Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Benefícios Da Escuta Musical Orientada Na Terceira Idade
Benefícios Da Escuta Musical Orientada Na Terceira Idade
Resumo: O presente artigo aborda alguns aspectos do trabalho realizado com idosos no
Programa Universidade Sênior, desenvolvido na Universidade Municipal de São Caetano do
Sul, com duração de dois anos e voltado a pessoas da comunidade com idade superior a 50
anos, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. As aulas
acontecem duas vezes por semana e os temas enfocam aspectos biológicos, psicológicos e
sociais por meio de atividades sócio-educativas e culturais e abrangendo diversas linguagens
artísticas. Foram descritas, de maneira breve, as atividades realizadas numa das disciplinas
oferecidas, qual seja, Música e Saúde, fundamentadas em Gainza (1988) que afirma que toda
atividade musical é projetiva, Barcellos (1999), quando concorda com Austin que afirma que
sempre é possível fazer paralelos entre música e texto e Willems (1961) que advoga a idéia de
que os três elementos fundamentais da música: ritmo, melodia e harmonia, cujo acesso é fácil
na vida diária, permitem-nos estabelecer paralelos com a natureza humana, por serem
tributários da vida fisiológica, afetiva e mental. O artigo comenta também sobre algumas
facetas da Educação Musical na terceira idade, no que se refere aos tipos de escuta musical
por meio de atividades vinculadas à música erudita e popular e sua apreciação. Concluiu-se
que a escuta musical e a apreciação orientadas podem ser de suma importância quanto ao
processo de autoconhecimento, para que o idoso aprenda a respeitar a si mesmo com suas
limitações e as possibilidades que se lhe apresentam de viver em sociedade, ouvindo,
conhecendo e fruindo música.
Palavras chave: Educação musical, terceira idade, música e inclusão.
Introdução
Além disso, em alguns idosos pode existir um sentimento de inutilidade física, pois
o corpo já não responde como antes. Surgem medos diversos e sentimentos de insegurança,
relativos, por exemplo, a quedas ou processos gripais. Junto às enfermidades, vêm, mais
concretamente, as preocupações com a morte. Morrem amigos, familiares e cônjuges. Assim,
alguns idosos começam a se preocupar com o passado e passam a se convencer de que antes
tudo era melhor.
Por esses motivos, várias Universidades têm desenvolvido projetos de extensão
voltados para a terceira idade, com o objetivo de auxiliar na conquista de melhor qualidade de
vida e cultivar uma atitude mais participativa nesse segmento da sociedade. Assim, propondo
uma pedagogia para os idosos, abrem-se-lhes novos espaços, tendo como enfoque o
desenvolvimento de habilidades por meio de atividades que facilitem a expressão da
criatividade, autoconfiança e independência.
A Universidade Sênior é um programa de convivência e aprendizagem oferecido pela
Universidade Municipal de São Caetano do Sul, voltado a pessoas da comunidade com idade
superior a 50 anos. O Programa tem duração de dois anos, com aulas durante quatro meses
por semestre. A programação semestral conta com dois módulos de 48 horas, cada um deles
composto por duas disciplinas e/ou oficinas de 24 horas cada. As aulas acontecem duas vezes
por semana e os temas enfocam aspectos biológicos, psicológicos e sociais por meio de
atividades sócio-educativas e culturais. As classes são formadas por 40 estudantes no
máximo. Após a conclusão do módulo básico, a Universidade Sênior oferece outros
programas sem duração determinada, com disciplinas complementares àquelas já cursadas.
Assim, além da convivência com o grupo de estudo, o participante pode usufruir das
oportunidades que a Universidade oferece em atividades culturais.
Esse projeto iniciou suas atividades em 2004 com 07 alunas e até o final de 2008, 80
pessoas haviam concluído os estudos básicos. Em 2009, contou com duas turmas totalizando
60 alunos residentes não apenas em São Caetano do Sul, mas também na capital e em outros
municípios do ABC paulista. A maioria dos alunos tem entre 50 e 60 anos, embora tenha
também uma porcentagem expressiva de estudantes entre 61 e 70 anos.
O grau de escolaridade dos alunos é bem diversificado, conforme demonstrado no
quadro a seguir:
509
Metodologia:
Desde 2006 temos ministrado nesse Programa a disciplina Música e Saúde, a qual
apresenta alguns aspectos da História da Música Ocidental, como os estilos característicos de
cada período e a trajetória de sua utilização como ferramenta na busca do autoconhecimento e
equilíbrio emocional.
Pretende-se com este curso conhecer e discutir o seguimento da música na história da
humanidade e suas aplicações na saúde física e mental, desde os primórdios até nossos dias. O
conteúdo programático aborda aspectos como:
510
sentimentos internos. A eterna criança da psique tem seus próprios objetivos, a sua música
própria e as suas próprias canções”. (In BARCELLOS, 1999, p. 77). Assim, a música
funciona como um “objeto intermediário”, ou seja, um instrumento capaz de criar canais de
comunicação. É o conteúdo no qual se projetam lembranças de experiências vividas.
A atividade musical, por mais simples que seja, torna-se mais complexa quando
entram em jogo as características emocionais que se atribuem à música. Por esse motivo ela é,
para as pessoas, além de objeto sonoro, concreto, também aquilo que simboliza, representa ou
evoca. Isso equivale a dizer que quando realizamos uma escuta imaginativa, ou recordamos
fatos passados impulsionados pela escuta, ou quando nos entusiasmamos pelo ritmo,
demonstrando o que sentimos podemos melhorar nosso autoconhecimento, pela observação
atenta de nossas reações físicas e emocionais à escuta musical.
O educador musical belga, Edgar Willems, advoga a idéia de que os três elementos
fundamentais da música: ritmo, melodia e harmonia, cujo acesso é fácil na vida diária,
“permitem-nos estabelecer paralelos com a natureza humana, pois estes três elementos, nos
seus momentos característicos, são respectivamente tributários da vida fisiológica, afetiva e
mental”. (WILLEMS, 1961, p. 15)
Hoje sabe-se que os benefícios que a música pode trazer às pessoas de qualquer faixa
etária são inúmeros. Embora não existam ainda estudos científicos que possam dizer com
precisão, quais elementos da música (melodia, harmonia, ritmo, letra) são responsáveis pelas
reações que as pessoas apresentam, as pesquisas mostram que a música influi na digestão, nas
secreções internas, na circulação, na nutrição e na respiração. Verificou-se que até as redes
nervosas do cérebro são sensíveis aos princípios harmônicos. O corpo é afetado de acordo
com a natureza da música cujas vibrações incidem sobre ele (há mudanças no pulso e
respiração).
Paixão Cearense; O que será? De Chico Buarque de Holanda; Como nossos pais, de Belchior,
entre outras.
Após o levantamento das palavras, tem sido construídas frases como as que se
seguem1:
Para quem nunca estudou e até mesmo pouco freqüentou uma escola e, um
dia qualquer na sua vida ele tem a oportunidade de voltar a estudar, é como
estar habituado a enxergar pouco e um dia vai ao oftalmologista que lhe
receita uns óculos. Ele passa a ver melhor, sua visão fica mais clara; vê tudo
com mais nitidez. Assim é o entendimento. Depois que se envolve
aprendendo sentirá vontade de aprender mais, passando a entender com mais
clareza assuntos diversos. Mas não é só nas lições escolares que se encontra
nosso aprendizado. [...] É também buscar o conhecimento interno e sentir
seu próprio valor. [...] Não ter o ranço de quem é perfeito e cheirar a mofo,
acreditando que já aprendeu tudo o que precisava. [...] Os anos podem
passar, mas permanecerá em nós a beleza de ser um eterno aprendiz. (E. M.
P. - 70 anos)
Vou deixar a vida me levar por onde ela quiser. Vou descobrir o eu caçador
de mim, pois ainda somos os mesmos e vivemos e sentimos saudade do luar
do sertão. A canção é lua cheia que nasce no coração. Então, por favor, até
que o dia amanheça, se você puder, não me esqueça. (M. A. P. P. – 58 anos)
Considerações finais
1
A citação das frases tem o consentimento de seus autores.
513
2
TOSI, G. Por que educar para os direitos humanos e a cidadania. Disponível em
http://www.dhnet.org.br/educar/textos/index.htm. Acesso em 26/03/09
514
Dizem:
- Ela não para mais em casa!
- Ligo e ela nunca está!
- Vamos ter que marcar hora!
Mas mesmo assim continuo. Fogão, pia... Só que agora mais feliz.
Muito, muuuito mais feliz!
Por isso digo aos meus amigos e amigas:
- Não fechem seus corações, soltem suas amarras! Aproveitem a
oportunidade que estamos tendo para abrir seus corações e deixar sair toda
dor, angústia, mágoas e decepções. Com isso vocês não imaginam como irão
se sentir bem e, as lembranças boas que estavam abafadas também sairão e
vocês se sentirão muito melhor! Sei que não sou ninguém para aconselhar
mas, se quiserem fazer uma experiência, aproveitem as aulas para começar a
soltar as amarras e, garanto que não se arrependerão”.
Referências
AZAMBUJA, Thais de. Expressão e criatividade na terceira idade. In Veras, Renato (org).
Terceira Idade: um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará: UnATI/UERJ. 1995, p. 105.
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Sumus, 1988,
p. 43.
WILLEMS, Edgar. Las bases psicologicas de la educacion musical. Buenos Aires: Editorial
Universitaria de Buenos Aires, 1961, p. 15.