suas decisões foi crucial para que ela tivesse estabelecido o poder na
cidade. Todos que se mantém contra o status quo do método de governo dos anarquistas eventualmente se
encontra com o velho Túpac, seja para conversar ou para queima de opositores.

 Como foi o seu abraço (sensações, dúvidas, gostos, medos, sua primeira caçada...)?

A realidade, toda a possibilidade do irreal, do fantasioso, passou pela sua cabeça. Se vampiros existem,
então logicamente Lobisomens também. Ou magos. Ou demônios. Ou anjos. Ou deuses. Era algo excitante o
bastante para mantê-lo determinado. A curiosidade é um caminho para muitas capacidades humanas
consideradas estúpidas, e a de confiar em um vampiro, ele admitia, era uma delas. Por mais nobre que Túpac
fosse, ele, como um bom senhor, gastou muito de seu tempo para ensinar sua nova cria a caçar, e, não
obstante, explicou os métodos e variedades tanto da prática de caçar quanto dos caçados. Na hora da
execução de seus ensinamentos, quando a cria, como um pássaro, já estava pronto para ser o que viria a ser,
Amaru deixo-o sozinho. Tinha muito o que fazer, muita politicagem para percorrer, e a transformação de
Ernâni o impediu, obviamente, de finalizar suas tarefas.

 Quem te ensinou a caçar?

Como dito acima, o seu próprio Senhor. Como todo um bom membro do Ministério, ele sabe que os frutos
de seus atos têm de valer a pena e, quando possível, gerar lucro, seja em dinheiro ou em outras coisas. Este é
um destes momentos. Ser detestável com um neófito não é produtivo, e o velho nobre sabe disso como
ninguém.

3. Seu papel na sociedade vampírica

 Quais são suas convicções?

A verdade é sagrada – Foi ensinado desde cedo a falar a verdade quando possível e, quando não, evitar a
mentira com desvios simples. Ele, como indivíduo, por exemplo, não mente. Mas ocultar a verdade, utilizar
de metáforas para algo literal ou de literalismo para algo que parece ser metáfora, ou pedir para outro mentir
não é realmente um problema para Ernâni. Afinal, ele não mentiu.

De cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades – Falado e aplicado não
só pelos seus pais mas por toda sua comunidade, é uma das maiores heranças que carrega de seu povo:
nunca ter demais algo de que os outros necessitam. No fim, conservar a vida é muito mais importante que a
luxúria capitalista e europeia.

Nunca agir contra outro indígena – O seu povo tem a vida difícil o suficiente sem um vampiro contra.
Mesmo que odeie um indivíduo indígena, nunca levantará a mão contra ele, porque a irmandade e a
camaradagem do povo nativo é muito maior, muito mais importante, que um desejo de vingança.

 Quem são suas âncoras?

Camilo Mokaná – Irmão mais novo, Camilo é a personificação do revolucionário indígena e professor de
história, assim como o pai. É um socialista convicto e, de vez em quando, manda livros sobre o assunto para
o irmão por correio. Ansioso, feliz e extremamente cordial, serviu de escada para o irmão mais velho e,
assim como Mãe Martina, se orgulha muito do que o pálido amigo se tornou.

Mãe Martina – A figura materna de Mokaná, Martina é a mãe de toda sua comunidade e é quem cuida das
crianças quando os pais ficam ocupados. Já velha e não tão energética quanto antes, Martina tem seu jeito
doce de ser, sempre com um sorriso de boca fechada estampado na face, sentada em alguma cadeira de
balanço ou rede. Vestindo a famosa roupa com o rosto da Virgem Maria, prepara-se para a morte limpando
fraldas e abraçando seu povo.

Jean Carlos de Menezes – Quando passava pelas ruas de Barranquilla de noite, Ernâni se deparou com a
figura quase cômica de um velho pedinte, fumando seu cachimbo, que imitava, cantava e atuava por
qualquer preço. Como dava para perceber, estava desesperado. Em dúvida sobre a vida do rapaz e com a
fome por sangue já exasperada, o vampiro interrogou-o sobre sua vida antes da queda. Jean já foi um ator de
teatro magnífico (tem folhas de jornais comprovando) que, com a velhice e a crise de 2008, não encontrou
emprego algum e entrou em decadência. Era pedinte desde então. Achando sua história comovente e sua
imitação do Presidente boa o bastante, deu-lhe um lar em sua casa. A comida era gratuita, assim como a
estadia. Carlos estava muito perto da morte, e isso era muito explícito. Tinha tosses constantes, que às vezes
continham sangue, e dificuldade para se mover. Segundo ele mesmo, tinha 78 anos. Como ator, ensinou-o
no mês passado que a verdade era sempre a melhor alternativa (ou a ofuscação dela com alguma outra coisa,
mas nunca a mentira).

 Qual sua relação com a Camarilla?

Detesta a Camarilla do mesmo jeito que os Vampiros Indígenas de antes, mas mantém sempre a compostura
quando vê um. Considera-os filhotes do imperialismo e do colonialismo e, com isso, não tem nenhum
respeito por seus membros.

 Qual sua relação com os Anarquistas?

É, ele próprio, um anarquista, e acha seus atos corretos, mesmo que a execução seja falha em alguns
momentos. Sente, também, que falta cordialidade -e excesso de socos- entres seus companheiros, o que não
é algo interessante para a revolução majoritariamente política que eles mesmos propõem.

 Qual sua função no círculo?

Ele é o que conversa, que fala. É o diplomata, o cordial, o político.


 Qual sua relação com a cidade (quando você chegou, o que faz...)?

Era a maior cidade urbanizada perto. Precisava ganhar dinheiro para ajudar seu povo a se manter contra
invasores (e para o processo jurídico de reconhecimento) e aquele local era o que tinham mais empregadores
com maior pagamento. A escolha era óbvia.

 Como você se mantém longe dos olhares da segunda inquisição?

Se manter longe dos olhares da inquisição é questão de atuação e de se ter uma identidade sólida (e talvez
uma maquiagem se se passar muito tempo). Ernâni tem tudo isso mais influência política o suficiente para se
manter despercebido.

Camilo Mokaná

Mãe Martina
Jean Carlos de Menezes

Túpac Amaru II
Senhora Dulce (Morta)

Ramiro Mokaná
Ernâni Mokaná

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