O Bem-Amado

Você também pode gostar

Você está na página 1de 42

O Bem-amado

Dias Gomes

Ju Palermo
Literatura
Dias Gomes (1922-1999)
• Baiano, nascido em Salvador
• Mudou-se para o Rio de Janeiro
• Adaptou obras teatrais para rádio
• Várias obras adaptadas para TV e
cinema
• Alto teor de denúncias em suas
obras
• O Bem-amado –
primeira novela em
cores
Contexto histórico
• Obras censuradas pelo Estado Novo e
pela ditadura militar
• Na TV, Dias Gomes também sofre com a
censura, o que impediu a novela Roque
Santeiro de ir ao ar no dia da estreia, em
1975, já que tratava da reforma agrária.
• Algumas Novelas: O bem amado,
Bandeira 2, O Espigão e Saramandaia
• Séries: Carga Pesada e Decadência.
Características da obra
• Peça teatral dividida em 9 quadros (cenas)
• Escrita em 1962, encenada em 1970
• Caráter popular
• Alegoria para a política
• Farsa sociopolítica patológica (nas palavras
do autor)

- crítica, sátira, denúncia


- Aborda aspectos sociais e políticos – patologias
sociais e políticas (doenças)
Odorico - discurso

• Odorico – crítica do coronelismo


• Famoso pelos neologismos (“Pra
frentemente”, “agoramente”)
• Efeito cômico a respeito do discurso político
• Esvaziamento do discurso – Gerador de lero
lero
“O incentivo ao avanço tecnológico, assim como o
início da atividade geral de formação de atitudes
promove a alavancagem dos métodos utilizados na
avaliação de resultados. Podemos já vislumbrar o
modo pelo qual o desafiador cenário globalizado talvez
venha a ressaltar a relatividade das novas proposições.
Neste sentido, a complexidade dos estudos efetuados
ainda não demonstrou convincentemente que vai
participar na mudança do processo de comunicação
como um todo. Assim mesmo, a estrutura atual da
organização auxilia a preparação e a composição das
regras de conduta normativas.”
Odorico

“Meus concidadãos! Este momento há de ficar


para sempre gravado nos anais e menstruais
da História de Sucupira!”
• Discurso manipulador
• Brasil – parnasiano – linguagem padrão é
sinônimo de inteligência e competência
• 15 personagens – críticas na época
• Modernismo (teatro moderno)
• Gênero dramático – comédia (crítica política)
• Denúncia, deboche, sátira
• Políticos demagogos e populistas
• Espaço – cidade imaginária: Sucupira
(pequena cidade do litoral baiano) – pacata,
sem crimes, sem grandes acontecimentos
• História se passa em aproximadamente 2 anos
• Início dos anos 1960
• Linguagem: coloquial, expressões
características do falar regional
Personagens
• Odorico (protagonista) – político
inescrupuloso, obras pomposas e grandiosas,
sem preocupação com necessidades básicas
do povo
• 3 irmãs cajazeiras – fiéis seguidoras de
Odorico – comportamento moralista e
hipócrita das pequenas cidades de interior
• (Dulcinéa, Dorotéa, Judicéa)
Personagens
• Dirceu Borboleta – simples, fraco, manipulado
• Neco Pedreira – representa a imprensa local,
dono da gazeta, oposição a Odorico
• Zeca Diabo – jagunço, muitas mortes
atribuídas a ele, lado religioso e sensível que
diverte o público
Odorico
➔Prefeito da cidade de Sucupira
➔Demagogo
➔Militar
➔Muito bem apresentado em contraste
com os homens da cidade
➔Uso de neologismo
➔Muito eloquente
➔Uso de retórica rebuscada porém vazia
➔Padrinho de casamento de Dirceu e
Dulcinéa
• Dirceu Borboleta
➔Marido de Dulcinéa
➔Caçador de borboletas
➔Secretário de Odorico
➔“Fisicamente frágil, de óculos com ar de
desligado”

• Dulcinéa
➔Mulher de Dirceu
➔Tem um caso com Odorico
➔Irmã de Judicéa e Dorotéa
• Neco Pedreira
➔Dono do jornal local - A Trombeta
➔Mentalidade acima da população da cidade
❖Não alienado
❖Questionador
➔Não tem apreço por Odorico
• Dorotéa
➔Professora
➔Tem sentimentos por Odorico
• Zeca Diabo
➔Matador
➔Devoto
➔Quer se redimir pela vida de pecados
que levava
➔Morador expulso da cidade por matar o
ex-delegado
➔Torna-se delegado
• Vigário
Primeiro quadro
- Um homem morre (Mestre Leonel);
-Inicia-se discussão sobre o enterro do morto, já que
na cidade não há cemitérios;
Dermeval – Falar em Janaína, sabe do caso do
sujeito que se encontrou com a mãe d’água no meio
do mar?
Zelão – Sei não. Como é?
Dermeval – Quando ele viu aquele mulherão pela
frente, toda nua, mulher do umbigo pra cima e peixe
do umbigo pra baixo, perguntou: “Siá dona, será que
vosmicê não tem uma irmã que seja ao contrário?”
Primeiro quadro
- Coronel Odorico, vereador, futuro candidato
à prefeitura, entra em cena e aproveita a
oportunidade para discursar, prometendo
inaugurar um cemitério caso fosse eleito;

“estado de defuntice compulsória”


“Vim de branco para ser mais claro.”

- Slogan da campanha: “Vote num homem


sério e ganhe seu cemitério”
Segundo quadro
- Odorico é eleito.
- Dirceu é nomeado Secretário de Odorico -
nepotismo;
- Desvio de verbas direcionadas a obras
públicas para o construção do cemitério;
- Dulcinéa é amante do prefeito Odorico,
que é seu padrinho de casamento;
- Dulcinéa acredita estar grávida do prefeito,
já que Dirceu fez um voto de castidade
Terceiro quadro
- Um ano depois da posse e da construção do
cemitério – sem defuntos
- Odorico lê um exemplar da Trombeta (jornal
da cidade) e fica indignado com o conteúdo;
- Apesar de A Trombeta estar dizendo a
verdade, o prefeito julga o jornal
tendencioso e subversivo - o que era feito
muitas vezes pela Ditadura Militar.
- Odorico pensa em contratar alguém para
bater em Neco (redator do jornal), porém
isso vai piorar a oposição.
Terceiro quadro
-Cemitério foi construído, porém ainda não
inaugurado.
- A prefeitura resolve importar um doente,
para que ele morra na cidade e possa
inaugurar o cemitério;
- Esse doente é Ernesto, primo das irmãs
Juju, Dorotéa e Dulcinéa
Quarto quadro
• Odorico espera ansiosamente a morte de
Ernesto e treina incessantemente seu discurso
(para inaugurar o cemitério).
Quinto quadro
- Ernesto melhora 100%, devido às
condições favoráveis da cidade ;
- Juju e Ernesto ficam noivos, Odorico acha
que isso é uma traição da parte de Juju, já
que ela teria ajudado o doente se curar;
- Dirceu desconfia da fidelidade de
Dulcinéa;
Quinto quadro
- Mestre Ambrósio propõe a volta de Zeca
Diabo para a cidade, já que ele era um
grande criminoso, ajudando assim a
conseguir o tão esperado defunto;
- Zeca é nomeado delegado da cidade;
- Odorico dá a missão para Zeca de
confrontar Neco Pedreira "em nome da lei
e da democracia".
Sexto quadro
- Zeca Diabo invade redação da gazeta
- Neco aparece na prefeitura informando que
ficou amigo do Zeca Diabo e que vai publicar
sua história
- Zeca Diabo revela que fez promessa de não
matar mais ninguém
- Ouve-se tiros, acham que Neco foi morto;
- Porém, Neco e Zeca ficam amigos e os tiros
foram só para tirar uma foto para a gazeta;
- Odorico quer tirar Zeca da posição de
delegado, mas Zeca Diabo tenta matá-lo;
Sexto quadro
- Dirceu desconfia cada vez mais que está
sendo traído e Odorico inventa que
Dulcinéa trai o marido com Neco;
- Dirceu tenta matar Neco, mas acaba
matando Dulcinéa;
- Zeca Diabo, o delegado, quer saber onde
está Dirceu;
- Odorico dedura, já que é "um homem
certo, que não compactua com injustiças".
Sétimo quadro
- No enterro, os habitantes comentam que
marido matar a mulher é crime de cidade
grande, de metrópole >Fetichização do
Crime (crime como sinônimo de progresso)
Sétimo quadro
- Quando Odorico vai tirar uma foto com o
caixão, posa sorrindo. Vigário sugere para
não sorrir, já que se trata de um enterro,
assim Odorico finge estar triste. (Hipocrisia
de muitos políticos da sociedade atual)
- Dulcinéa não é enterrada, porque o tio
quer enterrá-la num mausoléu de família,
em outra cidade.
Sétimo quadro
Família de Dulcinéa recorre a um juiz para
levá-la.
- Odorico fala “O juiz é um homem de bem,
justo, honesto, honrado e cristão”. Portanto,
ele agiria de acordo com os interesses do
prefeito. Porém, o juiz atende os pedidos da
família.
- “Pois se é essa a decisão da Justiça, data
venia, digam ao meritíssimo que não aceito” -
Odorico acredita ser um ser superior à lei.
- Zeca, por apenas querer cumprir a lei, é
demitido
Oitavo quadro
- Neco entrevista Dirceu para a gazeta,
contando toda a verdade.
- A cidade percebe que Odorico é mentiroso
- Propõe que Zeca finja um atentado
- Zeca mata Odorico (vingando a honra de
Dulcinéa), por todos os crimes que cometeu
Nono quadro
• - O próprio idealizador do cemitério
acabou inaugurando-o
• 
• Discurso de Neco Pedreira (bajulando
Odorico)
• Politicagem, alianças
Considerações
As aparências da cidade, para Odorico,
eram mais importantes do que o que
realmente estava acontecendo (ditadura)

Maquiavel - "Os fins justificam os meios" -


Odorico é frio, quer conseguir seu defunto
de todas as maneiras, mesmo que seja
matando alguém
-Odorico fala de democracia, liberdade,
direitos, mas quer silenciar os opositores,
algo comum na ditadura.

-É uma alegoria para o que acontece em


uma ditadura, ou até mesmo na sociedade
atual
Link para filme completo
• https://www.youtube.com/watch?v=tJAMj8m
8vso
Unicamp 2018 – 1ª fase
“ODORICO Eu sei. É um movimento subversivo procurando
me intrigar com a opinião pública e criar problemas à
minha administração. Sei, sim. É uma conspiração. Eles
não queriam o cemitério. Desde o princípio foram
contra. E agora que o cemitério está pronto caem de pau
em cima de mim, me chamam de demagogo, de tudo..”
(...)
“ODORICO Pois eu quero que depois o senhor soletre esta
gazeta de ponta a ponta. Neco Pedreira o senhor
conhece?
ZECA Conheço não sinhô.
ODORICO É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua
primeira missão como delegado é dar uma batida na
redação dessa gazeta subversiva e sacudir a marreta em
nome da lei e da democracia...”
(Dias Gomes, O bem amado. 12.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014, p. 40 e
68.)
A peça de Dias Gomes é uma crítica a um momento histórico e político
da sociedade brasileira. Odorico Paraguassu tornou-se um personagem
emblemático desse período porque por meio dele
a) simbolizou-se a defesa da democracia a qualquer custo. Essa defesa
resultou em uma sociedade cindida entre o respeito à lei e o seu uso
particular, temas políticos comuns aos países latino-americanos nos
anos de 1970.
b) representaram-se o atropelo da lei constitucional, a relativização da
liberdade de imprensa e a construção de um inimigo interno que
justificasse o arbítrio das decisões do executivo, próprios aos Anos de
Chumbo.
c) explicitaram-se as leis que regiam a vida política e social de uma nação
subdesenvolvida da América Latina na década de 1970, marcada pela
inércia e pela cumplicidade dos cidadãos com a corrupção sistêmica
do país.
d) fez-se a defesa da democracia e do respeito irrestrito à lei
constitucional para um projeto de nação brasileira da década 1970,
que enfrentava o espírito demagógico dos políticos latino-americanos.

Você também pode gostar