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C o m e n t á r io B íb l ic o

E x p o s it iv o

Antigo Testamento
Volume II — Histórico

W arren W. W iersbe

T r a d u z id o po r

S u sa n a E. K la ssen

I a Edição
5a Impressão

Geográfica
Santo André, SP - Brasil
2010
S u m á r io

J o s u é .................................................................................................... 0 7

J u íz e s .................................................................................................... 8 9

R u t e .................................................................................................1 72

1 S a m u e l ........................................................................................... 199

2 S a m u e l / 1 C r ô n ic a s ................................................................... 2 93

1 R eis ..................................................................................................391

2 R eis / 2 C r ô n ic a s ......................................................................... 491

E s d r a s .............................................................................................5 86

N ee m ia s ...........................................................................................6 1 4

Ester , 689
2 Sam uel e 1 C r ô n ic a s

ESBOÇO ESBOÇO

Tema-chave: O p o d e r d e D eu s restaura Descendência: a g e n e a lo g ia das d o z e


Israel c o m o n ação tribos - 1 - 9
\ersículo-chave: 2 Sam uel 22:29-31 Unidade: a n a ç ã o é reunida - 10 - 16
Dinastia: a aliança d e D eu s c o m D avi - 1 7
I. DAVI UNE O POVO - 1 - 7 Vitória: as fronteiras são e xp an d id a s -
U m n o v o rei - 1:1 - 5:5 1 8 -2 1
1. U m a n ova capital - 5:6 - 6:23 Eficiência: a n a ç ã o é o rg a n iz a d a - 22 - 29
j . U m a n o va dinastia - 7:1-29
I. O MINISTÉRIO NO TEMPLO -
II. DAVI EXPANDE AS FRONTEIRAS 22 - 26; 28:1 - 29:20
- 8:1 - 10:19
' . D e rro ta os in im igos d e Israel - II. O EXÉRCITO - 27
8:1-14; 10:1-19
2. O rg a n iz a o rein o - 8:15-18 III. O HERDEIRO DO TRO NO -
3. H o n ra M e fib o s e t e - 9:1-13 28 - 29

III. DAVI DESOBEDECE AO SENHOR CO N TEÚ D O


- 11:1 -20:26 1. D avi, o rei d e Judá
'. O s p e c a d o s d e D avi - 11:1 - 12:31 (2 Sm 1:1 - 2:7; 1 Cr 1 0 :1 -1 2 )............ 295
2. O s p e c a d o s d e A m n o m - 13:1-22 2. D avi o b s e rv a e esp era
3. O s p e c a d o s d e A b s a lã o - 13:23 - 19:8 (2 Sm 2 : 8 - 4 : 1 2 ) .................................... 301
4. O reto rn o d e D avi a Jerusalém - 3. D avi, o rei d e Israel (2 Sm 5- 6;
19:9 - 2 0 :2 6 1 Cr 3:4-8; 11:1-9; 13:5 - 1 6 : 3 ) .........308
4. A dinastia, a b o n d a d e e as
IV. DAVI ENCERRA SEU REINADO con qu istas d e D avi (2 Sm 7 - 10;
- 21:1 - 24:25 1 Cr 1 7 - 1 9 )........................................... 315
A d e m o n s tra ç ã o d e re sp e ito p o r Saul - 5. A d e s o b e d iê n c ia , a dissim ulação
21:1-1 4 e a disciplina d e Davi
2. A d errota d o s filisteus - 21:15-22 (2 Sm 11 - 1 2 ) ........................................ 325
O lo u v o r a o S en h o r - 22:1 - 2 3 :7 6. O s filhos re b e ld es d e Davi
4. A h on ra a seus v a len tes - 23:8-38 (2 Sm 13 - 1 4 )........................................ 334
5. A c o m p ra d e um local para o te m p lo - 7. A fu ga d e D avi para o d es erto
24:1-15 (2 Sm 15:1 - 1 6 :1 4 )...............................342
294 2 S AMU E L

8. A vitó ria d o c e e am arga d e Davi 1 1 . 0 c â n tic o d e vitó ria d e Davi


(2 Sm 16:15 - 1 8 :3 3 )............................. 350 (2 Sm 22; S11 8 ).......................................3 67
9. O retorn o d e D avi e d os 12. A s m em ó rias e o s erros d e Davi
p roblem as (2 Sm 1 9:1-40).................... 3 57 (2 Sm 23 - 24; 1 Cr 11:10-41;
10. A s novas lutas d e D avi 2 1 :1 -2 6 ).................................................... 373
(2 Sm 19:41 - 21:22 ; 13. O le g a d o d e Davi
1 Cr 2 0:4 -8 )............................... 362 (1 Cr 22 - 2 9 ).......................................... 382
no m o n te G ilb oa , o n d e m ataram Saul e três
1 d os seus filhos (1 Sm 31; 1 Cr 10:1-12). N o
d ia s e g u in te , q u a n d o D a v i v o lt a v a p a ra
Z ic la g u e , o s filisteu s h u m ilh a va m Saul a o
D a v i, o R ei de Judá profan ar o c o r p o d o rei e d e seus filhos, e o
m e n s a g e ir o a m a le q u ita p artia p ara d ar a
2 Sam uel 1 :1 - 2 :7 n o tíc ia a D avi. O a m a le q u ita le v o u p e lo
( V er 1 C r ô n ic a s 10:1-12) m e n o s três dias para c h e g a r a Z ic la gu e, q u e
fica va a qu ase trinta q u ilô m etro s d o local da
batalha. Assim , n o te rceiro dia d e p o is d e sua
v o lta a Z ic la g u e , D avi re c e b e u as n otícias
trágicas d e q u e Israel havia sido d e rro ta d o e

D
urante d e z anos, D avi fo i um ex ila d o d e q u e Saul e três d o s seus filhos estavam
com a c a b e ç a a p rê m io , fu g in d o d e m o rto s .1
Seul e e s p e ra n d o o m o m e n to e m q u e D eus A s Escrituras ap resen ta m três relatos da
d ;o lo c a ria no tro n o d e Israel. D urante esse m o rte d e Saul e d e seus filhos: 1 Sam uel 31:1-
;río d o dificil, D avi c resceu e m sua fé e em 13, o rela to d o m e n s a g e ir o e m 2 Sam u el
•u caráter p ie d o s o , e D eu s o p rep arou para 1:1-10 e o registro e m 1 C rô n icas 10:1-14.
o rabalho d o qual o havia in cu m b id o. Q uan- D e a c o r d o c o m 1 C rôn icas 10:4,5, Saul c o ­
r.1 o dia da vitória c h e g o u , D avi te v e o cui­ m eteu su icídio lan çan d o-se s o b re sua e s p a ­
d ad o d e n ã o se im p o r a o p o v o , um a v e z da, mas o m e n sa g eiro afirm ou q u e m atara
nue m uitos ain da eram leais à casa d e Saul. Saul a fim d e salvá-lo d e mais sofrim e n to e
N ã o p o d e m o s d eix ar d e adm irar D avi p or h um ilh ação. 1 C rô n icas 1 0:14 in form a q u e
Si.a p a c iên c ia e s a b ed o ria a o con q u istar a foi D eu s q u em m atou Saul p o r sua reb elião ,
iiç ã o e a fid e lid a d e d o p o v o e a o p rocu rar e s p e c ia lm e n te a o p ec a r b u s ca n d o a o rie n ­
_i ifica r u m a n a ç ã o d e s p e d a ç a d a u sa n d o ta ç ã o de um a m é d iu m . S o m e n t e com
_ n a a b o rd a g e m cau telosa. "E e le os apas- g ra n d e d ific u ld a d e c o n s e g u e -s e c o n c ilia r os
zen tou c o n s o a n te a in te grid a d e d o seu co- relatos d e 1 S am u el 31 e d e 1 C rô n ic a s 10
■ai,a o e os dirigiu c o m m ã os p rec a v id a s " ÍSI c o m o relato d o m e n s a g e iro , d e m o d o q u e
7T8:72). o mais p ro v á v e l é q u e o a m a le q u ita e stive s ­
se m e n tin d o .
1. V in d ic a ç ã o (2 S m 1:1-16) S em d ú vid a algum a, o h o m e m havia es­
D Sen h or im p ed iu D avi e seus h o m en s d e ta d o n o c a m p o d e batalha. Enquanto p ro ­
a jjd a r e m os filisteus e m sua batalha con tra curava d es p o jo s , e n c o n tro u o c o r p o d e Saul
Saul e Israel, d e m o d o q u e Davi vo lto u para e d e seus filhos antes q u e os filisteus os id en ­
Z .c la g u e . C h e g a n d o lá, d e s c o b riu q u e os tificassem e to m o u as insígnias d e re a le za
n a le q u ita s haviam in va d id o a c id a d e , leva- d e Saul, seu b ra c e le te e a c o r o a d e o u ro
o t o d o o p o v o e as riq u e z a s e d e ix a d o q u e usava no c a p a c e te . M as. a o con trá rio
Z ,c la g u e a rru in a d a . Em sua p r o v id ê n c ia , d o q u e afirm o u o a m alequ ita, n ão fo i e le
sus c o n d u ziu D avi a o a c a m p a m e n to ama- q u em m atou Saul, pois o rei e seus filhos já
jqu ita. D avi d erroto u o in im igo, libertou as estavam m ortos. A o d iz e r q u e o havia feito,
•mulheres e as crianças e resgatou to d o s os o m e n sa g eiro p erd eu a p ró p ria vid a .2
■>ens d a c id a d e , b em c o m o os d e s p o jo s q u e U m a das p alavras-ch ave n este c a p ítu lo
~<í am alequitas haviam ju n tad o e m seus ata- é o v e r b o ca ir, e n c o n tra d o nos versícu los 4,
zu es. V o lto u , e m segu ida, para Z ic la g u e e 10, 12, 19 e 27. Q u a n d o Saul c o m e ç o u a
esp erou notícias d o c a m p o d e batalha (1 Sm carreira d e rei, fo i d es crito c o m o um h o m em
29 - 30). alto, q u e "s o b res sa ía a to d o o p o v o " (1 Sm
Um mensageiro dissim ulado (vv. 1-10). 9:2; v e r 1 Sm 10:23 e 16:7), mas a c a b o u
Enquanto Davi exterm in ava os am alequitas, c o m o um rei c a íd o. Caiu e s te n d id o p or ter­
j5 filisteus subjugavam Saul e seu e x é rc ito ra na casa d a m éd iu m (1 Sm 2 8 :2 0 ) e caiu
296 2 S AMU E L 1:1 - 2:7

no c a m p o d e batalha diante d o inim igo (1 Sm m e n s a g e ir o e c o n c lu iu q u e e le m e r e c ia


3 1 :4). D avi hum ilhou-se dian te d e D eus, e o m orrer. C a so o relato d e le fosse verd ad eiro .
S en h or o exaltou , p o rém o o rgu lh o e a re­ 0 h o m e m havia assassinado o rei u n gid o d e
b e liã o d e Saul o c o n d u zira m a um triste fim. D eu s e d everia, p ortan to, ser m o rto. C a so
"A q u e le , pois, q u e p en sa estar e m p é veja seu relato n ão fo s s e v erd a d e iro , o fa to d e o
q u e n ão c a ia " (1 C o 10:1 2 ).3 Saul fo i u n gid o am a leq u ita in ven tar um a história s o b re ter
rei na aurora d e um n o v o dia (1 Sm 9:26, e x e c u ta d o o rei re ve la v a seu c o r a ç ã o p er­
27), mas e s c o lh e u cam in h ar e m trevas (28:8) v erso. "P o r tua p rópria b o c a te co n d en a rei
e d e s o b e d e c e r à v o n ta d e d e Deus. (L c 1 9:22). O s israelitas haviam re c e b id o a
Um acampamento entristecido (vv. 11, ord em d e e x te r m in a r o s a m a le q u ita s (Êx
12). O m e n sa g eiro am alequ ita d e v e ter fic a ­ 1 7:8-16; D t 25:1 7-19), d e m o d o qu e, quan­
d o esp a n ta d o e, d ep o is, a m e d ro n ta d o a o ver d o D avi o rd e n o u q u e o m e n s a g e iro fo s s e
Davi e seus h o m en s ra sga n d o as ves te s e e x e c u ta d o , estava sim p lesm en te o b e d e c e n ­
p ran tean d o a m o rte d e Saul. H avia p en s a d o d o a o Senhor, a lg o q u e Saul n ão havia feito
q u e to d o s e m Z ic la g u e se a le g ra ria m a o (1 Sm 15).
o u vir a n o tícia d a morte de Saul, s a b e n d o A o e x e c u ta r o mensageiro, o futuro rei
q u e isso sign ificava o fim d e seus dias p eri­ d e Israel v in d ic o u Saul e seus filh os e d e ­
g o s o s c o m o fugitivos. P ro va ve lm e n te, e s p e ­ m o n stro u p u b lic a m e n t e q u e n ã o h a v ia
rava algu m a re c o m p e n s a p o r ser o p o rta d o r c o n s id e ra d o Saul seu inim igo. Foi um gesto
d e um a n otícia tã o b oa, mas é e v id e n te qu e p e rig o s o , p ois D avi e seus h o m en s viviam
n ão c o n h e c ia o c o r a ç ã o d e D avi. A o s o lh os e m território filisteu, e o rei filisteu ain da p en ­
d e Davi, em m o m e n to algu m Saul havia sido sava q u e D avi era seu a m ig o e aliado. Essa
seu in im igo (2 Sm 2 2 :1 ), e e m duas o ca siõ es, postu ra d e D avi e m fa v o r d o rei m o rto de
q u a n d o D avi p o d e ria ter m a ta d o Saul, d e i­ lsrael p o d e ria ser c o n s id e ra d a um ato d e tra ■
x ou claro q u e jam ais iria ferir o u n gid o d o ção . P orém , o S en h o r havia v in d ic a d o Davi
S en h o r (1 Sm 24:1-7; 26:1-11). e este, p o r sua v e z , havia v in d ic a d o Saul e
O m e n s a g e ir o afirm o u q u e era a m a le ­ n ão te v e m e d o . A o ser relatada a o p o v o de
quita, filho d e um e stran geiro q u e vivia em Israel, a c o n d u ta d e D avi e d e seu acam p a­
Israel (2 Sm 1 :1 3). M as, se estivesse m e sm o m e n to ajudaria a c o n v e n c e r os israelitas de
v iv e n d o na terra d e Israel, saberia q u e o rei q u e D avi era, d e fato, o h o m e m e sc o lh id o
d essa n a ç ã o era o u n gid o d o Senhor. Se um p o r D eu s para ser seu rei.
israelita fie l tiv e s s e e n c o n tr a d o o s q u atro
c o r p o s , t e r ia p ro cu ra d o e s c o n d ê - lo s e 2. L a m e n t a ç ã o (2 Sm 1:17-27)
p ro te gê-lo s d o s filisteus, mas os am alequitas A tristeza d e Davi p ela m o rte d e Saul e de
eram in im igos d e Israel, e x a ta m en te o p o v o Jônatas fo i sincera, e a fim d e ajudar o po\ 31
q u e Saul d ev eria ter e lim in a d o (1 Sm 15). É a lem brar-se d o s dois, D avi e s c re v e u uma
b e m p ro vá ve l q u e o m e n s a g e iro fosse, d e e le g ia c o m o v e n t e e m h o m e n a g e m a eles
fato, um am alequ ita, mas q u e n ão vivia em O rd e n o u q u e seu la m en to fo s s e en sin ad o e
Israel. A o q u e p a rece, ganh ava a v id a segu in ­ e n to a d o e m sua tribo ancestral d e Judá e,
d o o a c a m p a m e n to filisteu e p ro c u ra n d o sem d ú vida , o p o v o d e outras tribos tam­
restos d e d e s p o jo s d e p o is das batalhas. A o b ém a p ren d eu e estim ou essas palavras. Os
afirm ar ser filh o d e um estran geiro q u e vivia orientais n ão se e n v e rg o n h a m d e d em o n s ­
e m Israel, e sta v a re iv in d ic a n d o c e rto s p ri­ trar suas e m o ç õ e s e, c o m freq ü ên cia , seus
v ilé g io s e s p e c if ic a d o s na lei d e M o is é s , p o e ta s e s c re v e m câ n tic o s para ajudá-los a
p rivilé gio s estes q u e c e rta m e n te e le não m e ­ c o m e m o ra r tan to ex p e riên c ia s alegres qua--
recia (Êx 2 2 :2 1 ; 2 3:9; Lv 19:33 ; 2 4 :2 2 ; D t to d o lo ro s a s . M o is é s e n sin o u a Israel um
2 4 :1 7 ). câ n tic o s o b re a apostasia (D t 3 2), e, em \a-
Um ju lg a m e n to ju s to (vv. 13-16). rias o c a s iõ e s , os p ro fe ta s e sc re ve ra m cac­
Q u a n d o o p e río d o d e pranto e n cerro u , no tos fú n eb re s para anunciar um ju lg a m e n * «
final d o dia, D avi con tin u o u in te rro ga n d o o im in en te (Is 1 4 :1 2ss; Ez 27:1ss; 28:11-19
2 S A MU E L 1:1 - 2:7 297

Esse la m en to fic o u c o n h e c id o c o m o " O usavam ó le o s o b re seus e s c u d o s d e c o u ro


C â n tico d o A r c o " (v. 1 8 )4 e en co n tra va -se para con servá-los, mas o rei ta m b ém era o
-e^istrado no Livro d o s Justos (Js 10:12, 13), líder d e D eus, u n gid o c o m ó le o . Saul e seus
.na c o le tâ n e a d e p o e m a s e d e cân tico s q u e três filhos haviam p e rd id o seus esc u d o s e a
[( m e m o ra v a a c o n te c im e n to s im p o rta n te s vida, e seus e s c u d o s haviam sido p ro fa n a ­
oa história d e Israel. O tem a principal dessa d os c o m sangue.
& -gia é " C o m o caíram os v a le n te s !" (vv. 19, Davi exalta Saul e Jônatas (vv. 22, 23).
J5 27), e a ê n fa s e recai s o b re a g ra n d e za Esta p arte constitui o c e rn e d o cân tico, re­
A: Saul e d e Jônatas m e s m o na d erro ta e na tratan do Saul e Jônatas c o m o gu erreiros vi­
n 'te . Davi p ro cla m o u sua d e s tre za e bra- toriosos. A s setas d e Jônatas acertaram seu
rw a b em c o m o sua d isp o siç ã o d e e n tregar alvo, e a e sp a d a d e Saul "n ã o voltou v a z ia ".6
i . da p o r seu país. Assim c o m o e m H eb reu s Foram rá p id o s c o m o águ ias (D t 2 8 :4 9 ) e
o câ n tic o n ão traz qu alq u er registro d os fortes c o m o le õ e s (2 Sm 17:10). Para Davi,
:e c a d o s ou d o s erros na v id a d e Saul e d e p o r é m , e s s e s h o m e n s n ã o fo r a m apenas
tc natas. e x c e le n te s s old ad o s, mas ta m b ém h o m en s
Davi se dirige ao povo de Israel (vv. 19, d e b e n e v o lê n c ia , a m a d os e m v id a e na m o r­
y». Davi ch a m a o rei m o rto e seu e x é rc ito te e leais um a o o u tro e a o p o v o . Em sua
ie ' A tua glória, ó Israel" e d e "v a le n te s ".5 r e u n iã o na c a s a d a m é d iu m , Saul f ic o u
v ã o dem on straram gra n d e p o d e r ou glória s a b e n d o q u e e le e seus filhos m orreriam na­
na batalha e m G ilb o a , mas Saul ain da era o q u e le dia na batalha (1 Sm 2 8 :1 9 ) e, n o e n ­
•aer e s c o lh id o d e D eus, e seus s o ld a d o s ain­ tanto, entrou na p ele ja d e te rm in a d o a dar o
da eram tro p a s d o S e n h o r d o s E xércitos. m á xim o d e si. Jônatas sabia q u e o pai havia
■ o ss a te n d ê n c ia é e s q u e c e r q u e Saul e seus d e s o b e d e c id o a D eu s e p e c a d o con tra Davi,
-o m e n s h aviam a rrisca d o a v id a a fim d e mas, ain da assim, fic o u a o lad o d e le na luta.
btar e d e v e n c e r várias batalhas im p o rta n ­ A p e s a r d e o e x é rc ito d e Israel ter sido d e rro ­
tes 11 Sm 1 4 :4 7 ,4 8 ) e q u e as m u lh e re s tado, D avi qu eria q u e o p o v o se lem brasse
sraelitas can tavam : "Saul feriu os seus mi- d a g ra n d e za d o rei e d e seus filhos.
•fcares" (1 Sm 1 8:7). D avi instou c o m o p o v o D a vi se dirige às filhas de Jerusalém
•nue n ão e sp a lh a ssem a terrível n o tíc ia da (v. 24). M e s m o c o m suas im p e r fe iç õ e s e
ni'rrota d e Israel, p ois os filisteus cuidariam fracassos, durante seu rein ad o, Saul trou xe
c sso. G a te era a capital d a Filístia, o n d e os e stab ilid a d e à n ação. A s tribos haviam c o lo ­
kderes se a le g r a r ia m c o m sua v itó r ia , e c a d o d e lad o sua in d e p e n d ê n c ia e c o n c o r ­
-s q u e lo m era o p rin cip al c e n tr o re ligio so , rên cia ego ístas e lutavam juntas em prol d e
onde o p o v o daria graças a seus íd o lo s p o r m elhorias, in clusive e m sua situação e c o n ô ­
a ijd a r seu e x é rc ito a d errotar Israel. m ica. A c o m b in a ç ã o d e fato res c o m o as vi­
D avi se dirige às montanhas de Gilboa tórias d e Saul s o b re as n a ç õ e s inim igas, a
21). Trata-se d o local o n d e a batalha fo i m a ior segu ran ça nas vilas e lavouras e a c o ­
ra v a d a e Saul fo i d e rro ta d o (2 Sm 1:6; 1 Sm la b o r a ç ã o e n tre as trib o s c o o p e r o u p ara
:4; 3 1:1). D avi o ro u para q u e D eu s aban- au m en tar a riq u e za d e Israel. A o q u e p are­
ii^nasse tal lugar e não en viasse ch u va nem ce, D avi d e s c r e v e m ulheres abastadas e seus
o r. alh o ao s c a m p o s , n em d e s s e c o lh e ita s luxos, retratando, ta lve z, e sp o sa s d e o ficiais
- tas aos lavradores da região , m e s m o q u e d o rei q u e havia visto q u a n d o serviu na c o r­
sso sign ificasse n ão h aver o fertas d e cereais te d e Saul. "[V estir-se] d e rica esc a rla ta " é
ai Senhor. Pediu q u e a c ria ç ã o d e D eu s se um a e x p re ss ã o c o n h e c id a q u e significa "d e s ­
'u Masse a e le e m seu pranto p ela d erro ta d e frutar gra n d e fortu n a".
s ael e p ela q u e d a d e seu rei. Em sua refe- D avi fala de Jônatas, seu amigo qu eri­
■Éncia a o e sc u d o , D avi falava e m term o s li­ do (vv. 25, 26). É c o m u m , e m c â n tic o s fú­
strais, m e ta fó ric o s ou am bos? Saul carrega va n ebres, citar o n o m e d o fa le c id o e dirigir-se
_ n e scu d o , e o rei d e Israel era c o m p a ra d o a e le. A e x p re s s ã o "m e u irm ã o Jôn atas" tem
a j m e s c u d o (SI 8 4:9; 8 9 :1 8 ). O s gu erreiros s e n tid o d u p lo , p o is D a v i e Jôn atas eram
298 2 S A MU E L 1:1 - 2:7

c u n h a d o s (D a v i e ra c a s a d o c o m M ic a l, D avi era d e Judá,’ d e m o d o q u e a


irm ã o d e Jônatas) b e m c o m o a m ig o s q u eri­ mais ló g ic a a fa z e r era ir v iv e r no m e a a
d o s q u e haviam fe ito um a alia n ça para d ivi­ p ró p rio p o v o . Em qual c id a d e , porénr
dir o tron o , te n d o D avi c o m o rei e Jônatas v eria residir? D eu s lhe d eu perm issão
c o m o s e g u n d o n o p o d e r (1 Sm 2 3 :1 6 -1 8 ). v o lta r a Judá e lhe disse p ara h abitar e ~
A id éia d e um to m h o m o s s e x u a l na fo rm a H e b r o m , q u e fic a v a a c e r c a d e qu aren ta
com o Davi e x p ressa seu afeto por Jônatas | quilômetros de Ziclague. Ao mudar-se para
é um a d is to rç ã o d e suas palavras. S a lo m ã o lá, Davi havia v o lta d o para seu p o v o , mas
d e s c r e v e o a m o r e n tre m a rid o e m u lh er ainda se en c o n tra va à som b ra d o s filisteus.
c o m o a lg o "fo r t e c o m o a m o r t e " (C t 8 :6 ), e H e b r o m era im p o rta n te para a história de
a a m iz a d e en tre D avi e Jônatas p ossu ía essa Israel, p ois p ró x im o à essa c id a d e fica va o
m e sm a força . 1 Sam u el 18:1 d iz: "A alm a local o n d e A b ra ã o e Sara, Isaque e R eb ec a
d e Jônatas se ligou c o m a d e D avi; e Jônatas e Jacó e Lia haviam sido sep u ltad os. A cidõ-
o a m o u c o m o à sua p ró p ria a lm a ". D avi d e situava-se d en tro da h eran ça d e C aleb
e n c e rro u seu la m e n to r e p e tin d o o re frã o um gra n d e h o m e m d a história d o p o v o □<
c o m o v e n t e - " C o m o caíram os v a le n te s !" Israel (Js 1 4 :1 4 ). A b iga il, um a das e sp o s;
- e c o m p a r a n d o Saul e Jônatas c o m arm as d e Davi, havia sido casad a c o m um calebita
d e gu erra p erd id as, q u e n ão p o d e ria m to r­ e D avi herdara a p ro p rie d a d e d ele , q u e fic
nar a ser usadas. va p ró xim a a o d e s e rto d e M a o m (1 Sm 25:2
A o c o m p o r e ensinar essa e leg ia , é p o s ­ É b em p ro vá vel q u e H e b ro m fo s s e a cidade
sível q u e D avi tivesse e m m e n te vários p ro ­ mais im p o rta n te da re g iã o Sul d e Judá, d e
pósitos. Em p rim eiro lugar, h o m e n a g e o u Saul m o d o q u e D avi m u dou-se para lá c o m s e i i
e Jônatas e e n sin o u o p o v o a re sp e ita r a h om en s, e eles foram vive r nas c id a d es m t-
m on arquia. U m a v e z q u e Saul foi o p rim ei­ n ores a o re d o r d e H e b ro m . P ela prim eira ve :
ro rei d e Israel, o p o v o p o d e ria con clu ir q u e e m d e z anos, D avi e seus valen tes n ão era'
to d o s os reis s u b s e q ü e n te s s egu iria m seu mais fugitivos. Seus homens haviam sofridi
mau e x e m p lo , ta lv e z até le va n d o a n a ç ã o à c o m e le e lo g o passariam a reinar c o m ei^
ruína, d e m o d o q u e D a v i p ro c u ro u fo r ta ­ (v e r 2 Tm 2:12).
le c e r o c o n c e ito d e m on arqu ia. O câ n tic o Q u a n d o D avi assen tou -se e m H e b r o r r
ta m b ém d eix o u claro a to d o s q u e D avi n áo seu re to rn o a Judá fo i o sinal para o po\L
gu ard ava q u a lq u e r rancor d e seu s o g ro e s o ­ r e c o n h e c ê -lo c o m o seu líder, d e m o d o q j e
b era n o. Por fim, D avi deu um e x e m p lo a ser os a n c iã o s d e Judá ungiram D avi n o v a m e "-
s e g u id o p o r to d o s nós a o o fe r e c e r um tri­ te e o p r o c la m a r a m s eu rei (v e r 1 S"
b u to c a rin h o s o à q u e le s q u e m o rre ra m na 1 6 :1 3 ).8 S e A b n er, c a p itã o d e Saul, t a m b é "
batalha a o p ro te g e r sua pátria. tiv e s s e a c e ita d o a v o n t a d e d e D e u s e se
s u je ita d o a D avi, um a difícil gu erra civil tt^
3. C oroação (2 S m 2:1-4a ) ria s id o e vita d a . P orém , a M a ld a d e a o anti­
Davi era o rei d e Israel p o r d ireito e n ão p od ia g o r e g im e (A b n e r era s o b rin h o d e Saul) e
fica r e m Z ic la g u e , um a v e z q u e a c id a d e d e s e jo d e p r o te g e r os p ró p rio s interesses
e n con trava-se e m território in im igo. E b em levaram A b n e r a lutar c o n tra D avi em v e z
p ro vá ve l q u e Aquis, o rei filisteu, acreditasse d e segui-lo.
q u e D avi ain da se ach ava sob sua au torida­ E nquanto Davi vivia e m Z ic la gu e, v o '
d e, mas D avi sabia q u e d e v e ria v olta r para tários das tribos d e B en jam im , d e G a d o *
sua terra e c o m e ç a r a reinar s o b re o p ró p rio d e M an assés haviam se ju n ta d o a e le 1
p o v o . D avi costu m ava buscar a v o n ta d e d e 1 2:1-2 2 ), d e m o d o q u e, n ão a p e n a s D ; -
D eu s q u a n d o precisava to m a r d e c is õ e s e o possu ía um e x é rc ito e n o r m e e e x p e rie -
fa zia p e d in d o a A b ia ta r q u e con su ltasse a c o m o ta m b ém co n ta v a c o m um a am pla
e sto la (1 Sm 2 3 :9 -1 2 ) ou p e d in d o a C a d e p re s e n ta ç ã o d e algu m as das outras tri’
q u e orasse a D eus, s olic ita n d o um a palavra Em b reve, D avi con q u istaria a le a ld a d e *
d e s a b ed o ria (2 2 :5 ). to d o o Israel.
2 S AMU E L 1:1 - 2:7 299

Em sua a scen sã o a o tro n o d e Israel, D avi s en tid o n o ro e s te e d e atravessar o Jordão


•~stra a carreira d e Jesus Cristo, o Filho d e até c h e g a r a Bete-Seã, e m um a jo rn a d a d e
T a vi. Assim c o m o o pastor Davi, Jesus v eio , ce rc a d e qu aren ta q u ilô m etro s, ida e volta.
;n te s d e tu do, e m fo rm a d e s ervo hum ilde e Foi um a m issão corajosa , e D avi a g ra d ec e u
«o u n gid o rei lo n g e d o s o lh o s d o pú b lico. a e les p o r sua d e d ic a ç ã o a Saul e a o rein o
C _ m o D avi no exílio, Jesus é Rei nos dias d e Israel. D em on straram "h u m a n id a d e", e o
h o je, mas ain d a n ão e stá re in a n d o no S en h o r usaria d e "m ise ric ó rd ia e fid e lid a d e "
~ o n o d e Davi. A ssim c o m o Saul nos tem - Dara c o m eles. V in te e c in c o anos d ep ois,
dos d e Davi, h o je em dia, Satanás ain da tem D avi e x u m o u os restos m ortais d e Saul e d e
i ib erd a d e d e obstruir a o b ra d o S en h o r e seus filhos q u e m orreram c o m e le e os se­
d e o p o r-se a o p o v o d e D eus. U m dia, Jesus pultou n o v a m e n te e m B en jam im , trib o d e
rfL tará e m glória, Satanás será c ap tu rad o e o rig e m d a fam ília d e Saul (2 Sm 21:1 2-14).
t^us go v e rn a rá e m seu re in o g lo r io s o (A p N o e n ta n to , D a v i u sou e s s a o c a s iã o
a:11 - 2 0 :6 ). H o je , o p o v o d e D eu s ora c o m o um a o p o rtu n id a d e para c o n v id a r os
■•cimente: "V e n h a o teu r e in o " (M t 6 :1 0 ) e h o m en s c o ra jo s o s d e Jab es-G ilead e a apoiá-
esp era c o m g ra n d e a n s ie d a d e a v o lta d e lo. H aviam se m o stra d o valen tes p o r Saul e
seu Rei. p o d e ria m , p orta n to, ser v a len tes p o r Davi.
D avi e sta v a c o m trinta a n o s d e id a d e Algu n s gu erreiros d e G a d e já haviam se jun­
n ja n d o os an ciãos d e Judá o p rocla m ara m ta d o a o e x é rc ito d e D avi e n q u a n to e le se
■e e reinou e m H e b ro m durante s ete anos en c o n tra va e m Z ic la g u e (1 C r 12:8-15), afir­
e "n eio (2 Sm 2 :1 1). Q u e gra n d e b ê n ç ã o para m a n d o sua c e r t e z a d e q u e e le e ra o rei
>Ldá ter um líder tã o c o m p e te n te e p ie d o s o ! u n g id o d e D eu s. In fe liz m e n te , o p o v o d e
J a b e s -G ile a d e n ã o e s c o lh e u s u jeita r-se a
4 . R e c o n h e c im e n to (2 S m 2:4b-7) Davi, mas sim segu ir A b n e r e Isbosete, filho
Davi era um h o m e m c o m o c o r a ç ã o d e um in exp ressivo d e Saul.
castor q u e se p re o c u p a v a c o m o seu p o v o O p o v o d e J ab es-G ilead e p erm itiu q u e
■ e r 2 Sm 24:1 7). e um d o s p rim eiros assun- sua a fe iç ã o p o r Saul o c e g a s s e e n ã o fo i
'ds d os quais tratou foi a sina d e Saul e d e c a p a z d e e n x e rg a r o p la n o d e D e u s para
*eus três filhos q u e m orreram c o m ele. Q uan- sua n a ç ã o . T in h a m um b o m m o tiv o , m as
no p erg u n to u aos líd eres d e Judá s o b re o fiz e ra m a e s c o lh a errad a. Q u a n ta s v e z e s ,
p u lta m en to d a fam ília real, estes lhe c o n ­ na história d a Igreja, o p o v o d e D eu s d e i­
taram c o m o os h o m e n s d e J a b e s-G ile a d e xou q u e a a fe iç ã o h um an a e o re c o n h e c i­
-a v ia m a rris c a d o a v id a p ara re sg a ta r os m e n to p re v a le c e s s e m s o b re a v o n ta d e d e
n ja tro c o rp o s , q u eim ar a c arn e m u tilada e D eu s! Jesus C risto é o Rei e m e r e c e nossa
■ e co m p o sta e, d ep o is, sepultar seus ossos sub m issão, le a ld a d e e o b e d iê n c ia . C o lo c a r
e n Jabes (1 Sm 3 1 :8 -1 3 ). O p o v o d e Ja- líd eres h u m a n os à fren te d o Rei u n g id o d e
□ e s -G ile a d e se le m b ro u d e c o m o , m u itos D e u s é criar d iv is ã o e fr a q u e z a n o m e io
a^os atrás, Saul h avia s a lv a d o sua c id a d e d o s s e g u id o re s d o S en h o r e causar in ú m e­
1 Sm 11). ros p ro b le m a s para o p o v o d o Senhor. N a s
Jab es-G ilead e fica va d o o u tro lad o d o rio palavras d e A g o s tin h o d e H ip o n a : " O u Je­
ord ão , na tribo d e G a d e , e os h o m en s q u e sus C risto é S en h o r d e tu d o ou n ão é S e­
"ESgataram os c o r p o s tiveram d e viajar no n h or d e c o is a a lg u m a ".

Ê interessante que 1 Samuel registra a cena de um mensageiro transmitindo as más notícias da derrota ao sacerdote Eli (1 Sm 4),
e, nessa passagem, um mensageiro transmite ao rei Davi notícias que considera boas. Eli tombou para trás e morreu, porém,
nesse caso, o mensageiro é que foi morto. Em 1 Samuel, a arca foi tomada pelo inimigo, mas posteriormente foi recuperada
por Israel, enquanto aqui os corpos da família real é que foram levados e, mais tarde, recuperados e sepultados.
2. A morte de Saul nos lembra de Apocalipse 3:11: "Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a
tua coroa".
300 2 S AM U E L 1:1 - 2:7

3. Saulo de Tarso, um homem cujo nome no original é o mesmo do rei Saul, começou seu ministério ao cair por terra (At 9:4
22:7; 26:14), mas no final de sua vida, nós o vemos em pé e cheio de ousadia ao lado de seu Senhor (2 Tm 4:16, 1 7).
4. Algumas versões da Bíblia dão a impressão de que Davi escreveu esse cântico para incentivar os rapazes a aprenderem a usa'
o arco, uma idéia que não encontra apoio no texto hebraico. É possível que essa elegia tenha sido chamada de "Cântico do
Arco" em função de uma referência ao arco de Jônatas no versículo 22. Esse nome identificava a melodia usada para entoar
o cântico. Por certo, Davi não estava incentivando os arqueiros a praticar mais porque Saul e Jônatas haviam sido derrota
na batalha, pois esse cântico exalta a destreza militar dos dois homens.
5. O termo hebraico traduzido por "glória" também pode significar "gazela". Aos olhos de Davi, Saul era como uma gazeta
majestosa abatida na montanha.
6. A metáfora da "espada que devora" (i.e., que bebe, consome) é bastante comum no Antigo Testamento (Dt 32:42; 2 Sm 2:26
11:25; Is 31:8; Jr 12:12). A espada de Saul devorou muito sangue e foi saciada.
7. Tudo indica que, assim como cooperava com Saul e as outras tribos, naquela época, a tribo de Judá também mantinha uma
postura um tanto "separada" (ver 1 Sm 11:8; 15:4; 17:52; 18:16; 30:26).
8. Davi foi ungido três vezes: primeiro em particular por Samuel (1 Sm 16:13), depois publicamente pelos anciãos e pelo po«i
de Judá (2 Sm 2:4) e, por fim, também publicamente pela nação toda (5:3).
d e v id o te m p o , d esco b riu q u e Davi era o rei
2 e s c o lh id o p o r D eu s para Israel. U m a v e z q u e
os s o ld a d o s d e D avi já eram c o m a n d a d o s
p o r Joabe, o q u e seria d e A b n e r q u a n d o Davi
D avi O bserva e E sper a subisse a o tron o? G ra n d e p arte d a q u ilo q u e
A b n e r f e z durante esses sete an os e m e io
2 Sam uel 2 :8 - 4 :1 2 n ão fo i para a glória d e D eu s n em para o
fo r ta le c im e n to d e Israel, mas sim para d e ­
fe n d e r in teresses p róprios. Estava c u id an d o
d a p es so a mais im p o rta n te d o m u n d o: ele
m e sm o .
A b n er rejeita o reinado de Davi (vv. 8-
o m o d isse N a p o le ã o e m seu leito d e 11). O p o v o d e Judá o b e d e c e u à v o n ta d e
C m o rte : "P a ra go vern a r, o im p o rta n te
não é segu ir um a teo ria mais ou m e n o s váli­
d e D eu s e ungiu D avi para reinar s o b re eles.
A b n er, p o r é m , d e s o b e d e c e u a o S en h o r e
da, mas sim construir c o m a m atéria-prim a d e c la ro u Is b o s e te - o ú n ico filh o d e Saul
q u e se e n c o n tra à m ã o. A q u ilo q u e é ine- q u e havia s o b re v iv id o - rei "s o b r e to d o o
•.itável d e v e ser a c e ito e tran sfo rm a d o em Israel". A b n e r sabia q u e Davi era o e s c o lh i­
. a n ta gem ". Se essa d e c la ra ç ã o é v e rd a d e i­ d o d e D eus, um líder c o m p e te n te e c o r a jo ­
ra, e n tã o D avi fo i um líder e x tre m a m e n te so, mas d elib e ra d a m e n te se re b e lo u con tra
e fic a z nos sete anos e m e io q u e rein ou em o S en h o r e n o m e o u Is b o s ete. Israel h avia
H e b ro m . Enquanto J oab e c o m a n d a v a o e x é r­ p e d id o um rei " c o m o o tê m to d a s as na­
c ito d e Judá, D avi o b s e r v a v a e e s p era v a , ç õ e s " (1 Sm 8:5), e, q u a n d o um rei m orria,
s a b en d o q u e um dia o S en h or abriria c a m i­ as outras n a ç õ es p ro cla m avam o filh o mais
nho para q u e reinasse s o b re to d o o Israel. v e lh o d o m o n a rca c o m o sucessor. Três dos
D eus havia c h a m a d o D avi n ão ap en a s para filhos d e Saul haviam sido m o rtos e m c o m ­
ser rei, mas ta m b ém pastor e líder espiritual bate, d e m o d o q u e Isb o sete era o ú n ico q u e
d e seu p o v o . D avi te v e d e esp erar o te m p o restava da fam ília real.
d e D eus, e n q u a n to suportava p a c ie n te m e n ­ A s Escrituras n ão re ve la m m u ita c o is a
te as c o n s e q ü ê n c ia s das a m b iç õ e s egoístas s o b re Isbosete, mas fic a claro q u e n ão pas­
e das atitudes irrespon sáveis d e líderes m o ­ sou d e um g o v e rn a n te in ex p ressivo , m an i­
tivad os p e lo o rgu lh o e p e lo ó d io . D avi a p ren ­ p u la d o p o r A b n e r (2 Sm 3 :1 1 ; 4 :1 ). S em
deu a construir c o m a m atéria-prim a q u e se dúvida, tinha id a d e su ficien te para lutar no
e n co n tra va a sua d isp o siç ã o e a c o n fia r q u e e x é rc ito c o m o pai e os irm ãos, mas Saul o
D e u s usaria d e c e p ç õ e s e m fa v o r d e seu d eix o u e m casa a fim d e p ro te g e r a m o n ar­
povo. qu ia. (T a lv e z ta m b é m n ã o fo s s e um b o m
s o ld a d o .) Tan to Saul qu an to A b n e r sabiam
1 . A b n e r: o p r o c la m a d o r d o n o v o q u e D eu s havia to m a d o a dinastia d e Saul
rei (2 S m 2:8-32) (1 Sm 13:11-14). A o d es co b rir q u e e le e os
O a to r p rin cip al n essa p arte d a história é filhos m orreriam na batalha, é b em p ro vá vel
Ab n er, sob rin h o d e Saul e c o m a n d a n te d e q u e Saul ten h a to m a d o as m ed id as ca b íveis
seu e x é rc ito (1 Sm 1 4 :5 0 ). Foi A b n e r q u e para p ro cla m ar seu q u a rto filh o rei d e Israel.
levo u D avi a Saul d e p o is q u e D avi m atou E possível q u e Is b o s ete ten h a sido c o r o a d o
G o lia s (1 Sm 1 7:55-58) e fo i ju n to c o m e le p e lo gen eral, p o ré m jam ais fo i u n gid o p e lo
qu e Saul persegu iu D avi durante d e z anos Senhor. Em 1 C rôn icas 8 :33, e le é c h a m a d o
;2b:5ss). A b n e r foi cen su ra d o e h um ilh ado d e Esbaal, q u e sign ifica "h o m e m d o S en h or".
o o r D avi q u a n d o d eix o u d e p ro te g e r o rei O te rm o "b a a l" q u er d iz e r "s e n h o r" e tam ­
■1 Sm 2 6 :1 3 -1 6 ) e, p orta n to, n ão nutria qual­ b é m era o n o m e d e um a d ivin d a d e can an éia,
q u er a fe iç ã o e sp ec ia l p o r D avi. O p o v o d e d e m o d o q u e ta lv e z esse seja o m o tiv o para
Israel h o n ra v a D a v i a c im a d e Saul e, n o a m u d a n ça d e n o m e .1
302 2 S AMUE L 2:8 - 4:12

A b n e r le vo u Is b o s ete para M aan a im , d o q u a n d o o gig a n te filisteu p ro p ô s q u e um cio ï


la d o leste d o Jordão. N essa c id a d e levítica s o ld a d o s d e Saul lutasse c o n tra e le (1 S " '
d e refú gio, Isb o sete estaria segu ro (Js 2 1 :38), 1 7:8-1 0 ). N o en ta n to , A b n e r e stava se re­
e ali A b n e r instituiu a capital para " t o d o o b e la n d o con tra D eus, e n q u a n to Davi era i
Israel". N o entan to, é b em p ro vá ve l q u e te ­ líder e s c o lh id o p o r D eus!
nha le v a d o p e lo m e n o s c in c o a n o s para Essa é a prim eira v e z q u e vem os Joabe
A b n e r persuadir as tribos (c o m e x c e ç ã o d e sob rin h o d e D avi e c o m a n d a n te d e suas tro­
Judá) a segu ir seu n o v o rei. Is b o s ete foi c o ­ pas.2 O s d ois e x é rc ito s en co n tra ram -se n j
ro a d o n o in ício d o rein a d o d e sete an os e açu d e, e d o z e s o ld a d o s d e B en jam im en­
seis m eses d e D avi s o b re Judá e fo i assas­ frentaram d o z e h o m en s d e Judá - e to d o s
sin a d o d e p o is d e reinar a p e n a s d ois an os os v in te e q u a tro hom ens foram m o rto s
s o b re " t o d o o Israel". Esses fora m os d ois N a q u e le dia, o c a m p o d e batalha re ce b e.,
ú ltim os a n o s d o re in a d o d e D avi e m H e- um n o v o n o m e : C a m p o d o s G u m es A fia d o s
brom . O g o v e r n o d e Is b o s ete fo i curto, e, ou "C a m p o das Espadas". J oab e e A b n e r nã <>
d e q u a lq u e r m o d o , to d o s sab iam qu e, na p erd eram te m p o e c o lo c a ra m seus h o m e n j
verd ad e, qu em e s ta v a n o c o m a n d o e ra e m fo r m a ç ã o para a batalha, e "segu iu -se
Ab n er. crua p ele ja n a q u e le dia". A b n e r fo i d errota­
Essa situ ação tem um to m m o d e rn o , p ois d o n e s s e dia, p r e n u n c ia n d o o q u e ainda
tanto a esfera religiosa q u a n d o a esfera p olí­ estava p or vir.
tica d e n o s s o te m p o são o c u p a d a s p e lo s A b ner mata o sobrinho de Davi (vv. 18-
m e sm o s três tip os d e pessoas. H á os fracos 23). Joabe, A b isai e A s a e l eram sobrinhos
c o m o Isbosete, q u e c h e g a m a o p o d e r p o r­ d e D avi, filhos d e sua irm ã Z eru ia (ver 1 Cr
q u e "tê m as costas q u e n t e s '. H á os fortes e 2 :1 3 -1 6 ).3 Q u e r p o r iniciativa própria que p
egoístas c o m o A b n er, q u e sab em m anipular p or o rd e m d o irm ão, A sael foi atrás d e A b n er
outros para seu b e n e fíc io p essoal. T am b ém p ois sabia q u e matar o gen eral in im igo tra­
há m ulheres e h o m en s d e D eu s c o m o Davi, ria c o n fu s ã o e faria to d o o e x é rc ito advers;
ch a m ad o s, u n gid os e prep arad os, mas q u e rio se dispersar. Se toi Joab e q u em o r d e n o j
p recisam esp erar p e lo te m p o d e D eu s antes q u e o jo v e m A sael, c o n h e c id o p or sua lige
d e p o d e r servir. A o lo n g o d e mais d e cin­ re z a , p e rs e g u is s e A b n e r , t a lv e z e s tiv e s s ;
qü en ta an o s d e m in istério, vi igrejas e o u ­ p e n s a n d o e m seu futuro, p ois A b n e r p o d e ­
tros trabalh os d eix a rem d e la d o m ulheres e ria a m ea ça r sua p o s iç ã o d e co m a n d a n te d.
h o m en s d e D eu s e c o lo c a re m p essoas sem e x é rc ito .
q u a lifica çã o e m p o s iç õ e s d e lid eran ça p e lo O registro d eix a claro q u e A b n e r n ão ti­
sim ples fa to d e serem mais c o n h e c id a s ou nha d e s e jo algum d e ferir n em m atar o ra­
d e "terem as costas quentes". paz, mas A sael fo i persistente. Prim eiro A b ie -
A b n e r con seg u iu o q u e queria, mas p er­ Ihe disse para d esvia r-se para a d ireita oii
d eu tu do e m p o u c o s anos. para a e sq u e rd a e to m a r o q u e qu isesse d e
A b ner desafia o exército de D avi (vv. um d o s s o ld a d o s in im igos m ortos. Em s e ^ _ -
12-17). Q u a n d o A b n e r p ro cla m o u Is b o s ete da, advertiu A sa el d e qu e, se o m atasse, dar-.i
rei, na v e rd a d e estava d ec la ra n d o gu erra c o n ­ in ício a um a b riga san gren ta entre famí.ias
tra D avi e sabia disso. M as, a essa altura q u e p o d e r ia d urar an o s. A b n e r c o n h e c i
A b n e r c on ta v a c o m o a p o io d e tod as as tri­ J o ab e e n ão tinha v o n ta d e a lgu m a d e aa-
bos, e x c e to d e Judá, e acred itava q u e p o d e ­ in ício a um p ossível c o n flito fam iliar q u e se
ria d erro ta r D avi na batalh a sem q u a lq u e r e sten d eria p e lo resto d e suas vidas. Já b a -
d ific u ld a d e e d om in a r to d o o rein o. C e rto tava A b n e r e J oab e serem com a n d a n te s ri­
d a vitória, A b n e r p ro p ô s um a c o m p e tiç ã o vais. Q u a n d o A sa el se recu sou a desistir d i
en tre os d ois e x é rc ito s , a ser re a liza d a no p e rs e g u iç ã o , A b n e r usou d e astúcia e e r -
a ç u d e a c e rc a d e trinta e seis q u ilô m etro s p r e g o u um d o s a rtifício s m ais a n tig o s de
a o n o rte d e G ib e ã o . Esse d e s a fio n ã o fo i b a ta lh a : p a ro u d e r e p e n te e d e ix o u q u e
muito d ife re n te d a q u e le la n ç a d o p o r G olias, A sael se a rro ja s se d ir e ta m e n te s o b r e sua
2 S A MU E L 2:8 - 4:1 2 303

lança. A e x tre m id a d e da lan ça o p o s ta à p o n ­ d e c e rc a d e d ois anos, durante os quais o c o r ­


ta c o s tu m a v a ser a fia d a , d e m o d o q u e a reram c o n fro n to s o c a s io n a is e n ão lon gas
lan ça p u d es se ser cravad a n o s o lo , e m p o ­ batalhas su b seqü en tes. D avi esp erava, c e rto
s içã o d e p ro n tid ã o (1 Sm 2 6 :7 ). A s a e l caiu d e q u e D eu s cum priria suas prom essas e q u e
no c h ã o e m o rre u .4 Sua m o rte se d eu no lhe daria o tro n o d e Israel. O g o v e r n o d e
transcurso da batalha, a p e sa r d e tu d o indi­ D avi e m H e b ro m estava in d o " d e fo r ç a em
car q u e A b n e r n ão tinha plan os n em d e s e ­ fo r ç a " (SI 8 4:7), e n q u a n to a aliança das tri­
java matá-lo. b o s sob o c o m a n d o d e Is b o s ete e A b n e r se
A b n e r p e d e uma trégua (vv. 25-32). torn ava c a d a v e z mais fraca.' P orém , h o m e m
Joabe e Abisai, os d ois irm ãos d e A sael, de- astuto q u e era, A b n e r usava sua p o s iç ã o na
. iam estar p e rto dali, p o is c on tin u a ra m a casa d e Saul para fo r ta le c e r a p rópria autori­
p e rs e g u iç ã o a A b n er, d e c id id o s , sem dúvi­ d a d e, p ois se p rep a ra va para fa z e r a Davi
da algum a, a vin gar o san gu e d o irm ão. Po- um a o fe rta irresistível (v. 6).
-ém, A b n e r fo i salvo p o r seus s o ld a d o s e, Q u a n to a Davi, sua fam ília ta m b ém au­
tanto e le qu a n to os benjam itas, se retiraram m en tava (v e r ain da 1 Cr 3:1-4); c o m o qual­
Dara o m o n te d e A m á. A b n e r sabia q u e ha- q u er o u tro m o n a rc a d o O rie n te , o h arém
ia sido d e rr o ta d o (vv. 3 0,31 ), d e m o d o q u e d o rei ia fic a n d o c a d a v e z maior. Sem dúvi­
Dediu uma trégu a. T a lv e z tivesse su speitado da, S alo m ã o, filho d e Davi, iria m uito além
que a m o rte d e A s a e í serra um in cen tivo para d o pai antes d e íe ou de q u a íq u e r rei d e ís-
□ ue Joabe e A b isai parassem d e lutar e cui­ rael ou d e Judá d e p o is d e le (1 Rs 1 1 :3).5 Davi
dassem d o s e p u lta m e n to . T e n d o e m vista se m udara para H e b ro m c o m duas esp osa s
□ue B enjam im e Judá eram irm ãos, a m b o s e, a essa altura, co n ta v a c o m seis filhos d e
7‘ lhos d e Jacó, p o r q u e d ev eria m lutar um seis esp o sa s d iferentes. A p oligam ia, q u e te v e
con tra o outro? N o entan to, o p ró p rio A b n e r in ício c o m L am eq u e, d e s c e n d e n te d e C aim
-avia c o m e ç a d o a batalha, d e m o d o q u e só (G n 4 :1 9 ), era to le ra d a em Israel, mas proi­
p o d e ria culpar a si m e sm o. H o m e m d a d o a b ida para seus reis (D t 1 7:1 7).
;ntrigas, A b n e r tinha em m e n te um p lan o qu e A m n o m , o p rim o g ê n ito d e Davi, a c a b a ­
ne daria os d ois e x é rc ito s sem q u e precisas­ ria p o r estuprar sua meia-irm ã, Tam ar (cap.
se derram ar sangue. 13), s e n d o assassinado p or A b salão , irm ão
J oab e c o n h e c ia o c o r a ç ã o d e D avi e sa- d e Tam ar p o r parte d e pai e m ãe, qu e, p o r
aia q u e e le ansiava p or união e p a z e não sua v e z , seria m o rto na tentativa d e usurpar
p o r d ivisão e guerra, d e m o d o q u e to c o u a 0 tro n o d e seu pai (caps. 14 - 18). O fa to d e
tro m b e ta e d e te v e seus sold ad o s, a fim d e A b s a lã o ter p a re n te sc o c o m a re a le za p or
q u e cessassem a p e rs e g u iç ã o a o in im igo. Em parte d e m ã e p o d e tê-lo in ce n tiv a d o e m sua
seguida, disse a A b n er: " T ã o c e rto c o m o v iv e ca m p an h a para assumir o reino. Sem dúvi­
D eu s, se n ã o tiv e s s e s fa la d o , só am a n h ã da, o c a s a m e n to d e D avi c o m M a a c a foi
c e d o o p o v o cessaria d e p ersegu ir c a d a um m o tiv a d o p o r q u e s tõ e s p olíticas, a fim d e
a seu irm ã o " (v. 2 7 ). A b n e r e seus h o m en s qu e D a v i t iv e s s e um a lia d o p r ó x im o a
cam inharam a n o ite to d a d e v olta para M aa- Isbosete. Q u ile a b e é c h a m a d o d e D an iel em
naim, e J oab e e seu e x é rc ito voltaram para 1 C rô n ic a s 3:1. N o s últim os dias d e D avi,
H e b ro m , p ara n d o e m B elém , a o lo n g o d o q u a n d o se en c o n tra va e n fe rm o , A d o n ia s ten ­
cam in h o, para sepultar A s a e l d e m o d o a p ro ­ taria to m a r o tro n o e seria e x e c u ta d o p or
priado. D uran te a m archa, q u e se esten d eu S a lo m ã o (1 Rs 1 - 2). N ã o te m o s qu alq u er
n o ite ad entro, Ab isai p re m e d ito u um m o d o in fo rm a ç ã o s o b re Sefatias e sua m ãe, Abital,
d e vingar a m o rte d o irm ão. n em s o b re Itreão e sua m ãe, Eglá. D e p o is
d e m udar a capital para Jerusalém, Davi to ­
2.A b n e r, o n e g o c ia d o r m ou para si ainda mais esp o sa s e con cu b in as
12 S m 3:1-21) e te v e mais o n z e filhos (2 Sm 5:13-16).
A o ra ç ã o "d u rou m uito te m p o a guerra", no A b ner deserta para o lado de Davi (vv.
versículo 1, indica um esta d o d e h ostilidade 6-11). A lé m d e ser um p o lític o p ragm ático,
304 2 S A MU E L 2:8 - 4:12

A b n e r ta m b ém era um gen eral sagaz, e seu solicitando que M ical fosse enviada a
p rin cíp io fu n d a m e n ta l p o d ia ser re su m id o H ebrom (v. 14).
em : " fiq u e sem p re d o la d o v e n c e d o r " . • A b n er conferenciou com os anciãos
Q u a n d o se d eu c o n ta d e q u e n ão havia fu­ d e Israel (vv. 1 7, 18).
turo algum para o tro n o d e Isb osete, d e c i­ • Abner conferenciou com os líderes de
diu transferir sua le a ld a d e para o o u tro lado, Benjamim (v. 19).
g a ra n tin d o , assim , a p ró p ria s e g u ra n ç a e, • Abner e vinte representantes das tribos
p os s ive lm e n te, salvan do vidas. D avi era c o ­ foram a H ebrom , leva n d o con sigo
n h e c id o p o r sua b e n e v o lê n c ia e havia d e ­ M ical (vv. 15, 16, 20).
m o n s tr a d o u m a p a c iê n c ia e x tra o rd in á ria ■ A b n er e Davi entraram num acordo
c o m a casa d e Saul. sobre c o m o seria a transferência do
O te x to n ão d iz se A b n e r te v e, d e fato, reino; am bos participaram d e um ban­
re la ç õ e s c o m a c o n c u b in a Rispa, e o g e n e ­ qu ete e fizeram uma aliança (v. 21).
ral n e g o u tal a c o n te c im e n to fir m e m e n te ;
p o r é m , se e s s e fo i o c a s o , c o m e t e u um a N o s p rim eiros e stá gio s dessas n e g o c ia ç õ e s
o fe n s a gravíssim a. O h arém d o rei fa le c id o te ria s id o p e r ig o s o e im p r u d e n te D a v i e
p e rte n c ia a seu sucessor, n esse ca so, Isbo- A b n e r se e n c o n tr a r e m p e s s o a lm e n te , d e
sete (v e r 2 Sm 12:8 e 1 6:15 -2 3). Q u a lq u e r m o d o q u e d e p e n d e r a m d e seus o ficiais para
h o m e m q u e s e q u e r p e d is s e um a dessas m u ­ fa z e r os c o n ta to s n ecessários. D avi n ã o ti­
lh eres e s ta v a p e d in d o p a ra si o r e in o e, nha m o tiv o para n ão c o la b o ra r c o m Abner,
p orta n to, era c u lp a d o d e traição. Essa fo i a um a v e z q u e e m m o m e n to algum havia es­
cau sa da m o rte d e A d o n ia s (1 Rs 2 :1 3 -2 5 ). ta d o em gu erra c o m e le ou c o m o rei Saul.
E p ossível q u e A b n e r ten h a to m a d o Rispa U m c o n fro n to d ireto era a única alternativa
c o m o s im p les p r o p ó s ito d e d e s e n c a d e a r para esse tip o d e d ip lo m a cia , e D avi era um
um a b riga c o m Is b o s e te e d e d ec la ra r sua h o m e m p a c ífic o . P or seu c a s a m e n to c o m
m u d a n ç a d e p artid o. Se essa era sua in ten ­ M ica l, D avi passara a fa ze r p arte da família
ç ã o , d e fa to fo i b e m -s u c e d id o . E e v id e n te d e Saul, d e m o d o q u e d e v e ria m ostrar certo
q u e o rei n ã o era fo r te o s u ficie n te para se re s p e ito tan to a A b n e r q u a n to a Isbosete.
o p o r a A b n er, o qual h avia a n u n c ia d o sua A lé m disso, estava d e c id id o a unir as tribos
m u d a n ç a para o la d o d e D avi. A e x p re s s ã o o mais rá p id o p ossível sem d erra m a m en to
"t r o n o d e D a v i" é usada p ela p rim eira v e z d e s n e c e s s á rio d e san gu e. D e p o is d e uma
nas Escrituras n o v ers íc u lo 10 e, c o m o pas­ e sp era d e sete anos, havia c h e g a d o o m o ­
sar d o te m p o , a d q u ire s ig n ific a d o m essiâ­ m e n to d e D avi agir.
n ic o (Is 9:6, 7). P o r q u e D avi im p ô s a v o lta d e M ica l
A b n er negocia em nom e de D avi (vv. c o m o c o n d iç ã o para o p ro ss eg u im e n to das
12-21). Esse e p is ó d io é um b o m e x e m p lo n e g o c ia ç õ e s ? Em p rim eiro lugar, ela ainda
d o e stilo "ir-e-v ir" d a d ip lo m a c ia na A n ti­ era sua esp o sa , a p esa r d e Saul tê-la entre­
g u id a d e . gu e a o u tro h o m em . D e z an os antes, quan­
d o h a v ia m se c a s a d o , M ic a l a m a v a Da\i
• Abner enviou mensageiros a Davi o fe ­ p ro fu n d a m en te (1 Sm 18:20), e não tem os
recen do colocar to d o o Israel sob seu m o tiv o algu m p ara crer q u e o sen tim en to
govern o (v. 12). n ão fo s s e re c íp ro c o . Fazia parte da b o a di­
• Davi en vio u m en sa geiros a A b n er p lo m a c ia co n v id a r sua "rain h a" a juntar-se a
aceitan d o sua oferta, d esd e que, an­ ele, e o fato d e ela ser d a casa d e Saul aju­
tes disso, A b n er lhe enviasse M ical, d ou a fo r ta le c e r os laços d e união. A o rei­
esp osa d e Davi e irmã d e Isbosete vin d icar a filha d e Saul, D avi ta m b ém esta\a
(v. 13). re ivin d ica n d o to d o o rein o, e q u a n d o A b n er
• A b n er reco m en d o u a Isbosete que le vo u M ica l a H e b ro m , seu g e s to fo i uma
atendesse o ped ido, e Davi tam bém d e c la ra ç ã o p ú b lica d e q u e h avia ro m p id c
e n v :ou uma m en sagem a Isbosete c o m a casa d e Saul e se a lia d o a Davi.
2 S AMU E L 2:8 - 4:1 2 305

3. A b n e r , a v ít im a (2 Sm 3:22-39) n o m e d o rei. O s sen tim en tos d o S alm o 120


O s p rep arativos para um a tran sição p acífica p o d e m , sem dú vida, ser a p lic a d o s à situa­
p arecia m estar e m o rd em , mas o c a m p o di- ç ã o d e D avi nessa é p o c a .
Dlomático ain d a tin h a m inas e s c o n d ia s e joab e engana e mata A b ner (vv. 26, 27).
p restes a e x p lo d ir . Is b o s e te c o n tin u a v a a J o ab e acu sou A b n e r d e m e n tiro s o (v. 2 5),
o cu p a r o tron o , e D avi teria d e lidar c o m e le mas e le p ró p rio usou d e d issim u lação! C o m
e c o m os p artidá rios leais à casa d e Saul. fr e q ü ê n c ia , s o m o s c u lp a d o s d o s m e s m o s
•\bner havia m a ta d o A sael, e J o ab e agu ar­ p e c a d o s d e q u e acu sam os a outros e " g e n ­
dava o m o m e n to c e rto d e v in g a r a m o rte te da m esm a laia se c o n h e c e ". E b em p ro vá ­
d o irmão. v el q u e J o ab e ten h a e n v ia d o m en sa g eiro s
Joabe censura D avi (w. 22-25). D avi en- em n o m e d o rei; d o con trário, A b n e r teria
»iara J oab e e alguns d e seus h o m en s a um sido mais ca u telo s o . A b n e r não vira Joabe
ataq u e para o b te r os recu rsos n ecessário s a na casa d e D avi, d e m o d o q u e d e v e ter su­
^im d e ajudar a sustentar o rein o. Q u a n d o p o s to q u e o gen era l d e D avi ain d a estava
lo a b e vo lto u e fico u s a b e n d o q u e D avi ha­ lo n g e e m sua e x p e d iç ã o d e ataqu e. J oab e e
j a re c e b id o A b n e r e lhe o fe r e c id o um ban­ seu irm ão, Ab isai (v. 3 0 ), ficaram à esp era
qu ete, n ão p ô d e c o n te r sua ira e cen surou d e A b n e r e o levaram para um a p arte isola­
o rei.6 A id éia central d es se p ará grafo é qu e da da p orta d a cid a d e , o n d e o esfaq u eara m
o g e n e ra l d e Saul e o h o m e m q u e havia s ob a quinta costela, o m e s m o lugar o n d e
m a tad o A sa el v iera e partira dali "e m p a z " havia c ra v a d o sua lança e m A sael (2 :2 3).
.2 Sm 3:21, 2 3 ), c o is a q u e J oab e n ão c o n s e ­ S o b to d o s os a sp ecto s, a m o rte d e A b n e r
guia en ten d er. Seu c o r a ç ã o ain da sofria c o m fo i um erro. O s d ois irm ãos sab iam o q u e o
a p erd a d o irm ão, e J oab e não era c a p a z d e rei q u e ria e, n o en ta n to , c o lo c a r a m d e lib e ­
c o m p r e e n d e r as d e c is õ e s p olítica s d e seu r a d a m e n te seu s in te re ss es p e s s o a is an tes
rei. É e v id e n t e q u e J o a b e ta m b é m e stava d a q u ilo q u e era im p o rta n te para o rein o.
p r o te g e n d o seu c a rg o , assim c o m o A b n e r A s a e l h avia p e r s e g u id o A b n e r n o c a m p o
d efen d ia o d ele , mas, a o con trário d e Davi, d e batalha, d e m o d o q u e sua m o rte havia
lo a b e n ã o p u n h a f é a lg u m a n a q u ilo q u e s id o m ais um a b aixa d e c o r r e n t e d a gu erra;
A b n e r d izia ou fazia. J oab e estava c e rto d e a m o rte d e A b n e r, p o r o u tro lad o, fo i assas­
qu e n ão havia q u a lq u e r rela çã o en tre a visi­ sinato. H e b r o m era um a c id a d e d e refú gio,
ta d e A b n e r e a tran sferên cia d o rein o para um s a n tu á rio o n d e a lg u é m acusado de
as m ã os d e D avi. O gen era l astuto estava h o m ic íd io p o d ia r e c e b e r ju lg a m e n to justo,
apenas s o n d a n d o a situ ação e se prep aran ­ mas os d ois irm ãos seq u er deram aos an ciãos
d o para um ataque. d e H e b r o m a o p o rtu n id a d e d e exa m in a r o
O te x to n ão registra um a re s p o s ta d e c a s o . A b n e r m a to u A s a e l e m a u to d e fe s a ,
Davi. J oab e nunca fora um in divíd u o tratá- m as q u a n d o A b isai e J o ab e m ataram A b n er,
.el (3 :3 9 ), e sua re la ç ã o d e p a re n te s c o só fo i pura v in g a n ça . A b n e r n ã o te v e q u a lq u e r
dificultava as coisas. A d in âm ica d a fam ília c h a n c e d e se d e fe n d e r . A m o rte d e A sael
d e D avi - as m uitas esp o sa s e filh os e os o c o r r e u e m p le n a luz d o dia, e to d o s a o
paren tes e m c a rgo s d e a u to rid a d e - criou r e d o r p o d e r ia m d ar te s te m u n h o d o q u e
in ú m eros p ro b le m a s a o rei. O s ilên c io d e havia o c o r r id o , e n q u a n to A b n e r fo i e n g a ­
D avi n ão fo i um a e x p re ss ã o d e c o n s e n tim e n ­ n a d o e le v a d o p a ra a e s c u r id ã o . A b is a i
to, p ois n ão c o n c o rd a v a c o m seu gen era l; a c o m p a n h a ra D avi até o a c a m p a m e n to d e
a n te s , f o i um s ilê n c io q u e d e m o n s tro u Saul e p resen ciara a o c a s iã o em q u e Davi
a u to c o n tro le e p ro fu n d o d e s e jo d e reunificar h a v ia s e r e c u s a d o a m a ta r Saul (1 Sm
a nação. D avi n ão qu eria p ro m o v e r a " p a z a 2 6 :6 ss), d e m o d o q u e sab ia q u e D avi ja ­
q u a lq u e r p r e ç o ", p o is era um h o m e m d e mais ap ro v a ria o assassinato d o gen era l d e
ntegrid ad e, mas n ão estava d isp o sto a d e i­ Saul. F ic a m o s im a g in a n d o se A b n e r m o r­
xar q u e seu gen era l im p etu o s o se lançasse reu p e n s a n d o q u e D avi e sta v a e n v o lv id o
ru m a c a m p a n h a d e v in g a n ç a p es so a l em na tram a para assassiná-lo.
306 2 S A MU E L 2:8 - 4:1 2

D a v i hom enageia A b n e r (vv. 28-39). ser rei, mas sim q u e era "c o n tid o e b o n d o ­
Q u a n d o D avi re c e b e u a n o tíc ia da m o rte s o ", c o n tra s ta n d o c o m o s s o b rin h o s " fo r ­
d e A b n er, n e g o u im e d ia ta m e n te q u a lq u e r tes". D avi havia e x p e r im e n ta d o a b o n d a d e
e n v o lv im e n to c o m o q u e seus d ois sobrin h os d e D eu s (2 2 :3 6 ) e te n to u tratar o s outros
haviam feito. C h e g o u a p o n to d e am a ld iço a r c o m o D e u s o h avia trata d o . S em dúvida,
a casa d e Joabe, cita n d o algum as das pra­ fo i lo n g e d em a is nessa a b o rd a g e m c o m rela­
gas s o b re as quais M o is é s havia a d v e rtid o ç ã o à p ró p ria fam ília (1 8 :5 ,1 4 ), m as fo i um
na alia n ça (D t 2 8 :2 5 -2 9 , 58-62). D avi pu b li­ h om em s e g u n d o o c o r a ç ã o d e D e u s (SI
c o u um é d ito real o r d e n a n d o q u e J o ab e e 103 :8 -1 4). T u d o o q u e lhe restava fa z e r era
seu e x é rc ito p ran teassem a m o rte d e A b n e r d e ix a r o ju lg a m e n to a o s c u id a d o s d o Se­
e q u e c o m p a r e c e s s e m a seu funeral. A e x ­ nhor, p ois e le nunca falha.
p res s ã o " t o d o o p o v o " é usada sete v e z e s
n os vers íc u lo s 3 1-37 e refe re -se a o s h o m en s 4. ISBOSETE, O FRACASSADO
d o e x é r c ito d e J o a b e (2 :2 8 ; 1 2 :2 9 ). D avi (2 S m 4:1-12)
lhes o rd e n o u q u e rasgassem as roupas, v e s ­ Se D avi c o n s id e ro u -s e fra c o e m d e c o rrê n ­
tis s em p a n o s d e s a c o e c h o ra s s e m p e la cia d o c o m p o r ta m e n to d e seus sobrinhos,
m o rte d e um gra n d e h o m e m , e o p ró p rio d e v e ria ter p e n s a d o na situ ação d e Isb osete
D avi a c o m p a n h o u o a ta ú d e a té o lo ca l d o d e p o is d a m o rte d e A b n er. P elo m en os, Davi
sep u ltam en to . P e lo fa to d e J o ab e e d e A b isai era um g ra n d e gu erreiro e um líder c o m p e ­
e s ta re m e n tre os p ra n te a d o re s o fic ia is , é ten te, e n q u a n to Is b o s ete n ão passava d e um
b e m p ro v á v e l q u e m u itos d o p o v o n em sou ­ fa n to c h e nas m ã os d e seu gen era l. A gora,
b es se m q u e e les eram o s assassinos. D avi seu gen eral estava m o rto. O s m e m b ro s das
n ão o s le vo u a ju lg a m e n to e, a o q u e p a re ­ tribos e m seu rein o sabiam q u e a m o rte d e
c e , suas d e c la r a ç õ e s nos v e rs íc u lo s 2 9 e A b n e r sign ificava o fim d o g o v e r n o d e seu
39 fora m ditas e m particu lar a seu c o n s e ­ rei e, sem dúvida, e sp eravam um a invasão
lho mais ín tim o . A in d a q u e os d ois irm ãos im ed ia ta d e D avi e d e seu e xército . O p o v o
n ão m e re c e s s e m , D avi e sfo rç o u -s e a o m á­ e m geral n ão sabia das in te n ç õ e s d e Davi
x im o para p ro te gê-lo s . n em d e seu e n c o n tro re c e n te c o m Abner.
Assim c o m o fe z na o c a s iã o d a m o rte d e Foi um dia d e angústia para Is b o s ete e seu
Saul e Jônatas, D avi escreveu um a e le g ia para povo.
h o m e n a g e a r o gen era l m o rto (vv. 33, 34, 38). O relato s o b re Baaná e R e c a b e fa z lem ­
D e ix o u claro q u e A b n e r não havia m o rrid o brar o am alequ ita e m 2 Sam uel 1, o h o m em
e m d e c o rrê n c ia d e algu m a in sen sa tez d e sua q u e a firm o u te r m a ta d o Saul. Esses d ois
p a rte e q u e, e m m o m e n to algu m d e sua h om en s, oficiais d e e s c a lã o in ferior d o exér­
carreira militar, havia sido p rision eiro. A b n e r cito d e Abn er, pensaram ser c a p a ze s d e c o n ­
fora a b a tid o p o r h o m en s p e rv e rs o s q u e o s egu ir re c o m p e n s a s e u m a p r o m o ç ã o d e
haviam e n g a n a d o . D avi ta m b é m h o m e n a ­ D avi c a s o m a tassem Is b o s e te . M a s assim
g e o u A b n e r sep u ltan d o -o na c id a d e real d e c o m o o am alequ ita, os d ois estavam en ga­
H e b ro m e m v e z d e levá-lo d e v olta a Benja­ nados. O ú n ico h erd eiro d o tro n o d e Saul
mim. P osterio rm en te, D avi disse a seus ser­ q u e s o b re viv e ra era um m e n in o a le ija d o d e
v o s mais p ró x im o s q u e A b n e r havia sido "u m d o z e an os d e id a d e c h a m a d o M e fib o s e te .
p rín cip e e gra n d e h o m e m ". A lé m disso, n o ­ Assim , se Baaná e R e c a b e m atassem o rei.
m e o u Jaasiel, o filho d e A b n er, go v ern a n te o c a m in h o estaria livre para D avi subir ao
s o b re a tribo d e Benjam im . tro n o e unir a n a çã o (v e re m o s M e fib o s e te
O la m en to d e D avi p o r si m e sm o , no outra v e z e m 2 Sm 9:1-13; 16:1-4; 19:24-30:
versícu lo 39, foi o u v id o p or seu "c írc u lo mais e 21:7, 8).
ín tim o " e s ele to e constituiu um a e x p ressã o Entraram na casa d o rei c o m a desculpa
d os p ro b le m a s d e D avi c o m a p ró p ria fam í­ d e q u e tinham id o buscar cereais para seus
lia. A palavra "fr a c o " n ão é um a in d ic a ç ã o h o m en s e m ataram o rei e n q u a n to este s t
d e q u e Davi n ão fo s s e fo rte o su ficien te para e n c o n tra v a a d o r m e c id o e vu ln erável. Se o
2 S A MU E L 2:8 - 4:1 2 307

assassinato d e A b n e r p o d e ser c o n s id e ra d o e x p ô -lo p u b lica m en te era a m a ior d e tod as


um c rim e h e d io n d o , esse h o m ic íd io fo i ain­ as h u m ilh a ções (D t 21:22 , 2 3). D avi p ro vi­
da pior, p ois o ú n ico "c r im e " d e Is b o s ete d e n c io u para q u e a c a b e ç a d e Isb o sete fo s ­
era ser filho d e Saul! N ã o havia tran sgred id o se sep u ltad a e m H e b ro m , n o s e p u lc ro d e
lei algu m a e n ã o te v e a c h a n c e d e se d e ­ A b n er, um a v e z q u e os d ois eram parentes.
fen d er. Seus assassinos s e q u e r m ostraram O s q u a tro "r e is " s o b re os quais Paulo
•esp eito p e lo c o r p o , um a v e z q u e o d e c a p i­ e s c re v e u e m R om a n o s 5 c e rta m e n te esta­
taram, a fim d e levar a c a b e ç a c o m o p ro va a vam e m a ç ã o nessas cen as d a v id a d e Davi.
D avi e d e r e c e b e r sua re co m p e n s a . M u ito O p e c a d o rein ou (5 :2 1 ) p o r m e io das m e n ­
□ ior fo i os d ois assassinos d iz e re m a D avi tiras d e h o m en s q u e se o d ia va m e q u e p ro ­
nue o S en h or o havia v in g a d o ! curaram destru ir uns a o s ou tro s. A m o rte
A resp osta d e D avi d eix o u claro qu e, em rein ou (5 :1 4, 1 7) c o m o e xterm ín io d e Asael,
- lo m e n t o algu m d e sua carreira, havia que- A b n e r e Is b o s e te , ju n ta m e n te c o m qu ase
□ rado o m a n d a m en to d e D eu s assassinan­ q u a tro ce n to s s o ld a d o s ab atid o s n o c o n flito
do algu ém a fim d e cum prir seus p ro p ó sito s n o a ç u d e d e G ib e ã o . P o ré m , a g ra ça d e
□ articulares. O S en h or o havia p ro te g id o e D eu s ta m b ém rein ou (5 :2 1 ), p ois o Sen h or
cu id ad o d e le durante os d e z an os d e exílio p ro te g e u D avi e p rev a le c eu s o b re os p e c a ­
e p or mais d e sete an os c o m o rei e m He- d os d o ser h um ano, a fim d e cum prir seus
□ rom. Assim c o m o f e z na m o rte d e Saul e p ro p ó s ito s divin os. " O n d e a b u n d o u o p e c a ­
fle A b n er, D avi d e ix o u b e m claro qu e, d e d o, su p erabu n dou a g ra ça " (5 :2 0 ). M as Davi
m o d o algum , estava e n v o lv id o no q u e havia "[re in o u ] e m v id a " (5:1 7) e d eix o u q u e D eus
□ corrid o. Teria sido fácil para os in im igos d e o c on tro la sse a o en fren tar situ a ções subse­
Davi c o m e ç a re m b o a to s d ifa m a d o res d e q u e qü en tes d e e m e rg ê n c ia . D avi agiu p e lo p o ­
o rei havia arq u iteta d o as duas m ortes a fim d er d e D eus, q u e atravessou to d as as crises
de abrir ca m in h o a o tro n o d e Israel. c o m e le e q u e o aju dou a ven cer.
O b e d e c e n d o às o rd e n s d o rei, os guar­ Em m e io aos p ro b le m a s e trib u lações d e
das m ataram o s d o is assassinos c o n fes s o s , h oje, o p o v o d e D eu s p o d e "rein ar e m vid a
c ortaram as m ã os e os pés d o s d o is e p e n ­ p o r m e io d e Jesus C risto " se nos en tre ga r­
sa ra m seus c o r p o s c o m o p ro va d a justi­ m os a ele, se esp era rm o s n ele e se crerm os
ça d o rei. M u tila r um c o r p o d e s s e m o d o e em suas prom essas.

0 tio-avô de Saul também tinha o nome "Baal" (1 Cr 9:36), e Mefibosete, filho de Jônatas, também era chamado de "Meribe-
Baal" (1 Cr 8:34).
Joabe era sobrinho de Davi, mas, ao que parece, Davi não exercia muito controle sobre ele (ver 3:39 e 18:5, 14). No final do
reinado de Davi, Joabe conspirou para tornar Adonias, filho de Davi, sucessor do rei; quando Salomão subiu ao trono,
ordenou que Joabe fosse executado por traição (1 Rs 2).
De acordo com 2 Samuel 1 7:25, Zeruia era meia-irmã de Davi. Se Naás era mãe de Abigail e de Zeruia, então era a segunda
mulher de Jessé. Se Naás era o pai, então teve Abigail e Zeruia e faleceu, e a esposa, cujo nome não é mencionado, casou-se
com Jessé. Quem quer que fosse, Zeruia sem dúvida teve três filhos extraordinários.
1 Crônicas 27:7 diz que Zebadias, filho de Asael, sucedeu o pai no comando de sua divisão.
2 Samuel apresenta um padrão interessante, no qual encontramos uma lista de nomes (de filhos ou oficiais) no final das
seções históricas: 1:1 - 3:5; 3:6 - 5:16; 5:17 - 8:18; 9:1 - 20:26.
Essa situação nos lembra da parábola do filho pródigo (Lc 15:11-32). Abner, o "soldado pródigo", voltava para casa, e Davi lhe
ofereceu um banquete. Joabe, o "irmão mais velho", poderia muito bem ter dito: "fui fiel a você e arrisquei minha vida; e, no
entanto, nunca me ofereceu um banquete!"
D avi para ser rei c e rc a d e vin te anos antes e
3 q u e era d a v o n ta d e d e D eu s q u e D avi subis­
se a o tro n o (2 Sm 5:2). A n a ç ã o p recisava
d e um pastor, e Davi era esse pastor (SI 78:70-
D a v i, o R ei de I sr a el 7 2). Saul havia sido " o rei e s c o lh id o p e lo
p o v o ", mas n ão a prim eira e s c o lh a d o Se­
2 S am u el 5 — 6 nhor, p ois D eu s o havia d a d o c o m o ju lga­

( V er também 1 C r ô n ic a s 3:4-8; m e n to con tra Israel p e lo fa to d e seu p o v o


q u erer ser c o m o as outras n a ç õ e s (1 Sm 8;
11:1-9; 13:5 - 16:3)
O s 13:11 ). O S en h o r am ava seu p o v o e sa­
bia q u e p recisava d e um pastor, d e m o d o
q u e p rep arou D avi para ser seu rei. A o c o n ­
ue v id a mais extraordin ária e variada trário d e Saul, um b en jam ita, D avi era da

S D avi te v e ! Q u a n d o era pastor, m atou


;ão e um urso, vitórias q u e o p rep ara­
ram para ab ater o giga n te G olias. D avi foi
s erv o d o rei Saul e torn ou-se a m ig o q u erid o
trib o real d e Judá (G n 4 9 :1 0 ), n ascid o e cria­
d o e m B elém . G raças a isso, p ô d e fundar a
dinastia q u e trou xe a o m u n d o Jesus Cristo,
o M essias, q u e ta m b ém nasceu e m Belém .
d e Jônatas, filho d e Saul. D urante c e rc a d e O s h o m en s reu n id os e m H e b r o m lem ­
d e z anos, v ive u c o m o e x ila d o n o d e s e rto braram D avi d e q u e p erten c ia à n a ç ã o c o m o
da Judéia, e s c o n d e n d o -s e d e Saul e a p ren ­ um to d o , n ão apenas à trib o d e Judá (2 Sm
d e n d o a con fia r c a d a v e z mais n o Senhor. 5:1). N o c o m e ç o d a carreira d e Davi, o p o v o
Esperou c o m p a c iên c ia q u e D eu s lhe d esse re c o n h e c e u q u e a m ã o d e D eu s estava so­
o tro n o p ro m etid o , m o m e n to q u e fin a lm en ­ bre ele, p ois o S en h or lhe deu su cesso em
te havia c h e g a d o . É p ela fé e p a c iên c ia q u e seus gran des feitos militares. H avia represen ­
o p o v o d e D eu s re c e b e a h eran ça das p ro ­ ta n te s d e to d a s as trib o s na re u n iã o em
m essas d o S en h o r (H b 6 :1 2 ), e D avi creu H e b ro m , e to d o s d eclararam c o m entusias­
e m D e u s nas s itu a çõ e s mais d ifíceis. H e r­ m o sua le a ld a d e a o n o v o rei (1 C r 12:23-
d ou um p o v o d ivid id o , mas, c o m a ajuda d e 4 0). U m total d e 3 4 0 .8 0 0 oficiais e outros
Deus, trou xe união e fe z d e Israel um rein o h o m en s c o m p a re c e ra m a essa reun ião, to ­
fo rte e p o d e ro s o . Estes cap ítu los d e s c re v e m d o s leais a Davi. Ficaram c o m Davi durante
os passos d e D avi a fim d e unir e fo rta le c e r três dias e c eleb rara m a b o n d a d e d e D eus a
a nação. seu p o v o .1
Israel fo i fu n d a d o c o m o n a ç ã o na alian­
1 . D a v i a c e ito u a c o r o a ça d e D eu s c o m seu p o v o , c o n fo r m e exp res­
(2 S m 5:1-5) s o na le i d e M o is é s , e s p e c ia lm e n t e erp
O assassinato d e Is b o s e te d e ix o u as o n z e D e u te r o n ô m io 2 7 - 30 e e m L e vítico 26. Se
tribos sem rei e sem um h erd eiro a o tron o o rei e o p o v o o b e d e c e s s e m à v o n ta d e de
d e Saul. A b n e r estava m o rto , mas havia p re­ Deus, e le os a b e n ç o a ria e cuidaria d eles, mas
p ara d o o ca m in h o para D avi ser p ro cla m a ­ se d e s o b e d e c e s s e m e a d o ra s s e m a falsos
d o rei das d o z e tribos (2 Sm 3 :1 7-21). N a deuses, o S en h or os disciplinaria. C a d a n o v o
seq ü ên cia, os líderçs d e tod as as tribos reu- rei d everia d eclarar a su p rem acia e a autori­
niram-se em H e b ro m e c o ro a ra m D avi c o m o d a d e d a lei d e Deus, p ro m e te r o b e d e c e r a
seu rei. ela e, a té m e sm o, fa z e r um a c ó p ia d essa le
A s q u a lifica çõ e s para o rei d e Israel e n ­ para seu u so p es so a l (D t 1 7 :1 8 -2 0 ). D a v
contravam -se escritas na lei d e M o is é s em entrou e m aliança c o m o S en h o r e c o m o
D e u te ro n ô m io 17:14-20. O p rim eiro e mais p o v o , c o n c o r d a n d o e m d e fe n d e r e o b e d e ­
im p o rta n te requ isito era ser algu ém e s c o lh i­ ce r à lei d e D eu s e reinar no te m o r d o Se­
d o p e lo S en h or d en tre o p o v o d e Israel, um nhor (v e r 1 Sm 10:1 7-25; 2 Rs 1 1 :1 7).
rei "q u e o Senhor, teu Deus, e s c o lh e r" (1 7:1 5, Quando D a v i e ra a d o le s c e n t e , h avia
20). O p o v o sabia q u e Sam uel havia u n gid o re c e b id o a u n ção d e Sam uel em particular
2 S A MU E L 5 - 6 309

1 Sm 16:13 ), e os an ciãos da tribo d e Judá e m u çu lm an os. P or c erto , n ascer e m Jerusa­


0 haviam u n gid o q u a n d o se torn ou seu rei lém era um a gra n d e h onra (SI 87:4-6).
aos trinta an os d e id a d e (2 Sm 2:4). N essa O S en h o r d e v e ter gu ia d o D avi d e m o d o
reunião e m H e b ro m , p o rém , os an ciãos d e e s p e c ia l na e s c o lh a d e Jerusalém para ser
to d o Israel ungiram D avi e p roclam aram -n o sua cap ital, p ois a c id a d e e x e rc e r ia p a p el
seu rei. Davi n ão era um am ador, mas sim e stra tég ic o n o d e s d o b ra m e n to d e seu gran­
um gu erreiro e x p e rie n te e um líder c o m p e ­ d e p lan o d e salvação. D eu s havia p ro m eti­
te n te q u e , sem d ú v id a alg u m a , p o s s u ía a d o ao s israelitas indicar um lugar para o n d e
b ê n ç ã o d e D eu s s o b re sua v id a e m inisté­ p o d e ria m se dirigir a fim d e ad orar ao Se­
rio. D e p o is d e passar p or an os d e turbulên­ nh or (D t 12:1-7), e é b e m p ro vá vel q u e tenha
cia e d e d ivisão, a n a ç ã o tinha, fin alm en te, re v e la d o a D avi q u e esse lugar era Jerusa­
um rei e s c o lh id o p o r D eu s e p e lo p o v o . D eus lém . P osterio rm en te, Davi adquiriu em Sião
leva te m p o para p rep arar seus líderes, e é a p r o p r ie d a d e o n d e o te m p lo seria c o n s ­
lam en tá vel q u a n d o a lg u é m "a lc a n ç a o su­ truído p o r seu filho, S a lo m ã o (2 Sm 24). A
c e s s o " antes d e estar pronto. Igreja c o n s id e ra a Jerusalém aqui da terra
um a c id a d e d e s erv id ã o legalista, mas v ê a
2. D a vi es t a b e l e c e u u m a n o v a c a pit a l Jerusalém celestial c o m o s ím b o lo da alian­
12 S m 5:6-10; 1 C r 11:4-9) ça da gra ça em Cristo Jesus (G l 4 :2 1 -3 1 ) e o
A bner e Is b o s e te haviam e s ta b e le c id o sua lar eterno do povo de Cristo (H b 12:18-24;
capital e m M a a n a im (2 Sm 2:8), d o o u tro A p 21 - 2 2). D eu s c o lo c o u seu Rei n o tron o
lad o d o rio Jordão, na fron teira en tre G a d e (SI 2 :6 ) e, um dia, falará em sua ira e julgará
e M an assés, e n q u a n to a ca p ita l e s c o lh id a os q u e se o p u s e re m a e le e a sua v erd a d e .
p o r D avi havia s id o H e b r o m , na trib o d e O s jebu seu s q u e v ivia m e m Jerusalém
ludá. P orém , n en h u m a dessas c id a d e s era acreditavam q u e sua c id a d e la era in ven cível
a d e q u a d a para o n o v o rei, q u e p ro cu rava e q u e até c e g o s e c o x o s eram c a p a ze s d e
reu n ir a n a ç ã o e c o m e ç a r d e n o v o . D avi d efen d ê-la , d e c la ra ç ã o ja c ta n cio s a q u e irou
d em on strou s a b ed o ria a o e s c o lh e r c o m o sua Davi. Ele sabia q u e o S en h o r havia p ro m eti­
capital a c id a d e d e Jerusalém, p e rte n c e n te d o a M o is é s q u e Israel con qu istaria to d as as
aos jeb u seu s e lo c a liza d a na fronteira entre n a ç õ es d e Canaã, in clusive os jeb u seu s (Ex
B enjam im (a trib o d e Saul) e Judá (a trib o d e 23 :2 3 , 24; D t 7:1-2; 2 0 :1 7 ), d e m o d o qu e
D avi). Jerusalém n ão havia p e rte n c id o a n e­ p lan ejou seu ataq u e p ela fé. D avi p ro m eteu
nhum a das tribos, d e m o d o q u e n in gu ém a o h o m e m q u e entrasse na c id a d e e q u e a
o d e ria acusar D avi d e favoritism o na insti­ subjugasse o c o m a n d o d e seu e x é rc ito e até
tuição d e sua n o va capital. m e s m o ex p lic o u c o m o isso d e v e ria ser fe i­
A s c o n s id e ra ç õ e s p olíticas eram im p o r­ to: su b in d o p e lo canal d e água. Joabe, s o ­
tantes, mas ta m b ém e m term o s d e segu ran ­ brinho d e D avi, a c e ito u o d esa fio , to m o u a
ça e d e to p o gra fia , Jerusalém era a c id a d e c id a d e e torn ou -se c a p itã o d o s s o ld a d o s d o
ideal para um a capital. C on struída s o b re um rei. E s c a v a ç õ e s re a liz a d a s n o m o n te S ião
m o n te ro c h o s o e c e rc a d a d e três lad os p or m ostram q u e era difícil, p o ré m n ão im p ossí­
■ales e m on tes, a única p arte vu ln erável da v el, subir p o r e s s e can al. D avi o c u p o u o
c id a d e era sua fa c e N o rte. A o sul fica va o m o n te e ch a m o u a p arte Sul d e "c id a d e d e
■ale d e H in o m , a leste, o v a le d o C e d r o m e D avi". N o s an os su b seqü en tes, D avi e seus
a o es te , o v a le T iro p e o m . "S eu santo m on te, su cessores reforçaram o baluarte constru in­
Delo e s o b ra n c e iro , é a a le g ria d e to d a a d o muralhas.
terra; o m o n te Sião, para os lad os d o N o rte, A palavra " M ilo " (v. 9) sign ifica "p le n itu ­
a c id a d e d o gra n d e R ei" (SI 4 8 :2 ). "D e s d e d e " e se re fe re a o aterro fe ito c o m pedras
Sião, e x c e lê n c ia d e form osu ra, re sp la n d ec e na fa c e sul d o m o n te para a p o ia r mais c o n s ­
D e u s " (SI 5 0 :2 ). O p o v o d e Israel s em p re tru ções e um a muralha. O s a r q u e ó lo g o s d e ­
am ou a c id a d e d e J erusalém , e, h o je e m senterraram um a estrutura esc a lo n a d a c o m
3Ía, ela é re ve re n cia d a p o r judeus, cristãos c e rc a d e qu in h en tos m etros d e c o m p rim e n to
310 2 S A MU E L 5 - 6

e trez en to s d e largura, q u e servia d e terraço várias esp osa s para si, mas, a o q u e p arece,
d e a p o io para outras con stru çõ es; s u p õe m D avi d es c o n s id e ro u essa lei, c o m o ta m b ém
q u e seja, ju stam ente, "M ilo ". Tanto S a lo m ã o o f e z S a lo m ã o d e p o is d e le (1 Rs 4 :26; 11:1-
qu an to o rei E zequias fortificaram essa par­ 4). P e lo m e n o s um a das e sp o sa s d e D avi
te d o m o n te Sião (1 Rs 9:1 5, 24; 1 1 :27; 2 Cr era um a p rin cesa (3 :3 ), o q u e in dica q u e esse
32:5). A b ê n ç ã o d e D eu s estava s o b re Davi, c a s a m e n to re a lizou -se e m fu n ç ã o d e um a
p e rm itin d o qu e p rosp erasse e m tu d o o q u e a lia n ça p olítica , e, sem d ú vida , h o u v e o u ­
se dispunha a fa ze r p o r seu p o v o . tras un iões sem elh an tes. Essa era um a das
E p ro vá vel q u e ten h a sido nessa é p o c a form as d e c o n s o lid a r as re la ç õ e s d ip lo m á ti­
q u e D avi levo u a c a b e ç a d e G o lia s para Je­ cas c o m outras n ações.
rusalém c o m o lem b ran ça d a fid e lid a d e d e A s Escrituras ap resen ta m qu atro listas dos
D eu s para c o m seu p o v o (1 Sm 17:54). filhos d e Davi, q u e n asceram e n q u a n to ele
rein ou e m H e b r o m (2 Sm 3:2-5) e d e p o is
3. D a v i fez a lia n ç a s p o lític a s q u e se m u dou para Jerusalém (5 :1 3 -1 6; 1 Cr
(2 S m 5:11-16; 1 C r 3:5-9; 14:1-7) 3:1-9; 14:4-7). Sua prim eira e s p o s a fo i M ical,
Israel era um a n a çã o p e q u e n a q u e se distin­ filha d e Saul (1 Sm 18:27 ), q u e n ão te v e fi­
gu ia d o s v iz in h o s p o r seu re la c io n a m e n to lh o s (2 Sm 6 :2 3 ). Em H e b r o m , A in o ã d e
e sp ec ia l d e aliança c o m o v e rd a d e iro D eus Jezreel deu à luz A m n o m , o p rim o g ê n ito d e
v iv o (N m 23:7-10), e os israelitas foram ad ­ Davi (3 :2 ); A b iga il, a viú va d e N abal, d eu à
vertid o s a n ão fa z e r c o m seus vizin h os alian­ luz Q u ile a b e ou D a n iel (3 :3 ); d a p rin cesa
ça s p o lít ic a s q u e c o m p r o m e t e s s e m seu M a a c a , n asceu A b s a lã o (3 :3 ) e sua irmã,
testem u n h o. A m e n o s q u e ten h a sido su c e ­ Tam ar (1 3 :1 ); H a g ite deu à luz A d o n ia s (3:4);
d id o p o r um rei d e m e s m o n o m e, H irã o p ro ­ d e A bital n asceu Sefatias (3 :4 ); e Eglá d eu à
va v e lm e n te iniciava seu rein a d o s o b re Tiro, luz Itreão (3 :5 ). Em Jerusalém, Bate-Seba te v e
pois m a n teve re la ç õ e s am igáveis tanto c o m qu a tro filh os c o m D avi (1 Cr 3 :5 ): Sim éia
D avi qu a n to c o m S a lo m ã o durante os reina­ (o u Sam á), S o b a b e , N a tã e S a lo m ã o . Suas
d os d e a m b o s (1 Rs 5). outras esposas, cu jos n o m es n ão são m en ­
É b e m p ossível q u e o p a lá c io d e D avi c io n a d o s (1 Cr 3:6-9), d era m à luz Ibar, Eli-
ten h a sido con stru íd o d e p o is d e sua c a m p a ­ sama, Elifelete (o u E lpelete), N o g á , N e fe g u e .
nha militar b em -su ced id a con tra os filisteus Jafia, Elisama, Eliada (o u B eeliada; 1 C r 14:7
(1 Rs 5:1 7-2 5 ) e p o d e ter sido a fo rm a d e e E lifelete.2
H irã o r e c o n h e c e r a as c en s ã o d e D avi a o tro ­ D a v i ta m b é m g e r o u filh o s c o m suas
no. Sem dúvida, o rei fe n íc io ta m b ém a p re ­ con cu b in as, d e m o d o q u e te v e um a fam ília
ciou o fa to d e D avi ter d e rro ta d o os filisteus, grande. N ã o é d e se adm irar q u e alguns d eles
seus in im igos b eligeran tes. D o p o n to d e vis­ te n h a m se e n v o lv id o e m d iversa s intrigas
ta prático, os fen íc io s p recisavam m anter um palacianas e cau sad o tristezas profu ndas ao
b o m re la c io n a m e n to c o m os israelitas, pois rei. A lei afirm ava cla ra m en te q u e o rei não
Israel p o d e r ia fa c ilm e n te b lo q u e a r a rota d ev eria ter muitas esposas, mas tan to Davi
c o m erc ia l d e T iro e os fen íc io s d e p e n d ia m qu a n to S a lo m ã o ignoraram esse p receito , e
d o s lavradores israelitas para lhes fo r n e c e r os d ois p aga ram c aro p o r sua d e s o b e d iê n ­
alim en to (v e r A t 12:20 ). D avi in terpretou a cia. T u d o in dica q u e algum as das esp osas
g e n tile z a d e H irã o c o m o m ais um a p ro va c o m o M a a c a , re p res en ta v a m alian ças que
d e q u e o S en h or havia, d e fato, e s ta b e le c i­ D avi havia fe ito c o m reis v izin h os a fim de
d o seu tro n o e m Israel. ajudar a garantir a segu ran ça d e Israel.
A s re fe rê n cia s a o p a lá c io d e D avi e à
sua alia n ça c o m H irã o p ro p o rc io n a ra m a o 4. D a v i d e r r o t o u o s filisteus
e sc rito r a o p o rtu n id a d e d e m e n c io n a r a fa ­ (2 S m 5:17-25; 1 C r 14:8-17)
m ília d e D avi, a "c a s a " q u e o S en h o r estava Enquanto D avi estava q u ieto e m seu can to
e d ific a n d o para e le (SI 1 27 ). D e u te r o n ô m io e m H e b ro m , os filisteus pen saram q u e c o n ­
1 7 :1 7 p ro ib ia q u e o rei d e Israel to m a ss e tin u ava s e n d o um d e seu s v a s sa lo s , mas
2 S A MU E L 5 - 6 311

q u a n d o se to rn o u rei d e to d o o Israel, os Sen h or lhe deu a vitória. O q u e foi o estron ­


filisteus viram q u e era seu in im igo e parti­ d o no to p o das árvores? A p e n a s o ven to ?
ram para o ataqu e. É b e m p ro vá ve l q u e es­ A n jo s (SI 104:4)? D eu s c h e g a n d o para c o n ­
ses ataqu es ten h am o c o r r id o antes d e D avi duzir seu p o v o à vitória? A estratégia fu n c io ­
m u dar-se para J erusalém , p o is e le e seus nou, e D avi persegu iu o in im igo d e s d e G e b a
h o m en s estavam na "fo r ta le z a " (2 Sm 5:1 7), até G e z e r, um a distância d e q u ase vin te e
uma re g iã o no d e s e rto o n d e e le havia vivi­ c in c o qu ilô m etro s. C o m essa vitória, Israel
d o no te m p o e m q u e Saul estava d e c id id o a recu p e ro u o território q u e Saul havia p erd i­
m atá-lo (1 Sm 2 2:4; 2 3 :1 3 ,1 4 ).3 D avi r e c e ­ d o e m sua últim a batalha. Em cam p an h as
b eu a n o tíc ia da a p ro x im a ç ã o d o e x é rc ito subseqü en tes, Davi ta m b ém to m o u d e v o l­
filisteu, m a n o b ro u seus s o ld a d o s ra p id am en ­ ta as cid a d e s q u e os filisteus haviam tirado
te e e n c o n tr o u o s in v a s o r e s n o v a le d e d e Saul (2 Sm 8:1; 1 Cr 18:1). D avi travou
R efaim , b em p ró x im o a Jerusalém. diversas batalhas c o m os filisteus, e D eu s lhe
C o m o e m outras o ca siõ e s, D avi con sul­ d eu vitórias segu idas (2 Sm 21:15 -2 2).
tou o S en h or a o planejar seu ataqu e, p ro va ­ H avia m uito te m p o , o p o v o r e c o n h e c e ­
v e lm e n te p o r m e io d o U rim e d o Tum im ou ra q u e D avi era um gu erreiro hábil e valente,
p e d in d o q u e o p ro fe ta G a d e b u scasse sa­ e essas duas vitórias trou xeram mais glória a
b er a v o n ta d e d e Deus. D e p o is d e re c e b e r D eu s e h onra a seu serv o . A o d errotar os
d o S en h or a garantia d e q u e e le daria a v itó ­ filisteus, D avi m a n d ou um a m e n sa g em aos
ria a Israel, D avi e n c o n tro u os filisteus p o u ­ in im igos d e Israel: d ev eria m ter c u id a d o c o m
c o mais d e três q u ilô m etro s a s u d oe s te d e o qu e fa zia m a e le e a seu p ov o .
Jerusalém e forço u -o s a recuar. O s inim igos
saíram d o c a m p o d e batalha c o m tanta pres­ 5. D a v i m u d o u a a r c a d a a lia n ç a de
sa q u e d eixaram seus íd o lo s para trás, e D avi lu g a r (2 S m 6:1-23; 1 C r 13:1-13;
e seus h o m en s q u eim a ra m essas im agen s. 15:1 - 16:3)4
O s filisteus tinham c e rte z a d e q u e a p resen ­ A arca d a alian ça d e v e r ia p e r m a n e c e r no
ç a d e seus d eu se s lhe garantiria a vitória, Santo d o s Santos d o ta b ern ácu lo , pois sim­
mas estavam e n g a n a d o s. D avi d eu to d a a b o liz a v a o tro n o g lo rio s o d e D eu s (SI 80:1;
glória a D eu s e ch a m o u o local d e Baal-Pe- 99:1). N o en tan to, p o r mais d e setenta anos,
razim, q u e sign ifica " o S en h o r q u e ro m p e ". a arca n ão fico u n o santuário d o S en h or em
A lgu n s com en taristas acred itam q u e foi Siló. O s filisteus capturaram a arca q u a n d o
nessa o c a s iã o q u e os gu erreiro s d e G a d e Eli era ju iz (1 Sm 4 ) e, d ep o is, a d e v o lve ra m
juntaram -se a o e x é rc ito d e D avi (1 Cr 12:8- aos israelitas p o r causa d o ju lg a m e n to q u e
15) e qu e, ta m b ém , três d os "v a le n te s " d e o S en h or en v io u s o b re o p o v o filisteu. Pri­
D avi ro m p era m as linhas filistéias e c o n s e ­ m eiro, a arca fo i leva d a a B ete-S em es e, em
guiram a água d o p o ç o d e B elém para D avi segu ida, a Q u iriate-G earim , o n d e fico u guar­
,2 Sm 23:13 -1 7; 1 Cr 11:15-19). Essa fa ç a ­ d a d a na casa d e A b in a d a b e (1 Sm 5:1 - 7:1).
nha exigiu um b o c a d o d e c o r a g e m e d e fé, D o is sum os s a c erd o te s - Z a d o q u e e A im e-
e o q u e esses s o ld a d o s fize ra m fo i a resp o s­ le q u e (2 Sm 8 :1 7 ) - ministraram durante o
ta a um desejo do coração de Davi, n ão a rein ad o d e D avi, e é possível q u e um d ele s
um a o rd e m vin d a d e sua b o c a . Foram bus­ servisse n o santuário e m Siló, d e p o is trans­
car a águ a p o r q u e am avam seu rei e d es eja ­ fe rid o para G ib e ã o (2 Cr 1:1-6), e n q u a n to o
vam lhe agradar. Q u e e x e m p lo para nós! o u tro ministrava na c o r te e m Jerusalém. Davi
O s filisteus voltaram a lutar con tra Davi, ergu eu um a ten d a para a arca na C id a d e d e
e, mais um a v e z , D avi bu scou a v o n ta d e d o Davi, mas a m o b ília d o ta b e rn á c u lo só foi
Senhor. A o con trá rio d e Josué d e p o is da vi­ transferida para Jerusalém d e p o is q u e Salo­
tória e m Jericó (Js 6 - 7), D avi n ão partiu d o m ã o term in ou a c on s tru çã o d o te m p lo (1 Rs
p ressu p osto d e q u e a m esm a estratégia fun­ 8:1-4; 2 Cr 5:1-5).
c io n a r ia n o v a m e n t e . D e u s lh e f o r n e c e u A primeira tentativa (6:1-11). Por qu e D a­
ou tro p la n o d e batalha, e le o b e d e c e u , e o vi qu eria a arca e m Jerusalém? Em p rim eiro
312 2 S AMU E L 5 - 6

lugar, d es eja va honrar a o S en h or e lhe dar o p eç a s mais im p orta n tes d e sua m o b ília d e ­
lugar q u e lhe era d e v id o c o m o Rei d e Israel. veriam ser carrega d a s s o b re os o m b ro s d os
N o e n ta n to , D avi ta m b é m nutria e m seu levitas, d e s c e n d e n te s d e C o a te (vv. 9-20).
c o r a ç ã o o d e s e jo s e c re to d e constru ir um Q u a n d o usaram um carro d e b oi n o vo , se­
santuário para o Sen h or (v e r 2 Sm 7; SI 132:1- guiram o e x e m p lo d os p a g ã o s filisteus (1 Sm
5), e o p rim eiro passo para isso era levar a 6), n ão as instruções transm itidas p or M o is é s
arca à capital. D avi sabia q u e o S en h or d e ­ n o m o n te Sinai.
sejava ter um santuário central (D t 12:5, 11, T e m o s aqui um a lição bastante clara: a
21; 14:23, 24; 16:2, 6, 11; 2 6 :2 ) e sua e s p e ­ o b ra d o S en h or d e v e ser feita à m aneira d o
rança era q u e D eu s lhe p erm itisse construir Sen h or; d o con trário, n ão terá sua b ên ç ã o .
e ss e lugar. O s o n h o d e D avi n ão se realizou , O fa to d e to d o s o s líderes d e Israel c o n c o r­
mas e le c o m p ro u o te rren o o n d e o te m p lo darem q u e fo s s e usado um carro d e b oi n ão
fo i con stru íd o (2 Sm 2 4 :1 8ss) e fo r n e c e u o le g itim iza v a essa prática. Q u a n d o p areceu
p ro jeto, os recu rsos e os m ateriais n ecessá­ q u e a arca iria cair d o carro, U z á te v e a o u ­
rios para a c on s tru çã o (1 Cr 28 - 2 9 ). sadia d e segurá-la e m orreu . P orém , D eus
S em dúvida, ta m b ém havia um m o tiv o havia a d v e rtid o s o b re essa q u es tã o na lei d e
p o lític o para transferir a arca para Jerusalém, M o is é s e, p o r c erto , to d o israelita c o n h e c ia
p o is e la s im b o liz a v a "u m a n a ç ã o , s o b o a lei (N m 1:51; 4 :15, 2 0). N ã o há e v id ê n c ia
g o v e r n o d e D eu s". D avi e n v o lv e u to d o s os a lgu m a d e q u e A b in a d a b e fo s s e um levita
líd eres mais im p ortan tes d e Israel n o p la n e­ n em d e q u e seus filhos, U z á e A iô , fossem
ja m e n to d es se e v e n to e en v io u um c o n v ite s e q u e r q u a lific a d o s a fica r p e r to d a arca
geral aos s a c erd o te s e levitas, para q u e fos ­ qu a n to mais tocá-la. M ais q u e depressa, Davi
sem a Jerusalém. "R euniu, pois, D avi a to d o p ro v id e n c io u para q u e a arca fo s s e leva d a
o Israel, d e s d e Sior d o Egito até à entrada à casa d e um levita c h a m a d o O b e d e -E d o m
d e H am ate, para trazer a arca d e D eu s d e (1 Cr 15:18, 21, 24; 16:5; 26:4-8, 15), loca!
Q uiriate-Jearim " (1 Cr 13:5). H a m a te m arca­ o n d e ela p e rm a n e c e u p o r três m eses.
va a fronteira d o e x tre m o N o r te da terra d ad a N o in ício d e n o vo s p e río d o s da história
p o r D eu s a Israel (N m 3 4:8). D avi tinha es­ bíblica, p o r v e z e s , D eu s m anifestava seu jul­
p eran ças d e q u e as d ivisõ es passadas e as g a m e n to d e m o d o a lem brar seu p o v o d e
d iferen ças en tre as tribos fossem e sq u ecid as, q u e um a coisa n ão m uda: o p o v o d e Deus
e n q u a n to o p o v o se co n c en tra v a n o Senhor. d e v e o b e d e c e r à Palavra d e D eu s. D e p o is
A p res e n ç a d a arca sign ificava a p res e n ç a q u e o ta b ern á cu lo fo i e rg u id o e q u e o mi­
d e D e u s , a q u a l s ig n ific a v a s e g u r a n ç a e nistério sacerd o ta l fo i o rd e n a d o , N a d a b e e
vitória. A b iú , filh o s d e A rã o , m orrera m p o r terem
P orém , um a c o is a fic o u fa lta n d o : D avi te n ta d o aproxim ar-se in d e v id a m en te d o sar-
n ão con sultou o S en h o r s o b re esse assunto. tuário le va n d o c o n s ig o " f o g o e stran h o " (Lv
A m u d a n ça d a arca para Jerusalém p a re cia 10). Q u a n d o Israel entrou na terra d e C a n a i
um a id é ia sen sata , e to d o s c o n c o r d a r a m e c o m e ç o u a con q u istá-la , D eu s o r d e n c j
c o m entusiasm o, m as o rei n ão seguiu seu q u e A c ã fo s s e e x e c u ta d o p o r d e s o b e d e c r
c o s tu m e d e p ed ir q u e o S en h or o o rien tas­ e to m a r para si d e s p o jo s d e Jericó (Js 6 - '
se. Afinal, aq u ilo q u e agrad a o rei e o p o v o N o s c o m e ç o s d a Igreja d o N o v o Testam en­
p o d e n ão ser, n ecessaria m en te, aq u ilo q u e to, Ananias e Safira foram m o rtos p or m f
é agrad ável a D eus, e se n ão é a grad ável ao a D eu s e a seu p o v o (A t 5). A qui, no c o m e ­
Senhor, n ão te m sua b ê n ç ã o . A prim eira ten ­ ç o d o re in a d o d e D avi e m Jerusalém, D e'.s
tativa d e D avi foi um terrível fracasso, pois lem b rou os israelitas d e qu e, a o servi-lo, t í -:
os levitas n ão levaram a arca s o b re os o m ­ d ev eria m imitar outras n ações, p ois n ecess-
bros. D eu s havia d a d o in stru ções e s p e c ífi­ tavam s o m e n te d a sua Palavra.
cas, p or in te rm é d io d e M o is é s, s o b re c o m o A Igreja d e h o je p recisa dar o u v id o s a
o ta b ern á cu lo d ev eria ser e rgu id o , d e s m o n ­ essa lem b ran ça e voltar à Palavra d e Deus i
ta d o e tran sp orta d o (N m 4), s e n d o q u e as fim d e c o m p r e e n d e r qual é a v o n ta d e «
2 S A MU E L 5 - 6 313

Senhor. N ã o há u n ião o u en tu siasm o q u e a essa altura D avi a d o ra v a c o m o rei e sa­


co m p e n se a d e s o b e d iê n c ia . N ã o é possível, c e r d o te e m Jerusalém . A p ro cis sã o fo i a c o m ­
□i- m o d o algum , esp erar a b ê n ç ã o d e D eus p an h ad a p o r levitas to c a n d o in strum en tos
□ uando sua o b ra é feita d e a c o rd o c o m pa­ m usicais e e n to a n d o c â n tic o s d e lo u v o r a o
drões h u m an os e q u a n d o se imita o m u n d o Senhor.
2 m v e z d e o b e d e c e r à Palavra. P o d e ser q u e A d a n ça d e D avi fo i p essoal e sincera,
o d o o p o v o a p ro v e o q u e fa ze m o s , mas e feita dian te d o S en h or a o c ele b ra r a c h e g a ­
□ uanto à a p ro v a ç ã o d e D eus? O s p a d rõ es da d e sua p re s e n ç a na capital. E p ro vá ve l
m undanos, e m últim a análise, term in am em q u e alguns d o s salm os (24, 47, 68, 95, 99,
m orte. 105, 106, 132; v er 1 Cr 1 6:7-36) reflitam seus
A segunda tentativa (6:12-19). Q uando p en s a m e n to s e sen tim en tos nessa oca siã o .
D iv i fico u s a b e n d o q u e a p res e n ç a da arca N a A n t ig u id a d e , a d a n ç a d e s e m p e n h a v a
estava tr a z e n d o b ê n ç ã o s s o b re a casa d e p a p e l im p o rta n te ta n to nos cu lto s p a g ã o s
O b ed e-E d o m , d e s e jo u q u e e le p ró p rio e seu qu an to na a d o ra ç ã o em Israel (SI 1 4 9 :3 ) e
do v o fossem a b e n ç o a d o s . A arca d ev eria fi­ ta m b ém na c o m e m o r a ç ã o d e o c a s iõ e s es­
car na ten d a e rgu id a p ara e la em Jerusalém. p ec ia is c o m o c a s a m e n to s, re u n iõ es d e fa ­
U m a v e z q u e 1 e 2 C rôn icas foram escritos mília (L c 1 5 :2 5 ) e vitórias m ilitares (Jz 1 1 :34).
■ou p o n to d e vista sacerd otal, o relato d a se­ N o rm a lm e n te , eram as m u lheres q u e d an ­
gunda tentativa é b e m mais c o m p le to d o qu e ç a v a m e c a n ta v a m d ia n te d o S e n h o r (Êx
d re gis tro d e S am u el (1 C r 15:1 - 16:3). 15:20, 21; 1 Sm 18:6; SI 6 8:24 -2 6): qu a n d o
.Dessa v e z , D avi estava d e te rm in a d o a reali­ as dan ças eram re alizad as p o r p esso a s d e
zar a o b ra d e D eu s à m aneira d e D eu s e, a m b o s os sexos, os h o m en s fica va m sep ara­
portan to, e n v io u os levitas à casa d e O b e d e - d os das m ulheres. A s dan ças religiosas são
Edom, a c e rc a d e d e z e s s e is q u ilô m etro s d e m e n c io n a d a s ou fic a m s u b e n te n d id a s a o
lerusalém , e eles levaram a arca para Jerusa- lo n g o d o Livro d e S alm os (2 6 :6 , 7; 30:11 ;
;m s o b re os o m b ro s. Para certificar-se d e 4 2 :4 ; 150:4).
q u e o S en h or n ã o enviaria o u tro ju lgam en to , O N o v o T es ta m en to n ão ap resen ta qual­
d ep ois d os seis p rim eiros passos q u e deram , q u er e v id ê n c ia d e q u e a d an ca tosse um a
os levitas pararam, e os sa c erd o te s o fe re c e - "fo rm a artística d e a d o r a ç ã o " usada na sina­
„m um b o i e um n ovilh o c e v a d o . Q u a n d o g o g a ju d aica ou na liturgia d a Igreja prim iti­
o S en h or n ão irrom p eu e m ju lg a m e n to , tive- va. O s g re g o s in troduziram a d a n ça n o culto
-am c e rte z a d e q u e aq u ilo q u e estavam fa ­ da Igreja d e p o is d a era d os a p ó sto los , mas
z e n d o era agrad ável a D eu s (1 C r 1 7 :2 6 ).5 essa p rática levo u a sérios p ro b le m a s m o ­
Q u a n d o a p ro cissã o c h e g o u à ten da e m Je­ rais e a c a b o u s e n d o p roibid a. Era difícil para
rusalém, os s a c erd o te s o fe re c e ra m mais ca­ as c o n g r e g a ç õ e s fa z e r e m d is tin ç ã o e n tre
to rz e sacrifícios (1 Cr 15:26). "d an ças cristãs" e dan ças realizad as e m h o ­
D avi d a n ço u c o m gra n d e entu siasm o em m e n a g e m a um a d eu sa ou deu s p a gã o , d e
a d o ra ç ã o p era n te o Senhor, vestin d o-se para m o d o q u e a Igreja ab oliu essa prática, e, p o s ­
a o ca siã o c o m um a e stola sacerd otal d e linho te r io r m e n te , o s p a tria rc a s e c le s iá s t ic o s a
lv. 14). P osterio rm en te, sua e s p o s a acusou- c o n d e n a ra m .
o d e exp o r-se d e m o d o v e r g o n h o s o (v. 20), Q u a n d o a arca encon trava-se a c o m o d a ­
mas d e a c o rd o c o m 1 C rôn icas 15:27, e le da e m segu ran ça na tenda, D avi a b e n ç o o u
ta m b ém usava um m a n to real sob a estola. o p o v o (o u tro ato s a c erd o ta l) e distribuiu en ­
\pesar d e não ser da tribo d e Levi, Davi atuou tre to d o s um a p o r ç ã o d e p ã o e c arn e (ou
tan to c o m o rei q u a n to c o m o s a c e rd o te - vin h o ) e um b o lo d e passas. M ais um a v ez ,
,m retrato d e Jesus, o Filho d e Davi, q u e e x e r­ isso nos traz à m e m ó ria a im a g e m d o rei-
c e essas duas fu n ç õ e s "s e g u n d o a o rd e m .a c e rd o te M e lq u is e d e q u e , q u e v e io de
d e M e lq u is e d e q u e " (H b 6 :2 0 - 8 :1 3; SI 110). Salém e d eu p ão e vin h o a A b ra ã o (G n 14:18,
N o te m p o d e A b ra ã o , M e lq u is e d e q u e era 19). P orém , q u a n d o D avi v olto u p ata casa a
rei e s a c e rd o te d e Salém (G n 14:17 -2 4), e fim d e a b e n ç o a r sua fam ília, d esco b riu q u e
314 2 S A MU E L 5 - 6

a e s p o s a se e n v e rg o n h o u d e le e até m e sm o palavras, D avi n ã o p rec is a v a d o c o n s e lh o


o d e s p r e z o u p o r te r d a n ç a d o c o m ta n to espiritual d a filha carnal d e um rei destitu íd o
en tu siasm o e m p ú b lico (vv. 16, 20-23). E in­ e d es o n ra d o . T a lv e z M ica l n ão tivesse gos­
teressan te o b s e rv a r qu e, d e a c o rd o c o m o ta d o d a q u ilo q u e D avi disse s o b re a negli­
texto, M ica l viu " o rei D a v i" (v. 16), n ão "seu g ê n c ia d e Saul em re la ç ã o à arca (1 Cr 13:3).
m a rid o ", e q u e ela é c h a m a d a d e "filh a d e D avi am ava M ica l e a quis d e v o lta qu a n d o
Saul" (v. 20), n ão d e "e s p o s a d e D avi". A o se to rn o u rei (2 Sm 3 :1 2-16), mas o am or
dirigir-se a D avi, M ica l usou a terceira p es ­ p o d e ser fa c ilm en te m a g o a d o q u a n d o m e ­
soa (" Q u e b ela figura fe z o rei d e Israel"), n os se espera.
não a s egu n d a p esso a , mais íntim a, e seu M ica l disse q u e D avi havia se humilha­
d iscu rso fo i e x t r e m a m e n te sarcástico . Foi d o dian te d o p o v o , mas D avi re sp o n d e u a
um a gra n d e in fe lic id a d e o dia tão a le g re d e essa ac u s a ç ã o d iz e n d o q u e e la seria ainda
c e le b r a ç ã o d e D avi ter e n c e rra d o c o m a re­ mais h um ilh ada e, d a q u e le dia e m diante,
c e p ç ã o cruel e insensível d a p rópria esp osa . d eix o u d e lhe c o n c e d e r seus p rivilé gio s c o n ­
M u ita s v e z e s , p o r é m , os s e rv o s d e D e u s jugais. N a q u e le te m p o , n ão ter filhos era uma
passam ra p id am en te da m on tan h a d a glória gra n d e h u m ilh ação para um a esp osa , e s p e ­
para o v a le das som bras. c ia lm e n te se o m a rid o a rejeitava. Porém , a
N ã o há e v id ê n c ia algu m a d e q u e D avi e s te rilid a d e d e M ic a l fo i um a b ê n ç ã o d o
fo s s e c u lp a d o d e q u a lq u e r das a c u s a ç õ e s S en h or, p o is e v ito u que a fam ília d e Saul
d e M ica l. Vestiu-se d e m o d o a p ro p riad o , n ão tiv e s s e c o n t in u id a d e e m Israel e, assim ,
se e x p ô s in d e v id a m en te a o p o v o , e sua dan ­ am ea ça ss e o tro n o d e Davi. Jônatas e Davi
ça fo i rea liza d a peran te o Senhor, q u e sabia haviam fe ito um a alia n ça d e g o v e rn a r em
o q u e se passava e m seu c o ra ç ã o . D avi re­ c on ju n to (1 Sm 2 3:16 -1 8), mas D eu s rejei­
c o n h e c e u e m M ica l o m e s m o orgu lh o e falta tou esse p la n o ao perm itir q u e Jônatas fosse
d e visã o espiritual d o pai, Saul, c u jo ú n ico m o rto e m c o m b a te . O S en h or d es eja va q u e
d e s e jo era o b te r e m anter sua p o p u la rid a ­ a lin h agem e o tro n o d e D avi fossem manti­
de. D avi preferiu v iv e r e servir d e m o d o a d o s s ep a ra d o s d e q u a lq u e r o u tra dinastia,
agradar a o Senhor. L em b rou a M ica l q u e o p ois a lin h agem d e D avi c h e ga ria a seu au ge
S en h or o havia e s c o lh id o para to m a r o lugar c o m o n ascim en to d e Jesus Cristo, o M e s ­
d o pai d ela n o tro n o e d e q u e faria tu d o o sias. Esse será o te m a d o p ró x im o capítulo
q u e o S en h or o im pelisse a fazer. Em outras d a história d e Davi.

1. Como foi que todo esse povo se reuniu em Hebrom para comer e beber durante três dias sem transtornar a cidade e s l h
economia? E possível que 1 Crônicas 13:1 nos dê a resposta, pois, apesar de o cronista apresentar os totais das unidades
militares leais a Davi, talvez apenas os oficiais tenham comparecido à coroação, ou seja, cerca de 3.750 homens. Ne—
todos os soldados estavam presentes, mas todos estavam representados e, por meio de seus oficiais, declararam lealdacfc
ao novo rei.
2. O nome "Elifelete" aparece duas vezes na lista e também é indicado como "Elpelete".
3. Se o feito corajoso desses três valentes ocorreu nessa época, então Davi encontrava-se na caverna de Adulão (2 Sm 23:11*.
4. Alguns estudiosos do Antigo Testamento situam esse evento num período posterior da carreira de Davi, depois de ha*«»
pecado com Bate-Seba e de ter lutado inúmeras batalhas contra o inimigo (2 Sm 8 - 12). Ver D a y , William Crocketi
A Harmony of the Books of Samuel, Kings and Chronicles. Baker Book House, 1964.
5. É pouco provável que esses sacrifícios tenham sido oferecidos a cada seis passos enquanto a procissão se dirigia a Jerusale^m.
A jornada teria sido extremamente longa e exigido um número enorme de sacrifícios. Uma vez que Davi teve certeza áà
aprovação de Deus, a marcha prosseguiu confiantemente.
ta m b é m um pastor q u e se p re o c u p a v a c o m
4 seu p o v o . Q u a n d o estava d esca n sa n d o , p en ­
sava no trabalh o q u e p o d e ria realizar, e ao
ser b em -s u c e d id o , p en sava e m D eu s e e m
A D in astia , a B o n d a d e e sua b o n d a d e para c o m ele.

as C o n q u is t a s de D avi N e s te cap ítu lo, o S en h o r c o n c e d e u um a


re v e la ç ã o a N a tã e a D avi q u e c os tu m a ser
ch a m a d a d e aliança d a v íd ic a .1 Essa d eclara­
2 Sam u el 7-10
ç ã o n ã o ap en a s te v e gra n d e sign ifica d o para
1V e r t a m b é m 1 C r ô n ic a s 17-19) D avi e m seu te m p o , c o m o ta m b ém é rele­
v a n te nos dias d e h o je para Israel, para a
Igreja e para o m u n d o e m geral.
estes qu atro capítulos, v e m o s o rei Davi O significado da aliança para D avi (vv.
N e n v o lv id o e m qu atro ativid ad es im p o r­
tantes: e le a ceita a v o n ta d e d e D eu s (cap.
1-9). N ã o nos ad m iram os c o m o d e s e jo d e
D avi d e construir um a casa para o Senhor,
7), luta as batalhas d e D eu s (cap . 8), c o m ­ p ois era um h o m e m s eg u n d o o c o r a ç ã o d e
partilha a b o n d a d e d e D eu s (cap . 9) e d e ­ D eu s e ansiava p o r honrar a o S en h or d e to ­
fe n d e a h on ra d e D eu s (ca p . 10). P orém , das as m aneiras possíveis. D urante os anos
essas a tiv id a d e s n ã o era m n o v id a d e para d e exílio, D avi havia fe ito um v o t o a o S e­
Davi, pois, m e s m o antes d e ser c o r o a d o rei nhor d e q u e iria construir-lhe um te m p lo (SI
sob re to d o Israel, servira a o S en h or e a seu 132:1-5), e o fa to d e trazer a arca a Jerusa­
p o v o d essa maneira. D avi não m u dou p e lo lém foi, certa m e n te , o p rim eiro passo para o
'a to d e usar um a c o r o a e d e assentar-se num cu m p rim e n to d es se v o to . N e s s e m o m e n to ,
trono, p ois e m seu caráter e c o n d u ta s em ­ D avi sentia-se p ertu rb ad o , p ois v ivia num a
pre viveu c o m o rei. C o m o é triste qu e, d o casa c o n fo rtá v e l d e p ed ra c o m pain éis d e
capítulo 11 e m diante, v e ja m o s D avi d e s o b e ­ c e d r o , e n q u a n to o tr o n o d e D e u s e stava
d e c e n d o a o S en h o r e s o fr e n d o as c o n s e ­ num a tenda, e o rei c om p a rtilh o u sua p re o ­
qüências d olo ro sas d e seus p ecad o s. A n d re w c u p a ç ã o c o m Natã.
B onar estava c e rto q u a n d o disse: "P e r m a ­ Essa é a p rim eira v e z q u e N a tã a p a r e c e
n e ç a m o s tã o v ig ila n te s d e p o is d a v itó r ia nas Escrituras. C a d e h avia s id o o p ro fe ta
qu an to antes da batalha". d e D avi durante o e x ílio (1 Sm 2 2 :5 ) e n ão
saiu d e c e n a m e s m o d e p o is q u e D avi fo i
1. D a v i a c e ito u a v o n ta d e de D eus c o r o a d o (2 Sm 2 4 :1 -1 8 ). N a v e rd a d e , G a d e
(2 S m 7:1-29; 1 C r 17:1-27) e N a tã trabalharam ju n tos m a n te n d o e m dia
O q u e os reis fa zia m n o m u n d o an tigo qu an ­ os registros o fic ia is (1 Cr 2 9 :2 5 , 2 9 ) e o r g a ­
d o n ao tinham guerras nas quais lutar? Na- n iza n d o o c u lto (2 Cr 2 9 :2 5 ). M as, a o q u e
o u c o d o n o s o r in sp e cio n o u sua c id a d e e se p a re c e , N a tã fo i a v o z p ro fé tic a d e D eu s a
.a n glo rio u p erg u n ta n d o : " N ã o é esta a gran­ D avi d u rante seu re in a d o . Foi N a tã q u e m
d e Babilônia q u e eu e d ifiq u ei [...]?" (D n 4:30). c o n fro n to u D avi c o m seu p e c a d o (ca p . 12)
S a lo m ã o ajuntou riq u ezas e esp osas, rece- e ta m b é m qu em p r o v id e n c io u p a ra q u e
Deu visitantes estran geiros e e sc reveu livros, S a lo m ã o fo s s e c o r o a d o rei (1 Rs 1:11 ss).
e n q u a n to E zequias p a re c e ter su p ervision a­ D avi te v e q u a tro filh os c o m Bate-Seba e deu
d o estu d ioso s q u e c op iaram e con serva ram a um d e le s o n o m e d e N a tã (1 Cr 3 :1 -5 ).2
as Escrituras (P v 2 5 :1 ). M as, d e a c o rd o c o m A o instruir D avi a fa z e r tu d o o q u e e stive s ­
2 Sam uel 7:1-3, te m o s a im p ressão d e qu e, se e m seu c o r a ç ã o , N a tã n ã o e sta v a afir­
e m suas horas vagas, D avi m ed ito u sob re o m a n d o q u e o s d e s e jo s d e D avi eram , d e
S en h or e c o n v e rs o u c o m Natã, seu c a p e lã o fato, a v o n ta d e d e D eu s. A n tes , in ce n tiv o u
particular, s o b re form a s d e m e lh o ra r as c o n ­ o rei a ir atrás d o q u e q u eria e a d e s c o b rir
d iç õ e s espiritu ais d o re in o d e Israel. D avi o q u e o S en h o r d e s e ja v a q u e fize s s e . D eu s
n ão fo i s im p le s m e n te um go v e rn a n te , mas re s p o n d e u d a n d o a N a tã um a m e n s a g e m
316 2 S AMU E L 7 - 1 0

e sp ec ia l a o rei, a qual o p ro fe ta transmitiu vir a o m u n d o. A alian ça d e D eu s c o m Davi


fielm e n te . d e s e n v o lv e - s e d essa a lia n ça c o m A b ra ã c
N a prim eira p arte d a m e n sa gem , D eu s p ois se re fe re à n ação, à terra e a o Messias.
lem b rou a D avi qu e, e m m o m e n to algum , O S en h or c o m e ç o u fa la n d o d a terra d e
havia p e d id o a qu alq u er trib o ou líder tribal Israel (v. 10) e p ro m eteu "d e s c a n s o " a Israel.
q u e c o n stru ísse um a casa p ara e le . D eu s O te rm o "d e s c a n s o " é parte im p o rta n te d o
h a v ia o r d e n a d o q u e M o is é s f i z e s s e um v o c a b u lá rio p ro fé tic o e se refere a diversas
ta b e rn á c u lo , o n d e D eu s habitaria, e havia b ê n ç ã o s relacion a d a s a o p la n o d e D eu s para
se c o n te n ta d o e m viajar c o m seu p o v o p e ­ seu p o v o . O c o n c e it o d e "d e s c a n s o " teve
regrin o e e m habitar c o m e le o n d e q u er q u e in ício c o m o d es ca n so d e D eu s a o c o m p le ­
a c a m p a ss e. U m a v e z q u e Israel e stava na tar a cria ç ã o (C n 2:1-3), o q u e serviu d e base
te rra e tin h a p a z , n ã o p r e c is a v a d e um para q u e Israel gu ardasse o s áb ad o (Êx 20:8-
te m p lo , mas sim d e um líder q u e se p r e o ­ 1 1). D e p o is q u e D eu s lib ertou Israel d o Egi­
cup asse c o m o p o v o , e, p o r isso, D eu s ha­ to, p ro m e te u lhes dar "d e s c a n s o " e m sua
via c h a m a d o D avi para ap ascen tar o p o v o p ró p ria terra (Êx 3 3 :1 4 ; D t 2 5 :1 9 ; Js 1:13,
d e Israel. D eu s e stev e c o m D avi para p ro te ­ 1 5 ). D a v i e s ta v a tã o o c u p a d o c o m suas
ge r sua v id a e para fa zê -lo p rosp erar e m seu gu erras q u e n ão p o d ia con stru ir o te m p lo
serv iç o e e n g ra n d e c e u o n o m e d e Davi. A p e ­ (1 Rs 5:1 7 ),3 m as q u a n d o D e u s d eu d es ­
sar d e seus d e s e jo s e d e seu v o to , D avi não c a n so a Israel, S a lo m ã o con stru i a casa d o
iria construir o te m p lo . O m e lh o r q u e p o d e ­ S en h o r u san d o o p ro je to e os m ateriais q u e
ria fa z e r p e lo S en h o r era con tin u ar p a s to ­ D e u s havia d a d o a D avi (1 Rs 5:1-4; 8:56-
re a n d o o p o v o e s e rv in d o d e e x e m p lo d e SI 8 9 :1 9 -2 3 ).
v id a p ied osa . O c o n c e it o d e "d e s c a n s o v a i a lé m
Essa d e c la ra ç ã o d e v e ter sido um a d e ­ dessas qu es tõ e s, p ois ta m b ém se refere ao
c e p ç ã o para D avi, mas e le a a c e ito u c o m d es ca n so espiritual q u e os cristãos têm em
re ve rê n cia e d eu graças a o S en h o r p o r to d a Jesus Cristo (M t 1 1 :28-30; H b 2:10-18; 4:14-
a sua b o n d a d e p a ra c o m e le . Q u a n d o 16). Esse c o n c e ito ta m b ém vislum bra o rei­
S a lo m ã o con s a grou o te m p lo , ex p lic o u qu e n o futuro d e Israel e o d e s ca n so q u e o p o v o
D eu s havia a c e ita d o o d e s e jo d e D avi no d e D eu s desfrutará q u a n d o Jesus Cristo se
lugar d e sua c o n c re tiz a ç ã o : "Já q u e d eseja s­ assentar n o tron o d e D eu s (Is 11:1-12; 65:1 7-
te e d ifica r um a casa a o m eu n o m e, b em fi­ 25; Jr 31:1-14; 50:34 ).
z e s te em o re so lv er e m teu c o r a ç ã o " (1 Rs Em seguida, o Senhor passou das prom es­
8 :1 8; v e r 2 C o 8 :1 2 ). O s s e rv o s d e D eu s sas sobre a terra e a n ação para as p ro m e s s a
d e v e m a p re n d e r a aceitar as d e c e p ç õ e s da s o b re o tro n o e a fam ília d e D avi (vv. 1 1-16 l
vida, p ois c o m o A . T. P ierson costu m ava di­ To d o rei se p re o c u p a c o m o futuro d e seu
zer: "A s d e c e p ç õ e s q u e te m o s são o p o rtu ­ rein o, e o S en h or p ro m eteu dar a Davi a lg »
n idades d e D eu s". acim a e além d e q u a lq u e r c o is a q u e o rei
significado da aliança para Israel (vv.
O p u d e s s e t e r im a g in a d o . D a v i d e s e ja v a
10-15). O s p ro p ó s ito s d e D eu s e seu re la c io ­ e d ifica r um a casa para D eu s (o te m p lo ), m is
n a m e n to c o m o p o v o d e Israel são fu n d a­ D eu s p ro m e te u ed ifica r um a casa para Dav„
m en ta d o s em sua aliança c o m A b ra ã o (C n - um a dinastia etern a! A p alavra "c a s a " é
12:1-3; 15:1-15). Pela graça. D eu s e sco lh eu usada q u in ze v e z e s n este cap ítu lo e se rere-
A b ra ã o e p ro m eteu lhe dar um a terra, um re a o p a lá c io d e D avi (vv. 1, 2), a o tem pto
g ra n d e n o m e , m u itos d e s c e n d e n te s e sua (vv. 5-7, 13) e à dinastia d e Davi, culm in a--
b ê n ç ã o e p ro te ç ã o . T a m b ém p ro m eteu qu e d o c o m Jesus Cristo, o M essias (vv. 11, l i .
o m u n d o to d o seria a b e n ç o a d o p o r inter­ 16, 18-29).
m é d io da d e s c e n d ê n c ia d e A b ra ã o , afirm a­ D eu s an u nciou a vin d a d o Salvador peto
ç ã o q u e se re fe re a Jesus Cristo (C l 3:1-16). prim eira v e z e m G ê n e s is 3:15, informarto-ai
D eu s c h a m o u Israel para ser o canal hum an o q u e o S alvad or seria um ser h u m an o e nã*>>
p e lo qual seu Filho e sua Palavra p o d e ria m um anjo. D e a c o rd o c o m G ê n e s is 12:3, ete
2 S AMU E L 7 - 1 0 317

■ -"ia d e Israel e a b e n ç o a ria o m u n d o to d o , e a D avi p o r ter m a n tid o a luz brilhando, a fim


C ê n es is 4 9 :1 0 d iz q u e viria da tribo d e Judá. d e q u e o S alvad or p u d esse vir a o m u ndo.
* dssa aliança, D eu s an u nciou a D avi q u e o D e u s d is c ip lin o u Israel p e lo s p e c a d o s d o
•'essia s viria p o r sua fam ília, e a p ro fe c ia d e p o v o , p o ré m jam ais ro m p eu sua aliança nem
M iqu éias 5:2 a firm a q u e e le n a s ce ria e m re m o v e u sua m isericórd ia (2 Sm 7:1 5; 22:51 ;
le lé m , a C id a d e d e D avi (v e r M t 2 :6). N ã o 1 Rs 3:6; 2 Cr 6 :42; SI 89:28 , 33, 49).
é d e se adm irar q u e o rei se ten h a e n c h id o O significado da aliança para os cristãos
c tanto jú b ilo a o sab er q u e o M essias seria de hoje (vv. 18-29). O b s e r v a m o s an terior­
c o n h e cid o c o m o " o Filho d e D a v i" (M t 1:1)! m e n te q u e a Igreja d e v e sua existên cia ao
N essa s eçã o , o S en h or se re fe re a Salo­ fa to d e D eu s ter usado a fam ília d e D avi para
m ão e ta m b ém a o Salvador, a q u e le q u e é tra ze r a o m u n d o o S alvad or e q u e há um
■~iaior d o q u e S a lo m ã o " (M t 12:42 ). S alo­ futuro para Israel, p ois D eu s deu a D avi um
m ão construiria o te m p lo q u e D avi d eseja va tro n o para sem p re. A fo rm a d e D avi reagir a
ruificar, mas seu rein ad o teria fim ; o M e s ­ essa Palavra extra o rd in á ria d e D eu s é um
sias, p orém , reinaria e tern a m en te. D avi teria ó tim o e x e m p lo a segu ir h o je. Ele se humi­
■s-Tia casa para s em p re (2 Sm 7:25, 2 9 ), um lhou dian te d o Senhor, c h a m a n d o a si m es­
»e in o para s e m p re (v. 16), um tr o n o para m o p e lo m e n o s d e z v e z e s d e s e rv o d e D eus.
w m p re (vv. 13,16 ) e glorificaria o n o m e d e O s servo s costu m avam ficar alertas e à es­
C ^ s para s em p re (v. 26). p era d e orden s, mas Davi assentou-se dian­
Tudo isso se cum priu e m Jesus Cristo, o te d o S en h or. A alia n ça q u e D e u s firm o u
» o d e D avi (SI 89:34 -3 7; Lc 1:32, 33, 69; c o m D avi era in co n d icio n al; tu d o o q u e Davi
* -1:29-36; 13:22, 23; 2 Tm 2:8), e se ma- p re c is a v a fa z e r era a ceitá -la e d e ix a r q u e
•• e s ta rá q u a n d o e le voltar, e s ta b e le c e r seu D eu s cum prisse a p arte d ele . Assim c o m o
«n o p ro m e tid o e se assentar no tro n o d e um a crian ça p e q u e n a fa la n d o c o m a m ã e
©B\i. As b ê n ç ã o s espirituais q u e D eus con- ou c o m o pai am oroso, o rei cham ou a si m es­
e e c e u a D avi são o fe re c id a s h o je em Jesus m o d e "D a v i" (v. 2 0 ) e d erram ou seu c o ra ­
i :t d os os q u e c rerem n ele (Is 55:1-3; A t 12 ç ã o p eran te o Senhor.
32-39). Jesus Cristo as cum prirá literalm en te Em p rim eiro lugar, con c en tro u -s e no p re­
4M rein o futuro p ro m e tid o a Israel (Is 9:1-7; sente, a o dar lo u v o re s p elas m isericó rd ias
1:1-16; 1 6:5; Jr 3 3 :1 5 -2 6 ; Ez 3 4 :2 3 , 2 4; q u e D eu s havia lhe c o n c e d id o (vv. 18-21).
J~:24, 25; O s 3:5; Z c 12:7. 8 ).4 O tron o d e Foi a graça d e D eu s q u e con d u ziu D avi até
D avi c h e g o u a o fim em 5 8 6 a .C . c o m lá, d o s ap riscos para o tron o ; d ep o is, D eus
Zeu equ ias, o últim o rei d e Judá, mas a linha- lhe talou d e sua d e s c e n d ê n c ia , q u e se es­
pe*-i d e D avi con tin u o u e trou xe a o m u n d o ten d eria a um futuro distante. N o s versícu los
les^s Cristo, o Filho d e D eu s (M t 1:12-25; 18 a 20 e 28 e 29, D avi d irige-se a D eu s
1:26-38, 54, 55: 68-79). c o m o "Se n h o r D eu s", e m h eb ra ico, "Jeová
D o p o n to d e vista h um ano, a n a ç ã o d e A d o n a i, o S en h o r S o b e ra n o " (n os vv. 22 e
fcrael teria p e r e c id o ra p id a m e n te se D eu s 25 é usada a d e s ig n a ç ã o "J e o vá Eloim ", o
■ào tivesse se m a n tid o fie l à sua alian ça c o m D eu s d e p o d e r). S o m e n te um D eu s d e gra­
Davi, q u e fo i "a lâm p a d a d e Israel" (2 Sm ça s ob e ra n a p o d e ria fa ze r tal aliança e s o ­
2 1 :1 ^ ). P or mais q u e os reis e o p o v o te- m e n te um D e u s d e p o d e r s o b e ra n o seria
Tam se c o r ro m p id o , o S en h o r p res e rvo u c a p a z d e cumpri-la. D avi p ergu n ta se D eus
jrn a lâm pada para D avi e para Israel (1 Rs se re la c io n a c o m to d o s os seres hum an os
11:36; 15:4; 2 Rs 8:1 9; 2 Cr 2 1:7; SI 132 :1 7 ). d essa m aneira (v. 19). D e c erta form a, a res­
Q u e r re c o n h e ç a m q u er não, os ju d eu s têm p osta é não, p ois D eu s e sc o lh e u a casa d e
im a gra n d e d ívid a para c o m D avi p o r seu D avi para tra ze r seu Filho a o m u n d o ; p o r
'Emplo, p elo s instrum entos e cân tico s usa­ o u tro lad o , p o ré m , a re sp o sta é sim, p ois
dos no te m p lo , p ela o rg a n iz a ç ã o do minis- qu alq u er p e c a d o r p o d e crer e m Jesus Cristo
;erio d o te m p lo e p ela p r o te ç ã o d e Israel e ser salvo, passand o a fa z e r p arte d a fam í­
áas n a ç õ es inimigas. H o je , d e v e m o s m uito lia d e Deus. D avi c o n s id e ro u as p rom essas
318 2 S A MU E L 7 - 1 0

d es sa alia n ça um a "g r a n d e z a " (v. 2 1 ) em D e v e m o s co n s id e ra r as ativid a d es mili­


fu n çã o d o a m o r d e D eu s e da segu ran ça d e tares d e D avi à luz das alianças d e D eu s c o r
sua Palavra. Israel p o r m e io d e A b r a ã o (G n 12, 15
N o s versícu los 22 a 24, D avi o lh ou para M o is é s (D t 2 7 - 30) e d o p róp rio Davi (2 S '
o passado e viu a graça m aravilh osa d e D eus 7). O S en h o r havia p ro m e tid o a Israel a terra
para c o m Israel. O S en h o r e s c o lh e u Israel q u e se e s te n d ia d o rio d o Egito a té o io
e m lugar das outras n a ç õ e s d a Terra e se Eufrates (G n 15:17-21; D t 1:6-8; 11:24; 1 Rs
revelo u a seu p o v o a o dar as leis no m o n te 4:20, 2 1 ) e usou D avi para ajudar a cu m pr -
Sinai e a o p roferir sua Palavra p o r in term é­ essa prom essa. D urante o re in a d o d e Sai.
d io d e seus protetas (v e r D t 4 :3 4; 7:6-8; 9:4, Israel p erd e ra territórios para seus inimig.. -
5; N e 9:1 0). D eu s é S en h or s o b re tod as as e D avi reto m o u -o s; além disso, expan diu as
n a çõ es, mas f e z gra n d es coisas p o r Israel, fronteiras d e Israel e to m o u p os s e d e terras
seu p o v o e s c o lh id o . D avi re c o n h e c e u a v e r­ n ã o c o n q u is ta d a s n o t e m p o d e Josu é Ijs
d a d e m aravilhosa d e q u e D eu s havia e s c o ­ 13:1-7). D avi firm ou tratados d e v a s s a la g e r 1
lh ido Israel para ser seu p o v o para sem p re! com a m a io ria d es sa s n a ç õ e s e c o l o c o -
A terceira parte da o ra ç ã o e lo u vo r d e g u arn ições e m suas terras a fim d e m anter a
D avi (vv. 2 5-2 9) voltou -se para o futuro, c o n ­ a u to rid a d e d e Israel (v. 6). Por ser um h o ­
fo r m e a re v e la ç ã o da aliança q u e o rei havia m e m d e fé, Davi creu nas p rom essas d e De
a c a b a d o d e receb er. D eu s p roferiu sua Pala­ e agiu e m fu n çã o delas para q u e seu p o .
vra, e D avi creu nela, p e d in d o a o S en h o r fo s s e a b e n ç o a d o .
q u e a cu m p risse para seu p o v o . O d e s e jo P orém , as vitórias d e D avi ta m b ém signi­
d e D avi era q u e Israel c o n tin u a s s e c o m o ficaram p a z para o p o v o d e Israel, d e m o d o
n a çã o e q u e o S en h o r fo s s e e n g ra n d e c id o q u e p o d e r ia m v iv e r n o rm a lm e n te , sem
p or in te rm é d io d e seu p o v o . O rei p ed iu q u e a m e a ç a c o n s ta n te d e seus v izin h os . Israe
sua casa fo s s e e d ific a d a c o n fo rm e o S en h or tinha um a gra n d e o b ra a realizar na terra a o
havia p ro m e tid o (v. 2 7 ), m e s m o s e n d o um a servir d e te s te m u n h o d o v e rd a d e iro D e _ i
d e c e p ç ã o para e le saber q u e n ão iria ed ifica r v iv o e dar a o m u n d o as Escrituras e o M e ^
um a casa para Deus. O versícu lo 2 7 p e d e : sias. A lé m disso, as vitórias d e D avi re s t ■»-
"v e n h a o teu re in o " e o versícu lo 28: "s e ja ram e m m ais riq u e za s para o te s o u ro do
feita a tua v o n ta d e ". Para D avi, bastou sim­ Senhor, fo r n e c e n d o assim os materiais pac*
p les m e n te o u vir as p ro m essas e crer nelas, q u e S a lo m ã o constru ísse o te m p lo ( v v l i
m as e le ta m b é m o ro u p e d in d o q u e o S e­ 13; 1 Cr 22). H o je em dia, a Igreja d e C -a»
nh or as cum prisse. n ão usa arm as m ilitares para lutar as
Davi serv e d e e x e m p lo para nós e m sua lhas d e D eu s (Jo 18:36-38; 2 C o 1 0 :3 -f‘ &
h u m ild a d e , fé e s u b m iss ã o à v o n t a d e d e 6 :1 4-18), mas p o d e m o s em pu n h a r a fé e *
D eus. c o r a g e m d e D avi e d e seus s o ld a d o s e
cu p era r para o S en h or territórios p erdia cs
2. D a v i lu t a as b atalh as d o S e n h o r Oeste: os filisteus (v. 1) eram in ir __*■
(2 S m 8:1-18; 1 C r 18) d e lo n ga data d o s israelitas e se ap ro'— « •
Este c a p ítu lo resu m e as vitórias d o e x é rc ito vam d e to d a e qu alq u er o p o rtu n id ad e . - * »
d e Israel s o b re seus in im igos, a c o n te c im e n ­ atacá-los. Em 2 Sam uel 21:15-22, são
tos q u e o c o rr e ra m m ais p r o v a v e lm e n te e n ­ c io n a d a s p e lo m e n o s q u a tro c a m p s n r *
tre os cap ítu lo s 6 e 7 d e 2 Sam u el (v e r 7:1). d iferen tes d os filisteus (v er ta m b ém 1 Cr ^ -
O S e n h o r a ju d o u D avi, j o a b e e A b is a i a 8), e o te x to d e s c r e v e a m o rte d e v á rc *
c on q u ista r os in im igo s d e Israel no O e s te giga n tes b em c o m o a d erro ta d os fili. t e « »
(v. 1), n o Leste (v. 2), n o N o r t e (vv. 3 -12) e Israel c a p tu rou d iversas c id a d e s , i n c L ^ ^
no Sul (vv. 13, 14). Para um relato p aralelo, G a te, c id a d e natal d e G o lias. Q u a n d o ^
v e r 1 C rô n ic a s 18 - 19. O rei Saul havia jo v e m , D avi havia m a ta d o G olias, mas Ob­
lu tad o c o n tra vário s d esses m e s m o s inim i­ rante a prim eira cam p an h a, n ão c o n s e ^ J «
g o s (1 Sm 14 :4 7 ). m a ta r o g ig a n te Is b i-B e n o b e , s e n d o
2 S A MU E L 7 - 1 0 319

ADisai, s ob rin h o d e D avi, p recisou salvá-lo c o m seus in im igos e d e le s re c e b e u tributos


21:15-17). O s hom ens d e Davi aconselharam- (2 Sm 8:6-10).
n o a parar d e p articip ar p e s s o a lm e n te das Sul: os edomitas (vv. 12-14). 1 C rôn icas
-•atalhas, e e le d eu o u v id o s a seu c o n s elh o . 18:12, 13 cita os e d o m ita s c o m o in im igos
-:em -aventurado o líder q u e re c o n h e c e suas (v e r 1 Rs 1 1 :1 4 b -1 8 ), mas é p os s íve l qu e,
r a q u e z a s e q u e a d m ite a n e c e s s id a d e d e nessa é p o c a , E dom se e n c o n tra s s e s o b o
m udanças! O n o m e " M e te g u e - A m á " (N V I) c o n tro le d o s sírios e aram eu s e q u e estes
c j e r d ize r "as réd eas da m e tr ó p o le " e p ro ­ ta m b é m e stivessem e n v o lv id o s na batalha.
vavelm en te se re fe re a um a c id a d e filistéia A o q u e p a re ce , e n q u a n to Israel atacava os
im portante cap tu rad a p o r Israel; sua lo ca li­ sírios e aram eus n o N o rte , os m oab itas os
z a ç ã o p e r m a n e c e um m istério. "T o m a r as atacaram d o Sul, mas o S en h or d eu a Israel
-e d e a s " d e a lg o sign ifica assumir o c o n tro le um a gra n d e vitória. A p e s a r d e Davi e Joabe
e força r à subm issão. s erem os líd eres c o n q u is ta d o re s nessa b a ­
Leste: os m oabitas (v. 2) h aviam sido talha, fo i o S en h o r q u e m re c e b e u a glória
am igáveis c o m D avi p o r q u e pensaram q u e q u a n d o D avi c o m e m o r o u a vitó ria no Salm o
e.ra in im igo d e Saul (1 Sm 1 4 :47 ) e ta m b ém 60. A e x p ressã o "s o b r e Edom atirarei a m inha
□ o rq u e D avi era a p a ren ta d o d o s m oab ita s san dália" (6 0 :8 ) é m e ta fó ric a e possui sen ti­
□ or p arte d e sua b isavó, Rute (Rt 4:18-22). d o d u p lo: (1 ) D eu s to m a p o s s e d e Edom c o ­
Enquanto estava no exílio, D avi c h e g o u até m o seu território; e (2 ) D eu s trata Edom como
a c o lo c a r seus pais sob a guarda d o rei d e um e s c ra v o q u e lim p a os s a p a to s d e seu
M o a b e (1 Sm 2 2 :3 , 4 ). N a r e a lid a d e , os Senhor. Exprim e a h u m ilh ação q u e D eu s fe z
m oabitas eram p aren tes d o s israelitas p ela sob re vir ao s e d o m ita s o rg u lh o s o s c o n q u is ­
carte d e Ló, sob rin h o d e A b ra ã o e pai d e ta d o s p or Davi.
seu a n tep assa d o M o a b e (G n 19:30-38). P elo D avi ta m b é m d e rro to u o s am alequ itas
■ato d e os m oab ita s terem c o n tra ta d o o p ro ­ (v. 1 2 ), in c u m b ê n c ia q u e Saul, seu a n te ­
jeta Balaão para a m a ld iço a r Israel e de, pos- cessor, n ão havia le v a d o a c a b o c o m suces­
-e r io r m e n te , B a la ã o te r le v a d o m u lh e re s so (1 Sm 15). D e s d e os te m p o s d e M oisés,
" o a b it a s a sed u zir os h o m en s israelitas (N m o S en h o r d ec la ro u gu erra a A m a le q u e (Êx
12 - 2 5), o S en h or d ec la ro u guerra a essa 1 7:8-1 2 ; N m 1 4 :4 5 ; D t 2 5 :1 7 -1 9 ) e D avi
-a ç ã o , e D avi s im p le s m en te d eu continu i- a p e n a s d eu c o n tin u id a d e a essa cru za d a .
aade a essa cruzada. A m aioria d os con quis- C o n fo rm e o S en h o r havia p ro m e tid o (7 :9 ),
a d o r e s teria e x te rm in a d o to d o o e x ército , D avi foi v ito rio s o s o b re seus inim igos. A fam a
"rãs D avi p o u p o u um e m c a d a três solda- d e D avi c res c eu d ra stica m en te e m fu n çã o
ro s e im p ôs um tributo s o b re a nação. dessas vitórias (v. 13), e D avi te v e o c u id a d o
N orte: os arameus e sírios (vv. 3-13). d e dar a glória a D eu s (8 :1 1, 12).
Z o b á fic a v a a o n o rte d e D a m a s c o e fa zia A a d m in istra çã o em Je ru sa lé m (vv.
ea rte d e um a c o n fe d e r a ç ã o d e n a ç õ es cha- 15-18).5 V e n c e r as batalhas é um a coisa, ad ­
n a d a d e "o s sírios" e m algum as v ersõ es, mas ministrar os assuntos d e um a n a ç ã o em cres­
q j a trad u ção mais p recisa é "o s aram eus". c im en to é outra b em d iferen te, e, nesse caso,
N o entan to, seus v izin h o s - os sírios - tenta- D avi ta m b é m m o s tro u c o m p e tê n c ia . G o ­
-am salvá-los, mas ta m b ém foram d errotad os, v e rn o u c o m ju stiça e e q ü id a d e e serviu a
•ne m o d o q u e to d a a re g iã o a o n orte d o Eufra- to d o o p o v o (v. 15). Davi d es c re v e u um lí­
-es fico u sob o d o m ín io d e D avi. C o m isso, d er d es se tip o e m 2 Sam uel 23:1-7 e o c o m ­
wrael adquiriu in stalações m ilitares im p orta n ­ parou à au rora e a o sol d e p o is d a chuva.
tes e ta m b ém o c o n tro le d e valiosas rotas Por c erto , D avi rep resen tou a aurora d e um
3e caravanas q u e passavam p o r esse territó- n o v o dia a Israel d e p o is das trevas d o reina­
o. israel p ô d e tributar os c o m erc ia n tes qu e d o d e Saul. Em d e c o rrê n c ia disso, D eu s usou
cassavam p o r lá e, assim, au m en tar sua ren­ D avi para trazer a calm aria d e p o is da te m ­
da. A o d errotar os aram eus e os sírios, D avi p esta d e. D eu s am a a e q ü id a d e e a justiça
■ambém criou um re la c io n a m e n to am igável (SI 3 3 :5 ) e m a n ife s ta a m b a s a o g o v e rn a r
320 2 S AMU E L 7 - 1 0

so b re seu u n iverso (SI 3 6:6; 9 9:4; Is 5 :16; Jr g u a rd a p e s s o a l d e D a v i. N o r e in a d o d e


9:24; A m 5:24). D e fato, D avi fo i um h o m e m S alo m ã o, B en aia torn ou-se um assessor ines­
s eg u n d o o c o ia ç ã o d e Deus. tim ável (1 Rs 1 :38, 4 4).
U m b o m g o v e rn a n te d e v e n o m e a r su­ A p e sa r d e n em to d o s os filhos d e Da\'
b o rd in a d o s c o m p e te n te s e sábios, e foi o te re m se m o s tra d o h o m en s dignos, ele os
q u e Davi fez. Joabe, sobrin h o d e Davi, havia c o lo c o u para servir c o m o o fic ia is e m seu
m a ta d o A b n e r d e m o d o tra iç oe iro (3:27-39), g o v e rn o . A lé m d e ser b o m para eles, era uma
mas Davi o e sc o lh e u para ser co m a n d a n te fo rm a d e o rei o b te r in fo rm a ç õ e s s o b re o
d e seu e x é rc ito . S a b em o s p o u c a c o is a s o ­ q u e e stava a c o n te c e n d o n o país. O titule
bre Josafá e seu c a rg o no g o v e rn o d e Davi. "m in istro" é um a trad u ção d o te rm o hebraicc
E p ro vá ve l q u e o "c ro n is ta " fo s s e o o ficia l para "s a c e rd o te ". U m a v e z q u e D avi era da
q u e m antinha os registros e q u e a c o n se lh a ­ tribo d e Judá, n em e le n em os filhos p o d e ­
va o rei c o m o s ecretá rio d e Estado. T a m b ém riam entrar nos lugares santos d o tabernáculo
é possível q u e fo s s e o p resid en te d o c o n s e ­ e ministrar c o m o sacerd o tes, d e m o d o q u e
lho d o rei. A situ ação e m Isaías 36 in dica o te rm o p ro v a v e lm e n te q u er d iz e r "c o n s e ­
qu e o secretário/cron ista era m e m b ro d o alto lh eiros p articu lares". Eram h o m e n s q u e ti­
esc a lã o (ver vv. 3, 22). n ham a c e s s o a o rei e q u e o assistiam na
Tanto Z a d o q u e qu an to A b im e le q u e ser­ ad m in istração d o s assuntos d o reino.
viam c o m o s a cerd o tes, p o is a arca e n c o n ­
trava-se e m Jerusalém e o ta b e rn á c u lo em 3. D a v i c o m p a r tilh o u a b o ndade de
C ib e ã o (1 C r 16:39 ss). Saul o rd e n o u q u e D eu s (2 S m 9:1-13)
D o e g u e m a ta s s e o s a c e r d o t e A im e le q u e " A b o n d a d e d e D e u s " é um d os d ois tem as
(1 Sm 22:6ss). Abiatar, filh o d o s a c erd o te , d este ca p ítu lo (vv. 1, 3, 7) e sign ifica a m ise­
s o b re viv e u a o m assacre d e s a c e rd o te s em ric ó rd ia e o fa v o r d o S en h o r c o m os q u e
N o b e e se ju n to u a o g ru p o d e D a v i em n ão são m e re c e d o re s . Paulo viu a b o n d a d e
Q u e ila (2 2 :2 0 ; 2 3 :6 ). A c o m p a n h o u D avi d e D eu s na v in d a d e Jesus Cristo, e m sua
durante seus an os d e evílio e é b e m p ro vá ­ o b ra na cru z (Tt 3:1-7 [3 :4 ]; Ef 2:1-9 [2 :7 ’
v el q u e ten h a tid o um filho, a o qual deu o P e lo m o d o c o m o D avi tratou M e fib o s e te ,
n o m e d e A im e le q u e , e m h o m e n a g e m a o avô o b s e rv a m o s um retrato da b o n d a d e d e Dei,.i
m a rtiriza d o d o m e n in o . Q u a n d o a lc a n ç o u c o m os p e c a d o r e s . D avi h avia p ro m e tid ii
a id a d e ap ro p riad a, o ra p a z serviu c o m o tan to a Saul qu a n to a Jônatas q u e n ão e x te r-
pai e c o m Z a d o q u e . E ncontram os Z a d o q u e m inaria seus d e s c e n d e n te s q u a n d o se tor­
e A b iatar trabalh an do ju n tos q u a n d o a arca nasse rei (1 Sm 20:12-17, 42; 2 4 :2 1 ) e, nc
fo i le va d a para Jerusalém (2 Sm 15:24 , 35) c a so d e M e fib o s e te , filh o d e jôn atas, Da^-
e q u a n d o A b s a lã o re b e lo u -s e c o n tra D avi n ã o a p e n a s cu m p riu sua p ro m e s s a c o m
(2 Sm 17:15; 19:11, 12). ta m b ém foi além d e seu dever.
Seraías, o e scrivã o , ta m b ém era c o n h e ­ O s e g u n d o te m a im p o rta n te d esse capí­
c id o c o m o Seva (2 0 :2 5 ). Sausa (1 Cr 1 8 :16 ) tulo é a re a le za d e Davi. O n o m e "D a v i" é
e Sisa (1 Rs 4:3). A re fe rê n cia e m 1 Reis in­ usado s o z in h o seis v e z e s neste cap ítu lo; e ~
form a q u e d ois d e seus filhos herdaram seu seis o c a s iõ e s , e le é c h a m a d o d e " r e i" e
c a rg o . A e s c o lh a m ais n o tá v e l fo i Benaia, e m um caso, d e "rei D a v i" (v. 5). N in g u e -i
c o m a n d a n te d a gu ard a p es so a l d e D avi e e m to d o o Israel além d e Davi p o d e ria ter
va le n te gu erreiro (2 Sm 2 3:20 -2 3), q u e tam ­ d e m o n s tra d o tam an h a b o n d a d e para c o n
b ém era s a c e rd o te (1 Cr 2 7 :5 ). N o A n tig o M e fib o s e te , pois Davi era o rei. H avia her­
T esta m en to, n ão era in co m u m um s a c e rd o ­ d a d o tu d o o q u e tinha p e rte n c id o a o rei Sü I
te tornar-se p ro fe ta (Jeremias, E zequ iel), mas (1 2 :8 ) e p o d e ria d isp or d e tais coisas corr-c
um s a c e rd o te servir c o m o o fic ia l militar é b e m lhe ap rou vesse. S em dúvida, te m o s ao j
um c a so e x c e p c io n a l. O s qu eretitas e p ele- um retrato d e Jesus Cristo, o Filho d e D a t i
titas eram m ercen á rios estran geiros e x c e le n ­ q u e p o r sua m o rte, ressurreição e ascer-iãO'
tes e m seu trabalho, os quais constituíam a fo i g lo r ific a d o n o tr o n o c ele stia l e, ag ora
2 S A MU E L 7 - 1 0 321

p o d e c o n c e d e r suas b ê n ç ã o s espirituais aos e lhe garantiu, n o m e sm o instante, q u e n ão


p e c a d o re s n ecessita dos. O n o m e "D a v i" sig­ havia c o is a a lgu m a a tem er. Em seguida, Davi
nifica "a m a d o ", e Jesus é o Filho a m a d o d e "a d o t o u " M e fib o s e t e extra -o ficia lm e n te a o
D eu s (M t 3 :1 7 ; 17:5), e n v ia d o a o m u n d o d ev o lve r-lh e as terras q u e o pai, Jônatas, te ­
□ara salvar os p ec a d o res . ria h erd a d o d e Saul e, d ep o is, a o con vid á -lo
O rei encontra Mefibosete (vv. 1-4). É a v iv e r n o p alácio e c o m e r à m esa d o rei.
im p o rta n te o b s e r v a r q u e a m o tiv a ç ã o d e D avi havia c o m id o à m esa d e Saul, o qu e
D avi p ara p ro cu ra r M e f ib o s e t e n ã o fo i a p o r p o u c o n ão lhe custou a vida, mas M e fi­
c o n d iç ã o triste d e um h o m e m aleijad o , mas b o s e te p o d ia assentar-se à m esa d e Davi, e
sim o d e s e jo d e D avi d e honrar Jônatas, o sua v id a seria p ro tegid a .
pai d esse h o m em . D avi fe z o q u e f e z "p o r O fa to d e D avi ter to m a d o a iniciativa
a m o r a Jônatas" (1 Sm 20:11-1 7). M e fib o s e t e d e resgatar M e fib o s e t e nos lem bra d e q u e
estava c o m c in c o anos d e id a d e q u a n d o seu foi D eu s q u em d eu o p rim eiro passo e m nos
pai m orreu e m c o m b a te (2 Sm 4 :4 ) e, p o r­ buscar e n ão nós. Estávam os s ep ara d o s d e
tanto, a essa altura, estaria c o m c e rc a d e vin­ D eu s e é ra m o s seus in im igos; n o en tan to,
te e um an os d e id a d e e ta m b ém tinha um e le nos am ou e en v io u seu Filho para m o r­
filho (2 Sm 9 :1 2). D avi n ão p o d e ria d e m o n s ­ rer p o r nós. "M a s D eu s p rova seu p ró p rio
trar a m o r n em b o n d a d e a Jônatas, d e m o d o am o r para c o n o s c o p e lo fato d e ter Cristo
q u e p ro cu ro u um d o s p aren tes d o a m ig o m o rrid o p o r nós, s e n d o nós ainda p e c a d o ­
ao qual p u d es se e x p ressa r sua a fe iç ã o . O res" (R m 5:8). Para Davi, resgatar e restaurar
m esm o a c o n te c e c o m os filhos d e D eus: são M e fib o s e t e custou-lhe a p en a s as terras d e
ch a m ad o s e salvos, n ão p o r m e re c e re m al- Saul, pelas quais e le n em s eq u e r havia p a go .
auma c o is a d e Deus, mas p o r a m or a Jesus Para q u e D eu s nos restaurasse e aceitasse
Cristo, o Filho d e D eu s (Ef 1:6; 4 :3 2 ). Em sua em sua fam ília, fo i p rec is o q u e Jesus sacrifi­
eraça, D eu s nos dá aq u ilo q u e n ão m e r e c e ­ casse sua vida. N o s s a h eran ça é m uito mais
m os e, em sua m isericórdia, e le n ão dá aqu ilo d o q u e um p e d a ç o d e terra aqui n o m u ndo:
□ue m e re c e m o s . é um lar e te rn o n o céu !
D avi d es co b riu o p ara d eiro d e M e fib o ­ O r e i dá riquezas a Mefibosete (vv. 9-
sete p o r m e io d e Z ib a , ad m in istra d o r das 13). D avi incluiu M e fib o s e t e e m sua família,
c r o p r ie d a d e s d e Saul. Z ib a re s p o n d e u às supriu suas n ecessid a d es, p ro te g eu -o e p er­
nerguntas d e D avi s o b re M e fib o s e t e , mas mitiu q u e c o m e s s e à m esa d ele. N ã o seria
acab ou m o stra n d o ser um h o m e m dissim u­ fácil cuidar d e um h o m e m adulto, a leijad o
lado e m entiu a o rei s o b re M e fib o s e t e qu an ­ d e a m b o s os pés, mas D avi p ro m eteu q u e o
do D avi fugiu d e A b s a lã o (1 6:1-4 ) e q u a n d o faria. A n tes, M e fib o s e t e havia c o n ta d o c o m
Davi v o lto u a Jerusalém (1 9 :1 7 , 2 4-3 0). A o s e rv iç o d e Z ib a e d e seus q u in ze filhos,
c o m b in a ç ã o da im p u lsivid ad e d e D avi c o m além d e mais vin te servos (v. 10), mas, a par­
a fa ls id a d e d e Z ib a c u s to u a M e f ib o s e t e tir d a q u e le dia, teria to d o s os recu rsos e a
m eta d e d e suas p ro p ried ad es. a u to rid a d e d o rei d e Israel a sua d isp o siç ã o !
O rei chama Mefibosete (vv. 5-8). O qu e Zib a, seus filhos e servo s con tinu ariam tra­
teria p assado p ela m e n te d es se p rín cip e alei- b a lh a n d o nas terras d e M e f ib o s e t e e lhe
.ado a o ser c o n v o c a d o a se apresen tar dian­ dariam os lucros, mas essa re ce ita seria in­
te d o rei? Se e le acred itava no q u e seu avô sign ifican te se c o m p a ra d a à riq u e za d o rei.
-avia d ito s o b re Davi, d e v e ter fic a d o c o m Em qu atro o c a s iõ e s nesta p assa gem D avi d iz
medo d e ser m o rto ; mas se havia d a d o o u vi­ q u e M e fib o s e t e "c o m e ria à sua m e sa " (vv.
d os às palavras d o pai s o b re Davi, d e v e ter 7, 10, 11, 13), o q u e m ostra q u e o filho d e
se a le gra d o . A lg u é m te v e d e ajudar o rapaz Jônatas seria tratado c o m o filh o d e Davi.
a c h e g a r até o p alácio, o n d e e le se prostrou M e fib o s e t e c o n s id e r a v a - s e um " c ã o
dian te d e Davi - a lg o difícil para um h o m e m m o r t o " (v. 8), assim c o m o nós ta m b ém está­
aleijado d e a m b o s os p és - e re c o n h e c e u v a m o s "m o r to s " e m nossos p e c a d o s e trans­
sua in dign id ad e. O rei c h a m o u -o p e lo n o m e g re s sõ e s q u a n d o Jesus nos c h a m o u e nos
322 2 S A MU E L 7 - 1 0

deu um a n o va v id a (Ef 2:1-6). T e m o s um a em guerra e n ão e m p az. Suas p ro p o stas ao


p o s iç ã o m ais e le v a d a d o q u e a q u e la q u e p o v o v izin h o fora m in terpretadas in correta­
D avi d eu a M e fib o s e te , p ois nos assen tam os m e n te e D avi te v e d e d e fe n d e r a p ró p ria
no trono c o m Jesus C risto e re in a m o s em honra, b e m c o m o a honra d o S en h or e d e
v id a c o m e le (R m 5:17). D eu s nos d á as ri­ seu p o v o .
q u e z a s d e sua m isericórd ia e gra ça (Ef 2:4- Uma ofensa pública (vv. 1-5). A p rim ei­
7) e ta m b ém as "in s o n d á v e is riq u e za s " em ra vitória militar d e Saul foi s o b re N aás e o
C risto (Ef 3:8). D eu s supre tod as as nossas e x é rc ito am on ita, q u a n d o atacaram Jabes-
n ec e ss id a d e s , u san d o para isso n ão os te ­ G ile a d e (1 Sm 11). Assim c o m o os am onitas,
sou ros d e um rei aqui da terra, mas sim "sua os m oab ita s eram d e s c e n d e n te s d e Ló (G n
r iq u e z a e m g ló r ia " (Fp 4 :1 9 ). M e fib o s e t e 19:30ss) e, p ortan to, p aren tes d os israelitas.
p assou o resto d e seus dias na Jerusalém D e q u e m aneira D avi d e s e n v o lv e u um a re­
aqui d a terra (2 Sm 9 :1 3), mas os filhos d e lação a m igá vel c o m os am onitas, um a v e z
D eu s d e h o je já são c id a d ã o s da Jerusalém q u e seu a n tec es s o r havia g u e rre a d o contra
celestial, o n d e hab itarão para s em p re c o m eles? E p ro vá ve l q u e isso ten h a o c o rr id o en­
o S en h or (H b 12:22-24). qu an to D avi se en c o n tra va n o exílio e quan­
Esse e p is ó d io c o m o v e n te da vida d e Davi d o p a re c ia estar e m gu erra c o m Saul. A o
ilustra não apenas a e xp eriên cia espiritual d o lo n g o d o s an os d e sua v id a c o m o "fo ra g i­
cristão em Jesus Cristo, mas ta m b ém nos re­ d o ", D avi ten tou construir um a re d e d e ami­
vela q u e Davi foi, d e fato, um h o m em segun­ za d e s fo ra d e Israel, na e sp era n ça d e qu e
d o o c o ra ç ã o d e D eus (1 Sm 13:14; A t 13:22). esses c o n ta to s lhe fo s s e m úteis q u a n d o se
Foi um p astor c o m e s p e c ia l p r e o c u p a ç ã o tornasse rei. A e x p re ss ã o "usar d e b o n d a d e
pelas ovelh as aleijadas d e seu reban ho.6 p o d e ter o sign ifica d o d e "fa z e r um a alian­
U m ú ltim o fa to a ser o b s e r v a d o é qu e, ç a " / d e m o d o q u e ta lv e z D avi d eseja sse não
q u a n d o alguns d o s d e s c e n d e n te s d e Saul apenas co n s o la r Hanum , mas ta m b ém fa z e :
fo ra m e s c o lh id o s para s ere m e x e c u ta d o s , um tratado c o m ele.
D avi p ro te g e u M e fib o s e t e da m o rte (2 Sm D avi en v io u um a d e le g a ç ã o d e oficiais
21:1 -11, e s p e c ia lm e n te o v. 7). Flavia o u tro d a c o r te a hlanum, mas a im aturidade e a
d e s c e n d e n t e c h a m a d o M e f ib o s e t e (v. 8), ign o rân cia p rev a le c era m s o b re a s a b e d o n j
mas D avi s o u b e distinguir en tre um e o u ­ e o b o m senso. O n o v o rei in ex p erien te deu
tro! A a p lic a ç ã o espiritual para o cristão d e o u v id o s a seus c o n s elh e iro s d es co n fia d o s e
h o je é e v id e n te : "A g o ra , pois, já n en h u m a tratou os h o m en s d e D avi c o m o se fo s s e r
c o n d e n a ç ã o há para os q u e e s tã o e m Cris­ espias. (A n o s d ep o is, R o b o ã o , filh o d e Salo­
to Jesus" (R m 8 :1 ). "P o r q u e D eu s n ão nos m ão, c o m e te u um erro p a re c id o e segu —
d estin ou para a ira, mas para alcan çar a sal­ c o n s e lh o s im p ru d en tes. V e r 1 Rs 12.) Os
v a ç ã o m ed ia n te n o sso S en h or Jesus C risto" am on itas rasparam o rosto d o s em ba ixad o­
(1 Ts 5:9). " Q u e m n ele c rê n ão é ju lg a d o ; o res, d e ix a n d o a p e n a s um la d o d a b a n i
q u e n ão c rê já está ju lg a d o , p o r q u a n to n ão in tacto e, d ep o is, cortaram as vestes d os < *-
c rê n o n o m e d o u n igé n ito Filho d e D e u s " ciais até a cintura. O s h o m en s israelitas d e ­
(Jo 3 :1 8 ). v eria m m a n ter a b a rb a in ta cta (Lv 1Q:_~
M e fib o s e t e é um n o m e difícil d e guardar 2 1:5; D t 14:1, 2), e m e x e r c o m a barb s l e
e d e pronunciar, mas nos lem b ra d e algu ­ um h o m e m era um gra n de insulto. T o d o s o »
mas v erd a d e s m aravilhosas s o b re a "b o n d a ­ israelitas d everia m vestir-se c o m sob ried >
d e d e D e u s " d em o n s tra d a p o r nós p o r m e io d e m o d o q u e o ge sto d e e x p o r o c o r p o d »
d e Jesus Cristo, n osso S alvad or e Senhor. q u e le s h o m en s d essa fo r m a d e v e ter
ain da mais e m b a ra ç o s o . Esse era o tratarr>e»
4. O REI DEFENDE A HONRA DE DEUS to re s e rv a d o a p rision eiros d e gu erra (ls *. i
(2 S m 10:1-19; 1 C r 19:1-19) 4), e, tam b ém , rem overa m algum as das njtim
M ais uma v ez , Davi d eseja va dem on strar b o n ­ d e suas vestes, um sím b o lo q u e os id e n i t i c »
d ade, mas nesse caso sua tentativa acab ou va c o m o israelitas (D t 22:12; N m 15 :3 —— *
2 S AMU E L 7 - 1 0 323

A prim eira batalha (vv. 6-14). O s m em ­ q u e sua vitória assustou os s o ld a d o s d o Sul,


bros d a d e le g a ç ã o n ão teriam d ific u ld a d e le va n d o -o s a fu gir para R abá, cap ital fo rti­
e m arranjar outras roupas, mas levaria algum fic a d a d e A m o m .
te m p o para q u e a barb a voltasse a crescer, A segunda batalha (vv. 15-19). D avi c o ­
d e m o d o q u e fic a ra m e m J ericó a té q u e m a n d o u p e s s o a lm e n te a batalh a c o n tra os
tivessem re c o b ra d o um a a p arên cia ap re se n ­ sírios9 e, ju n ta m e n te c o m o e x é rc ito d e Is­
tável. N o entan to, um a n o va barba n ão ap a­ rael, c o n q u is to u a vitória. C o m isso, o s sírios
garia antigas ofensas. Q u a n d o o rei H anum to rn a ra m -s e e s ta d o s -v a s s a lo s d o im p é r io
perm itiu q u e seus oficiais m altratassem a d e ­ ca d a v e z m a ior d e Davi. J o ab e m ostrou -se
le g a ç ã o , n ão ap en a s insultou o s h o m en s p es­ p ru d e n te , m ais u m a v e z , a o e s p e ra r p ara
soa lm en te, c o m o ta m b ém insultou o rei Davi e rg u e r um c e r c o c o n tra R abá, e s p e r a n d o
q u e os havia e n v ia d o e a n a ç ã o q u e rep re­ até a p rim avera d o a n o segu in te para reali­
sentavam . Em resu m o, fo i um a d e c la ra ç ã o z a r um n o v o a ta q u e (1 1 : 1 ). O gen era l
d e guerra. israelita to m o u a c id a d e , e D avi fo i e n c e r ­
M as o rei H an u m n ão estava p rep a ra d o rar o c e r c o e r e c e b e r as h onras (1 2 :2 6 -3 1 ).
para a guerra, e s p e c ia lm e n te con tra um g e ­ Foi e n q u a n to J o a b e e seus h o m e n s e s ta ­
neral e x p e rie n te c o m o J oab e e um m o n arca vam s itia n d o R a b á q u e D avi p e rm a n e c e u
liustre c o m o D avi, d e m o d o q u e p a go u c em e m J e ru s a lé m e c o m e t e u a d u lt é r io c o m
talen tos d e prata (1 Cr 19:6) para contratar Bate-Seba.
sold ad o s d o N o rte, inclusive sírios e aram eus, S em dúvida, D avi foi um g u erreiro q u e
n a ç õ es q u e D avi a c a b o u d erro ta n d o (2 Sm lutou as batalhas d o Senhor, e D eu s e stev e
B:12).8 Esses trinta e três mil s o ld a d o s junta- c o m e le e lhe d eu vitória. Estendeu o im p é ­
ram -se a o e x é r c ito a m o n ita para a ta c a r o rio israelita d o rio d o Egito, n o Sul, até o rio
e x é rc ito d e Israel. J oab e en fren tou d ois ini­ Eufrates, n o N o r t e ; n o Leste, c o n q u is to u
m igo s q u e procu raram d erro ta r o e x é rc ito Edom, M o a b e e A m o m e, no N o rte, d erro ­
is ra e lita e m p r e g a n d o um m o v im e n t o d e tou os aram eus e sírios, in clu sive Flam ate.
torquês, c o m os sírios e aram eus v in d o d o Pelas d ád ivas d e D eu s e c o m seu auxílio,
N o rte e os am on itas v in d o d o Sul. J oabe agiu D avi tornou-se, sem d ú vid a algum a, o m aior
c o m p ru d ên cia e dividiu suas forças, c o lo ­ rei d e Israel e sua figura militar mais e x p res­
ca n d o o irm ão Abisai no c o m a n d o d o fro n ­ siva. Foi a b e n ç o a d o c o m h o m en s d e c o ra ­
te, a o sul, e, p e la g ra ça d o Senhor, J oab e gem , c o m o J oab e e Abisai, e ta m b ém c o m
d errotou d e tal m o d o os s o ld a d o s d o N o rte seus "v a le n te s " (2 Sm 23; 1 Cr 11:10-47).

1. O termo "aliança" nao é usado em 2 Samuel 7, mas Davi o empregou em 23:5 quando se referiu à revelação que havia
recebido de Natã.
2. A maioria dos estudiosos chegou à conclusão de que Bate-Sua e Bate-Seba eram a mesma mulher. No mundo antigo, não era
incomum uma pessoa ter mais de um nome ou o nome ter mais de uma grafia.
3. De acordo com 1 Crônicas 22:8 e 28:1-3, o fato de Davi ter derramado muito sangue foi outro motivo pelo qual Deus
escolheu Salomão para construir o templo.
4. Em sua aliança com Abraão, Deus lhe prometeu muitos descendentes e, posteriormente, comparou seu número ao pó da
terra (Cn 13:16) e às estrelas do céu (Gn 15:1-6), indicando um povo terreno e celeste. O s judeus são o povo de Deus aqui
na terra e receberam dele a promessa de um reino terreno, mas todos aqueles que crêem em Cristo são filhos de Abraão
(Gl 3:1-18), pois todos nós fomos salvos pela fé e não pela obediência à lei.
5. Esta é a terceira de quatro "listas oficiais" encontradas em 2 Samuel, sendo que cada uma delas encerra uma divisão principal
do livro: 1 :1 - 3:5 (filhos de Davi em Hebrom); 3:6 - 5:16 (filhos de Davi em Jerusalém); 5:17 - 8:18 (oficiais de Davi em
Jerusalém); 9:1 - 20:26 (oficiais de Davi mais tarde em seu reinado).
6. Uma escola de intérpretes acredita que Davi só estava colocando Mefibosete sob "prisão domiciliar" a fim de ter certeza de
que o filho de Jônatas não criaria problemas no reino. Acontecimentos subseqüentes mostram que, na verdade, era Ziba, o
administrador de Mefibosete, que precisava ser vigiado! Além disso, de que modo um Jovem aleijado seria capaz de prejudicar
324 2 SAMUEL 7 - 1 0

o maior rei de Israel? Da' i convidou Metibosere a ds^entar-s^ com ele a mesa do palácio não para proteger a si mesmo, m
pc ra demonstrar seu cuidado pelo rapaz, por amor ao pai dele.
7. A bondade (misericórdia) é, por vezes relacionada à realização de uma aliança (ver Dt 7:9, 12; Js-,2:12; 1 Sm 20:8, 1 4 -'“
Dn 9:4).
8. Lembre-se de que 2 Samuel nao toi escrito em ord. m cronológica e, portaruo, versículos como 8:12 são resumos de guerr^
que o escritor descreve posteriormente.
9. Numa batalha ant rior, Davi quase foi morto por um gigante chamado Isbi-Benobe, sendo salvo peló* Sobrinho, Abi
Naqueh ocasião, os lide es militares aconselharam Davi a não ir mai^ à guerra (2 >m 21:1 5-1 7), e ele"aceitou o conse1
O objetivo de sua presença na campanha contra a Síria. (10:1 5-19) era cuidar da movimentação das tropas, mas na(
envolver em combate direto.
d o p e c a d o p e r d o a d o trazem c o n s ig o triste­
5 z a am arga e profu nda.
Estes d ois cap ítu los d e s c re v e m sete está­
gio s da e x p e riê n c ia d e Davi. A o estudar esta
A Desobediência, a p assa gem , le m b re m o -n o s d a a d m o e s ta ç ã o

D is s im u la ç ã o e a d e Paulo: "A q u e le , pois, q u e pen sa estar em


p é v eja q u e n ão c a ia " (1 C o 10:12).
D isc ip lin a de D a v i1
1. A c o n c e p ç ã o (2 S m 11:1-3)
2 S amuel 1 1 - 1 2 A te n ta çã o e o p e c a d o d e D avi ilustram o
q u e d iz T ia g o 1:14, 1 5: "C a d a um é te n ta d o
p ela sua p rópria c o b iç a , q u a n d o esta o atrai

A
o con trá rio das b iografias p ro m o c io n a is e sed u z. Então, a c o b iç a , d e p o is d e haver
e d os tex to s distribuídos para a im p ren ­ c o n c e b id o , dá à luz o p e c a d o ; e o p e c a d o ,
sa, a Bíblia s em p re d iz a v e rd a d e s o b re as um a v e z co n s u m a d o , gera a m o rte". N ã o é
pessoas. D e v e m o s c on sid era r um estím u lo difícil v e r c o m o os p e c a d o s d e D avi se d e ­
sab er q u e até m e s m o os m e lh o res h o m en s sen v o lv e ra m .
e m ulheres e n c o n tra d o s nos registros bíbli­ O ciosidade (vv. 1, 2a). O relato d o s p e ­
c o s tinham , assim c o m o nós, suas fraq u ezas c a d o s d e D avi é a p re s e n ta d o n o c o n te x to
e fracassaram . N o entan to, o Senhor, e m sua d o c e r c o d e Joabe a Rabá, principal c id a d e
graça sob eran a, p ô d e usá-los para cum prir d os am on itas (1 1 :1 ,1 6 ,1 7 ; 1 Cr 20:1-3). O
seus p rop ósitos. N o é fo i um h o m e m d e fé e e x é rc ito am on ita havia fu g id o para a c id a d e
d e o b e d iê n c ia , mas se e m b ria go u . Em duas fo rtific a d a d e R abá (2 Sm 10:14 ), e J oab e e
o c a s iõ e s , A b r a ã o m en tiu s o b re a e s p o s a ; os s o ld a d o s d e Israel estavam e s p e ra n d o o
Jacó m entiu a o pai, Isaque, e a o irm ão, Esaú. p o v o fica r sem c o m id a e sem ág u a para,
M o is é s p erd eu a c a b e ç a q u a n d o m atou um en tão , atacar a cid a d e . Davi e n v io u J oab e e
e g íp c io , e P ed ro p erd eu a c o r a g e m e n eg o u seu e x é rc ito para sitiar Rabá, mas e le m es­
a C risto três v e z e s . m o fico u e m Jerusalém. É p ro vá vel q u e fos ­
N e s ta p a s sa g em , v e m o s D avi - o h o ­ se abril ou m aio, q u e as chuvas d e in vern o
m em s eg u n d o o c o r a ç ã o d e D eus, o h o m e m tivessem c e s s a d o e q u e o clim a estivesse fi­
que c o m e t e u a d u ltério e d e p o is m a to u um c a n d o mais qu en te. D e a c o rd o c o m os cál­
c o m p a trio ta - e m seus e s fo rç o s d e s e s p e ra ­ cu lo s d e c ro n o lo g is ta s, a essa altura, Davi
d o s para e n c o b r ir seu p e c a d o . D avi pas­ d ev eria estar c o m c e rc a d e cin q ü en ta anos
sou p e lo m e n o s n o v e m e ses recu sa n d o -se d e id ad e. Por c erto , o rei havia sido a c o n s e ­
a c o n fe s s a r suas tr a n s g r e s s õ e s , a té q u e lh a d o p or seus líd eres a n ão se e n v o lv e r di­
D eu s lhe falo u , e o rei b u sco u a o S en h o r e re ta m en te nas batalhas (2 Sm 2 1 :1 5-1 7), mas
r e c o m e ç o u sua v id a . N o e n ta n to , p a g o u a in d a assim p o d e r ia te r a c o m p a n h a d o o
c a ro p o r seu s p e c a d o s , p o is c o m o disse e x é rc ito para ajudar a d e s e n v o lv e r a estraté­
C h arles S p u rg e o n : "D e u s n ã o p erm ite q u e gia e o fe r e c e r lideran ça moral.
seus filh o s p e q u e m c o m s u c es so ". In fe liz­ Q u e r D avi ten h a fic a d o e m Jerusalém p or
m e n te , D a v i s o fre u as c o n s e q ü ê n c ia s d e um b o m m o tiv o q u er não, um a c o is a é v e r­
seus p e c a d o s para o resto d a vida, e o m e s ­ d a d e : "Satanás s e m p re e n c o n tra algum tip o
m o a c o n te c e r á c o n o s c o se nos re b e la rm o s d e m a ld a d e para o c u p a r m ã os o c io s a s ".2 O
con tra Deus, p ois o S en h or d isciplina a q u em ó c io n ão é ap en a s a au sên cia d e ativid ad e,
am a e p ro c u ra c o n d u z i-lo s à o b e d iê n c ia . pois to d o s nós p rec is a m o s d e d es ca n so em
P a ga m o s a d ia n ta d o p elas coisas b o a s q u e in tervalos regulares; antes, o ó c io ta m b ém é
r e c e b e m o s na vida, p ois s o m o s p rep a ra d o s a a tivid a d e sem p ro p ó s ito algum . D e p o is d e
por D e u s p ara a q u ilo q u e te m r e s e rv a d o coch ilar durante a tarde, D avi d ev eria ter se
=ara nós. Q u a n to a o mal, p o ré m , p a g a m o s d e d ic a d o im e d ia ta m e n te a a lg u m a ta refa
Dor e le e m p re s ta ç õ e s , e as c o n s e q ü ê n c ia s adm inistrativa para o cu p a r sua m e n te e seu
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c o r p o ou. se qu eria cam inhar, d e v e r ia ter Inform ação (v. 3). Q u a n d o D eu s p ro íb e


c o n v id a d o a lg u é m a ir c o m e le. "S e está a lg o e ch a m a d e p e c a d o , n ão d e v e m o s pro­
o c io s o , n ão fiq u e s o z in h o ", e sc re ve u Sam uel curar d es co b rir mais s o b re o assunto. " Q u e ­
Johnson. "E se está s ozin h o , n ão fiq u e o c io ­ ro q u e sejais sábios para o b em e sím plices
so''. Se Davi tivesse s e g u id o esse con selh o , para o m al" (R m 1 6:19). Davi c o n h e c ia a le
teria p o u p a d o a si m e s m o e sua fam ília d e s o b re adu ltério, e n tã o p or q u e en v io u m en­
m uito sofrim en to. sageiros para in vestigar a m ulher?3 P orqu e
Q u a n d o D avi c o lo c o u d e lad o sua arm a­ e m seu c o ra ç ã o , já havia to m a d o Bate-Seba
dura, d eu o p rim eiro passo ru m o à d errota para si e estava an sio so para se e n c o n tra -
m oral, um p rin cíp io q u e se aplica, igu alm en ­ c o m ela. D e sc o b riu q u e B ate-Seba era uma
te, aos cristãos d e h o je (Ef 6 :1 0-18). Sem o m ulher casada, fa to q u e d ev eria ter sido su­
c a p a c e te da salvação, n ão p en s a m o s c o m o fic ie n te para im p ed ir q u e p rossegu isse con
criaturas salvas, e sem o peitoral ("c o u r a ç a ") seu p lan o p erverso . Q u a n d o s o u b e q u e ela
d a ju stiça, n ã o te m o s c o m q u e p ro te g e r era e s p o s a d e um d e seus s o ld a d o s valerv
n osso c o ra ç ã o . N a falta d o cinto da v erd a ­ tes, q u e se en c o n tra va no c a m p o d e batalha
d e, acred itam o s facilm en te e m mentiras (" P o ­ (2 3 :9 ), d e v e ria ter se d irigid o à te n d a da c on ­
d e m o s nos safar d e s s a !"), e sem a e sp a d a g re g a ç ã o , se p ro strad o c o m o rosto e m ter­
d a Palavra e o e s c u d o da fé, fic a m o s im p o ­ ra e s u p lica d o p e la m is ericó rd ia d e Deus.
ten tes dian te d o inim igo. S em a o ra ç ã o , não P e la b r e v e g e n e a lo g ia a p re s e n ta d a , Da\
te m o s força s e, qu an to a o c a lç a d o da paz, d e v e ria ter p e rc e b id o q u e Bate-Seba era n e tj
Davi cam in h ou em m e io a batalhas p e lo res­ d e A ito fe l, seu c o n s e lh e iro p re d ile to (23:34
to da vida. Estava mais segu ro no c a m p o d e 16:23). N ã o é d e se adm irar q u e A ito fe l tenha
bata lh a d o q u e d e n tro d o s m u ros d e sua to m a d o o p artid o d e A b s a lã o q u a n d o est^
casa! se re b e lo u con tra o pai e usurpou o reino!
Imaginação (v. 2b). N ã o se p o d e culpar D avi c o n h e c ia a lei e d ev eria tê-la recor
um h o m e m se um a m ulher b on ita entra em d a d o e a p lic a d o e m seu c o ra ç ã o . " N ã o cg
seu c a m p o d e visão, mas se o h o m e m se biçarás a m ulher d o teu p ró x im o " (Êx 20:1 7
d e m o ra d elib era d a m e n te e olh a outra v e z a " N ã o adulterarás" (Êx 2 0 :1 4 ). D avi t a m b é r
fim d e alim entar sua 'ascívia, está p rocu ran ­ sabia q u e os servos d o p a lá cio viam e ob­
d o p roblem as. Jesus disse: "O u v is te s q u e foi viam tu d o o q u e a c o n te c ia e relatavam
dito: N ã o adulterarás. Eu, p orém , v o s d igo : o u tros, d e m o d o q u e n ã o seria c a p a z oe
q u a lq u e r q u e olh ar para um a m u lher c o m fa z e r c o is a algum a às e sco n d id a s. E pro',
in te n çã o im pura, n o c o r a ç ã o , já ad u lterou vel q u e já fosse d e c o n h e c im e n to geral que
c o m e la " (M t 5:27, 28). Q u a n d o D avi parou o rei estava m o stra n d o in teresse p ela es>)-^
e olh ou d e m c a d a m e n t e p ela s egu n d a v ez , sa d e seu p ró xim o. P orém , m e s m o q u e r i™-
sua im a gin a ç ã o pôs-se a trabalhar e c o m e ­ gu ém além d o m e n sa g eiro sou b e s se o que
ç o u o p ro c e s s o d e c o n c e p ç ã o d o p e c a d o . se passava, o Sen h or D eu s sabia e não a p r
T eria s id o o m o m e n to p e r fe ito d e d ar as vava o q u e D avi estava fa z e n d o . D eu s d e .
costas d e um a v e z p o r to d as a o q u e havia te m p o para o rei reco b rar o ju íz o e b u f^ a 1
visto, sair d o terra ço d o p alácio e ir para um p erd ã o , p o rém D avi só en d u rec eu o coraçã*:
lugar mais segu ro. Q u a n d o José en fren tou e con tin u ou a fingir q u e estava tu d o b e n
te n ta çã o parecid a, apressou-se e m fugir (G n
39:11-1 3). "V ig ia i e orai, para q u e n ão entreis 2. A p e rp etra çã o (2 Sm 11:4)
em te n ta ç ã o ; o esp írito , na v e r d a d e , está U m d o s m istérios d es se e p is ó d io é a d ispo
p ron to, mas a carn e é fra c a " (M t 2 6 :4 1 ). síção d e Bate-Seba e m a c o m p a n h a r os me«»
Davi d e v e r ia ter o r a d o p e d in d o : " N ã o sageiros e e m sujeitar-se aos d e s e jo s d e Da. -
nos d eixes cair e m te n ta ç ã o ". A o se d em o ra r O te rm o h e b r a ic o tr a d u z id o p o r "traz- '
e olhar, Davi ten tou a si m e sm o; a o enviar ( laqah ) p o d e significar, sim plesm en te, "b u i
m en sageiros, ten tou Bate-Seba; e a o se e n ­ car, re c e b e r ou adqu irir", ou ta m b ém p: <3t
trega r aos d e s e jo s da carn e, ten tou o Senhor. ser tr a d u z id o p o r "agarrar, p e g a r à força.
2 S A MU E L 1 1 - 1 2 327

tom a r". P orém , n ão p a receu ter h avid o e v i­ ad m item q u e foram infiéis a o c ô n ju g e, mas
d ên c ia algu m a d e fo r ç a ou d e v io lê n c ia n o isso n ão p a re c e causar qu alq u er d a n o a sua
texto, e o leitor s u p õ e q u e B ate-Seba c o o - im a g em p ú b lica ou a sua renda. D iv ó rcio s
Derou c o m os m en sa geiros. M a s p o r quê? com b a s e a p e n a s e m q u e s tõ e s v a g a s d e
Bate-Seba sabia p o r q u e D avi a desejava? " in c o m p a tib ilid a d e " sim plificam o p r o c e d i­
tm c a so afirm ativo, será q u e se d e te v e para m e n to , m as n ão e vita m as c o n s e q ü ê n c ia s
pensar qu e, um a v e z q u e sua m en stru ação e m o c io n a is d o lo ro s a s d a in fid elida de. P asto­
la v ia te rm in a d o havia p o u c o te m p o (v. 2), res e c o n s elh e iro s sab em c o m o n ão é fácil
e n con tra va -se n o p e r ío d o fértil? T a lv e z ela para as vítim as en c o n tra rem a cura e re co n s ­
quisesse ter um filh o c o m o rei! 1 Reis 1 re­ truírem sua v id a e seu lar, e, no entan to, a
vela q u e Bate-Seba n ão era e x a ta m e n te d o m ídia con tin u a e n sin an d o c o m o ro m p e r os
tip o passivo. "S e rá q u e essa jo v e m d o n a d e vo to s m atrim oniais e, a p a ren tem en te, e sc a ­
casa arm ou to d a a situ ação?", p erg u n ta o par in cólu m e.
o ro fe s so r E. M . Biaiklock. "P o d e m o s e n co n - D avi e B ate-Seba p ecara m con tra Deus,
rrar mais d o q u e sim ples suspeitas d e q u e pois fo i D eu s q u em instituiu o c a s a m e n to e
ela atirou a re d e na qual D avi caiu tão facil- criou as regras q u e o go vern a m . Israel c o n ­
m e n te ".4T a lv e z ela tivesse p e n s a d o q u e D avi s id erava o a d u ltério um p e c a d o tã o sério
havia r e c e b id o n otícias d a fren te d e batalha qu e, tanto o h o m e m qu an to a m ulher q u e o
a re sp e ito d o m arido. Porém , n ã o cab ia a o c o m etia m , eram le v a d o s para fora da c id a ­
rei transmitir n o tific a ç õ e s militares. Será q u e d e e a p e d re ja d o s (Lv 2 0 :1 0 ; D t 2 2:22 -2 4; Jo
sentia falta d o a m o r d e seu m a rid o e seu 8:1-6). D eu s leva a sério os v o to s m a trim o­
Danho d e p u rifica çã o em p ú b lico fo i um con- niais q u e n o ivo s e n oivas fa ze m , m e s m o q u e
. ite a q u a lq u e r h o m e m q u e, p o r acaso , a os jo v e n s casais não os c o n s id e re m d e m o d o
e stive ss e o b s e r v a n d o ? Se e la recu sa sse o tão ju d ic io s o (M l 2 :1 4; H b 13:4).
p e d id o d e D avi, o rei castigaria o m arido?
iO qu e, aliás, a c o n te c e u d e qu alq u er fo rm a !) 3. A o c u lta ç ã o (2 Sm 11:5-27)
N e n h u m c id a d ã o is ra e lita d e v ia o b e ­ " A m ulher c o n c e b e u e m a n d o u d iz e r a Davi:
diên cia a um rei q u a n d o este tran sgredia a Estou grá vid a " (2 Sm 1 1 :5). Estas são as úni­
lei d e D eus, pois o rei havia fe ito um a alian­ cas palavras d e B a te-S eb a registra d a s em
ça c o m D eu s e c o m o p o v o d e sujeitar-se à t o d o o e p is ó d io , mas são palavras q u e Davi
.ei divina. Será q u e Bate-Seba p en sou qu e, não qu eria ouvir. P o d e m o s parafrasear essa
a o sujeitar-se a D avi, estaria o b t e n d o um a m e n sa gem curta c o m o : "A b ola está d e seu
arma para ajudá-la no futuro, e sp e c ia lm e n te la d o d a qu ad ra". T á tic o p ersp ica z, D avi mais
ca so seu m a rid o fo s s e m o rto e m co m b a te ? q u e d ep re ss a d e s e n v o lv e u um p la n o para
P o d e m o s fa z e r essas e muitas outras p erg u n ­ ocu ltar seu p e c a d o . C h a m ou Urias d o c a m ­
tas, mas e n co n tra r as respostas para elas n ão p o d e batalh a, na e s p e ia n ç a d e q u e ess e
é nada fácil. O te x to b íb lico n ão d á detalhes, s o ld a d o v a le n te fo s s e para casa e passasse
e as con jectu ra s n ão são d e gra n d e ajuda. algu m te m p o c o m a e sp o sa . N a v e rd a d e ,
O p e c a d o q u e a lascívia d e D avi havia D avi o rd e n o u q u e fo s s e para casa (v. 8), mas
c o n c e b id o estava para nascer, o qual traria o s o ld a d o d e s o b e d e c e u a essas o rd e n s e
r is te z a e m orte. D e a c o rd o c o m P ro vé rb io s passou a n o ite c o m o s serv o s d o rei. Davi
6, e m b rev e D avi seria c a ç a d o (v. 26), q u e i­ até en v io u c o m id a d e sua própria m esa para
m a d o (vv. 27, 28), d e s g ra ç a d o e arruinado q u e Urias e a e s p o s a desfrutassem um ban­
/v. 3 0 -3 3 ), tu d o isso p o r a p e n a s algu n s q u ete, mas Urias n em levou esse p resen te
m inutos d e p ra z e r p ro ib id o . O s film es d e para casa. Ficam os im a gin an d o se Urias ti­
H o lly w o o d , os p rogram as d e T V e a literatu­ nha o u v id o a lg o q u e o d eix o u d e s c o n fia d o .
ra d e fic ç ã o atual usam histórias s o b re adul- O s p alacian os são fa m o s o s p o r suas fo fo ca s.
le rio c o m o um a fo r m a d e e n tre te n im en to , D a v i t e v e d e p en s a r e m o u tro p la n o .
o qu e serv e ap en a s para m ostrar c o m o an­ Seu p ró x im o artifício fo i c h a m a r Urias para
dam as coisas. H o je e m dia, p esso a s fam osas ou tra a u d iê n cia n o dia segu in te, s e n d o q u e
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durante ess e e n c o n tro o rei o re p re e n d e u J oab e ten h a lido as entrelinhas d a carta d e


p or não voltar para casa. C o m o um v erd a ­ D avi e d e d u z id o q u e a única c o is a q u e Urias
d e iro s old a d o , Urias cen su rou b ra n d a m e n ­ possuía e q u e D avi p o d e ria d eseja r era uma
te o rei p o r sugerir q u e um d e seus h o m en s b ela esp o sa , d e m o d o q u e c o o p e r o u c o m i
c o lo c a s s e o p razer p essoal antes d o d ever, plan o. Afinal, o fa to d e sab er d essa intriga
e s p e c ia lm e n te q u a n d o seus c o m p a n h e iro s d e D avi p od eria , algum dia, ser um a arma
estavam no c a m p o d e batalha. A té m e sm o nas m ãos d e Joabe. A lé m disso, o próprin
a arca d a alian ça en co n tra va -se num a ten ­ J oab e já m atara A sael, A b n e r (2 Sm 2:1 7-24-
da, e n tã o p o r q u e Urias d e v e ria desfrutar sua 3:27ss) e ain d a iria m atar A m a s a (2 Sm 20:6-
casa e sua esp osa? 1 S am u e12 1 :5 in dica q u e 1 0 ), d e m o d o q u e e n t e n d ia d o assunto
os s o ld a d o s d e D avi a b stin h a m -se d e re ­ J o a b e sabia q u e n ão p o d e ria e n v ia r Urias
la ç õ e s s ex u a is e n q u a n t o c u m p ria m seu s a té as muralhas s ozin h o , pois isso levantaria
d ev eres militares (regra b a s ea d a em Lv 1 5 :1 6- suspeitas. Portanto, m a n d o u ta m b ém vários
18); d e m o d o q u e Urias d e v e ter fic a d o sur­ "s e rv o s d o rei" (v. 24), q u e m orreram juntn
p reso c o m a su gestão d e seu com a n d a n te. c o m Urias só para q u e D avi e n c o b riss e seu i
O terceiro artifício d e D avi fo i co n v id a r p ec a d o s . É possível q u e esses "s e rv o s d o rei
Urias para c o m e r c o m e le antes d e voltar à fo s s em m e m b ro s d a gu arda p essoal d e Da\
batalha. D urante essa re fe iç ã o , D avi passou- os m elh ores s o ld a d o s israelitas (8 :1 8 ).
lhe o c á lic e tantas v e z e s q u e U rias fic o u A e x p ressã o d e tristeza d e Bate-Seba pf i
e m b r ia g a d o . N o en tan to , m e s m o b ê b a d o , m o rte d o m a rid o gu erreiro, ain da q u e since­
U rias m ostrou ser um h o m e m mais d ig n o ra, ta lv e z ten h a sido a m e n iza d a p e lo fato de
d o q u e D avi q u a n d o estava sób rio, p ois re­ sab er q u e lo g o estaria v iv e n d o no p alácio. E
cusou mais um a v e z ir para casa. Urias era p ro vá ve l q u e as p esso a s ten h am se espanta­
um s o ld a d o d e c o r p o e alm a, e m e s m o d e ­ d o q u a n d o se casou tã o rapid am en te, I c r j
p o is q u e o á lc o o l d erru b o u suas d efes a s , d e p o is d o funeral, c o m n in gu ém m e n o s t e
p e rm a n e c e u fiel a sua m issão. H a via a p e ­ q u e o rei. P orém , seis m e se s d ep o is, q i i - -
nas um a c o is a a fa ze r: Urias d ev eria morrer. d o d eu à luz um m en in o, o e sp a n to foi g e . l
Se D avi n ão co n s eg u is se c o n v e n c e r Urias a outra v e z . 2 Sam uel 3:1-5 dá a e n te n d e r r •_*
ir para casa, teria d e tirá-lo d o c a m in h o para Bate-Seba fo i a sétim a e s p o s a d e Davi,
q u e p u d esse se casar c o m a viú va d o sold a­ a o c o n ta r c o m M ica l, q u e n ão te v e filh *
d o, e, qu an to antes o fize ss e, m elhor. D avi Bate-Seba foi a oitava. Nas Escrituras, o n ún e-
e stava q u e b ra n d o c a d a um d o s d e z m a n ­ ro o ito indica, c o m freq ü ên cia , um r e c o n r -
d a m e n to s . C o b iç o u a e s p o s a d o p ró x im o ç o e, c o m o n ascim en to d e S a lo m ã o a Dí>»
e c o m e te u ad u ltério c o m ela. Em segu ida, e Bate-Seba, essa e sp era n ça se cum prii'.
d eu falso testem un h o con tra o p ró xim o e deu N o en ta n to , D avi ain d a tinha assun *
o rd en s para q u e fo s s e m orto. D avi p en sou p en d en te s d os quais precisava cuidar,
estar e n g a n a n d o a to d o s qu a n d o, na v e rd a ­ o S en h or estava d e s g o s to s o c o m tu d o o ;u e
de, estava ap en a s e n g a n a n d o a si m esm o. o rei havia feito.
A ch o u q u e p o d e ria escap ar da culpa, en q u a n ­
to, na realidade, só a estava alim en ta n d o e, 4. A c o n fis s ã o (2 S m 12:1-14)
p or fim , n ão havia c o m o fugir d o ju lg a m e n to N a tã te v e o p rivilé gio d e transmitir a Da- *
d e D eus. " O q u e e n c o b r e as suas transgres­ m e n sa gem s o b re a aliança d e D eu s c o — ■
sões jam ais p ro sp era rá " (P v 2 8 :13 ). rei e seus d e s c e n d e n te s (2 Sm 7), mas a-:**
J oab e havia sitiado R abá e o rd e n a d o q u e te v e d e realizar um a cirurgia espiritual p d f
seus h o m en s n ão se ap roxim assem d o m uro c o n fro n ta r D avi c o m seus p e c a d o s , h >«
para q u e n ão fo s s em ferid o s e m ortos. P o r p e lo m e n o s seis m eses, o rei vin h a e " : »
v e z e s , algu n s s o ld a d o s a m o n ita s saíam a b rin do seus p ec a d o s , e o b e b ê d e B a te -ie o a
p orta da c id a d e para tentar atrair os sold a­ estava prestes a nascer. A tarefa q u e o
d o s israelitas p ara m ais p e rto e atacá-los. nh or havia d a d o a N a tã n ão era nada faafc
S en d o um h o m e m p ersp ica z, é possível q u e mas tica e v id e n te q u e o p ro fe ta preparo^ -*■
2 S A MU E L 1 1 - 1 2 329

c o m c u id a d o a n tes d e se e n c o n tra r c o m o p e c a d o d os ou tros (M t 7:1-3)! R ou bar e


Davi. matar um animal d o m é s tic o n ão era um cri­
O julgamento (vv. 1-6). A o con tar uma m e capital e m Israel, mas D avi estava tã o
nistória s o b re um c rim e d e o u tro h o m em , irado q u e e x a g e ro u o c rim e e ta m b ém o cas­
N atã p rep arou D avi para lidar c o m o s pró- tigo. A té esse m o m e n to , o rei vinha m inim i­
Drios p ec a d o s , e é p ossível q u e D avi tenha z a n d o as c o n s e q ü ê n c ia s d e seus atos sem
□ en sad o q u e N a tã estava lhe ap re se n ta n d o to m a r qu alq u er atitude, qu a n d o, na v erd a d e ,
-m c a so v e ríd ic o d o tribunal d e Jerusalém. aq u ilo q u e havia fe ito a Urias era d ig n o da
N a tã a p ro v eito u -se d o fa to d e o rei h aver p en a d e m orte. Tan to D avi qu an to Bate-Seba
b a ix a d o a gu arda para estudar suas re a ç õ es d ev eria m ter sido m o rtos p o r a p e d re ja m e n to
e discernir o q u e d e v e ria fa z e r e m seguida. (Lv 2 0 :1 0 ; D t 2 2:22 -2 4; Jo 8:1-6). U m a v e z
Lim a v e z q u e D avi havia sido pastor d e ove- q u e c o n h e c ia a lei, D avi calcu lou q u e o h o ­
Inas, sua a t e n ç ã o seria c a tiv a d a p o r um a m e m rico d ev eria dar qu atro o velh a s c o m o
história s o b re o ro u b o d e um a cordeirin h a restituição a o p ro p rie tá rio d o qual havia rou­
'-\ocente e, c o m o rei, D avi era resp on sá vel b a d o a c o rd eirin h a (Êx 22:1).
nor garantir q u e as fam ílias p o b re s tivessem O veredicto (vv. 7-9). O p ro fe ta p e r c e ­
acesso à justiça. b eu qu e, ap esa r d e Davi estar e x tre m a m e n ­
Deus o rie n to u N a tã para q u e e s c o lh e s ­ te irado, ta m b ém estava vu ln erável e p ro n to
se as palavras c o m c u id ad o, d e m o d o a lem- para q u e a e s p a d a d o Espírito atravessasse
Drar Davi d a q u ilo q u e havia fe ito . O p ro fe ta seu c o r a ç ã o (H b 4 :1 2; Ef 6:1 7). C o m um g o l­
afirm ou q u e a c o rd e irin h a "c o m ia d o seu p e rá p id o , N a tã d isse: "T u és o h o m e m !"
□ o c a d o [d o b o c a d o d o h o m e m p o b r e ] e (2 Sm 1 2 :7 ) e p ro ssegu iu e m sua ta refa d e
d o seu c o p o b e b ia ; d o rm ia nos seus bra­ m ostrar o e s p e lh o q u e re ve la v a c o m o o rei
ç o s " (v. 3). Isso d e v e r ia ter le m b r a d o D avi era, na v e r d a d e , um h o m e m d e s p r e z ív e l.
das palavras d e Urias e m 2 Sam u el 11:11: N a tã e x p lic o u a D avi o m o tiv o d e h aver rou­
"H e i d e eu entrar na m inha casa, para c o ­ b a d o a c o rd e irin h a d e Urias. Em p rim eiro
m e r e b e b e r e para m e d eita r c o m m inha lugar, o rei se e s q u e c e u d a b o n d a d e d o S e­
m u lh e r? " M a s s ó q u a n d o N a tã fa lo u d o nhor, q u e lhe d era tu d o o q u e e le p ossu ía
h o m e m ric o q u e ro u b o u e m atou a c o r d e i­ e teria lhe dado muito mais (vv. 7, 8). Em
rin h a q u e D a v i m o s tr o u a lg u m t ip o d e s e g u n d o lugar, D a v i h avia d e s p r e z a d o o
r e a ç ã o , e n fu r e c e n d o - s e c o m os p ec a d o s m a n d a m en to d e D eu s e a g id o c o m o se ti­
d es se o u tro h o m e m ! (v e r 1 Sm 2 5 :1 3 , 22, vesse o p rivilégio d e p ec a r (v. 9). A o cob içar,
33 para o u tro e x e m p lo d a ira d e D avi). A o c o m e t e r a d u ltério, dar fa lso te s te m u n h o e
□ue p a re c e , D avi n ã o se d eu c o n ta d e q u e matar, D avi q u e b ro u q u a tro d o s d e z m a n ­
ele era o h o m e m rico, U rias era o h o m e m d a m e n to s e pensou que poderia escapar
p o b re e B ate-Seba, a co rd e irin h a q u e havia incólume! Já era terrível D avi ter p ro v id e n ­
ro u b a d o . O " v ia ja n te " a o qu al o h o m e m c ia d o p ara q u e Urias fo s s e m o rto , m as p ior
rico d eu d e c o m e r re p res en ta a te n ta ç ã o e ain d a fo i ter usado, para isso, a e s p a d a d o
a lascívia q u e visitaram D avi n o te rra ço e in im ig o !
□ u e se a p o d e r a r a m d e le . S e a b rirm o s a A sentença (vv. 10-12). O a d u ltério d e
Dorta, o p e c a d o e n tra c o m o c o n v id a d o , D avi c o m Bate-Seba havia s id o um p e c a d o
mas lo g o se to rn a o sen h o r da casa (v e r C n p assion al, im p u lsivo, q u e o arrebatara, mas
4:6, 7). o p e c a d o d e m a n d ar m atar Urias havia s id o
Davi ju lg ou o h o m e m rico sem p e rc e b e r um c rim e p re m e d ita d o , d e lib e r a d o e v e r ­
q u e estava ju lg a n d o a si m esm o. D e to d o s g o n h o s o . T a lv e z , p o r e s s e m o tiv o , 1 Reis
os tip o s d e c eg u eira , o p ior é a q u e le qu e 15:5 e n fa tiz e o "c a s o d e Urias, o h e te u " e
n os c e g a para o q u e s om os . N a s palavras n ão m e n c io n e B ate-Seba. P orém , o S en h o r
d« Joseph Butler: "M u ito s h o m en s p a re ce m ju lg o u o s d o is p e c a d o s , p o is D avi p a g o u
□ e s c o n h e c e r in teiram en te o p ró p rio cará ter" c a ro p o r sua lascívia e p o r seu d o lo . D eu s
e D avi era um d ele s.5 C o m o é fácil p e rc e b e r retribuiu a D avi "e m e s p é c ie " (D t 1 9 :2 1 ; Êx
330 2 S AMU E L 1 1 - 1 2

2 1 :2 3 -2 5 ; Lv 2 4 :2 0 ), um p rin cíp io espiritual da c o v a re d im e a tua v id a [...]. Q u a n to disti


q u e D avi e x p re ss o u e m seu "s a lm o d e v itó ­ o O rie n te d o O c id e n te , assim afasta d e nós
ria" d e p o is d a m o rte d e Saul (SI 1 8:25 -2 7). as nossas tran sgressões" (SI 103:3, 4, 12).
A e s p a d a n ã o d e ix o u a casa d o rei, e N o entan to, a resp osta d e N a tã incluiL
suas esp o sa s foram to m a d a s e v iola d a s da um "m a s " ("M a s , p o s to q u e "), p ois apesar
m esm a fo rm a c o m o e le havia to m a d o Bate- d e D eus, e m sua graça, h aver p e r d o a d o os
S eba. D e fato, a retrib u ição fo i qu ádrupla, p e c a d o s d e Davi, e m sua soberan ia, te v e d e
p ois o b e b ê d e Bate-Seba morreu e seus fi­ perm itir q u e D avi sofresse as c o n seq ü ên cia s
lh os, A m n o m , A b s a lã o e A d o n ia s , fo ra m desses p e c a d o s , a c o m e ç a r p ela m o rte d (
m o rtos (2 Sm 13:29; 18:14, 15; 1 Rs 2 :2 5 ). b e b ê d e Bate-Seba. A o lo n g o d e to d o s os
Tamar, a b ela filha d e D avi, fo i estuprada p or m eses q u e passou e m silên cio, D avi sofrer;
seu m e io irm ã o (cap . 13), e as con cu b in as p ro fu n d a m en te , c o m o é p ossível p erc e b p -
d e Davi foram hum ilhadas p u b lica m en te p or e m suas duas o ra ç õ e s d e c on fiss ã o (SI 32 e
A b s a lã o q u a n d o e le to m o u o rein o (1 6 :2 2 ). 5 1 ). O S alm o 32 retrata um h o m e m idoso
D u ran te o resto d e sua vida, D avi passou e n fe r m o , n ã o um g u e rr e iro v ig o r o s o , e :
p o r um a su cessão d e tragédias, q u er e m sua S alm o 51 d e s c r e v e um h o m e m te m e n te a
fam ília quer em seu reino. Q ue alto preço Deus que havia perdido quase tudo - s lj
p a g o u p o r a q u e le s m o m e n to s d e p a ix ã o p u re za e alegria, seu testem u n h o, sua sabe­
c o m a e s p o s a d o p ró x im o ! d oria e sua p a z - , um homem cujo grande
O s castigos q u e D eu s d eterm in o u para m e d o era q u e D eu s tirasse d e le o Espírito
D avi haviam s id o p rescritos na alian ça d e Santo, c o m o havia fe ito c o m Saul. Davi pa>-
D eu s c o m Israel, a qual o rei d e v e ria guar­ sou p o r d o re s físicas e e m o c io n a is intensas
dar (Lv 26; D t 2 7 —30). Se a n a çã o se re b e ­ mas d eix o u para trás duas o ra ç õ e s precio­
lasse con tra D eus, e le m ataria seus filhos na sas para to d o s os cristãos q u e pecaram .
batalha (Lv 26:1 7; D t 28:25, 26), tom aria suas Em fu n çã o da o b ra c o m p le ta d e Cris’ c
crianças (Lv 2 6 :2 2 ; D t 2 8 :1 8 ), daria suas es­ na cruz, D eu s p o d e salvar os p e c a d o re s e
p osas a outros (D t 2 8 :3 0 ) e até m e s m o tira­ p e rd o a r os cristãos d e s o b e d ie n te s e, quart-s
ria Israel da terra e a levaria para o exílio em antes os p erd id o s e os re b e ld es se voltarp —
o u tro país (D t 2 8:63 -6 8). C o m o resu ltado da para o S en h o r e se a rrep e n d e rem , m e lh o -
re b e liã o d e A b salão , D avi fo i o b r ig a d o a fu­ será para eles. D avi esc re ve u : "C on fessei-
gir d e Jerusalém e a v iv e r n o d e s e rto . P o ­ o m eu p e c a d o e a m in h a in iq ü id a d e não
rém , a alian ça ta m b é m incluía um a s e ç ã o mais o cu lte i. D isse: c o n fe s s a re i a o Senp ^j
s o b re o a rrep e n d im e n to e o p e rd ã o (D t 30; as m inhas tran sgressões; e tu p erd o aste a
Lv 26:40 ss), e D avi creu nessas palavras. in iq ü id a d e d o m eu p e c a d o . S e n d o ass; rrv
O perdão (w. 13, 14). O prision eiro c o n ­ t o d o h o m e m p ie d o s o te fará súplicas e ~
d e n a d o sabia q u e o ju lg a m e n to era v erd a ­ te m p o d e p o d e r e n co n tra r-te" (SI 32:5, 6 ;.
d e iro e a s en ten ça era justa, d e m o d o qu e, "B uscai o Senh or en q u a n to se p o d e ach a-
sem q u a lq u e r a rg u m e n to , c o n fe s s o u : " P e ­ in vocai-o e n q u a n to está p e rto " (Is 55:6
qu ei con tra o Senhor" (v. 1 3).6 N a tã garantiu
a D avi q u e o S en h o r h avia p e r d o a d o seu 5. A d isc ip lin a (2 Sm 12:15-23)
p e c a d o . "S e c o n fes s a rm o s os nossos p e c a ­ A disciplina n ão é um c a stigo im p o sto p a r
dos, e le é fiel e justo para nos p e rd o a r os um ju iz irado q u e d e s e ja fa z e r cum prir a ks
p e c a d o s e nos purificar d e to d a in justiça" antes, é um a d ific u ld a d e p erm itid a p or ia s
(1 Jo 1:9). "S e o b serva res, Senhor, iniqüida- Pai carin h o so q u e d e s e ja q u e seus filhos ■*
des, qu em , Senhor, subsistirá? C o n tig o , p o ­ sujeitem a sua v o n ta d e e q u e d es en v o l\ 2í »
rém , está o p erd ã o , para q u e te te m a m " (SI um caráter p ie d o s o . A disciplina é uma * *
130:3, 4). pressão d o a m o r d e D eu s (P v 3:11, 12), e «
N ã o é d e se adm irar qu e, p o s te rio rm e n ­ te rm o h eb ra ico usad o em H eb reu s 12:5-' J
te, D avi ten h a escrito q u e o S en h or " é q u em sign ifica "a e d u c a ç ã o d e um a crian ça ra»-
p e rd o a todas as tuas in iqü idades [...] q u em trução, en s in o ". O s m en in o s g re g o s iam p c i
2 S A MU E L 1 1 - 1 2 331

o gymnasium ain da p e q u e n o s e ap ren diam "É o Senhor; faça o que bem lhe aprouver"
a correr, lutar, nadar e fa z e r e x e rc íc io s d e (1 Sm 3:1 8). Não há respostas simples que
arrem esso, a fim d e d e s e n v o lv e r um a "m e n ­ façam nossa mente sossegar, mas há muitas
te sã e um c o r p o s ã o ". N a v id a cristã, n em promessas confiáveis para aquecer nosso co­
sem p re a disciplina é um a re a ç ã o d e D eu s a ração, e a fé se alimenta de promessas, não
nossa d e s o b e d iê n c ia . P or v e z e s , e le nos p re­ de explicações.
para para um d es a fio q u e te re m o s p ela fren ­ U m a c o is a é certa: a s em a n a d e je ju m
te, c o m o um té c n ic o p rep a ra n d o atletas para e o r a ç ã o d e D avi e m súplica p e lo b e b ê fo i
os Jogos O lím p ic o s . Se o p e c a d o n ão tives­ um a d e m o n s tra ç ã o d e sua fé n o S en h o r e
se c o n s e q ü ê n c ia s d o lo ro s a s n em fo s s e se­ d e seu a m o r p o r B ate-Seba e seu filhinho.
g u id o d e q u a lq u e r d is c ip lin a d a m ã o d e P o u c o s m o n a rc a s d o O r ie n te teria m d erra ­
Deus, e m q u e tip o d e m u n d o in so le n te e m a d o um a lágrim a s e q u e r ou e x p re s s a d o
irrespon sável viveríam os? um a só frase d e tristeza se um b e b ê nasci­
Bate-Seba deu à luz um m en in o, o qual d o d e um a das "e s p o s a s " d o harém m o r­
S a tã p ren u n cio u q u e m orreria, mas, ainda resse. A p e s a r d e seus m u itos p e c a d o s , D avi
assim, D avi je ju o u e orou, p e d in d o a D eus ain d a era um p astor sen sível e um h o m e m
□ue cu ra sse a cria n ç a . O S e n h o r n ã o in­ s e g u n d o o c o r a ç ã o d e D eus. N ã o havia sido
terrom p eu as o ra ç õ e s d e D avi nem lhe or- "e n d u r e c id o p e lo e n g a n o d o p e c a d o " (H b
□ en o u q u e p a ra ss e d e interceder; afin al, 3 :1 3 ). D avi s e lavou, tro c o u de roupa, ado­
aiante d e to d o s os p e c a d o s q u e D avi havia rou a o S en h o r e v o lto u para a sua vida , c o m
c o m etid o , não lhe faria mal passar o dia em to d a s as re sp e ctiva s d e c e p ç õ e s e d e v eres .
oração. D e p o is d o s m eses d e silên cio e d e N a s Escrituras, lavar-se e tro c a r d e ro u p a
s ep ara çã o d e D eus, havia m uita c o is a q u e s im b o liz a um r e c o m e ç o (G n 3 5:1, 2; 4 1 :1 4 ;
Davi p recisava c o lo c a r em dia c o m o Senhor. 4 5 :2 2 ; Êx 1 9 :1 0 ; Lv 14:8, 9; Jr 5 2 :3 3 ; A p
O b e b ê v ive u apenas um a sem an a, e os pais 3 :1 8 ). N ã o im p o rta o te m p o n em a intensi­
" ã o p u d era m circu n cidá-lo n em dar-lhe um d a d e d a disciplina d o Senhor, e le "n ã o re­
n o m e no o ita v o dia. Seu filho, S alo m ã o, re­ p re e n d e p erp etu a m en te, n em c o n s e r v a para
c e b e u d ois n o m es (vv. 24, 2 5 ), mas esse fi- s em p re a sua ira" (Sl 103 :9 ). Pela gra ça e a
,ho seq u e r te v e um n om e. m isericórd ia d e D eus, p o d e m o s s e m p re re­
P or q u e um D eu s ju sto e a m o r o s o n ão c o m e ç a r.
■espondeu às o r a ç õ e s d e um pai arrep en- A s palavras d e D avi n o versícu lo 23 ser­
aido e e x tre m a m e n te aflito e n ão cu rou a v e m d e gra n d e c o n s o lo para os q u e p e rd e ­
criança?7 Afin al, n ão era cu lp a d o b e b ê q u e ram um filho p e q u e n o , mas n em to d o s os
os pais tivessem p e c a d o con tra o Senhor. A e s tu d io s o s d o A n t ig o T e s ta m e n to c o n c o r ­
o ro p ó s ito , p o r q u e D eu s perm itiu q u e Urias dam q u e as palavras d o rei sejam um a re ve ­
e alguns d e seus c o m p a n h e iro s d o e x é r c i­ lação d e Deus. T a lv ez estivesse sim plesm en te
to m o rre s se m e m R ab á só p ara q u e D avi d iz e n d o : " M e u filh o n ã o p o d e voltar da c o v a
se casasse c o m Bate-Seba? C o n tin u e fa ze n - n em d o m u n d o d o s espíritos q u e partiram,
30 p ergu n ta s d e s s e tip o e, n o final, c h e g a ­ mas um dia eu m e en con tra rei lá c o m e le ".
rá à m a io r d ú vid a d e to d as: " p o r q u e um P orém , q u e c o n s o lo há para nós n o fato d e
De us d e a m o r p e r m ite q u e o m al e x is ta qu e, um dia, to d o s m o rrem ? A d e c la ra ç ã o
"•este m u n d o ?". P o s te rio rm e n te , D avi o lh o u "n ã o voltará para m im " mostra q u e D avi acre­
oara trás e c o n s id e r o u e s s a e x p e r iê n c ia ditava q u e seu filh o n ão seria re en c a rn a d o
s o lo ro s a c o m o p arte d a " b o n d a d e e m ise- e qu e, ta m b ém , n ão ressuscitaria antes d o
" c ó r d ia " d e D e u s (Sl 2 3 :6 ) ta n to para c o m te m p o d o Senhor. A lé m disso, afirm a q u e
ele q u a n to para c o m o b e b ê . " N ã o fará jus- D avi e sp era v a v er e re c o n h e c e r o filho na
íiç a o Juiz d e t o d a a te rra ? ", p e r g u n to u v id a futura. Para o n d e D avi iria um dia? " H a ­
■Xbraão (C n 1 8 :2 5 ). A o o u vir as terríveis no- bitarei na C asa d o Se n h o r para to d o o sem ­
ncias d o ju lg a m e n to d e D eu s s o b re sua fa­ p r e " (Sl 2 3 :6 ; v e r ta m b é m Sl 11:7; 16:11;
mília, até m e s m o Eli, o ap óstata, c o n fe s s o u : 1 7 :1 5 ).8

SmiÜTuCA M jíí HcY CLAff*


332 2 S A MU E L 1 1 - 1 2

6. O c o n s o lo (2 S m 12:24, 25) a c o n c lu ir o c e r c o d e R abá (2 Sm 10:14;


N ã o im p o rta q u ã o arrasados nos sintam os 1 1 :1 ; 1 2 :2 6 -3 1 ). A o s p o u c o s , o e x é r c ito
p ela m ã o disciplin adora d e n o sso Pai a m o ­ israelita havia to m a d o c o n ta d a cid a d e , pri­
roso, o S en h or ta m b ém o fe r e c e c o n s o lo (ver m eiro da re g iã o o n d e fica va o p a lá c io real
Is 4 0:1, 2, 9-11, 28-31). A n tes d e o m en in o (v. 2 6 ) e, d ep o is , d a p arte q u e c on tro la v a
morrer, D eu s ch a m o u Bate-Seba d e "m u lh er seu a b a s te c im e n to d e á g u a (v. 2 7 ). Joabe
d e U rias" (v. 1 5), ta lv e z p o r q u e essa era sua e sta v a p ro n to para a últim a in vestid a q u e
id e n tid a d e q u a n d o o b e b ê fo i c o n c e b id o , en cerraria o c e rc o , mas qu eria q u e o rei es­
mas, no versícu lo 24, e la é a e s p o s a d e Davi, tivesse lá para c o m a n d a r o e x ército . Q uais­
in d ic a n d o qu e, assim c o m o D avi, e la ta m ­ q u er q u e fossem seus d efeito s, p e lo m en os
b é m esta va r e c o m e ç a n d o . Q u e e v id ê n c ia J oabe d eseja va honrar seu rei. D avi fo i a Rabá
extraordin ária da gra ça d e D eu s o fa to d e a e lid erou as tropas d e incursão q u e derru b a­
"m u lh er d e U rias" ser m e n c io n a d a na g e n e a ­ ram a c id a d e.
lo gia d o M essias (M t 1 :6), ju n tam en te c o m N en h u m rei c o n s eg u iria usar p o r m uito
Tam ar (M t 1:3; G n 38), R a a b e e Rute (M t te m p o um a c o r o a q u e p esava d e vin te e cin­
1:5; Js 2 e 6:22-25; Rt 1, 4; D t 2 3:3). c o a trinta e três quilos, d e m o d o q u e a " c o ­
P e lo m e n o s n o v e m e se s en c o n tra m -se r o a ç ã o " d e D avi foi um ato d e Estado b reve
c o n d e n s a d o s nos versícu los 24 e 25, n o ve p o r é m o ficial, in d ic a n d o a a p ro p ria ç ã o d e
m eses d a graça e d a terna m isericórd ia d e A m o m c o m o seu território. (A c o r o a im p e­
Deus. Foi D eu s q u e m fe z c o m q u e o c o rr e s ­ rial usada p elo s reis e rainhas da Inglaterra
se a c o n c e p ç ã o e q u em p ro vid en c io u para p es a m e n o s d e um qu ilo e m e io e, para os
q u e a q u e le b e b ê tivesse a "estrutura g e n é ti­ m o n arcas, já p a r e c e um ta n to p e s a d a !) A
c a " n ecessária para realizar sua v o n ta d e (SI c o r o a era e x tre m a m e n te valiosa, d e m o d o
139:13-16). " O Senhor o a m o u " d e m aneira q u e D avi a levou ju n to c o m a gra n d e quan­
m uito particular e até m e s m o d eu a S a lo m ã o tid a d e d e d e s p o jo s e n c o n tra d a na cida de. É
(" p a c ífic o " ) um n o m e e sp ec ia l: "Jedidias - b e m p rová vel q u e a m aior parte dessa riqueza
a m a d o p e lo Senhor". U m a v e z q u e D avi sig­ tenha sido acrescen tad a aos tesou ros d o Se­
nifica "a m a d o ", pai e filho fora m liga d o s p or nh or e usada para a c on s tru çã o d o tem p lo.
n o m e s sem elh an tes. D eu s havia d ito a D avi D avi c o lo c o u alguns d e seus p rision ei­
q u e esse filho n asceria e construiria o te m ­ ros d e gu erra para trabalhar c o m serras, pi­
p lo (2 Sm 7:12, 13; 1 Cr 22:6-10) e cumpriu caretas e m a ch a d o s e p ôs ou tros para fa z e '
sua prom essa. T od a v e z qu e D avi e Bate-Seba tijolos. Em sua graça, D eu s c o n c e d e u essa
olhavam para S alom ão, sua p resen ça os lem ­ vitó ria a D avi, apesar d e o rei ter se mostra­
brava d e q u e D eus havia p e rd o a d o seu pas­ d o um h o m e m re b e ld e. Ele e seu exé rc ito
sado e garantido seus planos para o futuro. v oltara m para Jerusalém , o n d e D avi ainca
passaria p or mais disciplinas, d essa v e z p or
7. AS CONQUISTAS m e io d o s m e m b ro s adultos d e sua famíl ’ .
(2 S m 12:26-31; 1 C r 20:1-3) H a v ia fo r ç a d o os am on itas a d eix arem suas
N o e n ta n to , D avi a in d a tin h a o tra b a lh o espadas, mas um a e sp a d a havia sido d e s e "'-
d o re in o a realizar, in clu siv e aju da r J o ab e bain h ad a e m sua família.

1. 1 Crônicas não apresenta relato algum dos grandes pecados de Davi. Esse livro foi escrito do ponto de vista do sacerdocm.
e sua ênfase é sobre a grandeza dos reis, não sobre seus pecados. Davi e Salomão são descritos como "governa-*«
ideais".
2. W atts , Isaac. "Divine Songs for Children", 1715.
3. O verbo "enviar" é repetido com freqüência nos capítulos 11 e 12. Ver 11:1, 3,4, 5, 6 {duas vezes), 8, 12, 14, 18, 22: 12-L
25, 27. Os pecados de Davi mobilizaram todo mundo!
4. B la ik lo c k , E. M. Professor Blaiklock's Handbook of Bible People. Londres: Scripture Union, 1979, p. 210.

5. B utler , Joseph. Fifteen Sermons. Charlottesville, VA: Ibis Publishing, 1987, p. 114.
2 S A MU E L 1 1 - 1 2 333

Saul usou a declaração "pequei" três vezes, mas não com sinceridade (1 Sm 15:24, 30; 26:21). Davi disse "pequei" pelo
menos cinco vezes (2 Sm 12:13; 24:10, 1 7 [1 Cr 21:8, 17]; Sl 41:4; 51:4). Davi foi o filho pródigo do Antigo Testamento,
aquele que se arrependeu e "voltou para casa", onde encontrou perdão {Lc 15:18, 21). Para outras pessoas que fizeram essa
mesma declaração, ver Êxodo 9:27; Números 22:34; Josué 7:20; 2 Samuel 19:20; Mateus 27:4.
Como aconteceu com Jonas e a cidade de Nínive, o decreto de julgamento de Deus pode ser interrompido pelo arrependimento
das pessoas envolvidas (Nínive só caiu mais de um século depois). A previsão de que o bebê de Bate-Seba morreria cumpriu-
se na mesma semana, pois Deus escolheu agir naquele momento. O caráter e os propósitos de Deus não mudam, mas a fim
de cumprir esses propósitos, ele muda seu tempo e seus métodos.
Uma vez que as Escrituras não apresentam uma revelação conclusiva sobre a questão da morte de crianças, os teólogos
buscam uma solução para esse problema, enquanto cristãos fiéis e tementes a Deus, muitas vezes, não chegam a um
consenso. Para uma visão teológica equilibrada e sensível, ver N ash, Ronald H. When a Baby Dies. Zondervan, 1999.
os p e c a d o s d e D avi (1 2 :1 3 ), mas o rei d es­
6 c o b riu q u e as c o n s e q ü ê n c ia s d e p e c a d o s
perdoados são d o lo ro s a s . D eu s havia a b e n ­

Os F ilh o s Rebeldes ç o a d o D avi c o m m u itos filh os (1 Cr 28:5).


m as o S e n h o r tran sfo rm a ria alg u m a s d es ­

de D avi sas b ê n ç ã o s e m m a ld iç õ e s (M l 2:1, 2). "A


tua m alícia te castigará, e as tuas in fid elid a­
d es te r e p r e e n d e r ã o " (Jr 2 :1 9 ). O s a c o n te ­
2 S am uel 1 3 - 1 4
cim en tos d os capítulos 13 e 14 desdobram -se
c o m o um a sin fon ia trá g ic a c o m c in c o m o ­
v im e n to s : d o a m o r à lascívia (1 3 :1 -1 4 ), da
la s c ív ia a o ó d io (1 3 :1 5 - 2 2 ), d o ó d io a o

V
im o s nos d e z p rim e iro s c a p ítu lo s d e h o m ic íd io (1 3 :2 3 -3 6 ), d o h o m ic íd io a o exí­
2 Sam uel c o m o D eu s d eu p o d e r a Davilio (1 3 :3 7 -3 9 ) e d o e x ílio à re c o n c ilia ç ã o
para d erro ta r os in im igo s d e Israel e para (1 4 :1 -2 3 ).
co n s o lid a r e e xp an d ir o reino. Em seguida,
D avi c o m e te u os p e c a d o s d e adultério, h o ­ 1. D o AMOR À LASCÍVIA (2 S m 13:1-14)
m ic íd io e falso testem u n h o (caps. 11 - 12); A b s a lã o é m e n c io n a d o p rim e iro , p o is os
o restante d o livro m ostra D avi lutando c o m cap ítu los 1 3 - 1 9 c on cen tra m -se na "h istó­
p ro b lem a s causados p elo s p róprios filhos. Fo­ ria d e A b s a lã o "; Tam ar era sua irm ã p or par­
ram dias som b rio s e c h e io s d e d e c e p ç õ e s , te d e pai e m ãe. Tanto Tam ar qu an to A b s a lã o
mas o rei con tin u o u a d e p e n d e r d o Senhor, eram c o n h e c id o s p o r sua b e le z a física (13:1;
qu e, p o r sua v e z , o ca p a c ito u a superar es­ 14:25). Sua m ã e era M a a c a , p rin cesa da casa
sas p ro v a ç õ e s e a preparar as n a ç õ es para o real d e Talm ai e m C esu r, um p e q u e n o reino
rein a d o d e seu filho, S alo m ã o. A q u ilo q u e a aram eu p ró x im o a o m ar da G aliléia. Por cer­
v id a fa z c o n o s c o d e p e n d e d o q u e a vid a to, D avi havia to m a d o M a a c a c o m o esp osa
en c o n tra em nós, e, n o c a s o d e D avi, e n ­ a fim d e e s ta b e le c e r um tratado d e p a z c o m
con tro u um a fé v ig o ro s a no D eu s vivo. o pai d ela. O fa to d e A b s a lã o ter san gu e
A b s a lã o é o a to r prin cip al d essa parte real nas veias tanto p o r parte d e pai c o m o
d o dram a, p ois contribuiu para transform ar d e m ã e p o d e tê-lo im p e lid o e m sua busca
o d ram a e m tra géd ia .1 O s três h erdeiros d o eg o ísta p o r um reino.
tron o d e Davi eram A m n o m , o p rim o g ê n ito A m n o m era o filho mais v e lh o d e Davi
d e D avi, A b s a lã o , seu te r c e ir o filh o ,2 e o e, a o q u e tu d o indicava, o h erd e iro ao tro­
qu arto filho, A d o n ia s (1 Cr 3:1, 2). D eu s ha­ no, d e m o d o q u e ta lv e z sentisse q u e tinha
via a d v ertid o D avi d e q u e a e sp a d a n ão se mais p rivilé gio s q u e os ou tro s filhos. O am or
apartaria d e sua casa (2 Sm 12:10 ), e A b s a lã o an orm a l q u e nutriu p o r sua m eia-irm ã era
(q u e s ign ifica " p a c í f i c o " ) fo i o p rim e iro a p e rv e rs o e, no m o m e n to q u e ess e d e s e jo
em punhá-la. O ju lg a m e n to d e D avi con tra o te v e início, A m n o m d e v e ria ter p a ra d o d e
h o m e m rico da história d e N a tã foi: "p e la alim entá-lo (M t 5:27-30). N ã o se tratava a p e­
cord eirin h a restituirá qu atro v e z e s " (1 2 :6 ), e nas d e um p e c a d o con trário à natureza, mas
esse ju lg a m e n to foi. e x e c u ta d o con tra o p ró ­ ta m b é m d e um a v io la ç ã o d o s p a d rõ e s d e
p rio D avi. O b e b ê d e B a te-S eb a m o rreu ; p u re za sexual e s ta b e le c id o s p ela lei d e Deus
A b s a lã o m atou A m n o m p o r haver estupra­ (L v 1 8 :9 - 1 1 ; 2 0 : 1 7 ; D t 2 7 : 2 2 ). P o ré m ,
d o Tam ar; J oabe m atou A b s a lã o durante a A m n o m ap aixon ou -se d e tal m o d o p o r Tamar
batalha n o m o n te Efraim; e A d o n ia s foi m or­ q u e a c re d ito u estar a m a n d o d e v e rd a d e a
to a o ten ta r usurpar o tr o n o d e S a lo m ã o m o ç a , c h e g a n d o a a d o e c e r c o m o resultado
(1 Rs 2:12-25). d es se sen tim en to. A s princesas virgen s eram
D avi estava rein an d o s o b re Israel, mas o m antidas isoladas e m seus a p osen tos, separa­
p e c a d o e a m o rte reinavam s o b re sua fam í­ das até m e s m o d o s paren tes d o s ex o o p o s ­
lia (R m 5:14, 17, 21). D eu s havia p e rd o a d o to, e a im a g in a ç ã o d e A m n o m trabalhava
2 SAMUEL 1 3 - 1 4 335

in c e s s a n t e m e n t e e n q u a n t o p e n s a v a e m o in im igo b lasfem asse con tra D eu s (v. 14).


Tamar. O uso q u e Tam ar fa z d o s term o s "lo u cu ra "
J o n a d a b e e ra p rim o d e A m n o m , filh o e "lo u c o s " (vv. 1 2 ,1 3 ) nos lem bra d e G ên esis
d e Samá, irm ã o d e D avi, c h a m a d o aqui d e 3 4 e d e Juizes 19 - 20, m ais duas cen a s
S im éia (1 Sm 1 6 :9 ). T a m b é m era um ho- d e s p r e z ív e is d e estu p ro registradas nas Es­
nriem a s tu cio s o e, p ro v a v e lm e n te , fu n c io n á ­ crituras (v e r G n 3 4:7; Jz 19:23, 24; 2 0:6, 10).
rio d e s e g u n d o e s c a lã o n o p alácio. J o n a d a b e Tam ar ten tou ganhar te m p o su gerin d o q u e
a p a r e c e n o v a m e n t e e m 2 S am u el 1 4 :3 2 , A m n o m p ed iss e p erm issão a o rei para ca­
d e p o is q u e A m n o m é m o rto p e lo s s e rv o s sar-se c o m e la (v. 13), ap esa r d e sab er qu e
d e A b s a lã o . Q u a lq u e r um q u e facilita o p e ­ esse tip o d e c a s a m e n to era p ro ib id o p ela lei
c a d o e m nossa v id a c e rta m e n te n ã o é um d e M o is é s (L v 18:9-11; 2 0 :1 7 ; D t 2 7 :2 2 ).3
a m ig o v e rd a d e iro . N a v e rd a d e , a o segu ir o
c o n s e lh o d e J o n ad ab e, A m n o m a c a b o u p or 2. D a la s c ív ia a o ó d io
tornar-se estu p rad or, c o m e t e r in ce s to e ser (2 S m 13:15-22)
assassin ad o. A m n o m p en sou q u e am ava Tamar. P rim ei­
É b e m p ro vá ve l q u e A m n o m tivesse c o ­ ro, afligiu -se p o r cau sa d e la (vv. 1, 2 ), d e ­
m e ç a d o a se recu perar da sua "e n fe rm id a d e pois, caiu e n fe rm o d e d e s e jo p o r ela (v. 2) a
am o ro s a ", p ois p recisou fingir estar d o e n te p o n to d e e m a g r e c e r (v. 4 ). P orém , d e p o is
q u a n d o D avi foi visitá-lo. T a lv e z o filh o d o d e c o m e te r e ss e ato v e rg o n h o s o , sentiu ó d io
'e i tenha p en s a d o : "S e m eu pai con segu iu in ten so p o r Tam ar e quis se livrar d ela ! O
safar-se d e um ad u ltério, en tã o , sem d ú vid a v e rd a d e iro a m o r jam ais violaria o c o r p o d o
Tam bém p o s s o m e safar d e um estu p ro"... o u tro s im p lesm en te para satisfazer ap etites
p rova d o p o d e r destru tivo d os maus e x e m ­ e g o ís ta s n em ten taria p ersu a d ir o o u tro a
plos. " C o m o fo n te q u e foi tu rvada e m anan­ d e s o b e d e c e r à lei d e Deus. Em seus d es ejo s
cial corru p to, assim é o justo q u e c e d e ao sensuais, A m n o m c o n fu n d iu la s c ívia c o m
p e rv e rs o " (P v 2 5 :2 6 ). A fam ília d e D avi ha- a m o r e n ão p e rc e b e u q u e existe um a linha
'■ia sido turvada, e as c o n s eq ü ê n cia s seriam tê n u e q u e sep ara o a m o r eg o ísta (lascívia)
trágicas. D avi era c o n h e c id o p o r sua sa b e­ d o ó d io . A n tes d e pecar, qu eria Tam ar s o ­
doria e d isc ern im en to a g u ç a d o (2 Sm 14:1 7, m en te para si; mas d e p o is d e pecar, n ão viu
20), m as d e p o is d e t o d o o e p is ó d io c o m a hora d e livrar-se dela.
3ate-Seba, p a re c e ter p e rd id o parte d e sua O s p e c a d o s sexuais p ro d u ze m esse tip o
D ersp icácia. A o o r d e n a r q u e Tam ar a te n ­ d e d a n o e m o c io n a l. A o tratar outras p essoas
d esse o p e d id o d o m eio-irm ão, c o n d e n o u a c o m o o b je to s a s erem usados, term ina-se p or
■ilha a um a e x p e riê n c ia d e d o r e d e humi- deixá-las d e lado, c o m o b rin q u e d o s q u eb ra ­
n ação e, d ois an os d ep o is, q u a n d o D avi p er­ d os ou roupas velhas. N o versícu lo 1 7, a pa­
mitiu q u e A m n o m particip asse d o b a n q u ete lavra "m u lh e r " n ã o a p a r e c e n o te x to e m
de A b salão , m an d ou seu p rim o g ê n ito para h eb ra ico , d e m o d o q u e A m n o m estava di­
o m atad ou ro. z e n d o : "J o gu e fora esta c o is a !". Isso exp lica
Tamar p rep a rou os b o lo s e sp ecia is para p o r q u e Tam ar acusou A m n o m d e ser ainda
A m n o m , o qual p ed iu q u e to d o s saíssem mais cruel a o expulsá-la d o q u e a o violen tá-
para q u e e le p u d esse desfrutar sua re fe iç ã o la. U m a v e z q u e havia p e rd id o a virgin d a d e,
c o m a irm ã e, d ep o is, v io le n to u Tamar. A q u i­ n ão havia muitas p ossibilid ad es d e ca s a m e n ­
lo q u e p en sa va ser am or, na v e r d a d e n ão to para Tamar, e ela n ão p o d e ria mais viver
passava d e lascívia, um a p aix ão q u e se a p o ­ n os a p o s e n to s ju n to c o m as virgen s. Para
d ero u d e le d e m o d o a tran sform á-lo num o n d e iria? Q u e m lhe daria abrigo? Q u e m iria
animal. E e v id e n te q u e Tam ar resistiu o qu an ­ querê-la? C o m o seria c a p a z d e p rova r q u e
to p ô d e . Sua recu sa e m c o o p e r a r b aseou -se A m n o m era o ag ressor e q u e ela n ão o ha­
na lei d e D eu s e na resp o n sa b ilid ad e d e Israel via sed u zid o ?
em ser d ife re n te d o s vizin h os p a g ã o s (v. 12). Tam ar dirigiu-se aos a p o se n to s d o irm ão,
O p e c a d o d e D avi havia d a d o o c a s iã o a q u e A b s a lã o , pois, num a s o c ie d a d e p o líg a m a era
336 2 S AMU E L 1 3 - 1 4

resp o n sa b ilid ad e d e um irm ão p o r p arte d e capitais - ad u ltério e h o m ic íd io - , e D eus


pai e m ã e p ro te g e r a honra d a irmã.4 Q u a n ­ n ão havia a p lic a d o a lei a ele.
d o A b s a lã o viu as lágrimas, as vestes rasga­ Assim , n em Davi n em A b s a lã o disseram
das e as cinzas s o b re sua c a b e ç a , p e rc e b e u c o is a algu m a a A m n o m s o b re seu ato per­
a p rofu n d a afliçã o e h u m ilh ação d e Tam ar e verso. N a v e rd a d e , A b s a lã o seq u er falou c o m
d ed u ziu q u e A m n o m a havia v io le n ta d o . Sua A m n o m ("n e m mal n em b e m "), mas sim ples­
pergunta: "E steve A m n o m , teu irm ão,5 c o n ­ m en te esp ero u o m o m e n to c e rto para matá-
tig o ? " (v. 2 0 ) revela essa con clu sã o , p ois a lo e v in g a r a irmã. N o en tan to, Jon adabe,
e x p re s s ã o "esta r c o m a lg u é m ' é um e u fe ­ a m ig o d e A m n o m , sab ia q u e A b s a lã o d e ­
m is m o e q u iv a le n te a "ir p ara c a m a c o m seja va m atar A m n o m , p ois disse: "assim já
a lg u é m ". O s m e x eric o s d o p a lá c io n ão d e i­ o revelavam as fe iç õ e s d e A b sa lã o , d e s d e o
xavam passar m uita coisa, d e m o d o q u e é dia e m q u e sua irmã Tam ar foi fo rç a d a p or
b em p ro vá ve l q u e A b s a lã o tivesse fic a d o sa­ A m n o m " (1 3 :3 2 ). Se J o n a d a b e p ô d e p e r­
b e n d o da "d o e n ç a " d e A m n o m e d a visita c e b e r o q u e e s ta v a a c o n t e c e n d o , ta lv e z
q u e Tam ar p reten d ia fa z e r ao s a p o se n to s d o ou tros ta m b ém ten h am su sp eita d o d e algu­
m eio-irm ão. M as se A b s a lã o estava tã o p r e o ­ m a c o is a . A la s c ívia d e A m n o m h avia se
c u p a d o c o m a irmã, p o r q u e n ão a alertou a tran sfo rm a d o e m ó d io , mas a essa altura, era
ficar lo n g e d e A m n o m ? O rei havia o rd e n a ­ A b s a lã o q u em estava alim en ta n d o e m seu
d o q u e Tam ar visitasse o m eio-irm ão, e as coração o ó d io q u e daria à lu z o h o m ic íd io
palavras d e A b s a lã o n ão p o d e ria m m u dar a (M t 5:21, 22). Então, c o m A m n o m fora d o
o rd e m d o rei. N ã o havia o q u e fa z e r sen ão cam in h o, A b s a lã o p o d e ria se tornar rei.6
adverti-la a n ão ficar sozin h a c o m A m n o m .
T a lv ez Tam ar tenha d ito q u e con taria ao 3. Do Ó D IO AO H O M ICÍD IO
rei o q u e havia a c o n te c id o , mas seu irm ão (2 S m 13:23-36)
sugeriu q u e esp erasse. Por qu ê? S em dúvida, N as palavras d o escritor fran cês Emile G ab o -
a m en te astuta d e A b s a lã o já estava crian d o riau: "A vin g a n ça é um fruto s a b o ro s o qu e
um p lan o para cum prir três p ro p ó sito s: vin­ d e v e ser gu a rd a d o até a m a d u re ce r". A b sa lã o
gar Tamar, livrar-se d e A m n o m e colo c a r-s e e s p ero u d ois an os para v in g ar o estupro da
c o m o o p ró x im o na linha d e su cessã o ao irmã, mas, q u a n d o c h e g o u a hora, estava
tron o ! Sua d e c la ra ç ã o " é teu irm ã o " (v. 2 0) p ro n to para agir. G raças à g e n e ro s id a d e d o
significa: "S e fosse ou tro h o m em , eu a vin­ pai, os prín cip es n ão ap en a s possuíam car­
garia im ed ia ta m en te, mas um a v e z q u e e le go s oficiais, mas ta m b ém eram proprietários
é teu irm ão, será p rec is o ter p a c iê n c ia e es­ d e terras e d e reban hos. A s terras e os reba­
p era r um a o p o r tu n id a d e ". A b s a lã o estava n h os d e A b s a lã o fic a v a m e m B aal-H azor,
te n ta n d o evitar um e sc â n d a lo q u e entriste­ c e rc a d e vin te e d ois q u ilô m etro s d e Jerusa­
ceria a fam ília e q u e preju dicaria seus pla­ lém . Era c o s tu m e em Israel p rep arar e n o r­
nos d e tom ar o tron o. m e s b a n q u e te s na é p o c a d a to s q u ia das
O rei D avi s o u b e d a tragéd ia e se en fu re ­ o velh as e c o n v id a r os m em b ro s da fam ília e
ceu, mas o q u e p o d e ria dizer? A lem b ran ça os a m ig o s para co m p a rtilh a r essa o c a s iã o
d o s p ró p rio s p e c a d o s calou sua b o c a . A lé m festiva.
disso, c o m o castigar o filh o p rim o g ê n ito e A b s a lã o p ed iu a o pai q u e c o m p a re c e s s e
h erd eiro d e seu tron o? D e a c o r d o c o m a lei, à festa e q u e levasse c o n s ig o seus oficiais,
se um h o m e m estu p rava um a v irg e m q u e mas D avi recu sou o c o n v ite , e x p lic a n d o qu e
não estava noiva, d ev eria p agar um a multa um n ú m ero tã o gra n d e d e c o n v id a d o s seria
a o pai d ela e se casar c o m a m o ça, s en d o u m a d e s p e s a d e s n e c e s s á r ia p a ra o filho.
p ro ib id o d e se d ivorciar (D t 22:28 , 2 9). P o ­ A b s a lã o e sp era v a um a resp osta d es se tipo.
rém , a lei ta m b ém n ão p erm itia o ca s a m e n ­ p ois n ã o q u eria q u e D avi e seus guardas
to en tre m eios-irm ãos, d e m o d o q u e A m n o m estivessem p resen tes q u a n d o A m n o m fosse
casar-se c o m Tam ar estava fora d e qu es tã o m orto. Então, p ergu n tou a D avi se perm itiria
(Lv 18:9). D avi havia c o m e t id o d ois crim es q u e A m n o m , seu sucessor, c o m p a re c e s s e a
2 S A MU E L 1 3 - 1 4 337

'esta, p e d id o q u e d eix o u D avi um tanto a p re­ rei haviam sido m o rtos na casa d e A b s a lã o !
e n sivo. P o ré m , D avi sabia q u e o p rín cip e (A s más n otícias espalham -se ra p id am en te e
h erdeiro o represen tava c o m fre q ü ê n c ia em são, c o m fre q ü ê n c ;a, e x a gerad as.) D avi ras­
o c a s iõ e s q u e e x ig ia m a p r e s e n ç a d o rei, gou as vestes e se lan çou p or terra e m sinal
e n tã o p o r q u e n ão represen tar D avi no ban­ d e luto (1 2 :1 6 ), sem d ú vida algum a culpan­
q u ete d e A b salão ? A lé m disso, d ois an os se do-se p or ter perm itido q u e os filhos co m p a re ­
cassaram d e s d e q u e A m n o m havia v io le n ta ­ cessem ao b an qu ete d e Absalão. Jonadabe,
d o Tamar, e A b s a lã o n ão tinha fe ito c o is a s o b rin h o d e D avi, q u e sabia m ais d o q u e
algum a c o n tra ele. A fim d e garantir c erta estava d isp o sto a admitir, relatou a v e rd a d e
segu ra n ça a A m n o m , D avi fo i ain d a mais a o d iz e r q u e a p e n a s A m n o m h a v ia s id o
lo n g e e perm itiu q u e to d o s os filhos adultos m o rto .’ A té m e s m o essa notícia, p o rém , foi
d o rei c o m p a re c e s s e m a o b a n q u ete, su p on ­ um g o lp e terrível para Davi, p ois A m n o m era
do q u e A b s a lã o n ão ousaria atacar A m n o m seu p r im o g ê n ito e h e r d e iro d o tro n o . O s
diante d e tantos m e m b ro s da família. p rín cip es q u e haviam fu g id o c h ega ra m em
Porém , durante esses d ois anos, A b s a lã o segu rança, e to d o s se reuniram para e x p res­
fiavia a p e r fe iç o a d o seu p lan o e fe ito p rep a ­ sar sua tristeza p rofu nda, p ois A m n o m esta­
rativos para fugir. D avi, seu pai, havia p ro vi­ va m o rto p or o rd em d e A b salão.
d e n c ia d o p a ra q u e U rias, o h eteu , fo s s e O p ro b le m a da v in g a n ça é qu e, na v e r­
m o rto e havia s o b re viv id o , e n tã o p or q u e o d ad e, n ão re so lv e c o is a algum a e a c a b a se
m e sm o n ão p o d e ria se aplicar a seu filho, v o lt a n d o c o n tra a q u e le q u e a to m o u nas
Absalão? Assim c o m o o pai, A b s a lã o usou m ã os e fe rin d o o vin gad or. " A o se vin gar",
as m ãos d e o u tros para e xe c u ta r o c rim e e e sc re ve u Francis Bacon, "u m h o m e m c o lo ­
o fe z q u a n d o a vítim a m e n o s esp erava. D avi ca-se n o m e s m o n ível d o in im igo, mas ao
navia e m b r ia g a d o Urias, mas n ão con segu iu abrir m ã o d a vin gan ça , torna-se su p erior a
c o lo c a r seu p la n o e m p rá tica , e n q u a n t o e l e " . 8 N in g u é m fo i tra ta d o d e m o d o mais
A b salão e m b ria g o u o irm ão e te z e x a ta m en ­ injusto e d es u m a n o d o q u e Jesus Cristo em
te aq u ilo q u e havia p la n eja d o . A b s a lã o se­ seu ju lg a m e n to e c ru cifica çã o , e, no en tan ­
guiu o p és sim o e x e m p lo d o pai e c o m e te u to, e le se recu sou a revidar. Cristo é n osso
um h o m ic íd io p rem ed ita d o . e x e m p lo (1 Pe 2:18-25). O v e lh o slogan : "n ã o
Q u a n d o A b s a lã o d eu a o rd e m para q u e se e x a s p e r e , v in g u e - s e !" p o d e a g ra d a r a
o s serv o s m a tassem A m n o m , os p rín cip es alguns, p o ré m jam ais será a grad ável a o Se­
q u e se e n c o n tra va m no b a n q u e te fugiram , nhor. O m o d o d e v iv e r d o cristão é d e p er­
ten ta n d o se salvar, c erto s d e q u e A b s a lã o d ã o e d e fé, c o n fia n d o q u e o S en h o r fará
havia p la n eja d o exterm in ar to d a a fam ília real tu d o c o o p e r a r para o n o sso b em e para a
e tom a r o tron o . O s jo v e n s m on taram em sua glória (1 Pe 4:12-19).
suas mulas, "an im ais d a r e a le z a " (1 8 :9 ; 1 Rs
1 :3 3 , 38, 4 4 ), e voltara m a Jerusalém tã o rá­ 4. D O HOMICÍDIO AO EXÍLIO
p id o qu a n to seus anim ais eram c a p a ze s d e (2 S m 13:37-39)
andar. M as A b s a lã o ta m b ém fugiu (vv. 34, O te x to diz, e m duas o ca siõ e s, q u e A b s a lã o
3 7 ), e é p ro vá ve l q u e seus serv o s o ten h am fugiu (vv. 34, 3 7), e é b em p ro vá ve l q u e te­
acom panhado. nha e s c a p a d o durante a con fu sã o , q u a n d o
N o s versícu los 3 0 a 36, q u e con stitu em os ou tros filhos d o rei ta m b ém fugiram . So­
uma in serção, d es lo ca m o -n o s d e B aal-H azor m e n te A b s a lã o e seus serv o s cu lp a d o s sa­
Dara Jerusalém e v e m o s o s p rín cip es q u e b iam o q u e a c o n te c e r ia no b a n q u e te , d e
haviam fu g id o da festa d o p o n to d e vista d e m o d o q u e os c o n v id a d o s fora m p e g o s d e
D avi. A n te s d e os gu ardas na m uralha da surpresa. T o d o s foram testem unhas d o "m ais
c id a d e c o n s e g u ir e m distinguir o s h o m en s vil d o s h o m ic íd io s " e p o d ia m fa c ilm en te d e ­
qu e cavalga va m e m d isparada ru m o a Jeru­ clarar q u e A b s a lã o era cu lp ad o.
salém, um m e n sa g eiro d a casa d e A b s a lã o A b s a lã o fugiu qu ase c e n to e trinta q u ilô ­
c h e g o u an u n cian d o q u e to d o s os filhos d o m etros para o n ordeste, para a casa d os avós
338 2 S AMU E L 1 3 - 1 4

m a tern os e m G esu r, o n d e seu a v ô Talmai Israel tivesse um p rín cip e p ro n to para reinar,
era rei (3 :3 ). Sem dúvida, esse re fú gio havia ca so algu m a c o is a a c o n te c e s s e a Davi, qu e
sido p rep a ra d o d e a n tem ã o e, p o s s ive lm e n ­ estava, a e ss a altura, c o m q u a s e sessen ta
te, Talm ai teria se a g ra d a d o d e v e r o n eto a n o s d e id a d e. N o e n ta n to , A b s a lã o n ão
c o r o a d o rei d e Israel. Em Jerusalém , D avi p o d e ria voltar para casa a m e n o s q u e Da\i
p ra n te a v a seu p r im o g ê n it o , A m n o m . Em assim o perm itisse, e o rei n ão daria sua per­
G esu r, p o r é m , o filh o e x ila d o estava, p o r m issão até q u e estivesse c o n v e n c id o d e qu e
c erto , tram a n d o c o m o p o d e ria to m a r o rei­ era a c o is a c erta a fazer. Era o b r ig a ç ã o d o
n o d o pai. A tristeza norm al é curada c o m o rei cum prir a lei, e A b s a lã o era cu lp ad o de
d e v id o te m p o e, d e p o is d e três anos, Davi tramar o assassinato d o m eio-irm ão, A m n o m .'
estava c o n fo rm a d o c o m a m o rte d o prínci­ D avi am ava seu filho e, sem d ú vida algu­
p e herdeiro. ma, sabia d e sua p arcela d e cu lp a p o r tê-lo
A o ra ç ã o : " o c o r a ç ã o d o rei c o m e ç a v a a m im a d o , mas c o m o re s o lv e r ess e d ilem a !
inclinar-se p ara A b s a lã o " (1 4 :1 ) tem , p e lo J oab e o fe r e c e u a s o lu çã o para o problem a.
m en os, duas in terp retaçõ es. P o d e significar joab e apresenta sua argumentação ao
q u e Davi d e s e ja v a m u ito v e r o filh o outra rei (vv. 1-20). Assim c o m o N a tã havia c o n ­
v e z - o q u e é c o m p re e n s ív e l - ou q u e D avi fro n ta d o Davi, o p ec a d o r, con ta n d o -lh e uma
p la n e ja v a p e rs e g u ir A b s a lã o e a c e rta r as história (1 2:1-7 ), J oab e c o n fro n to u Davi, o
con tas c o m ele, mas q u e sua ira foi se ap a­ pai, c o m um relato inventado de um p ro b le ­
ga n d o aos pou cos. Prefiro a segunda interpre­ m a fam iliar narrado p or um a m ulher q u e era
ta çã o . Se D avi tivesse re a lm e n te d e s e ja d o n ã o a p e n a s sábia, m as ta m b é m um a b o a
q u e A b s a lã o voltasse, p o d e ria ter c o n s e g u i­ atriz. Ela p rocu rou o rei vestid a e m trajes d e
d o isso c o m facilidade, um a v e z q u e J oabe luto e lhe c o n to u os p ro b le m a s d e sua fam í­
era a favor d essa id éia (1 4 :2 2 ), e os p aren ­ lia. Seus d ois filhos haviam d iscu tido n o cam ­
tes d e D avi e m G e s u r teria m c o o p e r a d o . p o e um d ele s havia m a ta d o o o u tro (um a
P orém , q u a n d o A b s a lã o v o lto u para casa, história p a re cid a c o m a d e C aim e A b e l, Gn
Davi m anteve-se distante d e le p o r d ois anos 4 :8 -1 6 ). O s o u tro s p a re n te s q u eria m e x e ­
(v. 2 8 )! S e o rei e s tiv e s s e m e s m o an s io so cutar o filh o c u lp a d o e vin g ar o san gue d o
para rever o filho, sua atitu de fo i bastante irm ão (N m 3 5 :6ss; D t 19:1-14), mas a mu­
estranha. A o q u e p a rece, o c o r a ç ã o d e D avi lher d isco rd a va d eles. M a ta r seu ú n ico filho
estava d iv id id o : sabia q u e o filh o m e re c ia daria c a b o d e sua fam ília e "[a p a g a ria ] a últi­
ser ca s tiga d o , mas, a o m e s m o te m p o , era ma b rasa" (v. 7). D e a c o rd o c o m a lei, o filho
c o n h e c id o p ela len iê n cia c o m q u e tratava q u e havia assassinado o irm ão era cu lp ad o
os filhos (1 Rs 1:6). A p rin cípio, a in ten çã o e d ev eria ser e x e c u ta d o (Êx 2 1 :12; Lv 24:1 7 1
d e Davi era tratar A b s a lã o c o m severid a d e, mas e la d es eja va q u e o rei p erd o a s se o filho
mas, p or fim, m u dou d e id éia à m e d id a q u e c u lp a d o .
sua a titu d e fo i se a ltera n d o . C o n fo r m e o A história d e N a tã s o b re a cordeirin h a
cap ítu lo 14 exp lica, D avi transigiu q u an d o, c o m o v e u D avi c o m o pastor d e ovelh as, e
fin a lm e n te , tro u x e A b s a lã o d e v o lta para essa história s o b re um a fa m ília e m p é de
casa, mas, a o m e sm o te m p o , o castigou ao gu erra to c o u seu c o r a ç ã o d e pai. Sua pri­
ad iar um a r e c o n c ilia ç ã o c o m p le ta . C in c o m eira re a ç ã o fo i garantir-lhe: "e u darei o r­
an os se passaram até q u e pai e filh o se en ­ d en s a teu re s p e ito " (v. 8), mas, para ela.
con traram outra v e z (2 Sm 13:38; 14:28). isso n ão era suficien te. Por v e z e s , as e n g re­
nagen s d o g o v e rn o se m o v e m c o m len tidão
5. Do EXÍLIO À RECONCILIAÇÃO e seu c a s o era u m a q u e s tã o d e v id a ou
(2 S m 14:1-33) m orte. Q u a n d o a m ulher d ecla ro u q u e as­
J oab e c o n h e c ia o rei m uito b em e iden tifi­ sum iria a cu lp a p ela d e c is ã o q u e o rei to­
c o u os sinais d e q u e D avi ansiava p or v er o m asse, D avi p ro m eteu p rotegê-la d e qualque-
filho exila do. C o m o c o m a n d a n te d o e x é rc i­ um q u e falasse con tra ela s o b re esse assi.-
to, um a das p r e o c u p a ç õ e s d e J oabe era q u e to (vv. 9, 10). N e m assim, p o ré m , a mulhe--
2 S AMU E L 1 3 - 1 4 339

ficou satisfeita, d e m o d o q u e p ed iu a o rei in v e n ç ã o e q u e outra p es so a estava p o r trás


au e jurasse, ga ra n tin d o q u e seu filh o n ão d e tu d o o q u e a suposta viú va havia falad o.
seria m o rto, a o q u e D avi c o n c o rd o u (v. 11 ). A v erd a d e , en tão , v e io à tona, re ve la n d o qu e,
L m ju ra m e n to fe it o e m n o m e d o S en h o r d e fato, J oab e havia tra m a d o to d o o e p is ó ­
ra n s fo rm a v a as palavras num a o b r ig a ç ã o e dio, mas sua m o tiv a ç ã o era das mais n obres:
-■ão p o d ia ser ign o rad o . "P ara m udar o a s p e c to d este c a so fo i q u e o
A m u lher havia en cu rra la d o D avi (vv. 12- teu s erv o J oab e f e z isto" (v. 20).
17). S e e le s e d ispu sera a p r o te g e r um filb c Joabe agradece ao rei (vv. 21-27). S em
: j l p a d o q u e s e q u e r c o n h e c ia , ain d a m a ior dúvida, fo i J oabe q u em levou a m ulher a o
seria sua o b r ig a ç ã o d e p r o te g e r o p ró p rio p alácio para ter essa au d iên cia c o m o rei e
fiiho a m a d o ! Ela havia a b o r d a d o o rei c o m é p ro vá ve l q u e ten h a fic a d o na sala e o u v i­
•_ma q u e s tã o e n v o lv e n d o o futuro d e um a d o to d o o d iá lo g o d o s dois. Davi havia jura­
□ e q u e n a fam ília, m as a q u e s tã o d e A b sa- d o p ro te g e r a m ulher e seu filho, d e m o d o
lão d izia re s p e ito a o futu ro d e um a n a ç ã o q u e n ão lhe restava o u tra c o is a a fa z e r se­
inteira. O rei n ã o q u eria v e r o ú n ico filh o e n ão perm itir q u e A b s a lã o voltasse para casa.
.-■erdeiro d a q u e la m u lher ser e x e c u ta d o , mas Assim , o rd e n o u q u e J oab e fo s s e a C e su r e
estava d is p o s to a p erm itir q u e o p rín cip e trou xesse o e x ila d o para Jerusalém. A s pala­
■■■erdeiro fo s s e m a n tid o n o e x ílio . Se per- vras d e J o ab e n o versícu lo 22 su gerem fo r­
n oou o assassino d o filh o d a q u e la m ulher, te m e n te q u e havia d iscu tido o assunto c o m
Dor q u e n ão p o d e r ia p e rd o a r o h o m e m q u e D avi mais d e um a v e z e q u e se re g o zijo u
havia p la n e ja d o a m o rte d e A m n o m ? Q u a n ­ g r a n d e m e n te a o v e r a q u e s tã o re s o lv id a .
to te m p o o rei ain d a iria e sp era r até man- C e s u r fic a v a a q u a s e c e n to e trinta q u ilô ­
aar buscar o filho? A fin al, a v id a é curta e, m etro s d e Jerusalém, e Joabe n ão p erd eria
□u an do c h e g a a o fim , é c o m o ág u a d erra ­ te m p o na v ia g e m , d e m o d o q u e A b s a lã o pu­
m ada na terra q u e n ã o p o d e ser recu pera - d es se estar d e v o lta e m casa um a sem an a
□a. E xecutar o assassin o n ão p o d e tra ze r ou d e z dias d ep o is.
de v o lta a vítim a , e n tã o p o r q u e n ã o lhe N o e n ta n to , alg u m a s re s triç õ e s fo ra m
dar mais um a ch a n ce? im postas a o p rín cip e h erdeiro. D e v e ria p er­
D eus não fa z a c e p ç ã o d e pessoas, e sua m a n e c e r e m suas p ró p ria s terras - o q u e
lei é p erfeita, mas a té mesmo Deus cria for­ equivalia praticamente a uma prisão d o m i­
mas d e d em o n stra r m isericó rd ia a o s trans­ ciliar - e n ão teria p erm issão d e ir a o palá­
gressores e d e p erd oá-los (v. 14). P or certo, c io v e r o pai. D avi estava testan d o o filho
ele castiga o p e c a d o , mas ta m b ém procu ra para d eterm in a r se p o d e ria c on fiar nele, ou
m aneiras d e reco n ciliar o p e c a d o r c on s igo . ta lv e z tivesse p e n s a d o q u e essas restrições
■É possível q u e a m ulher tivesse e m m en te assegurariam a o p o v o q u e o rei n ão estava
Êx 32:30-35 e 34:6-9.) A c a s o o S en h o r não m im a n d o o filh o p ro b le m á tic o . P orém , es­
havia p e r d o a d o os p e c a d o s d e Davi? A mu­ sas lim itações n ão foram e m p e c ilh o para a
lher c o n fe s s o u seu te m o r d e q u e sua fam ília e x p a n s ã o d a p o p u la rid a d e d e A b salão , pois
execu ta sse seu filh o e tirasse d ela a heran ça era a m a d o e lo u v a d o p e lo p o v o . O fa to d e
q u e D eus havia lhe d ad o. ter tra m a d o a m o rte d o m e io -irm ã o e d e
Foi um discurso c o m o v e n te , q u e to c o u haver p ro v a d o sua culpa a o fugir n ão signi­
Davi. P orém , s en d o um h o m e m sábio, o rei fica va m uita c o is a para o p o v o , pois as p es­
se deu c o n ta d e q u e o sign ifica d o mais p ro ­ soas precisam d e íd olo s, e q u e figura mais
fu n d o d a súplica d essa m ulher ia m uito além a p ro p ria d a q u e a d e um p rín cip e jo v e m e
d os lim ites d e sua fam ília e p ro p rie d a d e. D avi b e m a p e ss o a d o ? A falta d e caráter e ra irre­
-eve d isc ern im en to su ficien te para p e rc e b e r leva n te; o q u e im p o rta va era sua p o s iç ã o ,
q u e ela estava fa la n d o d o rei, d e A b s a lã o e sua r iq u e z a e sua e x c e le n t e a p a r ê n c ia .10
do futu ro d e Israel, a h eran ça d e D eus. A A b s a lã o era um íc o n e d e m asculin idade, e
essa altura, ta m b é m d e v e ter c o m p r e e n d i­ o p o v o o in vejava e adm irava. A s coisas não
do q u e a história to d a n ã o passava d e um a m udaram m uito.
340 2 S A MU E L 1 3 - 1 4

Q u a isq u e r q u e fossem , p ossivelm en te, os gen eral, p ois a lei e xig ia q u e um in cen d iá rio
atributos d e A b s a lã o , um a coisa q u e lhe fal­ ressarcisse o p r o p r ie tá r io d o c a m p o cu ja
tava era um gra n de n ú m e ro d e filhos para p la n ta çã o e le havia d estru íd o (Êx 2 2 :6 ). O
dar c o n tin u id a d e a seu n o m e " c é le b r e ". E p o v o fico u s a b e n d o d o in cên d io , d e m o d o
p ro vá ve l q u e os três filhos m e n c io n a d o s no q u e J o ab e p ô d e visitar A b s a lã o sem m e d o
v e rs íc u lo 2 7 ten h am m o rrid o ain d a m u ito d e ser mal in terpretado.
jo ven s, p ois 2 Sam uel 18:18 d iz qu e, n a q u e­ A b sa lã o apresen tou duas alternativas ao
la é p o c a , A b s a lã o n ão tinha filho algum . N ã o general: ou e le o levava a o rei e deixava que
é d e su rp reen d er q u e ten h a d a d o à sua filha re ce b es se seu filho e qu e o p erd o asse ou o
o n o m e d a irmã, Tamar. S em p re um egotista, levava à justiça e p rovava q u e era c u lp ad o d e
A b s a lã o ergu eu um a colu n a para servir d e um crim e capital e m e re cia morrer. A b salão
lem bran ça a to d o s d e sua gra n deza . p referia ser e x e c u ta d o a con tinu ar v iv e n d o
Joabe leva Absalão ao rei (vv. 28-33). sob v erg o n h o sa prisão dom iciliar. Joabe esta­
U m a "m u lh er sáb ia" dissim ulada p o d e ria ter va entre o fo g o e a frigideira, pois e le p róprio
um a au d iên cia c o m o rei, mas o p ró p rio filho havia p lan eja d o a volta d e A b s a lã o a Jerusa­
d o rei foi b a n id o d e sua p resen ça. A b s a lã o lém . Sabia q u e o p o v o jam ais perm itiria qu e
aceito u esse arranjo p o r d ois anos, c re n d o sua figura real mais qu erida fosse julgada e
q u e J o ab e c o n s e g u iria q u e D avi a c e ita s s e c o n d en a d a p or um crim e, mas c o m o garan­
um a re co n c ilia ç ã o , mas J oab e n ão f e z c o is a tir q u e o rei se re co n ciliaria c o m seu filho?
algum a. A b s a lã o sabia o q u e sign ificava ser J oab e transmitiu a m e n sa g em d e A b s a lã o a
b a n id o da p res e n ç a d o rei: n in gu ém e s p e ­ Davi, e o rei c o n v id o u o filho a visitá-lo, re­
raria q u e h erd a sse o tron o . Era um a situa­ c e b e n d o - o c o m um b e ijo d e reco n ciliação .
ç ã o c o m p lic a d a , pois, mais d o q u e qu alq u er D e p o is d e c in c o an os d e s ep a ra çã o , pai e
outra coisa, A b s a lã o d es eja va ser rei d e Is­ filho se reuniram (2 Sm 13:38; 14:28).
rael. U m h o m e m astuto c o m o J oab e d e v e N ã o há registro algum d e q u e A b sa lã o
ter p e rc e b id o q u e A b s a lã o tinha plan os d e ten h a se a r re p e n d id o e p e d id o p e rd ã o ao
subir a o tro n o e q u e a p o p u la rid a d e cad a pai, ou q u e ten h a visitad o o te m p lo e o fe re ­
v e z m aior d o p rín cip e p o d e ria o fe re ce r-lh e c id o o s d e v id o s sacrifícios. A p e sa r d e pai e
o a p o io d e q u e precisava para assumir o c o n ­ filho estarem ju n tos outra v e z , n ão se trata­
trole d o reino. S a b e n d o c o m o a situ ação era va d e um a p a z verd ad eira, mas sim d e uma
instável, o gen era l p e rs p ic a z afastou-se d e trégu a m uito d elicad a. A b s a lã o ain da alim en­
A b s a lã o , a fim d e n ão dar a im p ressão d e tava a m b iç õ e s secretas e estava d eterm in a­
q u e estava s e n d o c o n tro la d o p e lo p rín cip e d o a to m a r o tro n o d e Davi. U m a v e z livre,
egotista. o p rín cip e p o d e ria visitar a c id a d e e desfru­
D e p o is d e d ois an os d e espera, durante tar a a d u la ç ã o d a m u ltid ão , en q u a n to , ao
os quais c o n v o c o u J oab e duas v e z e s e foi m e sm o te m p o , o rg a n iza v a calm a m en te seus
ign o ra d o , A b s a lã o d ec id iu q u e era n ec e ss á ­ s im p a tiza n te s para a futura re b e liã o . Da\.
rio to m a r um a m e d id a drástica. O rd e n o u qu e estava prestes a p erd e r o tron o, a co ro a , as
seus servo s atea ssem f o g o à p la n ta çã o d e c o n c u b in a s , o c o n s e lh e ir o d e c o n fia n ç a .
c e v a d a d e seu vizin h o, qu e, p or acaso, era A ito fe l, e, p o r fim , o filho, A b s a lã o . Seria g
J o a b e.11 C o m isso, con seg u iu a a te n ç ã o d o m o m e n to mais s o m b rio da v id a d o rei.

1. Mesmo depois da morte de Absalão, seu nome e sua memória lembravam o povo do mal (2 Sm 20:6; 1 Rs 2:7, 28; 15 :2,10:
2 Cr 11:20, 21).
2. É bem provável que Quíleabe (ou Daniel), segundo filho de Davi, tenha morrido ainda jovem, pois exceto pela genealogia real
ele não é mencionado no relato bíblico (1 Cr 3:1).
3. Talvez tivesse em mente Abraão e Sara (Cn 20:12), mas isso foi antes da lei de Moisés.
4. Quando Diná foi estuprada (Gn 34), Simeão e Levi, seus irmãos por parte de pai e mãe, trataram de vingá-la (ver Gn 29:32-
35; 30:17-21).
2 SA M U EL 1 3 - 1 4 341

O termo hebraico "Amnom" é um diminutivo: "O pequeno Amnom esteve com você?". Absalão não escondeu a aversão total
que sentia pelo meio-irmão.
Alguém sabia que Salomão era o filho de Davi escolhido por Deus para ser o próximo rei? Talvez não, pois o Senhor ainda não
havia revelado sua vontade. De acordo com alguns cronologistas, o nascimento de Salomão ocorreu antes do pecado de
Amnom contra Tamar, mas Bate-Seba havia dado à luz três outros filhos antes de Salomão (2 Sm 5:14; 1 Cr 3:5; 14:4). Deus
prometeu a Davi que um de seus filhos seria seu sucessor e construiria o templo (2 Sm 7:12-15), mas o texto não registra que,
nessa ocasião, o Senhor tenha anunciado o nome do filho em questão. Amnom e Absalão já haviam nascido, e esse anúncio
dá a entender que o filho escolhido ainda estava por nascer. 1 Crônicas 22:6-10 indica que, a certa altura, o Senhor disse a
Davi que Salomão seria seu sucessor (ver 28:6-10; 29:1). Quer soubessem quer não, Amnom e Absalão estavam lutando uma
batalha perdida.
Parece estranho Jonabe ter feito esse anúncio, pois, com isso, estava praticamente confessando que tinha algum conhecimento
da trama. Porém, Davi e seus servos sabiam que Jonadabe era confidente de Amnom e, sem dúvida, concluíram que ele e
Amnom haviam discutido a atitude de Absalão e concluído que não havia mais perigo algum. Jonadabe era um homem astuto
demais para se comprometer diante do rei.
"O f Revenge", The Essays of Francis Bacon.
Deus resolveu o problema dos pecadores enviando seu Filho para morrer na cruz, guardando, desse modo, a lei e, ao mesmo
tempo, oferecendo a salvação a todos aqueles que crêem em Cristo. Ver Romanos 3:19-31.
O peso dos cabelos que o barbeiro de Absalão cortava depende de quanto era um "peso real" (v. 26). Se era de 11,5 gramas,
então eram aparados dois quilos e meio de cabeJos. A calvície era ridicularizada em Israel (2 Rs 2:23).
Podem-se traçar paralelos interessantes entre Absalão e Sansão. O s dois se distinguiam pelos cabelos, pois Sansão era
nazireu (Jz 13:1-5), e os dois atearam fogo em plantações (Jz 15:4, 5). A perda de seus cabelos causou a derrota de Sansão
(jz 16:17ss), e é provável que os cabelos espessos de Absalão tenham contribuído para que ficasse preso pela cabeça aos
galhos da árvore na qual Joabe o encontrou e matou (2 Sm 18:9-17).
O e d ito r d e jorn al H. L. M e n c k e n defin iu
7 um d e m a g o g o d e m aneira um tanto extre­
m ada, p o ré m bastante clara: "É algu ém q u e
p re g a doutrinas q u e sab e serem falsas a ho­
A Fuga de D avi P a r a m en s q u e sa b e s erem id iota s ". O escrito r

o D eserto
James F e n im o re C o o p e r exp ressou -se b e n
q u a n d o disse q u e d e m a g o g o "É a q u e le q u e
p r o m o v e os p ró p rio s in teresses a o fingir pro­
2 S a m u el 15:1 - 1 6 :1 4
fu n da d e d ic a ç ã o ao s in teresses d o p o v o ".
A b sa lã o não era apenas um m en tiroso d e
prim eira linha, mas ta m b ém um h o m em pa­
c ien te e c a p a z d e discernir o m o m e n to certo

E
x p erim en ta r o p o d e r d e D eu s a o e n fren ­ d e agir. Esperou durante dois anos até man­
tar giga n tes ou lutar c o n tra e x é rc ito s é dar matar A m n o m (1 3 :2 3 ) e, posteriorm ente,
um a coisa; outra b em d iferen te é v er p essoas esp erou qu atro anos antes d e rebelar-se aber­
d estru in do seu m u n d o b e m dian te d e seus ta m en te con tra o pai e tom ar o tron o (v. 7).-
olh os. D eu s havia d iscip lin a d o Davi, mas o A o ler os "salm os d o e x ílio " d e Davi, tem os a
rei sabia q u e o p o d e r d e D eu s p o d e ria ajudá- im pressão d e que, nessa é p o c a , o rei se en­
lo ta n to na hora d o s o frim e n to q u a n to na contrava enfermo e n ão estava cu id an d o di­
hora da con q u ista e e sc reveu e m um d e seus re ta m en te d o s assuntos d o rein o, d a n d o a
salm os no exílio: "S ã o m uitos os q u e d ize m A b sa lã o a o p o rtu n id a d e d e tom ar seu lugar
d e m im : N ã o há e m D eus salvação para ele. e d e assumir o con tro le.3 O prín cipe egotista
P o rém tu, S e n h o r , és o m eu e sc u d o , és a m ostrou-se h ab ilid o so a o usar d e to d o s os
m inha glória e o q u e exaltas a m inha c a b e ­ artifícios a sua d is p o s iç ã o para en can tar o
ç a " (SI 3:2, 3). D avi re c o n h e c e u q u e a m ã o p o v o e granjear seu a p o io . D avi havia con ­
a m o r o s a e d is c ip lin a d o ra d e D e u s e stava qu istado o c o ra ç ã o d o p o v o p elo sacrifício e
s o b re e le e adm itiu q u e m e re c ia cad a um s erv iç o, mas A b s a lã o o f e z d o m o d o mais
d e seus g o lp e s . M a s creu ta m b é m q u e a fácil, c o m o se fa z h o je e m dia: crian do uma
b o n d a d e e o p o d e r d e D eu s con tin u avam im a gem irresistível d e si m e sm o a o p ov o . Da\
o p e ra n d o em sua v id a e q u e o S en h or n ão fo i um herói, e n q u a n to A b s a lã o foi apenas
o havia a b a n d o n a d o c o m o fiz e ra c o m Saul. um a c e le b r id a d e . I n f e liz m e n t e , m u ito s
O S en h or ainda realizava sua v o n ta d e p er­ israelitas haviam se a co stu m a d o c o m seu rei
feita e, e m m o m e n to algum , D avi m ostrou e não lhe davam mais o d e v id o valor.
m a ior fé e subm issão d o q u e q u a n d o foi fo r­ Tu d o indica q u e a c a m p an h a d e A b sa lã o
ç a d o a d eixar Jerusalém e se e s c o n d e r no c o m e ç o u lo g o d e p o is da re c o n c ilia ç ã o c o r r
d eserto . Essa p assa gem ap resen ta três reis. 0 pai, um a v e z qu e, a partir d e en tã o , esta\a
livre para ir a o n d e qu isesse. Sua prim eira pro­
1. A b s a lã o , o rei im p o sto r de Is ra e l vid ê n cia fo i c o m e ç a r a andar e m um carro
(2 S m 15:1-12) p u x a d o p or cavalo s e a c o m p a n h a d o d e cin­
Se já h o u v e um h o m e m p e rfe ita m e n te p re ­ q ü en ta guarda-costas, q u e anu nciavam sua
p a ra d o para ser um d e m a g o g o 1 e fa z e r o presen ça. O p ro fe ta Sam uel havia previsto
p o v o se desviar, esse foi A b sa lã o . Era b em ess e tip o d e c o m p o rta m e n to d a parte dos
a p e s s o a d o , c o m um ch a rm e difícil d e resistir reis d e Israel (1 Sm 8 :1 1 ) e M o is é s havia ad­
(1 4 :2 5 , 2 6 ) e tinha e m suas v eia s sa n gu e v e r tid o c o n tra a a q u is iç ã o d e c a v a lo s (Dt
real ta n to p o r p arte d e pai q u a n to d e m ãe. 1 7:16). D avi esc re ve u e m Salm os 20:7: "U n s
O fa to d e esse p rín cip e n ão ter caráter al­ c o n fia m e m carros, outros, e m cavalos; nós
gum n ão era im p o rta n te para a m aioria d o p orém , nos glo ria rem os e m o n o m e d o Se-
p o v o , qu e, c o m o um re b a n h o d e ovelh as, NHOR, n osso D eu s".
segu ia q u alq u er um q u e falasse o q u e d e s e ja ­ U m a v e z q u e D avi n ão estava à d isp o s-
vam o u vir e q u e lhes d es se o q u e qu eriam . ç ã o , A b s a lã o e n c o n tra va -se p e s s o a lm e n te
2 SA M U EL 15:1 - 16:14 343

c o m o p o v o na estrad a q u e leva va à p o rta em seu p ró p rio n o m e, certa m e n te , o re c e ­


d a c id a d e , para o n d e o s israelitas se diri­ b e re is " (Jo 5:43).
giam to d a s as m anhãs a fim d e q u e suas A b s a lã o vinha e n g a n a n d o os irm ãos e o
qu eix a s fo s s e m e xa m in a d a s e q u e suas ca u ­ p o v o d e Israel havia anos, e, q u a n d o o m o ­
sas fo s s e m ju lg a d a s . N a A n tig u id a d e , a p o r­ m e n to c e rto c h e g o u , deu um passo o u s a d o
ta d a c id a d e e q u iv a lia à p r e fe itu r a e a o e m entiu para o pai (2 Sm 19:7-9). O prínci­
toru m (R t 4:1 ss; C n 23:1 0; D t 22:1 5; 25:7), p e não se en c o n tra va mais sob prisão d o m i­
e A b s a lã o sabia q u e e n c o n tra ria ali m uita ciliar, d e m o d o q u e não havia n ec e ss id a d e
gen te in satisfeita se p e rg u n ta n d o p o r q u e d e r e c e b e r p erm issão para sair d e Jerusalém,
o sistem a ju d icial n ão fu n c io n a v a c o m efi- mas, a o fa zê -lo , A b s a lã o c o n s e g u iu várias
' ên cia. (V e r 2 Sm 19:1-8.) A b s a lã o cu m p ri­ coisas. Em p rim e iro lugar, p o d e ria d iz e r a
m e n ta v a e ss es visitan tes c o m o se fo s s e m qu alq u er um q u e p ergu n tasse q u e D avi ha­
am igos d e lo n g a d ata e d e s c o b ria d e o n d e via p erm itid o a ida d o filho a H e b ro m para
haviam v in d o e qu ais eram seus p ro b le m a s . q u e cu m prisse um v o t o fe ito e n q u a n to esta­
C o n c o r d a v a c o m to d o s q u e suas q u eix a s va n o e x ílio e m C esu r. Em s e g u n d o lugar,
eram válidas e q u e d e v e ria m ser d ec id id a s dissipava as a p re e n s õ e s q u e p o d e ria m sur­
e m fa v o r d e le s n o tribunal d o rei. Suas p a­ gir e m d e c o rrê n c ia d o b a n q u ete qu e A b s a lã o
lavras n ão passavam d e b a ju la çã o v u lga r d o havia o fe r e c id o n o passado, no qual A m n o m
tip o m ais d e s p r e z ív e l, m as o p o v o ad orava. havia s id o m o rto . Em te rc e ir o lugar, d a v a
A b s a lã o a firm a va q u e p o d e r ia cu id ar m e ­ cred ib ilid a d e a seu c o n v ite a d u zen ta s pes-
lh or d o s assuntos d o re in o se, a o m en os, soa s-ch ave da a d m in is tra çã o d e D avi, q u e
fosse ju iz (v. 4), um a fo rm a sutil d e criticar o c o m p a re c e ra m d e b o m g ra d o a o b an qu ete.
pai. Q u a n d o as p es so a s c o m e ç a v a m a se O s c o n v id a d o s d e v e m ter fic a d o im p ressio­
curvar dian te d e A b s a lã o p or ser o p rín cip e n ados a o v e r essas d u zen ta s p essoa s im p o r­
"e rd e ir o , esten d ia a m ã o a fim d e detê-las, tantes e m H e b ro m . O fa to d e o b a n q u ete
,)uxava-as para ju n to d e si e as b eija va (v. 5). estar re la c io n a d o a o c u m p rim e n to d e um
Esse g e sto nos lem bra d o b e ijo h ipócrita d e v o t o c o n feriu a o e n c o n tr o c e rta aura reli­
judas a o saudar Jesus n o jardim (M t 26:47- gio sa (D t 3 2:21 -2 3), p ois foram o fe r e c id o s
50; M c 14:45 ). sacrifícios a o Senhor. O q u e p o d e ria dar er­
Levou ap en a s qu atro an os para o m a g ­ ra d o num b a n q u e te d e d ic a d o a o S en h or?
netism o d e A b s a lã o reunir um n ú m ero c o n ­ A b s a lã o estava u san do o n o m e d o S en h or
siderável d e segu id o re s d e v o to s p o r to d a a para o cu ltar seus p e c a d o s .4
terra. A s p essoas c o m as quais A b s a lã o se O g o lp e d e m estre d e A b s a lã o fo i c o n ­
e n c o n tra v a v o lta v a m para a casa e c o n ta ­ quistar o a p o io d e A ito fe l, o c o n s e lh e iro mais
ra m a o s a m ig o s e v iz in h o s q u e h a v ia m astuto d e D avi, e, q u a n d o os c o n v id a d o s o
c o n v e r s a d o p e s s o a lm e n te c o m o p rín cip e viram n o b an qu ete, tiveram c e rte z a d e q u e
-e rd e iro , e, a o lo n g o d es se p e río d o d e qu a­ tu d o estava b em . N o entanto, A ito fe l f e z mais
tro anos, esse tip o d e a p o io con q u isto u mui­ d o q u e c o m p a r e c e r à c o m e m o r a ç ã o ; ta m ­
tos am igos para A b sa lã o . A ra p id e z c o m q u e b é m se uniu a A b s a lã o e m sua r e b e liã o
fo i c a p a z d e in flu en ciar a m e n te e o c o ra ­ con tra o rei Davi. E p ro vá ve l q u e to d a essa
ç ã o d o p o v o serve-nos d e a d v e rtê n c ia hoje, o p e r a ç ã o ten h a sido id ea liza d a p o r A ito fel.
lem b ra n d o qu e, um dia, surgirá um líder q u e Afinal, D avi havia v io le n ta d o Bate-Seba, neta
con trolará a m e n te das p essoas d e to d o o d e A ito fe l, e m a n d a d o matar o m arido d ela
rru n d o (A p 1 3:3; 2 Ts 2). A té m e s m o o p o v o (v e r 2 Sm 2 3 :3 4 ; 1 Cr 3 :5 ). Era a g ra n d e
d e israel será e n g a n a d o e firm ará um a alian­ o p o rtu n id a d e d e A ito fe l vingar-se d e Davi.
ça c o m esse go v ern a n te, s e n d o qu e, d ep o is, P orém , a o a p o ia r A b s a lã o , A ito fe l rejeito u
e le se voltará con tra os ju d eu s e ten tará des- S alo m ã o, filho d e Bate-Seba, o qual D eu s ha­
thjí-Ios (D n 9 :26, 2 7). Jesus disse aos líderes via e s c o lh id o para ser o p ró x im o rei d e Is­
udeus d e seu te m p o : "Eu vim e m n o m e d e rael. A o m e sm o te m p o , estava ru m an d o para
-neu Pai, e n ão m e re ce b eis ; se o u tro v ier a m orte, pois, assim c o m o Judas, rejeitou o
344 2 SA M U EL 15:1 - 16:14

v e rd a d e iro rei, saiu e c o m e te u su icídio (v er d e p esso a s in o ce n te s m o rrerem . Foi um ge s ­


2 Sm 17:23; SI 4 1:9; 55:12-14; M t 26:21-25; to típ ic o d e D avi arriscar a p ró p ria v id a e
Jo 13:18; A t 1:16). A ito fe l havia e n g a n a d o ab a n d o n a r o tro n o a fim d e p ro te g e r a ou ­
Davi, seu rei, e p ec a ra con tra o Senhor, q u e tros. Seus serv o s juraram fid e lid a d e a o rei
havia e s c o lh id o Davi. (v. 16), c o m o ta m b ém o f e z sua gu arda pes­
P or q u e A b s a lã o d e c id iu c o m e ç a r sua soal (vv. 18-22). A s d e z con cu b in as q u e Davi
in su rreição e m H e b ro m ? U m d o s m o tiv o s d eix o u para trás a fim d e adm inistrar a casa
fo i o fa to d e a c id a d e ser a an tiga capital d e s e ria m , p o s t e r io r m e n t e , v io le n t a d a s p o r
Judá, e ta lv e z alguns tivessem se ressentido A b s a lã o (1 6 :2 0 -2 3 ), ato q u e d ecla ra va q u e
c o m o fa to d e D avi ter m u d a d o a capital e le havia to m a d o p o s s e d o rein o d e seu pai.
para Jerusalém . A b s a lã o havia n ascid o em D avi m obiliza suas tropas (vv. 17-22).
H e b ro m e p o d e ria d ize r q u e possuía m aior D avi e seu gru p o fugiram para o N o rd este,
a fin id a d e c o m seus habitantes. H e b ro m era afastan do-se d e Jerusalém na d ire ç ã o o p o s ­
um a c id a d e sagrada para os israelitas, pois ta a H e b ro m . Q u a n d o c h e g a ra m à ultima
havia sido d es ig n a d a para os s a c erd o te s e casa d a p eriferia d e Jerusalém, fize ra m uma
era relacio n a d a a C a le b e (Js 21:8-16). Situa­ pausa para descansar, e Davi passou as tro­
d a a p o u c o m ais d e trinta q u ilô m e tr o s a pas e m revista. Entre os sold ad o s, estava a
s u d o e s t e d e J e ru s a lé m , e ra u m a c id a d e gu a rd a p es so a l d o re i (o s q u e r e t it a s e
m urada, p o n to d e partida ideal para invadir peletitas, 8 :18; 2 3 :2 2 , 2 3 ) e, ta m b ém , seis­
Jerusalém e to m a r o tron o. C o m d u ze n to s c en to s filisteus q u e haviam s e g u id o Davi d e
o ficiais d e D avi "p re s o s " d en tro d o s m uros C a te e q u e se en co n tra va m s o b o c o m a n d o
d e H e b ro m , seria fácil a A b s a lã o assumir o d e Itai (1 Sm 2 7:3). Itai garantiu a leald ad e
c o n tro le d o reino. ab solu ta d e seus s o ld a d o s a o rei. O teste­
m u nh o d e fid e lid a d e d esse g e n tio a D avi (v.
2. D a v i, o v e rd a d e iro rei de Is ra e l 2 1 ) é um a das gran des c o n fiss õ es d e fé e d e
(2 S m 15:13-23) lea ld a d e en co n tra d a s nas Escrituras e p o d e
A b s a lã o e A ito fe l ord en aram q u e seus trom- ser c o lo c a d a a o la d o da co n fiss ã o d e Rute
b eteiro s e m en sageiros ficassem prontos para (1 :1 6 ) e das palavras d o cen tu rião ro m a n o
agir, e, a o sinal, a n otícia esp alh ou -se rapi­ (M t 8:5-13 ).5
d a m e n te p o r to d a a terra: "A b s a lã o é rei em Davi chora (v. 23). A palavra-ch ave des­
H e b r o m !" O m e n s a g e iro a n ô n im o q u e in­ ta s e ç ã o é o v e r b o "passar", usado n o v e ve­
fo rm o u Davi, na v e rd a d e , aju dou a salvar a zes. D avi e seu p o v o passaram o ribeiro ae
v id a d o rei. P or mais a p á tico q u e D avi esti­ C e d r o m (v. 2 3), q u e corria p e lo Leste d e Je­
ves se até en tão, entrou im e d ia ta m en te em ru salém c o m um g ra n d e v o lu m e d e água
açã o , pois, nos m o m e n to s d e crise, m ostra­ durante o in vern o e p recisava ser atravessa­
va s em p re o m e lh o r d e si. d o para se c h e g a r a o m o n te das O liveiras.
D avi assume o controle (vv. 13-16). Sua Essa c e n a nos lem bra d a e x p e riê n c ia d e le-
prim eira o rd e m oticial foi para q u e sua fa ­ sus q u a n d o fo i a o jardim (Jo 18:1). N a q u e i*
m ília, seu s o fic ia is e sua g u a rd a p e s s o a l e x a to m o m e n to Judas, um d o s p ró p rio s dis­
d e ix a s s e m J e ru s a lé m im e d ia ta m e n t e . Se cípu los, o estava train do e p ro vid en cian d o
A b s a lã o co n s eg u is se o a p o io d e to d o o Is­ para q u e fosse p reso. O p o v o ch orava e--
rael, seria fácil para os exé rc ito s d e Judá e q u a n to a n d a v a a p re s s a d a m e n te e seu ra
das tribos d o N o r te c erc a rem a cid a d e , b lo ­ c h o ra v a c o m e les , a in d a q u e , ta lv e z, p o t
q u e a n d o qu alq u er saída. D avi sabia q u e o m o tiv o s d iferen tes (vv. 2 3,30 ). Seu p ró p rc
m e s m o A b s a lã o q u e havia m a tad o A m n o m filh o o h avia traíd o, ju n ta m e n te c o m se„
ta m b ém mataria os irm ãos e ta lv e z até o pai, a m ig o e c o n s elh e iro particular, e o p o v o in­
d e m o d o q u e era a b solu ta m en te n ecessário sen sato p e lo qual o rei havia fe ito tanta coi­
q u e to d o s fugissem . A lé m disso, se A b sa lã o sa n em s a b ia o q u e e s ta v a a c o n te c e n d o .
tivesse d e atacar Jerusalém, exterm in aria seus "Pai, perdoa-lhes, p o r q u e n ão sab em o que
habitantes, e n ão havia m o tiv o para cen ten as fa z e m " (L c 2 3:34 ).
2 SA M U EL 15:1 - 16:14 345

Será q u e D avi sen tia o p e s o d a culpa, Senhor. H o je , é p ossível en co n tra r c o r a g e m


en q u a n to , mais um a v e z , seu filh o a m a d o e c o n fia n ç a e m n ossos m o m e n to s d e d ifi­
A b s a lã o d esafiava a v o n ta d e d e D eu s e m a­ c u ld a d e a o v e r c o m o o S en h o r re sp o n d e u a
goava o pai tã o p ro fu n d am en te? Ele e o fi­ D avi e fo i fiel a e le e m sua hora d e angústia.
no haviam se re co n c ilia d o , mas o rapaz não O Senhor reconhece a fé de Davi (15:24-
-avia m o stra d o q u a lq u e r sinal d e co n triçã o 29). Z a d o q u e e A b ia ta r d ivid iam as fu n ç õ e s
p o r seus p e c a d o s n em p e d id o p e r d ã o a o d o su m o s a c e rd o te e aju daram a transferir
Dai ou a o Senhor. " N ã o se apartará a e sp a ­ a arca para Jeru salém (1 C r 15:11 ss), d e
da jam ais d a tua casa", havia sido a sen ten ­ m o d o q u e lhes p a re c e u p o r b e m le va r a
ça o m in o sa p ro ferid a p e lo p ro fe ta d e D eus arca a D avi. A b s a lã o havia u su rpado o tro n o
e q u e estava se cu m p rin do. O b e b ê d e Bate- d o pai, mas o s s a c e rd o te s n ã o p erm itiriam
Seba m o rrera e A m n o m fora assassin ado. q u e to m a ss e o tr o n o d e D eu s. Juntaram-se
Davi não qu eria q u e A b s a lã o m orresse (1 8:5), a o g ru p o d e D avi, qu e, a essa altura, e n ­
mas o jo v e m seria m o rto p o r Joabe, a te rc ei­ c o n tra va -se a c a m p a d o , e leva ram c o n s ig o
ra "p r e s ta ç ã o " d o p a g a m e n to d o lo r o s o d e m u itos d o s levitas, s e n d o q u e A b ia ta r o fe ­
Davi (1 2 :6). A d o n ia s ta m b ém m o rreria num a re c e u s a crifício s (v. 2 4 ) e, sem d ú vida, c la ­
tentativa frustrada d e tornar-se rei (1 Rs 1 ) e, m ou a o S en h o r p e d in d o q u e gu iasse e q u e
então, a d ívid a estaria paga. p ro te g e s s e o rei.
Pela segu n d a v e z e m sua vida, D avi foi D avi, p o ré m , o rd e n o u q u e le va ss em a
o b r ig a d o a fugir para o d e s e rto a fim d e se arca d e v o lta a Jerusalém ! N ã o qu eria q u e o
salvar. Q u a n d o era jo v e m , fugiu d a fúria in­ tro n o d e D eu s fo s s e tratado c o m o am u leto,
v ejo s a d o rei Saul, e, d essa v e z , ten tava es­ c o m o h avia a c o n t e c id o n o t e m p o d e Eli
capar da c o n s p ira ç ã o d e seu filho, A b salão , q u a n d o a g ló ria partiu d e Israel (1 Sm 4).
e d e seu an tigo con s elh e iro , A ito fe l. A o d e i­ A b s a lã o e seus h o m en s ten tavam transfor­
xar Jerusalém, D avi p ou pa ra a c id a d e d e um a m ar a glória d e D avi e m o p r ó b rio (SI 4:2),
carnificina, mas e le e a fam ília estavam em mas o fa v o r d e D eu s estava sob re seu rei e
p erig o, sem sab er o q u e seria d o futu ro d o o restauraria a seu tron o . D avi havia visto o
reino e d a aliança d e D eu s c o m Davi. p o d e r e a glória d e D eu s e m seu santuário
(SI 6 3 :2 ) e, p ela fé, os veria n o d es erto . M as,
3. Je o v á , o rei s o b e ra n o de Is ra e l m e s m o q u e D eu s rejeitasse Davi, o rei esta­
(2 S m 1 5 :2 4 - 1 6 :1 4 ) va p rep a ra d o para aceitar a v o n ta d e s o b e ­
A o ler os salm os d o ex ílio d e D avi, é im p o s­ rana d e J eová (v. 2 6)." Eli havia fe ito um a
sível n ão ver sua c o n fia n ç a e m D eu s e sua d e c la ra ç ã o p a re c id a (1 Sm 3 :1 8 ), m as era
c o n v ic ç ã o d e qu e, p o r mais d es o rd e n a d a s um a e x p re ss ã o d e resign a çã o, não d e c o n ­
e p ertu rb ad as q u e e stivessem as coisas, o sagração. N o c a so d e Davi, o rei en tregara
S en h or con tin u ava e m seu tron o. Q u a isq u e r to d o seu ser a o Senhor, d iz e n d o : "s e ja feita
□ue fossem seus sen tim en tos, D avi sabia q u e a tua v o n ta d e e n ão a m inha".
o S en h or seria s em p re fiel a sua alian ça e A fé sem obras é m orta, d e m o d o q u e
cumpriria suas p rom essas. O S alm o 4 p o d e , D avi in cum biu os d ois s a c erd o te s d e ser seus
m uito b em , ser o c â n tic o q u e D avi e n to o u a o lh os e o u v id o s e m Jerusalém e d e transmi­
D eus n aq u ela prim eira n o ite lo n g e d e casa, tir to d a e qu alq u er in fo rm a ç ã o q u e p u d esse
e o S alm o 3 o q u e e le orou na m anhã se­ ajudá-lo a p lan eja r sua estratégia . Aim aás,
guinte. N o s S alm os 41 e 55, d e rra m o u o filho d e Z a d o q u e , e ta m b ém Jônatas, filho
c o r a ç ã o dian te d o S en h or; D eus o ouviu e, d e A b ia ta r, seriam o s m e n s a g e ir o s e le v a ­
a seu te m p o , re sp o n d e u a suas súplicas. O s riam as in fo rm a ç õ e s a Davi. O rei era um
Salm os 61, 62 e 63 nos p erm item v e r o q u e tático d e gra n de c o m p e tê n cia , e, ao ler 1 Sa­
se passava n o c o r a ç ã o aflito d e D avi, enquan- m u el 19 - 28, d e s c o b r im o s q u e p o s s u ía
io p e d ia o rie n ta ç ã o e força s d e D eus. O b s e r ­ um sistem a e fic ie n te d e espias q u e o m anti­
ve q u e c a d a um desses três salm os term ina nha in fo rm a d o d e to d o s os m o v im en to s d e
com u m a d e c la r a ç ã o v e e m e n t e d e fé no Saul. D avi teria c o n c o rd a d o c o m o co n s elh o
346 2 SA M U EL 15:1 - 16:14

atribuído a O liv e r C ro m w e ll: "R a p a z e s , c o ­ Israel e c o m o futuro d o m in istério q u e D eu s


lo q u e m sua c o n fia n ç a e m D eus, mas m an­ havia d a d o a essa n a çã o c o m o testem u n h o
ten h am a p ó lv o ra s em p re s ec a ". A d e s p e ito para o m u n d o to d o . A aliança d e D eu s c o m
d o q u e p u d esse fa z e r ao s oficiais d o rei, di­ D avi (2 Sm 7) garantia q u e seu tro n o p erm a­
ficilm e n te A b s a lã o atacaria os s a c erd o te s e n eceria para sem p re, e isso se cum priu em
levitas, q u e teriam lib e rd a d e d e con tin u ar C risto; m as essa p ro m es s a ta m b é m signifi­
seu trabalh o p ratica m en te sem ser n otad os. c ava q u e Israel n ão seria d estru ído e q u e a
Q u a n d o os d o is s a c e r d o te s e seus filh o s lâm pada d e D avi n ão se ap agaria d e m o d o
v oltaram a Jerusalém c o m a arca, é p ro vá vel p e rm a n e n te (1 Rs 11:36; 15:4; 2 Rs 8:19;
q u e os s eg u id o re s d e A b s a lã o ten h am inter­ 2 1:7; SI 1 32 :1 7 ). D eu s seria fiel n o cum pri­
p re ta d o ess e a to c o m o mais q u atro v o to s m e n to d e sua aliança, e D avi sabia q u e seu
em favor d o n o v o rei. tro n o estava segu ro nas m ã os d o Senhor.
O Senhor vê as lágrimas de Davi (15:30). O Senhor responde á oração de Davi
N as palavras d e A . W . "ío z e r:7 "A Bíblia foi (15:31-37). O u tro m e n s a g e ir o c h e g o u ao
escrita c o m lágrimas, e é às lágrim as q u e ela a c a m p a m e n to d e D avi e in form ou a o rei qu e
e n tre g a seus tesou ro s mais p re c io s o s ". D avi A i t o fe l h a v ia d e s e r t a d o p a ra o la d o d e
era um h o m e m fo rte e valen te, mas n ão ti­ A b s a lã o (v er v. 12). "A té o m eu a m ig o ínti­
nha m e d o d e chorar a b e rta m en te (h o m en s m o, e m q u e m eu co n fia v a , q u e c o m ia d o
d e v e r d a d e choram, sim, in clu sive Jesus e m eu p ão, levantou con tra m im o calcan h ar"
Paulo). Lem o s s o b re as lágrim as d e D avi no (SI 4 1 :9). " N ã o é in im igo q u e m e afronta; se
Salm o 6, q u e p o d e ser um salm o d o exílio o fosse, eu o suportaria [...] mas és tu, h o­
(vv. 6-8), b em c o m o nos Salm os 30:5; 39:12; m e m m eu igual, m eu c o m p a n h e iro e m eu
e 56:8. "A partai-vos d e mim, to d o s os q u e ín tim o a m ig o " (SI 55:12 -1 4). O q u e d e v e m o s
praticais a in iqü idade, p o r q u e o S enhor ouviu fa z e r q u a n d o um d e nossos c o n fid e n te s mais
a v o z d o m eu la m e n to " (SI 6:8). "S a crifícios c h e g a d o s nos trai? O m e sm o q u e D avi: orar
agrad áveis a D eu s são o espírito qu eb ra n ta­ e adorar. "Ó S enhor , p e ç o -te q u e transtor­
d o ; c o r a ç ã o c o m p u n g id o e con trito, n ão o nes em loucura o c on s elh o d e A ito fe l" (2 Sm
d esprezará s, ó D e u s " (SI 51:17). 15:31 ).
P or certo, n ão faltavam m o tiv o s para as Então, "a o c h e g a r D avi a o c im o , o n d e
lágrim as d e D avi, p ois seus p e c a d o s haviam se costu m a ad orar a D e u s " (v. 32), D avi viu
tra zid o tristeza e m o rte s o b re sua fam ília. Husai, a resp osta a sua o ra ç ã o ! Husai é cha­
A m n o m fora assassinado, e Tamar, v io le n ta ­ m a d o d e "a m ig o d e D a v i" (v. 37; 1 Cr 2 7 :3 3>
da; agora, A b s a lã o - o p ró p rio filho d o rei - in d ican d o q u e era a m ig o na c o r te e c o n s e ­
estava n o p ro c e s s o d e usurpar o tro n o d e lh eiro e sp ec ia l d o rei. Husai era arquita, o
Israel e ru m an d o para a m o rte certa. A ito fel, q u e sign ificava q u e vinha d e um gru p o d e
a m ig o e c o n s e lh e iro d e D avi, voltara-se c o n ­ d e s c e n d e n te s d e C an aã, p o r ta n to gen tio s
tra ele, e o p o v o p e lo qual D avi havia arrisca­ (G n 10:1 7; 1 Cr 1:15). A c id a d e d e A rca fi­
d o a v id a e m tantas o c a s iõ e s o ab a n d o n a va c a v a na Síria, a c e rc a d e tre z e n to s e vinte
a fim d e seguir um re b e ld e e go tista q u e n ão qu ilô m etro s d e D a m a s c o e a o ito q u ilô m e ­
havia sido e s c o lh id o p o r D eus. Se havia um tros a leste d o mar. A s con qu istas d e D a .i
h o m e m c o m to d o o d ireito d e chorar, esse haviam c h e g a d o até essa região, n o N o rte,
era D avi. Assim c o m o as crian ças d e s o b e ­ e alguns d es se p o v o haviam p assado a a a >
d ien tes ch o ra m q u a n d o re c e b e m um a surra, rar o D eu s v e rd a d e iro d e Israel e a servir a
é fá c il as p es so a s c h o ra re m q u a n d o e s tã o seu rei.
s e n d o d isc ip lin a d a s p o r seus p e c a d o s , e, D avi fe z c o m Husai o m e s m o q u e ha1. ■?
um a v e z term in a d a a surra, se e s q u e c e m da fe ito c o m Z a d o q u e , A b iatar e os d ois filhos
dor. N o entan to, as lágrim as d e D avi eram d o s s a cerd o tes: en v io u -o d e v o lta a Jerusa­
m u ito m ais p rofu n d as. Estava p r e o c u p a d o lém para "s e rv ir" a A b salão . Esses c in c o h[>
n ão a p en a s c o m o bem -estar d e seu filho m en s estavam se arrisca n d o p o r a m o r a*
re b e ld e, mas ta m b ém c o m a segu ran ça d e Sen h or e a o rein o, mas con sideraram ur~a
2 SA M U EL 15:1 - 16:14 347

nonra servir a seu rei e ajudar a restituí-lo ao d e s m e n tid a (2 Sm 1 9 :2 6 ,2 7 ) - e f e z um


trono. Tod as as p essoas às quais D avi deu ju lg a m e n to p rec ip ita d o , q u e deu a Z ib a a
in cu m b ên c ia s e s p e c ífic a ^ p o d e ria m d ize r: p r o p r ie d a d e p e r t e n c e n t e , p o r d ir e it o , a
"Eis aqui os teus servos, para tu d o qu an to M e fib o s e t e . "R e s p o n d e r an tes d e o u v ir é
d eterm in ar o rei, n osso s en h o r" (v. 1 5). Tra­ estultícia e v e rg o n h a " (P v 18:13). O s líderes
ta-se d e um a e x c e le n te d e c la ra ç ã o a ser a d o ­ q u e s erv e m a o S en h or d e v e m estar s em p re
tada p elo s cristãos h o je para exp ressar sua alertas a fim d e não to m a r d e c is õ e s p recip ita­
d e v o ç ã o a Cristo. das c o m b a s e e m informações in com p letas.
Husai v o lto u a Jerusalém lo g o d e p o is q u e Deus honra a submissão de Davi (16:5-
•^bsalão havia c h e g a d o , e é possível q u e a 14). Por m e io das mentiras d e Zib a, Satanás
e m p o lg a ç ã o d o p o v o a o saudar seu n o v o ataco u D avi c o m o um a s erp e n te e n g a n a d o ­
rei ten h a p erm itid o q u e entrasse na c id a d e ra (2 C o 11:3; C n 3:1-7). Em seguida, pelas
sem ser n o ta d o , ou ta lv e z ten h a re fo rç a d o palavras e pedras d e Sim ei, Satanás m anifes­
sua p o s iç ã o ju n tan do-se a o p o v o na r e c e p ­ tou-se c o m o le ã o d e v o ra d o r (1 P e 5:8). Z ib a
ç ã o . E c la ro q u e, m ais ta rd e, H usai c u m ­ c o n to u m entiras, Sim ei atirou pedras, e os
prim entaria o rei e c o lo c a ria m ãos à obra, d ois perturbaram o rei. D avi estava p ró x im o
fa z e n d o to d o o p ossível para em b a rg a r os a Baurim,8 na trib o d e B en jam im , o n d e as
plan os d o n o v o rei e para m anter D avi in for­ força s partidárias d e Saul ainda eram fortes.
m ado. Se há c o is a m e lh o r d o q u e obter um a Sim ei en con trava-se na e n c o sta d e um a c o ­
resp osta d e o ra ç ã o é ser um a resp osta d e lina o p o s ta a D avi e a cim a d ele, d e m o d o
o ra ç ã o , e Husai fo i a resp osta às o ra ç õ e s cle q u e fo i fácil jo g a r pedras e to rrõe s d e terra
Davi. Em term o s hum anos, se n ão fo s s e p e lo s o b re D avi e seu gru po. D avi estava exau sto
co n s e lh o d e Husai a A b sa lã o , D avi p o d e ria e d es a n im a d o e, no entanto, jam ais d e m o n s ­
ter sido m o rto n o d eserto. trou tanta g ra n d e za c o m o q u a n d o perm itiu
O Senhor supre as necessidades de Davi q u e S im ei p ro s s e g u is s e c o m seu a ta q u e .
(16:1-4). O e n c o n tro d e D avi c o m Husai fo i A b isai m ostrou -se m ais d o q u e d isp o sto a
um a resposta d e o ra ç ã o , mas seu e n c o n tro passar e m atar o h o m e m q u e ata c a v a o rei,
c o m Z ib a supriu um a n ec e ss id a d e im ediata mas D avi n ão p erm itiu q u e o fize s s e . A b isai
q u e a c a b o u cria n d o um p ro b le m a , só resol­ ta m b é m h a v ia d e s e j a d o m a ta r Saul n o
v id o d e p o is q u e D a v i reassu m iu o tro n o . a c a m p a m e n to d e Israel (1 Sm 2 6 :6 -8 ) e aju­
Z ib a havia sido um d o s adm in istradores das dara seu irm ão, Joabe, a assassinar A b n e r
terras d e Saul, b em c o m o resp o n sá vel p or (2 Sm 3 :3 0 ), d e m o d o q u e D avi sabia q u e
M e fib o s e te , o filh o a le ija d o d e Jônatas (cap. as p alavras d e A b isa i d e v e ria m ser leva da s
9). S a b e n d o q u e Z ib a era um o p o rtu n ista a sério.
m a l-in ten cio n a d o , D avi d e s c o n fio u d e sua "F o r a d a q u i, fora, h o m e m d e san gu e,
visita, d e seus p resen tes e da au sên cia d e h o m e m d e B elial", gritou Sim ei, mas D avi
M e fib o s e te , q u e havia fic a d o s o b os cu id a­ n ão revid ou . Sim ei estava c u lp an d o D avi p ela
d os d e Davi. Z ib a havia le v a d o c o n s ig o dois m o rte d e Saul e d e seus filhos, pois, afinal
ju m en to s para D avi e sua família, b em c o m o d e contas, q u a n d o eles m orreram , Davi fa­
p o r ç õ e s ge n ero s a s d e p ão, v in h o e frutas. zia parte, o fic ia lm en te , d o e x é rc ito d o s filis­
O s p resen tes eram coisas d e q u e n ecessita­ teus. A o q u e p a re c e , o fa to d e D avi estar a
vam e foram d e v id a m e n te a p recia d o s, mas qu ilô m etro s d e distância d o c a m p o d e b a­
o q u e p re o c u p a v a D avi era a m o tiv a ç ã o p or talha na o c a s iã o d a m o rte d ele s n ão im p o r­
trás d essa ge n e ro s id a d e . tava para Sim ei. E b em p ro vá ve l q u e esse
Z ib a m entiu a o rei e f e z to d o o possível b en jam ita leal cu lpasse D avi p ela m o rte d e
para difam ar seu jo v e m senhor, M e fib o s e te . Isb osete, o filh o d e Saul q u e havia h erd a d o
D avi estava ca n sa d o e p ro fu n d a m en te m a­ o tro n o d o pai, e ta m b ém d e A b n er, o fiel
g o a d o , d e m o d o qu e n ão era o m e lh o r m o ­ c o m a n d a n te d e Saul, sem d eixar d e fora, ain­
m e n to para julgar o caráter d e q u a lq u e r um. da, Urias, o heteu. "Eis-te, agora, na tua d es­
A c e ito u a história d e Z ib a - q u e d e p o is foi graça, p o r q u e és h o m e m d e s a n gu e " (v. 8).
348 2 SA M U EL 15:1 - 16:14

Sua e x p re ss ã o d e ira con tra D avi era um a d e v a d e a r o rio Jordão, p o s s iv e lm e n te nas


tran sgressão da lei, p ois Ê xo d o 2 2 :2 8 d iz: c erca n ia s d e C ilg a l ou Jericó, e d esca n sa­
"C o n tra D eu s n ão blasfem arás, n em am ald i­ ram nesse local. A travessaram o rio b em c e ­
çoa rás o p rín cip e d o teu p o v o ". d o na m anh ã s egu in te e p rossegu iram até
A atitu de d e D avi fo i d e subm issão, pois M aan a im (2 Sm 17:22, 24), local o n d e Jacó
a c e ito u o s insultos d e S im ei c o m o p r o v e ­ havia feito s os p rep arativos para se e n c o n ­
n ien tes das m ã o s d e D eu s. D avi já havia trar c o m o irm ão, Esaú, e o n d e havia lutado
an u n ciad o q u e aceitaria qu alq u er c o is a q u e c o m D eu s (C n 32). T a lv ez D avi ten h a se lem ­
o S en h or lhe en viasse (1 5 :2 6 ) e, nesse m o ­ b rad o d es se a c o n te c im e n to e re c o b ra d o a
m e n to , p ro v o u sua d e c la ra ç ã o . A o refletir c o r a g e m a o pensar n o e x é rc ito d e anjos que
s o b re o fato d e ser um ad ú ltero e h o m icid a D eu s e n v io u para p ro te g e r Jacó.
q u e m e re cia m o rrer e, n o entan to, q u e D eus Em q u e esse sofrim e n to to d o b en e fic io u
perm itiu viver, p or q u e D avi se qu eixaria d e D avi? Tornou-o mais semelhante a Jesus Cris­
p edras e d e terra? E se A b s a lã o , o p ró p rio to! Foi re jeita d o p o r seu p ró p rio p o v o e tra>
filho d e Davi, estava d e te rm in a d o a matá-lo, d o p o r um a m ig o p ró x im o . Ab riu m ã o de
p o r q u e um d e s c o n h e c id o d ev eria ser casti­ tu d o p or a m o r a o p o v o e teria e n tre g u e até
g a d o p or insultar o rei e atirar coisas nele? m e sm o a v id a para salvar seu filh o rebelde,
D avi acreditava q u e um D eu s justo faria o q u e m e re cia m orrer. Assim c o m o Jesus, D a v
b a la n ç o geral e daria a g e n te c o m o A b s a lã o atravessou o C e d r o m e subiu o m o n te das
e Sim ei o q u e lhes era d e v id o . T a lv e z Davi O liveiras. Foi a cu sa d o falsam en te e tratadc
tiv e s s e e m m e n te as p a la vra s d e D e u te - d e m o d o v e r g o n h o s o e, n o en tan to , sujei­
r o n ô m io 3 2 :3 5 : "A m im m e p e rte n c e a vin ­ tou -se à v o n ta d e s o b e ra n a d e D eu s. "Ele.
g a n ç a , a r e tr ib u iç ã o " (v e r Rm 1 4 :1 7 -2 1 ). q u a n d o ultrajado, n ão revid ava c o m ultraje-
Q u a n d o D avi re cu p e ro u o tron o, p e rd o o u q u a n d o m altratado, n ão fa zia am ea ça s, mas
Sim ei (2 Sm 1 9:16-23) qu e, p o sterio rm en te, e n tre g a v a -s e à q u e le q u e ju lg a re ta m e n te
fo i c o n fin a d o p o r S a lo m ã o e m Jerusalém , (1 P e 2:2 3).
o n d e p o d e r ia ser m a n tid o s o b v ig ilâ n c ia . D avi p erd e ra o tron o, mas o D eus Jeová
Q u a n d o , num g e s to d e a rro g â n c ia , S im ei ain da era s o b e ra n o e cum priria as p ro m es­
ultrapassou seus limites, foi p reso e e x e c u ta ­ sas feitas a seu servo. Fiel a sua aliança, o
d o (1 Rs 2:3 6-4 6 ). S en h o r lem b rou -se d e D avi e d e to d a s as
Davi e seu gru p o foram c e rc a d e trinta e p ro v a ç õ e s p elas qu ais passou (SI 1 3 2 :1 ) e
d ois qu ilô m etro s para além d e Baurim, a fim se lem bra d e nós nos dias d e hoje.

1. O termo "demagogo" vem de duas palavras gregas: demos {"povo") e agogos ("guiar"). Um verdadeiro líder usa a a
autoridade para ajudar o povo, enquanto um demagogo usa o povo para obter autoridade. Os demagogos fingem se
preocupar com as necessidades do povo, mas sua única preocupação é alcançar o poder e desfrutar os ganhos de m
desonestidade.
2. Os textos hebraicos mostram variações de "quatro" a "quarenta". Se o número certo é quarenta, então não sabemos q u â n ^
a contagem foi iniciada. Quarenta anos a partir de que acontecimento? Alguns cronologistas datam a rebelião de Absalão mas
ou menos entre 1027 a.C. e 1023 a .C , o que seria aproximadamente quarenta anos depois que Davi foi ungido por Samuc<
mas por que escolher esse acontecimento como ponto de partida? Parece razoável aceitar "quatro" como sendo o núnw
correto e datar esse período a partir da reconciliação de Absalão com o pai (14:33).
3. A maioria dos estudiosos identifica os Salmos 3, 4, 41, 55, 61 - 63 e 143 como "salmos do exílio", e alguns acrescen’j — a
estes os Salmos 25, 28, 58 e 109. Os Salmos 41 e 55 indicam que Davi não estava bem de saúde. Ver, ainda, Salmos 61 * 7
Se, de fato, Davi estava enfermo, não era capaz de atender às necessidades do povo e nem de ouvir seus problemas m
Absalão aproveitou-se da situação.
4. Certa vez, Davi mentiu sobre seu comparecimento a uma festa a fim de enganar o rei Saul (1 Sm 20:6) - nossos p e ca ris
nos encontram.
5. Davi enfrentou prova semelhante quando era comandante da guarda pessoal de Aquis, rei dos filisteus {1 Sm 29).
2 SA M U EL 15:1 - 16:14 349

A declaração de Davi: "Eis-me aqui" faz lembrar Abraão (Gn 22:1, 11), Jacó (Gn 31:11; 46:2), Moisés (Êx 3:4), Samuel (1 Sm
3:4, 16) e Isaías (Is 6:8), homens que se entregaram ao Senhor.
Tozer, A. W . Cod Tells the Man Who Cares. Christian Publications, 1970, p. 9.

Foi em Baurim que Mica, esposa de Davi, ao ser devolvida a ele, despediu-se de seu segundo marido, que chorou amargamente
(3:13-16). Dessa vez, é Davi quem está chorando.
1. Seu t r o n o fo i u s u rp a d o
8 (2 S m 16:15-23)
Esse parágrafo re to m a a narrativa interrom ­
p ida e m 2 Sam u el 1 5 :3 7 para nos inforrruT
A V it ó r ia D o c e e da fu g a d e D avi e d e seus e n c o n tro s co"~
A m a r g a de D avi Z ib a e S im ei. G ra ça s a o fa to d e D avi te-
p a rtid o tã o d ep ressa, a re b e liã o d e A b sa lã i
fo i um g o lp e p a c ífic o , e o p rín cip e t o m o -
2 S am u el 1 6 :1 5 - 1 8 :3 3
Jerusalém sem sofre r q u a lq u e r o p o s iç ã o -
e x a ta m e n te o q u e D avi q u eria (1 5 :1 4 ).
c o n trá rio d e A b s a lã o , D avi era um h o m e ~
c o m o c o r a ç ã o d e um pastor q u e pen-.rw*

F
oi e m seu d isc u rs o d ia n te d o C o n g r e s ­ p rim e iro n o b e m d e seu p o v o (2 4 :1 ^ - 9
so d o s E stados U n id o s , n o d ia 19 d e 7 8 :7 0 -7 2 ).
abril d e 1 9 51 , q u e o g e n e ra l D o u g la s M a c - H usai conquistou a confiança de Abi*-
A rth u r f e z a fa m o s a d e c la r a ç ã o : " N a g u e r­ Ião (vv. 16-19). A ssim q u e te v e op o rtu n 3*-
ra, n ad a substitui a v itó r ia ". P o ré m , v á rio s d e, H usai en trou na sala d e a u d iên cia ao
e s p e c ia lis ta s m ilitares ga ra n te m q u e as fo r ­ rei e se a p re s e n to u o fic ia lm e n te a o n o -.«
ças a rm ad as só p o d e m v e n c e r b atalh as e m o n a rca . N ã o q u eria q u e A b s a lã o p e r ^ i »
q u e , a lo n g o p r a z o , n in g u é m v e n c e , d e se q u e e le era um esp ia, a p esa r d e ser c s »
fa to , um a gu erra . Isso p o r q u e o p r e ç o é ta m e n te essa a sua fu n çã o . Era o h o r r e T
a lto d e m a is . P ara c a d a p a la v ra d o liv ro q u e D e u s h a v ia c o l o c a d o e m Jerusaié™
Mein Kam pf [M in h a Luta] d e H itler, m o r r e ­ p ara frustrar o c o n s e lh o d e A it o fe l.
ram c e n to e v in te e c in c o p e s s o a s na S e ­ d ú vid a , A b s a lã o fic o u su rp re so e m v e - >
g u n d a G u e rra M u n d ia l. C o n s id e r a n d o - s e c o n s e lh e iro d e seu pai e m Jerusalém , mas
as a rm a s n u c le a r e s m o d e r n a s , n in g u é m sua s a u d a ç ã o s a r c á s tic a n ã o p e r t u r ^ --«
sa iria v it o r io s o d e u m a T e rc e ira G u e r r a Husai, q u e se dirigiu a A b s a lã o d e m x
M u n d ia l. re sp e ito so . E p rec is o ler as palavras d e
O s e x é rc ito s d e D avi e d e A b s a lã o e sta ­ a o n o v o rei c o m m uita a te n ç ã o , a fim àt
v a m p re s te s a e n tra r e m c o m b a te num a n ão in terpretá-las e q u iv o c a d a m e n te .
gu erra civil q u e n em pai n em filh o p o d e ­ H usai o fe r e c e u a s a u d a ç ã o habitual e »
riam "v e n c e r ", mas na qual a m b o s os lados p res s a n d o re sp e ito : "V iv a o rei, viva o rei"
p o d e ria m p erd er. A v itó ria d e D avi sign i­ mas não disse "rei Absalão". Em seu c ->
fica ria a m o rte d o filho, A b s a lã o , e d o am i­ ç ã o , estava se re fe rin d o a D avi, mas o t o » « !
g o , A it o fe l. A v itó r ia d e A b s a lã o p o d e r ia rei n ã o e n te n d e u esse s en tid o das p a la 'r »
s ig n ific a r a m o r te para D a v i e d e o u tro s d e Husai. Em seu o rgu lh o , A b s a lã o p e r . s a »
m e m b ro s d e sua fam ília. H o je e m dia, diría­ q u e Husai o estava c h a m a n d o d e rei. Ü
m os q u e é um a situação sem saída; na A n ­ serve, m ais um a v e z , q u e Husai n ão c : * t «
tig u id a d e , a e x p r e s s ã o usada seria "u m a n o m e d e A b s a lã o n em d iz q u e servirá
v itó ria p írrica". n o v o rei. N o v ers íc u lo 18, Husai está fa la
A b s a lã o estava c o n fia n d o e m seu char­ d o d e D avi, p ois o S en h o r jam ais havia < »
m e, e m sua p o p u la rid a d e, e m seu e x é rc ito c o lh id o A b s a lã o para ser rei. A lé m d i'--a
e na s a b e d o ria d e A ito fe l, p o r é m D avi c o n ­ Husai n ão p ro m e te u servir A b s a lã o , mas - •
fiava n o S en h or. ' O u v e , ó D eu s, a m inha servir "d ia n te d e seu filh o [d o filh o d e Da\V
súplica; a te n d e à m inha o ra ç ã o . D e s d e os Em ou tras p alavras, H usai estaria na
c o n fin s da terra c la m o p o r ti, no a b a tim e n ­ s en ç a d e A b s a lã o , mas estaria servinoc jc
to d o m eu c o r a ç ã o . Leva-m e para a ro ch a Senhor e a Davi. A s o b e rb a d e A b s a lã o »■
q u e é alta d em a is para m im " (SI fc>1 :1, 2). v o u -o a crer q u e as palavras d e Husai
O q u e a c o n te c e u c o m D avi d u ra n te e s ­ cavam -se a e le e a c e ito u Husai c o m o
ses te m p o s d e p ro v a ç ã o ? um d e seus c o n s elh e iro s. Essa d e c is ã o .
2 SA M U EL 16:15 - 18:33 351

é S enhor e p rep arou o c a m in h o para a der- tiv e s s e c o l o c a d o e m p rá tic a o p la n o d e


■íta d e A b sa lã o . A ito fe l, D avi teria sido m o rto, e os p ro b le ­
Aòsa/ão seguiu o conselho de Aitofel mas d e A b s a lã o estariam reso lvid o s. P orém ,
■w. 20-23). A b s a lã o tinha duas tarefas im- D avi havia o ra d o p e d in d o q u e D eus trans­
Dortantes a cu m prir antes d e p o d e r g o v e r­ form asse os c o n s elh o s d e A ito fe l e m loucura
nar s o b re o rein o d e Israel. Em p rim eiro lugar, (1 5 :3 1 ), e D eu s usou Husai para fa z e r e x a ­
□everia to m a r o tron o d o pai e d ivu lgar um a ta m e n te isso. O b s e r v e q u e A ito fe l c o lo c o u -
d eclara çã o p ú b lica d e q u e era, o fic ia lm e n ­ se e m p rim e iro p la n o u sa n d o e x p re s s õ e s
te, o n o v o rei. A o con trá rio d e D avi, seu pai, c o m o : "D e ix a -m e e s c o lh e r -[...] e m e d isp o ­
□ue b uscava o S en h or p or m e io d o Urim e rei [...] e p ers e g u ire i" e assim p o r diante. Seu
rio Tum im ou d e um p ro feta , A b s a lã o p ro­ d e s e jo era ser gen eral d o e xército , pois q u e ­
curou a e x p e riên c ia e a s a b ed o ria humanas ria su p ervision ar p es so a lm en te o assassina­
- e d o p o n to d e vista h u m an o, A ito fe l era to d e seu inim igo, o rei Davi. Seu p lan o era
um d o s m e lh o res con selh eiro s. P orém , este e fic ie n t e : usar um p e q u e n o e x é r c ito q u e
:am b ém não b uscava n em d es eja va fa z e r a p u d esse d esloca r-se rapid am en te, atacar d e
vo n ta d e d e D eus. Seu m a ior o b je tiv o era vin- surpresa durante a n o ite e ter c o m o o b je ti­
tar-se d e D avi p e lo p e c a d o q u e este havia v o central a m o rte d e Davi. N a seqü ên cia,
ci /metido con tra a neta, Bate-Seba, e o ma- A ito fe l traria d e v o lta os s eg u id o re s d e Davi,
•-•do dela, Urias, o heteu. e estes d ev eria m jurar le a ld a d e a o novo rei.
Era c o s tu m e um n o v o rei herdar as e s p o ­ Seria um a v itó ria rápida, sem m u ito d erra­
sas e o harém d o m o n arca anterior, d e m o d o m a m en to d e sangue.
aue, a o segu ir o c o n s e lh o d e A ito fe l, A b s a lã o Husai n ão estava na sala q u a n d o A ito fe l
estava d ec la ra n d o qu e, a partir d e en tão, e le d e s c r e v e u seu p lan o, d e m o d o q u e A b s a lã o
era o rei d e Israel (v e r 3:7; 12:8 e 1 Rs 2:2 2). c h a m o u -o e lhe c o n to u o q u e seu c o n s e ­
■Notom ar as con cu b in a s d o pai, A b s a lã o tor- lh e ir o p r e d ile to h a v ia d ito . D ir ig id o p e lo
■ou-se in te ira m e n te a b o m in á v e l a o pai e Senhor, Husai usou d e um a a b o rd a g e m in­
aestruiu qu alq u er p o n te q u e p o d e ria levar a te ira m e n te distinta e se c o n c e n tro u n o e g o
_ma re co n c ilia ç ã o . O n o v o rei estava d iz e n ­ d o jo v e m rei. A re sp o sta d e Husai n ã o é
do a seus s e g u id o re s q u e n ã o h avia mais um a série d e d e c la ra ç õ e s e m p rim eira p es ­
■.olta e q u e a re v o lu ç ã o iria prosseguir. Po- soa , g ir a n d o e m to r n o d e le m e s m o , m as
-ém, m e s m o sem p erc e b e r, estava fa z e n d o sim um a s érie d e a firm a ç õ e s s o b re o n o v o
~ a is d o q u e isso: cum pria a p ro fe c ia d e Natã, rei, o qu e, sem d ú vida , estim u lou a im a gi­
s egu n d o a qual as esp o sa s d e D avi seriam n a ç ã o e o e g o tis m o d e A b s a lã o . Husai usou
. olen tad as e m p ú b lico (1 2 :1 1 ,1 2 ). D o ter­ suas palavras para m o n ta r a arm ad ilh a na
raço d e sua casa, D avi havia c o b iç a d o Ba- qual A b s a lã o caiu.
ie -S e b a (1 1 :2 -4 ) e, n esse m e s m o lo ca l, as Em p rim e iro lugar, H usai e x p lic o u p o r
esposas d e D avi seriam violen ta da s. q u e o c o n s e lh o d e A ito fe l n ão era sáb io "d e s ­
ta v e z " , ain d a q u e tiv e s s e s id o e m outras
2. Sua o r a ç ã o f o i r e s p o n d id a o c a s iõ e s (vv. 7-10). Q u a n to à id éia d e c o n ­
(2 Sm 1 7 :1 -2 8) centrar-se e x c lu siva m en te n o assassinato d e
D e p o is d e alcan çar seu p rim eiro o b je tiv o e D avi, A b s a lã o sabia q u e o pai era um gran­
de assum ir a p o s iç ã o d e a u to rid a d e real, d e tá tic o e um g u erreiro v a le n te, c e r c a d o
ab salão precisava certificar-se d e q u e D avi e d e s o ld a d o s e x p e rie n te s q u e n ã o te m ia m
seus s egu id o res n ão voltariam para recu perar c o is a algu m a . Estavam to d o s e n fu re c id o s ,
o reino. A s o lu çã o era sim ples, p o r é m drásti­ p ois haviam sido exp u lsos d e seus lares. Eram
ca: era n ecessário encon trar o pai e matá-lo. c o m o um a ursa ro u b a d a d e seus filh otes.
Para reso lver essa qu estã o , A b s a lã o bu scou (H usai fa z uso magistral das m etá fora s!) A lé m
a o rie n ta ç ã o d e seus d ois con selh eiro s. disso, D avi era astuto d em a is para ficar c o m
O conselho de H usai prevaleceu (vv. 1- seus s o ld a d o s e b u sca ria um e s c o n d e r ijo
14).2 D o p o n to d e vista h um ano, se A b s a lã o segu ro, o n d e n ão p u d esse ser p reso. Seus
352 2 SA M U EL 16:15 - 18:33

h o m en s estariam m o n ta n d o gu arda e m ata­ O d iscu rso p rático d e A ito fe l fo i esque­


riam q u a lq u e r um q u e se a p ro x im a sse. O c id o , à m e d id a q u e o p la n o g ra n d io s o de
e x é rc ito d e D avi era e x p e rie n te d em a is para Husai, e n tre m e a d o d e im a gen s vívidas, foi
ser p e g o d e s p re p a ra d o num a taq u e surpre­ c a tiv a n d o o c o r a ç ã o e a m e n te d e A b s a lã o
sa. U m a investida d es se tipo, c o m um e x é r­ e d e seus líderes. D eu s havia re sp o n d id o a
cito p e q u e n o , n ão funcionaria. Se o e x é rc ito o r a ç ã o d e D avi e c o n fu n d id o o co n s elh o
invasor fo s s e re ch a ça d o , a n otícia se e sp a ­ d e A ito fe l. A b s a lã o cavalga ria adian te d e sei.
lharia, e o p o v o ficaria s a b e n d o q u e as força s e x é rc ito d e te rm in a d o a v en cer. P orém , o que
d e A b s a lã o haviam s id o d errotad as; assim, estaria a sua esp era seria um a d errota humi­
t o d o s os seus h o m e n s fu g iria m . A b s a lã o lhante. " O S enhor frustra os d es íg n io s das
c o m e ç a ria o rein ad o c o m um fia s co militar. n a ç õ e s e anula o s in ten to s d o s p o v o s . O
Então, Husai ap resen tou um p lan o q u e c o n s e lh o d o Senhor dura para sem p re ; os
superava todas essas dificu ld ad es. Em p rim ei­ d es ígn io s d o seu c o ra ç ã o , p o r todas as ge­
ro lugar, o n o v o rei d ev eria c o m a n d a r p es­ (SI 3 3:10 , 11).
ra ç õ e s "
s o a lm e n te o e x é r c ito , o q u e c o n s e g u is s e A rede de espionagem de Davi funcio­
reunir "d e s d e D ã até B erseb a". Essa suges­ nou (vv. 15-22). D avi e seu gru p o estavam
tã o agrad ou a o e g o v a id o s o d e A b s a lã o e, a c a m p a d o s nos vaus d o J ord ão, a p o u c a
e m sua im a gin ação , p o d ia ver-se c o m a n d a n ­ mais d e trinta q u ilô m etro s d e Jerusalém, e
d o o e x é rc ito num a gran de vitória. C la ro q u e o s d ois c o r re d o re s estavam d e p ro n tid ã o err
n ão era um militar ex p e rien te, mas q u e d ife ­ En-Rogel, no vale d o C e d ro m , a m e n o s de
ren ça fazia? Q u e e x c e le n te m aneira d e co- d ois q u ilô m etro s d e Jerusalém. Husai trans­
m e ca r seu rein ad o! A b s a lã o n ão « e d e te v e mitiu a m e n sa g em aos d ois sa c erd o te s e lhes
para pen sar q u e levaria te m p o para reunir ped iu q u e dissessem a D avi para atravessar
tro p a s " d e D ã a té B e rs eb a ", um a d e m o ra o Jordão o mais rá p id o possível. O rei não
q u e Davi p o d e ria usar para atravessar o rio d e v ia se dem orar, p ois se A b s a lã o mudasse
Jordão e "sum ir d o m a p a ". É e v id e n te q u e d e id éia e ad o ta sse o p lan o d e A ito fe l, poria
Husai estava in teressad o e m ganhar te m p o tu d o a perder. Z a d o q u e e A b iatar pediram d
para q u e D avi fiz e s s e e x a ta m en te isso. um a serva, c u jo n o m e não é m e n cio n a d o ,
C om um e x é r c ito tã o g ra n d e s o b seu q u e passasse a m e n sa g em ad ian te a Jônatas
c o m a n d o , A b s a lã o n ão teria d e d e p e n d e r e A im aás. O s d ois c o rrera m c e rc a d e um
d e um a ta q u e surpresa, m as p o d e ria "cair q u ilô m etro e m e io para o sul até a casa de
s o b r e " os h o m en s d e D avi, c o b rin d o um a um c o la b o ra d o r e m Baurim. Porém , um ra­
área am pla, c o m o o o rv a lh o da m anh ã q u e p a z os viu sair d e lá e re c o n h e c e u os filho:i
cai s o b re a terra. Para o n d e q u e r q u e os d o s sacerd o tes. A n s io s o p o r im pressionar t
h o m en s d e D avi fugissem , iriam se d ep ara r n o v o rei, c o n to u a A b s a lã o o q u e estava
c o m sold a d o s d e A b s a lã o e n ão teriam c o m o a c o n te c e n d o , e os gu ardas d e A b s a lã o fo ­
escapar. Em v e z d e p o u p a r os h o m en s d e ram atrás d o s d ois jo ven s.
Davi, o e x é rc ito d e A b s a lã o o s exterm in aria A qui, o relato se p a re c e c o m a histórij
para q u e n ão causassem p ro b le m a s no futu­ d o s d ois espias registrada e m Josué 2. Raabe
ro. A o p e r c e b e r q u e A b s a lã o ta lv e z se p r e o ­ e s c o n d e u os d ois espias sob feix es d e linho
c u p a s se c o m a q u e s tã o d o te m p o , H usai no terra ço d e sua casa. A m ulher e m Baurim
re sp o n d e u a suas o b je ç õ e s n o versícu lo 13. e s c o n d e u o s d o is c o r r e d o r e s num p o ç o
Se, durante a d e m o ra causada p e lo p ro c e s ­ cob riu a abertu ra c o m um p a n o e espalhou
so d e reunir seus sold ad o s, A b s a lã o ficasse s o b re e le cereais, com o se estivesse secan ­
s a b e n d o qu e D avi havia le va d o seus h o m en s d o os grãos a o sol. U m a v e z q u e não tinb i
para um a c id a d e m urada, sua ta re fa seria o b r ig a ç ã o algu m a d e c o la b o ra r c o m o ple­
ain da mais fácil. A n a ç ã o to d a o b e d e c e r ia no p erv e rs o d e A b s a lã o , a m ulher m andou
a o n o v o rei e trabalharia e m con ju n to para os guardas para a d ire ç ã o errada, e os dois
d erru b ar a c id a d e , p ed ra p o r p ed ra ! U m a jo v e n s foram salvos. C h e ga ra m a o acam p a­
d em o n s tra çã o e tan to d e p o d e r! m e n to d e Davi, transm itiram a m en sa gem
2 SA M U EL 16:15 - 18:33 353

a o rei e insistiram para q u e atravessasse lo g o o e x é rc ito d e anjos q u e D eu s havia e n v ia d o


o Jordão, o q u e D avi fe z sem d em o ra . O s para p ro te g ê -lo (G n 3 2), mas Davi n ão te v e
guardas v olta ra m para Jerusalém d e m ãos visã o algum a. N o entan to, D eu s muitas v e ­
azias, m as A b s a lã o n ã o c o n s id e ro u ess e z e s usa "a n jo s " h u m an os para ajudar seus
in sucesso um p ro b le m a sério. Q u e gra n de servo s e, d essa v ez , cham avam -se Sobi, M a-
erro! qu ir e Barzilai. A b a s te c era m o rei e seu gru p o
Aitofel cometeu suicídio (v. 23). O qu e c o m p ro v is õ e s e p ro vid en c ia ra m para q u e
.evo u A it o fe l a tirar a p ró p ria vida? Ficou fo s s e m b e m cu id ad os. D eu s p rep arou um a
-ra g o a d o p o r A b s a lã o rejeitar seu con selh o ? m esa para D avi e n q u a n to 's e u s inim igos se
Nlão. O q u e o m o tiv o u fo i sab er q u e o c o n ­ ap ro x im avam (SI 23:5).
selho d e Husai causaria a d erro ta d e A b s a lã o O e x é rc ito d e A b s a lã o estava sob o c o ­
e qu e, c o m o c o n s elh e iro , e le estava a servi­ m a n d o d e A m asa, s o b rin h o d e D avi e pri­
ço d o rei errad o. U m a v e z q u e havia traído m o d e J oab e (v. 25). E vid en tem en te, A b s a lã o
d rei Davi, A ito fe l seria e x e c u ta d o ou bani- era o c o m a n d a n te s u p re m o (1 7 :1 1 ). Q u e
.110 para s em p re d o rein o. Em v e z d e humi- coisa triste v er um filh o lu tan d o con tra o pai,
lia r a si m e sm o e sua fam ília c o m essa pena, tio contra sobrinho, prim o con tra prim o e ci­
_ jlo c o u seus n e g ó c io s e m o rd e m e d e p o is d a d ã o con tra c id a d ã o ! U m a gu erra já é ter­
se e n fo rc o u . Seu suicídio nos lem b ra d o qu e rível e m si m esm a, m as um a gu erra civil é
^das fe z (M t 27:5) e m ostra o q u e D avi ha- ainda pior. A b s a lã o e seu e x é rc ito atravessa­
m i escrito e m d ois d e seus salm os d o deser- ram o J ordão c o m a in ten çã o d e en con trar
c SI 41:9; 55:12-15; ver Jo 13:18). Em A tos o e x é rc ito d e Davi em algum lugar p erto d o
15-22, P e d ro citou ou tros dois salm os qu e b o s q u e d e Efraim, c e rc a d e c in c o q u ilô m e ­
m referiam a Judas (SI 69:25 e 109:8). tros a n o ro e s te d e M aan a im . É p ro vá ve l qu e
A itofel havia sido um s e rv o fiel d o rei e o b o s q u e d e Efraim te n h a r e c e b id o e s s e
òe seu re in o até q u e d ecidiu , e m seu cora- n o m e d e efraim itas q u e atravessaram o rio e
tão, vingar-se d e D avi p o r aq u ilo q u e o rei se assentaram na m a rgem o cid e n ta l na re­
havia fe ito a Bate-Seba e a Urias. Essa s ed e g iã o d e G ile a d e.
d e v in g a n ç a o to rn o u tã o o b c e c a d o q u e
-íto fe l d eix o u d e ser um s e rv o d o S en h or e 3. Seu f il h o f o i m o r t o (1 8 :1 - 1 8 )
"> m e ç o u a servir aos p ró p rio s d e s e jo s p e ­ S a b en d o q u e o in im igo estava para chegar,
c a m in o s o s . C o n h e c i a as a m b i ç õ e s de D avi c o n to u seus sold ad os, dividiu-os e m três
■ salão, mas ocultou-as d e D avi e c o la b o - com p a n h ia s e c o lo c o u Joabe, Abisai e Itai
fou c o m o p rín cip e h erd eiro em seu g o lp e no c o m a n d o . Q u a lq u e r q u e fo s s e a a b o rd a ­
ne Estado. P orém , ap esar d e to d a sua sab e­ g e m d e A b s a lã o e d e A m asa, os h o m en s d e
doria, A ito fe l estava a p o ia n d o o rei errad o, D avi p o d e ria m m a n o b rar e ajudar uns aos
e o S en h o r te v e d e ju lgá-lo. T an to A ito fe l outros. D avi o fe re c e u -s e para a c o m p a n h a r
nuanto A b s a lã o a c a b a ra m d e p e n d u r a d o s o e x é rc ito , mas o p o v o lhe disse para ficar
□e um a árvore. C o m o é triste q u a n d o uma num lu gar s e g u ro na c id a d e m u rad a (v e r
nessoa leva um a v id a e x e m p la r e produ tiva 2 Sm 21:15-17, um e p is ó d io o c o rr id o b em
r . c/epois, fracassa v e rg o n h o s a m e n te n o fi­ antes d a re b e liã o d e A b s a lã o ). "Tu vales p o r
nal. Existem insensatos d e todas as idades, e d e z mil d e n ós", argu m en tou o p o v o . Sabia
^ o íe l fo i um d eles. T o d o s nós p recisam o s q u e os s o ld a d o s d e A b s a lã o iriam atrás d o
« r a - para o S en h o r nos aju dar a term in ar rei e q u e n ão se p reo cu p aria m c o m os sol­
fc:TI. d ad os. Se D avi fica sse na c id a d e , p o d e ria
Davi recebeu o cuidado de amigos (vv. e n v ia r r e fo r ç o s c a s o fo s s e m n e c e s s á rio s .
24-29). Davi e seu gru p o v a d ea ra m o rio e D avi a c e ito u a d e c is ã o d ele s; d e qu alq u er
•cnegaram a M aan aim , an tiga capital das d e z m o d o , n ã o q u eria lutar con tra o filho.
- □ o s durante o b re v e rein ad o d e Isbosete, M a s ta m b ém n ão qu eria q u e seu e x é rc i­
f lh o d e Saul (2 :8 ). Foi e m M aan a im ("d o is to lutasse con tra seu filh o! A b s a lã o havia fi­
acam pam en tos, d ois e x é rc ito s ") q u e ja c ó viu c a d o à p o rta d e Jerusalém e a ta c a d o o pai
354 2 SA M U EL 16:15 - 18:33

(1 5:1-6 ), e n a q u e le m o m e n to D avi estava à o rei", m as J o a b e c o m p r o u essa id éia ! O


p o rta da c id a d e instruindo seus h o m en s a v e r s íc u lo 11 s u g e re q u e J o a b e h a v ia e s ­
tratar A b s a lã o "c o m bran d u ra". P or c erto , p alh ad o d isc re ta m en te a n otícia d e q u e re­
n ão era esse o trata m en to q u e A b s a lã o ha­ co m p e n sa ria o s o ld a d o q u e m atasse o filho
via rese rv a d o para o pai! H a v ia assassinado re b e ld e. O s o ld a d o q u e p o d e ria ter re ce b i­
A m n o m , e x p u ls a d o D avi d e Jerusalém , to ­ d o a re c o m p e n s a recusou-se a m atar Absalãc
m a d o o tron o, v io le n ta d o as con cu b in a s d e p or d ois m o tivo s: n ão qu eria d e s o b e d e c e ”
D avi e, agora, estava d e te rm in a d o a m atar o a o rei e n ã o estava c e rto d e q u e J o ab e o
rei. N ã o é o tip o d e h o m e m q u e a lg u é m d e fe n d e r ia se o rei d esco b risse. Afinal, Dav'
gostaria d e p ro teger, mas se D avi tinha um havia m a ta d o o h o m e m q u e a le g o u ter d a d c
d efeito , esse era m im ar os filhos (1 Rs 1:5, 6; c a b o d e Saul (1 :1 -1 6 ) b e m c o m o os dois
v er 1 Sm 3:1 3). P orém , antes d e criticar Davi, h o m en s q u e disseram ter m a ta d o Isb osete
d e v e m o s nos lem brar d e q u e e le fo i um h o ­ filho d e Saul (4:1 ss). O s s o ld a d o s sabiam que
m e m s eg u n d o o c o r a ç ã o d e D eus. S eja m os J oabe n ão qu eria ser p e g o m a n d a n d o m atar
gratos p o r q u e n o sso Pai no céu n ão nos tra­ o filho d o rei, q u a n d o D avi havia o rd e n a d o
ta d e a c o rd o c o m nossos p e c a d o s (SI 103:1- ju sta m en te o con trário. A m o rte d e A b salão
14). Em sua graça, e le n os d á a q u ilo q u e m arcou o fim d a gu erra e d a re b e liã o , d e
n ã o m e r e c e m o s e, e m sua m is e r ic ó rd ia , m o d o q u e J oab e retirou seus sold ad os.
d e ix a d e nos dar a q u ilo q u e m e re c e rm o s . Tanto A b s a lã o qu an to A ito fe l m orrera r"
Jesus n ão m e r e c ia m orrer, p ois n ã o tinha d e p e n d u ra d o s e m árvores e, para um israe­
p e c a d o algum e, no entan to, to m o u sob re lita, p en d u ra r um c o r p o n um a á r v o re pro­
si o c a stigo q u e nos era d e v id o . Q u e gra n de vava q u e o m o rto era a m a ld iç o a d o p or Deus
Salvad or! (D t 21:22, 23; GI 3:1 3). A o c o n s id e r os cri­
A batalha espalh ou -se p o r to d a a região, m es q u e esses d ois h o m en s c o m e te ra m , não
e m uitos s o ld a d o s m orreram p o r causa d o é d e se adm irar q u e ten h am sido a m ald iço a­
b o s q u e fe c h a d o . N ã o s a b e m o s quantas bai­ d os. N o entan to, Deus, em sua graça, per­
xas h o u v e d e c a d a lado, mas é b em p ro vá ­ d o o u D avi d o m e s m o c rim e e perm itiu que
vel q u e a m aioria d o s d e z mil h o m en s q u e v iv e s s e . P o r alg u m te m p o , A b s a lã o fo i o
m orreram fo s s e d o e x é rc ito d e A b salão . Tan­ h o m e m mais b en qu isto d o reino, mas term i­
to a esp a d a qu an to o b o s q u e d evorara m suas n o u s e p u lta d o n u m a c o v a , c o m o corp
vítim as. (Trata-se d e um a m e tá fo ra usada c o b e r to d e pedras. A o q u e p arece, seus trêa
a n terio rm en te e m 1 :22 e 2 :2 6 .) P orém , D eus filhos haviam m o rrid o (1 4 :2 7 ), n ão restanri-»
n ão precisava d e um a e sp a d a para d eter o n in gu ém e m sua fam ília para dar continui­
re b e ld e A b s a lã o ; s im p le s m en te usou o g a ­ d a d e a seu n o m e , fa to q u e h avia le v a im
lho d e um a á rvo re ! O tex to n ão registra a A b s a lã o a ergu e r um a colu n a para mante-
re la ç ã o d esse a c id e n te c o m a c a b ele ira p e ­ v iv o seu n o m e (v. 1 8). A té m e sm o essa colu­
sada d e A b sa lã o , mas é um a ironia a lg o qu e na n ão existe mais, e o q u e h o je é c h a m a d o
lhe d a v a ta n to o rg u lh o (1 4 :2 5 , 2 6 ) acab ar d e "T ú m u lo d e A b s a lã o ", no v a le d o C edrc -
c o n trib u in d o para sua m o rte. P or c e rto , a na re a lid a d e é d o te m p o d e H e ro d e s . \
s o b e rb a c o n d u z a o ju lgam en to. O u tro e x e m ­ m e m ó ria d o justo é a b e n ç o a d a , mas o n om e
p lo disso é Sansão (Jz 16). "E le ap an h a os d o s p erv e rso s cai e m p o d r id ã o " (P v 1 0 :7 1.
sábios na sua p ró p ria astúcia; e o c o n s e lh o
d o s q u e tram am se p rec ip ita " (Jó 5:13). 4. E le se entristeceu p rofu n d am en te
O s s o ld a d o s q u e en con tra ram A b s a lã o (2 S m 18:19-33)
d e p e n d u ra d o da á rvo re n ão ousaram tocá- A guerra e a reb eliã o haviam c h e g a d o a o fim.
lo, mas Joab e sabia m uito b em o q u e qu eria J oab e só p recisava avisar o rei e levá-lo de
fazer. O general qu e havia p ro m o v id o a re­ v o lta e m segu ran ça a Jerusalém. P orém , ích
con cilia çã o entre D avi e A b salão ign orou as um a vitória d o c e e, a o m e s m o te m p o , amar­
ord en s d e D avi e m atou o rapaz.3 A b s a lã o ga para D avi. Q u a n d o o in im igo é seu filh a
rejeitou o p lan o d e A ito fel d e "m atar s o m en te é im p ossível haver triunfo ou c e le b r a ç ã o
2 SA M U EL 16:15 - 18:33 355

Aim aás era um c o rre d o r c o n h e c id o (v. 2 7 ) q u e o caráter d o m e n sa g eiro n ão tem rela­


e se o fe r e c e u para levar a n otícia a o rei em ç ã o a lg u m a c o m a m e n s a g e m , m as D avi
M aan a im , c e r c a d e c in c o q u ilô m e tro s d e estava te n ta n d o se a p e g a r até a o últim o fio
cn d e se en co n tra va m . P or m a ior q u e fosse d e esp eran ça.
seu entusiasm o, o rapaz n ão se deu con ta A im a á s e sta v a tã o a n s io s o para d ar a
ao q u e e stava p e d in d o , p ois D avi era c o ­ n otícia qu e, antes d e c h e g a r à porta, gritou,
n h ec id o p o r d e s c o n ta r sua raiva e tristeza " P a z !" .5 Então ap ro x im o u -se d o rei, curvou-
"■os m en sa geiros (1 :4-16; 4 :8 -12 )! A p e s a r d e se dian te d e le e lhe disse q u e Joabe havia
a palavra "n o tíc ia " usada p o r A im aás p o d e r v e n c id o a batalha. Q u a n d o D avi lhe p ergu n ­
se referir a q u a lq u e r tip o d e notícia, n orm al­ tou s o b re A b salão , o jo v e m m e n sa geiro não
m e n te e ra e m p r e g a d a n o c a s o d e "b o a s estava p rep a ra d o para lhe dar as más notí­
■ovas", e n a q u e le dia n ão havia b o a n ova cias, d e m o d o q u e ap resen tou um a d escu l­
í iguma para transmitir. J oab e c o n h e c ia o rei pa qu e, sem d ú vid a algum a, n ão passava d e
"íu ito b em e sabia q u e o relato da m o rte d e um a mentira. Em sua tentativa m e d ío c re d e
ab salão d ev eria ser tran sm itido c o m gran de entrar para a história c o m o o h o m e m qu e
"a b ilid a d e e c o m p a ix ã o . A fim d e garantir a havia tra zid o n otícias d o b o s q u e d e Efraim
segu ran ça d e A im aás, J oab e e sc o lh e u uma para M aan aim , A im aás a c a b o u n ão te n d o o
o es s o a c h a m ad a ap en a s d e " o e tío p e ", p o s ­ q u e d iz e r s o b re a q u ilo q u e D avi d e s e ja v a
sive lm e n te um d e seus servos. Era m e lh o r saber. Sua m e n sa g em estava correta, p o rém
nue um s e rv o e stra n g e iro fo s s e m o rto d o in co m p leta. A c a b o u fic a n d o d e lad o c o m o
■nue o filh o d e um s a c e rd o te israelita. Porém , ex p e c ta d o r, e n q u a n to o e tío p e transm ita a o
u epois q u e o e t ío p e partiu, A im aás c o n ti­ rei a m e n sa gem c o m p le ta da form a correta.
nuou a perturbar Joabe, insistindo q u e lhe A o lo n g o d e m eu m inistério pastoral, fui,
'es se perm issão para correr. N ã o havia nada em certas o c a s iõ e s , p o rta d o r d e más n otí­
de b om n em d e ruim na notícia, e n tã o p or cias. L e m b ro -m e d e orar, d e m ed ita r e d e
a u e correr? C a n sad o das súplicas d o rapaz, m e c o lo c a r n o lugar das p essoa s q u e esta­
o a b e lhe d eu p erm issão para ir. vam e s p e ra n d o notícias, te n ta n d o o te m p o
A im aás lem b ra aq u elas p es so a s in c o n ­ t o d o e n c o n tra r p alavras q u e cau sassem o
ven ien tes q u e q u erem ser im portantes, mas m ín im o d e dor. N ã o era fácil. A lg u é m d e fi­
nue n ão tê m m u ito a dizer. T o m o u o cami- niu " t a t o " c o x io "a c a p a c id a d e d e d ize r o
rh o mais lo n g o e fácil até M aan aim , passan- q u e é p r e c is o sem fa z e r um in im ig o ". O
a o p e lo va le , e n q u a n to o e t ío p e fo i p e lo e tío p e te v e tato.
cam in h o mais cu rto e d ireto q u e atravessa- D e a c o rd o c o m o texto, o rei fico u "p r o ­
.a um te rre n o a c id en ta d o . A im aás era um fu n d a m e n te c o m o v i d o " a o c o m p r e e n d e r
'o v e m sem u m a v e r d a d e ir a m e n s a g e m e q u e A b s a lã o havia sido m o rto. Sem dúvida,
sem a c a p a c id a d e d e transmiti-la da m a n ei­ havia o r a d o p ara q u e n ã o a c o n te c e s s e o
ra correta. Enquanto o e tío p e corria, m edi- pior, mas ainda assim o p ior havia a c o n te ­
iou so b re c o m o iria d iz e r a o rei D avi q u e c id o . Em c e rto sen tid o, Davi p ron u n ciou a
seu filh o estava m o rto . D e q u e adian taria p rópria sen te n ça q u a n d o disse a N atã: "res ­
:orrer b em q u a n d o não se sab e c o m o trans­ tituirá q u a tro v e z e s " (1 2 :6 ), pois, n o final,
mitir a m en sa gem ? fo i assim q u e D avi p a g o u sua gra n de dívida.
A c e n a m u da para M aan aim , o n d e D avi O b e b ê havia m o rrid o, Tam ar havia sido es­
se e n c o n tra a s s en ta d o e n tre as p o rta s ex- tu prada, A m n o m h avia sido assassin ado e
lern a e interna d a c id a d e, e s p e ra n d o a sen- A b s a lã o estava m o rto. Davi sentiu, mais um a
;inela lhe d ize r q u e um m e n sa g eiro estava a v e z , a d o r d o p e c a d o p e rd o a d o .
cam inho, v in d o d o c a m p o d e batalha.4 A p e ­ A s lágrim as d e Davi revelam o c o r a ç ã o
sar d e não estar p rep a ra d o para falar c o m o aflito d e um pai a m o ro s o . A o falar s o b re a
■ei, A im aás esfo rço u -se a o m á xim o e passou tristez a d e D avi, C h a rles S p u rg e o n d isse:
■o e tío p e . D avi c o m e n to u : "Este h o m e m é "S eria sáb io nos c o m p a d e c e r m o s o m á xim o
ne b em e trará b oa s-n ovas" (v. 27). É e v id e n te possível em v e z d e ju lg arm o s um a situação
356 2 SA M U EL 16:13 - 18:33

p e la qual n u n ca p a s s a m o s ".6 D avi c h o ro u e as lágrim as fa z e m parte d a cura. O p roble­


q u a n d o s o u b e d a m o rte d e Saul e d e Jô- m a fo i q u e D avi custou a superar essa tris­
natas (1 :1 1 ,1 2 ), d o a ssassin ato d e A b n e r te z a e n ão se perm itiu ser c o n s o la d o . Sua
(3 :3 2 ) e d o assassinato d e A m n o m (1 3 :3 3 - r e a ç ã o fo i anorm al. D e ix o u d e cuidar d e S'
36); en tã o , p o r q u e n ão d e v e ria c h o ra r p ela m e s m o e das resp o n sa b ilid ad es d o reino e
m o rte d e seu filh o a m a d o , A b s a lã o ? V e m o s, t e v e d e s er d u r a m e n t e r e p r e e n d id o p o _
p o r é m , o c o r a ç ã o d e D e u s r e v e la d o no J oabe antes d e to m a r as d evid a s p rovid ên ­
c o r a ç ã o d e D avi, p o is C risto m o rre u p o r cias para voltar a Jerusalém e salvar o rein e
nós q u a n d o é ra m o s p e c a d o r e s e v iv ía m o s Seus p ro b le m a s ainda n ão haviam term ina­
c o m o in im igo s d e D eu s (R m 5:7 -10 ). D avi d o, mas o S en h or lhe daria o p o d e r d e que
teria m o rrid o p o r A b s a lã o , mas Jesus mor­ precisava para ser o g o v ern a n te q u e Deus
reu por nós! d es eja va .
O p ro b le m a d e D avi n ão foi o fa to d e se O S en h or p o d e curar um c o r a ç ã o parr-
en tristecer c o m a p erd a d o filho, p ois a tris­ d o se lhe e n tre ga rm o s to d o s os p e d a ç o s e
te z a é um a re a ç ã o norm al d o ser hum ano, lhe o b e d e c e r m o s p ela fé.

1. Em 279 a .C , o exército de Pirro, rei de Épiro, derrotou os romanos em Ásculo, pagando por isso um preço tão alto que c
disse: "Mais uma vitória como essas e estamos perdidos".
2. Para um estudo detalhado dos discursos de Aitofel e de Husai e do motivo pelo qual Deus usou o conselho de Husai, ve* a»
capítulos 1 a 4 de minha obra Preaching and Teaching with Imagination [Pregando e Ensinado com Imaginação] (Baker B o a s .
3. O termo traduzido por "dardos" em 18:14 pode significar vara, bordão ou mesmo cetro. É provável que fossem azagaias com
uma das pontas afiada. Foi com eles que Joabe traspassou Absalão, e os dez homens ao redor terminaram o serviço.
4. Essa cena nos lembra do sacerdote Eli à porta, esperando notícias sobre a arca da aliança (1 Sm 4:12ss).
5. Trata-se do conhecido termo hebraico shalom, que entre outras coisas significa "paz, prosperidade e bem-estar" (w. 29, 32i.

6. S p u rceon, Charles. The Metropolitan Tabernade Pulpit, vol. 24, p. 505.


dia estava tã o o b c e c a d o c o m a m o rte d e
9 A b s a lã o q u e não era c a p a z d e p en sar em
q u a lq u e r o u tra c ois a . A o isolar-se d e seus
h om en s, o rei tran sform ou um a vitória mili­
O R e t o r n o de D avi tar num a d erro ta e m o c io n a l. D avi n ão era

e d o s P r o b lem a s ap en a s um gra n d e gu erreiro, mas ta m b ém


p o e t a e m ú s ic o p r o fu n d a m e n te e m o tiv o ,
um h o m e m q u e p o d e ria ir d o mais p ro fu n d o
2 S a m u el 19 :1 -4 0
d e s e s p e r o à mais e le v a d a 'g ló r ia e n q u a n to
e s c re via um ú n ico salm o. D avi havia passa­
d o p o r um p e r ío d o difícil d e p o is da m o rte
d e A m n o m (1 3:37 -3 9), e a m o rte d e A b salão,
tem a q u e se re p e te neste cap ítu lo é seu filho pred ileto, o havia d e ix a d o in con solá­

O "tra z e r d e v o lta o rei" (vv. 10, 11, 12,

na c id a d e d e M aan aim , mas seu lugar era


em Jerusalém. T od a s as tribos, in clu sive Judá,
vel. A atitu de d o rei causou p e rp le x id a d e nos
1 5 .4 1 ). D avi estava d o o u tro la d o d o Jordão,segu id o re s , q u e c on sid era va m A b s a lã o um
m en tiroso, assassino, traidor e re b e ld e.
S e m d ú v id a , é d e s e e sp era r q u e um
i própria tribo d e D avi, haviam p articip ad o pai se e n tris te ç a c o m a m o rte trá g ic a d e
em m a io r ou m e n o r grau d a r e b e liã o d e um filh o, d e ix a n d o d e la d o os d e fe it o s e
riosalão, e era c h e g a d a a hora d e levarem p e c a d o s d e le . P o r é m , o s líd e r e s d e v e m
seu rei d e v olta a Jerusalém. A n o s d e intriga con tin u ar lid era n d o , m e s m o q u a n d o e stã o
e de c on flito s en tre as tribos haviam trans- aflitos, p ois ess e é um d o s p re ç o s q u e d e ­
íormado Israel num a n a ç ã o p ro fu n d a m en te v e m p a ga r p o r sua p o s iç ã o . N o dia 10 d e
dividida, e havia um a n ec e ss id a d e p re m e n ­ o u tu b ro d e 1950, Sir W in s to n Churchill fo i
te d e um a d e m o n s tra ç ã o firm e d e união e a p re s e n ta d o na U n iv e rs id a d e d e C o p e n h a ­
de le a ld a d e . Este c a p ítu lo d e s c r e v e c in c o g u e c o m o " o a rq u ite to d a v itó r ia " na S e­
□assos q u e D avi to m o u a fim d e p ro m o v e r a g u n d a G u e rra M u n d ia l, a o q u e Ch urch ill
cura d e Israel. re s p o n d e u : "Fui a p e n a s um s e rv o d e m eu
país e, se e m algu m m o m e n to tivesse d e i­
1. D a v i lim ito u sua perspectiva x a d o d e e x p re s s a r sua d e te r m in a ç ã o ina­
12 S m 19:1-8) b a lá v e l d e v en c er, d ev eria , ju s tific a d a m e n te ,
□ pastor e s c o c ê s A n d re w Bonar (1 8 1 0 -1 8 9 2 ) ser c o lo c a d o d e la d o ". D avi, o pai, se es­
costum ava d ize r: "P e r m a n e ç a m o s tã o vigi- q u e c e u d e q u e ta m b é m era D avi, o rei, q u e
antes d e p o is d a vitória qu a n to antes d a ba­ ain d a p ossu ía a c o r o a , p ois s o ld a d o s v a le n ­
talha". É possível v e n c e r um a batalha, mas tes haviam c o lo c a d o o b e m d e Israel à fren te
o erder a vitória, e fo i isso o q u e a c o n te c e u d e seus in teresses p essoais.
com D avi d e p o is q u e J o ab e d erroto u Absa- O discurso b reve, p o ré m p en etrante, d e
i o e seu e x é rc ito . O q u e d e v e ria ter sido Joabe puxou o rei d e volta à realidade, e Davi
_m dia d e c o m e m o r a ç ã o para o e x é rc ito d e assumiu seu p o s to na p orta da c id a d e - o n d e
Davi em M aan a im , torn ou -se u m a o c a s iã o seus h o m en s foram se en co n tra r c o m e le e
confusa d e p ertu rb a ç ã o e d e v erg on h a, en- re c e b e ra m d e le o r e c o n h e c im e n to p o r sua
cuanto o p o v o 1 se e sgu eirava d e v o lta para bravura a o lhe servir. E b e m p ro v á v e l q u e
i c id a d e c o m o se tivesse sido h u m ilh ado p o r D avi ain da n ão s o u b e s s e q u e J oab e havia
.-na derrota. H aviam arriscad o a vid a p elo c u id a d o d a m o rte e d o s e p u lta m e n to d e
-ei e p ela n a ç ã o e estavam s e n d o tratados A b s a lã o ; d e o u tro m o d o , sua re a ç ã o p o d e ­
como crim in o so s! ria ter sido d iferen te. D avi n ão d e m o ro u a
Era to ta lm e n te a típ ic o d e D avi mostrar- d e s c o b rir o q u e J o ab e e seus h o m en s ha­
se insensível para c o m os sacrifícios q u e seus viam feito, fa to q u e con tribu iu para q u e o
n om en s fa zia m q u a n d o estavam a seu servi­ rei n o m e a s s e A m a s a gen era l d e seu e x é rc ito
ço (2 3:13 -1 7; 1 Sm 3 0:21 -3 0), mas n a q u ele (2 Sm 19:13; e v e r 1 Rs 2:5),
358 2 SA M U EL 19:1 - 40

A única c o is a q u e faltou e m to d o o e p i­ d e s s a t r ib o h a v ia m s id o o s p r im e ir o s a
s ó d io d e A b s a lã o foi D avi buscar a o Sen h or p rocla m á-lo rei (2:1-4), d e m o d o q u e foi ló­
na h o ra d e to m a r suas d e c is õ e s . Q u a n d o g ic o e le buscar, antes d e tu do, a ajuda dos
era mais jo v e m , D avi p e d ia q u e se usasse o an ciãos d e Judá. U s a n d o seus d ois s a c erd o ­
Urim e o Tum im ou q u e um p ro fe ta o a c o n ­ te s c o m o in te r m e d iá r io s , D a v i d iss e a o s
selhasse, mas e x c e to p ela o ra ç ã o e m 2 Sa­ a n c iã o s q u e os israelitas das outras tribos
m u el 15:31, n ão e n c o n tra m o s D avi p e d in d o estavam fa la n d o e m reinstituir o rei em Je­
o rie n ta ç ã o d o Senhor. Por certo, os salm os ru salém , m as q u e ain d a n ã o o u v ira cois«'
d o d e s e r to registram suas p r e o c u p a ç õ e s e algu m a d a p ró p ria tribo. A b s a lã o havia c o ­
o ra ç õ e s , d e m o d o q u e s a b em o s q u e e le não m e ç a d o sua re b e liã o e m H e b ro m , q u e fico-
estava d e p e n d e n d o s o m e n te d e si m e s m o e va e m Judá, e é p ossível q u e os líderes de
d e seus líderes. P orém , gostaríam os q u e Davi Judá ten h am c o o p e r a d o c o m ele, d e mod<
tivesse b u s ca d o a d ire ç ã o d e D eu s a o lidar que h avia c h e g a d o a hora de m o s tra re'
c o m A b s a lã o e c o m os p ro b le m a s q u e e le le a ld a d e a D avi, seu rei p o r direito. E b e r
criou. Em se trata n do d e seus filhos, D avi p ro vá ve l q u e to d o s os líd eres tribais q u e i >
p recisava d e to d a a ajuda possível, mas tal­ v ia m c o m e t id o a in s e n s a t e z d e s e g u '-
v e z não adm itisse esse fato. N u n c a é tard e A b s a lã o estivessem im a gin a n d o o q u e Da\
d em a is para D eu s realizar sua obra. faria c o m eles, um a v e z q u e reassum isse i
tron o .
2. D a v i lu t a p o r u n iã o (2 S m 19:9-15) D avi nom eou Amasa seu general (vv. 13,
Q u a n d o D avi fin a lm en te v olto u a Jerusalém, 14). A s n o tíc ia s d a n o m e a ç ã o d e v e m t e -
sua c h e g a d a foi um sinal à n a çã o d e q u e a ca u sa d o esp a n to e, d ep o is, tra zid o granae
re b e liã o havia c h e g a d o a o fim e d e q u e seu alívio aos líd eres d e Israel, p ois s ig n ific a -
v erd a d e iro rei estava, mais um a v e z , assen­ q u e D avi p e rd o o u to d o s os o ficiais qu e h >
ta d o n o tron o. P orem , a ca m in h o d e lerusa- v ia m s e g u id o A b s a lã o . A m a s a h avia sicf >
lém , D avi to m o u algum as d e c is õ e s a c e rca gen eral d e A b s a lã o , in cu m b id o d e procu ra-
d o rein o q u e transm itiram im p ortan tes m en ­ e d e destruir Davi, mas o rei n o m e o u ess^
sagen s a o p o v o . A prim eira fo i q u e d eseja va s o b rin h o (e p rim o d e J o a b e) líd er d e se_
um re in o c o n s titu íd o p o r um p o v o unido. gra n d e exército .
O s an tigos p r e c o n c e ito s e rancores p recisa­ O q u e levo u D avi a m udar d e g e n era i
vam ser enterrad os, e a n a çá o d e v e ria unir- D e n tre outras coisas, D avi d e s c o b riu cu e
se s o b seu rei. D e n tro das tribos, o p o v o J oabe havia e x e c u ta d o A b salão, desobe_<—
havia se d ivid id o em partidários d e A b s a lã o c e n d o , assim, às o rd e n s exp ressas d o rev
e d e D avi (vv. 9, 10), e a antiga d ivisão entre A p e sa r d e m e re c e r a m orte, A b s a lã o p o J—
"as d e z trinos (Israel) e Judá" ain da persistia ria ter sido p reso e le v a d o até D avi para c
(vv. 40-43). e le tratasse d o r e b e ld e p o s te rio rm e n te , e
Davi com eçou com Judá (vv. 11, 12). J oabe n ão possuía au to rid ad e para desat
O s líderes das d o z e tribos d ev eria m ter se seu s o b e ra n o e agir c o m o ju iz e alg oz. St
un ido e e n v ia d o um c o n v ite form al para q u e J oabe fe z isso c o m o filho d o rei, o q u e rà
D avi voltasse a reinar, mas as rixas e atritos seria capaz d e fazer com o próprio rei? Isso
entre as tribos con tinu avam cau san d o in qu ie­ levanta um s eg u n d o m o tiv o para a troca ae
ta ç õ e s . D avi sabia q u e a te n d ê n c ia era o g en era is: d e s d e q u e D avi havia sido ac n
p ro b le m a se agravar, c a s o esp erasse m uito s e lfa d o a parar d e c o m b a te r pessoalrr-
te m p o para recu p e ra r a c id a d e e o tron o, nas batalhas, J o a b e vinh a ad qu irin d o
d e m o d o q u e avan çou sem hesitar. Afin al, v e z mais au to rid a d e 121:15-17).
era o rei u n gid o d e D eu s (v. 22) e n ão p rec i­ N o A n tig o O r ie n te P ró x im o , o rei ura >
sava c o n v o c a r um p leb isc ito antes d e tornar c o m a n d a n te s u p rem o d o e x é rc ito , e j
a em pu n har seu cetro. le q u e assum ia e s s e p o s to , q u a lq u e r .♦
D avi era d e Judá, a trib o real (C n 4 9 :1 0 ): fo s s e o m o tiv o , torn ava-se um h o m e '" a » '
a capital d o rein o ficava em Judá, e os an ciãos gra n d e au torid ad e, t!d o na mais alta es' t » .
2 SA M U EL 19:1 - 40 359

Foi J o ab e q u e m d isse a D avi para ir a R abá a o lo n g o d o restante d o livro v e m o s Davi


" o final d a c on q u is ta ; d e o u tro m o d o , J oab e m u ito mais ativo n o p od er.
to m a r ia a c id a d e e lh e d a ria o p r ó p r io
l o m e ! N a é p o c a da batalh a n o b o s q u e em 3. D a v i d e c la ra anistia (2 S m 19:16-23)
Etraim, J oab e p ossu ía p e lo m e n o s d e z e s ­ N ã o eram ap en a s o s h o m en s d e Judá q u e
c u d eiro s (1 8 :1 5 )! D e a c o r d o c o m seu his- estavam n o J ordão para dar as boas-vindas a
ró rico , J o a b e e lim in a v a q u a lq u e r um q u e D avi; Simei, seu in im igo benjam ita, ta m b ém
Q uestionasse sua a u to rid a d e . Ele e seu ir­ e stava lá‘ c o m mil h o m en s d e sua trib o (ver
m ão, A b isai, haviam assassin ad o A b n er, q u e 16:5-14). Zib a, o adm in istrador das terras d e
'.inha s id o g e n e ra l d o rei Saul (3 :2 7 s s ); e, M e fib o s e t e (9 :1 -10 ), ta m b ém fazia parte da
antes d o fim d e s s e relato, J o a b e ain d a m ata m u ltidão e, c o m seus q u in ze filhos e vin te
-vtiasa (20:4-1 3). servos, atravessou o rio para se e n c o n tra r
A p e sa r d e gu erreiros c o m p e te n te s, J oabe c o m o rei d o lad o o e s te e escoltá-lo para a
e seus irm ãos causaram um b o c a d o d e so­ ou tra m a rge m . A lg u é m p ro v id e n c io u um a
frim ento a D avi d e s d e o c o m e ç o d e seu rei­ b arca q u e f e z várias v ia g e n s en tre as m ar­
nado (3 :3 9 ; 16:10; 19:22 ). É e v id e n te qu e gen s d o Jordão para transportar os m em b ro s
Joabe s a b ia do a s s a s s in a t o de U r ia s da casa real, d e m o d o q u e n ão p recisassem
1 1:14ss), e ta lvez essa in fo rm a çã o fosse mais v a d ea r o rio. Q u a n d o D avi c h e g o u à m ar­
o o d e r o s a q u e sua esp ad a. Q u a n d o m atou g e m o cid en tal, Simei prostrou-se e suplicou
^bsalão, o gen era l fo i lo n g e dem ais, e D avi m isericó rd ia.
c o n s id e ro u o e p is ó d io um a o p o rtu n id a d e S em d ú vid a , S im ei m e re c ia ser m o rto
para livrar-se d e seu c o m a n d a n te e d e sua p e lo m o d o c o m o h a v ia tr a ta d o D a v i (Ex
resp ectiva s ed e d e p od er. A m a s a havia lid e­ 2 2 :2 8 ), e Ab isai estava d isp o sto a cuidar da
rado o e x é rc ito re b e ld e, d e m o d o qu e, ao e x e c u ç ã o , m as D a v i d e t e v e o s o b r in h o ,
no m eá-lo para o c a rg o d e Joabe, D avi uniu c o m o h avia fe it o a n te rio rm e n te (1 6 :9 ). A
o e x é rc ito e d ecla ro u anistia a to d o s os sol­ p rim e ira v e z q u e D a v i d e t e v e A b is a i fo i
d ad os reb eld es, d a n d o à n a ç ã o a o p o rtu n i­ p o r q u e o S e n h o r h avia d ito a S im ei q u e
d a d e d e re co m e ç a r. am a ld iço a s s e o rei, d e m o d o q u e D avi esta­
E nquan to as outras tribos d elib era v a m va d isp o sto a aceitar esses insultos das m ãos
e se d em o ra va m , os h o m en s d e Judá uniram- d o Senhor. M as, d essa v e z , o m o tiv o para
se sob o c o m a n d o d e D avi d e to d o o c o r a ç ã o p o u p a r a v id a d e Sim ei foi o fa to d e a q u e le
e lhe en viaram um c o n v ite o ficial p e d in d o ser um dia d e r e g o z ijo e n ão d e vin gan ça.
q u e v o lta sse para casa. D avi d e s c e u até o M ais d o q u e isso, p o ré m , a o p e rd o a r Simei,
Jordão, p ró x im o a C ilga l, e os h o m en s d e o rei D avi estava o fe r e c e n d o anistia a to d o s
Judá foram a seu e n c o n tro . C ilga l fo i o pri­ os q u e haviam a p o ia d o A b s a lã o durante a
m eiro lugar o n d e Israel a c a m p o u d e p o is q u e re b e liã o .
Josué con d u ziu -o s na travessia d o Jordão e D avi cum priu sua palavra e n ão o rd en o u
■icava c e rc a d e trinta qu ilô m etro s d e Jerusa­ q u e Sim ei fo s s e e x e c u ta d o p o r seu crim e,
lém , s e n d o c o n s id e ra d a um a c id a d e im por- m as q u a n d o D avi estava prestes a m orrer,
’an te para a história d e Israel. Lá, to d o s os advertiu S a lo m ã o a v igia r Sim ei (1 Rs 2:8,
ío m e n s d a n o v a g e r a ç ã o e n tra r a m em 9). S a lo m ã o o r d e n o u q u e e le fic a s s e s o b
aliança c o m Jeová e foram circu n cid ad o s (Js prisão d om icilia r e m Jerusalém , m as Sim ei
3 - 5 ) e, em G ilgal, Sam uel re n o v o u a alian­ d e s o b e d e c e u a o rei e fo i e x e c u ta d o (1 Rs
ça q u a n d o Saul subiu a o tro n o (1 Sm 11:14, 2:36-46). U m a fra q u e za d e Sim ei era resistir
151. O te x to n ão d iz isso, mas é possível q u e à au to rid a d e e d es d e n h a r d o s ministros e le i­
Davi ta m b ém ten h a re n o v a d o a aliança em tos p o r D eu s (Jd 8), e fo i p o r isso q u e Davi
G ilgal e ga ran tid o a o p o v o q u e J eová ainda advertiu S a lo m ã o s o b re o benjam ita. Sim ei
estava assen ta d o no tron o e sua Palavra con - n ão d eu va lo r à m isericórd ia d e D avi n em à
'inuava e m vigor. Talvez, para o rei, esse te ­ gra ça d e S a lo m ã o e a c a b o u p a g a n d o caro
nha sido um te m p o d e reco n s a gra çã o , pois p o r sua in d e p e n d ê n c ia e arrogância.
360 2 SA M U EL 19:1 - 40

4. D a vi c o r r ig e u m erro estava d ize n d o : " N ã o há n ecessid a d e d e fa­


(2 S m 1 9 :2 4 - 3 0 ) lar s o b re isso n o va m en te. V o c ê e Z ib a que
M e fib o s e te , o p rín cip e aleijad o , havia sido d ividam as terras entre si". M as será q u e Da\
" a d o t a d o " c o m o p arte d a fam ília d e D avi e era o tip o d e h o m em q u e voltava atrás d e ­
tinha p erm issão para c o m e r à m esa d o rei pois d e dar sua palavra? C o m o um a decisã
(9:1 ss), um a d á d iva d e D avi e m h o m e n a g e m d e s s a s s e ria r e c e b id a p e lo s m ilh a res d e
a Jônatas, pai d e M e fib o s e t e e a m ig o qu eri­ benjam itas q u e tinham id o a o Jordão re c e b e
d o d e Davi. Q u a n d o D avi torn ou-se rei d e Davi? Afinal, fa ze r um a g en tileza a M e fib o s e
to d o Israel, h erdou tu d o o q u e p erten c ia a teria fo rta le c id o os laços d e Davi tanto c o r
Saul, inclusive suas terras, s e n d o q u e parte Benjam im (a tribo d e Saul) qu an to c o m as
dessas p ro p rie d a d e s fo i e n tre g u e a M e fib o ­ d e z tribos q u e haviam segu id o a casa d e Sa*.
sete para ajudar a sustentá-lo e a sua família. n o passado. Tirar d e M e fib o s e te m eta d e de
D avi o rd e n o u q u e Z ib a, s e rv o d e Saul, cui­ sua h eran ça d ificilm en te se encaixava no cli-
d a s se das terras e a c a ta s s e as o rd e n s d e m a d e alegria e d e clem ê n cia d a q u ele dia e.
M e fib o s e te , e o s erv o p ro m eteu o b e d e c e r . no entanto, a o dividir as terras, Davi tam be
P orém , q u a n d o D avi estava fu gin d o d e Jeru­ estava p e rd o a n d o Z ib a p o r suas mentiras t
salém , Z ib a a p a rec eu sem seu sen h or e trou­ p ela traição a seu senhor. A o dividir as terr?
x e aju da para D avi e seu gru p o . N a q u e la entre Z ib a e M e fib o s e te , Davi estava r e c r
o ca siã o , Davi to m o u um a d e c is ã o im pulsiva v e n d o a q u estã o d o je ito fácil.
e d eu tod as as terras a Z ib a (16:1-4). O ser­ P orém , a resp osta d e M e fib o s e t e d e ­
v o ta m b ém a p a rec eu para ajudar D avi a atra­ ter d e ix a d o D avi atô n ito : "F iq u e ele, rm t o
vessar o rio e voltar para casa (1 9:1 7). em b o ra , c o m tu do, p ois já vo lto u o rei, m t i
Z ib a n ão estava p o r p e rto para ajudar sen h or, e m p a z à sua c a s a " (v. 3 0 ). Mas
M e fib o s e te , d e m o d o q u e d e v e ter sido difí­ graças a o ju lg a m e n to p re c ip ita d o d e D ; .
cil para o p rín cip e a le ija d o p erc o rre r os mais Z ib a já era d o n o d e to d a s as terras! Essíi
d e trinta q u ilô m e tr o s d e Jeru salém a té o situ ação nos lem bra d o "c a s o d o b e b ê m
Jordão, mas ain da assim M e fib o s e t e fo i até to " q u e S a lo m ã o te v e d e re so lver (1 Rs 3:16-
o rio.3 Sabia q u e Z ib a o havia d ifa m a d o ao 2 8 ). S a lo m ã o d e s c o b riu q u e m era a m ã t
d iz e r a Davi q u e e le esp era v a q u e a re b e ­ verd a d e ira q u a n d o sugeriu q u e o b e b ê vt
lião fo s s e b em -su ced id a e q u e a c o r o a v o l­ fo s s e c o r ta d o a o m e io e a m ulher q u e s*-
tasse para a casa d e Saul. M e fib o s e t e qu eria tava d iz e n d o a v e rd a d e protestou . A o ct
um a c h a n c e d e falar p e s s o a lm e n te c o m o trário d o c a s o d o b e b ê , as terras p o d e r ia -i
rei, n egar as mentiras d e Z ib a e afirm ar sua fa c ilm e n t e ser d iv id id a s , m as ta lv e z Da*,
le a ld a d e a D avi - e fo i e x a ta m e n te o q u e e s tiv e s s e te s ta n d o a s in c e rid a d e d e M iir-
fe z . Seu uso r e p e tid o d a d e s ig n a ç ã o "rei, b o s e te . O te x to n ão diz, mas é possível q a e
m eu sen h o r" foi sincero, p ois era fiel a o rei. M e fib o s e t e ten h a fic a d o c o m todas as Er­
E n qu an to D avi o u v ia a e x p lic a ç ã o d e ras, c o m o d eterm in a va o c on tra to o rigir a:.
M e fib o s e te , p e rc e b e u q u e se p recip itara ao D e q u a lq u e r m o d o , o p rín c ip e c o n t in L M
d ar tod as as terras a Z ib a, mas n ão te v e te m ­ te n d o suas n ec e ss id a d e s supridas, enqr r -
p o d e realizar um a a u d iên cia para reso lver to Z ib a cu ltivou as terras.
a qu estã o. M e fib o s e t e d eix o u claro q u e não
e stava p e d in d o c o is a a lg u m a a o rei. D avi 5. D a v i recom pensa o s fiéis
havia lhe d a d o a vida, q u e mais p o d e ria q u e ­ (2 S m 1 9 :3 1 - 4 0 )
rer? Parafraseando as palavras d e M e fib o s e te : Barzilai fo i um d o s três p ro p rie tá rio s d e
"T e n h o mais d o q u e m e re ç o , p or q u e d e s e ­ ra a b a s ta d o s q u e saíram a o e n c o n tr o o r
jaria o tron o? Estava d e s tin a d o à m orte, e D a v i q u a n d o e le c h e g o u a M a a n a ir 1
n ão a p e n a s m e salvou c o m o ta m b é m m e quais, juntos, supriram as n ecessid a d es -x
re c e b e u em sua fam ília". rei e d e seu gru p o (1 7:27-29). D e p o is g :' « o
N ã o é fácil e n te n d e r a resp o sta d e D a­ Barzilai v o lto u para sua casa e m R o g N »%
vi. À prim eira vista, a im p ressão é a d e q u e c e rc a d e trinta a qu aren ta q u ilô m etro s »
2 SA M U EL 19:1 - 40 361

norte. Q u a n d o fic o u s a b e n d o q u e D avi es- c o r te e seria um fa rd o para o rei, cujas p r e o ­


ava v o lta n d o para Jerusalém, d e s c e u até o c u p a ç õ e s já n ã o eram pou cas.
Jordão para d esp ed ir-se d ele. N ã o tinha p e ­ P orém , Barzilai estava d isp o sto a perm itir
c a d os a con fessar, d ife re n te m e n te d e Simei, q u e o filho, Q u im ã , to m a sse seu lugar (1 Rs
n em a lg u m m a l- e n t e n d id o a e s c la r e c e r , 2 :7 ) e se m u dasse para Jerusalém . Q u e ria
c o m o M e fib o s e te . Barzilai não d eseja va fa- q u e ou tros desfrutassem a q u ilo q u e n ão lhe
.o r algum d o rei. Tu d o o q u e qu eria era en- era n e c e s s á rio . N a s p alavra s d e M a tt h e w
. ia-lo d e v o lt a p ara c a s a e m s e g u ra n ç a , H en ry: "A q u e le s q u e são id os o s n ão d e v e m
sa b en d o q u e a gu erra havia term in a do. Es­ privar os jo v e n s d o s p ra zeres q u e eles p ró ­
sas duas via g e n s d e v e m ter sido d ifíceis para prios desfrutaram no p assa d o n em o b riga r
jm h o m e m d e o iten ta anos, mas e le d e s e ja ­ o s jo v e n s a se ap osen ta r c o m o e les ". Barzilai
va dar o m e lh o r d e si a seu rei. atravessou o rio ju n to c o m D avi e Q u im ã e
Davi qu eria re c o m p e n s a r Barzilai cu idan ­ p erco rreu um a distância curta c o m os dois.
do d e le no p a lá c io e m Jerusalém. A lé m d e Em segu ida , se d es p e d ira m , e Davi b eijo u
e x p re s s a r sua g ra tid ã o , o fa to d e te r um a fe tu o s a m e n te o a m ig o e b en feito r.4 N o te m ­
h o m em tã o im p o rta n te c o m o Barzilai e m Je­ p o d e Jerem ias, h avia um lugar c h a m a d o
rusalém fo rta le c e ria as re la ç õ e s c o m os ci­ Jerute-Q u im ã ("h a b ita ç ã o d e Q u im ã ") p ró ­
d a d ã o s d a r e g iã o d a T ra n s jo rd â n ia n um a x im o a B elém (Jr 4 1 :1 7 ), e é p ossível q u e
é p o c a e m q u e a união era um b e m p re c io ­ ten h a sido nesse lugar q u e o filh o d e Barzilai
so. Barzilai, p o ré m , recu sou g e n tilm e n te a se assentou c o m a família.
iferta d e D avi afirm a n d o q u e já estava v e ­ M as os p ro b le m a s d e Davi ainda n ão ha­
lho dem ais. A s p essoas mais idosas n ão g o s ­ viam term in a d o , p ois a e tern a rixa en tre as
tam d e se m u dar e p refe rem m o rrer e m casa d e z tribos e Judá voltaria à ton a e, p or p o u co ,
e ser sepultadas c o m os e n tes qu erid os. Em n ão causaria outra gu erra civil. S h ak espeare
sua idade, Barzilai n ão p o d e ria mais d esfru ­ estava c erto : "In q u ie ta deita-se a c a b e ç a q u e
tar d e v id a m e n te os p riv ilé g io s d a v id a na usa a c o r o a ".5

1. Em 2 Samuel, a expressão "o povo" refere-se aos seguidores de Davi, especialmente a seu exército. Ver 15:17, 23, 24, 30;
16:14; 1 7:2, 3 ,16, 22; 18:1-4, 6,16; 19:2, 3, 8, 9, 39. Outra expressão usada para seu exército é "os homens/servos de Davi"
(2:13, 15, 17, 30, 31; 3:22; 8:2, 6, 14; 10:2, 4; 11:9, 11, 13, 17; 12:18; 15:15; 16:6; 18:7, 9; 19:6; 20:6).
2. Simei identificou-se com a "casa de José" (v. 20), sendo a primeira vez que essa expressão é usada no Antigo Testamento.
Refere-se às dez tribos lideradas por Efraim, filho mais novo de José. As dez tribos do Norte costumavam ser chamadas de
"Efraim" ou de "filhos de José".
3- A tradução "a Jerusalém", no versículo 25, deve ser lida como "de Jerusalém".
4. O "episódio de Absalão" teve início no momento em que Davi beijou o filho depois que havia passado doisanos em prisão
domiciliar (14:33) e terminou quando Davi beijou Barzilai.
5. Henry IV, Parte 2, ato 3, cena 1.
d e sua tribo, d e m o d o q u e recaía s o b re eles
10 m a ior resp o n sa b ilid a d e d e cuidar d o rei. Is­
rael argu m en to u q u e tinham d e z partes em

As N o v a s L u tas D a v i, e n q u a n t o Judá tin h a a p e n a s duas,


c o m o se o rei fo s s e algu m a e m p res a na b ol­

de D avi sa d e valores. A o q u e p a rece, n in gu ém ins­


tou as tribos a clam a r a o S en h o r p e d in d o
ajuda e a lem brar q u e G ilgal era o lugar o n d e
2 S a m u el 19:41 - 2 1 :2 2
Israel havia r e c o m e ç a d o no te m p o d e Josué
( V er também 1 C r ô n ic a s 20 :4 -8 ) (Js 3 - 5).
As raízes d o c o n flito en tre Judá e Israe
eram profundas, assim c o m o as o rige n s d os
b em -h u m o ra d o p o e ta O g d e n Nash es­ c o n flito s q u e d iv id e m tantas n a ç õ e s h oje.

O creveu em to m s é r io : "A s p e s s o a s Q u a n d o o rei Saul reuniu seu p rim eiro exér­


seriam c a p a ze s d e s o b re viv e r a seus p ro b lecito,
mas norm ais se n ão fossem tod as as dificul­
d a d es q u e causam a si m e sm a s !"
­ as tropas foram d ivididas en tre Judá e
Israel (1 Sm 11:8), d ivisão q u e persistiu ao
lo n g o d e t o d o seu r e in a d o (1 5 :4 ; 17:52
A o ler o relato da v id a d e D avi e m sua 18:16 ). D e p o is d a m o rte d e Saul, as d e z tri­
id a d e mais avançada, p e r c e b e m o s c o m o isso b o s d e Israel ap o iara m o filho d ele, Isbosete.
é v erd a d e . T o d o s os pais tê m p ro b le m a s p re­ e n q u a n to Judá seguiu Davi (2 Sm 2:10,111.
visíveis c o m os filhos, mas os p e c a d o s d os E e v id e n te q u e Judá estava o b e d e c e n d o à
filhos d e D avi p a recia m b ater to d o s os re­ v o n ta d e d e Deus, p ois o S en h or havia e sc o ­
c o r d e s , e s p e c ia lm e n t e c o m r e fe r ê n c ia a lh id o D avi para ser o p ró x im o rei d e seu
A b sa lã o . T o d o s os líderes en fren tam dificu l­ p o v o . M e s m o n os te m p o s d e D avi ainda
d a d es c o m os segu id o res, mas n o c a s o d e existia essa rivalidade entre as tribos (2 Sr-
D avi, a e s p a d a reluziu re p e tid a m e n te e m 11:11 ; 1 2 :8 ). Jesus d isse q u e "T o d o rein 'i
Israel, e n q u a n to irm ão lutava con tra irm ão. d iv id id o con tra si m e s m o fica rá d eserto , e
Q u e d o lo ro s a s sã o as c o n s e q ü ê n c ia s d o s to d a c id a d e ou casa d ivid id a con tra si m es­
p e c a d o s p e rd o a d o s ! Estes cap ítu los d e s c re ­ m a n ã o s u b s is tirá " (M t 1 2 :2 5 ). Q u a n d n
v e m qu atro c o n flito s c o m os quais D avi te v e R o b o ã o subiu a o tro n o d e p o is d a m o rte de
d e lidar d e p o is q u e a re b e liã o d e A b s a lã o seu pai, S alo m ã o, essa d ivisão torn ou-se ain­
havia sido con tida. d a mais profu nda, e o rein o se dividiu e r
Israel e Judá.
1. C o n f l it o t r ib a l O discurso d e um aspirante a líder mu-
(2 S m 19:41 - 20:4, 14-26) tas v e z e s é su ficien te para c o m e ç a r um c o n ­
Em algum as p essoas, as crises fa z e m aflorar flito, e, nesse caso, o n o m e d es se p reten so
o q u e há d e m elhor, e e m outras, o pior. O s líder era Seba. Por ser um benjam ita, a p o ia ­
represen tan tes das tribos estavam reun idos va a casa d e Saul e, p ro va ve lm e n te, era u n
e m G ilgal a fim d e e sc o lta r seu rei d e v o lta a oficial d o e x é rc ito d o N o rte . Se as d e z tri­
Jerusalém , m as e m v e z d e se re g o z ija re m b os se separassem d o rein o, ta lv e z pudesse
c o m a vitó ria q u e D eu s h avia d a d o a seu c o m a n d a r seu e x ército . S eb a n ão d e c la r e ,
p o v o , as tribos lutavam en tre si. O s "h o m e n s guerra, mas ap enas d ispen sou o exército *
d e Israel" eram as d e z tribos d o N o rte , ira­ os c id a d ã o s das tribos d o N o r te e lhes disse
das c o m a tribo d e Judá, a qual havia assimi­ para d eix a rem d e segu ir Davi. N o fundo, p o ­
lad o a tribo d e S im eão. O m o tiv o da ira d e rém , suas palavras foram um a d e c la ra ç ã o ae
Israel era o fa to d e Judá n ão ter e s p e ra d o gu erra , p o is S e b a p e r c o r r e u as trib o s ia»
q u e os outros c h e g a ss em a o local a fim d e N o rte e m b u sca d e segu id o re s (2 0 :1 4 ). Ao
ajudar a levar D avi para casa. Judá havia "s e ­ qu e parece, não foram muitos os qu e o apc ■
q ü e s tra d o " o rei, ig n o ra n d o e insultando as ram, e S eb a e seus partidários acabaram _ i
outras tribos. Judá re sp o n d e u q u e D avi era c id a d e m urada d e A b el-B ete-M a a ca .
2 SA M U EL 19:41 - 21:22 363

J o ab e assumiu n o v a m e n te o c o m a n d o ganhasse fo r ç a en tre a p o p u la ç ã o insatisfei­


das trop as d e D avi e seguiu S eb a até A b el- ta da terra, o q u e p o d e ria levar a outra gu er­
B ete-M aaca, c e rc o u a c id a d e e c o m e ç o u a ra. M ilhares d e súditos d e D avi haviam se
sitiá-la. P ela terceira v e z na "h istória d e D avi", d isp o sto a segu ir A b s a lã o e, a o q u e parecia,
um a m u lh er m u d o u o c u rs o d o s a c o n t e ­ as tribos d o N o r t e estavam dispostas a se­
cim en tos. A b iga il fo i a prim eira dessas m u­ guir qu alq u er um.
lheres (1 Sm 2 5 ); a m ulher d e T e c o a foi a Porém , A m a s a n ão c o m p a re c e u c o m o
segu n d a (2 Sm 14). A m ulher sábia ch a m o u e x é r c ito n o d ia m a rc a d o , e D avi te v e d e
Jo ab e d e d e n tro d a c id a d e e lhe garantiu e n tre g a r o c o m a n d o das tro p a s a A b isai.
q u e n in gu ém ali se aliou a qu aisqu er re b e l­ A m a s a havia sido c o m a n d a n te d o exé rc ito
des e qu e, p ortan to, n ão m e re cia m ser ata­ d e A b salão , d e m o d o q u e D avi ta lv e z sus­
c a d o s . T a lv e z tiv e s s e e m m e n te a lei e m p e ita s s e q u e o havia tra íd o ju n ta n d o -s e a
D e u te ro n ô m io 20:10 -1 6, d e a c o rd o c o m a S eba. A e x p lic a ç ã o mais ló g ic a para a d e ­
qual um a c id a d e d ev eria o fe r e c e r um a o fe r ­ m o ra d e A m a s a era q u e os h o m e n s n ã o
ta d e p a z a n tes d e ser a ta c a d a . Q u a n d o c on fia v a m n ele e n ão qu eriam segui-lo, ar­
Joabe e x p lic o u q u e estava apenas atrás d e riscan do a v id a para lutar sob seu c o m a n d o .
Seba, a m ulher c o n v e n c e u os habitantes d e L e va n d o c o n s ig o os oficiais d e J oab e e os
^ b el a m atarem o líder r e b e ld e e a salvar a "v a le n te s " d e Davi, A b isai reuniu o e x é rc ito
cid a d e. M as S eb a n ão fo i um b o d e e x p ia tó ­ d e Judá ra p id a m en te e rum ou para o norte,
rio, pois c o m o o ficial q u e havia se re b e la d o a fim d e d eter Seba. Q u a l n ão fo i a surpresa
c o n tra o rei, o b en ja m ita m e re c ia m orrer. d e le s q u a n d o e n c o n tra ra m A m a s a e seu
S eb a qu eria ser c a b e ç a d o e x é rc ito , mas, em e x é rc ito na p ed ra g ra n d e ju n to a G ib e ã o ,
v e z disso, sua c a b e ç a é q u e fo i jo g a d a p o r c e rc a d e n o v e q u ilô m e tro s a n o ro e s te d e
s o b re o m u ro para o exército . Jerusalém. A m a s a estava a ca m in h o para se
O cap ítu lo en c e rra c o m mais um a lista a p resen ta r a D avi e re c e b e r suas ordens.
d e oficiais d e D avi (v e r 8:15-18), ã qual são A p e s a r d e n ão ter c a r g o o ficial, J o ab e
a c r e s c e n t a d o s d o is n o m e s : A d o r ã o (o u a c o m p a n h o u o irm ão, Abisai, a fim d e aju-
A d on irã) era e n c a r re g a d o d os trabalhos fo r­ dá-lo n o q u e fo s s e possível. O s d ois haviam
ç a d o s e Ira, o jairita, era o c a p e lã o d e Davi. lutado juntos na b atalha n o b o s q u e d e Efraim
O s "tra b a lh o s f o r ç a d o s " era m r e a liz a d o s e d e rro ta d o A b sa lã o . J oab e n ão tinha qual­
p elo s p rision eiros d e guerra, mas, p o r v ez e s , q u er a fe iç ã o p o r A m asa, o c o m a n d a n te q u e
os israelitas eram c o n v o c a d o s para ajudar havia traíd o D avi e lid era d o o e x é rc ito d e
nos p ro gram as d e c on s tru çã o d o g o v ern o . A b s a lã o (1 7 :2 5 ). A lé m disso, A m asa tom a ra
D o rein a d o d e S a lo m ã o em diante, o oficial o lugar d e J oab e c o m o c o m a n d a n te das tro ­
e n c a r re g a d o d es se s p ro je to s n ã o te v e um a pas d e D avi, um a n o m e a ç ã o q u e d e v e ter
v id a fá c il (1 Rs 4 :6 ; 5 :1 4 ; 1 2 :1 8ss; 2 Cr h u m ilh a d o J o a b e (D a v i f e z essa m u d a n ç a
10:18, 19). p o r q u e J oab e havia d a d o c a b o d e A b s a lã o ).
A g o ra , d e v e m o s re tro c e d e r um p o u c o a J oabe sabia q u e e le e o irm ão, Abisai, p o d e ­
fim d e d es c o b rir c o m o J oab e recu p ero u o riam d a r c o n t a d a r e v o lta d e S eb a , m as
c o m a n d o d o e x é rc ito d e Davi. A m a s a era fra c o e in ex p erien te d em a is para
c o m a n d a r um e x é rc ito v ito rio so .
2. C o n f l it o p e s s o a l (2 Sm 20:4-13) C o m o na o c a s iã o e m q u e assassinaram
Q u a n d o D avi fico u s a b e n d o q u e S eb a esta­ A b n e r (3 :2 7-3 9 ), J oab e e Ab isai d e v e m ter
va c o n c la m a n d o o p o v o a se rebelar, mais tra m a d o a lg o ra p id a m en te assim q u e viram
q u e d e p r e s s a e n v io u um a m e n sa g em a A m a s a se aproxim ar. J oab e havia assassina­
A m asa, seu n o v o c o m a n d a n te (1 9 :1 3 ), o r­ d o A b n e r 1 e A b s a lã o , d e m o d o q u e suas
d e n a n d o q u e reunisse os s o ld a d o s e m três m ã os já estavam m anch ad as d e sangue. O
dias e q u e fo s s e a Jerusalém. C o m o estrate­ g e sto ard iloso c o m a esp a d a d eu a A m a s a a
gista e x p e rie n te , D avi sabia q u e a insurrei­ im p ressão d e q u e se tratava d e um e n c o n ­
ç ã o d e v e ria ser co rta d a p ela raiz antes qu e tro inform al, mas foi a m aneira astu ciosa d e
364 2 SA M U EL 19:41 - 21 :22

J o a b e p e g a r A m a s a d e s p r e v e n id o (v e r Jz Pecado (vv. 1-4). Em p arte a lgu m a das


3:20-23). M ais um a v e z , a e sp a d a caiu s o ­ Escrituras é e x p lic a d o q u a n d o ou p o r q u e
bre a casa d e D avi, p ois A m a s a era seu pri­ Saul m atou o s g ib eo n ita s, ro m p e n d o , assim
m o. N ã o havia m o tiv o para m atar A m asa. a a lia n ça q u e Israel h avia fe it o c o m ess e
Por c erto , e le havia se alia d o a A b sa lã o , mas p o v o n o te m p o d e Josué (Js 9). Josué havia
Davi havia d ec la ra d o anistia, a qual ta m b ém te n ta n d o tirar p r o v e ito d e seu e rro , p ois
in clu ía Joab e, q u e h avia m a ta d o A b s a lã o . c o lo c o u o s g ib e o n ita s para trab alh ar c o r ­
J o ab e p o d e ria ter to m a d o o c o m a n d o d e ta n d o lenh a e c a rre g a n d o água, m as o ju­
A m a s a sem m a iores dificu ld ad es, mas a ín­ ra m en to d o s israelitas o b rig a v a -o s d ia n te d e
d o le d o v etera n o era tal q u e e le p referia e x ­ D e u s a p r o te g e r os g ib e o n ita s (Js 10). Saul
term inar os q u e estavam e m seu cam in h o. m atou vá rio s g ib eo n ita s, mas sua in ten çã o
N ã o qu eria v er líder algum d e A b s a lã o ain­ era elim in á-los d e to d o , tratan do-se, p o rta n ­
d a v iv o e crian d o p ro b le m a s para Davi. to, d e um c a s o d e "e x te rm ín io é tn ic o " e d e
Joab e d eix o u A m a s a c a íd o num a p o ç a g e n o c íd io .
d e san gu e no m e io da estrada, le va n d o to d o A vid a religio sa d e Saul é um m istério.
o e x é rc ito a in terro m p er a m arch a d e súbito N a ten tativa d e p a re ce r p ie d o s o , f e z voto ?
dian te d a q u e la cen a. A batalha n em havia in sen satos q u e n in gu é m c o n s e g u iria cu m ­
c o m e ç a d o e lá estava seu c om a n d a n te , m o r­ prir (1 Sm 1 4:24 -3 5) e, a o m e s m o tem p o ,
to n o m e io d o c a m in h o ! J oab e e Abisai parti­ ign o ro u o rd en s claras d o S en h or (1 Sm 13.
ram e m p e rs e g u iç ã o a Seba, mas o e x é rc ito 1 5 ). D e u s o r d e n o u q u e Saul m a ta s s e os
n ão os seguiu, p ois c o m o a c o n te c e e m aci­ am alequ itas, e e le n ã o o fe z ; n o en ta n to
d en tes d e trânsito h o je em dia, to d o s os q u e exterm in ou os g ib eo n ita s! O u tro m istério é
passavam precisavam parar e olhar, cau san d o o fa to d e Jeiel, b isavô d e Saul, ser p rogen itor
um c o n g e s tio n a m e n to . U m d o s h o m en s d e d o s g ib eo n ita s (1 Cr 8:2 9-3 3 ; 9:35-39), d e
J oab e te v e o b o m sen so d e c o lo c a r o c o r p o m o d o q u e Saul m atou os p ró p rio s parentes.
à b eira d a estrad a e cob ri-lo . Em segu ida , G ib e ã o torn ou-se um a c id a d e levítica (Js
c o n v o c o u os s o ld a d o s d e A m asa para q u e 2 1 :1 7 ) e, durante algu m te m p o , ab rigou o
a p o iassem J oabe e Davi, e os h o m en s c o n ­ ta b e rn á c u lo (1 Rs 3:4, 5). A c id a d e fica va
c o r d a r a m . T e ria s id o m ais p o lit ic a m e n t e e m B en jam im , trib o d e Saul, o q u e ta lve z
c o r re to d iz e r "D a v i e A b isai", p ois D avi ha­ seja um a pista para o c o m p o r ta m e n to d e
via e n tre g a d o o c o m a n d o a Abisai. Joabe, Saul. Já era p ro b le m á tic o o su ficien te v er os
p orém , to m o u d e v olta seu an tigo c a rg o e p a g ã o s gib eo n ita s v ivo s e tranqüilos na ter­
se recu sou a e n tre gá -lo (v. 2 3 ). M ais um a ra d e Israel, mas será q u e p recisavam m orar
v e z , D avi te v e d e c e d e r aos jo g o s d e p o d e r n o território d e Benjam im ? U m a das táticas
d e Joabe. d e "lid e ra n ç a " d e Saul era re co m p e n s a r seus
Por c erto , algu ém sepultou o c o r p o , um a h o m en s c o m casas e terras (1 Sm 2 2 :7 ); tal­
v e z q u e era con siderado algo m uito grave em v e z , para fa z e r isso, ten h a c o n fis c a d o p ro ­
Israel n ão sepultar os m o rtos d ev id a m e n te. p r ie d a d e s d o s g ib e o n ita s . Q u a lq u e r q u e
te n h a s id o o m o tiv o e o m é to d o , m esm '-
3. C o n f l it o é t n i c o (2 Sm 21:1-14) e m seu túm ulo, Saul trou xe ju lg a m e n to so­
O livro encerra c o m .um registro d e duas ca­ b re o p o v o d e Israel, um a v e z q u e a seca e 3
lam idades nacionais: um a seca d ec o rre n te d o fo m e con tinu aram p or três an os (2 1 :1 ,1 0 .
p e c a d o d o rei Saul (2 1 :1 -1 4 ) e um a praga É possível q u e o p rim eiro a n o d e s e c :
causada p e lo p e c a d o d o rei D avi (24:1-25). te n h a s id o c a u s a d o p o r a lg u m a m udança
Entre esses d ois a c o n te c im e n to trágicos, o clim ática in esp erada, e, durante o segu nan
escritor apresen ta um resu m o d e quatro v itó ­ an o, ta lve z os israelitas dissessem : " L o g o as
rias (2 1 :1 5 -2 2 ) e um a lista d o s valentes d e c o is a s v ã o m e lh o r a r". M a s q u a n d o , pe>:»
Davi (23:8-39), b em c o m o dois salm os escri­ t e r c e ir o a n o c o n s e c u tiv o , a terra te v e de
tos d e Davi (22:1 - 23:7). M ais um a v e z , v e ­ suportar a e sc a s s e z d e ch u va e d e alimen­
m os D avi c o m o sold ad o, can tor e pecad or. tos, D avi bu scou o Senhor. Estava escrito na
2 SA M U EL 19:41 - 21:22 365

aliança d o S en h or c o m Israel q u e e le e n v ia ­ P orém , d e v e m o s nos lem brar d e q u e a m o r­


ria chuvas à terra, c a so seu p o v o o honrasse te d o s sete h o m en s n ão serviu d e e x p ia ç ã o ,
e lhe o b e d e c e s s e (D t 2 8:1-1 4 ). D avi sabia mas sim d e retrib u ição legal.
q u e o p e c a d o d e h o m ic íd io con ta m in a va a A p e s a r d e D avi n ão h aver c o m e t id o o
terra (N m 35:30 -3 4), e era e x a ta m en te isso crim e, te v e d e e s c o lh e r os sete h o m en s q u e
o q u e estava c a u s a n d o to d o o transtorno. iriam m orrer, ta refa n ada fácil (ta lv e z Davi
T a lv e z p o r in te rm é d io d o p ro fe ta N a tã ou tivesse p e n s a d o nos q u e m orreram e m d e ­
d e Ira, c a p e lã o d o rei, o S en h or disse a Davi: c o r rê n c ia d e seus p e c a d o s : o b e b ê d e Ba-
JH á culpa d e san gu e s o b re Saul e s o b re a te-S eb a; Urias, o h eteu ; A m n o m ; A b s a lã o ;
sua casa, p o r q u e e le m atou os g ib e o n ita s " A m a s a ). P or cau sa d o v o t o q u e h avia fe ito
(v. 1). Fazia mais d e trinta an os q u e Saul ha­ a Jônatas d e p r o te g e r seus d e s c e n d e n te s
via m orrid o, e o S en h o r e s p ero u p a c ie n te ­ (1 Sm 20:12-1 7 ),4 o rei n ão citou o n o m e d e
m e n te para tratar d o p e c a d o d e le .2 M e fib o s e t e e e sc o lh e u d ois filhos d e Rispa,
Retribuição (vv. 5-9). Q u a n d o fico u sa­ c o n c u b in a d e Saul, e ta m b é m o s c in c o fi­
b e n d o d o s fa to s , D a v i o fe r e c e u im e d ia ­ lhos d e M e ra b e , filha d e Saul casad a c o m
ta m e n t e u m a r e s t itu iç ã o p e lo s p e c a d o s A d riel (2 Sm 2 1 :8).5 Esse fato o co rreu duran­
terríveis d e seu an tecessor, p ois d es eja va q u e te a c o lh e ita d a c ev a d a , e m m e a d o s d e abril,
os g ib e o n ita s a b e n ç o a s s e m o p o v o d e Is­ e os c o r p o s ficaram e x p o sto s p or c e rc a d e
rael e, d es se m o d o , d esfru tassem as b ê n ç ã o s seis m eses, até as chuvas c h e g a rem ; a seca
d e D eu s (C n 12:1-3). P orém , os gib eo n ita s term in ou e m o u tu b ro . Pendurar um c o r p o
não qu eriam d in h eiro ; sabiam q u e um h o ­ era um a form a d e d esgra ça r a p e s s o a e d e
m icida não p o d e ria p agar resg a te n em in de­ am ald içoá-la (D t 21:22 , 23).
nizar os s o b re v iv e n te s (N m 3 5 :3 1 -3 3 ). O s Com paixão (vv. 10-14). A lei exigia qu e
gib eo n ita s d eixaram claro q u e sabiam qual os c o r p o s e x p o s to s fo s s e m retirados até o
era seu lugar e m Israel: eram servo s e resi­ p ôr-do-sol e sep u ltad os. A fim d e ter c e rte z a
d en tes estran geiros e n ão tinham d ireito al­ d e q u e to d o o possível havia sido feito para
gum d e p le ite a r sua c a u s a .3 P o r é m , seria tratar d o crim e d e Saul, D avi perm itiu q u e
n ecessário derram ar san gu e a fim d e exp iar os c o r p o s fica ss em e x p o s to s a té v irem as
o san gue g ib e o n ita d erra m a d o (Êx 2 1 :24; Lv chuvas, in d ican d o q u e o S en h or havia v o lta ­
24:19-21; D t 19:21 ). A n a ç ã o sofria p o r cau ­ d o a a b e n ç o a r seu p o v o . D uran te to d o esse
sa d os p e c a d o s d e Saul, e m atar qu alq u er te m p o , R ispa p ro te g e u os c o r p o s d e seus
j m não resolveria o p ro b lem a . O s gib eo n ita s filhos e sobrin h os, num a to d e a m o r e d e
p ed iram q u e sete h o m en s d e s c e n d e n te s d e c o ra g e m . Rispa era a c o n c u b in a e n v o lv id a
Saul fo s s em sacrificad o s dian te d o S enhor; n o e p is ó d io e m q u e A b n e r a b a n d o n o u a
.sso daria fim à s ec a e à fo m e . casa d e Saul e aliou-se a D avi (3:6-12).
Davi sabia q u e os israelitas eram p ro ib i­ P orém , D avi foi ainda mais lo n ge. O r d e ­
d o s d e o f e r e c e r s a c r ifíc io s h u m a n o s (L v nou q u e os o ssos fo s s em reco lh id os, e qu e,
18:21; 20:1-5; D t 12:29-32; 1 8 :10 ) e q u e a ju n tam en te c o m os o ssos d e Saul e d e seus
m o rte d e sete h o m en s e m sacrifício n ão ti­ filhos, e n terra d o s p e lo s h o m e n s d e Jabes-
nha v a lo r e x p ia tó rio . N ó s , q u e te m o s h o je o C ile a d e (1 Sm 3 1 ), fo s s e m c o lo c a d o s n o
N o v o T es ta m en to e q u e c o m p r e e n d e m o s o tú m u lo da fam ília d e Saul (vv. 12-14). T o d o
e v a n g e lh o d e Jesus Cristo, v e m o s esse e p i­ israelita d e s e ja v a ser s e p u lta d o d e m o d o
s ó d io to d o c o m um m isto d e e sp a n to e d e a p ro p ria d o ju n to a seus an tepassados, e Davi
repu gnância, mas não d e v e m o s nos e s q u e ­ c o n c e d e u essa b ê n ç ã o a Saul e a sua fam í­
c e r d e q u e estam o s lid an d o c o m a lei, n ão lia. Q u a is q u e r q u e seja m as d ú v id a s q u e
c o m a graça, e se trata d e Israel, n ão d a Igre- ainda restam s o b re esse a c o n te c im e n to sin­
ia. A lei d e M o is é s e xig ia q u e um h o m icíd io gular, um a coisa é certa: os p e c a d o s d e um
n ã o s o lu c io n a d o f o s s e e x p i a d o p o r um h o m e m p o d e m causar tristeza e m o rte para
s a c rifíc io (D t 2 1 :1 -9 ), q u a n to m ais o e x ­ sua fam ília, m e s m o d e p o is d e m o rto e se­
te rm ín io e x p líc ito p e r p e tr a d o p o r um rei! pultado. T am b ém d e v e m o s dar c réd ito a Davi
366 2 SA M U EL 19:41 - 21:22

p o r tralar e n e r g ic a m e n te d o p e c a d o p o r O s egu n d o e m b a te c o m os filisteus (2 Sm


a m or à n a ç ã o e, a o m e sm o te m p o , mostrar 2 1 :1 8 ; 1 Cr 2 0 :4 ) o c o rre u e m G o b e , local
b o n d a d e para c o m a casa d e Saul. im p o s s ív e l d e d e t e r m in a r c o m p re c is ã o ,
o n d e Israel v e n c e u a batalha p o r q u e um d os
4 . C o n f l it o n a c io n a l valen tes d e D avi m atou o giga n te (v e r 1 Cr
(2 S m 21:15-22; 1 C r 20:4-8) 1 1 :29). O fa to d e os n o m es d esses gigan tes
Estes qu atro c o n flito s o c o rre ra m no c o m e ç o a p a re c e re m n o te x to m ostra q u e eram gu er­
d o re in a d o d e D avi, p r o v a v e lm e n te an tes reiros c o n h e c id o s .
q u e tran sform asse Jerusalém e m sua c a p i­ O te rc eiro c o n flito c o m os filisteus (v. 19)
tal e antes q u e o s filisteus se o p u s e s s e m a foi, n o va m en te, e m G o b e , e, d essa v e z , o
sua a s c en s ã o a o p o d e r. O s q u atro e p is ó d i­ giga n te m o rto fo i o irm ão d e G o lia s (1 Cr
os e n v o lv e r a m " d e s c e n d e n t e s d o s g ig a n ­ 2 0 :5 ). S a b em o s p o u c o s o b re Elanã, e x c e to
t e s "6 d a Filístia, s e n d o um d ele s irm ã o d e q u e v e io d e B elém e q u e era um d o s valen­
G o lia s (v. 1 9). tes d e D avi (2 Sm 2 3 :2 4 ).
N o p rim eiro c o n flito (vv. 15-17), D avi lu­ A qu arta batalh a o c o rr e u e m território
tou ta n to q u e fico u fra co , p ois os filisteus in im igo, na c id a d e d e G a te (vv. 20-22; 1 Cr
co n c en tra v a m -s e n ele, n ão nos ou tro s sol­ 2 0:6-8), e Jônatas, sob rin h o d e Davi, m atou
d ad os. Isb i-B en ob e q u eria m atar D avi e ti­ o giga n te qu e, assim c o m o G olias, havia d e ­
nha um a lança d e b r o n z e q u e p esava qu ase s afiad o Israel e o D eu s d e Israel (v e r 1 Sm
qu atro quilos. M a s Abisai, s ob rin h o d e D avi 17 : 10).
q u e o e xa sp ero u e m mais d e um a o ca siã o , Q u a n d o , e m sua a d o les c ên c ia , Davi ma­
s oc o rre u o rei e m atou o gigan te. Foi e n tã o tou G olias, sem d ú vid a deu aos h o m en s d e
q u e os líderes militares d ecid iram q u e o rei Israel um b o m e x e m p lo d o q u e s ign ific a
era vu ln erável e v a lio so d em a is para ser sa­ c o n fia r e m D eu s para alcan çar a vitória. É
c rific a d o no c a m p o d e batalha. O rei era a b o m sab er m atar os giga n tes e m sua vida.
"lâ m p a d a d e Israel" e d ev eria ser p ro te g id o mas n ão se e s q u e ç a d e ajudar ou tros a m a­
(ver 1 Rs 1 1 :36; 15:4; 2 Rs 8 :19; 2 C r 21:7). tar os giga n tes na v id a deles.

1. Joabe matou Abner, pois este havia matado seu irmão, Asael, e o hz próximo a Gibeão, onde Joabe encontrou-se com Amasa
(2:12ss). Talvez a memória da morte de seu irmão tenha instigado Joabe, apesar de Amasa não ter qualquer relação com esse
acontecimento.
2. Não se sabe por que os gibeonitas não apresentaram essa questão a Davi bem antes, pois, uma vez que eram residentes
estrangeiros em Israel, tinham direitos civis. Durante a primeira parte de seu reinado, Davi estava protegendo e expandindo
0 reino, e, nos últimos anos, tratava de problemas decorrentes dos próprios pecados, de modo que talvez tenha levado
algum tempo para a questão chegar aos ouvidos do rei. Ao enviar seca e fome, o Senhor cumpriu as estipulações da aliança
(Lv 26:18-20; Dt 28:23, 24).
3. A lei de Moisés concedia certos direitos a residentes estrangeiros, e Israel havia recebido a advertência de não oprimir os
estrangeiros na terra (Êx 22:21; Lv 19:34; Dt 24:17). Ao que parece, nem o juramento de Josué nem a lei de Moisés
impediram Saul de tentar exterminar os gibeonitas.
4. No entanto, Davi fez uma promessa semelhante a Saul (1 Sm 24:20-22) e, nesse caso, estava ordenando a morte de descendentes
de Saul. Porém, a execução de cinco homens não era o mesmo que mandar exterminar toda a família.
5. De acordo com 6:23, Mical morreu sem ter filhos, de modo que o texto deve dizer "Merabe". Ela era filha de Saul com Ainoã
(1 Sm 14:49) e casada com Adriel (1 Sm 18:1 7-19).
6. O texto hebraico diz "descendentes de Rafa", sendo que esse termo significa "gigante" (Dt 2:11, 20; Js 12:4; 13:12; 1 7:15:
1 Cr 20:4, 6, 8).
sua dinastia (2 Sm 7) e lhe d eu as vitórias
11 registradas em 2 Sam uel 8 e 10. P o d e m o s
concluir, ainda, p elo s versícu los 2 0 a 27, q u e
e sc re ve u o salm o antes d e c o m e te r os p e ­
O C â n t ic o de V it ó r ia c a d o s gravíssim os re la c io n a d o s a Bate-Seba

de D avi e a Urias (2 Sm 11 - 12), p ois jam ais p o d e ­


ria ter escrito os versícu lo s 2 0 a 27 d e p o is
d es se triste e p is ó d io .
2 S am u el 22
O salm o e n fa tiza aq u ilo q u e o Senhor,
( V er também o S a l m o 18) e m sua gra ça e m isericórd ia, f e z p o r Davi.

1. O S e n h o r li v r o u a D a v i
(2 S m 22:1-19)
E
m 1 Sam uel 2, há o registro d o cân tico
q u e A n a e n to o u q u a n d o le v o u o filho, A palavra-chave d es se câ n tic o é "livra r" (vv.
S a m u el, p a ra s e rv ir a o S e n h o r n o t a b e r ­ 1, 2, 18, 20, 44, 4 9 ), te n d o c o m o sign ifica­
náculo, e e m 2 Sam uel 22, há o c â n tic o d e d o s "tirar d o p erig o, agarrar, levar e m b o ra ,
D avi d e p o is q u e o S en h o r o aju dou a d e rro ­ perm itir e sc a p a r". A n tes d e se tornar rei, Davi
tar os in im igos (v. 1; SI 18, título). E e x tre m a ­ passou p e lo m e n o s d e z an os s e n d o p erse­
m en te sign ificativo q u e esses d ois livros, tão g u id o p o r Saul e p o r seu e x é rc ito ; d e a c o r­
p es a d o s e c h e io s d e m o rte, c o m e c e m e ter­ d o c o m o registro b íb lico , Saul ten tou matar
m in e m c o m lo u v o re s ! N ã o im p o rta q u ã o D a v i p e lo m e n o s c in c o v e z e s (v e r 1 Sm
som brios sejam os dias ou q u ã o d o lo ro s a s 18:10, 11; 19:8-10, 18-24). D e p o is q u e se
as m e m ó ria s , p o d e m o s s e m p re lo u v a r a o to r n o u rei, D a v i t e v e d e lutar c o n tr a os
Senhor. filisteus, os am onitas, os sírios, os m oabitas
N e ste cân tico , D avi a g ra d ec e u a o Sen h or e os ed o m itas, e D eu s ca p a c ito u -o a triunfar
as muitas vitórias q u e lhe havia d a d o e sua s o b re to d o s os inim igos.
b o n d o s a a tu a çã o a o c on d u zi-lo a o tro n o d e D avi c o m e ç o u seu câ n tic o lo u v a n d o ao
Israel. O b s e r v e q u e Saul n ão é in clu ído na S en h o r p o r a q u ilo q u e e le é: um a rocha, um a
rela çã o d e in im igos d e D avi, pois, a d e s p e i­ forta le za , um lib ertad o r (v. 2), im agen s sem
to d e tu d o o q u e Saul f e z c o n tra ele, e m d ú vid a p ro ve n ien te s d os an os q u e D avi pas­
m o m e n to algum D avi o c o n s id e ro u um ini­ sou no d es erto , q u a n d o e le e seus h o m en s
m igo. E b em p ro vá vel q u e 2 Sam uel 22 seja esco n d e ra m -s e e m cavern as e e m forta leza s
a v ers ã o original, mas q u a n d o o câ n tic o foi naturais. A d ec la ra çã o : "D e u s , o m eu ro c h e ­
a d a p ta d o para a a d o ra ç ã o com unitária, Davi d o " (v. 3) p o d e ser trad u zid a p or: " M e u D eus
e sc reveu um a n ova abertura: "Eu te am o, ó s e m e lh a n te a u m a r o c h a ". A im a g e m d o
S enhor , f o r ç a m in h a " (SI 1 8 :1 ). O te r m o Senhor, "a ro c h a ", já a p a r e c e e m G ê n e s is
h e b ra ic o usad o para "a m a r", nessa d eclara­ 4 9 :2 4 e é u sada, c o m fr e q ü ê n c ia , no
ção, sign ifica "a m o r p ro fu n d o e fe rv o ro s o ", "c â n tic o d e M o is é s " em D e u te ro n ô m io 32
n ão apenas um a e m o ç ã o passageira. A lé m (vv. 4, 15, 18, 30, 31). A n a e m p r e g o u essa
disso, D avi re m o ve u d o versícu lo 3 as pala­ e x p re ss ã o e m seu c â n tic o (1 Sm 2:2), e pa­
vras: "D a v io lê n c ia tu m e salvas". Existem lavras sem elh an tes p o d e m ser en con tra da s
diferenças, mas elas n ão d e v e m nos im p e ­ e m várias o c a s iõ e s nos salm os. U m a rocha
dir d e c o m p r e e n d e r a m e n s a g e m g lo rio s a lem bra fo r ç a e estab ilidade, a lg o c o n fiá v el e
d esse câ n tic o d e louvor. im utável. P or mais q u e os in im igos d e Davi
É p o u c o p ro v á v e l q u e ess e c â n tic o te ­ ten tassem destruí-lo, e le estava s em p re p ro ­
nha sido escrito lo g o d e p o is da d erro ta d e te g id o e era s em p re c o n d u z id o p e lo Senhor.
Saul e d o in íc io d o r e in a d o d e D a v i e m D e u s era um e s c u d o a o re d o r d e le e um
H e b ro m . P o d e m o s inferir, p e lo versícu lo 51, lib ertad o r e m to d o te m p o d e p erigo.
q u e D avi e sc re v e u ess e salm o d e p o is q u e A im a gem da ro ch a d á lugar à im a gem
D eu s firm o u c o m e le a alia n ça a c e rc a d e da to rren te (vv. 4-7). qu e, p o r sua v ez , leva
368 2 SA M U EL 22

a o retrato v ív id o da te m p e s ta d e (vv. 8-20). J eová con qu istaria a vitória. P or isso, dava


E nquanto e stava e x ila d o no d e s e r to , D avi to d a a g ló ria a o Senhor. Davi d ecla ro u q u e
c e rta m e n te viu m uitas te m p e s ta d e s (v e r SI D eu s n ão ap en a s "d e s c e u " (v. 10), mas tam ­
2 9 ), q u e tran sform avam o s leitos s e c o s d e b ém lhe "esten d eu ... a m ã o " e o to m o u ; ti-
ria c h o s e m to rr e n te s in ten sa s (SI 1 2 6 :4 ). rou-o das muitas águas p erig osas (v. 1 7).
Q u a lq u e r q u e fosse a e s ta ç ã o d o ano, D avi
s em p re lutava c o n tra as fortes c o rre n te z a s 2. O S e n h o r recom pensou a D a v i
d a o p o s iç ã o d e Saul. O n d a s d e m orte, tor­ (2 S m 22:20-28)
rentes d e im p ied a d e , c a d eia s infernais e tra­ D u ran te p e lo m e n o s d e z an os, D avi havia
mas ocu ltas d e m o rte e n ch iam a v id a d e D avi p a s sa d o p o r "a p e rto s ", m as o S en h o r o c o n ­
d e d ificu ld ad es e d e p erig os. N ã o é d e se du ziu a um "lu g a r e s p a ç o s o " (v. 2 0 ). D eus
adm irar q u e dissesse a Jônatas: "a p e n a s há p ô d e lhe dar um lugar m aior, p ois D avi ha­
um passo en tre m im e a m o rte " (1 Sm 20:3). v ia s id o e n g r a n d e c id o e m sua p ró p ria vid a
O q u e fa z e r q u a n d o se está m o rre n d o m e d ia n te as e x p e r iê n c ia s d e a fliç ã o e d e
a fo g a d o num a torren te d e o p o s iç ã o ? Clamar p ro v a ç ã o . " N a angústia, m e ten s a liv ia d o "
a o Senhor e confiar, e e/e dará a ajuda neces­ (SI 4 :1 ). Em várias o c a s iõ e s , D avi c la m o u
sária (v. 7). D avi era um h o m e m d e o ra ç ã o a o S enhor, p ois seu s o frim e n to era c a d a v e z
q u e d e p e n d ia d o S en h or para ter sab ed oria, mais in ten so; p o ré m , a o m e s m o te m p o , o
fo rç a e livram en to, e o S en h o r jam ais falhou S en h o r e stava e n g r a n d e c e n d o seu servo e
c o m ele. Por q u e D eu s esp ero u tantos anos p rep a ra n d o -o para um lugar m a ior (SI 18:19,
antes d e livrar D avi e d e c o lo c á -lo no trono? 3 6). "Em m e io à trib u lação , in vo q u e i o Se­
D e n tre outras coisas, p o r q u e o S en h or esta­ nhor , e o S enhor m e o u viu e m e d eu fo lg a "
va c o n s titu in d o para si um líder, a lg o q u e (SI 118 :5 ). N a e s c o la d a vida, D eu s p ro m o ­
p o d e ria ser fe ito s o m e n te p o r m e io d e p ro ­ v e a q u e les qu e, nos te m p o s d e d ificu ld ad e,
v a ç õ e s , d e sofrim e n to e d e batalhas. Porém , a p r e n d e m as liç õ e s d a fé e d a p a c iê n c ia
o S en h or ta m b ém tinha e m vista a hora c e r­ (H b 6 :1 2 ), e D avi havia a p re n d id o b em suas
ta: "v in d o , p o r é m , a p len itu d e d o te m p o " liç õ e s .
(C l 4:4), o M essias viria a o m undo n ascid o A justiça de D avi (vv. 21-25). U m a leitu­
d a fam ília d e Davi. ra su perficial desses versícu lo s p o d e nos dar
Q u a n d o S en h o r re sp o n d e u a o s c la m o ­ a im p ressão d e q u e D avi estava se v a n glo ­
res d e D avi e o livrou d e Saul e d o s inim igos riando, mas d e m o d o algum esse é o caso.
d o p o v o d e D eus, fo i c o m o um a gra n d e te m ­ D avi lo u vava a o S en h or p or cap acitá-lo para
p es ta d e c a in d o s o b re a terra (2 Sm 22:8-20). q u e tivesse um a v id a irrep reen sível e m m e io
D avi d e s c re v e a in te rv en ç ã o d ivin a c o m o um a situ ações p erigosas e d es co n fo rtá v e is. Ima­
te rre m o to (v. 8 ) s e g u id o d e relâm p ag os, fo g o gin e c o m o era difícil guardar a lei d o Senhor
e fu m a ça (v. 9). O S en h o r estava irado (v e r no m e io d o d e s e r to d a Judéia, q u a n d o se
SI 74:1; 1 4 0 :1 0 )! T e n d o o céu esc u ro c o m o estava fu gin d o para salvar a p rópria p e le ! Em
p a n o d e fu n d o , o S en h o r f e z d e s c e r um a tu d o o q u e fazia, D avi p rocu rava agradar ao
n uvem im p elid a p o r qu eru b in s.1 A te m p e s ­ Senhor, o b e d e c e r à sua lei e c on fiar e m suas
ta d e caiu c o m to d a sua fúria! N as Escrituras, p ro m essas. Esses vers íc u lo s d e s c r e v e m Da­
um a te m p e s ta d e p o d e retratar um e x é rc ito vi c o m o um h o m e m ín te g ro (v e r SI 78:72,.
a v a n ç a n d o (E z 3 8 :9 ; D n 1 1 :4 0 ; H b 3 :1 4 ) um h o m e m s e g u n d o o c o r a ç ã o d e D eus
o u o ju lg a m e n to d e D eu s (Jr 11:6; 2 3 :1 9 ; (v e r 1 Sm 13:14, N V I). D avi c o n h e c ia as p ro ­
2 5 :3 2 ). A s setas d e D eu s eram c o m o raios, m essas d e D e u s na alia n ça , ap ro p rio u -s e
sua v o z c o m o o trovão , e o v e n to era o bu­ delas e foi h o n ra d o p e lo Senhor. O rei SaJ
far d e suas narinas. N ã o é d e se adm irar q u e transgrediu os te rm o s d a alian ça e fo i julga­
seus in im igos fu gissem a te rro riza d o s ! D avi d o p e lo Senhor.
n ão se con sid era va um gra n d e c o m a n d a n te Isso n ão sign ifica q u e D avi fo i p erfe ito e
q u e havia lid era d o um e x é rc ito v ito rio so , mas q u e s em p re f e z a c o is a certa. T e v e seus dias
sim um servo d e D eu s q u e c o n fia v a q u e d e d e s e s p e r o , q u a n d o fu g iu p ara o lacu
2 SA M U EL 22 369

in im ig o e m b u s c a d e a ju d a , m as fo r a m "d e s o n e s to " v e m d e um radical q u e signifi­


in cid en tes na v id a d e um h o m e m qu e, d e ca "lu tar". D avi n ão lutou con tra D eu s nem
o u tr o m o d o , d e d ic o u - s e in te ira m e n te a o c on tra a v o n ta d e d o Senhor, c o m o fe z Saul,
Senhor. D avi h onrou a o S en h or e nunca se p o r isso D avi fo i e xa lta d o , e Saul, h um ilh ado
\ o lto u p a ra íd o lo s . N ã o e n v e r g o n h o u o (1 Pe 5:5,6; T g 4:1 0).
n o m e d o S en h o r e te v e o c u id a d o d e p ro te ­ P or fim, D avi fo i hum ilde e q u eb ra n ta d o
ger seus pais (1 Sm 22:1-4). Q u a n d o se viu dian te d o Senhor, e n q u a n to Saul p ro m o v e u
dian te d e o p o rtu n id a d es d e matar Saul, re a si m e s m o e se c o lo c o u e m p rim eiro lugar.
cusou-se a to c a r o u n gid o d e D eu s e a c o ­ "Tu salvas o p o v o hum ilde, mas, c o m um
m e te r h o m icíd io . N ã o há e v id ê n c ia algum a la n c e d e vista, ab ates os altivos" (v. 28). A n a
d e qu e, durante seus "a n o s d e batalha", D avi to c o u nesse tem a im p o rta n te em seu c â n tico
ten h a s id o lad rã o, a d ú lte ro ou q u e d e s s e a o S en h o r (1 Sm 2:3, 7,8). Q u a n d o c o m e ­
falso testem u n h o con tra o u tros (na v erd a d e, çou a reinar, Saul "s e sobressaía d e to d o o
fora m Saul e seus h o m e n s q u e m en tira m p o v o d o o m b ro para cim a " (1 Sm 1 0:23 ,24 ),
s o b re D avi). Foi um h o m e m g e n e ro s o , q u e mas, no final d a vida, caiu c o m o rosto em
n ão a lim e n to u a c o b iç a e m seu c o r a ç ã o . terra na casa d e um a fe itic e ira (2 8 :2 0 ) e,
N ã o s a b em o s c o m o D avi gu ardou o sába­ d e p o is , caiu s o b r e a e s p a d a , c o m e t e n d o
d o e n q u a n to estava lo n g e d a c o m u n id a d e suicídio no c a m p o d e batalha (31:1-6). "A q u e ­
d a aliança, mas n ão há m o tiv o algu m para le, pois, q u e pen sa estar em pé veja que não
crer q u e ten h a q u e b ra d o o qu arto m and a­ c a ia " (1 C o 10:12).
m en to. M e d id o d e a c o rd o c o m os p a râ m e­ D avi prostrou-se e m subm issão, e o S e­
tros d e justiça da lei, D avi foi um h o m e m d e nh or o exaltou e m honra. Saul exa ltou a si
m ãos limpas e d e c o r a ç ã o puro (SI 24:3-6) e m e s m o e a c a b o u c a in d o c o m o rosto em
re c e b e u sua re c o m p e n s a d o Senhor. terra e m h um ilhação.
A fidelidade do Senhor (vv. 26-28). O D eu s é s em p re fiel a seu caráter e a sua
S en h o r n u n ca vai c o n tra os p ró p rio s atri­ aliança. E essen cial c o n h e c e r o caráter d e
b u to s . D e u s s e m p r e trata as p e s s o a s d e D eus, a fim d e sab er e d e fa z e r a v o n ta d e
a c o rd o c o m suas atitudes e a çõ es. D avi fo i d e le e d e agradá-lo. D avi c o n h e c ia a aliança
m is e ric o rd io s o para c o m Saul e p o u p o u a d e D eus, p orta n to en ten d ia o q u e D eu s es­
vid a d e le em , p e lo m en os, duas o ca siõ e s, e perava d ele. O caráter e a aliança d e D eus
o S en h or fo i m is erico rd io so para c o m Davi. são os alicerces para as prom essas d e Deus.
"B em -a ven tu ra d o s os m is erico rd io so s , p o r­ Se ign o rarm o s seu caráter e aliança, jam ais
q u e alcan çarã o m is ericó rd ia " (M t 5:7). D avi c o n s e g u ire m o s nos ap rop riar d e suas p ro ­
foi fiel a o Senhor, e o S en h o r fo i fiel a ele. m essas.
D avi fo i ju sto e s in c e ro e m seu s e r v iç o a
D eus. N ã o fo i p e rfe ito - n in gu ém aqui na 3. O S e n h o r c a p a c ito u a D a v i
terra é - , m as fo i ir re p re e n s ív e l e m suas (2 S m 2 2 :2 9 - 4 3 )
m o tiv a ç õ e s e le a ld a d e a o S en h or. N e s s e N e sta estro fe d e seu cân tico, D avi olh a para
sen tid o, seu c o r a ç ã o era lim p o: "B em -aven - trás e se lem b ra d e c o m o o S en h or o aju­
turados os lim p os d e c o ra ç ã o , p o rq u e v e rã o d ou durante os an os d ifíceis d e exílio.
a D e u s " (M t 5:8). O Sen h o r ilu m in o u a D a vi (v. 29). A
A o c o n trá rio d e Saul, D avi n ão fo i p e r­ im a g e m d e um a lâ m p a d a a c e s a p o d e ser
v e r s o e m seu c o r a ç ã o , m as se su jeito u à um a re fe rê n cia à b o n d a d e d e D eu s a o m an­
v o n ta d e d e D eu s (v. 2 7 ). A s egu n d a p arte ter v iv o seu p o v o (Jó 1 8:5, 6; 21:1 7). A v id a
d e s s e v e r s íc u lo p o d e s er tr a d u z id a p o r: d e D avi estava s em p re e m p erigo, mas o Se­
" c o m o d e s o n e s to , astu to te m ostras", o q u e nhor o p reservo u e supriu tod as as suas n e­
nos lem b ra d e q u e ter fé é v iv e r sem tram ar c e s s id a d e s . P o r é m , u m a lâ m p a d a a c e s s a
n em in ven tar d escu lp a s, duas práticas nas ta m b ém se refere a o rein ad o d e um m o n ar­
qu ais Saul se d es ta ca va . O te rm o h eb ra ic o ca. O s h o m en s d e D avi tem ia m qu e, um dia,
tr a d u z id o p o r " p e r v e r s o " , "p e tu la n te " ou fo s s e m o rto na batalha e q u e a "lâ m p a d a d e
370 2 SA M U FL 22

Israel" se a p a g a s s e (2 Sm 2 1 :1 7 ). M e s m o a ten ç ã o . D avi s em p re se viu c o m o um sim­


d e p o is q u e D avi m orreu, o S en h or fo i fiel a ples pastor israelita, sem q u a lq u e r p o s iç ã o
sua p ro m essa na aliança e m a n tev e a cesa a e sp ec ia l e m Israel (1 Sm 18:18, 23), mas o
lâm pada d e D avi a o p reservar sua dinastia Sen h or "in clin ou -se" para e n g ra n d ec ê-lo . Fez
(1 Rs 1 1 :36; 15:4; 2 Rs 8 :1 9; 2 Cr 2 1 :7; SI d e D avi um gra n de gu erreiro e lhe deu um
1 32 :1 7 ). gra n d e n o m e (2 Sm 7:23), e Davi re c o n h e ­
D eu s ta m b é m ilum inou D avi d e outra ceu essa m isericórd ia in ex p licá vel d e Deus.
m aneira, p ois lhe re ve lo u sua v o n ta d e p o r Seu m a ior d e s e jo , p o rém , era e n g ra n d e c e r
m e io d o uso d o Urim e d o Tumim. Saul to ­ o n o m e d e Jeová dian te das n a ç õ es (2 Sm
m ou as p róprias d ec isõ e s, mas D avi buscou 7:18-29).
o S enhor . N os dias som b rio s d o exílio, D avi A c o n d e s c e n d ê n c ia b o n d o s a d e D eu s é
p ô d e d ize r: " O S enhor é a m inha luz e a um te m a muitas v e z e s d e ix a d o d e lad o p elo
m inha salvação; d e q u em terei m e d o ? O S e- p o v o d e D eus. Assim c o m o f e z c o m Davi,
NnOR é a fo r ta le z a da m inha vida; a q u em D eu s Pai digna-se a trabalhar e m nossa vida
(SI 27:1).
te m e re i? "2 a fim d e nos c ap acitar para a q u ilo q u e e s c o ­
O Senhor deu poder a Davi (vv. 30-35). lheu para nós (v er ta m b ém Is 57:1 5), e Deus
O retrato d essa p a ssa gem m ostra um gu er­ Filho, sem dúvida, se hum ilhou p o r nós quan­
reiro v a le n te q u e n ão d e ix a c o is a a lgu m a d o v e io à terra c o m o s e rv o e c o m o sacrifício
im p ed i-lo d e alcançar a vitória. D eu s d eu p o ­ p e lo p e c a d o (Fp 2:5 -11 ). O S an to Espírito
d er a Davi para q u e en fren tasse o in im igo a c e ito u vir à terra e v iv e r c o m o p o v o d e
sem m e d o , c o rre n d o e m m e io ao s sold a d o s D eu s! A o olh ar para trás, para os an os difí­
e a suas barricadas e, até m e sm o, escalan ­ ceis n o exílio, D avi n ão viu a "s e v e rid a d e "
d o muralhas para to m a r um a c id a d e . O ca­ d e D eus, mas sim sua brandura. Viu "b o n ­
m in h o d o S en h o r é p e rfe ito (v. 3 1 ), e e le d a d e e m is ericó rd ia " o s eg u in d o (Sl 23:6,.
torn ou p e rfe ito o ca m in h o d e D avi (v. 33), O s e rv o d a p a rá b o la q u e c h a m o u seu se­
p ois c o n fio u n o Senhor. D eu s p ro te g e u Davi nhor d e "h o m e m s e v e r o " (M t 2 5 :2 4 ) certa­
na batalha, p o is e le c reu in te ira m e n te na m e n te n ão v ia as coisas d a m e s m a form a
Palavra p erfe ita d e Deus. q u e o rei D avi!
O c o r p o d e D avi p e rte n c ia a o S en h o r P o d e m o s n ão gostar das d e s c riç õ e s qu e
(v er Rm 12:1), q u e usou os b raços, os pés e D avi fa z d e suas vitórias, mas d e v e m o s nos
as m ã os d e seu s ervo (vv. 33-35) para v e n ­ lem brar d e q u e lutava as batalhas d o Senhor.
c er o inim igo. D avi era um g u erreiro d e gran­ S e e s s a s n a ç õ e s t iv e s s e m d erro ta d o e
d e ta len to, m as fo i o p o d e r d a u n ç ã o d o d estru íd o Israel, o q u e teria a c o n te c id o c o m
S en h or q u e o cap acito u a ser v ito rio s o no o gra n d e p lan o d e D eu s para a s a lvação d o
c a m p o d e batalha. C o m o um a c o rç a ligeira, m u ndo? N ã o tería m os a Bíblia n em um Sal­
c o n s e g u iu a lc a n ç a r as alturas, e seus pés v a d or! A o se reb ela rem con tra o S en h or e
n ã o vacilara m (v. 3 7 ). D eu s fo r ta le c e u os a d o rarem íd olo s, essas n a ç õ e s pagãs p e c a ­
b ra ç o s d e D avi d e m o d o q u e p u d es se v e r­ ram d e m o d o d e lib e r a d o e in d e s cu lp á ve l
gar um a rco d e b r o n z e e atirar flec h a s c o m (R m 1 :1 8ss; Js 2). D uran te m uitos anos, o
g ra n d e p od e r. N a fo r ç a d o Senhor, D avi foi S en h or fora p a c ien te c o m elas (G n 15:16.
in ven cível. mas essas n a ç õ e s rejeitaram sua graça. Da\i
O Senhor engrandeceu a Davi (vv. 36- persegu iu os in im igos q u a n d o tentaram fugir
43). O S en h o r a lo n go u o c a m in h o d e D avi (2 Sm 22:38 , 4 1 ); d errotou -os, aniquilou-os
(v. 3 7 ) e levo u seu s erv o a um lugar e s p a ç o ­ e m o eu -o s c o m o o p ó da terra! Tornaram-se
so (v. 20), um a v e rd a d e m aravilh osa sob re a c o m o lam a nas ruas.
qu al fa la m o s a n te rio rm e n te . A d e c la r a ç ã o
extraordinária: "a tua c le m ê n c ia m e en gran ­ 4. O S e n h o r estabeleceu a D a v i
d e c e u " (2 Sm 2 2 :3 6 ) revela c o m o D avi c o n ­ (2 S m 22:44-51)
s id e ra v a a b s o lu ta m e n t e a d m irá v e l q u e o U m a coisa é lutar as guerras e derrotar os ini­
D eu s T o d o -P o d e r o s o se d ign asse a lhe dar m igos e outra b em diferente é manter e s s --
2 SA M U EL 22 371

n a ç õ es s o b c on tro le. D avi n ão ap en a s p re ­ a d m o e s ta ç ã o ao s cristãos d a igreja d e R om a


cisou unificar e liderar as d o z e tribos d e Is­ para q u e r e c e b e s s e m uns a o s ou tro s e p a­
rael, c o m o ta m b ém te v e d e lidar c o m o as rassem d e ju lg a r uns a o s ou tros. O s cristãos
n a ç õ es s o b o d o m ín io d e Israel. g e n tio s e m R om a d esfru ta va m d e lib e rd a d e
O Senhor entronizou a Davi (vv. 44-46). em Cristo, e n q u a n to m u itos cristãos ju d eu s
A s n a ç õ e s g e n tia s n ã o q u e r ia m um rei ain d a vivia m s o b o ju g o da lei d e M o is é s.
o c u p a n d o o tro n o d e Israel, e s p e c ia lm e n te P au lo ressalta q u e C risto v e io para m inis­
um estrategista brilhante, gu erreiro valen te trar ta n to a ju d e u s q u a n to a g e n tio s , a o
e líder q u e r id o c o m o D avi. Porém , D eus não cu m p rir as p ro m es s a s d e D e u s aos ju d eu s
a p e n a s e s t a b e le c e u D avi em seu tr o n o , e a o m o rre r p e lo p o v o d e Israel, b e m c o m o
c o m o ta m b é m lhe p ro m e te u um a dinastia p e lo s p o v o s d e outras n a ç õ es . D e s d e o iní­
q u e jam ais teria fim . O S en h or p ro m eteu a c io d e Israel, q u a n d o D eus c h a m o u A b ra ã o
D avi um tron o e cum priu a prom essa. A ju ­ e Sara, era in te n ç ã o d o S en h o r incluir os
dou D avi a unir o p ró p rio p o v o e a lidar c o m g e n tio s e m seu p la n o d e s a lv a ç ã o p ela gra­
aq u eles ain da leais a Saul. A palavra "estran ­ ç a (G n 1 2 :1 -3 ; Lc 2 :2 9 - 3 2 ; Jo 4 :2 2 ; Ef
ge iro s", nos versícu lo s 45 e 46, refere-se às 2:11ss).
n a ç õ es gentias. A s vitórias d o S en h or assus­ A s eq ü ê n c ia e m R om an o s 15:8-12 é sig­
taram esses p o v o s e o s fize ra m fu gir para n ific a tiv a . Jesus c o n fir m o u as p ro m e s s a s
seus e sc o n d e rijo s. U m dia, acab ariam sain­ feitas a Israel (v. 8), e Israel levou a m en sa­
d o d e suas frágeis fo rta le za s e se sujeitariam g e m d e s a lvação ao s gen tio s (v. 9). Tanto os
a Davi. cristãos ju d eu s q u a n to os cristãos gen tio s,
O Senhor exaltou a Davi (vv. 47-49). O c o m o um só c o r p o , lo u vam ju n tos a o S e­
grito d e lou vor d e D avi: "V iv e o S enhor " (v . nhor (v. 10), e tod as as n a ç õ es p o d e m ouvir
4 7 ) era seu testem u n h o claro aos p o v o s sob as b oa s novas d o e v a n g e lh o (v. 11). Q u a n ­
o d o m ín io d e Israel d e q u e os íd o lo s deles d o Jesus voltar, reinará ta n to s o b re ju d eu s
não p od eriam salvá-los n em p rotegê-los (ver qu an to s o b re ge n tio s e m seu rein o g lo rio s o
SI 115). S o m en te Jeová, o D eus d e Israel, é o (v. 12). S em p re fe z p arte d o p lan o d e D eus
v erd a d eiro D eu s vivo , e as vitórias e entroni­ q u e a n a ç ã o d e Israel serv is se d e v e íc u lo
z a ç ã o d e D avi p rova ram q u e D eu s estava para levar a salvação a o m u n d o p erd id o. " A o
c o m ele. Davi sem p re te v e o c u id ad o d e exal­ S enhor p e rte n c e a s a lv a ç ã o !" (Jn 2 :9). " A sal­
tar o Senhor, não a si m e sm o (M t 6:33; 1 Sm v a ç ã o v e m d os ju d eu s" (Jo 4:22).
2:3 0). Se e n g ra n d e c e r m o s n o ss o n o m e ou O s ge n tio s d e v e m m uito aos ju d eu s (Rm
nossos feitos, p ec a re m o s , mas se o S enhor 1 5 :27 ), e os cristãos ge n tio s d e v e m p agar
nos e n g ra n d ec e, glorificará seu n o m e (Js 3:7). essa dívida. P recisam m ostrar o d e v id o va lo r
O Senhor elegeu a Davi (vv. 50, 51). O a Israel o ra n d o p o r sua sa lva çã o (R m 9:1-5;
fato d e D eu s ter e s c o lh id o D avi para ser rei 1 0 :1 ) e p e la p a z d e Jerusalém (SI 1 2 2 :6 ),
e d e ter fe ito c o m e le um a aliança dinástica te s te m u n h a n d o c o m a m or q u a n d o D eus
é o fu n d a m e n to para tu do o q u e D eu s fe z o fe r e c e o p o rtu n id a d es (Rm 1 :1 6) e c o m p a r­
p o r seu servo. Israel foi c h a m a d o a testem u ­ tilh ando c o m eles q u a n d o surgem n ecessi­
nhar às n a çõ es, e era re s p o n sa b ilid a d e d e d a d es m ateriais (R m 15:27 ).
D a v i c o n s tru ir um re in o q u e h o n ra s s e o A o re ca p itu la r e s s e salm o, p e r c e b e -s e
n o m e d o S en h or. In fe liz m e n te , e m d e c o r ­ o q u e to c a v a m ais p ro fu n d a m e n te o c o r a ­
rên cia d e seu p e c a d o c o m Bate-Seba, D avi ç ã o d e D avi. Ele viu e m e n c io n o u D eu s p e lo
trou x e o p r ó b r io a o n o m e d e D eu s (2 Sm m enos d e z e n o v e v e z e s . V iu D e u s nas
12:14). A in d a assim, D avi era o rei e o ungi­ c oisas d a vida, ta n to nas o c a s iõ e s a le g re s
d o d e D eus, e a alian ça en tre D eu s e D avi q u a n to nas te m p e s ta d e s . Viu o p r o p ó s ito
p e rm a n e c e até h o je e se cum prirá, fin a lm en ­ d e D eu s e m sua v id a e e m Israel c o m o na­
te, c o m Jesus Cristo e m seu reino. ç ã o , re g o z ija n d o -s e p o r ser p arte d e s s e p ro ­
Paulo citou o versícu lo 50, e m R om an os p ó s ito . P o rém , o m ais e m p o lg a n te é qu e,
15:9, c o m o parte d o e n c e rra m e n to d e sua ap esa r d e to d o s os p ro b le m a s p e lo s quais
372 2 SA M U EL 22

D avi passou, ain da viu a m ã o b o n d o s a d e (SI 4:1), p rep a ra n d o -o para dar passos m a io ­
D eu s m o ld a n d o sua vid a e c u m p rin d o seus res (2 Sm 2 2 :3 7 ) no lugar e s p a ç o s o q u e Deus
p ro p ó s ito s (v. 35). O s p ro b le m a s c a d a v e z havia p rep a ra d o para e le (2 Sm 2 2 :2 0 ) - uma
m a io res (SI 2 5 :1 7 ) " e n g r a n d e c e r a m " D avi e x p e riê n c ia q u e ta m b ém p o d e m o s ter.

1. Em Ezequiel 1, o profeta viu o trono glorioso de Deus numa plataforma esplendorosa de cristal, com um querubim em cada
canío, como "rodas" carregando o trono de um lugar para o outro. A imagem do trono de Deus como um carro nos lembra
de que ele pode descer do céu e ajudar seu povo e de que nada é capaz de impedi-lo.
2. A luz é usada com freqüência nas Escrituras como imagem de Deus (SI 84:11; Is 60:19, 20; Ez 1:4, 27; Dn 2:22; Mq 7:8:
Ml 4:2; Lc 2:32; Jo 8:12; 1 Tm 6:16; 1 jo 1:5; Ap 21:23).
D eu s tê-lo c h a m a d o para tornar-se rei d e Is­
12 rael, d e liderar o p o v o d e D eus, d e lutar as
batalhas d e D eu s e até m e s m o d e ajudar a
esc re ve r a Palavra d e D eus. Foi p o r m e io da
A s M e m ó r ia s e o s lin h agem d e D avi q u e D eu s trou xe a o m un­

E r r o s de D avi d o o M essias. D o p o n to d e vista h um ano,


D avi era um "jo ã o -n in g u é m ", um pastor, o
caçu la d o s o ito filhos d e um a fam ília israelita
2 S am u el 23 - 2 4
com u m . N o entan to, D eu s o e sc o lh e u e o
( V e r ta m b é m 1 C r ô n i c a s 11: 10- criou para tornar-se o m a ior rei d e Israel. O
41; 2 1 :1 -2 6 ) S en h or havia d a d o a Davi m ãos h abilidosas
e um c o r a ç ã o ín te g ro (SI 78:70-72), prepa-

A
m o rte d o rei D avi n ão é relatada em rando-o para c o n h e c e r sua v o n ta d e. C o m o
2 Sam uel, mas sim e m 1 Reis 2:1-12.filho d e jessé, D avi era m e m b ro da tribo real
P o r é m , 2 S a m u el 23 e 2 4 re gis tra m seu d e Judá, o q u e n ão era o c a s o d e seu an te­
últim o salm o, os n o m es d e seus m a iores sol­ cessor, Saul (v e r C n 4 9 :10 ).
d a d os e o triste relato d e seu p e c a d o a o rea­ D a v i n ã o re a liz o u q u a lq u e r fo r m a d e
lizar um c e n s o d o p o v o . O s cap ítu los 21 a a u to p r o m o ç ã o a fim d e alc a n ç a r a g ra n d e ­
24 serv e m d e "a p ê n d ic e " a 2 Sam uel e, ao za ; fo i o S en h o r q u e m o e s c o lh e u e q u e o
q u e p a re ce , con cen tram -se nos a s p ec to s di­ e le v o u a o tr o n o (D t 1 7:15 ). O S en h o r pas­
vinos e hum an os da liderança. A s d e c is õ e s sou trinta an os p re p a ra n d o D avi, p rim eiro
d e um líder p o d e m ter sérias con s eq ü ê n cia s, c o m as o ve lh a s n o pasto, d e p o is c o m Saul
o q u e é c o m p r o v a d o p elo s p e c a d o s d e Saul n o a c a m p a m e n t o d o e x é r c ito e, p o r fim ,
cap. 2 1 ) e D avi (cap . 2 4 ). O s líd eres d ev em c o m o s p ró p rio s h o m e n s v a le n te s n o d e ­
d e p e n d e r d o S en h o r e lhe dar a glória, c o m o serto d a Judéia. O s gra n d es líd eres são trei­
d eclara m os d ois salm os d e D avi. A lé m dis­ n ad o s nos b a stid ores antes d e c o m e ç a r e m
so, nen h um líd er é c a p a z d e fa z e r to d o o a tra b a lh a r e m p ú b lic o . N a s p a la vra s d e
trabalho s o zin h o , c o m o in dica a lista d os va­ G o e t h e : " O s ta len tos são m ais d e s e n v o lv i­
lentes d e D avi. Em 2 Sam uel 23 a 24, são d o s na s o lid ã o , e o cará ter é m e lh o r fo r m a ­
a p resen ta d o s três retratos d e D avi q u e ilus­ d o nos v a g a lh õ e s te m p es tu o so s d o m u n d o ".
tram a g ra n d e za e o caráter h u m an o d esse D avi tinha as duas coisas. H avia sido fiel em
■íder. sua v id a p articu lar c o m o s erv o , d e m o d o
q u e D eu s p ô d e e le v á -lo p u b lica m en te, a fim
1 . D a v i, o c a n t o r in s p ira d o d e q u e se to r n a s s e um g o v e r n a n t e (M t
(2 Sm 23:1-7) 2 5 :2 1 ). O S en h o r segu iu e s s e m e s m o p ro ­
P elo m e n o s seten ta e três salm os d o Livro c e d im e n t o ao p r e p a r a r M o is é s , J o s u é ,
d e S alm os são atrib u íd os a D avi, mas seu N e e m ia s , o s a p ó s t o lo s e a té seu p ró p rio
últim o salm o en con tra-se s o m e n te aqui em Filho (Fp 2:5-11; H b 5:8). O Dr. D. M a rtyn
2 Sam uel 23. A o ra ç ã o "as últimas palavras Lloyd-Jones c o s tu m a v a d ize r: "É triste qu a n ­
d e D a v i" sign ifica "suas últimas palavras es­ d o um jo v e m a lc a n ç a o s u c es so antes d e
critas inspiradas p e lo S en h o r". É p ossível q u e estar p re p a ra d o para e le ". D avi estava p re ­
o salm o ten h a sido escrito nos dias finais d e p a ra d o para o tron o .
sua vida, p o u c o antes d e D avi m orrer. U m a D e u s d á p o d e r à q u e le s q u e cham a, e
v e z q u e o te m a d essa c o m p o s iç ã o é a lid e­ ungiu D avi c o m seu Espírito (1 Sm 16:12,
rança p ied o sa , ta lv e z D avi ten h a escrito es­ 13). C o m o d izia o Dr. A. W . T o z e r : "N u n c a
sas p alavras e s p e c ia lm e n te p ara S a lo m ã o , siga um líder antes d e v e r o ó le o da u n ção
mas têm m uito a ensinar a to d o o p o v o d e em sua testa", o q u e e xp lica p o r q u e tantos
D eu s h oje. h o m en s c o m p e te n te s procu raram Davi e se
O s privilégios da liderança (vv. 1, 2). juntaram a seu gru po. É p rec is o mais d o q u e
Davi nunca d eix o u d e se adm irar d o fato d e ta len to e trein am en to para ser um v erd a d e iro
374 2 SA M U EL 23 - 24

líder e fic a z e ter a h ab ilid a d e d e recrutar e d a área em presarial d e h o je c o m p a ra m líde­


d e treinar outros líderes. Jesus lem brou a seus res e fic a z e s c o m pastores d e ovelh as sensí­
discípulos, e a nós ta m b ém : "S e m m im nada veis às n ec e ss id a d e s d o re b a n h o .1
p o d e is fa z e r " (Jo 15:5). O s líderes religio so s D avi usou um a b ela m etá fo ra para retra­
qu e segu em os p rin c íp io s d a q u ilo q u e o tar o trabalh o d e um líder: a chu va e o sol,
m u n d o ch a m a d e "s u c e s s o " raram en te rea­ q u e juntos p ro d u ze m frutos p ro ve ito s o s em
lizam a lg o d u ra d o u ro e q u e glo rifica a Deus. v e z d e e sp in h o s d o lo r o s o s (vv. 4-7). D avi
"A q u e le , p orém , q u e fa z a v o n ta d e d e D eus e x e m p lific o u e s s e p rin c íp io e m sua vida.
p e rm a n e c e e te rn a m e n te " (1 Jo 2:1 7). É b o m p ois sua a scen sã o a o tro n o sign ificou a au­
ser instruído p elo s h om en s, mas é ain da mais rora d e um n o v o d ia para a n a ç ã o d e Israel.
im p o rta n te ser trein a d o p e lo Senhor. " N o s ­ N e s s e sen tid o, e le n os lem b ra d o q u e o c o r ­
so S en h or passou trinta an os p rep aran do-se reu q u a n d o Jesus v e io à terra (v e r SI 72:5-7-
para três anos d e s e rv iç o ", e sc re ve u O s w a ld Is 9:2; 5 8:8; 60:1, 19; M l 4:1-3; M t 4:13-16;
C h am b ers. " O mais típ ico, h o je e m dia, é Lc 2 :2 9 -3 2 ). C o m a c o r o a ç ã o d e D avi, as
ter três horas d e p rep a ra ç ã o para trinta anos te m p es ta d e s q u e Saul havia ca u sa d o na ter­
d e s e rv iç o ". ra c h ega ra m a o fim , e a luz d o sem b lan te d e
P orém , o Espírito n ão ap en a s c o n c e d e u D eu s passou a brilhar s o b re seu p o v o . S ob a
p o d e r a Davi para a batalha, mas ta m b ém o lid eran ça d e D avi h averia um a c o lh e ita d e
inspirou a e sc re ve r b elo s salm os q u e c o n ti­ b ê n ç ã o s d o Senhor.
nuam m inistrando a n o sso c o ra ç ã o . D a m os C o m a ajuda d e D eus, os líderes d ev em
v a lo r ain d a m a io r a esses salm o s q u a n d o criar um a m b ie n te no qual seus c o la b o r a d o ­
p en sam o s nas p ro v a ç õ e s q u e D avi d e v e ter res sejam c a p a ze s d e c res c er e d e p rodu zir
s u p orta d o a fim d e nos o fe r e c e r suas pala­ frutos. O m inistério e n v o lv e ta n to a luz d o
vras. D avi d eix o u claro q u e n ão estava es­ sol qu an to a chuva, tan to dias claros qu an to
c re v e n d o ap en a s p o e s ia religiosa, mas sim n ublados, mas o m inistério d e um líder pie­
a Palavra d e Deus. P ed ro c h a m o u D avi d e d o s o p ro d u zirá chuvas leves e vivifica d o ra s
"p r o fe t a " (A t 2 :3 0 ) e, e m P en tecostes, citou e n ã o te m p e s ta d e s d estru id o ra s. C o m o é
as palavras d e D avi s o b re a ressu rreição e a grad ável segu ir um líder q u e fa z aflorar o
a s c en s ã o d o M essias (A t 2:24-36). A o ler os q u e há d e m elh or e m nós e q u e nos ajuda a
Salm os, lê-se a Palavra d e D eu s e a p ren d e- p ro d u zir frutos para a glória d e D eu s! Líde­
se s o b re o Filho d e Deus. res não espirituais p ro d u ze m esp in h os qu e
As responsabilidades da liderança (vv. irritam o p o v o e q u e dificultam seu p rogres­
3-7). D eu s n ão trein ou D avi ap en a s para exi­ so (vv. 6, 7).
bi-lo, mas ta m b ém para q u e realizasse um Em seu cân tico , D avi fo i além d os prin­
trabalh o im p orta n te, e o m e s m o se ap lica a c íp io s d e lid era n ça e c e le b r o u a v in d a d o
to d o s os v e rd a d e iro s líderes. D avi d e v e ria M essias (v. 5). M e n c io n o u a alian ça q u e o
go v ern a r s o b re o p o v o d e D eus, "re b a n h o S en h or f e z c o m e le (2 Sm 7), a qual lhe ga­
d o seu p a s to re io " (SI 1 0 0 :3 ), um a re s p o n ­ rantia um a dinastia e um tro n o para sem pre,
sab ilid a d e assustadora. Trata-se d e um a in­ um a aliança q u e se cum priu e m Jesus Cristo
c u m b ê n c ia q u e e x ig e in tegrid ad e ("ju stiça " (L c 1:32, 33, 68-79). P a re ce mais apropria­
= re tid ã o ) e atitu de subm issa a o S en h or (" t e ­ d o ler as d e c la ra ç õ e s n o vers íc u lo 5 c o m o
m o r d o S e n h o r "). S em a ju s tiç a e s em o perguntas: " N ã o está assim c o m D e u s a mi­
te m o r d o Senhor, um líder torna-se um dita­ nha casa? N ã o e s ta b e le c e u , p ois, c o m ig o
d o r e abusa d o p o v o d e D eus, to c a n d o -o um a aliança eterna, e m tu d o b em defin ida
fe ito g a d o em v e z d e c o n d u zi-lo c o m o o v e ­ e segu ra?" A prim eira p ergu n ta n ão indica
lhas. D avi foi um m o n a rc a q u e lid erou na q u e to d o s os filhos d e D avi fo s s em p ie d o ­
q u a lid a d e d e um s erv o q u e go vern a , e sua sos, p ois s a b em o s q u e esse n ão era o caso.
gran de p re o c u p a ç ã o era c o m o bem -estar d o A p e n a s d iz q u e a casa (d in a stia ) d e Da\i
p o v o (2 Sm 2 4:17). Para mim, é um grande estava segura, p ois co n ta v a c o m as p rom es­
â n im o v er q u e até m e s m o os especialistas sas da aliança d e D eus. N a d a p o d e ria mudar
2 SA M U EL 23 - 24 375

essa alia n ça , e te r n a m e n te g a ra n tid a p e lo E leazar (vv. 9, 1 0) era d a trib o d e Ben ja­


caráter d e Deus. m im (1 C r 8 :4 ) e lutou c o n tra os filisteus a o
N o te x to original, D avi usou, mais uma la d o d e D avi, p ro v a v e lm e n te e m Pas-D am im
v ez , a im a gem d o fruto, no versículo 5: " N ã o (1 Sm 1 7:1; 1 Cr 11:12, 13). E nquanto m ui­
m e fará ele prosperar [frutificar] to d a a minha tos d o s s o ld a d o s israelitas se retiravam da
salvação e to d a a minha esp eran ça ?" O d e ­ luta, e le p e r m a n e c e u e m seu lugar e lutou
sejo d e Davi era q u e D eus cum prisse sua pro­ até sua e s p a d a fic a r " p e g a d a " à m ã o . O
messa e enviasse o M essias, q u e nasceria d os S en h o r h o n rou a fé e a c o r a g e m d e D avi e
d escen d en tes d e Davi. Em term os históricos, d e E leazar e d eu a Israel um a g ra n d e v itó ­
o tron o d e Judá c h e g o u a o fim e m 586 a.C. ria, d e p o is d a qu al o s s o ld a d o s v o lta ra m
c o m o rein ado d e Z ed equ ias, mas não foi o p ara o c a m p o d e b a ta lh a e to m a ra m os
fim da fam ília d e D avi ou d e Israel c o m o na­ d e s p o jo s d o s in im igo s m o rtos. Assim c o m o
ção. Em sua provid ên cia, o Senhor preservou D a v i, E lea za r n ã o se m o s tro u e g o ís t a na
Israel e a s e m e n te d e D avi para q u e Jesus h ora d e d ivid ir os d e s p o jo s d a batalha, p ois
Cristo p u d esse nascer e m B elém , a C id a d e a v itó ria v iera d o S en h o r (1 Sm 3 0 :2 1 -2 5 ).
d e Davi. A n ação era p eq u e n a e fraca, mas o O te rc e ir o "v a le n te " fo i Sam a (vv. 11, 12),
M essias v e io m e sm o assim! " D o tro n c o d e ta m b é m u sad o p e lo S en h o r para tra ze r a
Jessé sairá um reben to, e das suas raízes, um v itó ria e m P as-D am im (1 Cr 1 1 :1 3, 14). M as
r e n o v o " (Is 11:1; v e r 4:2; 6:13; e 53:2). Po­ p o r q u e arriscar a v id a a fim d e d e fe n d e r
rém, um dia, os p erverso s da terra serão ar­ um c a m p o d e lentilhas ou c ev a d a ? A terra
rancados c o m o espinhos e q u eim a d os (vv. 6, p e rte n c ia a o S en h o r (Lv 2 5 :2 3 ) e havia sido
7; v e r M t 3:10, 12; 13:40-42). d a d a ao s israelitas a fim d e q u e a usassem
p ara a gló ria d e D e u s (Lv 1 8 :2 4 -3 0 ). S am a
2. D a v i, um líd e r de ta le n to n ã o q u e r ia q u e o s filisteu s c o n tr o la s s e m
(2 S m 23:8-38; 1 C r 11:10-47) a q u ilo q u e p e rte n c ia a Jeová, p ois os israe­
N e sta passagem , são re la c io n a d o s os n o m es litas eram m o r d o m o s da terra d e D eu s. Res­
e alguns feito s d o s h o m en s mais im p orta n ­ p eita r a terra s ign ificava honrar a o S en h o r
tes q u e segu iram D avi e q u e ficaram a seu e sua alia n ça c o m Israel.
lad o durante os anos d ifíceis d o e x ílio e ao O segundo gru p o de três " valentes"
lo n g o d e seu reinado. (vv. 13-17; 1 C r 11:15-19). O s n o m es d e s ­
O s três prim eiro s " valentes" de D avi ses três n ão são citad os, mas fa z e m p arte
(2 Sm 23:8-12; 1 C r 11:10-14). O prim eiro d o s "trin ta " re la c io n a d o s nos versícu lo s 24
c ita d o é o d e J osebe-B assebete, ta m b ém ch a­ e 29. Isso in dica q u e n ã o eram o s três h o ­
m a d o d e J a s o b e ã o (v. 8; 1 C r 1 1 :1 1 ). Era m en s cita d o s a n terio rm en te. T od as as p es ­
c h e fe d os cap itães d o e x é rc ito d e Davi, fa­ soas são criadas iguais dian te d e D eu s e da
m o s o p o r ter m a ta d o o ito c e n to s s o ld a d o s lei, mas n em to d o s são iguais e m term o s d e
in im igos " d e um a v e z " . Em 1 C rôn icas 11:11, ta len tos e d e h abilidades; alguns têm mais
a Palavra d iz q u e e le m atou tr e z e n to s h o ­ d o n s e o p o rtu n id a d e s d o q u e outros. Porém ,
m ens. C o m o o b s e rv a m o s an terio rm en te, a o fa to d e n ão c o n s eg u irm o s realizar tantas
transm issão d e n ú m eros d e um m anuscrito coisas qu a n to "o s três p rim e iro s" n ão d e v e
para o u tro p e lo s cop ista s causava, p o r v e ­ nos im p ed ir d e fa z e r n osso m e lh o r e, q u em
zes, essas p eq u e n a s diferen ças. Será q u e o sabe, form a r um "s e g u n d o g ru p o d e três".
te m o r d o S en h or f e z to d o s esses h o m en s se D eu s n ão nos m e d e d e a c o rd o c o m aqu ilo
lan çarem d e um p e n h a s c o ou será q u e a q u e aju dou outros a realizar, mas d e a c o rd o
c o r a g e m d e J a s o b e ã o inspirou ou tros a en ­ c o m o q u e d e s e ja q u e fa ç a m o s c o m as apti­
trarem na batalha d e m o d o q u e re c e b e u c ré ­ d õ e s e o p o rtu n id a d e s q u e c o n c e d e u a nós
dito p ela vitória? O te x to n ão revela c o m o em sua graça.
re a lizo u ess e feito , m as é p o u c o p ro vá ve l O fa to d e D avi estar e s c o n d id o num a
q u e ten h a d a d o c a b o d esses h o m en s um a c a v ern a p ró x im a a B elém in d ica q u e esse
um c o m sua lança. a c o n te c im e n to o c o rr e u e n q u a n to fu gia d e
376 2 SA M U EL 23 - 24

Saul ou lo g o d e p o is q u e foi p ro c la m a d o rei q u e havia cu stad o tu d o à q u e les três hom ens.


e m H e b ro m e os filisteus o atacaram (2 Sm T o d o s os líd eres p recisam segu ir o e x e m p lo
5:17; 1 Cr 14:8). Era te m p o d a colh eita , o d e D avi e m ostrar a seus segu id o re s c o m o
q u e significa q u e n ão havia c h o v id o e qu e d ã o valor a eles e ao s sacrifícios q u e fa zem .
as cisternas estavam vazias. N ã o havia água Jesus entregou -se c o m o sacrifício p o r nós
na c avern a , e D avi te v e s e d e da ág u a d o e ta m b ém c o m o lib a ç ã o (SI 2 2 :1 4 ; Is 53:12
p o ç o e m B elém , d o qual e le costu m ava b e ­ Paulo usou a im a gem da lib a ç ã o para d es­
b er q u a n d o era m en in o . O te x to indica que c re v e r a p ró p ria c o n s a g ra ç ã o a o S en h or ÍFp
D avi falou c o n s ig o m e sm o s o b re a águ a e 2 :1 7 ; 2 T m 4:6). M a d re T eresa costu m ava
n ão deu o rd e m algum a, p o ré m o m a ior d e ­ d ize r: " N ã o s o m o s c a p a z e s d e fa z e r gran­
s e jo d esses três h o m en s era agrad ar seu lí­ d es coisas, mas ap en a s p eq u e n a s coisas c o m
der. Estavam p erto o su ficien te para ou vir as gra n d e a m o r". P orém , fa z e r p e q u e n a s c o i­
palavras sussurradas p o r D avi, foram leais o sas m o tiv a d o s p e lo a m o r a Cristo as trans­
su ficien te para con sid era r o d e s e jo d e le um a fo r m a e m gra n d es re a liz a ç õ e s . Jesus disse
o r d e m e c o r a jo s o s o s u fic ie n te p ara o b e ­ q u e , s e m p r e q u e d e m o n s tr a m o s a m o r e
d e c e r a q u a lq u e r custo. V iaja ram mais d e b o n d a d e e p ro cu ram o s suprir as n ecessida­
d e z o it o qu ilô m etro s, ro m p era m as linhas ini­ d es d e ou tros, d a m o s a n osso S en h or um
m igas e voltaram c o m a água. Q u e e x e m p lo c o p o d e ág u a fresca (M t 2 5:34-40).
e x tra o rd in á rio p ara n o ss o r e la c io n a m e n to D o/s " valentes" esp eciais (vv. 18-23;
c o m n osso C o m a n d a n te e Salvador! 1 C r 11:20-25). Ab isai (vv. 18, 19) era sobri­
O q u e q u er q u e o S en h or c o lo c a s s e nas nho d e D avi e irm ão d e Joabe, c o m a n d a n te
m ã os d e Davi, e le s em p re usava para honrar d o e x é rc ito d e Davi. T a m b ém era irm ão d e
a D eu s e para ajudar seu p o v o - um a funda, A sael, m o rto d e m o d o tra iç o e iro p o r A b n er:
um a e s p a d a , u m a harpa, um c e t r o e até J o a b e e A b isai m a taram A b n er, c a u s a n d o
m e s m o um c o p o d e águ a e essa o ca siã o gra n d e tristeza a Davi (2 Sm 2 - 3). Abisai
n ão foi e x c e ç ã o . A o olh ar para o c o p o , D avi foi um h o m em co ra jo so qu e, nessa passagem
n ão viu água; viu o san gu e d e três h o m en s é e lo g ia d o p o r ter m a tad o tre z e n to s solda­
q u e haviam arriscado a v id a para satisfazer d o s inim igos. P orém , e m algum as oca siõ es,
seu d e s e jo . B eb e r aq u ela águ a seria o m es­ m ostrou ter mais z e lo d o q u e sabedoria. Q uis
m o q u e humilhar to d o s os seus h o m en s e m atar Saul num a n o ite e m q u e estava n o
trivializar o ato d e bravura d a q u ele s três h e­ a c a m p a m e n to d o rei c o m D avi, m as Dav!
róis. Passaria a m e n sa gem d e qu e, na v erd a ­ rejeitou a id éia (1 Sm 26). A lé m disso, o fe re ­
d e, a v id a d ele s n ão era im p o rta n te para seu ceu-se para decap itar Simei p or ter a m ald içoa­
líder. Em v e z disso, D avi tran sform ou a c a ­ d o D avi (2 Sm 16:9-11; 1 9:21). C o m a n d o u
vern a num te m p lo e d erram ou a águ a c o m o o e x é rc ito no c e r c o a R abá (1 0 :1 0 -1 4 ) e sal­
lib ação a o Senhor, c o n fo rm e havia visto os vou a v id a d e D avi durante um a luta c o m
s a c erd o te s fa ze re m n o ta b ern ácu lo . A liba­ um g ig a n te (2 1 :1 5 -1 7 ). A b is a i m a n tev e -se
ç ã o a c o m p a n h a v a a o fe rta d e o u tro sacrifí­ leal a D avi durante a re b e liã o d e A b s a lã o e
cio, c o m o , p or e x e m p lo , um h o locau sto , e fic o u n o c o m a n d o d e um te rç o d o e x é rc ito
n ão costu m ava ser o fe r e c id a d e m o d o in d e­ d e D avi (1 8 :2 , 1 2 )/ T a m b ém lid erou o se­
p en d en te . Era um ato d e c o n s a g ra ç ã o qu e g u n d o g ru p o d e três valen tes e era tid o e n
s im b o lizava a v id a d e um a p es so a d erram a­ alta estim a.
da a s erv iç o d o Senhor. O s três h o m en s en ­ Benaia (vv. 20-23; 1 C r 1 1 :22-25) era um
tregaram a si m e sm o s c o m o sacrifício a D eus h o m e m extrao rd in ário , n a s cid o para ser\i-
para servir a D avi (R m 12:1), d e m o d o q u e no s a c e rd ó c io (1 Cr 2 7 :5 ), mas q u e se tornou
D avi a c re s c e n to u sua o fe r t a à d e le s para s o ld a d o e c o m a n d a n te d a gu ard a pessoa,
mostrar-lhes q u e estava p len a m en te d e a c o r­ d e D avi (2 Sm 8 :1 8 ; 2 0 :2 3 ). Encontram os
d o c o m sua d e v o ç ã o a Jeová. Parafrasean­ na Bíblia sa c erd o te s q u e se tornaram p ro fe ­
d o as palavras d e D avi em 2 Sam uel 24:24, tas, c o m o Jerem ias, E zequ iel e João Batista
e le n ão trataria c o m o se fo s s e nada aqu ilo mas B enaia é o ú n ico s a c e rd o te c ita d o que
2 SA M U EL 23 - 24 377

se to rn o u um s old a d o . Lutou b ravam en te no à m e d id a q u e os h o m en s m orriam e eram


c a m p o d e b ata lh a e p a rticip o u d e alguns substituídos.
c o n flito s interessantes. F. W . B oreh am tem N e s ta lista, os h o m en s foram d ivid id o s
um ó tim o s erm ã o s o b re o e p is ó d io e m qu e e m q u a tro gru p o s: os três v a le n tes (vv. 8-
Benaia m atou um le ã o e n o qual ressalta qu e 12), o s e g u n d o gru p o d e três valen tes (vv.
Benaia d ep aro u -se c o m o p io r d o s in im igos 13-1 7 ),4 d ois líd eres e sp ecia is (vv. 18-23) e
■um le ã o ), no p ior d os lugares (u m a c o v a f "o s trinta" s o ld a d o s extraord in ários (vv. 24-
na p ior das circunstâncias (um dia d e neve)... 3 9 ).5 N o versícu lo 36, trata-se d o n o m e d e
e v e n c e u ! B enaia fo i leal à casa d e D avi e um só h o m e m ("Igal, filh o d e N a tã [q u e era
a p o io u S a lo m ã o q u a n d o este subiu a o tron o filh o] d e Z o b á " ) ou d os n o m es d e d ois h o ­
1 Rs 1 :8 -1 0 ). Q u a n d o J o a b e te n to u p ro ­ m ens ("Igal, filho d e N a tã e o filho d e Z o b á ")?
clam ar A d o n ia s rei, fo i B enaia q u em o e x e ­ C o m e x c e ç ã o d o s três h o m en s q u e trou x e ­
cutou, cu m p rin do, d es se m o d o , a o rd e m d e ram água para Davi, os n o m es d e to d o s os
D avi a S a lo m ã o (1 Rs 2:5, 6). S a lo m ã o te z ou tros sã o rela c io n a d o s , d e m o d o q u e p a­
d e B en aia o líder d o e x é rc ito n o lugar d e re c e estran h o a lista om itir o n o m e d e um
Joabe (1 Rs 2 :3 5; 4:4; 1 Cr 27:5, 6). Joiada, só h o m em . E b em p ro vá ve l q u e o versícu lo
o filho d e Benaia, n ão seguiu a carreira mili­ 36 registre o n o m e d e um in divíduo, o q u e
tar, mas se to rn o u c o n s e lh e iro d o rei Salo­ significa q u e havia trinta e d ois s o ld a d o s no
m ã o no lugar d e A ito fe l (2 7 :3 4 ). gru p o d o s "trin ta " - os vin te e n o v e cujos
Os trinta (vv. 24-39; 1 C r 11:26-47). Saul n o m es a p a re c e m na lista, mais os três h o ­
destacava-se da m u ltid ão p or sua altura, mas m en s d o s versícu los 13 a 1 7. T a lv ez o te rm o
fo i D avi q u em m ostrou ter o tip o d e caráter "o s trinta" fo s s e s im p lesm en te um c o d in o m e
e d e g ra n d e z a q u e atraía os q u e estavam para os s o ld a d o s d e elite d e Davi, n ão o b s ­
em busca d e v erd a d e ira liderança. U m a das tante o n ú m ero e x a to d e m e m b ro s, assim
m arcas d os v e rd a d e iro s líd eres é q u e têm c o m o "o s d o z e " d esign a va o g ru p o d e a p ó s ­
s e g u id o re s d e d ic a d o s , n ão a p e n a s b aju la­ to lo s d e Jesus. Se ac re sc e n ta rm o s aos trinta
d ores egoístas e parasitas (o te rm o mais p re­ e d ois h o m en s os três valen tes d o s versícu los
c iso é "sic o fa n ta ", d e riv a d o d e um a palavra 8-12, mais Ab isai e Benaia, te m o s o total d e
g re g a q u e sign ifica "in fo rm a n te " ou "e s c o - trinta e sete in d ic a d o n o versícu lo 39.
va -b ota s"). O s oficiais d e Saul eram h o m en s D o is n o m e s são c o n h e c id o s : Asael, s o ­
nos quais n ão se p o d ia co n fia r e q u e p re­ b rinho d e D avi e irm ão d e J oab e e d e Abisai
cisavam ser su b orn a d o s a fim d e prestar ser­ (vv. 2 4 ), e Urías o heteu. m a rid o d e Bate-
v iço s leais a o rei (v e r 1 Sm 22:6ss), mas os S eb a (v. 39; 1 C r 11:41 ). O s d ois estavam
h o m en s d e D avi estavam d isp o stos a m o r­ m ortos, mas seus n o m es p e rm a n e c e ra m na
rer p o r seu líder e, d e fato, fo i o q u e alguns lista d e g ra n d e s g u erreiro s . Q u e tr a g é d ia
d eles fizeram . D avi ter tirado a vid a d e um d e seus m elh ores
U m a v e z q u e os p o v o s an tigos tinham s o ld a d o s só para e n c o b rir o p ró p rio p e c a d o !
dois ou mais n o m es q u e p o d ia m ser g rafados H á d ois ou tros fatos d ig n o s d e o b s e rv a ­
d e form as diferentes, n ão é fácil correla cio n ar ç ã o . Em p rim e iro lugar, D avi n ã o re a lizo u
=ssa lista e m 2 Sam uel 23 c o m a d e 1 C rô n i­ suas c o n q u is ta s s o z in h o ; te v e a aju da d e
cas 1 1. Algu n s n o m es na lista d e Sam uel não m uitos segu id o re s d ed ic a d o s . C o n sid e ra m o s
a p a re c e m na lista d e C rô n icas mas esta últi­ D avi um gu erreiro p o d e ro s o , o q u e d e fato
m a traz d e z e s s e is n o m es a mais (1 Cr 1 1 :41- era, mas até o n d e teria id o sem seus sold a­
4 7 ). É p o s s íve l q u e se trate d e substitutos d o s c o m p e te n te s e leais? A m aioria d o s h o ­
o u d e "res erva s". O s n o m es q u e n ão ap a­ m en s q u e a p a re c e m na lista vinha d e Judá,
re ce m na lista d e C rôn icas são Sama, filho o q u e n ão causa esp an to, um a v e z q u e Davi
d e A g é (v. 11), Elica (v. 25), Eliã (v. 3 4 ) e Igal era da trib o d e Judá e rein ou ali antes da
(v. 3 6 ). A s d ife re n ç a s e n tre as duas listas u n ific a ç ã o n a c io n a l. P o ré m , o g ru p o d o s
são m ínim as e, sem dúvida, a c o m p o s iç ã o "trin ta " ta m b é m incluía h o m e n s d e B en ja­
d esse gru p o m u dava d e te m p o s e m tem p os. mim, a tribo d e Saul, e vários s o ld a d o s das
378 2 SA M U EL 2 3 - 2 4

n a ç õ es vizinhas. T o d o s esses h o m en s r e c o ­ s a b e n d o q u e gra n d e parte d o m inistério d o


n h eceram q u e a m ã o d e D eu s estava sob re te m p lo , n aq u ela é p o c a , era corru p ta e rejei­
D a v i e d e s e ja ra m p a rtic ip a r d a q u ilo q u e tada p o r seu Pai (M t 2 3 :3 7 - 2 4:1). O term n
D eu s estava fa z e n d o . Essa d iv e rs id a d e d e "p o v o " , e m 2 Sam uel 2 4:2, 4, 9, 10, refere-
c o m a n d a n te s e m seu e x é rc ito é lo u v á v el na se às fo rça s arm adas d e Israel e é usad o c o m
lideran ça d e Davi. esse sen tid o e m 1 Sam uel 4:3, 4, 1 7. Porém ,
Em s e g u n d o lugar, D eu s lem brou -se d e o c e n s o o rd e n a d o p o r D avi n ão tinha o p ro­
c a d a um d os h om en s, p ro vid en c io u para qu e p ósito d e c o le ta r o im p o sto anual d o tem p lo .
a m aioria d ele s fo s s e a n o ta d a na sua Pala­ An tes, fo i um c e n s o militar para d eterm inar
vra e, um dia, re co m p e n s a rá c a d a um d ele s o ta m an h o d e seu e x é rc ito , c o m o fica claro
p e lo m inistério q u e realizaram . O n o m e d e no versícu lo 9. H aviam sido re a liza d o s cen ­
D avi é c ita d o mais d e mil v e z e s na Bíblia, sos militares, no passado, sem q u e o S enhor
e n q u a n to a m aioria d esses h o m en s é m e n ­ tivesse ju lg a d o a n a ç ã o (N m 1 e 26). O qu e
c io n a d a ap en a s um a ou duas v e z e s . Porém , h o u v e d e erra d o n esse cen so?
q u a n d o se e n c o n t r a r e m com o S e n h o r, J oab e e seus cap itães toram con tra o pla­
"c a d a um re c e b e rá o seu lo u v o r d a parte d e no (v. 4), e o discurso d e Joabe, no versícu lo
D e u s " (1 C o 4:5). 3, in dica q u e a o rd e m d e D avi foi m otivad a
Joab e foi c o m a n d a n te d e to d o o e x é rc i­ p e lo o rg u lh o . O rei qu is e n g r a n d e c e r as
to (2 0 :2 3 ), m as é c ita d o nessa lista militar p róprias re a liz a ç õ e s em v e z d o n o m e d o Se­
s o m e n te e m rela çã o a seus irm ãos Ab isai (v. nhor. É p o s s íve l q u e D avi ten h a ra cio n a li­
18) e A sa el (v. 24; 1 Cr 1 1 :20, 2 6 ). N o final, z a d o e s s e d e s e jo a r g u m e n ta n d o q u e seu
J o a b e fo i d es lea l a D avi e te n to u c o lo c a r filho, S a lo m ã o , era um h o m e m p a c ífic o e
A d o n ia s n o tron o, o q u e lhe custou a vida sem e x p e riê n c ia militar. D avi d es eja va certi­
(1 Rs 2:28-34). ficar-se d e q u e Israel teria as força s n ecessá­
rias para m anter a p az. O u tro fator p o d e ter
3. D a v i, o p e c a d o r a rre p e n d id o sido o p lan o d e D avi d e o rga n iza r o exército,
(2 S m 24; 1 C r 21) o g o v e rn o e, ta m b ém , os s a c erd o te s e lev'-
Lê-se, e m 2 Sam uel 2 4:1, q u e D eu s incitou tas, para q u e S a lo m ã o p u d esse adm inistra'
D avi a con tar o p o v o , e n q u a n to 1 C rôn icas tu do c o m mais facilida de e con segu ir se d e ­
2 1 :1 in dica Satanás c o m o o c u lp ad o. O s dois dicar à con stru çã o d o te m p lo (1 Cr 22 - 27'
e stâ o certos: D eu s perm itiu q u e Satanás ten ­ Q u a lq u e r q u e ten h a s id o a causa, o S e­
tasse a Davi, a fim d e realizar os p ro p ó sito s n h or se d e s a g ra d o u (1 Cr 2 1 :7 ), m as per­
q u e tinha e m m en te. Satanás, sem dúvida, mitiu q u e J o ab e e seus c a p itã e s passassem
fe z o p o s iç ã o a o p o v o d e D eu s a o lo n g o da os n o v e m e ses e v in te dias segu in tes c o n ­
história d o A n tig o T esta m en to, mas esse é ta n d o os israelitas c o m v in te a n o s ou mais
um d e qu atro casos, no A n tig o T esta m en to, e a p to s para o s e rv iç o militar. P or v e z e s , o
e m q u e S atanás é m e n c io n a d o d e m o d o m a ior ju lg a m e n to d e D e u s é sim p le s m en te
e s p e c ífic o e visto trabalh an do a b erta m en te. p erm itir q u e fa ç a m o s as c oisas à nossa m a ­
A s outras três o c a s iõ e s são a te n ta ç ã o d e neira. O s re c e n s e a d o re s partiram d e Jeru­
Eva (G n 3), o a taq u e a Jó (Jó 1 - 2) e a acusa­ salém , viajaram para o leste, atravessan d o
ç ã o ao su m o s a c e rd o te Josué ( Z c 3 ).6 o J o rd ã o , e c o m e ç a r a m a c o n ta g e m em
Um rei orgulhoso (vv. 1-9; 1 C r 21:1-6). A roer, nas vizin h an ça s d o m ar M o rto . D es­
N ã o h avia n ada d e ile g a l e m re a liza r um locaram -se para o n orte p o r G a d e e G ile a d e
c en s o , d e s d e q u e fo s s e fe ito d e a c o rd o c o m até a fronteira d e Israel, n o e x tre m o norte
as regras e sta b ele cid a s e m Ê xod o 30:11-16 o n d e D avi havia c o n q u is ta d o território e e x ­
(v e r ta m b ém N m 3:40-51). O m e io siclo re­ p a n d id o seu rein o (2 Sm 8). Foram, entac
c e b id o n o c e n s o era usad o para p aga r as para o o es te , até Tiro e S idom e d e p o is para
c on tas d o santuário d e D eus (Êx 38:25-28). o sul até Berseba, e m Judá, a c id a d e fro r-
C o m o b o m c id a d ã o ju d eu , Jesus p a go u esse teiriça mais distante em Israel. D e Berseba
im p o sto d o te m p lo (M t 1 7:24-27), m e s m o voltaram a Jerusalém, m as n ão con taram os
2 SA M U EL 23 - 24 379

levitas (isen tos d o s e rv iç o militar; N m 1:49; tratam os c u lp a d os d e m aneira distinta (D t


2 :3 3 ) n e m o s h o m e n s d e B e n ja m im . O 19:1-13; Êx 2 1:12 -1 4). O c e n s o foi um a re­
tab ern ácu lo situava-se e m G ib e ã o , na tribo b eliã o inten cion al, e D avi p e c o u d elib era d a
d e B en jam im (1 Cr 16:39, 40; 2 1 :2 9 ), e é e c o n s c ie n te m e n te . A lé m disso, D eu s d eu a
p ossível q u e J o ab e ten h a c o n s id e ra d o im ­ D avi mais d e n o v e m eses para se a rrep en ­
p ru d en te invadir o território sagra d o num a der, mas o rei recu sou -se a c ed er. Em d iver­
m issão p e c a m in o s a c o m o aquela. D e qual­ sas cen as da história d e Davi, Joab e n ão é
q u er m o d o , Saul era d e B enjam im , e ainda retra ta d o c o m o um h o m e m p ie d o s o , mas
havia vários b o ls õ e s d e resistência na tribo. até m e s m o J oabe e seus o ficiais se o p u s e ­
A tribo d e Benjam im era p róxim a d em a is d e ram a ess e p ro jeto . D avi d e v e r ia ter d a d o
Jerusalém, e J oab e n ão q u eria c o rre r qual­ o u v id o s a o c o n s e lh o deles, m as estava d e ­
q u er risco. O total in c o m p le to d e h o m en s term in a d o a realizar o cen so.
foi d e um m ilh ão e tre z e n to s m il.7 Em sua graça, D eu s p e rd o a nossos p e ­
Um rei culpado (vv. 10-14; 1 C r 21:7- c a d o s q u a n d o o s c o n fe s s a m o s (1 Jo 1:9),
13). A o p e rc e b e r sua in sen sa tez e m levar a mas, e m seu justo g o v e rn o , p erm ite q u e s o ­
c a b o tal plano, D avi c o n fes s o u seu p e c a d o fra m o s as c o n s e q ü ê n c ia s . N e s s e c a s o , o
e bu scou a o Senhor. P elo m e n o s seis v e z e s Sen h or c o n c e d e u a D avi até m e s m o o privi­
nas Escrituras, v e m o s D avi c o n fes s a n d o : " p e ­ lé g io d e e s c o lh e r as c o n s e q ü ê n c ia s . Isso
q u e i" (2 Sm 12:13; 24:10 , 1 7; SI 4 1 :4 e 5 1 :4; p o rq u e a d e s o b e d iê n c ia d e D avi foi um p e ­
1 Cr 2 1 :8). A o c on fessar seu p e c a d o d e adul­ c a d o c o n s cie n te , um a e sc o lh a d elib era d a da
té rio e h o m ic íd io , D avi d e c la ro u : " P e q u e i p arte d o rei, d e m o d o q u e D eu s perm itiu
con tra o S enhor ", mas a o c on fessar seu p e ­ q u e fize s s e outra e s c o lh a e d eterm in a sse o
c a d o d e con tar o p o v o , disse: "M uito p eq u e i castigo. G a d e 8 d eu três esco lh a s a o rei e dis­
no q u e f iz " (g rifo m eu ). A m aioria d e nós se-lhe para re fle tir s o b re elas, to m a r um a
con sid era o p e c a d o d e D avi e m rela çã o a d e c is ã o e dar sua resp osta q u a n d o o p ro fe ­
Bate-Seba m uito mais gra ve e insensato d o ta voltasse.
q u e o p e c a d o d a c o n ta g e m d o p o v o , mas Entre um a visita e outra d o p rofeta, Davi
D avi p e r c e b e u a e n o r m id a d e d o q u e ha­ d e v e ter b u s ca d o o Senhor, p ois D eu s d im i­
via feito. O p e c a d o d e D avi c o m Bate-Seba nuiu o p e r ío d o d a fo m e d e sete para três
custou a v id a d e q u atro filh os d e D avi (o an os o q u e ex p lic a a a p aren te d iscrep â n cia
b e b ê , A m n o m , A b s a lã o e A d o n ia s ) e ta m ­ en tre 2 Sam uel 24:13 e 1 C rón icas 21:12 .
b ém a v id a d e Urias. P orém , d e p o is d o c e n ­ Em sua m isericórdia, D eu s a b revio u os dias
so, D eu s en v io u um a praga q u e tirou a vida d e sofrim e n to para seu p o v o e s c o lh id o (M t
d e seten ta mil pessoas. O S en h or d e v e ter 2 4 :2 2 ). O s três castigos são c ita d o s na alian­
c o n c o r d a d o c o m D avi qu e, d e fato, e le ha­ ça d e D eu s c o m Israel (D t 2 8 ), d e m o d o
via p e c a d o muito. q u e D avi n ão d e v e ter se su rp reen d id o : fome
O p e c a d o d e D avi c o m Bate-Seba fo i um - 28:23 , 24, 38-40; derrota militar - 28:25,
p e c a d o da carne, d e c e d e r à lascívia num a 26, 41-48 e peste - 2 8 :2 1 , 22, 27, 28, 35,
tarde d e ó c io (2 Sm 11:2; G l 5 :1 9), mas o 60, 61.° N a lei d e Israel, o p e c a d o in volu n ­
c e n s o foi um p e c a d o d o esp írito (v er 2 C o tário d o sum o s a c e rd o te equ ivalia ao p e c a ­
7:1), um ato d e lib e r a d o d e re b e liã o con tra d o d e to d a a c o n g r e g a ç ã o (Lv 4:1-3,13,14),
D eus. Foi m o tiv a d o p e lo o rgu lh o, e o o rgu ­ lo g o , as pen as ap licad as a um rei q u e havia
lho en con tra -se no to p o da lista d e p e c a d o s p e c a d o volu n ta ria m en te d ev eria m ser m ui­
q u e D eus a b o m in a (P v 6:16, 17). " O o rg u ­ to mais p esadas! C o n h e c e n d o a m isericór­
lho é o s o lo em q u e c re s c e m to d o s os o u ­ dia d e D eus, D avi fo i sáb io a o e s c o lh e r a
tros p e c a d o s ", esc re ve u W illiam Barclay, "e p este c o m o castigo.
a fo n te d e to d as as outras tran sg ressões". Um rei arrependido (vv. 15-25; 1 C r
Tanto as Escrituras qu an to a lei civil fa z e m 21:14-30). A p este c o m e ç o u n o dia segu in ­
d is tin ç ã o e n tre p e c a d o s c o n s id e r a d o s d e te p ela m anhã e con tin u o u no d e c o rre r d os
p a ix ã o e p e c a d o s d e lib e ra d o s d e re b e liã o e três dias d eterm in a d o s , q u a n d o o A n jo d e
380 2 SA M U EL 23 - 24

ju lg a m e n to term in ou seu trabalh o e m Jeru­ 2 4 :2 4 ; 1 C r 2 1 :2 5 ). Q u a n d o o s a c e rd o te


salém , da m esm a fo rm a c o m o J o ab e e seus o fe re c e u os sacrifícios, D eu s en v io u fo g o dos
h o m en s haviam fe ito (v. 8). O c o r a ç ã o d e céu s para consum i-los, in d ican d o q u e havia
pastor d e D avi se q u eb ra n to u s o b o p e s o a c e ita d o a o fe rta (1 C r 21:26 ; Lv 9:24).
d o ju lg a m e n to , e e le suplicou a o S en h or q u e S a b e n d o q u e o rei p o d e ria m uito b e r-
o castigasse n o lugar d o p o v o . Q u e m o tiv o c o m p ra r sua p ro p rie d a d e, p o r q u e O rn ã es­
D eu s teria para m atar seten ta mil h o m en s e, tava tão an sioso para entregá-la d e gra ça a
a o m e s m o te m p o , p reservar a v id a d e Davi? D avi? O u será q u e sua o fe r t a fo i a p e n a s
D e v e m o s o b serva r qu e, d e a c o rd o c o m 2 Sa­ o u tro c a s o da tradicion al c o rte sia d o O rie n ­
m uel 24:1, D eu s estava ira d o com Israel e te na arte d a barganha? (v er C n 2 3). T a lv ez
n ão c o m Davi, d e m o d o q u e d ev eria estar O rn ã se lem brasse d o q u e havia a c o n te c id o
c a s tiga n d o o p o v o p o r algum p e c a d o qu e aos d e s c e n d e n te s d e Saul p or causa d aqu i­
havia c o m e tid o . A lgu n s estu d ioso s su gerem lo q u e Saul havia fe ito aos gib eo n ita s (2 Sm
q u e a p raga tirou a v id a d os israelitas qu e 2 1:1-1 4 ) e n ão qu isesse c o lo c a r em p e rig o
segu iram A b s a lã o e m sua r e b e liã o e q u e a vid a d e seus filhos (1 Cr 2 1 :20).
rejeitaram D avi c o m o seu rei. É um a p ossibi­ A terra qu e Davi havia c o m p ra d o n ão era
lidade, mas o tex to n ão a con firm a. um a p ro p rie d a d e qualquer, pois n aqu ele lo­
D eu s perm itiu q u e D avi visse o A n jo d e cal A b ra ã o havia c o lo c a d o o filh o, Isaque,
ju lg a m e n to p aira n d o s o b re Jerusalém, p ró ­ sob re o altar (G n 22), e, nele, S alom ão con s­
x im o à eira d o je b u se u Araú n a (O rn ã ). O s truiu o te m p lo (1 Cr 22:1; 2 Cr 3:1). D ep o is
je b u se u s fora m o s p rim eiros habitantes d e q u e a praga cessou, Davi con sagrou o local
Jerusalém, d e m o d o q u e O rn ã havia se su­ a o S enhor (Lv 27:20, 2 1 ) e o usou c o m o lu­
je ita d o a o g o v e rn o d e D avi e se to rn a d o um gar d e s a c rifíc io e a d o r a ç ã o . O altar e o
c id a d ã o resp eitável. A p assa gem n ão d iz se tab ern ácu lo ficavam em G ib e ã o , mas Deus
D avi ou viu a o rd e m d e D eu s para q u e o perm itiu q u e Davi adorasse e m Jerusalém. A
A n jo cessasse a praga, mas D avi sabia q u e terra fo i santificada e, um dia, se tornaria o
D e u s e ra m is e r ic o r d io s o e b o n d o s o , d e te m p lo d e D eus. D avi an u nciou : "A qu i, se
m o d o q u e p ed iu m isericórd ia p e lo "re b a n h o levantará a Casa d o S enhor D eus e o altar d o
d o seu p a s to re io " (SI 100 :3 ). O s an cião s es­ h olocau sto para Israel" (1 Cr 22:1); a partir
tavam c o m D avi (1 Cr 2 1 :16 ) e o ac o m p a n h a ­ d e en tão, tiveram in ício o s preparativos para
ram, prostran do-se c o m o rosto e m terra em qu e S alo m ã o construísse o tem plo.
c o n triç ã o hum ilde e a d o ra ç ã o . Foi o p e c a ­ Se algu ém lhe p ed isse para citar os dois
d o d e D avi q u e d e s e n c a d e o u a crise, e é p e c a d o s mais graves d e Davi, é b em p rová­
p ossível q u e esses líd eres ten h am p e rc e b i­ v e l q u e re sp o n d e ss e : " o ad u ltério c o m Bate-
d o q u e a n a ç ã o ta m b é m havia p e c a d o e S eb a e a c o n ta g e m d o p o v o ", e teria razão.
m e re cia sentir a disciplina d e Deus. Porém , p artin d o desses dois pecados graves,
O p ro fe ta C a d e v olto u a ap arecer, d es­ Deus edificou um templo! Bate-Seba d eu à
sa v e z c o m um a m e n sa g em d e esp eran ça. luz S a lo m ã o, a q u e m D eu s e sc o lh e u c o m o
D eu s d ev eria construir um altar na eira d e su cessor d e D avi a o tron o . N a p ro p rie d a d e
O rn ã e o fe r e c e r sacrifícios a o S en h or n aq u e­ q u e D avi c o m p ro u e o n d e ergu eu o altar,
le local, e a p raga cessaria. C o m o rei, D avi S a lo m ã o construiu o te m p lo , con sagran d o -
p o d e ria ter to m a d o p o s s e d a p ro p rie d a d e o para a g ló ria d e D eus. O q u e D eu s f e z p o r
(1 Sm 8 :1 4 ) ou tê-la p e d id o em presta da , mas D avi c e rta m e n te não é p retex to para pecar
insistiu e m com prá-la. D avi sabia d o alto p re­ (Rm 6:1, 2), p ois D avi p a go u c aro p or esses
ç o d o p e c a d o e se recu sou a dar a D eus p ec a d o s. P orém , c o n h e c e r o q u e D eu s fe z
a lg o q u e n ão lhe havia cu stad o c o is a algu­ p or D avi serv e d e estím u lo para buscarm os
ma. Por cin q ü en ta siclos d e prata, c o m p ro u a o S en h or e c o n fia rm o s e m sua gra ça quan­
os b ois para os sacrifícios, usando seus ju g os d o lhe d e s o b e d e c e m o s . "M a s o n d e abun­
d e m a d e ira c o m o len h a e, p o r s eis ce n to s d ou o p e c a d o , su p era bu n dou a gra ça " (Rm
siclos d e o u ro , adquiriu to d a a eira (2 Sm 5:2 0). Q u e D eu s m is e ric o rd io s o servim o s!
2 SA M U EL 23 - 24 381

No Antigo Testamento, Deus considerava os governantes de Israel pastores, o que explica passagens como Jeremias 10:21,
12:10, 23:1-8, 25:36; Ezequiel 34:1-18; Zacarias 10:2, 11:15-17.
2 Samuel 8:13 dá crédito a Davi pela grande vitória contra os edomitas, enquanto 1 Crônicas 18:12 atribui a vitória a Abisai.
0 sobrescrito do Salmo 60 afirma que Joabe também participou desse acontecimento. É bem provável que Davi estivesse no
comando e que Joabe e seu irmão, Abisai, tenham liderado o exército no campo de batalha. Naquela época, era costume o
rei receber crédito por vitórias como essa (ver 2 Sm 12:26-31).
Para um excelente quadro comparativo dos valentes de Davi, ver W a lv o o r d , John; Z uck , Roy. {Orgs.j The Bible Knowíedge
Commentary, Victor. V. Antigo Testamento, pp. 478, 479.
AJguns estudiosos acreditam que os três homens que trouxeram água do poço de Belém foram aqueles cujos nomes são
citados nos versículos 8 a 12, mas, ao que parece, o versículo 13 indica que eram outros três homens, parte dos "trinta".
As duas expressões "os três" e"os trinta" são encontradas várias vezes nesses capítulos. Para "os três", ver os versículos 9, 13,
16-19, 22, 23; para "os trinta" ver versículos 13, 23, 24. Em 1 Crônicas 11, "os três" são mencionados nos versículos 12, 15,
18-21, 24, 25; e "os trinta" nos versículos 15, 25 e 42.
Para um estudo dessas quatro aparições de Satanás e de sua aplicação para os cristãos hoje, ver minha obra, The Strategy of
Satan [A Estratégia de Satanás] (Tyndale House).
1 Crônicas 21:5 registra 1.100.000 homens, mas é preciso lembrar que Joabe não completou o censo (1 Cr 27:23, 24), e
valores diferentes foram registrados em ocasiões distintas ao longo dos nove meses de levantamento. Observar, ainda, que
2 Samuel 24:9 especifica "oitocentos mil homens de guerra", ou seja, um exérciio permanente com experiência, enquanto
outros trezentos mil homens tinham idade para combater, mas não possuíam experiência de combate. Isso nos d ã o total de
1.100.000 homens registrado em 1 Crônicas 21:5.
O profeta Gade aparece pela primeira vez nas Escrituras depois que Davi fugiu de Saul (1 Sm 22:5). É possível que fosse um
especialista em liturgia israelita, uma vez que ajudou Davi a organizar os levitas para sua participação na adoração no templo.
Também manteve um registro oficial dos acontecimentos do reinado de Davi (1 Cr 29:29).
Em mais de uma ocasião, Deus enviou pragas sobre Israel para castigar seu povo (Nm 11:31-34; 14:36-38; 16:46-50; 21:4-
9; 26:9, 10). É evidente que essa medida estava de acordo com o que havia sido estipulado em sua aliança, a qual o povo
havia transgredido.
d e p o is d o c a tiv e iro na B abilôn ia (v e r os li­
13 vros d e Esdras, N e em ia s , A g e u e Zacariasl.
Essas p essoas corajosa s tiveram d e reco n s­
truir o te m p lo e d e o rg a n iza r seu ministério,
O Leg ad o de D avi e, para elas, ler estes cap ítu los lem braria qu e
estavam re a liza n d o a o b ra d e Deus. O Se­
1 C r ô n ic a s 2 2 - 2 9 nhor d eu c a d a d eta lh e d o p rim eiro te m p lo
e d e seu m inistério a Davi, o qual, p or sua
v e z , transmitiu as instruções a S alom ão. Es­
tas "listas d e n o m e s " ajudaram Z o r o b a b e l e
o sum o s a c e rd o te Josué a exam in ar as cre­
d en ciais d os q u e d es eja va m servir no te m p lo

D
avi "[s e rv iu ] à sua própria g e ra ç ã o , c o n ­ (Ed 2 :5 9-6 4 ) e recusar os n ão qu alificados.
fo r m e o d es íg n io d e D e u s " (A t 13:36). Estes c a p ítu lo s serviram d e â n im o aos
Q u e m serv e à sua g e ra ç ã o fielm e n te , tam ­ ju d e u s e m seus tra b a lh o s s é c u lo s atrás e
b ém serv e às g e ra ç õ e s futuras. "A q u e le , p o ­ ta m b é m p o d e m nos an im ar h o je e m dia na
rém , q u e fa z a v o n ta d e d e D eu s p e rm a n e c e e d ific a ç ã o da Igreja (Ef 2:19-22). A o ler 1 Co-
e te rn a m e n te " (1 Jo 2 :1 7 ). O le g a d o d e D avi rín tios 3 :9-23 e c o m p a ra r essa p a s s a g e r r
e n riq u e c eu o p o v o d e D eus, Israel, durante c o m 1 C rô n ic a s 22, 28 e 29, v e m o s parale­
séculos. Davi n ão ap en a s p ro vid en c io u to d o los q u e d e v e m nos estim u la r a e d ific a r a
o n ecessário para a c on s tru çã o d o tem p lo , Igreja d a fo r m a q u e a Palavra d e D eu s or­
c o m o ta m b é m e s c re v e u c â n tic o s e criou d e n a .1 D avi sab ia q u e o te m p lo d e Deus
in stru m en tos m u sicais para s e re m usad os d e v e r ia ser c o n s tru íd o c o m o u ro , prata e
nos cultos d e a d o ra ç ã o (1 Cr 2 3 :5 ). O mais p ed ra s p re c io s a s (2 2 :1 4 ; 2 9 :1 -5 ), e Paulo
im p orta n te, p o rém , é q u e o S alvad or v e io f e z um a a p lic a ç ã o espiritu al d es se s m ate­
a o m u n d o p o r in term éd io da fam ília d e Davi, riais para a igre ja local. R ep re se n ta m a sa­
s e n d o "a R a iz e a G e r a ç ã o d e D a v i" (A p b e d o ria d e D eus, c o n fo r m e a p re se n ta d a na
2 2 :1 6 ), d e m o d o q u e D avi con tin u a a enri­ Palavra d e D eu s (P v 2 :1-10; 3:1 3-1 5 ; 8 : 1 >
q u e c e r a Igreja nos dias d e h oje. 21 ). A m adeira, o fe n o e a palh a p o d e m ser
Q u a n d o o u v im o s o n o m e d e D avi, é re u n id os na s u p erfíc ie, m as se d e s e ja m o s
possível q u e a prim eira coisa q u e nos v e m à pre­
o b te r o u ro , prata e p ed ras p recio sa s,
m e n te seja Bate-Seba e os p e c a d o s d o rei, cisam os cavar para encontrá-los. N ão
mas esses capítulos ap resen tam D avi c o m o e d ific a m o s a Ig r e ja c o m id é ia s hum anas
o construtor, um h o m e m q u e arriscou a vida en gen h osa s nem im itando o m undo, mas S'*»
a fim d e ajuntar riqu ezas para a con stru çã o p e lo e n sin am en to e o b e d iê n c ia às v e rd a a e f
d o te m p lo para a glória d e D eus. Ele é um p recio sa s da Palavra d e D eu s (v e r 1 C o 3 : ' R-
gra n d e e x e m p lo para os crisrãos d e tod as 2 0 para a o p in iã o d e Paulo s o b re a sab ea ->
as id ad es q u e d es eja m v iv e r para Cristo d e ria d es te m u n d o ).
m o d o p ro d u tivo e d eixar um le g a d o d e b ên ­ S a lo m ã o n ão p recisou d esen h ar os p ro ­
ç ã o s espirituais. je to s d o te m p lo , p ois o S en h o r já os e n ^ e -
gara a D avi (1 Cr 28:11 , 12). Q u a n d o le m e »
1. M o t iv a ç ã o e s p ir it u a l a Palavra e oram os, o S en h o r m ostra se\*s
A lg u n s le ito re s da Bíblia, h o je, p o d e m ser plan os para c a d a igreja local. " D e s e n v o \ a
ten ta d os a passar ra p id am en te p or estes ca­ a vossa salvação c o m te m o r e tre m o r" í-o
pítulos, pular todas as listas d e n o m es e p ros­ 2:12, 13). Essas palavras fora m escritas pa-~i
segu ir a leitura c o m o rein ad o d e S alo m ã o a igreja d e Filipos, e, ap esa r d e terem i n a
e m 2 C rô n icas, mas isso seria um gra n d e ap lic a ç ã o p essoal a c a d a cristão, sua p r i.- o
erro. P en se n o â n im o e na o rie n ta ç ã o q u e pal ê n fa s e é s o b re o m inistério d a c o n g r e g *
estes cap ítu lo s d e v e m ter o fe r e c id o a o re­ ç ã o e m caráter c o le tiv o . A lgu n s líderes m
m a n e s c e n te ju d eu q u e v o lto u a Jerusalém igreja local v iv e m fre q ü e n ta n d o sem inánc.i
2 SA M U EL 383

e palestras na ten tativa d e a p re n d e r c o m o O local, os materiais e os trabalhado­


ed ifica r a igreja, qu a n d o, na v erd a d e, é pro- res (vv. 1-4). N ã o se sabe, a o certo, qu a n d o
*<_.el q u e d ev es s em ficar em casa, ch am ar a o S en h o r c o m e ç o u a transm itir a D avi os
greja para orar e buscar a D eu s e m sua Pa- p ro jeto s para o te m p lo e para seus fu n c io ­
ra. D eu s tem plan os d iferen tes para cad a nários, m as a o q u e p a re c e , a c o m p r a d a
'greja, e n ão d e v e m o s imitar uns aos outros p ro p rie d a d e d e O rn ã foi um sinal para Davi
c e g a m e n te . entrar e m a çã o . Q u a n d o D eu s en v io u fo g o
O te m p lo foi con stru íd o para m ostrar a d o céu para con su m ir os sacrifícios d e Davi
51 jria d e Deus, e nossa tarefa na igreja local (2 1 :2 6 ), o rei s o u b e q u e seus p e c a d o s ha­
e g lo r ific a r a D e u s (1 C o 1 0 :3 1 ; 1 4 :2 5 ). viam s id o p e rd o a d o s e q u e se en c o n tra va
Q u a n d o S a lo m ã o c o n s a g r o u o te m p lo , a n o v a m e n te e m c o m u n h ã o c o m o Senhor.
gló ria d e D e u s fo i h a b ita r n a q u e le lo c a l Porém , D avi ta m b ém se d eu c o n ta d e q u e
Rs 8:6-11); mas q u a n d o Israel p e c o u , a seu altar havia se to rn a d o um lugar m uito
gló ria d e ix o u o t e m p lo (E z 1 0 :4 , 18, 19; esp ecia l para o S en h o r e con tin u ou a o fe r e ­
(1 :2 2 , 2 3 ). F ic a m o s im a g in a n d o q u an ta s c er sacrifícios ali e m v e z d e ir a o tab ern ácu lo
igrejas locais cu m p rem to d a a rotina d e cul­ e m C ib e ã o . O S e n h o r lhe re v e lo u q u e o
tos, d o m in g o a p ó s d o m in g o e, n o entanto, m o n te M o r iá era o local e m q u e d es eja va
nào têm seq u e r resq u ícios d a glória d e Deus. q u e o te m p lo fo s s e c on stru íd o . É p ossível
O te m p lo d e v e r ia ser um a "C a s a d e O r a ­ q u e D avi ten h a e s c rito o S alm o 30 nessa
ç ã o para to d o s os p o v o s " (Is 5 6 :7 ), m as os é p o c a , apesar d e ain da n ão haver um e d ifí­
líd eres re lig io so s tran sform aram -n o num c o ­ c io para con sagrar. P ela fé, c o n s a g r o u a o
vil d e s a lte a d o re s (M t 2 1 :1 3 ; Lc 1 9 :4 6 ; Jr S en h o r a p ro p rie d a d e q u e havia c o m p ra d o
7 : 1 1 ). O c o v il d e s a lte a d o re s é o lugar o n d e e o te m p lo qu e, um dia, seria e d ific a d o s o ­
os la d rõ e s v ã o se e s c o n d e r d e p o is d e prati­ b re a q u e la terra .2
c a rem seus crim es, o q u e s u g e re q u e um D avi recrutou tan to israelitas qu an to re­
c u lto p o d e ser um b o m lu gar para fin g ir s id e n te s e s tra n g e iro s (1 Rs 5 :1 3 -1 8 ) p ara
esp iritu alid ad e (1 Jo 1:5-10). Q u a n ta s igre- ajudar na c on s tru çã o d o tem p lo . Essa d ivi­
as são c o n h e c id a s p o r te r um m in is té rio são d o g o v e rn o d e D avi en con trava-se sob
e fic a z d e o ra ç ã o ? P o d e m ser casas d e m ú­ a resp o n sa b ilid a d e d e A d o r ã o (2 Sm 2 0:24 ),
sica, d e e n s in o e até m e s m o d e a tivid a d e s ta m b ém c h a m a d o d e A d o n irã o (1 Rs 4 :6 ).’
sociais, m as será q u e são casas d e o ra ç ã o ? O s trinta mil trab alh ad o res israelitas c o r ta ­
O te m p lo fo i construído, e D eus o h on ­ vam m adeira n o Líb an o durante um m ês e,
rou c o m sua p resen ça, p ois os líd eres e o d ep o is, volta va m para casa p o r d ois m eses,
’ío v o d e Israel deram o m elh or d e si ao Se­ e n q u a n to os c e n to e c in q ü e n ta mil trab a­
nhor, sacrificaram e seguiram suas instruções. lh a d o re s "e s tr a n g e ir o s " c o r ta v a m e trans­
Trata-se d e um b om e x e m p lo a seguir h o je p o rta v a m p e d a ç o s e n o rm e s d e p ed ra d o s
em dia. S o m o s p rivile g ia d o s e m ajudar na m on tes, s o b a su p ervisão d e con tram estres
ed ifica çã o da igreja, e n osso m o tiv o d e v e ser israelitas (1 Rs 5 :13-18; v e r ta m b é m 9:15-
íão-som en te a glória d e Deus. 19; 2 Cr 2 :17, 18). A p res e n ç a d e gen tio s
trab alh an d o lad o a la d o c o m israelitas m o s ­
2. O CUIDADO NOS PREPARATIVOS tra q u e o te m p lo era, d e fato, um a casa d e
(1 C r 22:1-19) o ra ç ã o para tod as as n açõ es. N ã o d e v e m o s
O S en h or n ão perm itiu q u e D avi construís­ im agin ar q u e os estran geiros eram tratados
se o te m p lo , mas h onrou os prep arativos q u e c o m o escravo s p ois a lei d e M o is é s p roib ia
fe z para q u e seu filho, S alo m ã o, cum prisse cla ra m en te esse tip o d e prática (Êx 2 2 :2 1 ;
essa tarefa. D e a c o rd o c o m um a n tigo dita­ 2 3:9; Lv 19:33).
d o: " O q u e é b e m c o m e ç a d o já está m e io D avi p assou a n o s a ju n ta n d o m ateriais
a c a b a d o ", e D avi cu id ou d e preparar Salo­ p ara o te m p lo , s e n d o q u e seu v a lo r total
m ão, o p o v o e os materiais para esse gra n de era in calcu lável. M u ita c o is a v e io d o s d es ­
p ro je to (ver os vv. 3, 5 e 1 4). p o jo s das batalhas q u e D avi lutou e venceu
384 2 SA M U EL

(1 8:9-11; 26:26 -2 8). Davi, o gu erreiro, havia sucessor, Josué (D t 31:5-8, 2 3), e o S en h or
d e rro ta d o os in im igos d e Israel e t o m a d o sua re p e tiu essas p a la v ra s a Josu é d e p o is da
riq u e za para q u e seu filho, S alo m ã o, tivesse m o rte d e M o is é s (Js 1 :6 , 9). M o is é s e Josué
a p a z e as p ro vis õ es necessárias para c o n s ­ fora m h o m en s fiéis; D eu s os c o n d u ziu en ­
truir a casa d e Deus. q u a n to a tra vessa va m to d a s as p r o v a ç õ e s ,
Salomão, o construtor (vv. 5-16). Algu n s ca p a cita n d o -os a c o m p le ta r seu trabalho, e
c ro n o lo g is ta s b íb lic o s a c re d ita m q u e D avi faria o m e sm o p o r S alom ão.
estava c o m c e rc a d e sessenta an os d e id ad e O te rceiro estím u lo d e D avi a seu filho
q u a n d o d eu início a o p ro gram a d e con stru­ fo i a e n o rm e qu an tid ad e d e riq u ezas q u e o
ç ã o d o te m p lo , m as n ã o s a b e m o s qu an tos rei h a v ia a c u m u la d o p a ra o p r o je t o , ju n ­
an os S a lo m ã o tinha n a é p o c a . D avi disse q u e ta m e n te c o m o g ra n d e n ú m e ro d e tra b a ­
seu filh o ain d a era " m o ç o e te n ro " (2 2 :5 ; lh a d o res q u e recrutara (vv. 14-16). P a re ce
2 9 :1 ), e d e p o is d e sua a scen sã o a o tron o, incrível, mas o rei disse q u e havia aju n tado
S a lo m ã o referiu-se a si m e s m o d iz e n d o : "n ã o 3 .4 0 0 to n e la d a s d e o u ro e 3 4 .0 0 0 to n e la ­
passo d e um a c ria n ç a " (1 Rs 3 :7). Isso exp li­ das d e prata e q u e havia tanto b ro n z e e ferro
ca p o r q u e D avi a d m o e sto u e in cen tivou o q u e n em p o d e ria m ser p es a d o s. P elo m e ­
filho, várias v e z e s , a o b e d e c e r a o S en h or e nos, S a lo m ã o n ão teria d e passar o ch a p éu !
a term inar o trab alh o q u e lhe havia sido d e ­ Os líderes de Israel (vv. 17-19). D avi o r­
sign a d o p o r D eu s (2 2:6-16; 28:9, 10, 20, 2 1). d e n o u a o s líd ere s q u e c o o p e r a s s e m c o m
Davi ta m b ém a d m o e sto u seus líderes a in­ S a lo m ã o e q u e o aju dassem a c o m p le ta r o
c en tivar e ajudar o n o v o rei n esse gra n d e p ro jeto . L em brou -os d e q u e a p a z e o d es­
p ro je to . D avi d e s e ja v a q u e tu d o e stive ss e ca n so d esfru ta d o s e n tã o se d ev ia m s o m en te
p r e p a r a d o a n tes d e sua m o rte , para q u e a o fa to d e D eu s ter usado D avi para d erro ­
S a lo m ã o tivesse o q u e precisaria para c o n s ­ tar os in im igos d e Israel e e xp an d ir suas fron ­
truir a casa d e Deus. teiras (o b s e r v e a m e n ç ã o d o te rm o " p a z "
Davi e n c o ra jo u S a lo m ã o a o garantir-lhe nos vv. 9 e 18 e ta m b ém e m 2 3 :2 5 ). U m a
q u e o p ro je to d o te m p lo era da v o n ta d e d e v e z q u e o te m p lo estava s en d o con stru ído
D eus, e, p ortan to, o S en h or o ajudaria a c o n ­ p ara D eu s, era im p e r a tiv o q u e o s líd eres
cluí-lo (vv. 6-10). D eu s havia c a p a c ita d o seu b u scassem a o S en h or e q u e m an tivessem o
pai para lutar nas batalhas d o S en h or e para c o r a ç ã o e m o rd e m dian te d ele . D avi havia
trazer p a z para Israel, e era c h e g a d a a hora c o lo c a d o seu tro n o em Israel e d es eja va q u e
d e construir a casa d e D eu s (2 Sm 7:9). O a arca - o tro n o d e D eu s - ta m b ém ficasse
Sen h or havia d ito a D avi q u e teria um filho lá. Sua única p re o c u p a ç ã o era q u e o n o m e
para levar a c a b o essa ta refa (7 :12-16; 1 Cr d e D eu s fo s s e g lo rifica d o .
1 7:11; v e r D t 12:8-14). D avi c o lo c o u a ê n fa ­
se sob re o fa to d e q u e o te m p lo d ev eria ser 3. A ORGANIZAÇÃO DO TEMPLO
c o n s tru íd o n ão para a gló ria d o n o m e d e (1 C r 23:1 - 26:32)
D avi n em d e S a lo m ã o, m as sim para a g ló ria D avi sabia qu e, a fim d e D eu s ser glo rifica­
d o n o m e d o S en h or (vv. 7, 8, 10, 19). D avi d o, ta m b ém era p rec is o orga n iza r e p rep a­
qu eria certificar-se d e q u e S a lo m ã o iria g lo ­ rar os m inistros d o te m p lo . M uitas v e z e s , os
rificar o Senhor, n ão construir um m o n u m e n ­ p ro gra m a s d e c o n s tru ç ã o das igrejas con -
to e m h o n ra 'a si m esm o. centram -se tan to nos a s p ec to s fin a n ceiro s e
Davi ta m b ém e n c o ra jo u o filh o a o lem ­ m ateriais q u e d eix a m d e la d o as q u es tõ e s
brá-lo d a fid e lid a d e d e D eu s (vv. 11-13). Se espirituais e, assim, um a c o n g r e g a ç ã o a p ó s­
c o n fia s se n o S en h or e lhe o b e d e c e s s e em tata e d iv id id a reú n e-se para c o n s a g ra r o
tu do, o S en h or m anteria Israel e m p a z e em n o v o e d ifíc io ! C o m o adm in istrador c o m p e ­
segu ran ça e o cap acitaria para c o m p le ta r o tente, D avi o rg a n iz o u os levitas (cap . 23), os
p ro je to (v e r 28:7-9, 20). As palavras "s e fo r ­ s a c erd o te s (cap . 2 4), os ca n to re s d o te m p lo
te e c o ra jo so , n ão temas, n ão te d es a le n te s" (cap . 2 5 ) e os o ficiais d o te m p lo (cap . 26).
nos le m b ra m d e M o is é s e n c o r a ja n d o seu D avi d e s e ja v a ter c e r t e z a d e q u e tu d o na
2 SA M U EL 385

casa d o S en h or seria fe ito "c o m d e c ê n c ia e to m a re m c o n ta d o san tu ário e n q u a n to os


o r d e m " (1 C o 14:40). D avi e seus d ois sa­ s a c erd o te s ministravam no altar n ão signifi­
c e rd o te s lan çaram sortes para to m a r essas c a q u e seu trabalh o era m e n o s im p orta n te
d e c is õ e s (2 4:5, 6 , 31; 2 5:8; 26:13 , 14, 16). para o m inistério d o Senhor. C a d a s e rv o era
Foi esse m e s m o p ro c e s s o q u e Josué usou im p o rta n te para D eus, e c a d a m inistério era
q u a n d o deu às tribos sua h eran ça na Terra n ec e ss á rio .
P ro m etid a (Js 14:2; 23:4). D avi n ão ap en a s o rg a n iz o u os m ú sicos
N o en tan to, a o rg a n iz a ç ã o n ão era um d o san tu ário, mas ta m b é m lhes forneceu
fim e m si, p ois essas p esso a s fo ra m o rg a ­ instrum entos musicais a d e q u a d o s para usar
n iza d a s p a ra servir. A e x p r e s s ã o "p a r a o n o lo u v o r a o S en h or (v. 5; 2 C r 29:25 -2 7;
m in istério d a C asa d o S enhor " (ou term o s A m 6 :5 ). N a d a d o q u e o s levitas e s a c e r­
s e m e lh a n te s ) é usada várias v e z e s n estes d o te s fa zia m n o te m p lo fo i d e ix a d o a o en ­
cap ítu los, a fim d e nos lem b rar d e q u e o c a r g o d o a c a s o ou d a in v e n ç ã o hum ana;
m inistério é a principal resp o n sa b ilid a d e d o antes, fo i tu d o o rd e n a d o p o r D eus. N a d a b e
s ervo d o S en h or na casa d e D eu s (v e r 23:24, e A biú, os filhos d e A rã o , o su m o s a c e rd o te
26, 28, 32; 2 5:1, 6 , 8, 30; 28:13 , 14, 20, 21:
(2 4:1, 2), foram m o rtos p e lo S en h o r p o r d e ­
29:5, 7; 2 Cr 3 1 :16, 17). U m a c o is a é p re e n ­ s en v o lv e re m sua p ró p ria fo rm a d e a d o ra ç ã o
ch er um cargo , mas outra b e m d ife re n te é (Lv 10).
usar ess e c a rg o para servir a o S en h o r e a O s d e v e r e s le v ític o s são a p re s e n ta d o s
seu p o v o . nos versícu los 24 a 32. O s israelitas estavam
O s levitas (23:1-32; ver também o cap. d esfru ta n d o d es ca n so e m sua terra e haviam
6). O autor d e C rôn icas n ão registra o c o n ­ d e ix a d o d e ser um p o v o n ô m a d e, d e m o d o
flito fam iliar o c o rr id o q u a n d o S a lo m ã o subiu q u e os levitas n ão p recisavam mais levar as
a o tro n o (1 Rs 1 - 2), mas o versícu lo 1 indi­ várias p artes d o ta b e rn á c u lo d e um lugar
ca um a prim eira n o m e a ç ã o e 29:22 , outra para o o u tro (ver N m 4). A c on s tru çã o d o
d e p o is desta. P orém , é p ossível q u e o v e r­ te m p lo sign ificava q u e o s levitas seriam n e­
sículo 1 sign ifiqu e, sim plesm en te, q u e Davi cessários para novas in cu m b ên cias. U m a d e
an u nciou S a lo m ã o seu sucessor, c o m o em suas tarefas seria m anter o te m p lo lim p o e
28:4, 5, en q u a n to 2 9 :2 2 d e s c re v e a c o r o a ­ arrum ado, c ertifica n d o -se d e q u e os a rred o ­
ç ã o p ro p ria m e n te dita. (T em o s a im p ressão res d o te m p lo fo s s em c o n s e rv a d o s cerim o-
d e q u e a c o r o a ç ã o d e S a lo m ã o d escrita em n ialm en te puros. T a m b ém d ev eria m cuidar
1 Reis 1 foi p rep arad a às pressas.) A as c en ­ q u e h o u v es se farinha su ficien te para as o fe r ­
são p ú b lica e form al d e S a lo m ã o a o tro n o é tas. Em to d o s os sacrifícios diários, m ensais
d escrita e m 29:21-25. e anuais realizad os, o coral d e levitas d e v e ­
O s levitas a ju d a va m os s a c e rd o te s no ria o fe r e c e r lo u v o res a o Senhor.
m inistério e, d e a c o rd o c o m a lei, d everia m O s sacerdotes (24:1-31). Era im p orta n te
ter, no m ín im o, trinta an os d e id a d e (v. 3; q u e os s a c erd o te s fossem , d e fato, d e s c e n ­
N m 4:3; v e r ta m b é m N m 8 :2 4 ). P o sterio r­ d en tes d e A rã o . N o te m p o d e Davi, havia
m en te, esse lim ite foi a n te c ip a d o para vin te d ois su m os sac erd o te s, Z a d o q u e , um d e s ­
e dois an os d e id a d e (v. 2 4). O s trinta e o ito c e n d e n te d e A r ã o p o r Eleazar, e A im e le q u e ,
mil levitas fora m d iv id id o s e m q u a tro gru­ filh o d e A biatar, da lin h agem d e Itamar. Abia-
p os: c a d a um c o m um m in istério e s p e c ífi­ tar fo i a m ig o e s a c e rd o te d e D avi durante
c o: v in te e qu atro mil levitas para ajudar os os an os d e exílio (1 Sm 20:20 ss) e ta m b ém
s a cerd o tes n o santuário, seis mil c o m o "o fi­ durante a re b e liã o d e A b s a lã o (2 Sm 15:24-
ciais e ju iz e s " (v e r 2 6:1-32), qu atro mil c o m o 29). In felizm en te, A b iatar n ão fo i leal a Salo­
"p o rte iro s " (v e r 2 6:1-1 9 ) e qu atro mil c o m o m ã o e to m o u o p artido d e A d o n ia s e m sua
can tores (v e r 2 5:1-31). H avia um te m p lo e c a m p a n h a p e lo tron o , d e m o d o q u e Salo­
um su m o s a c e rd o te , mas um a d iv e rs id a d e m ã o te v e d e expulsar A b iatar d e Jerusalém
d e d on s e d e m inistérios n ã o m u ito d ife re n ­ (1 Rs 2:22-27). Abiatar era da linhagem d e Eli,
tes d a Igreja d e h o je. O fa to d e os levitas rejeitada e ju lgad a p or D eus (1 Sm 2:30-33;
386 2 SA M U EL

v er ta m b ém 2 Sm 22:26 , 2 7). As vin te e qu a­ fo i ch a m a d a d e p ro fetisa (Êx 1 5:20). O radi­


tro fam ílias (clãs) d e s a c erd o te s foram d e s ig ­ cal d o te rm o h eb ra ico naba sign ifica "b o r ­
nadas p or sortes para servir n o santuário em bulhar, e fe rv e s c e r", referin d o-se a o fe rv o r e
é p o c a s d efin id a s e, no restante d o te m p o , e m p o lg a ç ã o d o p r o fe t a a o p r o c la m a r a
d e v e r ia m tra b a lh a r nas c id a d e s le v ític a s m e n sa gem d e Deus. O u tro s d iz e m q u e sua
instruindo o p o v o . Esse p ro c e d im e n to c o n ­ o r ig e m é um ra d ic a l á r a b e q u e s ig n ific a
tinuava e m v ig o r q u a n d o Z acarias serviu n o "an u n ciar". O im p o rta n te é q u e os h om en s
te m p lo (L c 1:5-9). Z a ca ria s era d o clã d e q u e dirigiram a a d o r a ç ã o no san tu ário de
A b ias (2 4 :1 0 ). Israel n ão eram n ecessa ria m en te p rofeta s no
O s m úsicos (25:1-31), A lé m d o to q u e sen tid o té c n ic o da palavra, mas q u e eles e
cerim on ia l das trom b eta s (N m 10), a iei d e seus can to res p ro cla m avam a Palavra (a m en ­
M o is é s n ão fa z qu alq u er outra m e n ç ã o d e s agem d e D eu s) c o m en tu siasm o e alegria.
m ú sica c o m re la ç ã o à a d o ra ç ã o e m Israel, O s oficiais do tem plo (26:1-32). Esses
e, n o en tan to, esse ca p ítu lo d e s c r e v e um a o ficia is incluíam os p o rte iro s (vv. 1-19), os
o r g a n iz a ç ã o c o m p le x a d e v in te e q u a tro tesou reiro s (vv. 2 0-2 8) e ou tros oficiais es­
gru p o s d e can to res e d e m úsicos. D avi foi p a lh ad o s p o r loca is fo ra d e Jerusalém (v\
um escritor d e salm os e um m ú sico ta len tos o 29-32). O s p orteiro s foram n o m e a d o s para
(2 Sm 23:1, 2; 1 Sm 16:18 ), e é p ro vá ve l qu e gu ardar as portas d o tem p lo , fic a n d o qu atro
a a d o ra ç ã o m usical n o santuário ten h a se guardas nas p ortas N o r t e e Sul e seis nas
d e s e n v o lv id o s o b sua o rie n ta ç ã o (v. 6 ), le­ portas Leste e O e s t e (vv. 17, 18). D ois guar­
v a n d o a in o v a ç õ e s a p ro va d a s p e lo S en h or das cu id avam d o s d ep ó sito s ; ta m b ém havir
(2 Cr 2 9 :2 5 ). Essa p assa gem m e n cio n a har­ guardas fora d a área d o tem p lo . C e rto s d e ­
pas, alaú d es e c ím b a lo s (v. 1 ); ou tros textos talhes s o b re a área d o te m p lo n ão se e n c o n ­
fa z e m m e n ç ã o d e tr o m b e ta s (1 C r 1 3:8; tram registrados nas Escrituras, o q u e torna
15:24, 28; 2 Cr 5 :13; 2 0 :2 8 ) e ta m b ém d e difícil apresen tar um a d es criçã o e x a ta .4 A o
corais (1 Cr 15:27). q u e p a rece, os guardas o b s e rva va m o pov,
T rês le v ita s d e g r a n d e ta le n t o fo r a m q u e entrava e saía para se c ertifica rem de
in cu m b id o s d a m ú sica instrum ental e d o s q u e n in gu é m p ro fa n a va o te m p lo n em se
c â n tic o s n o s c u lto s d e a d o r a ç ã o . A s a fe c o m p o rta v a d e m o d o a e n v e rg o n h a r o sarv
e s c re v e u p e lo m e n o s vin te salm os (5 0 , 73 tuário d o Senhor.
- 8 3 ) e to c a v a c ím b a lo s (1 6 :5 ). H e m ã ta m ­ O s tesou reiro s (vv. 2 0-2 8) gu ardavam os
b ém era c h a m a d o d e "v id e n te d o rei' (v. 5), d ois tesou ro s d o te m p lo , um para as ofertas
o q u e in dica q u e tinha o d o m e s p e c ia l d e gerais e o u tro para as "c o isa s con sagrad as'
d iscern ir a v o n ta d e d e D eus. O S en h o r p ro ­ re ce b id a s d o p o v o , e s p e c ia lm e n te d es p o jo s
m eteu dar a H e m ã um a fam ília n u m ero sa d e gu erra (vv. 20-28). (V e r 2 Rs 1 2:4-16.) Sa„
(v. 5), e to d o s os seus filh os foram m ú sicos. e D avi con tribu íram para esse tesou ro, c o m o
O n o m e d e Jedutum é r e la c io n a d o a Judá ta m b é m o fize ra m ou tro s líderes, c o m o o
e sign ifica "lo u v o r " , um b o m n o m e para um p ro fe ta Sam u el e os gen erais A b n e r e Joabe.
r e g e n te d e coral. Jedutum ta m b é m é a sso­ O te rceiro gru p o d e oficiais d o tem p lo
c ia d o ao s S alm os 39, 62 e 77. (vv. 2 9 -3 2 ) e ra c o n s titu íd o d e " o fic ia is e
O v e r b o "p r o fe t iz a r " é u sad o duas v e ­ ju iz e s " n o m e a d o s para tarefas fora d o tem ­
z e s nos v ersícu lo s 1 a 3 para d e s c r e v e r o p lo, até m e s m o a o e s te d o Jordão. M a n ti­
m inistério d e A safe, H e m ã e Jedutum. O ter­ nham o rei e m c o n ta to c o m os assuntos das
m o n o rm a lm en te se referia a o m inistério d e tribos d e R úben e G a d e e d a m e ia tribo de
p rofetas na d e c la ra ç ã o da Palavra d e Deus. M a n a s sé s . Eram r e s p o n s á v e is , ain d a, p or
C o s tu m a -s e d iz e r q u e " o s p ro fe ta s e ra m m anter essas tribos en v o lvid a s e m "to d o s os
proclamadores b em c o m o prenunciadores". n e g ó c io s d e D e u s " (v. 32), ou seja, to d o s os
N ã o ap en a s p reviam o futuro, mas ta m b ém a c o n te c im e n to s re lig io s o s im p o rta n te s de
falavam das n e c e s s id a d e s p resen tes. M iriã Israel. U m a v e z q u e fica va m s ep ara d o s das
dirigiu as m u lheres n o lo u v o r a o Senhor e outras tribos, os israelitas d a Transjordânia
2 SA M U EL 387

p o d e ria m descu idar-se da o b s e rv â n c ia das A m e n çã o das tribos e d e seus líderes trou­


testas anuais ou m e s m o d o s sáb ad os sem a ­ x e à m em ó ria o c en s o fatíd ico realizad o p or
nais. Isso ex p lic a p o r q u e esses oficiais fo ­ D avi (2 1 :1 -1 7 ; 2 Sm 24). Essa in fo rm a ç ã o
ram s e le c io n a d o s d en tre os fu n cion ários d o adicion al nos ajuda a e n ten d er p o r q u e os
tem p lo . A lé m disso, é b em possível q u e fo s ­ núm eros são diferentes nos dois relatos (24:9;
sem resp on sá veis p ela c o le ta d e im postos. 2 1 :5 ): J oabe n ão term inou o cen so, e n em
to d o s os núm eros foram registrados.
4. A d m in is tr a ç ã o m ilita r Os adm inistradores do rei (vv. 25-31).
(1 C r 27:1-34) H avia, durante o rein a d o d e Saul, um tip o
A fim d e S a lo m ã o p o d e r construir o te m p lo , d e estrutura tributária (1 Sm 1 7:25), mas esta
era n ecessário q u e Israel con tinu asse s en d o n ão é m e n c io n a d a nos registros d o rein ad o
um a n a ç ã o fo rte e q u e tivesse p a z c o m os d e D avi. N o g o v e rn o d e S alom ã o, os im p o s­
vizin h os, pois o jo v e m S a lo m ã o n ão era um tos tornaram-se insuportáveis (1 Rs 4:7, 26-28;
gê n io militar c o m o o pai, D avi. Era p reciso 12:1-24). D avi p ossu ía fa ze n d a s , p om ares,
o rg a n iz a r o e x é rc ito , os líd ere s tribais, os vinhas e reb a n h o s d e o velh as e g a d o usa­
adm in istradores e os c o n s elh e iro s para ser­ d o s para suprir as n ec e ss id a d e s d o p a lá d o .
vir a o rei p esso a lm en te. T inha d e p ó s ito s para seus alim en tos e, uma
O s capitães (vv. 1-15). O e x é r c ito d e v e z q u e seus go sto s n ão eram tã o extrava­
D avi era c o n s titu íd o d e d u z e n to s e o ite n ta ga n tes q u a n to os d e S a lo m ã o , a q u ilo qu e
e o ito mil h o m en s - o q u e n ão p o d e ria ser D avi re c e b ia d o S en h o r rendia m uito mais.
c o n s id e ra d o um e x é rc ito p e rm a n e n te m ui­ Os conselheiros do rei (vv. 32-34). Todo
to gra n d e - c o m p o s to d e d o z e d iv is õ e s d e líd er p recisa d e um g ru p o mais ín tim o d e
v in te e q u atro mil h o m en s cad a, d e m o d o p esso a s para acon selh á-lo, o b rigá-lo a e x a ­
q u e c a d a h o m e m s ervia um m ês p o r ano. minar as próprias d e c is õ e s e m o tiv a ç õ e s e
P o rém , n o c a s o d e um a e m e r g ê n c ia m ili­ ajudá-lo a buscar a o Senhor. Jônatas, tio d e
tar, o e x é r c ito t o d o p o d e r ia ser c o n v o c a ­ Davi, é e lo g ia d o e, a o q u e p a re ce , Jeiel era
d o. C a d a d ivis ã o militar m ensal fic a v a sob o tutor d o s filhos da fam ília real. A ito fe l ha­
o c o m a n d o d e um d o s "v a le n te s " d e D avi via sido um am igo d e c o n fian ça e con selh ei­
re la c io n a d o s e m 1 C rô n ic a s 11. O s d o z e ro sábio d e Davi, mas se juntou a A b sa lã o na
c o m a n d a n te s eram J a s o b e ã o (1 C r 2 7:2, 3; re b e liã o e c o m e te u suicídio qu an d o A b salão
\er 1 1 :1 1 ); D o d a i (v. 4; v e r 1 1 :1 2 ); Benaia, rejeitou seu c o n s elh o (2 Sm 15:30, 31; 16:15
c o m a n d a n te da gu ard a p esso a l d e D avi (vv. - 17:23). Husai fo i o h o m em cu jo con selh o
5, 6 ; v e r 1 1:22 -25 ); A s a e l, s o b rin h o d e D avi A b s a lã o aceitou , o q u e levou à d errota d o
iv. 7; v e r 1 1 :2 6 ); S am u te (v. 8 ; v e r 1 1 :2 7 ); exé rc ito reb eld e. O substituto d e A ito fel foi
•rã (v. 9; v e r 1 1 :2 8 ); H e le s (v. 10; v e r 1 1 :27); 'Joiada, filho d e Benaia". É p rová vel q u e esse
S ib ecai (v. 11; v e r 1 1 :2 9 ); A b ie z e r (v. 12; Benaia seja filho d o c o m a n d a n te da guarda
v e r 1 1 :28 ); M aarai (v. 1 3; v e r 1 1 :30 ); o u tro pessoal d o rei, o s a cerd o te Benaia. O sacer­
B en aia (v. 14; v e r 1 1 :3 1 ) e H e ld a i (v. 15; d o te Ab iatar era um d os assessores d e m aior
v er 1 1 :30). c o n fian ça d o rei Davi (1 Sm 22:20-23) e, a p e ­
O s líderes tribais (vv. 16-24). C a d a tri­ sar d e Joabe e Davi n ão serem am igos ch e­
b o possuía um líder (N m 1 - 2, 4 ) e era divi­ g a d o s , D avi p rec is a v a d o c o m a n d a n te d o
dida e m un idades m e n o res (gru p o s d e d ez, e x é rc ito d en tro d e seu círcu lo mais íntim o,
d e cin q ü en ta, d e c e m e d e mil; Êx 18:17- n em q u e fosse apenas para saber o qu e ti­
z 3 ), e c a d a u n id ad e tinha seu líder. Por al­ nha e m m en te. N e m s em p re a p rio rid a d e d e
gum m o tiv o , as tribos d e G a d e e A s e r n ão J oabe era servir aos interesses d e Davi.
são m e n c io n a d s nessa lista, mas a fim d e
c h e ga r a o total d e d o z e , Levi é incluída c o m 5 . C o n s a g r a ç ã o sin c e ra
as tribos d e José (Efraim e M an assés). O rei (1 C r 28:1 - 29:20)
p o d e ria c o n v o c a r d o z e h o m en s e, p o r m e io N ã o há estru tu ra e o r g a n iz a ç ã o h u m a n a
deles, com u n icar-se c o m to d o o p ov o . c a p a ze s d e substituir a c o n s a g ra ç ã o sincera
388 2 SA M U EL

a o Senhor. D avi estava prestes a sair d e cen a seguir, d e m o d o geral, o p a d rã o d o taber­


e a ser s u c ed id o p o r um filh o in exp erien te, n áculo, o e d ifíc io c o n s tru íd o p o r S a lo m ã o
e a c o n s tru ç ã o d o te m p lo era um a ta refa era m uito m a ior e mais c o m p le x o d o q u e a
gra n d e d em a is para qu alq u er p esso a ou gru­ c o n s tru çã o d e M o is é s. Davi le m b rou Salo­
p o d e pessoas. S em a b ê n ç ã o d o Senhor, m ã o d e q u e esses p ro jeto s n ão eram a p e ­
n ão havia e sp era n ça algu m a d e su cesso para nas um a su gestão d o Senhor, mas sim um a
o p o v o . O s líderes v ê m e v ã o , mas o Sen h or c o m is s ã o divina. O S en h o r ta m b é m o rd e ­
p erm a n ec e , e é ao Senhor qu e d e v em o s nou a o rg a n iz a ç ã o d o s s a c erd o te s e levitas.
agradar. M o is é s te v e d e segu ir fie lm e n te o m o d e lo
D a vi desafia os líderes (28:1-8). D avi q u e D eu s havia lhe d a d o no m o n te (Êx 25:9,
reuniu e m Jerusalém os líderes c ita d o s nos 4 0 ; H b 8 :5 ), e S a lo m ã o d e v e r ia f a z e r o
cap ítu los an teriores e recapitu lou para eles m esm o. O p r o je t o d o t e m p lo in d ic a v a a
a história d e seu gra n d e d e s e jo d e construir qu a n tid a d e d e material a ser usada para cada
o te m p lo para o Senhor. É b o m o p o v o sa­ utensílio e p e ç a d e m o b ília e para c a d a par­
b er o q u e se passa no c o r a ç ã o d e seu líder te d a c on s tru çã o (vv. 1 3-1 9), e n ada disso
e c o m o D eu s trabalhou na v id a d ele. Davi d ev eria ser alterado.
e n fa tizo u q u e o S en h or é q u em o havia es­ A segu n d a c on trib u içã o d e Davi fo i ou ­
c o lh id o , u n gid o e e s c o lh id o S a lo m ã o para tra palavra d e estím u lo para fo rta le c e r a v o n ­
ser seu sucessor. L em b rou ao s líderes a alian­ ta d e e a fé d e S a lo m ã o (v. 20). Assim c o m o
ça q u e D eus, em sua graça, havia fe ito c o m M o is é s e n c o ra jo u Josué (D t 3 1:6, 7), Davi
a casa d e D avi e a sua resp o n sa b ilid a d e em disse a S a lo m ã o q u e o S en h or jam ais o aban­
o b e d e c e r à lei d o Senhor. Se gu ard assem d o n a ria e q u e e le p o d e r ia e n c o n tr a r e m
os term o s da alian ça e o b e d e c e s s e m a Deus, D eu s to d a a s a b ed o ria e força s necessárias
e le cum priria suas p ro m essas e a b e n ç o a ria para c o m p le ta r o p r o je t o .5
a nação. Enquanto o b e d e c e s s e m aos term o s A terceira c o n trib u içã o q u e S a lo m ã o re­
da aliança d e D eus, possuiriam a terra e d es­ c e b e u d o pai fo i um gru p o d e p essoas pre­
frutariam suas b ên ção s. paradas para trabalhar c o m e le e para levar
D avi apresenta as responsabilidades a o p ro je to a c a b o (v. 2 1 ). V im o s c o m o D avi
Salomão (28:9, 10). C a b ia a S a lo m ã o a gran­ o rg a n iz o u os d iversos níveis d e líderes, tan­
d e resp o n sa b ilid a d e d e servir d e e x e m p lo e to civis qu an to religiosos, d e m o d o q u e pu­
d e o b e d e c e r à lei d o Senhor. U m "c o r a ç ã o d e s s e m trabalhar e m h arm on ia e segu ir o
ín te g ro " é o q u e n ão se e n co n tra d iv id id o e n o v o rei. Assim c o m o o S en h or havia provi­
é in teiram en te c o n s a g ra d o a o Senhor. E triste d o trab alh ad ores c a p a c ita d o s para construir
qu e, em sua id ad e mais avan çada, S alo m ã o o ta b e rn á c u lo (Êx 3 5:25 -3 5; 3 6:1, 2), tam ­
ten h a se to rn a d o um h o m e m in con stan te e b é m f o r n e c e r ia o s tr a b a lh a d o r e s d e que
c o m e ç a d o a a d o ra r íd olo s, pois isso levo u â S a lo m ã o p recisava para construir o tem p lo
disciplina d e D eu s e à d ivisão d o reino. M ais d e Jeová, um a p ro m essa q u e o S en h or cum­
um a v e z , D avi e x o rto u S a lo m ã o a "s e r fo r­ priu (2 Cr 2:13, 14). A lé m disso, to d o o povo
t e " (2 2 :1 3 ), um a a d m o e s ta ç ã o q u e repetiria daria o u v id o s e o b e d e c e r ia às o rd en s d e seu
p ela terceira v e z antes d o fim d e seu discur­ n o v o rei.
so (v. 20). O Dr. L ee R o b e rso n costu m a di­ A quarta c o n trib u içã o d e D avi fo i a pró­
z e r qu e: "a a scen sã o e q u e d a d e tod as as pria p ro vis ã o d e riq u ezas q u e havia ajunta­
coisas se d e v e à lid era n ça ". Se um a lideran­ d o para a c on s tru çã o d o te m p lo (29:1-5). D e
ça é fiel a o S en h o r e c o n fia nele, D eu s lhe a c o r d o c o m 2 2 :1 4 , os d e s p o jo s das bata­
d á sucesso. lhas c o n s a g ra d o s a o S en h or con stituíam um
D avi transmite suas contribuições ao total d e 3 .4 0 0 to n elad as d e o u ro e 34.00-Q
projeto (28:11 — 29:9). A p rim eira c o n tri­ to n e la d a s d e prata. D avi a c re sc e n to u , ain­
b u iç ã o d e D avi a S a lo m ã o foi um p ro jeto , da, d e seu p ró p rio tesou ro, mais d e 100 to­
p o r escrito, d o te m p lo e d e sua m o b ília e neladas d e o u ro e 2 3 5 to n e la d a s d e prati
utensílios (vv. 11-19). A p e s a r d e o te m p lo (v. 4). Isso sign ifica q u e D avi fo rn e c e u 3.5C2
2 SA M U EL 389

to n e la d a s d e o u ro e 3 4 .2 3 5 to n e la d a s d e q u e a d o re m s o m e n te a o S en h or e q u e n ão
prata. M as, em segu ida, o rei instou seus líde­ tran sform em as riq u ezas n o seu deus.
res a con tribu írem c o m g e n e ro s id a d e para C o m o qu alq u er pai te m e n te a D eu s Davi
o "fu n d o d e c o n s tru ç ã o " (vv. 6-9), e e les fo r­ e n c e rro u sua o ra ç ã o in te rc e d e n d o p e lo fi­
n e c e ra m 1 68 to n e la d a s d e o u ro e d e p o is lho, S a lo m ã o , p ara q u e fo s s e s em p re o b e ­
mais 1.270 qu ilos d o m e s m o metal, 3 3 6 to ­ d ien te àq u ilo q u e estava escrito na lei e qu e
n eladas d e prata, b e m c o m o 675 to n elad as fo s s e b e m -s u c e d id o na c on s tru çã o d o te m ­
de bronze e 3 .7 5 0 to n elad as d e ferro e ta m ­ p lo para a glória d e Deus. (No v. 19, o ter­
b ém p edras p reciosas. Essa o fe rta nos lem ­ m o p a lá c io " s ig n ific a "q u á lq u e r estrutura
bra d o "o u ro , prata, p edras p rec io sa s" (1 C o palacian a d e gran des p r o p o r ç õ e s ".) Em se­
3 :1 2 ) citad o s p or Paulo. O mais extraord in á­ guida, c o n v o c o u a c o n g r e g a ç ã o para louvar
rio c o m re la ç ã o ao s líderes e suas o fertas é a o Senhor, e o p o v o o b e d e c e u , curvou-se e
q u e contribu íram d e b o m gra d o, e to d o s se a té se p rostrou c o m o rosto e m terra e m
'alegraram c o m gra n d e jú b ilo " p or esse pri­ sinal d e s u b m is s ã o e d e a d o r a ç ã o . Q u e
v ilé g io ! D essa v e z , nos lem b ram o s das pala­ m a n eira e x trao rd in ária d e dar in ício a um
vras d e Paulo e m 2 C o rín tio s 8:1-5 e 9:7. p ro gra m a d e con stru çã o !
D avi dam a ao Senhor (29:10-21). Esta
o r a ç ã o m a g n ífic a inicia c o m o lo u v o r e a 6. C e le b ra ç ã o a le g re
a d o ra ç ã o a o S en h o r (vv. 10-14). D eu s a b e n ­ (1 C r 29:21-25)
ç o a ra D avi ricam en te, d e m o d o q u e o rei N o d ia s egu in te, D avi o fe r e c e u sacrifícios
a b e n ç o a a D eu s c o m to d a gra tid ã o ! Suas a o S e n h o r e um b a n q u e te a seus líderes.
palavras con stitu em um curso b rev e d e te o ­ O s h o lo c a u sto s fora m sa c rific a d o s a fim d e
logia. Ele b e n d iz o D eu s d e Israel e r e c o ­ e x p ressa r a c o n s a g r a ç ã o total d o p o v o a o
n h e c e sua g ra n d e za , p o d e r, glória, v itó ria S en h or. A lé m d isso, p o r é m , D avi re a lizo u
e m ajestade. T u d o p e rte n c e a D eus, e e le é o fe rta s p acíficas, e p arte d e c a d a sacrifício
s o b e ra n o s o b re tod as as coisas! Seu n o m e fo i usada para um a r e fe iç ã o d e c o m u n h ã o .
é gra n d e e g lo rio s o ! M as q u em é D avi e seu Foi um a o c a s iã o d e g ra n d e a le gria q u e c h e ­
p o v o q u e p ossam o fe rta r tã o g e n e ro s a m e n ­ go u a o a u g e c o m a c o r o a ç ã o d e S a lo m ã o.
te a o S enhor? Afin al, to d as as coisas v êm Era e x t r e m a m e n te im p o r ta n te q u e o s re ­
d ele, e q u a n d o d am os, a p en a s d e v o lv e m o s p resen ta n tes d e to d o o Israel c o n c o rd a s s e m
a o Sen h or aq u ilo q u e e le já nos d eu e m sua q u e S a lo m ã o era o rei e s c o lh id o p o r D eu s;
graça. d e o u tro m o d o , jam ais teria s id o c a p a z d e
Em con traste c o m o D eu s e tern o, Davi liderá-los na c o n s tru ç ã o d o te m p lo . D avi foi
d eclara q u e e le - o rei! - é c o m o qu alq u er u n g id o p o r S a m u el e m p a rtic u la r (1 Sm
o u tro ser h u m an o, um fo ra s te iro e estran­ 1 6 :1 3 ) e, d e p o is , p u b lic a m e n t e e m H e-
g e iro na Terra. D eu s é e te rn o , mas a vid a b ro m e m duas o c a s iõ e s (2 Sm 2:4 ; 5 :3), d e
hum ana é b reve, e n in gu ém p o d e evitar a m o d o qu e, na v e rd a d e , fo i u n g id o três v e ­
hora in escap ável da m orte. (N e s ta passagem , ze s . N a m e sm a c o m e m o r a ç ã o , Z a d o q u e fo i
D avi fa z lem brar M o is é s n o Salm o 9 0.) U m a u n g id o su m o s a c e rd o te , o q u e in dica q u e
\ e z q u e tod as as coisas v ê m d e D eu s e q u e A b ia ta r fo i c o lo c a d o d e lad o . P o s te rio rm e n ­
a vid a é b reve, o mais sáb io a fa ze r é d e v o l­ te, A b ia ta r m ostrou -se um traidor, a p o ia n ­
v er a o S en h or aq u ilo q u e e le nos d á e in ves­ d o A d o n ia s , e fo i a p o s e n ta d o (1 Rs 2 :2 6,
tir no q u e é etern o. 27, 3 5).
D avi ga ran te a o S en h or q u e as o fertas O livro e n c e rra c o m um to m m e la n c ó li­
vieram d o fu n d o d e seu c o r a ç ã o e d o c o ra ­ c o, a o registrar a m o rte d o rei Davi. C o m o
ç ã o d e seu p o v o e foram e n tregu es c o m ale­ d iz um p ro v é rb io russo: "A té m e sm o o m aior
gria e sin c e rid a d e . O rei ora p e d in d o q u e d o s reis d e v e r e c e b e r seu re p o u so final c o m
seu p o v o ten h a s em p re um c o r a ç ã o c h e io a ajuda d e um a p á". E v erd a d e, mas há a q u e ­
d e g en ero sid a d e, gratidão e alegria e qu e seja les qu e, m e s m o d e seu túm ulo, glo rifica m o
sem p re fiel a seu Deus. Em outras palavras, n o m e d e D eu s! D a q u e le dia e m diante, Davi
390 2 SA M U EL

seria o p a râ m etro usado para m ed ir to d o s D avi e s c re v e u c â n tic o s para os levitas


os reis d e Israel (1 Rs 3:3; 15:5; 2 Rs 18:3; can ta rem e m sua a d o ra ç ã o a D eu s e ta n -
2 2:2; 14:3; 15:3, 34; 16:2; 18:3; 20:3). b é m lhes fo r n e c e u in stru m en tos m u sica:s
O le g a d o d e D avi é lo n g o e rico . Ele O r g a n iz o u o m in istério n o te m p lo e ens.-
un ificou a n ação , d eu a o p o v o p a z e m sua nou a o p o v o q u e a a d o ra ç ã o a D eu s era a
terra e a m p lio u as fron teiras d o rein o. D eu s m a ior d e to d as as p riorid a d es para a n ação
o e s c o lh e u para e s t a b e le c e r a dinastia qu e, A n tes d e m orrer, e n c o ra jo u S alom ã o, desa­
a seu te m p o , trou x e a o m u n d o Jesus, o Sal­ fiou os líderes e d eu a o n o v o rei um po\ ■:<
vad or. D avi fo r n e c e u gra n d e p arte d a riq u e ­ unido, en tu siasm ad o c o m a con stru çã o da
z a usada para con stru ir o te m p lo , o filh o C asa d e D eus. H o je , a v id a d e D avi ser\e
para con stru í-!o e o lo ca l o n d e o te m p lo fo i para nos ensinar tan to o q u e d e v e m o s c o ­
e d ific a d o . D eu s d eu a D avi o p r o je t o d o m o o q u e n ão d e v e m o s fazer. O s hinos de
te m p lo , e D avi recru to u os tra b a lh a d o res D avi fa z e m parte d e nossa leitura, m edita­
para execu tá -lo . ç ã o e cân ticos.

1. Infelizmente, muitos pregadores bem-intencionados interpretam de maneira equivocada a passagem de 1 Coríntios 3:9-23 e
pregam sobre "a edificação de sua vida". É possível fazer tal aplicação, porém a interpretação fundamental está ligada à
edificação da igreja local. Para uma exposição dessa passagem, ver minha obra Be Wise (Victor).
2. Sem dúvida, esse salmo encaixa-se com as experiências de Davi descritas em 1 Samuel 24 e em 1 Crônicas 21. Seu orguího
o levou a pecar (vv. 6, 7), e a nação estava sob pena de morte. Porém, Deus respondeu a suas súplicas por livramento, e a n
divina não se prolongou.
3. Adorão não era um homem benquisto. Depois da morte de Salomão, Roboão, filho do rei, subiu ao trono. O s israel**
estavam cansados dos impostos de Salomão e de seus grandes programas de construção e apedrejaram Adorão até a mor*
(1 Rs 12:18).
4. 1 Crônicas 26:18 costuma ser usado por pessoas que gostam de criticar as Escrituras: "No átrio ao ocidente, quatro junto ao
caminho, dois junto ao átrio". A que se referem esses números? Vários estudiosos do hebraico acreditam que se tratam oe
colunatas e que se referem a uma área a oeste do templo propriamente dito.
5. Permita-me fazer uma observação pessoal. Na década de 1950, quando pastoreava minha primeira igreja, o Senhor m»
orientou a iniciar um programa de construção. Não sou construtor e tenho dificuldade até para entender uma planta bam .
Um dia, durante minha hora devocional, estava lendo a Bíblia quando me deparei com 1 Crônicas 28:20, e o Senhor me o n
essa passagem como uma promessa de sucesso, promessa esta que me ajudou a levar a cabo aquela empreitada.

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